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INTENSIVO II

Disciplina: Direito Civil


Professor: Cristiano Chaves
Data: 01.08.2012

MATERIAL DE APOIO – MONITORIA

Índice

1. Anotações de aula
2. Jurisprudência Correlata
2.1 STJ, REsp. 889.852/ RS
2.2 STJ, REsp. 7631/ RJ
2.3 STJ, REsp. 23/ PR
2.4 STF, ADin. 3510/ DF
2.5 STJ, REsp. 557.365/ RO
2.6 STJ, REsp. 397.013/ MG
2.7 STJ, REsp. 709.608/ MS
2.8 STJ, REsp. 878.941/ DF
2.9 STJ, REsp. 833.712/ RS
2.10 STJ, REsp. 807.849/ RJ
2.11 STJ, REsp. 876.434/ RS
2.12 STJ, REsp. 226.436/ PR
2.13 STF, RE 363.889/ DF
3. Simulados

I. ANOTAÇÕES DE AULA
Data: 01.08.2012

Aula 02 – Filiação e Investigação de Paternidade

1. Noções gerais

Napoleão chegou a dizer que a sociedade não tem interesse no reconhecimento de filho fora do
casamento. Historicamente, a filiação esteve atrelada ao casamento, tornando-se biologizada,
pois esta decorria de pessoas casadas, que biologicamente tinham um filho.
Dessa maneira a filiação era o vínculo estabelecido entre uma pessoa e aquelas que lhe deram
origem. Isso vai mudar:
1º) pela influência da biotecnologia, com o DNA e a fertilização assistida;
2º) o reconhecimento da socioafetividade como valor jurídico.

Com isso a adoção passou a ocupar o mesmo espaço que a biologia. É tão importante, que hoje,
a adoção é possível até entre pares homoafetivos. STJ, REsp. 889.852/ RS.

Nesse contexto, filiação é o vínculo de parentesco em linha reta, no primeiro grau,


determinado pela paternidade e/ou maternidade. Ou seja, é o vínculo entre uma pessoa e
aqueles que o geraram e/ou acolheram baseado no afeto e na solidariedade.

2. Princípio Constitucional da Igualdade entre os filhos

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2.1. A isonomia entre os filhos veda a designação discriminatória e tratamento jurídico
discriminatório entre os filhos. Com isso, rompeu-se a qualificação e a hierarquização entre os
filhos. Hoje, filho não comporta adjetivação. Filho é filho.
O STJ, no REsp. 7.631/ RJ, vem entendendo que a interpretação das normas relativas à filiação
deve ser liberal, ampliativa e garantir a inclusão de direito para o filho.
Não vamos esquecer que da Igualdade Substancial ou díscrimen (situação fática subjacente).
Quando houver situação fática subjacente discriminadora o tratamento deve ser desigual. Sob
o ponto de vista sucessório, não há díscrimen que justifique o tratamento desigual entre filhos.
Porém, no campo dos alimentos, encontra-se discrímen com muita tranquilidade, exemplo, um
homem rico que tem dois filhos da mesma idade, com duas mulheres diferentes, um mora na
capital; outro, no interior. O valor do pensionamento entre eles deve ser distinto, pois o filho
que mora na capital provavelmente terá gastos maiores do que o filho que mora no interior.
Tratamento desigual a situações fáticas desiguais.

3. Prova da maternidade. “Mater is semper certus” (a mãe é sempre certa, o pai incerto). Todo
filho é putativo, até fazer o exame do DNA. Dimensão que historicamente se deu à paternidade
e o CC/02 mantém esse entendimento.
3.1. A maternidade é presumida pela gestação. É uma presunção relativa, pela possibilidade
troca de bebês na maternidade, situação que gera dano moral e material (responsabilidade
civil do Hospital), entendimento pacífico no STJ. Outra situação que justifica a presunção
relatividade é a gestação por substituição ou por útero alheio (barriga de aluguel), que é
permitido pela Res. 1.957/10, CFM (Conselho Federal de Medicina).
3.2. Requisitos para a barriga de aluguel:
a) plena capacidade das pessoas envolvidas;
b) as pessoas envolvidas sejam do mesmo grupo familiar – se não for da mesma família, o
médico só poderá realizar o procedimento se houver autorização do C.R.M. (Conselho Regional
de Medicina).
c) finalidade terapêutica - o médico só pode realizar gestação em útero alheio quando se
provar a impossibilidade gestacional da mulher interessada. Assim para impedir que mulheres
tenham filhos por essa modalidade porque não querem vivenciar o fenômeno da gravidez. O
que é possível nos EUA.
d) gratuidade da hospedagem de útero – logo a expressão barriga de aluguel é imprópria, não
há contraprestação.
e) não haverá intervenção do MP – no procedimento de transplante de órgãos de pessoas
vivas, exigem-se as mesmas condições acima apontadas, porém comB a prévia intervenção do
MP. Aqui, não tem a intervenção, dada a excepcionalidade da ocorrência do fato.

4. Critérios determinantes da Paternidade


O CC/02 manteve a mesma estrutura do CC/16. São 03 critérios:
4.1. critério da presunção legal (art. 1.597, CC/02)
4.2. critério biológico (DNA)
4.3. critério socioafetivo (convivência)

Não há hierarquia entre os critérios, que serão estabelecidos casuisticamente, significa que
hoje pode ser um, amanhã outro.
É possível ter a um só tempo um pai biológico e um pai afetivo, na chamada tese da Teoria
Tridimensional do Direito de Família, também chamada Pluriparentalidade ou
Multiparentalidade, por ela uma pessoa pode ter até três pais ou três mães (um critério não
exclui o outro). Funciona da seguinte forma, a pessoa pode ter laços de cunho:
a) afetivo: laço de convivência
b) biológico: carga genética
c) ontológico: modelo, exemplo de vida.
Essa teoria não ganhou dimensão maior, pois se critica que de algum modo ela pode estar
patrimonializando a filiação. A Pluripaternidade traz consigo, a reboque, a
plurihereditariedade.
Por enquanto, prevalece a ideia de que os critérios são excludentes e o juiz no caso concreto é
quem estabelece qual deles terá aplicação.

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Não confundir – A lei 11.924/09 (Lei Clodovil). Permite acréscimo de sobrenome de padrasto
ou madrasta pelo enteado ou enteada, e com isso permitindo uma manifestação socioafetiva.
Essa lei depende de decisão judicial, é competente o juiz da Vara de Registros públicos, em
procedimento de jurisdição voluntária, com intervenção do MP, como fiscal da lei. Depende
também de expressa concordância da madrasta ou padrasto. Se, menor de 18 anos, os pais
precisam ser citados. O acréscimo de sobrenome não gera nenhum efeito familiar ou
sucessório. Cristiano definiria essa lei como verdadeira homenagem justa que um enteado/a
faz ao seu padrasto/ madrasta.
4.2. critério biológico (DNA). “Pater is est quaem justae nupcias demonstrant”, ou seja, o pai é
aquele demonstrado pelo casamento, ou ainda, presumidamente, o pai é o marido da noiva, ou
o filho da mãe casada por presunção é do marido dela. É uma presunção relativa. O STJ tem
precedente no REsp. 23/ PR, pelo qual se manda aplicar a presunção na união estável.
No CC/02, a presunção é exclusiva do casamento. Art. 1.597, CC/02. O Brasil manteve a
presunção e a ampliou.

Presunção de Paternidade no CC/02, art. 1.597:

1) concepção sexual (incisos I e II):


1.1) a presunção se inicia 180 dias depois do casamento. (prazo mínimo de gestação).
1.2) A presunção se mantém até 300 dias depois da dissolução do casamento. (prazo máximo
de gestação).

2) concepção artificial (fertilização medicamente assistida, inc. III, IV e V). Importante saber,
a fertilização médica assistida pode se apresentar:
a) por fertilização in vitro, que é quando o médico trabalha no laboratório com sêmen e óvulo;
b) por inseminação artificial, quando o médico trabalha somente com o sêmen, selecionando-o.
Ele não pode fazer sexagem, nem seleção genética, não pode interferir na genética, essa é a
concepção in vivo.
Tanto uma quanto a outra podem ser homóloga (quando o médico trabalha com material
genético do próprio casal) ou heteróloga (quando o médico trabalha com material genético de
terceiros). Aqui um ou ambos são estéreis.

