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PRINCÍPIOS
DAS PESSOAS
PERSONALIDADE JURÍDICA
CONCEITO
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INÍCIO DA PERSONALIDADE
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FIM DA PERSONALIDADE
A existência da pessoa natural termina com a morte (art. 6º, primeira parte, do CC).
A morte pode ser: real, presumida ou ficta.
a) morte real: é a que pressupõe a existência do cadáver. É atestada pelo médico. Se não
houver médico, será atestada por duas pessoas que tiverem presenciado ou verificado o fato (art.
77 da Lei 6.015/1973). Com base no atestado de óbito, o Cartório de Registro Civil lavra o registro
de óbito, e, em seguida, expede a respectiva certidão de óbito. Modernamente, prevalece o
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entendimento de que a verdadeira morte é a cerebral do tipo encefálica, revelada pela ausência de
impulsos cerebrais (linha reta no eletroencefalograma, art. 3.º, § 1.º, da Lei 9.434/1997 e Resolução
CFM n. 1.480/97), pois a morte clínica, isto é, a cessação das funções circulatórias e respiratórias,
por si só, é insuficiente.
b) morte presumida: por sua vez, ocorre quando, a despeito de o cadáver não ser
encontrado, há um juízo de probabilidade acerca de sua ocorrência, apurada por meio do silogismo
lógico. Pode verificar-se em duas hipóteses:
1. se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida (art. 7.º, I, do
CC). O art. 88 da Lei 6.015/1973 contém preceito similar, pois também presume a morte
de uma pessoa desaparecida em catástrofe, quando estiver provada a sua presença no
local do desastre e não for possível encontrar o cadáver para exame. No Código Civil de
2002, não se exige o desaparecimento em catástrofe, isto é, em um grande
acontecimento, bastando dois requisitos: o perigo de vida e a probabilidade da morte.
2. se alguém desaparecido em campanha ou feito prisioneiro não for encontrado até dois
anos após o término da guerra (art. 7º, II, do CC). Enquanto na hipótese anterior a
probabilidade da morte é extrema, na hipótese em apreço a morte também é provável,
mas não de forma extrema, razão pela qual é necessário o decurso de dois anos após o
término da guerra. Anote-se que, antes desse prazo, a morte não pode ser declarada, ao
passo que na hipótese anterior esse prazo não é exigido.
COMORIÊNCIA
Comoriência é a morte de duas ou mais pessoas, na mesma ocasião, sendo elas herdeiras
entre si.
Em não se apurando a ordem cronológica dos óbitos, o art. 8.º do CC presume a comoriência,
independentemente de sexo, idade ou estado civil, considerando-os simultaneamente mortos.
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Ao lado da pessoa natural e da pessoa jurídica há um ente intermediário que pode figurar em
algumas relações jurídicas. É a chamada quase pessoa jurídica ou ente despersonalizado.
Com efeito, trata-se de determinados patrimônios especiais ou órgãos públicos que,
conquanto destituídos de personalidade jurídica, titularizam alguns direitos e obrigações. Não
podem ser reduzidos à coisa nem alçados ao status de pessoas.
Esses entes despersonalizados são de duas ordens:
a) Patrimônios especiais:
Assemelham-se às pessoas jurídicas de direito privado, mas não se revestem dessa natureza
jurídica, pois não constam no rol do art. 44 do CC. É o caso do espólio, massa falida, herança
jacente, condomínio edilício e pessoa jurídica sem registro. Esses entes têm legitimação ad
processum, pois podem ser autor e réu nas ações patrimoniais (art. 75, incisos V, VI, VII, IX E XI, do
CPC/2015), mas não desfrutam de capacidade aquisitiva. Com efeito, não podem adquirir bens,
figurando, por exemplo, como beneficiários de um contrato de doação ou então em testamento,
porquanto não gozam de personalidade jurídica, inviabilizando-se, destarte, o registro do imóvel
alienado. Abre-se uma exceção ao condomínio edilício, pois o § 3.º do art. 63 da Lei 4.591/1964
permite-lhe a adjudicação da unidade do adquirente remisso. O aludido dispositivo legal só permite
essa adjudicação na fase de construção, atribuindo direito de preferência ao condomínio nas vinte
e quatro horas seguintes à realização da segunda praça. No Estado de São Paulo, contudo, o
magistrado Venício Antônio de Paula Salles, titular da 1.ª Vara de Registros Públicos da Capital,
conferiu ao condomínio o poder de adjudicação ou arrematação de bem imóvel em execução
movida em face de condômino por não pagamento da taxa condominial, mesmo após o término da
construção. Acrescente-se ainda que o espólio pode alienar bens com autorização judicial, por força
do art. 619, I, do CPC/2015. Igualmente, a massa falida. Não podem, porém, figurar como
adquirentes de bens, pois, como frisado, não desfrutam de personalidade jurídica. Ainda no tocante
ao condomínio edilício, desde que ele adote o regime de multipropriedade, na hipótese de
inadimplemento, por parte do multiproprietário, da obrigação de custeio das despesas ordinárias
