Você está na página 1de 8

Terça-feira, 22 de Outubro de 2019 I SÉRIE - Número 203

,
BOLETIM DA REPUBLICA
PUBLICAÇÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE ----- -~--- - -

IMPRENSA NACIONAL DE MOÇAMBIQUE, E. P. independentemente da sua designação reg iona l ou local,


en volvendo criança. são havidos como un ião prematura nos
termos da presente Lei .
AVISO
A matéria a publicar no «Boletim da República» deve ARTIGO 3
ser remetida em cópia devidamente autenticada, uma (Definições)
por cada assunto. donde conste. além das indicações As definições empregues na presente Lei constam do Glossário
necessárias para esse efeito, o averbamento seguinte, em anexo, que dela é parte integrante.
assinado e autenticado: Para publicação no «Boletim
da República». ARTIGO 4
(Objectivos)
••••••••••••••••• ••••••••• •••••• São objectivos da presente Lei:
a) prevenir a ocorrência de uniões prematuras;
SUMÁRIO b) proibir as uniões com ou entre crianças;
c) adoptar medidas para fazer cessar uniões prematuras já
Presidência da República: existentes; ____
Lei n." 19/2019: d) definir c ritérios de protecção de d ireitos adquiridos ·· · - - -
pela criança em situação de união prematura e seus
Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras.
eventuais filhos;
e) dd1nir as responsabilidades do Governo na adopção
•••••• •••••••••••••••••••••••••• de mecanismos para mitigar os efeitos negativos das
uniões prematuras.
PRESID~NCIA DA REPÚBLICA
ARTIGO 5

Lei n." 19/2019 (Princfpios fundamentais)

de 22 d e Outubro A presente Lei rege-se, dentre outros, pelos seguintes


princípios fundamentais:
Havendo necessidade de aprovar o quad ro jurfdico de
proibição, prevenção, mitigação e combate às uniões prematuras, a) a protecção das crianças contra as uniões prematuras;
b) o estabelecimento da idade mínima de dezoito anos para
ao abrigo do disposto no número 1 do artigo 178 da Constituição
as uniões que visam o propósifo i mediato ou futuro de
da República, a Assembleia da República detennina:
constituir família, sem quaisquer excepções;
CAPÍTULO l c) a irrelevãncia do consentimento da criança para a união
prematura;
Disposições Gerais d) o superior interesse da criança;
ARTIGO I e) a participação da criança na tomada de decisões sobre
(Objecto da lei)
a s u a vida;
j) a gratuitidade no acesso aos serviços prestados pelo
---
A presente Lei visa estabelecer o regime jurídico aplicável Estado, relacionados com a aplicação da presente Lei.
a proibição, prevenção, mitigação das uniões prematu ras e
ARTIGO 6
penalização dos seus autores e cúmplices, bem como a protecção
das crianças que se encontrem ou se encontravam nessas uniões. (Interpretação)

ARTIGO 2 J. A presente Lei inspira-se na Lei Modelo da Comunidade


de Desenvolvimento da África Austral, abreviadamente designada
(Conceito de união prematura) por SADC, sobre a Erradicação dos Casamentos Prematuros
I . União prematura é a ligação entre pessoas. em que pelo e Protecção das Crianças já em Situação de Casamento, devendo
menos uma seja criança. formada l:Om propósito imediato ser interpretada de acordo com os seus princípios e preceitos,
ou futuro de constituir família. sempre que tal não contrarie o direito moçambicano.
2 . O casamento. noivado. a união de facto ou qua lquer 2. A presente Lei deve ser interpretada de acordo com
relação que seja equiparável à relação de conjugalidade. os princípios e normas do direito vigente, em particular a
5090 I SÉRIE- NÚMERO 203

