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DIREITO CIVIL

Parte Geral III


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PARTE GERAL III

Quando surge a personalidade jurídica?


O bebê que está em gestação, o nascituro, já tem personalidade jurídica?
Quando se tem um natimorto, uma pessoa nasceu e não respirou, ela tem personali-
dade jurídica?
Nascituro tem a ver com o sufixo ituro, que dá a ideia de que está para nascer, que está
para acontecer. O nascituro é o embrião em gestação.
O nascituro tem ou não tem personalidade jurídica?
O assunto é controverso, uns consideram que sim, outros consideram que não e, outros
ainda, que é mais ou menos.
Em relação a esse assunto há três teorias sobre a natureza jurídica:

• Natalista.
• Concepcionista.
• Personalidade condicional.

A palavra “natalista” lembra o dia natalício, está relacionada a nascimento. No Natal cele-
bra-se o nascimento de Jesus Cristo. Segundo a teoria natalista, o início da personalidade
jurídica da pessoa é o nascimento com vida, portanto, o nascituro NÃO tem personalidade
jurídica porque o nascituro é o embrião em gestação.
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A teoria concepcionista já preconiza que o início da personalidade jurídica ocorre com
a concepção. A concepção se dá quando há a nidação: na biologia, a nidação é quando o
gameta masculino e o feminino se juntam, formando o zigoto que se gruda no endométrio.
Essa fixação do zigoto no endométrio é chamada de nidação.
Nesse momento da concepção já se teria um ente com personalidade jurídica e, portanto,
o nascituro tem personalidade jurídica.
A teoria da personalidade condicional estabelece que a personalidade jurídica se inicia
também com a concepção, mas fica sujeita a uma condição suspensiva: o nascimento com vida.
As três teorias tem adeptos, tem civilistas favoráveis tanto a natalista,a concepcionista-
como a da personalidade condicional.
Há controvérsia doutrinária acerca de qual teoria adotar.
ANOTAÇÕES

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O professor Flávio Tartuce chega a escrever textualmente que se houver alguma questão
de concurso, uma prova objetiva que afirme quanto a adoção de uma ou outra teoria, essa
questão deveria ser anulada porque o tema é controverso.
Por vezes, as bancas chamam professores acadêmicos para elaborar as provas, profes-
sores que nem sempre têm traquejo na elaboração de provas e, às vezes, acontece de um
professor só ter lido determinados doutrinadores e fazer as provas baseadas naqueles dou-
trinadores, desconhecendo a controvérsia.
Se numa prova for afirmado que o Código Civil adotou a teoria natalista, o professor, por
exemplo, responderia como verdadeiro; se afirmar que a teoria adotada é a concepcionista,
o professor também responderia como verdadeiro: se afirmar que foi adotada a teoria da per-
sonalidade condicional, ele também responderia como verdadeiro.
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Há doutrinadores que defendem as três teorias e, provavelmente, essas questões
seriam anuladas.
Isso se for perguntado de forma abstrata – já houve questão de prova perguntando:
SEGUNDO O STF, qual é a teoria adotada?
O Supremo Tribunal Federal (STF) não decidiu isso, um ministro, Ayres Brito, que foi o
relator, se valeu da teoria natalista. O STF mencionou a teoria natalista quando analisou a
ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) da Lei de Biossegurança.
Não é possível afirmar que o STF adotou a teoria natalista, mas foi citada constando,
inclusive, da Ementa do Julgado.
Por outro lado, precedentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ) mencionam a teoria
concepcionista quando analisou, por exemplo, o caso da Lei do Seguro DPVAT.
Não é possível afirmar que o STF adotou esta ou aquela teoria.
Todas as teorias chegam ao mesmo resultado prático por caminhos diferentes.
Todas as teorias estabelecem que o nascituro tem proteção dos direitos da personali-
dade, no que couber.
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O caminho argumentativo é diferente: para a teoria natalista, o argumento é que o nas-
cituro é uma futura pessoa que deve ser protegida com os direitos da personalidade, no que
couber. Foi nesse sentido que o STF considerou que as pesquisas com células-tronco envol-
vendo embrião congelado (embrião in vitro) são possíveis porque o embrião in vitro não é
nascituro e, portanto, é um objeto de direito que pode ser objeto de pesquisa científica.
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Porém, quanto ao nascituro não se pode fazer pesquisas científicas porque ele já é
uma futura pessoa que deve ser protegida. O nascituro é o embrião em gestação, essa é a
diferença.
Se uma mulher fica grávida, ela tem um embrião que está em gestação, que está a cami-
nho da vida, é uma futura pessoa, em poucos meses nascerá um ser humano que deve ser
protegido como se ser humano já fosse, no que couber.
Se em laboratório é feita uma fecundação in vitro, forma-se o embrião, que é conge-
lado em criopreservação (o prefixo crio é de congelar) em menos 70/80 graus Celsius. Esse
embrião não é nascituro, ele não é protegido pelo Código Civil: ele é, na verdade, um objeto
de direito, mas não é um objeto de direito qualquer – por questões éticas, o Direito brasileiro
exige que se dê um tratamento com uma certa dignidade a esse embrião.
A Lei de Biossegurança permite que se faça pesquisa científica com os embriões in vitro,
colocando algumas regras, por exemplo, para descarte.
A teoria natalista considera que o nascituro é protegido e o exemplo foi aqui dada pela
Lei de Biossegurança.