ou extraordinárias, é cabível, na forma da lei processual civil, a adjudicação ao condomínio edilício
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b) Órgãos públicos:
São os componentes de uma pessoa política, isto é, da União, Estados-membros, Municípios e
Distrito Federal. Exemplos: Câmara dos Vereadores, Assembleia Legislativa, Congresso Nacional,
Câmara dos Deputados, Senado Federal, Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça, Ministério Público,
Secretarias de Governo etc. Esses entes podem, porém, impetrar mandado de segurança para a
defesa de suas atribuições institucionais, por força do art. 5.º, LXIX, da CF. A Mesa do Senado e a
Mesa da Câmara dos Deputados ainda podem mover a ação direta de inconstitucionalidade,
conforme preceitua o art. 103, II e III, da CF. O Ministério Público, como é sabido, pode propor as
ações penais públicas e ações civis para defesa de interesses individuais indisponíveis, difusos ou
coletivos. Afora essas exceções, nenhuma outra ação pode ser ajuizada por esses entes. Jamais
poderão figurar no polo passivo de uma relação processual, sob pena de carência de ação, salvo
quando se tratar de mandado de segurança ou habeas data. Não se pode, por exemplo, mover
ação trabalhista contra a Câmara dos Vereadores nem ação de indenização contra o Tribunal de
Justiça ou o Ministério Público. Também não se pode vender ou doar bens a esses órgãos, pois, não
sendo eles pessoas, inviabiliza-se o registro do bem. A propósito, dispõe a súmula 525 do STJ: “A
Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária, podendo
demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais”.
NASCITURO
A lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (art. 2º do CC). O nascituro é
pessoa condicional, pois a aquisição da personalidade depende do nascimento com vida. A rigor, o
nascituro, à exceção do direito de nascer, não tem direito adquirido, mas apenas expectativas de
direitos (direito in fieri).
Todavia, o nascituro pode figurar em algumas relações jurídicas autorizadas pela lei, a saber:
a) a doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal (art. 542 do
CC);
b) o testamento pode ser feito em favor de nascituro (art. 1.798 do CC);
c) o nascituro pode ser reconhecido pelos pais (parágrafo único do art. 1.609 do CC).
Esses três atos mencionados acima só produzirão efeitos se sobrevier o nascimento com vida.
Tratando-se de natimorto, opera-se a caducidade desses atos, porquanto elaborados sob condição
suspensiva.
CAPACIDADE
CONCEITO E ESPÉCIES
1ª) Capacidade de direito ou de gozo: é a aptidão para ser titular de direitos e deveres na
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ordem civil. Trata-se, na verdade, da própria personalidade. Toda pessoa é capaz de direito. Assim,
em relação às pessoas, inexiste a incapacidade civil de direito. Pode, porém, ocorrer certas
restrições de direitos, sobretudo, com relação aos estrangeiros domiciliados fora do Brasil, mas, de
um modo geral, eles podem adquirir a maioria dos direitos e deveres, desfrutando, portanto, dessa
capacidade.
2ª) A capacidade de fato ou de exercício: como ensina Clóvis Beviláqua, é a aptidão para
exercer por si os atos da vida civil. É, pois, a aptidão para praticar pessoalmente os atos da vida civil,
independentemente de assistência ou representação. A capacidade de fato é presumida; não
necessita ser demonstrada. Todavia, algumas pessoas são consideradas absolutamente incapazes e
outras relativamente incapazes, como logo veremos.
As pessoas absolutamente incapazes não podem praticar pessoalmente os atos da vida civil,
sob pena de nulidade absoluta (art. 166, I, do CC). Devem ser representadas nos atos ou negócios
jurídicos pelos respectivos representantes legais (pais, tutor e curador). O representante realiza o
ato ou negócio jurídico sem que haja qualquer participação do incapaz.
Dispõe o art. 3º do CC:
“ São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de
16 (dezesseis) anos”. Esta redação do art. 3º foi conferida pela lei 13.146/2.015, que instituiu o
Estatuto da Pessoa com Deficiência e revogou expressamente os incisos I, II e III do referido art. 3º
do Código Civil.
Assim, as pessoas que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos, bem como as que, mesmo por causa transitória, não
puderem exprimir sua vontade, não são mais absolutamente incapazes, mas sim relativamente
incapazes, conforme nova redação do art. 4º do Código Civil.
As pessoas relativamente incapazes podem praticar pessoalmente os atos da vida civil, desde
que assistidas pelos representantes legais (pais, tutor ou curador). O ato praticado sem essa
assistência não é nulo, mas apenas anulável (art. 171, I). Ressalte-se, porém, a existência de alguns
atos praticáveis validamente sem a assistência.
Com efeito, a partir dos dezesseis anos já é possível, sem assistência, fazer testamento,
aceitar mandato, votar e casar. Saliente-se que, para o casamento, não é necessário a assistência,
mas sim a autorização do representante legal.