Constituição da República. a Lei da Família e a Lei de Promoção 6. Para efeitos patrimo niai s . às uniões prematuras já
e Protecção dos Direitos da Crian~·a. constituídas e que cessem na vigência da presente Lei, é aplicável
o regime da comunhão de adquiridos.
CAPÍTULO II
Prolblçao de Uniões Prematuras e Medidas de Prevençao ARTIGO 12
e Mitigação (Cessação do casamento prematuro)
SECÇÃO I
I . O casamento prematuro cessa por dissolução ou anulação
Proibições e seus efeitos nos termos da Lei da Família. com a ressalva constante do nú-
ARTIGO 7 mero 2 do presente artigo .
2. Para além dos cônjuges. tem legitimidade para obter
(Idade de união)
anulação, o Curador de Menores , o pai, a mãe. o padrasto. a
A união entre duas pessoas formada com o propósito imediaJo madrasta. o tutor ou outro representante legal ou qualquer outro
de constituir famflia, só é permitida a quem tiver completado parente na linha recta .
dezoito anos de idade à data da união. 3. Considera-se sanada a irregularidade e válido o casamento.
desde o momento da sua celebração se o menor não núbil qu.~ ___ _
ARTIGO 8 tenha completado dezoito anos de idade, declare expressamente
(Proibição de celebração) e perante autoridade competente que pretende mantê-lo, caso em
que deixa de apl icar-se a presente Lei.
Nenhuma autoridade, seja administrativa, tradicional, local
ou religiosa. pode legitimar por. qualquer forma e no âmbito das ARTIGO 13
suas funções, a constituição de união com propósito imediato o u
futuro de constituir família, na qual uma o u ambas as pessoas (Cessação de outras uniões)
seja m crianças. I. Todas as outras uniões prematuras cessam mediante decisão
ARTIGO 9 judicial a requerimento do Curador de Menores, da criança ou do
(Obrigatoriedade de confirmação) adulto na união, do pai, da mãe, do padrasto, da madrasta, do tutor
ou outro representante legal, de qualquer outro parente na linha
1. Qualquer autoridade competente solicitada a oficial izar, ou recta ou qualquer parente até ao terceiro grau na linha colateral.
por qualquer forma, a legitimar a união com o propósito futuro 2. A união prematura referida no número 1 do presente artigo
ou imediato de constituir família, deve solicitar previamente
é aplicável o disposto no número 3 do artigo 12 da presente Lei.
apresentação de documento comprovativo da idade das pessoas
que prelendam unir-se. SECÇÃO Jl
2. Nos casos em que as pessoas que pretendam unir-se declarem
que por algum motivo não possuem documento comprovativo Procedimento para cessação da união prematura
da idade, a autoridade deve diligenciar para que a idade seja ARTIGO 14
comprovada por outros meios legais, ou recorrer a meios (Requisitos formais do pedido)
alternativos que não sejam proibidos por lei, desde que na base da
experiência comum, no saber, nos usos e costumes locais, sejam I. O Curador de Menores ou o interessado que tiver
idóneos para comprovar com segurança a idade dos solicitantes. legitimidade requer ao juiz, verbalmente ou por escrito, a cessação
da união, devendo o pedido conter:
ARTIGO 10
a) o nome e o domicílio das partes na união;
(Filiação) b) as razões que justificam o pedido da cessação da união
Sem preJUizo da cessação da união prematura, são prematura;
salvaguardados os efeitos da filiação. c) o rol de testemunhas, havendo, com indicação do~ seus
nomes. ocupação e domicílio;
ARTIGO li d) a informação sobre existência de filhos e de património:
(Efeitos patrimoniais) e) a informação sobre se a criança pane da união. ou os
filhos desta, carecem de especial e urgente protecção;
I. Os bens adquiridos pela criança na constância da união j) todas as circunstâncias relevantes para instrução e decisão
prematura são incomunicáveis, sendo havidos como próprios
da causa.
desta.
2. Os bens adquiridos pelo adulto na constância da união 2. Quando o requerimento seja verbal, o mesmo é reduzido a
prematura, à título oneroso, são comuns. auto assinado pelo requerente, e uma vez autuado é remetid<> ao
3. No caso de cessação da união prematura, o património juiz no prazo de vinte e quatro horas.
~.:umum é parti lhado em dois terços para a criança e um terço
ARTIGO 15
p<~ra o adulto.
4. Cessando a união prematura, perde o direito à partilha o
que sendo adulto, tiver praticado contra a criança acto ilícito que
(Decisão liminar) --
poderia fundamentar o divórcio nos termos da Lei da FamOia. I. O juiz. ouvido sempre o Curador de Menores. quando não
revertendo o património comum integralmente a favor da t:riança. seja o requerente, adoptará, sem audição prévia de qualquer parte.
5. O disposto nos números J a 4 do presente artigo não é uma medida cautelar ajustada às circunstâncias do caso. qunndo
aplicável à união prematura entre crianças. aplicando-se. neste se mostre necessária e a audição possa prejudicar o efeito útil
caso. o regime da Lei da Família. da decisão.
22 DE OUTUBRO DE 2019 5091

