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Todo ser humano, recém-iniciado ou adulto, são ou enfermo, com funções biológicas ou
insuficientes, deve ser respeitado em sua vida e dignidade.
Ainda nessa mesma linha de raciocínio, assuntos como sexualidade, biologia do sexo,
objeção de consciência, contracepção e aborto eugênico, bancos de sêmen e óvulos,
homossexualidade, transplante de órgãos, eutanásia, distanásia e ortotanásia, maternidade
de substituição, obesidade, dentre outros, são temas que, apesar de não regulamentados
legalmente, com o desenvolvimento biotecnológico e biomédico, visando melhorar a
qualidade de vida dos indivíduos, vêm sendo aplicados no ser humano.
O Biodireito, apesar de sua relevância no que tange à proteção do ser humano frente à
biotecnologia, não é consagrado como ciência jurídica. Podemos analisá-lo sobre o prisma
dos direitos de 4ª geração, que se referem ao progresso técnico-científico do homem sobre
o próprio homem.
Tem-se, então, a Bioética como a disciplina que examina e discute os aspectos éticos
relacionados com o desenvolvimento e as aplicações da biologia e da medicina, indicando
os caminhos e o modo de se respeitar o valor da pessoa humana, como unidade e como
um todo. O biodireito como um processo de concretização normativa dos valores e
princípios fixados pela ética, tomando como paradigma o valor da pessoa humana. É um
novo ramo do direito da vida humana, necessário porque a legislação do passado é
insuficiente.
Conclui Emerson Ike Coan que, frente a esses avanços “se deve considerar o homem não
um simples produto da natureza, ou seja, só um ser biológico, mas um ser social capaz de
atuar conscientemente sobre aquela, modificando-a, pela sua liberdade racional e
responsável, o que implica sempre limites éticos. Isto embasa o princípio da dignidade
humana.”
O Direito e a Bioética devem estar lado a lado, cada um cumprindo o seu papel, a Bioética
no campo da obrigação moral e o direito elaborando leis legítimas que regulam as atitudes
humanas visando à proteção da vida. Assim, o Biodireito torna-se um dos pilares da
Bioética.
A vida e a dignidade são os bens mais valiosos do ser humano. Admitir que esses bens são
menosprezados frente aos experimentos científicos, possivelmente acarretaria riscos de
aberrações genéticas, seleção racial, dentre outras consequências prejudiciais à
humanidade.
Princípios da Bioética
Início da vida
Apesar de difícil e controversa a questão, pode-se dizer que existem cinco maiores
correntes que tentam responder em que momento exato se inicia a vida humana.
A primeira linha de pensamento defende que a vida começa a partir da fecundação, ou seja,
no momento em que o óvulo é fertilizado pelo espermatozóide. “A ciência demonstra
insofismavelmente – com os recursos mais modernos – que o ser humano,
recém-fecundado, tem já o seu próprio patrimônio genético e o seu próprio sistema
imunológico diferente da mãe. É o mesmo ser humano – e não outro – que depois se
converterá em bebê, criança, jovem, adulto e ancião. O processo vai-se desenvolvendo
suavemente, sem saltos, sem nenhuma mudança qualitativa. Não é cientificamente
admissível que o produto da fecundação seja nos primeiros momentos somente uma
matéria germinante. Aceitar, portanto, que depois da fecundação existe um novo ser
humano, independente, não é uma hipótese metafísica, mas uma evidência experimental.
Nunca se poderá falar de embrião como de uma pessoa em potencial que está em processo
de personalização e que nas primeiras semanas pode ser abortada. Por quê? Poderíamos
perguntar-nos: em que momento, em que dia, em que semana começa a ter a qualidade de
um ser humano? Hoje não é, amanhã já é. Isto, obviamente, é cientificamente absurdo”.
Há também quem afirme, numa segunda corrente, que a vida se inicia com a ocorrência da
nidação, ou seja, quando o óvulo fecundado se fixa à parede do útero, já preparado para
alimentá-lo. É a partir desse momento que o embrião passa a ter reais chances de se
desenvolver. Essa etapa ocorre por volta da segunda semana após a fecundação.
A terceira corrente afirma que a vida humana tem início na terceira semana de gestação,
quando o embrião não pode mais se dividir. É quando a individualidade do novo ser se torna
definitiva.
A quarta teoria é de que a vida começa a partir da 24ª semana de gestação, quando os
pulmões estão formados e o feto tem condições de sobreviver fora da barriga da mãe, já
possuindo autonomia. É uma das teorias mais polêmicas, pois, como sua conseqüência,
poderíamos concluir que seria permitida a realização de um aborto, mesmo numa fase
adiantada da gravidez.