Por outro lado, cumpre consignar que não corre prescrição contra os absolutamente
incapazes, conforme preceitua o art. 198, I do CC, sendo certo que ainda podem recobrar dívida de
jogo, cujo pagamento tenha sido por eles efetuado (art. 814). Essas duas vantagens, porém, não
são aplicáveis aos relativamente incapazes, que não poderão recobrar as dívidas de jogo,
submetendo-se, ainda, à prescrição.
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Na representação, o incapaz não esboça a sua vontade em relação à decisão pela prática ou
não do ato ou negócio jurídico, pois esta é tomada pelo representante legal, ao passo que na
assistência o próprio incapaz decide se pratica ou não o ato ou negócio jurídico, esboçando,
portanto, a sua vontade, limitando-se o representante legal a apenas presenciá-lo durante a
celebração do ato.
Em suma, na representação, o ato é praticado pelo representante em nome do incapaz. Este
último sequer participa do ato. Na assistência, o ato é praticado pelo próprio incapaz, mas na
presença do representante legal.
Saliente-se, ainda, que todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante
instrumento particular, conforme preceitua o art. 654 do CC. A contrario senso, os incapazes devem
outorgar a procuração por instrumento público. Interpretando esse dispositivo legal, que
corresponde ao art. 1.289 do Código de 1916, pacificou-se a jurisprudência de que a procuração do
absolutamente incapaz pode ser por instrumento particular, porquanto outorgada por pessoa
capaz, qual seja, o seu representante legal.
Em contrapartida, tratando-se de relativamente incapaz, a procuração deve ser por
instrumento público, pois é outorgada pelo próprio incapaz sob a assistência de seu representante.
Recentemente, a jurisprudência vem amenizando esse entendimento, salientando que a
procuração “ad judicia” do relativamente incapaz também pode ser outorgada por instrumento
particular, com base no art. 105 do CPC/2015, exigindo-se o instrumento público apenas para a
procuração “ad negocia”.
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negócios jurídicos.
A falta de legitimação é imposta por lei, em alguns casos, atendendo-se à posição especial em
relação a certos bens, certas pessoas ou certos interesses; a incapacidade, ao revés, é fixada pela
lei, tendo em vista as deficiências da consciência ou vontade.
A autorização é a permissão dada por um terceiro para que o ato ou negócio jurídico possa
ser realizado. Tal ocorre, por exemplo, quando o cônjuge deseja alienar bem imóvel. Ainda que este
seja de sua exclusiva propriedade, exige-se a autorização do outro consorte, exceto no regime de
separação absoluta (art. 1.647, I, do CC). Igualmente, na venda de ascendente para descendente é
necessária a autorização dos outros descendentes (art. 496). Acrescente-se ainda que o menor, a
partir dos 16 anos, pode se casar, mediante autorização do representante legal.
Cumpre observar que a autorização é exigida antes da prática do ato, podendo a sua falta ser
suprida por decisão judicial. A assistência, ao revés, é dada durante o ato, e, se for negada, não
poderá ser suprida judicialmente.
Finalmente, a autorização é exigida até para as pessoas capazes, ao passo que a assistência é
inerente aos relativamente incapazes.
ABSOLUTAMENTE INCAPAZES
De acordo com o art. 3º do Código Civil, cuja redação lhe fora conferida pela lei 13.146/2.015,
os únicos absolutamente incapazes são os menores de 16 (dezesseis) anos. Aquele que apresenta
alguma deficiência mental, permanente ou transitória, será capaz ou relativamente incapaz,
conforme possa ou não exprimir a sua vontade.
A capacidade é uma presunção legal, e, por isso, não há necessidade de ser demonstrada. Em
regra, as pessoas são capazes, de modo que as exceções só são admitidas quando expressas em lei.
O velho, o falido, o mudo, o surdo-mudo, o cego e o deficiente físico são plenamente capazes.
Com efeito, a velhice não reduz a capacidade civil, a não ser que haja a perda ou redução do
discernimento em razão de algum distúrbio psíquico, quando, então, a causa da incapacidade terá
sido a alienação mental e não propriamente a idade avançada. Saliente-se, contudo, que os maiores
de 70 anos só poderão contrair matrimônio no regime da separação de bens.
Em relação ao falido, verifica-se a proibição ao exercício do comércio, porque com a
decretação da falência ele perde a administração de seus bens. Anote-se, contudo, que o falido
preserva a capacidade civil, perdendo apenas a sua capacidade comercial.
Quanto ao mudo e surdo-mudo, como veremos, desde que exprimam a vontade de um modo
satisfatório são tidos como plenamente capazes. Todavia, não podem fazer outro tipo de
testamento, a não ser o testamento cerrado (art. 1.873).
O cego, por sua vez, também é plenamente capaz. Entretanto, só poderá realizar o
testamento público (art. 1.867).
Acrescente-se, ainda, que os cegos e surdos não podiam ser admitidos como testemunhas,
quando a ciência do fato que se quer provar depender dos sentidos que lhes faltam (art. 228, III, do CC).