2. Se o juiz optar pela adopção de med ida caute lar. a decisão c) fazer depender da comprovação. nos termos da le i. da
é notificada. para cumprim ento às partes na união ou aos idade das pessoas a unir-se. ern todos os outros casos
legais representantes. ou aos que exercerem sobre a criança de união;
poderes equiparados, sob pena de desobediência em caso d) quando não haja documento comprovativo da idade ~-õi11--­
de incumprimento. força legal, instru ir sobre procedimentos concretos a
ARTIGO 16 observar para o seu suprimento, nos termos do nú-
mero 2 do artigo 9 da presente Lei ;
(Impugnação da decisão liminar)
e) impedir a união por tempo determinado não superior a
I. Da decisão que fi xar medida cautelar, cabe reclamação ao três anos nos casos em que nem por documento, nem
juiz que a fixou bem como agravo, podendo o prejudicado usar por outro critério legalmente reconhecido. se possa
dos dois meios, co ntanto que não reproduza num os fu ndamentos delermi nar a idade das partes;
do outro meio. /) obrigar a qualquer pessoa, servidor público, autoridade
2. A reclamação ou o recurso não suspende a decisão.
religiosa, tradicional ou local a depôr ou a fornecer
ARTIGO 17 informação, incluindo documentos, que assegurem a
decisão criteriosa sobre o processo pendente.
(Conferê ncia)
2. A decisão sobre medida cautelar é notificada com menção
J. Quando o prrn:esso houver de prosseguir. o juiz designa uma e>< pressa de que o seu incumprimento importa desobediência.
data para conferência, a ter lugar dentro de dez dias, para audição
das panes, finda a qual decide no prazo de quare nta e o ito horas ARTIGO 21
sobre a legalidade da união.
(Medidas cautelares posteriores a união)
2. Se a decisão j ulgar improcedente o pedido de cessação da
união pn:matura fica sem efeito a medida cautelar que a tenha Havendo união envolvendo criança, pode o juiz, a requerimenlq_
untecedido. do Curador de Menores ou de quem tenha legitimidade:
ARTIGO 18 a) suspender os efeitos do noi vado até que seja definitivamente
comprovada a idade dos noivos;
(Recurso)
b) impedir o contac10 entre os no ivos durante o período
Du decisão que declarar procedente o pedido de cessação da suspensão do noivado, ou estabelecer condições
da união prematura cabe recurso nos termos gerais com efeitos específicas sobre as circunstâncias em que o contacto
devolutivos. pode ter lugar;
c) determinar o arrolamento dos bens e nomear fiel
ARTIGO 19
depositário para conservar os que tenham sido doados
(Remessa para procedimento criminal) ao noivo sobre quem incida dúvida sobre a idade, e
Quando do processo resultarem indícios de infracção criminal, enquanto não for comprovada a idade deste;
o juiz. oficiosamente ou a requerimento do Curador de Menores, d) nomear fiel depositário dos bens doados. havendo,
ordena a extracção de cópias ou certidões que são remetidas ao quando a dúvida sobre a idade dos noivos recaia sobre
Ministério Público para efeitos de procedimento criminal. ambos, e enquanto não se comprovar a idade destes;
e) proibir, nos casos de casamento, a celebração pelo
SECÇÃO III
esposado que não seja criança de contrato sobre bens
Medidas cautelares. de prevenção e de mitigação das uniões comuns ou a disposição destes por qualquer f01ma.
prematuras salvo com autorização judicia!"; ·----~-
ARTIGO 20 /)decidir de imediato sobre a guarda de ti lhos nascidos da
(Medidas cautelares anteriores à união prematura) união prematura e a prestação de alimentos:
g) providenciar pelo regresso seguro da criança à guarda
I. Havendo fundada suspeita de que uma união envolve dos pais, tutor. famflia de acolhimento ou a pessoa
criança. pode o juiz, a requerimento do Curador de Menores ou
legalmente autorizada na guarda da criança, desde
do interessado que tiver legitimidade, tomar as seguintes medidas
que não tenham por qualquer fo rma consent ido.
cautelares:
incentivado ou instigado a união;
a) sustar incondicionalmente o noivado que haja de
h) afectar a criança em instituição destinada ao abrigo,
acontecer, ou fazer depender o seguimento deste à
cuidados e sustento de vítimas de união prematura.
comprovação, por documento com força legal ou por
quando pelas circunstâncias se conclua que a criança
qualquer outro critério legalmente reconhecido, da
ficou exposta a ambiente atentatório a sua saúde;
idade dos noivos, de todos ou de um conforme for
i) ordenar a prestação de cauçiio mediante depósito judicial
o caso;
b) impedir o prosseguimento da instrução do processo para para ressarcimento, nos casos em que sendo uma das
o casamento, ou fazer depender o seu seguimento partes adulta. e por culpa desta . tiver a criança sofrido
da comprovação inequívoca, nos termos da lei, da dano na sua saúde ou património;
idade dos esposados, de todos eles ou de apenas um, j) inibir temporariamente o exercício do poder parental,
conforme for o caso; remover o tutor ou retirar a guarda da criunça, quando
5092 I SÉRIE- NÚMERO 203