2.1) concepção homóloga, mesmo que já falecido o marido.

Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da


sucessão.

Art. 1.798, CC/02, a expressão “já concebidas” abrange as pessoas que estão no útero da mãe.
Mas, abrangeria também as pessoas que estão no laboratório? Se você entender que sim, logo
estariam autorizadas a suceder na sucessão; se entender que não, logo não caberia a
legitimidade na sucessão. Alguns autores Caio Mário, Tartuce entendem que não abrange a
concepção laboratorial. Outros autores, Maria Berenice, Giselda Hironaka, entendem que
abrange.
Cristiano baseia-se na ideia que a interpretação normativa relacionada a filhos deve ser
ampliativa, logo esse dispositivo abrange também a concepção laboratorial.
Não há nenhum precedente sobre essa matéria.

2.2. concepção homóloga, mesmo que se trate de embrião excedentário.


Quem é o embrião excedentário? é aquele que sobrou, que sobejou sem implantação. Este
embrião, conforme a Lei de Biossegurança – Lei 11.105/05, art. 5º -, ficará guardado no prazo
de 03 anos, após este prazo o médico descarta, encaminhando-o para pesquisas com células-
troncos, se o casal não tiver interesse em uma nova fertilização. Isso é ou não constitucional?
Veio o Supremo na ADin. 3510/ DF, declarando a constitucionalidade desse artigo.
Neste prazo de 03 anos se a mulher volta na clínica e o médico implanta esse embrião, haverá
presunção de paternidade. Em verdade esse prazo é para dizer que a mulher pode fazer

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inseminação sem a manifestação de vontade do pai, pois no Brasil não precisa de declaração de
vontade durante esse prazo para novas inseminações.
Para Cristiano viola o planejamento familiar. Para ele, deve ser exigido consentimento a cada
concepção. A solução para o pai que não quer ter mais filho é fazer notificação ao médico, com
anuência da mãe, que se não concordar, deve ser decidido pelo juiz.
No Brasil não há produção independente artificial. Tem de ter alguém pra representar a
paternidade, para evitar pessoas sem pai.

2.3. concepção heteróloga, desde que tenha ocorrido prévia autorização do marido.
É o único caso de presunção de paternidade absoluta.
É permitido o procedimento da inseminação assistida a casais homoafetivos.

4.2. critério biológico (DNA) - A lei 12.004/09, alterou a lei 8.560/92, que é a lei de
investigação de paternidade, e criou o art. 2-A, o qual repete o entendimento da súmula 301 do
STJ, que por sua vez, endossa o entendimento do Supremo, no sentido de que ninguém pode
ser obrigado a se submeter ao exame de DNA, dado que ninguém pode ser obrigado A produzir
prova contra si; além disso, privacidade e integridade física são garantias constitucionais. Mas,
a lei estabelece que aquele que se recusou ao exame faz presumir a prova que se pretendia
produzir. É uma presunção legal relativa de paternidade. Essa lei é exclusiva da ação de
investigação de paternidade; qualquer outra ação segue o dispositivo do art. 232, CC/02,
também no mesmo sentido:

Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o
exame.

A lei de assistência gratuita – 1.060/50, art. 3, VI – estabelece que a gratuidade judiciária


também abrange o DNA.
Se o Estado Federativo não pagar o exame de paternidade, o caso é julgado conforme prova
testemunhal (=existência do relacionamento). É o entendimento do STJ, que admite prova
testemunhal como o simples “ficar”, no REsp. 557.365/ RO. Para Cristiano, o exame hoje é
muito mais importante para o réu do que para o autor. Além disso, para o STJ, o DNA deve ser
determinado de ofício e se o processo estiver em nível recursal, o Tribunal deve converter o
julgamento em diligência para fazer o exame de DNA. STJ, REsp. 397.013/ MG.

4.3. critério afetivo (convivência) – É convivência como se pai e filho fossem na prática.
No CC/02, a paternidade socioafetiva chama-se “posse do estado de filho”, conforme STJ,
REsp. 709.608/ MS, em que foi estabelecido relação entre a posse do estado de filho e a
paternidade socioafetiva. Ela gera desbiologização da paternidade, de modo que pai e genitor
não necessariamente serão a mesma pessoa.
Pode-se dizer que a socioafetividade se tornou fonte da filiação. Exemplos ilustrativos (não
taxativos): adoção, fertilização heteróloga com prévia autorização do marido, filho de criação,
adoção a brasileira (registrar como seu um filho que sabe não o ser), e etc. A socioafetividade
não precisa estar presente no dia em que se propôs a ação, tem de estar presente no curso da
relação socioafetiva.
O STJ no REsp. 878.941/ DF, fixa a filiação pelo critério socioafetivo, em que todos os efeitos
filiatórios e sucessórios decorrem automaticamente, fazendo cessar efeitos biológicos.
O enunciado 341 da Jornada, diz que a filiação socioafetiva estabelece obrigação alimentícia.

341 – Art. 1.696. Para os fins do art. 1.696, a relação socioafetiva pode ser elemento gerador de
obrigação alimentar.

Quando se tem um pai socioafetivo, significa que existe também um pai biológico. Pergunta: o
filho tem direito de saber quem é esse pai? Responde a questão o leading case, STJ, REsp.
833.712/ RS, que hoje forma a nova redação do ECA, no art. 47, pelo qual se admite ação de
investigação de origem genética ou ação de investigação de ancestralidade. Trata-se de direito
da personalidade. Dela não decorre efeito familiar, nem sucessório. Para Cristiano Chaves, é
possível decorrer impedimento matrimonial e tratamento terapêutico (transplante de

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medula, ex.). O ECA exige plena capacidade para propor a ação; se tiver menos de 18 anos e
houver necessidade, por autorização judicial, o juiz pode suprir.
Observações:
1) O MP não tem legitimidade para propositura desta ação, pois se trata de direito da
personalidade.
2) Enunc. 1 da Jornada – o filho nascido por fertilização heteróloga ou parto anônimo sofre
mitigação do direito à propositura da ação de investigação de origem genética. A identificação
causaria transtornos sociais.
Observação: Rolf Madaleno, do RS criou a tese Paternidade Alimentar, que é a possibilidade
excepcional de cobrar alimentos do genitor quando o pai, e os avós paternos, não puderem
fazê-lo integralmente. Não há nenhum precedente na jurisprudência. Tese de caráter
excepcional que se fundamenta na dignidade da pessoa humana. Esse mesmo fundamento
nega peremptoriamente a paternidade sucessória.

5. Reconhecimento voluntário de filhos e averiguação oficiosa. Lei 8.560/92 – LIP.


5.1. Somente necessário quando não se tratar de presunção relativa do casamento.
O reconhecimento é irrevogável e irretratável, mas admite anulação judicial. O relativamente
incapaz pode reconhecer o filho independente de assistência, já o absolutamente incapaz
somente com prévia autorização, ouvido o MP.
É possível reconhecer a paternidade desde o nascituro, além do reconhecimento póstumo, se o
reconhecente não receber herança.
Art. 1.609 dispõe sobre a forma do reconhecimento voluntário: instrumento público ou
particular, registro em cartório, ata de audiência, testamento, ou seja, de todo jeito.
A lei 8.560-92 proibia o reconhecimento na ata do casamento, veio o código e disse que pode
tudo, mas não repetiu a proibição. Assim, para Cristiano, junto Berenice Dias, está revogada a
proibição da lei 8.560-92, sendo possível o reconhecimento de filho na ata do casamento.
Bilateralidade – se o filho a ser reconhecido for capaz. O art. 1.614 cria a ação de impugnação
de consentimento para fins de registro.

Art. 1.614. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o
reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.

5.2. Averiguação oficiosa – procedimento administrativo imposto ao oficial do cartório.


A nova redação do ECA diz que se a criança/ adolescente a ser reconhecido estiver no cadastro
de adoção o MP não promoverá a ação, pois atrapalhará a adoção.

