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Pessoa Natural

Bacharelado em Direito
2º Semestre
Vinícius Eduardo de Jesus Pereira
Sujeito de Direito (art. 1º)

Personalidade Jurídica (arts. 2º e 6º)

Capacidade Jurídica (arts. 2º, 3º, 4º e 5º)


A todo direito deve corresponder um sujeito, uma pessoa, que detém a sua
titularidade.

Art. 1º, do CC/2002. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

Existem deveres que não são


Igualdade entre homens e obrigacionais, no sentido patrimonial,
mulheres (art. 5.º, I da caso dos deveres do casamento
CF/88)

Art. 2º do CC/1916. Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil.


Art. 1º do CC/1916. Este Código regula os direitos e obrigações de ordem
privada concernentes às pessoas, aos bens e ás suas relações.

O Código Civil de 2002, também ao contrário da codificação substantiva anterior,


não traz mais uma disposição preliminar, cujo conteúdo era o principal objetivo da
Lei Geral Civil,
Personalidade Jurídica
Conceito de Pessoa Natural

A nomenclatura “pessoa natural” revela-se amais adequada, como reconhece a


doutrina em geral, por designar o ser humano tal como ele é, com todos os predicados
que integram a sua individualidade.

Pessoa natural é o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações.

Observe-se que o conceito de pessoa natural exclui os animais, os seres inanimados e as entidades
místicas e metafísicas, todos tidos, eventualmente, como objetos do direito. Todavia, há uma
tendência em se enquadrar os animais não mais como coisas ou bens.
Conceito de Personalidade Jurídica

Quanto à personalidade, esta pode ser conceituada como a soma de caracteres corpóreos e incorpóreos
da pessoa natural ou jurídica, ou seja, a soma de aptidões da pessoa. Assim, a personalidade pode ser
entendida como aquilo que a pessoa é, tanto no plano corpóreo quanto no social (TARTUCE, 2023, p.
112).

Nome comercial objetivo, título e insígnia do estabelecimento, patentes de invenção, de modelos de utilidade,
registro de desenhos industriais; marcas de produto ou serviço, obras literárias, artísticas, científicas, estratégia,
logística, nome empresarial, titulo do estabelecimento e o ponto comercial.

Quando nasce a personalidade jurídica?


Art. 2º do CC/2002. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

Art. 53 da LRP. No caso de ter a criança nascido morta ou no de ter morrido na ocasião do parto, será, não obstante,
feito o assento com os elementos que couberem e com remissão ao do óbito. [...]

§ 2º. No caso de a criança morrer na ocasião do parto, tendo, entretanto, respirado, serão feitos os dois assentos, o de
nascimento e o de óbito, com os elementos cabíveis e com remissões recíprocas. 

Nascituro Nativivo Natimorto


Teoria Natalista

Teorias da
Personalidade Teoria da Personalidade Condicional
Jurídica

Teoria Concepcionista
Teoria Natalista

A teoria natalista prevalecia entre os autores modernos ou clássicos do Direito Civil Brasileiro, para quem
o nascituro não poderia ser considerado pessoa, pois o Código Civil exigia e exige, para a personalidade
civil, o nascimento com vida. Assim sendo, o nascituro não teria direitos, mas mera expectativa de
direitos.

Partem esses autores de uma interpretação literal e simplificada da lei, que dispõe que a personalidade
jurídica começa com o nascimento com vida, o que traz a conclusão de que o nascituro não é pessoa, e
ponto final.
Teoria Natalista

O grande problema da teoria natalista é que ela não consegue responder à seguinte constatação e
pergunta: se o nascituro não tem personalidade, não é pessoa; desse modo, o nascituro seria uma coisa?
A resposta acaba sendo positiva a partir da primeira constatação de que haveria apenas expectativa de
direitos.

A teoria nega ao nascituro mesmo os seus direitos fundamentais, relacionados com a sua
personalidade, caso do direito à vida, à investigação de paternidade, aos alimentos, ao nome e
até à imagem, que esbarra em dispositivos do Código Civil que consagram direitos àquele
que foi concebido e não nasceu.

Ex.: Alimentos Gravídicos.


Teoria da Personalidade Condicional

A teoria da personalidade condicional é aquela pela qual


a personalidade civil começa com o nascimento com
vida, mas os direitos do nascituro estão sujeitos a uma
condição suspensiva, ou seja, são direitos eventuais.
O grande problema dessa corrente

Como se sabe, a condição suspensiva é o elemento doutrinária é que ela é apegada a questões
acidental do negócio ou ato jurídico que subordina a sua patrimoniais, não respondendo ao apelo de
eficácia a evento futuro e incerto. No caso, a condição é direitos pessoais ou da personalidade a
justamente o nascimento daquele que foi concebido.
favor do nascituro.
Como fundamento da tese e da existência de direitos sob
condição suspensiva, pode ser citado o art. 130 do atual
Código Civil.
Teoria Concepcionista

A teoria concepcionista é aquela que sustenta que o nascituro é pessoa humana, tendo direitos
resguardados pela lei.