por sentença, ainda que não transiwda em julgado, CAPfTULO III


se comprove que por qualquer forma propiciaram
Infracções Penais
a união da criança.
SECÇÃO I
ARTIGO 22 Crimes relacionados com noivado prematuro
(Criança carente de especial protecção) ARTIGO 25
Para os efeitos do disposto na alínea e), do número I do (Noivado com criança)
artigo 14 da presente Lei, a criança em união prematura carece
I. O adulto que, por si ou por interposta pessoa. noivar criança
de especial e urgente protecção quando se verifiquem qualquer
conhecendo a idade desta, será punido com pena de prisão até
das seguintes situações:
seja vítima ou corra risco de vir a ser vítima de violência
a)
praticada pelo parceiro na união ou qualquer outra
pessoa, desde que seja por conta da união;
doi s anos.
to
2. Quando o noivado r finnado por terceiro. sem conhecimento
do noivo adulto. será este punido com a mesma pena se, tendo
conhecimento de que o noivado envolve uma criança. ainda assim
_
----·
b) demande tratamento para preservar ou restaurar a saúde o ratificar expressamente ou a praticar actos que demonstram que
e lhe seja privado o acesso aos respectivos serviços. o aceita ou ralifica.
independentemente de quem dos mesmos a prive;
c) por conta du união, tenha um modo de vida ou se SP.CÇÃO Jl
comporte de forma prejudicial a própriu saúde sem que Crimes relacionados com o casamento prematuro
os pais, tutores ou os que sobre ela exerçam poderes
ARTIG026
equiparáveis providenciem a sua protecção;
d) viva com pessoa acusada, pronunciada ou condenada por (Celebração de casamento com criança)
crime praticado contra ela;
I. O servidor público que. no exercício das suas funçüe~. de
e) haja fundado receio de que seja usada para cometimento
forma consciente, celebrar ou autorizar a celebração de casamento
de crimes ou em actividades que ameacem a sua
no qual ambos ou um dos esposados é criança, será punido com
segurança ou saúde. pena de prisão de dois a oito anos e multa até dois anos.
ARTIGO 23 2. Provando-se que celebração do casamento só teve lugar por
violação grave ao dever de diligência especialmente exigível ao
(Programas e Incentivos) caso, será o servidor público punido com pena de prisão até dois
Compete ao Governo estabelecer programas orientados anos e multa correspondente.
a prevenir e combater a união prematura, nomeadamente: 3. O servidor público que não tendo por função celebrar_ _
casamento, mas sobre quem recair dever legal de verificar e
a) criar oportunidades para o acesso à educação primária
assegurar a regularidade do processo, e deixar de verificar. será
e secundária, a cursos de vocação profissional e outros
punido com pena de prisão até um ano e multa correspondente.
programas que tornem a criança menos vulnerável
4. A autoridade religiosa, tradicional ou local que, no exercício
a união prematura; das suas funções. autorizar, de forma consciente. a celebração de
b) criar oportunidades para as famílias social casamento no qual ambos ou um dos esposados é criança, será
e economicamente vulneráveis obterem rendimentos, punido com pena de prisão e multa até dois anos.
através de programas de formação e de promoção
de iniciativas empresariais locais; AKTIGO 27
c) promover programas visando o incentivo e retenção da
(Omissão de comunicação ou denúncia)
criança na escola e medidas·de discriminação positiva
da rapariga, com vista a alargar as oportunidades O serv idor público, a autoridade religiosa, tradicional ou
de educação destas; local que, no exercício das suas funções. tomar conhecimento
d) promover programas de sensibi liz.ação sobre as por qualquer modo de que será celebrado, está em celebração
consequências das uniões prematuras, junto das ou foi celebrado casamento em que um ou ambo5 os esposados
comunidades e famílias vulneráveis; são crianças, e do facto não der conhecimento à autoridade
e) criar fundos locais que providenciem subsídios de apoio competente, será punido com pena de prisão até dois anos e multa
às famílias vulneráveis, como fonna de incentivar a correspondente.
não promoverem ou aceitarem as uniões prematuras.
ARTIGO 28 -.....__ ___
ARTIGO 24 (Celebração por dádiva ou promessa de vantagem)
(Medidas de mitigação e Intervenção) I. Quando a celebração tiver como causa o recebimento por
I . Compete ao Governo adoptar políticas e programas para pane do servidor público, a autoridade religiosa, tradicional ou
mitigar :JS uniões prematuras, nomeadamente, criar casas de local, de qualquer tipo de vantagem ou promessa de vantagem,
abrigo e de acolhimento para a recepção, residência e prestação será punido com pena de prisão de dois a oito anos. não podendo
de cuidados às vftímas de uniões prematuras. a pena concreta ser inferior a quatro anos.
2. As casas de abrigo e :Jcolhimcnto devem oferecer. dentre 2. A mesma pena será aplicada se o servidor público, autoridade
outras. condiçües de segurança para as crianças acolhidas religiosa, tradicional ou local celebrar o casamento para satisfazer
e seus filhos e proporcionar oportunidades de formação qualquer vontade ou convicção, seja religiosa, moral, espiritual,
e desenvolvimento de actividades de rendimento. t:ultural ou de outra índole.
22 DE OUTUBRO DE 2019 509]_