6. Reconhecimento forçado de filho (de investigação)


Tecnicamente, o correto é chamar de Ação de Parentalidade, pois não investigar só o pai, ela
pode ser de maternidade, fraternidade, avoenga, etc.
A investigação avoenga já é admitida há muitos anos pelo STJ, REsp. 807.849/ RJ (neto contra
o avô). Esse ano o STJ, passou a discutir se para propor investigação avoenga, o pai tem de
estar morto? O STJ, pelo REsp. 876.434/ RS, entende que somente pode promover se o pai já
for morto.
O art. 7 da lei 8.560/92 prevê que o juiz fixará alimentos mesmo que o autor não os tenha
requerido. É implícita.
A Súmula 149 fixa que a investigação de paternidade é sempre imprescritível, mas a petição do
herança não o é, cuja prescrição é de 10 anos.
Súmula 277 diz que os alimentos fixa retroagem até a data da citação.
O STJ, no REsp. 226.436/ PR e o STF, no ano passado, no RE 363.889/ DF, relativizaram a
coisa julgada nas ações filiatórias, aplicando a cláusula “secundum eventum probationis”. É
possível propor de novo a ação desde que haja prova nova.
Sum 1 STJ a competência para processar e julgar a ação investigatória será do domicílio do
réu, se for pura e simples e do autor, quando cumulada com alimentos.

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2. JURISPRUDÊNCIA CORRELATA

2.1 REsp. 889.852/ RS

DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. ADOÇÃO DE MENORES POR CASAL HOMOSSEXUAL. SITUAÇÃO JÁ


CONSOLIDADA. ESTABILIDADE DA FAMÍLIA. PRESENÇA DE FORTES VÍNCULOS AFETIVOS ENTRE OS
MENORES E A REQUERENTE. IMPRESCINDIBILIDADE DA PREVALÊNCIA DOS INTERESSES DOS MENORES.
RELATÓRIO DA ASSISTENTE SOCIAL FAVORÁVEL AO PEDIDO. REAIS VANTAGENS PARA OS ADOTANDOS.
ARTIGOS 1º DA LEI 12.010/09 E 43 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. DEFERIMENTO DA
MEDIDA.
1. A questão diz respeito à possibilidade de adoção de crianças por parte de requerente que vive em união
homoafetiva com companheira que antes já adotara os mesmos filhos, circunstância a particularizar o
caso em julgamento.
2. Em um mundo pós-moderno de velocidade instantânea da informação, sem fronteiras ou barreiras,
sobretudo as culturais e as relativas aos costumes, onde a sociedade transforma-se velozmente, a
interpretação da lei deve levar em conta, sempre que possível, os postulados maiores do direito universal.
3. O artigo 1º da Lei 12.010/09 prevê a "garantia do direito à convivência familiar a todas e crianças e
adolescentes". Por sua vez, o artigo 43 do ECA estabelece que "a adoção será deferida quando apresentar
reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos".
4. Mister observar a imprescindibilidade da prevalência dos interesses dos menores sobre quaisquer
outros, até porque está em jogo o próprio direito de filiação, do qual decorrem as mais diversas
consequencias que refletem por toda a vida de qualquer indivíduo.
5. A matéria relativa à possibilidade de adoção de menores por casais homossexuais vincula-se
obrigatoriamente à necessidade de verificar qual é a melhor solução a ser dada para a proteção dos
direitos das crianças, pois são questões indissociáveis entre si.
6. Os diversos e respeitados estudos especializados sobre o tema, fundados em fortes bases científicas
(realizados na Universidade de Virgínia, na Universidade de Valência, na Academia Americana de
Pediatria), "não indicam qualquer inconveniente em que crianças sejam adotadas por casais
homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do afeto que permeia o meio familiar em que
serão inseridas e que as liga a seus cuidadores".
7. Existência de consistente relatório social elaborado por assistente social favorável ao pedido da
requerente, ante a constatação da estabilidade da família. Acórdão que se posiciona a favor do pedido,
bem como parecer do Ministério Público Federal pelo acolhimento da tese autoral.
8. É incontroverso que existem fortes vínculos afetivos entre a recorrida e os menores -sendo a
afetividade o aspecto preponderante a ser sopesado numa situação como a que ora se coloca em
julgamento.
9. Se os estudos científicos não sinalizam qualquer prejuízo de qualquer natureza para as crianças, se elas
vêm sendo criadas com amor e se cabe ao Estado, ao mesmo tempo, assegurar seus direitos, o
deferimento da adoção é medida que se impõe.
10. O Judiciário não pode fechar os olhos para a realidade fenomênica. Vale dizer, no plano da
"realidade", são ambas, a requerente e sua companheira, responsáveis pela criação e educação dos dois
infantes, de modo que a elas, solidariamente, compete a responsabilidade.
11. Não se pode olvidar que se trata de situação fática consolidada, pois as crianças já chamam as duas
mulheres de mães e são cuidadas por ambas como filhos. Existe dupla maternidade desde o nascimento
das crianças, e não houve qualquer prejuízo em suas criações.
12. Com o deferimento da adoção, fica preservado o direito de convívio dos filhos com a requerente no
caso de separação ou falecimento de sua companheira. Asseguram-se os direitos relativos a alimentos e
sucessão, viabilizando-se, ainda, a inclusão dos adotandos em convênios de saúde da requerente e no
ensino básico e superior, por ela ser professora universitária.
13. A adoção, antes de mais nada, representa um ato de amor, desprendimento. Quando efetivada com o
objetivo de atender aos interesses do menor, é um gesto de humanidade. Hipótese em que ainda se foi
além, pretendendo-se a adoção de dois menores, irmãos biológicos, quando, segundo dados do Conselho
Nacional de Justiça, que criou, em 29 de abril de 2008, o Cadastro Nacional de Adoção, 86% das pessoas
que desejavam adotar limitavam sua intenção a apenas uma criança.
14. Por qualquer ângulo que se analise a questão, seja em relação à situação fática consolidada, seja no
tocante à expressa previsão legal de primazia à proteção integral das crianças, chega-se à conclusão de
que, no caso dos autos, há mais do que reais vantagens para os adotandos, conforme

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preceitua o artigo 43 do ECA. Na verdade, ocorrerá verdadeiro prejuízo aos menores caso não deferida a
medida.
15. Recurso especial improvido.

2.2 REsp. 7631/ RJ

Direito de familia. Filiação adulterina. Investigação de paternidade. Possibilidade juridica. I - em face da


nova ordem constitucional, que abriga o principio da igualdade juridica dos filhos, possivel e o
ajuizamento da ação investigatoria contra genitor casado. Ii - em se tratando de direitos fundamentais de
proteção a familia e a filiação, os preceitos constitucionais devem merecer exegese liberal e construtiva,
que repudie discriminações incompativeis com o desenvolvimento social e a evolução juridica.

2.3 REsp. 23/ PR

Recursos especiais. Ação de anulação de atos juridicos translativos de propriedade em condomínio.


Legitimidade "ad causam" ativa de filhos não reconhecidos de condomino ja falecido. A regra "pater est."
aplica-se tambem aos filhos nascidos de companheira; casada eclesiasticamente com o extinto, suposta
união estável e prolongada. Defesa oposta pelo reu adquirente, de aquisição por usucapião ordinario. O
usucapião e forma originaria de adquirir. O usucapiante não adquire de outrem; simplesmente adquire.
Assim, são irrelevantes vicios de vontade ou defeitos inerentes a eventuais atos causais de transferencia
da posse. No usucapião ordinario, bastam o tempo e a boa-fe, aliados ao justo titulo, habil em tese a
transferencia do dominio. Bem divisivel. Os prazos de suspensão do tempo para usucapir (código civil, art.
553), que beneficiam os autores menores impuberes, aproveitam aos demais herdeiros do falecido
condomino, mas não beneficiam outros condominos: regra da 'personalidade dos efeitos.' artigos 169, i e
171 do código civil. Tese do interesse na anulação dos atos juridicos, face ao usucapião obtido frente
aqueles antigos condominos não favorecidos pela suspensão do prazo de prescrição aquisitiva. Nulidades
de ordem processual afastadas. Recurso especial dos autores não conhecido, e recurso especial dos
recorrentes provido em parte.