Já a quinta teoria defende que a vida humana só começa com o início da formação das
primeiras terminações nervosas, a partir da segunda semana de gestação.[3] Trata-se de
uma teoria bastante lógica, já que se a morte é definida pelo fim da atividade cerebral, a
vida seria definida pelo início dessa atividade. De acordo com essa teoria, a definição sobre
a vida seria buscada pelo seu reverso – a morte.
Sob esse conceito de morte encefálica, a morte pode ser decretada quando o coração ainda
bate e, assim, é possível retirar os órgãos da pessoa para fins de realização de transplante.
Diante disso, se a vida acaba quando o cérebro para, é lícito supor que ela só começa
quando se inicia a formação do cérebro. É o pensamento de um grupo expressivo de
cientistas, principalmente especialistas em neurociência, para os quais a vida começa junto
com a formação das primeiras terminações nervosas.
Pode-se alegar que, num óvulo recém-fecundado, o cérebro ainda não começou a se
formar, e que, no caso da morte encefálica, o cérebro não funciona mais. Ou seja: num caso
a vida está por vir, no outro a vida se foi. Num caso ela é futuro, no outro ela é passado.
Ainda assim, em ambos os casos, a vida efetivamente não existiria. O filósofo francês René
Descartes, no século XVII, já proclamava: "Penso, logo existo" – a vida, pensada assim,
passa a ter uma íntima conexão com o raciocínio, com a consciência. Entretanto, há uma
forte resistência em aceitar essa quinta teoria. Para muitos, o que ela afirma é que só nos
tornamos seres humanos devido a um emaranhado de neurônios que conectados por
impulsos elétricos, respondem por nossas festas e lutos, alegrias e tristezas.[4]
Percebe-se que muitas são as teorias sobre o início da vida humana, cada uma delas
baseada num parâmetro diferente. Porém, preferimos adotar o mais lógico e coerente dos
parâmetros, que é aquele que adota como referência o momento em que a vida humana se
finda. Como se considera que a vida humana termina com o fim das atividades cerebrais,
deve-se considerar que ela se inicia a partir do instante em que começam a ser formadas as
primeiras terminações nervosas do embrião, o que ocorre por volta da segunda semana de
gestação, próximo ao momento em há a nidação. Se adotarmos qualquer outra teoria,
estaremos nos contradizendo.
Não seria justo querer equiparar um embrião com mais ou menos oito células com um ser
humano já nascido e desenvolvido. Um embrião fora do útero materno não possui chances
de se desenvolver plenamente, somente depois de localizado no ventre materno e começar
a formar suas primeiras terminações nervosas é que ele passa a poder ser equiparado a um
ser humano moral.
Sabemos que nunca iremos chegar a uma definição exata do momento em que se inicia a
vida humana, sempre haverá aqueles que irão divergir, qualquer que seja o critério adotado.
É importante, no entanto, que adotemos algum conceito para o início da vida, pois, caso
contrário, não teremos nunca a certeza jurídica necessária para se decidir sobre certas
questões do Biodireito e da Bioética.
Se o ser humano é a fonte de todos os valores que a humanidade perpetua, então não há
nada mais importante e valioso para se proteger do que a dignidade do indivíduo. É a partir
desse pensamento que o princípio da dignidade humana atua no ordenamento jurídico
brasileiro.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
Portanto, para que esses direitos fundamentais (como direito à vida, de ir e vir, da liberdade,
de ter propriedade, de livre pensamento e expressão…) sejam cumpridos e preservados, é
preciso primeiro enxergar o ser humano enquanto mestre da sua própria vida,
autodeterminado e portador de honra e dignidade.
O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos traz que a igualdade entre
as pessoas humanas é primeiro em relação à sua dignidade:
“Art. 1º Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.”
Isso significa que a autodeterminação do ser humano e o seu direito de ser resguardado é
predominante sobre todos os outros direitos, sendo eles fundamentais ou não.
Uma das principais discussões práticas sobre o princípio da dignidade humana no mundo
hoje é sobre o direito de uma pessoa realizar, através do Estado, a eutanásia, ou seja, a
morte indolor de alguém através do pedido dessa mesma pessoa.
A eutanásia é fruto de uma grande discussão por colocar dois direitos fundamentais em
conflito: o princípio da dignidade humana e o direito à vida.
Por um lado, o direito à vida é inalienável e deve ser preservado a todo o custo; por outro, a
autodeterminação do indivíduo e seu direito de viver com dignidade é o fundamento para o
direito a vida, estando acima deste.
Entende-se, ao aplicar esse tipo de medida, que o sujeito deve ter a possibilidade de
escolher se continua vivendo ou não, uma vez que a sua dignidade é maior do que a
proteção que o Estado dá para a sua própria vida.
Direitos Fundamentais
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.