Personalidade jurídica formal: é aquela relacionada com os


direitos da personalidade, o que o nascituro já tem desde a
concepção;

Personalidade Jurídica

Maria Helena Diniz apud


Tartuce (2023, p. 114) Personalidade jurídica material: mantém relação com os
direitos patrimoniais, e o nascituro só a adquire com o
nascimento com vida.
Art. 542 do CC
Teoria Concepcionista

Em reforço, com a entrada em vigor da Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005) ganha força a teoria
concepcionista diante da proibição da engenharia genética em embrião humano.

Art. 5º. É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:

I – sejam embriões inviáveis; ou

II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta
Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1º. Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2º. Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão
submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.
Teoria Concepcionista

Art. 6º. Fica proibido: [...]

III – engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano;

IV – clonagem humana; [...]

Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5º desta Lei:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Art. 25. Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião humano:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.


Teoria Concepcionista

PL 699/2011

Diferença do nascituro (com vida intra uterina) do embrião (com vida ultra uterina)
Teoria Concepcionista

Fonte: https://origen.com.br/como-ocorre-o-desenvolvimento-embrionario/ Fonte: https://www.saudeemedicamentos.pt/gravidezevolucao.html


Teoria Concepcionista

“Direito civil. Danos morais. Morte. Atropelamento. Composição férrea. Ação ajuizada 23 anos após o
evento. Prescrição inexistente. Influência na quantificação do quantum. Precedentes da Turma. Nascituro.
Direito aos danos morais. Doutrina. Atenuação. Fixação nesta instância. Possibilidade. Recurso
parcialmente provido. I – Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não
desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser
considerado na fixação do quantum. II – O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do
pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum. III –
Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar
solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional” (STJ, REsp
399.028/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 26.02.2002, DJ 15.04.2002, p. 232).
Teoria Concepcionista

Informativo n. 547/2014 do STJ

DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO REFERENTE AO SEGURO DPVAT EM DECORRÊNCIA DE MORTE DE


NASCITURO. A beneficiária legal de seguro DPVAT que teve a sua gestação interrompida em razão de acidente de
trânsito tem direito ao recebimento da indenização prevista no art. 3º, I, da Lei 6.194/1974, devida no caso de
morte. [...] Assim, o ordenamento jurídico como um todo (e não apenas o CC) alinhou-se mais à teoria
concepcionista - para a qual a personalidade jurídica se inicia com a concepção, muito embora alguns direitos só
possam ser plenamente exercitáveis com o nascimento, haja vista que o nascituro é pessoa e, portanto, sujeito de
direitos - para a construção da situação jurídica do nascituro, conclusão enfaticamente sufragada pela majoritária
doutrina contemporânea. Além disso, apesar de existir concepção mais restritiva sobre os direitos do nascituro,
amparada pelas teorias natalista e da personalidade condicional, atualmente há de se reconhecer a titularidade de
direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais importante, uma vez que, garantir ao
nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for
garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os demais. Portanto, o
aborto causado pelo acidente de trânsito subsumese ao comando normativo do art. 3º da Lei 6.194/1974, haja vista
que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina. REsp
1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014.
Teoria Concepcionista

De acordo com Tartuce (2023, p. 117):

A teoria concepcionista ganhou reforço com a entrada em vigor no Brasil da Lei 11.804, de 5 de novembro de
2008, conhecida como Lei dos Alimentos Gravídicos, disciplinando o direito de alimentos da mulher
gestante (art. 1.º). Os citados alimentos gravídicos, nos termos da lei, devem compreender os valores
suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da
concepção ao parto, inclusive as referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas
indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere como pertinentes (art. 2.º).
Quando se encerraria a personalidade jurídica?

Quanto ao fim da personalidade, sabe-se que este ocorre com a morte, que será estudada oportunamente,
com a devida ressalva quanto aos direitos da personalidade do morto.

Art. 6º do CC/2002. A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
Capacidade Civil
Pode ser conceituada em sentido amplo, como a aptidão da pessoa para exercer direitos e assumir
deveres na órbita civil (art. 1.º do CC).

A capacidade, que é elemento da personalidade, é a medida jurídica da personalidade.