2.4 ADin. 3510/ DF

CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DE BIOSSEGURANCA. IMPUGNAÇÃO


EM BLOCO DO ART. 5º DA LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005 (LEI DE BIOSSEGURANCA).
PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DIREITO À VIDA.
CONSITUCIONALIDADE DO USO DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS
PARA FINS TERAPÊUTICOS. DESCARACTERIZAÇÃO DO ABORTO. NORMAS CONSTITUCIONAIS
CONFORMADORAS DO DIREITO FUNDAMENTAL A UMA VIDA DIGNA, QUE PASSA PELO DIREITO À SAÚDE
E AO PLANEJAMENTO FAMILIAR. DESCABIMENTO DE UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO
CONFORME PARA ADITAR À LEI DE BIOSSEGURANCA CONTROLES DESNECESSÁRIOS QUE IMPLICAM
RESTRIÇÕES ÀS PESQUISAS E TERAPIAS POR ELA VISADAS. IMPROCEDÊNCIA TOTAL DA AÇÃO.
I - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO, A CONCEITUAÇÃO JURÍDICA DE CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS E
SEUS REFLEXOS NO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DA LEI DE BIOSSEGURANCA. As "células-
tronco embrionárias" são células contidas num agrupamento de outras, encontradiças em cada embrião
humano de até 14 dias (outros cientistas reduzem esse tempo para a fase de blastocisto, ocorrente em
torno de 5 dias depois da fecundação de um óvulo feminino por um espermatozóide masculino). Embriões
a que se chega por efeito de manipulação humana em ambiente extracorpóreo, porquanto produzidos
laboratorialmente ou "in vitro", e não espontaneamente ou "in vida". Não cabe ao Supremo Tribunal
Federal decidir sobre qual das duas formas de pesquisa básica é a mais promissora: a pesquisa com
células-tronco adultas e aquela incidente sobre células-tronco embrionárias. A certeza científico-
tecnológica está em que um tipo de pesquisa não invalida o outro, pois ambos são mutuamente
complementares.
II - LEGITIMIDADE DAS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS PARA FINS TERAPÊUTICOS
E O CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. A pesquisa científica com células-tronco embrionárias,
autorizada pela Lei nº 11.105/2005, objetiva o enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que
severamente limitam, atormentam, infelicitam, desesperam e não raras vezes degradam a vida de
expressivo contingente populacional (ilustrativamente, atrofias espinhais progressivas, distrofias
musculares, a esclerose múltipla e a lateral amiotrófica, as neuropatias e as doenças do

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neurônio motor). A escolha feita pela Lei de Biosseguranca não significou um desprezo ou desapreço pelo
embrião "in vitro", porém u'a mais firme disposição para encurtar caminhos que possam levar à
superação do infortúnio alheio. Isto no âmbito de um ordenamento constitucional que desde o seu
preâmbulo qualifica "a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça"
como valores supremos de uma sociedade mais que tudo "fraterna". O que já significa incorporar o
advento do constitucionalismo fraternal às relações humanas, a traduzir verdadeira comunhão de vida ou
vida social em clima de transbordante solidariedade em benefício da saúde e contra eventuais tramas do
acaso e até dos golpes da própria natureza. Contexto de solidária, compassiva ou fraternal legalidade que,
longe de traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embriões "in vitro", significa apreço e
reverência a criaturas humanas que sofrem e se desesperam. Inexistência de ofensas ao direito à vida e
da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias (inviáveis
biologicamente ou para os fins a que se destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que
se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade
(Ministro Celso de Mello).
III - A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO DIREITO À VIDA E OS DIREITOS INFRACONSTITUCIONAIS DO
EMBRIÃO PRÉ-IMPLANTO. O Magno Texto Federal não dispõe sobre o início da vida humana ou o preciso
instante em que ela começa. Não faz de todo e qualquer estádio da vida humana um autonomizado bem
jurídico, mas da vida que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva (teoria "natalista", em
contraposição às teorias "concepcionista" ou da "personalidade condicional"). E quando se reporta a
"direitos da pessoa humana" e até dos "direitos e garantias individuais" como cláusula pétrea está falando
de direitos e garantias do indivíduo-pessoa, que se faz destinatário dos direitos fundamentais "à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade", entre outros direitos e garantias igualmente
distinguidos com o timbre da fundamentalidade (como direito à saúde e ao planejamento familiar).
Mutismo constitucional hermeneuticamente significante de transpasse de poder normativo para a
legislação ordinária. A potencialidade de algo para se tornar pessoa humana já é meritória o bastante
para acobertá-la, infraconstitucionalmente, contra tentativas levianas ou frívolas de obstar sua natural
continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto
e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária, mas embrião de
pessoa humana. O embrião referido na Lei de Biosseguranca ("in vitro" apenas) não é uma vida a
caminho de outra vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as primeiras
terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem factibilidade como projeto de vida autônoma e
irrepetível. O Direito infraconstitucional protege por modo variado cada etapa do desenvolvimento
biológico do ser humano. Os momentos da vida humana anteriores ao nascimento devem ser objeto de
proteção pelo direito comum. O embrião pré-implanto é um bem a ser protegido, mas não uma pessoa no
sentido biográfico a que se refere a Constituição.
IV - AS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO NÃO CARACTERIZAM ABORTO. MATÉRIA ESTRANHA À
PRESENTE AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. É constitucional a proposição de que toda
gestação humana principia com um embrião igualmente humano, claro, mas nem todo embrião humano
desencadeia uma gestação igualmente humana, em se tratando de experimento "in vitro". Situação em
que deixam de coincidir concepção e nascituro, pelo menos enquanto o ovócito (óvulo já fecundado) não
for introduzido no colo do útero feminino. O modo de irromper em laboratório e permanecer confinado "in
vitro" é, para o embrião, insuscetível de progressão reprodutiva. Isto sem prejuízo do reconhecimento de
que o zigoto assim extra-corporalmente produzido e também extra-corporalmente cultivado e
armazenado é entidade embrionária do ser humano. Não, porém, ser humano em estado de embrião. A
Lei de Biosseguranca não veicula autorização para extirpar do corpo feminino esse ou aquele embrião.
Eliminar ou desentranhar esse ou aquele zigoto a caminho do endométrio, ou nele já fixado. Não se cuida
de interromper gravidez humana, pois dela aqui não se pode cogitar. A "controvérsia constitucional em
exame não guarda qualquer vinculação com o problema do aborto." (Ministro Celso de Mello).
V - OS DIREITOS FUNDAMENTAIS À AUTONOMIA DA VONTADE, AO PLANEJAMENTO FAMILIAR E À
MATERNIDADE. A decisão por uma descendência ou filiação exprime um tipo de autonomia de vontade
individual que a própria Constituição rotula como "direito ao planejamento familiar", fundamentado este
nos princípios igualmente constitucionais da "dignidade da pessoa humana" e da "paternidade
responsável". A conjugação constitucional da laicidade do Estado e do primado da autonomia da vontade
privada, nas palavras do Ministro Joaquim Barbosa. A opção do casal por um processo "in vitro" de
fecundação artificial de óvulos é implícito direito de idêntica matriz constitucional, sem acarretar para esse
casal o dever jurídico do aproveitamento reprodutivo de todos os embriões eventualmente formados e
que se revelem geneticamente viáveis. O princípio fundamental da dignidade da pessoa