ARTIGO 29 e.xercer poder equiparável ao parental ou de guarda, que compelir


a criança por ameaça ou veemente intimidação, a aceitar a união.
(Agravação)
ser:í punido com pena de dois a oito anos de prisão.
As penas anteriores serão agravadas em seis meses no seu 2. Quando a ameaça ou intimidação para união for feita para o
limite mínimo, quando o servidor público. autoridade rel igiosa, agente desafrontar a si ou sua fa mília, o u em virtude de gravidez
tradicional o u local, prosseguir com a celebração do casamento da criança, ou por qualquer outro facto havido por desonroso,
depois de ser alertado, por qualquer pessoa. que um ou ambos praticado pela criança, ou por terceiro contra esta. a pena nunca
esposados são crianças. será inferior a metade da sua duração máxima.
3. Quando a ameaça ou intimidação provir de servidor público.
SECÇÃO lH
auto ridade religiosa. tradicional ou local. e qualquer que for o seu
Crimes praticados nas uniões prematuras fundamento, será o autor punido com pena de dois a oito anos de
ARTIGO 30 prisão, salvo se pena mais grave a ela houver lugar.

(União com criança) ARTIGO 35


O adulto, independentemente do seu estado civil, que unir-se (Repúdio e resgate da criança)
com criança será punido com pena de pri são de oito a d oze anos
e multa até dois anos. Será isento de pena, desde que não tenha havido contacto
sexual. ou outro mal à saúde o u ao património da criança:
ARTIGO 31 <1) o que llp6s aceitar a união, a tiver repudiado;
(Auxilio à união com criança) b) o que tendo consentido a união, resgatur a criança; -......._______
c) o que tendo recebido a criança, a devolver à quem tiver
Aquele que colaborar para que a união com criança tenha lugar, guarda legal da mesma ou às autoridades competentes.
ou que por qualquer outra forma concorra para que produzam os
seus efeitos, desde que tenha conhecimento de que a união envolve ARTIGO 36
criança. será punido com pena de prisão e multa até um ano.
(Omissão de resgate)
ARTIGO 32 O pai, a mãe, o tutor, o irmão, o padrasto, a madrasta,
(Entrega de criança como troca, pagamento ou dádiva) qualquer outro parente na linha recta, qualquer parente até
ao terceiro grau da linha colateral ou a pessoa que, de boa-fé.
I. Sem prejuízo de pena mais grave, se a ela houver lugar, a
tiver a criança na sua dependência ou sobre ela exercer poder
pena de prisão de oito a doze anos será aplicada a quem entregar
equiparável ao parental ou de guarda. que tendo conhecimento
criança para união:
de união prematura. não a tomar de volta ou deixar de participar
n) em troca de algum bem o u valor. para pagamento à autoridade competente, será punido com pena de prisão até dois
de dívida ou garantia desta;
anos e multa correspondente.
b) como cumprimento de promessa ou de qualquer
obrigação ou garantia desta; ARTIUO 37
c) como dádiva ou para qualquer outra finalidade contrária
à lei. (Agravação por privação de direitos da criança)
2. A mesma pena será aplicada a quem receber a criança As penas por entrega ou recebimento da criança p<tra união,
entregue nos termos e para os fins indicados no número I , do serão agravadas no seu limite mínimo em medida nunca infet:i.o_r
presente artigo. a três anos se, em consequência da entrega ou recebimento, a - - -
criança ficar privada do gozo ou exercício de qualquer direito
ARTIGO 33 próprio da sua condição.
(Autorização e Incentivo para união)
ARTIGO 38
l. O pai, a mãe, o tutor, o padrasto, a madrasta, qualquer
outro parente na linha recta e qualquer parente até ao terceiro (Violllncla contra criança)
grau na linha colateral. o encarregado de guarda da criança ou da I. Salvo se pena mais grave não couber, a pena de prisão
s ua educação, ou a pessoa q ue, de boa-fé, tiver a criança na sua e multa correspondente será aplicada ao adulto na união que,
dependência ou sobre ela exercer poder equiparável ao parental voluntariamente, na constância ou depois de cessar a relação:
ou de guarda, que autorizar ou obtiver autorização para união de
a) ofender corporalmente ou causar qualquer dano físico
criança. instigar, aliciar ou não obstar a união, será punido com
pena de prisão de dois a oito anos e multa até dois anos, se pena à criança;
b) ofender psiquicamente a criança por meio de ameaças,
mais grave nilo couber.
2. Quando a autorização referida no número I do presente palavras, injúria, difamação ou calúnia:
artigo se destinar ao noivado, o limite máximo da respectiva pena c) imputar facto ofensivo à honra e carácter da criança,
será reduzido a metade da sua duração máxima. seja por escrito, desenho publicado ou qualquer meio
de publicação;
ARTIGO 34 d) impedir a criança de movimentar- se ou contactar
outras pessoas, retendo-a no espaço doméstico ou cm
(Coacção para unlllo)
qualquer outro.
l. O pai, a mãe, o tutor, o irmão, o padrasto, a madrasta,
qualquer outro parente na linha recta e até ao terceiro gmu da 2. No caso de violência física grave, serão aplicadas as
Iinha colateral, encarregado de guarda ou de educa~·ão, ou a pessoa disposições do Código Penal, mas o limite mínimo da pena será
que. de boa-fé. tiver a criança na sua dependência ou sobre ela sempre agravado em seis meses.
5094 I SÉRIE-NlÍMERO 203

ARTIGO 39 ARTIGO 44
(Violação da criança) (Punição da tentativa e do crime frustrado)