Este dispositivo legal, entretanto, foi expressamente revogado pela lei 13.146/2.015, de modo que a
pessoa com deficiência passou a poder testemunhar em igualdade de condições com as demais
pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva. Mas com o advento do
Código de Processo Civil restabeleceu-se a proibição, conforme art. 447, §1º, IV, ou seja, que dispõe que
são incapazes de depor como testemunhas o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos
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sentidos que lhes faltam. Esta lei posterior revogou nesse aspecto o que dispunha a lei 13.146/2015.
Finalmente, os deficientes físicos, bem como os deficientes mentais que exprimem a vontade,
também são plenamente capazes, mas eles podem requerer em juízo uma medida chamada
tomada de decisão apoiada, prevista no art. 1783-A do CC, segundo a qual duas pessoas são
nomeadas para prestar-lhes assistência nos atos da vida civil.
O menor, entre dezesseis e dezoito anos, sob o prisma jurídico, é denominado púbere.
Equiparam-se aos maiores quando dolosamente ocultam a idade, ao serem inquiridos pela outra
parte, ou se, no ato de obrigarem-se, declararam-se maiores (art. 180). Nesse caso, o contrato deve
ser cumprido, ainda que celebrado sem a assistência do representante legal, por força do citado
art. 180 do CC, inspirado no princípio de que não se pode alegar a própria torpeza.
Vimos, por outro lado, que certos atos esse menor pode praticar sem assistência:
a) servir de testemunha, inclusive em testamentos (art. 228);
b) testar (1.860, parágrafo único);
c) ser mandatário (art. 666);
d) votar.
Os ébrios habituais são os alcoólatras. Comprovada que a embriaguez é habitual, isto é, quase
que diária, já é possível a interdição. Portanto, para que se proceda a interdição, não é necessário
comprovar que o ébrio não exprime a sua vontade.
No tocante aos viciados em tóxicos, a lei não exige a habitualidade, isto é, o uso quase que
diário, admitindo a interdição, ainda que o consumo seja intervalado, como, por exemplo, uma vez
por semana ou de quinze em quinze dias. Igualmente, não é necessário comprovar que toxicômano
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não exprime a sua vontade, basta o diagnóstico sobre a existência do vício, caracterizado pela
situação de dependência da droga.
Finalmente, o juiz, atento ao grau de lucidez do interditando, pode amenizar os efeitos da
interdição, restringindo-a aos atos de maior relevo, à semelhança do que por força de lei, já ocorre,
automaticamente, em relação ao pródigo, noutras palavras, a sentença deve fixar os limites da
curatela ( §3º do art. 754 do CPC/2015).
A pessoa que não pode exprimir a vontade, seja por causa transitória ou permanente, é tida
como relativamente incapaz. Exemplo: pessoa em coma.
O artigo 1.767, inciso I, do CC, prevê a interdição dessas pessoas.
No tocante ao surdo-mudo que não externa a sua vontade deve ser tido como relativamente
incapaz, enquadrando-se no art. 4º, III, do CC, podendo ser interditado.
Saliente-se, ainda, que se puder exprimir seu pensamento com discernimento não será
incapaz. Portanto, o surdo-mudo pode ser:
PRÓDIGO
Pródigo é o indivíduo que dilapida o seu patrimônio, de forma imoderada e habitual, pondo
em risco o próprio sustento e de seus familiares.
O reconhecimento da prodigalidade depende dos seguintes requisitos:
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Os gastos excessivos, ainda que habituais, por si só, não revelam a prodigalidade. Urge, para
tanto, o surgimento do risco de dilapidação do patrimônio.
Quanto ao viciado em jogo, paira controvérsia sobre o seu estado de prodigalidade. A
jurisprudência oscila num e noutro sentido. Falta-lhe, a nosso ver, a generosidade, que é uma das
características peculiares ao pródigo.
O pródigo é considerado relativamente incapaz (art. 4º, IV). Pródigos são pessoas que,
movidas por compulsão, dilapidam habitualmente seus bens, colocando em risco o próprio
sustento e de sua família. A interdição do pródigo restringe-se aos atos patrimoniais. Com efeito,
necessitará de curador apenas para assisti-lo em empréstimos, transações, quitações, alienações,
hipotecas; enfim, para praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração (art.1.782).
Quanto aos atos pessoais, isto é, não patrimoniais, por exemplo, o casamento, o pródigo é
plenamente capaz, prescindindo-se da assistência do curador, salvo quanto a escolha do regime de
bens, cujo conteúdo é patrimonial, sendo, pois, essencial a assistência.
Finalmente, no Código de 1916, a interdição do pródigo só era possível quando houvesse
cônjuge, ascendente ou descendente, que pudessem promovê-la. Não mais existindo esses
parentes, a interdição era cancelada. Portanto, o pródigo, a rigor, não era protegido, pois o
legislador preocupava-se apenas com os seus familiares. No Código de 2002, o pródigo pode ser
interditado, ainda que não tenha cônjuge, ascendente ou descendente.
Com efeito, a interdição pode ser movida por qualquer parente, e, subsidiariamente, pelo
Ministério Público, colocando-se, portanto, o pródigo no mesmo nível de proteção dos demais
incapazes.
ÍNDIOS
A capacidade do índio, conforme preceitua o parágrafo único do art. 4º do CC, é regida por lei
especial.