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humana opera por modo binário, o que propicia a base constitucional para um casal de adultos recorrer a
técnicas de reprodução assistida que incluam a fertilização artificial ou "in vitro". De uma parte, para
aquinhoar o casal com o direito público subjetivo à "liberdade" (preâmbulo da Constituição e seu art. 5º),
aqui entendida como autonomia de vontade. De outra banda, para contemplar os porvindouros
componentes da unidade familiar, se por eles optar o casal, com planejadas condições de bem-estar e
assistência físico-afetiva (art. 226 da CF). Mais exatamente, planejamento familiar que, "fruto da livre
decisão do casal", é "fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade
responsável" (§ 7º desse emblemático artigo constitucional de nº 226). O recurso a processos de
fertilização artificial não implica o dever da tentativa de nidação no corpo da mulher de todos os óvulos
afinal fecundados. Não existe tal dever (inciso II do art. 5º da CF), porque incompatível com o próprio
instituto do "planejamento familiar" na citada perspectiva da "paternidade responsável". Imposição, além
do mais, que implicaria tratar o gênero feminino por modo desumano ou degradante, em contrapasso ao
direito fundamental que se lê no inciso II do art. 5º da Constituição. Para que ao embrião "in vitro" fosse
reconhecido o pleno direito à vida, necessário seria reconhecer a ele o direito a um útero. Proposição não
autorizada pela Constituição.
VI - DIREITO À SAÚDE COMO COROLÁRIO DO DIREITO FUNDAMENTAL À VIDA DIGNA. O § 4º do art. 199
da Constituição, versante sobre pesquisas com substâncias humanas para fins terapêuticos, faz parte da
seção normativa dedicada à "SAÚDE" (Seção II do Capítulo II do Título VIII). Direito à saúde, positivado
como um dos primeiros dos direitos sociais de natureza fundamental (art. 6º da CF) e também como o
primeiro dos direitos constitutivos da seguridade social (cabeça do artigo constitucional de nº 194). Saúde
que é "direito de todos e dever do Estado" (caput do art. 196 da Constituição), garantida mediante ações
e serviços de pronto qualificados como "de relevância pública" (parte inicial do art. 197). A Lei de
Biosseguranca como instrumento de encontro do direito à saúde com a própria Ciência. No caso, ciências
médicas, biológicas e correlatas, diretamente postas pela Constituição a serviço desse bem inestimável do
indivíduo que é a sua própria higidez físico-mental.
VII - O DIREITO CONSTITUCIONAL À LIBERDADE DE EXPRESSÃO CIENTÍFICA E A LEI DE
BIOSSEGURANCA COMO DENSIFICAÇÃO DESSA LIBERDADE. O termo "ciência", enquanto atividade
individual, faz parte do catálogo dos direitos fundamentais da pessoa humana (inciso IX do art. 5º da CF).
Liberdade de expressão que se afigura como clássico direito constitucional-civil ou genuíno direito de
personalidade. Por isso que exigente do máximo de proteção jurídica, até como signo de vida coletiva
civilizada. Tão qualificadora do indivíduo e da sociedade é essa vocação para os misteres da Ciência que o
Magno Texto Federal abre todo um autonomizado capítulo para prestigiá-la por modo superlativo (capítulo
de nº IV do título VIII). A regra de que "O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a
pesquisa e a capacitação tecnológicas" (art. 218, caput) é de logo complementada com o preceito (§ 1º
do mesmo art. 218) que autoriza a edição de normas como a constante do art. 5º da Lei de
Biosseguranca. A compatibilização da liberdade de expressão científica com os deveres estatais de
propulsão das ciências que sirvam à melhoria das condições de vida para todos os indivíduos. Assegurada,
sempre, a dignidade da pessoa humana, a Constituição Federal dota o bloco normativo posto no art. 5º
da Lei 11.105/2005 do necessário fundamento para dele afastar qualquer invalidade jurídica (Ministra
Cármen Lúcia).
VIII - SUFICIÊNCIA DAS CAUTELAS E RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELA LEI DE BIOSSEGURANCA NA
CONDUÇÃO DAS PESQUISAS COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS. A Lei de Biosseguranca
caracteriza-se como regração legal a salvo da mácula do açodamento, da insuficiência protetiva ou do
vício da arbitrariedade em matéria tão religiosa, filosófica e eticamente sensível como a da biotecnologia
na área da medicina e da genética humana. Trata-se de um conjunto normativo que parte do pressuposto
da intrínseca dignidade de toda forma de vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto. A Lei de
Biosseguranca não conceitua as categorias mentais ou entidades biomédicas a que se refere, mas nem
por isso impede a facilitada exegese dos seus textos, pois é de se presumir que recepcionou tais
categorias e as que lhe são correlatas com o significado que elas portam no âmbito das ciências médicas e
biológicas.
IX - IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Afasta-se o uso da técnica de "interpretação conforme" para a feitura de
sentença de caráter aditivo que tencione conferir à Lei de Biosseguranca exuberância regratória, ou
restrições tendentes a inviabilizar as pesquisas com células-tronco embrionárias. Inexistência dos
pressupostos para a aplicação da técnica da "interpretação conforme a Constituição", porquanto a norma
impugnada não padece de polissemia ou de plurissignificatidade. Ação direta de inconstitucionalidade
julgada totalmente improcedente.

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2.5 REsp. 557.365/ RO

Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Exame pericial (teste de DNA).
Recusa. Inversão do ônus da prova. Relacionamento amoroso e relacionamento casual. Paternidade
reconhecida. - A recusa do investigado em se submeter ao teste de DNA implica a inversão do ônus da
prova e conseqüente presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor. - Verificada a recusa, o
reconhecimento da paternidade decorrerá de outras provas, estas suficientes a demonstrar ou a
existência de relacionamento amoroso à época da concepção ou, ao menos, a existência de
relacionamento casual, hábito hodierno que parte do simples 'ficar', relação fugaz, de apenas um
encontro, mas que pode garantir a concepção, dada a forte dissolução que opera entre o envolvimento
amoroso e o contato sexual. Recurso especial provido.

2.6 REsp. 397.013/ MG

Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Exame pericial (teste de DNA) em
confronto com as demais provas produzidas. Conversão do julgamento em diligência. - Diante do grau de
precisão alcançado pelos métodos científicos de investigação de paternidade com fulcro na análise do
DNA, o valoração da prova pericial com os demais meios de prova admitidos em direito deve observar os
seguintes critérios: (a) se o exame de DNA contradiz as demais provas produzidas, não se deve afastar a
conclusão do laudo, mas converter o julgamento em diligência, a fim de que novo teste de DNA seja
produzido, em laboratório diverso, com o fito de assim minimizar a possibilidade de erro resultante seja
da técnica em si, seja da falibilidade humana na coleta e manuseio do material necessário ao exame; (b)
se o segundo teste de DNA corroborar a conclusão do primeiro, devem ser afastadas as demais provas
produzidas, a fim de se acolher a direção indicada nos laudos periciais; e (c) se o segundo teste de DNA
contradiz o primeiro laudo, deve o pedido ser apreciado em atenção às demais provas produzidas.
Recurso especial provido.

2.7 REsp. 709.608/ MS

REGISTRO CIVIL. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE VIA ESCRITURA PÚBLICA. INTENÇÃO LIVRE E


CONSCIENTE. ASSENTO DE NASCIMENTO DE FILHO NÃO BIOLÓGICO. RETIFICAÇÃO PRETENDIDA POR
FILHA DO DE CUJUS. ART. 1.604 DO CÓDIGO CIVIL. AUSÊNCIA DE VÍCIOS DE CONSENTIMENTO.
VÍNCULO SOCIOAFETIVO. ATO DE REGISTRO DA FILIAÇÃO. REVOGAÇÃO. DESCABIMENTO. ARTS. 1.609
E 1.610 DO CÓDIGO CIVIL.
1. Estabelecendo o art. 1.604 do Código Civil que "ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta
do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade de registro", a tipificação das exceções
previstas no citado dispositivo verificar-se-ia somente se perfeitamente demonstrado qualquer dos vícios
de consentimento, que, porventura, teria incorrido a pessoa na declaração do assento de nascimento, em
especial quando induzido a engano ao proceder o registro da criança.
2. Não há que se falar em erro ou falsidade se o registro de nascimento de filho não biológico efetivou-se
em decorrência do reconhecimento de paternidade, via escritura pública, de forma espontânea, quando
inteirado o pretenso pai de que o menor não era seu filho; porém, materializa-se sua vontade, em
condições normais de discernimento, movido pelo vínculo socioafetivo e sentimento de nobreza.
3. "O reconhecimento de paternidade é válido se reflete a existência duradoura do vínculo socioafetivo
entre pais e filhos. A ausência de vínculo biológico é fato que por si só não revela a falsidade da
declaração de vontade consubstanciada no ato do reconhecimento. A relação socioafetiva é fato que não
pode ser, e não é, desconhecido pelo Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em registro
civil" (REsp n. 878.941-DF, Terceira Turma, relatora Ministra Nancy Andrighi, DJ de 17.9.2007).
4. O termo de nascimento fundado numa paternidade socioafetiva, sob autêntica posse de estado de filho,
com proteção em recentes reformas do direito contemporâneo, por denotar uma verdadeira filiação
registral -portanto, jurídica -, conquanto respaldada pela livre e consciente intenção do reconhecimento
voluntário, não se mostra capaz de afetar o ato de registro da filiação, dar ensejo a sua revogação, por
força do que dispõem os arts. 1.609 e 1.610 do Código Civil.
5. Recurso especial provido.