I. O crime de vio lação, quando praticado contra cri ança Nos crimes previstos na presente Lei, a tentat iva e o crime
na constância da união, será punido com pena prisão de doze frustrado são sempre punidos.
a dezasseis anos, se pena mais grave não couber nos termos
ARTJG045
da lei geral.
2. Se do acto resultar transmissão de doe nça ou infecção (Penas e medidas alternativas)
sexualmente transmissível, será aplicada a pena imediatamente
Aos crimes previstos na presente Lei é aplicável o regime geral
superior nos termos gerais da lei penal. desde que o autor seja
sobre as penas e medidas alternativas.
adulto e conhecesse o seu estado infeccioso.
ARTIGO 46
ARTIGO 40
(Responsabilidade criminal)
(Actos sexuais com criança)
1. Para os crimes previstos na presente Lei apenas são
1. Se em virtude da união houver contacto sexual entre o adullo responsabilizados criminalme nte os maiores de dezoito anos
e a criança. posto que não se prove violência, o adulto será punido de idade.
com pena de prisão de dois a oito anos e multa até dois anos, salvo 2. A responsabilidade criminal nos tennos da presente Lei
se pena mais grave não couber nos termos da lei geral. não prejudica a responsabilidade civil ou disciplinar do agente
2. Se do acto resultar gravidez o u contágio com doença quando a ela houver lugar.
ou in fecção sexualmente transmiss ível, será aplicada a pena
imediatamente superior nos termos gerais da lei penal. CAPÍTULO IV
Disposições Transitórias e Finais
ARTIGO 41
ARTJGO 47
(Desobediência)
(Gratuitidade dos serviços)
l . Será punida corno desobediência, com pena de prisão alé
um ano e multa correspondente: I . Todos os serviços a prestar pelas instituições públicas às
vítimas das uniões prematuras, nos termos da presente Lei,são- . - -
a) o incumprimento de ordem judicial ou administrativa que gratuitos.
mande sustar a instrução de processo para casamento. 2. Não é devido qualquer encargo judicial ao que se constitui
ou a celebração deste. por suspeita de que um dos assistente em processo-crime, por crimes relativos às uniões
nubentes é criança; prematuras.
b) a recusa em fornecer informação, por quem a possua,
incluindo ent rega de documentos à autoridade AlniGO 48
competente, para averiguar sobre existência de união (Revogação)
que envolva a criança;
c) a subtracção ou a ocultação da criança das autoridades É revogada a legislação que contrarie a presente Lei.
competentes, para dificultar a acção na averiguação
ARTIGO 49
sobre a criança em união.
(Entrada em vigor)
2. Quando a desobediência seja praticada por servidor público,