A capacidade civil pode ser assim classificada:

a) Capacidade de direito ou de gozo: é aquela comum a toda pessoa humana, inerente à personalidade, e que só se
perde com a morte prevista no texto legal, no sentido de que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil
(art. 1.º do CC).

b) Capacidade de fato ou de exercício: é aquela relacionada com o exercício próprio dos atos da vida civil.
Quem tem as duas espécies de capacidade tem a capacidade civil plena. Quem só tem a capacidade de
direito tem capacidade limitada, devendo ser visualizada a fórmula abaixo:

Capacidade de Direito + Capacidade de Fato = Capacidade Civil Plena

Legitimação Capacidade Civil Legitimidade

É uma condição especial para celebrar um Esta interessa ao Direito Processual Civil, sendo uma
determinado ato ou negócio jurídico (Ex.: arts. 496 e das condições da ação.
1.647 do CC/2002).
Não havendo legitimidade para ser autor ou réu de
Não havendo respeito a legitimação, causa-se uma demanda – legitimidade ativa e passiva,
anulabilidade no prazo decadencial de 2 (dois) anos, respectivamente –, deverá a ação ser julgada extinta
contados do fim da sociedade conjugal (art. 1.649 do sem a resolução do mérito, nos termos do art. 485,
CC). inc. VI, do CPC/2015
Absolutamente Incapazes (art. 3º do CC/2002)

Incapacidades

Relativamente Incapazes ( art. 4º do CC/2002)


CC/1916

Art. 5. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I. Os menores de dezesseis anos.

II. Os loucos de todo o gênero.

III. Os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade.

IV. Os ausentes, declarados tais por ato do juiz.

Art. 6. São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, n. 1), ou à maneira de os exercer:

I. Os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos (arts. 154 a 156).

II. As mulheres casadas, enquanto subsistir a sociedade conjugal. (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 1962)

III. Os pródigos.

IV. Os silvícolas.

Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar, estabelecido em leis e regulamentos especiais, o qual cessará á
medida que se forem adaptando á civilização do paiz.
Absolutamente Incapazes (art. 3º do CC/2002)

O rol taxativo dos absolutamente incapazes, constante no art. 3.º do CC/2002, sempre envolveu situações em que há
proibição total para o exercício de direitos por parte da pessoa natural, o que pode acarretar, ocorrendo violação à
regra, a nulidade absoluta do negócio jurídico eventualmente celebrado, conforme o art. 166, inc. I, do mesmo
diploma.

Os absolutamente incapazes possuem direitos, porém não podem exercê-los pessoalmente, devendo ser
representados. Em outras palavras, têm capacidade de direito, mas não capacidade de fato ou de exercício.

O Código Civil de 2002 previa expressamente, como absolutamente incapazes, três


personagens jurídicos no seu art. 3.º.
Absolutamente Incapazes (art. 3º do CC/2002)

O CC foi substancialmente alterado pela Lei 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que revogou os três
incisos do art. 3.º do Código Civil. Também foi alterado o caput do comando, passando a estabelecer que “são
absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 anos”. Houve uma verdadeira
revolução na teoria das incapacidades, praticada pelo citado Estatuto.

a) O inciso I mencionava os menores de dezesseis anos, tidos como menores impúberes.


b) O inciso II do art. 3.º expressava os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tivessem o necessário
discernimento para a prática desses atos.
c) o inciso III havia a previsão dos que, mesmo por causa transitória, não pudessem exprimir sua vontade.

arts. 6.º e 84 da Lei 13.146/2015


Relativamente Incapazes ( art. 4º do CC/2002)

Diz respeito àqueles que podem praticar os atos da vida civil, desde que haja assistência. O efeito da violação desta
norma é gerar a anulabilidade ou nulidade relativa do negócio jurídico celebrado, isso dependente de eventual
iniciativa do lesado (art. 171, inc. I, do CC).

Havendo incapacidade relativa, o negócio somente será anulado se proposta ação pelo interessado no prazo de 4
(quatro) anos, contados de quando cessar a incapacidade (art. 178 do CC).
Relativamente Incapazes ( art. 4º do CC/2002)
Relativamente Incapazes ( art. 4º do CC/2002)

Há atos que os menores relativamente incapazes podem praticar, mesmo sem a assistência,
como se casar, necessitando apenas de autorização dos pais ou representantes; elaborar
testamento; servir como testemunha de atos e negócios jurídicos; requerer registro de seu
nascimento; ser empresário, com autorização; ser eleitor; ser mandatário ad negotia (mandato
extrajudicial).
REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte Geral-Volume 1. Saraiva


Educação SA, 2022.
 
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: introdução ao direito civil:
teoria geral de direito civil. 34. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
 
TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. 19. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2023.
 
TEPEDINO, Gustavo. OLIVA, Milena Donato. Fundamentos do direito civil: teoria geral
do direito civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.

SOARES, Ricardo Maurício Freire. Hermenêutica e interpretação jurídica. Saraiva


Educação SA, 2023

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