2.8 REsp. 878.941/ DF

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RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
SANGÜÍNEA ENTRE AS PARTES. IRRELEVÂNCIA DIANTE DO VÍNCULO SÓCIO-AFETIVO. -
Merece reforma o acórdão que, ao julgar embargos de declaração, impõe multa com amparo no art. 538,
par. único, CPC se o recurso não apresenta caráter modificativo e se foi interposto com expressa
finalidade de prequestionar. Inteligência da Súmula 98, STJ.
- O reconhecimento de paternidade é válido se reflete a existência duradoura do vínculo sócio-afetivo
entre pais e filhos. A ausência de vínculo biológico é fato que por si só não revela a falsidade da
declaração de vontade consubstanciada no ato do reconhecimento. A relação sócio-afetiva é fato que não
pode ser, e não é, desconhecido pelo Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em registro
civil. - O STJ vem dando prioridade ao critério biológico para o reconhecimento da filiação naquelas
circunstâncias em que há dissenso familiar, onde a relação sócio-afetiva desapareceu ou nunca existiu.
Não se pode impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que, não sendo o pai
biológico, também não deseja ser pai sócio-afetivo. A contrario sensu, se o afeto persiste de forma que
pais e filhos constroem uma relação de mútuo auxílio, respeito e amparo, é acertado desconsiderar o
vínculo meramente sanguíneo, para reconhecer a existência de filiação jurídica. Recurso conhecido e
provido.

2.9 STJ, REsp. 833.712/ RS

Direito civil. Família. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade e maternidade. Vínculo
biológico. Vínculo sócio-afetivo. Peculiaridades. - A "adoção à brasileira", inserida no contexto de filiação
sócio-afetiva, caracteriza-se pelo reconhecimento voluntário da maternidade/paternidade, na qual,
fugindo das exigências legais pertinentes ao procedimento de adoção, o casal (ou apenas um dos
cônjuges/companheiros) simplesmente registra a criança como sua filha, sem as cautelas judiciais
impostas pelo Estado, necessárias à proteção especial que deve recair sobre os interesses do menor. - O
reconhecimento do estado de filiação constitui direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, que
pode ser exercitado sem qualquer restrição, em face dos pais ou seus herdeiros. - O princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana, estabelecido no art. 1º, inc. III, da CF/88, como um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil, traz em seu bojo o direito à identidade biológica e
pessoal. - Caracteriza violação ao princípio da dignidade da pessoa humana cercear o direito de
conhecimento da origem genética, respeitando-se, por conseguinte, a necessidade psicológica de se
conhecer a verdade biológica. - A investigante não pode ser penalizada pela conduta irrefletida dos pais
biológicos, tampouco pela omissão dos pais registrais, apenas sanada, na hipótese, quando aquela já
contava com 50 anos de idade. Não se pode, portanto, corroborar a ilicitude perpetrada, tanto pelos pais
que registraram a investigante, como pelos pais que a conceberam e não quiseram ou não puderam dar-
lhe o alento e o amparo decorrentes dos laços de sangue conjugados aos de afeto. - Dessa forma,
conquanto tenha a investigante sido acolhida em lar "adotivo" e usufruído de uma relação sócio-afetiva,
nada lhe retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar conhecimento de sua real história, de ter
acesso à sua verdade biológica que lhe foi usurpada, desde o nascimento até a idade madura. Presente o
dissenso, portanto, prevalecerá o direito ao reconhecimento do vínculo biológico. - Nas questões em que
presente a dissociação entre os vínculos familiares biológico e sócio-afetivo, nas quais seja o Poder
Judiciário chamado a se posicionar, deve o julgador, ao decidir, atentar de forma acurada para as
peculiaridades do processo, cujos desdobramentos devem pautar as decisões. Recurso especial provido.

2.10 STJ, REsp. 807.849/ RJ

Direito civil. Família. Ação de declaração de relação avoenga. Buscada ancestralidade. Direito
personalíssimo dos netos. Dignidade dapessoa humana. Legitimidade ativa e possibilidade jurídica
dopedido. Peculiaridade. Mãe dos pretensos netos que também postulaseu direito de meação dos bens
que supostamente seriam herdados pelomarido falecido, porquanto pré-morto o avô.- Os direitos da
personalidade, entre eles o direito ao nome e aoconhecimento da origem genética são inalienáveis,
vitalícios,intransmissíveis, extrapatrimoniais, irrenunciáveis, imprescritíveise oponíveis erga omnes.- Os
netos, assim como os filhos, possuem direito de agir, próprio epersonalíssimo, de pleitear declaratória de
relação de parentesco emface do avô, ou dos herdeiros se pré-morto aquele, porque o direitoao nome, à
identidade e à origem genética estão intimamente ligadosao conceito de dignidade da pessoa humana.- O
direito à busca da ancestralidade é personalíssimo e, dessaforma, possui tutela jurídica integral e
especial, nos moldes dosarts. 5º e 226, da CF/88.- O art. 1.591 do CC/02, ao regular as