O assunto encontra-se regulamentado pela Lei nº 6001/73, também denominada de Estatuto
do índio.
O índio não integrado à civilização apresenta uma incapacidade “sui generis”, pois, de um
lado, assemelha-se aos relativamente incapazes na medida em que é assistido pela FUNAI na
prática dos atos ou negócios jurídicos, mas, de outro lado, aproxima-se dos absolutamente
incapazes, porquanto sem a aludida assistência os atos ou negócios jurídicos serão nulos e não
apenas anuláveis. Observe-se, contudo, que os atos praticados pelos absolutamente incapazes são
sempre nulos, independentemente de prejuízo, ao passo que os atos praticados pelo índio sem a
assistência da FUNAI só serão nulos se lhes for prejudicial, caso contrário reputam-se válidos.
Saliente-se, ainda, que o art. 5º, da Lei 6.015/73 preceitua que os índios, enquanto não integrados,
não estão obrigados a inscrição do nascimento. Este poderá ser feito em livro próprio da FUNAI.
Finalmente, o Código de 2002 substituiu o termo “silvícolas” por “índios”. A alteração foi
salutar, porque silvícola é o habitante da selva, ao passo que o índio encontra-se protegido ainda
que a comunidade indígena se localize nos centros urbanos.
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FORMAS DE AQUISIÇÃO
A MAIORIDADE CIVIL
A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada para a
prática de todos os atos da vida civil (art. 9º do CC). Assim, a pessoa se torna maior e capaz no
primeiro momento do dia do aniversário de 18 anos. Se ela nasceu num ano bissexto, a 29 de
fevereiro, a maioridade será alcançada no 18º ano, mas a 1º de março.
Finalmente, cumpre observar que, em regra, a maioridade civil implica na capacidade civil da
pessoa. Todavia, nas hipóteses dos arts. 3º e 4º do CC, não obstante a maioridade civil, persiste a
incapacidade. Em contrapartida, em regra, a menoridade implica na incapacidade civil da pessoa,
salvo quando esta estiver emancipada.
LEVANTAMENTO DA INTERDIÇÃO
INTEGRAÇÃO DO ÍNDIO
O índio integrado à civilização brasileira é plenamente capaz. Nesse caso, poderá requerer a
sua emancipação, mediante requerimento dirigido ao Juiz Federal, desde que preencha os
seguintes requisitos:
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civilização.
EMANCIPAÇÃO
Emancipação é o instituto jurídico que atribui capacidade plena aos menores de 18 anos. É,
pois, a antecipação da capacidade civil.
Apresenta as seguintes características:
a) irrevogabilidade. A emancipação válida não pode ser revogada pelos pais nem pelo menor.
Tratando-se, porém, de emancipação inválida, torna-se plenamente possível a sua anulação
por sentença judicial. Note-se que enquanto a revogação é o desfazimento de ato válido, a
anulação é o cancelamento de ato inválido, isto é, fruto de erro, dolo ou coação.
b) perpetuidade. A emancipação é sempre definitiva. Com o casamento, por exemplo, o menor
se emancipa. Se, porém, no dia seguinte, sobrevier a viuvez, ainda assim persistirá a
emancipação.
c) pura e simples. A emancipação é um ato puro e simples, porquanto não admite termo ou
condição.
Convém ainda não confundir a capacidade civil com a maioridade civil.
Conquanto a emancipação atribua capacidade plena aos menores de 18 anos, o certo é que
eles ainda continuam menores.
Assim, a emancipação os habilita aos atos da vida civil, cuja prática dependa tão somente da
capacidade. Todavia, para alguns atos, a lei exige idade mínima, de modo que para praticá-los não
basta a emancipação, urge ainda que ostentem certa idade. Portanto, o menor emancipado não
poderá tirar carteira de motorista; não terá responsabilidade penal; não poderá assistir filme
proibido para menor de 18 anos; não poderá ir ao motel; etc. Com efeito, a emancipação confere
apenas capacidade civil ao menor, com o objetivo de beneficiá-lo; todavia, ele continua adstrito às
restrições inerentes à idade, em função da sua personalidade ainda em formação, porquanto o
intuito dessas limitações é protegê-lo.
Finalmente, no tocante à forma, a emancipação pode ser voluntária, judicial e legal.
EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
A emancipação voluntária é a concedida pelos pais, mediante escritura pública, que deve ser
inscrita no Registro Civil competente. Essa inscrição, que é essencial para a emancipação surtir
efeitos perante terceiros, independe de homologação judicial.
A emancipação é outorgada pelos pais em conjunto, sendo ainda necessário que o menor
tenha dezesseis anos completos. Antes dessa idade, é vedada a emancipação voluntária.
Nada obsta a concessão da emancipação voluntária por apenas um dos pais, na hipótese de o
outro já ter falecido ou se encontrar interditado, outrossim, quando houver decaído do poder
familiar.
