Você está na página 1de 8

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __ Vara de Família da Comarca Fortaleza-

CE.

DIANA NOGUEIRA DA SILVA CAVALCANTE, brasileira, maior, solteira, vendedora,


RG: 2004010254270, CPF: 027.483.383-24, residente e domiciliada na rua Carlos Gomes, nº
107, ap. 202, Fortaleza-CE, CEP: 60.040-230, vem por meio de sua advogada infra assinada,
com escritório no endereço constante na procuração em anexo, onde recebe intimações,
propor a presente

AÇÃO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS C/C


ALIMENTOS PROVISÓRIOS (pelo rito da Lei 11804/08)

em face de HIDERLANDSON RIBEIRO DE OLIVEIRA, brasileiro, maior, solteiro, RG:


2005002112142, CPF: 048.950.433-71, residente e domiciliado Rua Rubia Sampaio, nº 1570,
Bairro: Farias Brito, Fortaleza/CE, CEP: 60.011-060.

I. DOS FATOS

No caso em comento, a autora e o réu mantiveram um relacionamento por mais de


01 ano, que resultou em gravidez, conforme o exame em anexo.
Ocorre que, após a confirmação da gravidez o relacionamento acabou e a
demandante se encontra desesperada, uma vez que já tem outros dois filhos, não possui
plano de saúde e está passando por grave dificuldade financeira.

Já o demandado, apesar de ter possiblidades de ajudá-la financeiramente, não o faz,


frustrando inclusive, as tentativas de contato telefônico feitas pela autora.

Vale ressaltar que o mesmo afirma através de conversas em rede social (whatsapp),
que não vai ajudar a sustentar essa criança, e, inclusive a ameaça, e, somando-se ao fato
de já a ter agredido outras vezes, a mesma foi obrigada a entrar com medida protetiva
junto à delegacia da mulher, para se ver resguardada em sua integridade física e moral.

II. DO DIREITO

O ordenamento jurídico pátrio protege o direito à vida e à dignidade como sendo


dois dos direitos fundamentais do ser humano. Esses direitos têm sua importância
ressaltada pela Constituição Federal (art. 1º, III; art. 5º, “caput”) e por diplomas legais
internacionais dos quais o Brasil é signatário, a exemplo do Pacto de São José da Costa
Rica, segundo o qual:

art. 4º “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito
deve ser protegido por lei e, em geral, desde o momento da concepção.
Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”.

O direito à vida é a base que fundamenta todos os demais direitos, que não podem
sequer ser cogitados sem que aquele figure como palco para sua manifestação.

A lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (art. 2º, do CC). A
doutrina e jurisprudência clássica afirmam ser alguns dos direitos do nascituro mera
expectativa (direitos patrimonais e de herança, por exemplo). Já os que estão
relacionados à vida, são propriamente direitos fundamentais e irrenunciáveis, além de
sujeitos a proteção jurídica especial. Assim, no que tange aos direitos do nascituro,
protege-se especialmente o direito de filiação, o direito a alimentos, o direito à gestação
saudável, o direito a acompanhamento pré-natal (art. 8º, do ECA), direito a um parto digno,
dentre muitos outros.

O direito da gestante de ver-se assistida em sua gestação tomou maior contorno


com o advento da Lei 11.804/08, que passou a regular, expressamente, os alimentos
gravídicos.

Aquilo que já era defendido pela doutrina, com a interpretação dos pactos de
direitos humanos, Constituição, Código Civil, e legislação referente à criança ao
adolescente, bem como plenamente reconhecido pela jurisprudência pátria, foi
consolidado pela edição da citada lei. Dispõe seu art. 2º:

“Art. 2º - Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores


suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que
sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a
alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de
outras que o juiz considere pertinentes.
Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte
das despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai, considerando-se a
contribuição que também deverá ser dada pela mulher grávida, na
proporção dos recursos de ambos”.

Isto se justifica de forma concreta, eis que uma gravidez gera uma série de gastos
como exames pré-natais, ultrassonografia, remédios, alimentação adequada, dentre
outros. Esses gastos, que serão revertidos ao bebê que ainda não nasceu não devem ser
suportados exclusivamente pela mãe, pois o dever de cuidado para com os filhos deve ser
suportado por ambos os pais.

Esse direito está respaldado, enfim, no próprio direito à vida, bem como nos
dispositivos previstos na Constituição (art. 227, CF) e no Estatuto da Criança e do
Adolescente (arts. 7º a 14, Lei 8.069/90).

É certo ainda que a obrigação alimentar dos pais em relação aos filhos menores
funda-se no poder familiar a que estão submetidos. Esse dever é abordado, inclusive, pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente, que em seu artigo 22 realça: “aos pais incumbe o
dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores...”. A própria constituição
também prevê a obrigação alimentar em seu art. 229. Com atenção a esse respeito, a
própria Lei 11.804/08 prevê sobre a conversão dos alimentos à criança nascida com vida
(art. 6º, par. Ún.)