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relações de parentesco emlinha reta, não estipula limitação, dada a sua infinitude, de modoque todas as
pessoas oriundas de um tronco ancestral comum, sempreserão consideradas parentes entre si, por mais
afastadas que estejamas gerações; dessa forma, uma vez declarada a existência de relaçãode parentesco
na linha reta a partir do segundo grau, esta gerarátodos os efeitos que o parentesco em primeiro grau
(filiação) farianascer.- A pretensão dos netos no sentido de estabelecer, por meio de açãodeclaratória, a
legitimidade e a certeza da existência de relação deparentesco com o avô, não caracteriza hipótese de
impossibilidadejurídica do pedido; a questão deve ser analisada na origem, com aamplitude probatória a
ela inerente.- A jurisprudência alemã já abordou o tema, adotando a solução oradefendida. Em julgado
proferido em 31/1/1989 e publicado noperiódico jurídico NJW (Neue Juristische Woche) 1989, 891,
oTribunal Constitucional Alemão (BVerfG) afirmou que "os direitos dapersonalidade (Art. 2 Par.1º e Art. 1º
Par.1º da ConstituiçãoAlemã) contemplam o direito ao conhecimento da própria origemgenética."- Em
hipótese idêntica à presente, analisada pelo Tribunal Superiorem Dresden (OLG Dresden) por ocasião de
julgamento ocorrido em 14 deagosto de 1998 (autos n.º 22 WF 359/98), restou decidido que "emação de
investigação de paternidade podem os pais biológicos de umhomem já falecido serem compelidos à
colheita de sangue".- Essa linha de raciocínio deu origem à reforma legislativa queprovocou a edição do §
372a do Código de Processo Civil Alemão (ZPO) em 17 de dezembro de 2008, a seguir reproduzido
(tradução livre): "§ 372a Investigações para constatação da origem genética.
I. Desde queseja necessário para a constatação da origem genética, qualquerpessoa deve tolerar exames,
em especial a coleta de amostrasanguínea, a não ser que o exame não possa ser exigido da
pessoaexaminada.
II. Os §§ 386 a 390 são igualmente aplicáveis. Em caso derepetida e injustificada recusa ao exame
médico, poderá serutilizada a coação, em particular a condução forçada da pessoa a serexaminada."- Não
procede a alegada ausência de provas, a obstar o pleitodeduzido pelos netos, porque ao acolher a
preliminar de carência daação, o TJ/RJ não permitiu que a ação tivesse seguimento, sem o que,não há
como produzir provas, porque não chegado o momento processualde fazê-lo.- Se o pai não propôs ação
investigatória quando em vida, a via doprocesso encontra-se aberta aos seus filhos, a possibilitar
oreconhecimento da relação avoenga; exigem-se, certamente, provashábeis, que deverão ser produzidas
ao longo do processo, mas não sepode despojar do solo adequado uma semente que
apresentaprobabilidades de germinar, lançando mão da negativa de acesso aoJudiciário, no terreno estéril
da carência da ação.- O pai, ao falecer sem investigar sua paternidade, deixou acertidão de nascimento
de seus descendentes com o espaço destinadoao casal de avós paternos em branco, o que já se mostra
suficientepara justificar a pretensão de que seja declarada a relação avoengae, por consequência, o
reconhecimento de toda a linha ancestralpaterna, com reflexos no direito de herança.- A preservação da
memória dos mortos não pode se sobrepor à tutelados direitos dos vivos que, ao se depararem com
inusitado vácuo notronco ancestral paterno, vêm, perante o Poder Judiciário, deduzirpleito para que a
linha ascendente lacunosa seja devidamentepreenchida.- As relações de família tal como reguladas pelo
Direito, aoconsiderarem a possibilidade de reconhecimento amplo de parentescona linha reta, ao
outorgarem aos descendentes direitos sucessóriosna qualidade de herdeiros necessários e resguardando-
lhes a legítimae, por fim, ao reconhecerem como família monoparental a comunidadeformada pelos pais e
seus descendentes, inequivocamente movem-se nosentido de assegurar a possibilidade de que sejam
declaradasrelações de parentesco pelo Judiciário, para além das hipóteses defiliação.- Considerada a
jurisprudência do STJ no sentido de ampliar apossibilidade de reconhecimento de relações de parentesco,
e desdeque na origem seja conferida a amplitude probatória que a hipóteserequer, há perfeita viabilidade
jurídica do pleito deduzido pelosnetos, no sentido de verem reconhecida a relação avoenga, afastadas,de
rigor, as preliminares de carência da ação por ilegitimidade departe e impossibilidade jurídica do pedido,
sustentadas pelosherdeiros do avô.- A respeito da mãe dos supostos netos, também parte no processo,
eque aguarda possível meação do marido ante a pré-morte do avô dosseus filhos, segue mantida, quanto
a ela, de igual modo, alegitimidade ativa e a possibilidade jurídica do pedido, notadamenteporque
entendimento diverso redundaria em reformatio in pejus.Recurso especial provido.

2.11 REsp. 876.434/ RS

RECURSO ESPECIAL CONTRA ACÓRDÃO QUE MANTEVE O INDEFERIMENTO DEPETIÇÃO INICIAL DE


CAUTELAR PARA PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAVOLTADA À REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA PARA
INSTRUÇÃO DE FUTURADEMANDA INVESTIGATÓRIA DE RELAÇÃO AVOENGA.
1.NÃO CONHECIMENTO DA IRRESIGNAÇÃO POR DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL,DADA A AUSÊNCIA DE
SIMILITUDE FÁTICA ENTRE O ARESTO IMPUGNADO E OSPRECEDENTES DA CORTE INDICADOS

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COMO PARADIGMAS, EVIDENCIANDO OINEDITISMO DO TEMA NO ÂMBITO DESTA CORTE (RISTJ, art.
255, § 2º).1.1. O caso concreto ensejador do presente recurso especial sediferencia dos precedentes em
que o STJ reconheceu o direito próprioe personalíssimo do neto buscar constituição de relação
avoenga,pois neles o genitor do investigante era pré-morto e não haviaexercido pretensão em vida em
lide cuja sentença de mérito julgouimprocedente aquela ação, não havendo similitude fática a autorizaro
conhecimento da insurgência por eventual dissídio jurisprudencial.
2.APRECIAÇÃO DO MÉRITO DA INSURGÊNCIA EM FUNÇÃO DO PREQUESTIONAMENTODE NORMA
ATINENTE AOS LIMITES DA COISA JULGADA, APLICANDO-SE ODIREITO À ESPÉCIE, NOS TERMOS DA
SÚMULA N. 456-STF.
3.ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DE PRETENSA NETA, ENQUANTO VIVO SEUGENITOR, DE
INVESTIGAR A IDENTIDADE GENÉTICA COM A FINALIDADE DECONSTITUIÇÃO DE PARENTESCO.3.1. Não
há legitimação concorrente entre gerações de grausdiferentes postularem o reconhecimento judicial de
parentesco, combase em descendência genética, existindo somente legitimidadesucessiva, de modo que
as classes mais próximas, enquanto vivas,afastam as mais remotas (CC, art. 1606, caput).
4.INTERPRETAÇÃO DO DIREITO À IDENTIDADE GENÉTICA, CARENTE DEREGULAMENTAÇÃO, EM
HARMONIA COM O REGIME DE FILIAÇÃO DISCIPLINADO NOCÓDIGO CIVIL - APARENTE TENSÃO ENTRE
DIREITOS FUNDAMENTAIS DE MESMAMAGNITUDE QUE DEVE SER SOLUCIONADA MEDIANTE
OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIODA PROPORCIONALIDADE (RAZOABILIDADE), SENDO ESTE O
VETORHERMENÊUTICO APROPRIADO A SALVAGUARDAR OS NÚCLEOS ESSENCIAIS DEDIREITOS EM
SUPOSTA COLIDÊNCIA - VALOR/PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DAPESSOA HUMANA QUE TANTO INFORMA O
DIREITO À IDENTIDADE PESSOAL,LASTRADO NA VERDADE BIOLÓGICA DO INDIVÍDUO, COMO TAMBÉM,
OS DIREITODE FILIAÇÃO, PRIVACIDADE E INTIMIDADE DO INVESTIGADO E DAS DEMAISPESSOAS
ENVOLVIDAS EM LIDES VOLTADAS À CONSTITUIÇÃO COERCITIVA DEPARENTESCO, GARANTINDO-SE
SEGURANÇA JURÍDICA NO ÂMBITO DAS RELAÇÕESDE FAMÍLIA - INEXISTÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO
ESPECÍFICA DO DIREITO ÀBUSCA DA VERDADE BIOLÓGICA, RESSALVADO O DISPOSTO NO ART. 48 DA
LEIN. 8.069/90, QUE ENSEJA A OBSERVÂNCIA DO REGIME DE FILIAÇÃO REGULADONO CÓDIGO CIVIL -
IMPOSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO DEPARENTESCO DE FORMA INTERPOSTA (PER
SALTUM), TENDO EM VISTA OCARÁTER LINEAR DO REGIME ESTABELECIDO NO CÓDIGO CIVIL (CC, ART.
1591/1594), DE MODO QUE AS CLASSES MAIS REMOTAS DERIVAM DASPRÓXIMAS.4.1. O princípio da
proporcionalidade não autoriza conferir umcaráter absoluto ao direito de identidade genética, para com
basenele afastar a norma restritiva do art. 1.606 do CC, tendo em vistaque o valor/princípio da dignidade
da pessoa humana informa tanto odireito do indivíduo buscar sua verdade biológica, como também
asegurança jurídica e a privacidade da intimidade nas relações deparentesco do investigado e das próprias
gerações antecedentes àinvestigante, exceto venha o legislador futuramente regular o temade forma
diferente.4.2. A concentração da legitimidade para investigação da identidadegenética de determinado
tronco familiar na geração mais próxima,enquanto viva, constitui entendimento mais adequado à
salvaguarda donúcleo essencial dos direitos fundamentais em tensão,respectivamente, identidade
genética de descendentes remotos e aprivacidade e intimidade do investigado e das próprias classes
deparentesco mais imediatas, garantindo-se segurança jurídica àsrelações de família e respectivo regime
de parentesco, evitando-se orisco de sentenças contraditórias e transtornos irreversíveis ante
oaforamento de múltiplas ações judiciais para o mesmo fim, por partede um número muito maior de
legitimados, então concorrentes.4.3. Se, por um lado, é razoável obrigar qualquer indivíduo vir ajuízo
revelar sua intimidade e expor sua vida privada para sedefender de demanda dirigida ao reconhecimento
de parentesco, comconsequências sócio familiares irreversíveis, não há essa mesmaproporcionalidade
para autorizar que esse idêntico investigado possaser constrangido por todos os demais descendentes de
determinadoparente de grau mais próximo, sujeitando-se a um sem número dedemandas, com
possibilidade de decisões incongruentes, presentes efuturas, nas quais um mesmo tronco de
descendência, cada qual porsi, poderia postular declaração judicial de parentalidade lastradaem um igual
vínculo genético.4.4. No âmbito das relações de parentesco não decorrentes da adoção,o exercício do
direito de investigação da identidade genética, parafins de constituição de parentesco é limitado, sim, pelo
disposto noart. 1.606 do Código Civil, o qual restringiu o universo de quem (ageração mais próxima viva)
e quando pode ser postulada declaraçãojudicial de filiação (não haver anterior deliberação a respeito);4.5.
A extensão da legitimação também não se mostra necessária emfunção de o pai da investigante não ter
conseguido realizar exame deDNA em anteriores demandas nas quais restou sucumbente em relação
aoora investigado, porquanto o próprio progenitor, por si, ainda detéma possibilidade de relativizar os
provimentos jurisdicionais que nãoo reconheceram como filho, vez que, segundo o entendimento
maisrecente da Suprema Corte, pode ser reinaugurada essa discussão noscasos em que a