Por outro lado, se um dos genitores se encontrar em lugar incerto e não sabido, o outro, para
poder emancipar voluntariamente o filho, deverá requerer a autorização judicial. Nesse caso, o juiz
não prolata uma sentença de emancipação, e sim uma decisão autorizando a emancipação por um
único progenitor.
Finalmente, a emancipação deve ser para beneficiar o menor. Assim, a emancipação
concedida pelos pais pode ser anulada se ficar provado que o ato foi praticado para libertarem-se
do dever de prestarem pensão alimentícia.
EMANCIPAÇÃO JUDICIAL
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EMANCIPAÇÃO LEGAL
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INTRODUÇÃO
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No regime jurídico de direito privado há isonomia. Assim, uma pessoa jurídica de direito
privado não pode exercer supremacia sobre outra pessoa em suas relações jurídicas. Não pode, por
exemplo, impor obrigações unilaterais. Para anular um contrato, é preciso mover ação judicial.
Igualmente, para fazer cumprir o que nele está contido.
O rol acima para uns é taxativo, enquanto outros o consideram exemplicativo, sendo possível
a existência de outras pessoas jurídicas como é o caso do condomínio edilício, mas a posição
dominante é que o condomínio não é pessoa jurídica.
A meu ver, o rol é taxativo, porque o deferimento da personalidade jurídica é uma questão de
ordem pública, dependendo de lei, não podendo ser ampliada pelas partes.
Quanto à empresa individual de responsabilidade limitada, EIRELI, que constava no inciso VI
do art. 44 do CC, foi revogada expressamente pela Lei 14.382/2022,
Convém esclarecer que já havia se operado a revogação tácita da empresa individual de
responsabilidade limitada, tendo em vista que, com a entrada em vigor da Lei 14.195/2021, todas
as anteriores foram automaticamente transformadas em sociedades limitadas unipessoais, de tal
sorte que, por razões lógicas, novas EIRELIs já não poderiam ser constituídas.
BREVES CONCEITOS
Associação é a pessoa jurídica caracterizada pela união de duas ou mais pessoas que se
organizam para fins não econômicos.
Sociedade é a união de duas ou mais pessoas que se organizam para fim econômico, isto é,
lucrativo.
Fundação é o patrimônio ao qual se atribui personalidade jurídica para que ele possa exercer
um fim não econômico.
Organização religiosa é a pessoa jurídica caracterizada pela união de duas ou mais pessoas
que se organizam para fins religiosos.
Partido político é a pessoa jurídica de direito privado que destina-se a assegurar, no interesse
do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos
fundamentais deferidos na Constituição Federal. É, pois, uma associação com finalidade específica.
ESPÉCIES
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DIREITOS DA PERSONALIDADE
CONCEITO
Absolutos, porque oponíveis erga omnes, isto é, devem ser respeitados por todas as pessoas,
independentemente de qualquer relação jurídica anterior.
Indisponíveis, porque o seu exercício não pode ser cedido nem limitado pela vontade da
pessoa. Com efeito, dispõe o art.11 do CC: “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária”. Jamais poderão ser penhorados ou transmitidos por ato inter vivos ou causa mortis.
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Todavia, conforme salienta Carlos Roberto Gonçalves, a indisponibilidade dos referidos direitos não
é absoluta, podendo algum deles ter o seu uso cedido para fins comerciais mediante retribuição,
como o direito autoral e o direito de imagem, por exemplo. Nesses casos, os reflexos patrimoniais
dos referidos direitos podem ser penhorados. Conforme vimos, alguns direitos da personalidade
admitem a cessão de uso (exemplos: direito à imagem e direitos autorais). O Enunciado 4 do CJF
preceitua também que: “O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária,
desde que não seja permanente nem geral”. Assim, a cessão de uso da imagem não pode ser
vitalícia, permanente, sob pena de nulidade do contrato.
Vitalícios, porque os direitos da personalidade acompanham a pessoa por toda a vida, até a
sua morte.
Alguns desses direitos, mesmo após a morte, são protegidos, como o respeito ao morto, à sua
memória e ao seu direito moral de autor (parágrafo único do art.12 do CC).
DIREITO AO NOME
CONCEITO
ELEMENTOS ESSENCIAIS
Os elementos essenciais, que são aqueles necessários para o registro do nome no cartório de
registro civil, são o prenome e o sobrenome.
Compete ao declarante, que pode ser o pai ou a mãe, bem como seu respectivo procurador
com poderes especiais, indicar o nome completo do filho.
À exceção do infante exposto, toda pessoa necessariamente há de ter prenome e sobrenome.
O infante exposto é o recém-nascido abandonado pelos pais.
Em sendo estes desconhecidos, o registro do nascimento far-se-á apenas com o prenome,
sem qualquer referência ao patronímico (art. 61 da lei 6.015/73).
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ELEMENTOS FACULTATIVOS
PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE
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O prenome, além das causas comuns mencionadas anteriormente, ainda pode ser alterado
nas seguintes situações;
a) por vontade imotivada, manifestada após atingir a maioridade civil, prescindindo-se de
ação judicial.
b) outras hipóteses previstas no ordenamento jurídico. Nesses casos, só haverá necessidade
de ação judicial, se requerida antes da maioridade civil, outrossim, após a maioridade civil, se o
prenome já havia sido alterado anteriormente por vontade imotivada.