Casos Especiais
1. Pesquisas com embrião in vitro são admitidas porque o STF considerou o embirão in
vitro como um objeto de direito e não um sujeito de direito. O STF considerou constitucional
a Lei de Biossegurança que disciplina essa matéria.
O STF seguiu a teoria natalista, mas o STF teria chegado ao mesmo resultado se tivesse
adotado a teoria concepcionista porque a teoria concepcionista já considera que o nascituro
tem personalidade jurídica e, tendo personalidade jurídica, já deve ser protegido como pessoa.
A teoria da personalidade condicional também geraria o mesmo resultado prático com o
argumento de que, desde a concepção já existe personalidade jurídica, só dependendo de
um evento futuro incerto, que é o nascimento com vida, mas já há que se proteger essa situ-
ação eventual.
O próprio Código Civil, no art. 124, já estabelece que o direito eventual já pode ser prote-
gido, que é o direito sob condição suspensiva.
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2. Seguro DPVAT. Houve um caso no STJ para discutir para pagamento ou não de DPVAT
no caso de acidente de trânsito que ocasione o aborto. Uma mulher grávida foi atropelada e,
infelizmente, perdeu o bebê, ocorreu o aborto. O seguro DPVAT é o seguro obrigatório, que
é disciplinado por uma lei específica que estabelece, dentre outas coisas, que no caso de
morte terá que ser pago o valor do seguro, que atualmente é de R$ 13.500,00.
O DPVAT é o modelo brasileiro de seguro para quem tem veículo, o modelo norte-ameri-
cano e o modelo argentino não têm esse seguro obrigatório dessa maneira, é obrigatório um
seguro obrigatório de danos contra terceiros por conta do proprietário do veículo.
A lei estabelece o pagamento de R$ 13.500,00 no caso de morte de pessoa.
Quando acontece um aborto, que é uma morte de nascituro, isso estaria também abran-
gido pelo seguro DPVAT? A mãe poderia exigir o pagamento do seguro DPVAT no caso
de aborto?
O STJ considerou que, pela teoria concepcionista, o nascituro já é uma pessoa e, por
isso, se encaixa dentro do conceito de morte para efeito do seguro DPVAT.
Esse foi o argumento interpretativo do STJ, utilizando a teoria concepcionista, mas pode-
ria ter utilizado a teoria natalista, argumento que, por uma interpretação teleológica, pela
finalidade da lei, uma futura pessoa, um ser humano que está a caminho da vida, que é o
embrião in vitro, também deveria ter proteção.
Argumentativamente é mais fácil utilizar a teoria concepcionista.
3. Dano moral para o nascituro – alguém aborda uma mulher grávida e declara que não
quer falar com ela, mas com o “vermezinho” que está dentro da barriga dela, e dirige-se à
barriga insultando o feto. Existe alguém tão estúpido que faça isso?
Essa criança poderá entrar com uma ação pedindo dano moral contra essa pessoa ale-
gando que foi xingado quando ainda era nascituro, ferindo com isso a sua honra?
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Esse debate chegou ao STJ. Não foi esse caso concreto, este acima é apenas para ilus-
trar, mas chegou um caso ao STJ para discutir se cabe dano moral para o nascituro.
O STJ considera que sim, desde que se trate de morte do pai ou da mãe ou em caso de
lesão à saúde.
Não é qualquer caso que autoriza dano moral para o nascituro.
A tendência do STJ é admitir dano moral para o nascituro sempre que se tratar de um
dano que se estenda para depois do nascimento com vida.

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Carlos Elias.
�A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ANOTAÇÕES

ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura exclu-
siva deste material.

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