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improcedência decorreu de processo no qual não estavadisponível às partes a realização do exame de
DNA (Informativo n.622 - RE 363.889, Rel. Min. Dias Toffoli, acórdão pendente depublicação- em
23.11.2011).
5. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO, VEZ QUE AS GERAÇÕES MAISREMOTAS NÃO PODEM
DESCONSTITUIR INDIRETAMENTE PROVIMENTOSJURISDICIONAIS DE IMPROCEDÊNCIA INERENTES À
RELAÇÃO DE ESTADOPERTINENTE AO SEU ASCENDENTE IMEDIATO (CC, ART. 1.606, § ÚNICO).
6. RECURSO CONHECIDO EM PARTE, E NESSA EXTENSÃO, DESPROVIDO.

2.12 REsp. 226.436/ PR

PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REPETIÇÃO DE AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA,


QUE TEVE SEU PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE POR FALTA DE PROVAS. COISA JULGADA. MITIGAÇÃO.
DOUTRINA. PRECEDENTES. DIREITO DE FAMÍLIA. EVOLUÇÃO. RECURSO ACOLHIDO.
I -Não excluída expressamente a paternidade do investigado na primitiva ação de investigação de
paternidade, diante da precariedade da prova e da ausência de indícios suficientes a caracterizar tanto a
paternidade como a sua negativa, e considerando que, quando do ajuizamento da primeira ação, o exame
pelo DNA ainda não era disponível e nem havia notoriedade a seu respeito, admite-se o ajuizamento de
ação investigatória, ainda que tenha sido aforada uma anterior com sentença julgando improcedente o
pedido.
II -Nos termos da orientação da Turma, "sempre recomendável a realização de perícia para investigação
genética (HLA e DNA), porque permite ao julgador um juízo de fortíssima probabilidade, senão de
certeza" na composição do conflito. Ademais, o progresso da ciência jurídica, em matéria de prova, está
na substituição da verdade ficta pela verdade real.
III -A coisa julgada, em se tratando de ações de estado, como no caso de investigação de paternidade,
deve ser interpretada modus in rebus. Nas palavras de respeitável e avançada doutrina, quando
estudiosos hoje se aprofundam no reestudo do instituto, na busca sobretudo da realização do processo
justo, "a coisa julgada existe como criação necessária à segurança prática das relações jurídicas e as
dificuldades que se opõem à sua ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não se pode olvidar,
todavia, que numa sociedade de homens livres, a Justiça tem de estar acima da segurança, porque sem
Justiça não há liberdade".
IV -Este Tribunal tem buscado, em sua jurisprudência, firmar posições que atendam aos fins sociais do
processo e às exigências do bem comum.

2.12 RE 363.889/ DF

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO


GERAL RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DECLARADA EXTINTA, COM
FUNDAMENTO EM COISA JULGADA, EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE ANTERIOR DEMANDA EM QUE NÃO
FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA, POR SER O AUTOR BENEFICÁRIO DA JUSTIÇA
GRATUITA E POR NÃO TER O ESTADO PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO. REPROPOSITURA DA AÇÃO.
POSSIBILIDADE, EM RESPEITO À PREVALÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À BUSCA DA IDENTIDADE
GENÉTICA DO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE PERSONALIDADE.
1. É dotada de repercussão geral a matéria atinente à possibilidade da repropositura de ação de
investigação de paternidade, quando anterior demanda idêntica, entre as mesmas partes, foi julgada
improcedente, por falta de provas, em razão da parte interessada não dispor de condições econômicas
para realizar o exame de DNA e o Estado não ter custeado a produção dessa prova.
2. Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em que
não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes, em decorrência da
não realização do exame de DNA, meio de prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à
existência de tal vínculo.
3. Não devem ser impostos óbices de natureza processual ao exercício do direito fundamental à busca da
identidade genética, como natural emanação do direito de personalidade de um ser, de forma a tornar-se
igualmente efetivo o direito à igualdade entre os filhos, inclusive de qualificações, bem assim o princípio
da paternidade responsável.
4. Hipótese em que não há disputa de paternidade de cunho biológico, em confronto com outra, de cunho
afetivo. Busca-se o reconhecimento de paternidade com relação a pessoa identificada.
5. Recursos extraordinários conhecidos e providos.

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3. SIMULADOS

3.1. TJ/AL Juiz Estadual - Janeiro/2007 - Em ação de investigação de paternidade, a recusa do


suposto pai à perícia médica ordenada pelo juiz
a) não gera qualquer presunção e nada impede o réu de alegar a falta do exame em seu benefício.
b) firma presunção absoluta de paternidade.
c) autoriza a condução coercitiva do réu para a realização do exame.
d) poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.
e) acarreta, necessariamente, a prolação de sentença por julgamento antecipado da lide

3.2. PGE-PA/PA Procurador do Estado - Janeiro/2009 Analise as proposições abaixo e assinale a


alternativa INCORRETA:
a) As declarações enunciativas, constantes de documentos assinados, presumem-se verdadeiras em
relação aos signatários e, desde que tenham relação direta com as disposições principais ou com a
legitimidade das partes, eximem os interessados em sua veracidade do ônus de prová-las.
b) Em ação de investigação de paternidade, consoante a jurisprudência do STJ, a recusa do suposto
pai a submeter-se ao exame de DNA constitui presunção absoluta da sua paternidade.
c) O novo Código Civil equiparou as cópias (reproduções) inautênticas aos documentos originais e
autenticados, desde que sejam comuns às partes e inexista impugnação à sua exatidão.
d) Nos casos em que a lei exclui a prova testemunhal, não se admite, como meio de prova, a
presunção, exceto se prevista em lei.

3.3. TJ/GO Juiz Estadual – Ago 2007 Presumem-se concebidos na constância do casamento:
a) Os filhos concebidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do
marido.
b) nascidos há pelo menos duzentos (200) dias do estabelecimento da convivência conjugal.
c) havidos por fecundação artificial homóloga, desde que ainda vivo o marido.
d) nascidos no prazo de cinco (5) anos da concepção artificial homóloga, quando se tratar de
embriões excedentários.

Resposta:

3.1 A
3.2 B
3.3 B

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