Estas outras hipóteses são as seguintes:
a) Irmãos com prenomes idênticos;
b) apelidos públicos e notórios;
c) por vontade do transgênero ou transexual;
Convém esclarecer que a pessoa que já atingiu a maioridade e pretende alterar o prenome
pela primeira vez não precisa expor os motivos da alteração, que poderá ser pleiteada
extrajudicialmente.
Por consequência, nas hipóteses acima, só haverá necessidade de ação judicial em duas
hipóteses:
a) antes da maioridade civil;
b) após a maioridade civil, quando, por vontade motivada, o prenome já havia sido alterado
anteriormente.
Quem já atingiu a maioridade civil, não poderá pleitear judicialmente a primeira alteração
do prenome, sob pena de carência de ação, por falta de interesse de agir, tendo em vista que a
pretensão pode ser satisfeita extrajudicialmente.
Há ainda outras duas causas específicas de mudança do prenome, que podem ser feitas no
ato da naturalização, são elas:
a) tradução;
b) adaptação à língua portuguesa;
A pessoa registrada poderá, após ter atingido a maioridade civil, requerer pessoalmente e
imotivadamente a alteração de seu prenome, independentemente de decisão judicial, e a alteração
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será averbada e publicada em meio eletrônico (art. 56 da Lei 6.015/73, com redação dada pela Lei
14.382/2022).
Antes do advento da Lei 14.382/2022, a alteração imotivada do prenome só era possível
dentro do prazo decadencial de um ano, a contar da maioridade civil.
A alteração imotivada não se sujeita mais a prazo decadencial, podendo ser requerida a
qualquer tempo, a partir da maioridade civil, devendo, no entanto, observar as seguintes normas:
a) não pode ser pleiteada antes da maioridade civil, ainda que o interessado esteja
emancipado.
b) deve ser requerida pessoalmente pelo interessado, sendo vedada a constituição de
procurador para esse fim.
c) a decisão do pedido é atribuição do Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais. Em regra,
o pedido deverá ser deferido, pois se trata de um direito potestativo incondicionado. Se,
entretanto, suspeitar de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade ou simulação quanto à real
intenção da pessoa requerente, o oficial de registro civil fundamentadamente recusará a retificação
(§ 4º do art. 56).
d) a alteração será averbada no registro de nascimento. A averbação de alteração de
prenome conterá, obrigatoriamente, o prenome anterior, os números de documento de
identidade, de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) da Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil, de passaporte e de título de eleitor do registrado, dados esses que deverão
constar expressamente de todas as certidões solicitadas (§2º do art. 56).
e) a alteração do prenome será publicada em meio eletrônico.
f) finalizado o procedimento de alteração no assento, o ofício de registro civil de pessoas
naturais no qual se processou a alteração, a expensas do requerente, comunicará o ato
oficialmente aos órgãos expedidores do documento de identidade, do CPF e do passaporte, bem
como ao Tribunal Superior Eleitoral, preferencialmente por meio eletrônico (§ 3º do art. 56).
g) a alteração imotivada de prenome poderá ser feita na via extrajudicial apenas 1 (uma) vez,
e sua desconstituição dependerá de sentença judicial (§1º do art. 56).
Quanto à alteração imotivada do sobrenome, não é possível, por falta de previsão legal.
É obrigatória a alteração do prenome de irmãos com prenomes idênticos, para não haver
confusão entre as identidades, recaindo a alteração sobre o registrado por último.
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Tanto o transgênero quanto o transexual são pessoas que têm uma identidade que não
corresponde ao gênero sexual biológico.
O transexual sente um forte desejo de alterar a sua anatomia sexual, através de cirurgia de
mudança de sexo ou terapia hormonal, ao passo que o transgênero não sente este tipo de
necessidade.
Manter prenome masculino a uma pessoa que se sente enquadrada no gênero feminino, ou
vice-versa, enseja uma situação vexatória, à medida que o nome passa a destoar da aparência física
e do fenótipo comportamental.
Por consequência, é possível tanto a mudança de sexo quanto a mudança do prenome,
independentemente da cirurgia de transgenitalização, pois o registro deve retratar a identidade de
gênero psicossocial, conforme jurisprudência do STJ.
Na ação direta de inconstitucionalidade 4275/DF, o STF, com base no pacto de São José da
Costa Rica, conferiu interpretação conforme à Constituição ao artigo 58 da lei 6.015/73,
reconhecendo aos transgêneros que assim o desejarem, o direito de substituir o prenome e sexo,
independentemente de cirurgia.
A questão é de índole constitucional, porque a alteração visa preservar a cidadania e a
dignidade do ser humano, razão pela qual deve ser rejeitada a opinião contrária, que nega a
alteração, argumentando a falta de previsão legal.
Ora, o princípio da legalidade dos registros públicos não pode sobrepor-se aos ditames
constitucionais.
Ademais, há previsão legal, pois a hipótese se equipara ao prenome ridículo.