Como leciona de Yussef Said Cahali:

“Quanto aos filhos, sendo menores e submetidos ao pátrio poder, não há


um direito autônomo de alimentos, mas sim uma obrigação genérica e
mais ampla de assistência paterna, representada pelo dever de criar e
sustentar a prole; o titular do pátrio poder, ainda que não tenha o usufruto
dos bens do filho, é obrigado a sustentá-lo, mesmo sem auxílio das rendas
do menor e ainda que tais rendas suportem os encargos da alimentação: a
obrigação subsiste enquanto menores os filhos, independentemente do
estado de necessidade deles, como na hipótese, perfeitamente possível, de
disporem eles de bens (por herança ou doação), enquanto submetidos ao
pátrio poder”.(CAHALI, Yussef Said – Dos Alimentos – 3ed, São Paulo: RT,
2004 -p. 543)

Nem se diga que a condenação aqui pretendida dependeria de prova cabal da


ascendência biológica do requerido, porquanto os dispositivos da Lei nº 11.804/08 foram
editados justamente para coibir este tipo de raciocínio, primando pelo sustento daquele
que não possui condições de prover a própria subsistência. É neste sentido a ensinança de
Maria Berenice Dias:

“‘O pagamento de despesas durante a gravidez independe da prova da


existência de relação parental entre o demandado e o nascituro.’ A
expressão é do Desembargador Ruy Portanova: pediu, levou! Ou seja, caso
a gestante busque alimentos é indispensável dar crédito à assertiva de que
o demandado é o genitor do filho que carrega no ventre. Basta a juntada
de um atestado de gravidez, não se mostrando temerária a fixação de
alimentos gravídicos sem prova, até porque a lei não exige. Elege-se a
proteção da vida em detrimento do patrimônio (...) ainda que não haja
uma relação parental estabelecida, existe um dever jurídico, verdadeira
função de amparo à gestante. A lei exige indícios da paternidade e não a
prova de sua existência. Aliás, foram vetados os dispositivos da lei que
impunham a prova do vínculo biológico para a concessão dos alimentos.
Claro que se trata de prova praticamente impossível. A gravidez decorre
de uma relação sexual que, para não afrontar a ‘moral e os bons
costumes’, precisa ocorrer em local privado. Assim, os indícios do ato
sexual seriam, nada mais nada menos, do que a existência do
reconhecimento social de uma convivência afetiva do par. Ora, com a
instantaneidade com que acontece o chamado sexo casual nos dias de
hoje, difícil a prova de tal prática. Mas a tendência é exigir indícios da
paternidade, sabe-se lá quais sejam.
Como diz Raduam Miguel Filho, para a fixação dos alimentos gravídicos
provisórios, a prova da paternidade geralmente é franciscana, frágil,
delicada e muito fraca. Nestas situações é imperativo que o juiz seja
flexível a certas exigências, pois a peculiariedade da questão permite e
exige olhares diferentes, sendo deveras razoável impor ao suposto pai um
dever provisório para garantir um melhor desenvolvimento do nascituro”.
(Alimentos aos bocados, RT, São Paulo, 2013, p. 59/60).
É justo, portanto, que os alimentos sejam fixados da seguinte forma:

1) Se empregado, o requerido deve contribuir com o valor mensal de 33% (trinta e três por
cento) de seus rendimentos líquidos, incluindo-se férias, décimo-terceiro salário, horas
extras, adicionais e verbas rescisórias, excluindo-se tão somente os valores relativos FGTS,
mediante o desconto direto em folha de pagamento.

2) Na hipótese de desemprego ou emprego informal, o réu deve pagar o equivalente a um


salário mínimo, com vencimento certo para todo dia 05 de cada mês, a ser depositado
diretamente na conta bancária da autora .

III – DA CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA:

A documentação anexada e a narrativa da autora expressam, de forma verossímil


a existência da relação amorosa entre ela e o réu, do que se presume a paternidade.

O direito da gestante em receber alimentos para seus cuidados durante a gravidez


e os elementos que demonstram o relacionamento amoroso havido entre as partes
demonstram o fumus boni juris.

Já a prova da gravidez e a necessidade premente de obter auxílio para suas


despesas e cuidados, inclusive médicos, bem como considerando-se a própria natureza da
verba alimentar que não admite em seu desfavor o ônus do tempo em que tramita o feito
até exaurir a atividade cognitiva, justificam o periculum in mora.

A união de tais fatores autorizam a concessão da tutela provisória incidental de


urgência relativamente ao regime ora pleiteado.

Destarte outra não é a conclusão senão a de que restam cabalmente demonstrados


os requisitos previstos no art. 294 do Código de Processo Civilque ensejam a antecipação
dos efeitos da tutela jurisdicional relativamente aos alimentos devidos aos infantes.
Requer-se, portanto, em sede liminar, a fixação de alimentos provisórios no valor
de R$ 1.000,00 (hum mil reais) mensais, a serem depositados na conta bancária indicada
pela autora.

Caso assim não entenda Vossa Excelência, pede-se a designação de audiência de


justificação prévia, em que se possa demonstrar a relação havida entre as partes e
condenar o demandado aos alimentos provisórios.

No eito destas considerações, clarividente a necessidade da gestante em receber


alimentos gravídicos durante todo período de gestação, no importe de R$1.000,00 (mil
reais) mensais.

III. DOS PEDIDOS

Ante o exposto requer:

1. Concessão dos benefícios da justiça gratuita, por ser a autora pobre em sentido legal,
conforme os preceitos da Lei 1060/50 e declaração de pobreza em anexo;

2. Intimação do Ministério Público, por se tratar de interesse de menor, nos moldes do art.
82, I, CPC;

3. Concessão, de imediato, dos alimentos provisórios, no importe de R$1.000,00 (mil reais)


mensais a serem depositados mensalmente na conta da autora;

4. Citação do réu para contestar no prazo de 5 dias, sob pena de revelia;

5. Julgamento procedente para condenar o réu a pagar a autora o valor mensal de


RS1000,00 durante toda a gravidez. Após o nascimento com vida, que sejam convertidos
em pensão alimentícia em favor do menor;
6. Condenação do réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios no
montante de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em direito,


notadamente, documental, testemunhal e, após o nascimento com vida, a pericial.

Dar-se-á à presente causa o valor de 12.000,00 (doze mil reais).

Nestes termos,
Pede deferimento.
Fortaleza, 26/09/2018

Lucyanna Cavalcante Sampaio


OAB/CE 20.290

Você também pode gostar