por autoridade religiosa, tradicional ou local, a pena concreta A presente Lei entra em vigor 30 dias após a sua publicação.
nunca será inferior à metade da sua duração máxima. Aprovada pela Assembleia da República, aos 19 de Julho
ARTIGO 42 de 2019.
A Presidente da Assembleia da Repúolica, Verónica Nmaniel
(ObstruçAo à lnvestlgaçAo)
Macamo Dlhovo.
I. Tudo aquele que com o intuito de obstar ou dificultar Promulgada, aos 14 de Outubro de 2019.
a acção das autoridades competentes na averiguação sobre criança
em un ião, fornecer deliberadamente informação falsa, alterar
vestígios, destruir provas, coagir ou ameaçar testemunhas, ou
Publique-se.
O Presidente da República, FJLIPE JACIKTO Nvus1.
-----
praticar quaisquer outros actos que possam impedir ou dificu ltar
o esclarecimento dos factos, será punido com pena de prisão de
dois a oito anos e multa até dois anos, salvo se pena mais grave
for aplicável.
2. Sendo os factos descritos no número I do presente artigo, Anexo
praticados por servidor público, a utoridade religiosa, tradicional
ou local, a pena concreta nunca será inferior à metade da sua Glossário
duração máxima. Para efeitos da presente Lei, entende-se por:
ARTJGO 43 A
(Carácter público das Infracções) Adulto - ser humano com idade igual ou superior a dezoito
l. São públicos os crimes previstos na presente Lei. anos.
2. Os interessados com legitimidade para requerer a declaração Autoridade competente - servidor público ou qualquer
de invalidade da união, têm legitimidade para constituir-se em entidade com poderes para oficiar ou celebrar noivados,
assistente nos termos gerais da lei processual. casamentos, uniões ou outras relações equiparáveis as relações
-----
22 DE OUTUBRO DE 2019 5095

de ronj ugalidade, incluindo autoridades rel igiosa, tradicional c


ou local e qualquer outra autoridade. Criança - ser humano com idade inferior a dezoito anos.
Auto ridade tradicional ou local - régulo. juiz comunitário Casamento- união si ngular entre um homem e uma mulher,
ou c hefe revest ido de poderes sobre a comunidade na sua área de celebrada perante autoridade competente, sob a forma civi l,
jurisdiçiio, ou qualquer entidade política ou civil ou ainda conjunto religiosa ou tradicional nos termos da lei de família.
de pes~oas eleitas ou indicadas para representar uma determinada
comu nidade ao nível local ou comunitário. N
Autoridade religiosa - entidade com poder de orientação
Noivado- promessa com o propósito de casamento ou uni ão,
rtligiosa. quer enquanto pessoa singular, quer sob autoridade de
feita de forma voluntária ou coerciva.
uma instituição religiosa.

----
-

Preço- 40.00 MT

IMPRENSA NACIONAL DE MOÇAMBIQUE. E.P.

Você também pode gostar