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Guarda compartilhada e guarda

unilateral: Alguns apontamentos


sobre o instituto da guarda
Por Leicimar Morais 09/04/2020 as 12:37

     
Direito de Família e Sucessões
O sistema jurídico brasileiro trouxe duas situações importantes no que tange à
guarda. Para alguns doutrinadores há um regime chamado dualista.

Tal regime se dá em razão da divisão que ocorre entre a guarda no contexto


das relações familiares, isto é, a guarda de filhos, e a guarda estatutária, que é
proveniente da colocação da criança e adolescente em família substituta.

Em que pese tais regimes apresentarem contextos diferentes em relação ao


instituto da guarda, ambos possuem o mesmo compromisso que é garantir o
melhor interesse da criança e do adolescente, colocando-os em posição de
segurança, garantindo, assim, a proteção integral, conforme o texto
constitucional. 

Assim, insta salientar que, o presente artigo tem como finalidade fazer uma
abordagem no contexto da guarda resultante da dissolução de uma relação
afetiva.  

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cotidiano dos tribunais.

Quais são os tipos de guarda


existentes no direito brasileiro?
Atualmente, no que concerne a guarda advinda da dissolução de uma relação
afetiva, o nosso ordenamento jurídico prevê duas modalidades, a saber: a
guarda unilateral e a guarda compartilhada.

Antes da alteração do art. 1583 do Código Civil, a guarda era exercida apenas
de forma unilateral, ou seja, cabia a um dos genitores a guarda da criança ou
adolescente, enquanto o outro possuía o direito de prestar alimentos e de
visitá-lo.   
Com a nova redação dada ao art. 1583 do Código Civil, foi possível disciplinar
também a modalidade da guarda compartilhada. Vejamos:

Art. 1583: A guarda será unilateral ou compartilhada. 

§1º Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou


a alguém que o substitua (art. 1.584, §5º) e, por guarda compartilhada a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe
que não vivam sob o mesmo teto concernentes ao poder familiar dos filhos
comuns. 

Em que pese a legislação apresentar apenas as duas modalidades


supramencionadas de guarda, há uma discussão sobre a possibilidade da
aplicação da guarda alternada.

A guarda alternada é aquela exercida por um dos genitores durante um período


de tempo, podendo ser por uns dias, uns meses ou até um ano. Todavia,
durante esse período definido, a responsabilidade sobre assuntos relacionados
a criança ou adolescente é única e exclusiva do genitor que possui a guarda.

Ocorre que, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) afastou a tese de guarda


alternada, reconhecendo a modalidade de guarda compartilhada como a mais
adequada para o melhor interesse da criança e do adolescente.

 Pois a guarda compartilhada tende a manter a convivência de ambos os pais


na vida dos filhos.

Desse modo, é importante se atentar para o fato de que a guarda alternada


não se confunde com a guarda compartilhada, bem como que àquela não é
reconhecida pelos tribunais do Brasil.  

Uma questão relevante quando se discute a respeito da guarda compartilhada


é que a partir do momento que a criança ou adolescente passa a ter contato
com ambos os pais, estudos apontam que há um menor índice de que ocorra a
alienação parental.

Tal entendimento se dá pelo fato de que ambos os pais, em igual proporção,


seriam responsáveis pela guarda dos filhos, o que ocasionaria direitos e
deveres proporcionais.

O que reflete nas questões envolvendo a alienação parental, pois o alienante


utiliza do poder que tem sobre o filho para poder atingir o ex-cônjuge, como por
exemplo, afastando ele da convivência do filho, criando ideias fantasiosas e
situações inexistentes utilizando como meio o próprio filho.
A lei que tutela a alienação parental (Lei nº 12.318/10), define em seu art. 2º
que:  

Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica


da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores,
pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. 

Há obrigação de prestar alimentos no


contexto da guarda compartilhada?

Muitas dúvidas surgem a partir desse questionamento, pois muitos pais


propõem ação de exoneração da pensão alimentícia considerando a o fato da
guarda ser compartilhada, ou, até mesmo, procuram requer a guarda unilateral
da criança ou do adolescente a fim de se eximir de pagar os alimentos.

Ocorre que, não há entendimento nesse sentido de ser exclusivo apenas a um


dos pais, pois o intuito da guarda compartilhada, é que os pais possam
compartilhar o dia a dia com os filhos, participando das suas atividades diárias,
ajudando na educação, assim, proporcionado um crescimento saudável.

Ademais, ao passo que os direitos são compartilhados, os deveres também


segue nessa mesma linha. Para que haja um equilíbrio o magistrado
determinará a um dos genitores as obrigações no que tange a prestação
pecuniária, seguindo o binômio razoabilidade x proporcionalidade.
Quais documentos são necessários
para propositura da ação de guarda?

Deverão ser apresentadas cópias e originais dos seguintes documentos: 

- documento de identificação com foto do requerente;

- CPF/MF do requerente;

- comprovante de residência do requerente;

- certidão de nascimento dos filhos;

- comprovante de renda (carteira de trabalho, contracheque, entre outros);

- rol de testemunhas quando uma das partes exerce a guarda de fato.

Pressupostos processuais da ação de


guarda
O processo de guarda pode ser requerido de forma autônoma ou cumulada
com outras questões como divórcio, separação, dissolução da união estável,
regulamentação de visita e alimentos.

Todavia, faz-se necessário mencionar que, o processo de alimentos possui um


rito especial, conforme determinado pela Lei nº 5.478/68, conhecida como lei
de alimentos. Vejamos:

Art. 1º. A ação de alimentos é de rito especial, independente de prévia


distribuição e de anterior concessão do benefício de gratuidade.

Assim, caso a parte requerente, por exemplo, cumule pedido de guarda,


regulamentação de visita e alimentos, deverá pedir em liminar a fixação dos
alimentos e da guarda provisória, tendo em vista o caráter de prioridade das
aludidas questões.

Nesse sentido, o §2º do art. 327 do Código de Processo Civil diz que é lícita a
cumulação de pedidos, conforme descrito a seguir:

§ 2º Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento,


será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem
prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos
procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados,
que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento
comum.

No que tange à competência, a ação de guarda deverá ser dirigida ao juízo da


vara de família.
Consoante ao exposto, nota-se que entre as duas modalidades de guarda
existentes no nosso ordenamento jurídico, a mais indicada pelos tribunais é a
guarda compartilhada, considerando que esta busca assegurar meios mais
eficazes no que tange ao melhor interesse da criança e do adolescente. 

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