Tradução
Esta hipótese, que é também prevista no art. 71, §1º da lei 13.445/2017, refere-se à
pronúncia ou compreensão difícil, podendo ser requerida pelo estrangeiro, no pedido de
naturalização, desde que o prenome possa ser adaptado à prosódia da Língua Portuguesa.
PSEUDÔNIMO
O pseudônimo é um nome independente do nome civil, que é registrado e usado pela pessoa
especialmente para fins literatos, artísticos, políticos, científicos, etc. “Di Cavalcanti”, por exemplo,
é o pseudônimo pelo qual ficou conhecido o famoso pintor Emiliano de Albuquerque Melo.
Anote-se que o pseudônimo não integra o nome civil, ao contrário do cognome.
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Acrescente-se, por fim, que o pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção
que se dá ao nome (art. 19 do CC).
INTRODUÇÃO
disposição do corpo;
transplantes;
esterilização;
intervenções cirúrgicas.
DISPOSIÇÃO DO CORPO
A vida se desenvolve no corpo. Portanto, a agressão ao corpo implica na ofensa à vida. É, pois,
indisponível o direito à integridade física, de modo que é nulo o negócio jurídico que objetiva a
mutilação do corpo da pessoa.
Com efeito, dispõe o art. 13 do CC que, salvo por exigência médica, é defeso o ato de
disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou
contrariar os bons costumes.
Anote-se que, ainda que a disposição do próprio corpo não importe diminuição permanente
da integridade física, o ato será vedado quando contrariar os bons costumes.
Assim, a pedido do Ministério Público ou de parentes, o juiz pode, por exemplo, impedir o
sujeito de automutilar-se num espetáculo artístico, se a disposição do corpo:
Acrescente-se, contudo, que as pequenas lesões são admitidas, desde que de acordo com os
costumes, como, por exemplo, para o fim de pagamento de promessa. Outro exemplo: furar a
orelha da filha para colocar brinco.
A mudança cirúrgica do sexo, conquanto implique em diminuição permanente da integridade
física, é possível por exigência médica (art. 13 do CC). Sobredita cirurgia é autorizada pela
Resolução nº 1.652/2002 do Conselho Federal de Medicina. Fundamenta-se no princípio
constitucional da inviolabilidade da intimidade (art.5º, X, da CF). O Enunciado 276 do CJF/STJ
autoriza essas cirurgias de transgenitalização com a consequente mudança do prenome e do sexo
no registro civil.
Urge, porém, que o distúrbio emocional seja extremo, a ponto de a opção pelo
transexualismo ser o único meio de se obter a cura. Não se pode, por mero capricho, na esperança
ser um pouco mais feliz, realizar essa cirurgia, pois, além de contrariar os bons costumes, ainda
importa em diminuição permanente da integridade física.
TRANSPLANTES
Transplante é a retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo para ser introduzido noutra
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pessoa.
A Constituição Federal proíbe a comercialização de órgãos, tecidos ou partes do corpo (art.
199, § 4º da CF). A comercialização, porém, significa a prática de atos medianeiros entre a produção
e o consumo com o intuito de lucro.
De acordo com José Afonso da Silva, a lei não pode prever a comercialização, mas pode
prever a alienação (venda, doação, etc) direta do titular para o utente ou para a formação de banco
de sangue, sem intuito comercial.
Discordamos desse ponto de vista, porque a venda e qualquer ato oneroso são imorais, e, por
isso, a legislação especial não pode consagrá-los.
Sendo assim, a expressão “comercialização” deve ser interpretada em sentido amplo, com o
fito de abranger qualquer ato oneroso, isto é, motivado pelo animus lucrandi.
A Lei 9.434/97, que regulamentou a matéria, só permite a doação, que pode ser concretizada
após a morte, ou ainda em vida, vedando qualquer ato oneroso.
A doação para retirada post mortem é disciplinada no art. 14 do CC, nos seguintes termos:
“É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no
todo ou em parte, para depois da morte.” Exige-se morte encefálica.
Anote-se que essa doação só é válida se o motivo for científico, isto é, para fins de pesquisa,
ou, então, altruístico, isto só, para fins de transplante. Essa doação pode ser feita:
Se, contudo, em vida, a pessoa manifestou expressamente a sua vontade de não ser doadora,
impõe-se a proibição da doação. Se, em vida, permaneceu em silêncio, daí sim o cônjuge, parentes
em linha reta ou colaterais até 2º grau poderão efetuar a doação. Essa disposição deve ser feita por
escrito, exigindo ainda duas testemunhas. Adotou-se o princípio do consenso afirmativo, isto é, a
necessidade de autorização expressa dos familiares do morto, de modo que o silêncio em vida do
potencial doador não gera a presunção de sua autorização. Se, contudo, em vida ele manifestou
expressamente o desejo de não doar os órgãos, a sua vontade prevalece sobre a vontade dos
familiares (Enunciado 277 do CJF/STJ).
Acrescente-se ainda que o parágrafo único do art. 14 do CC preceitua que o ato de disposição
pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Por outro lado, a doação para retirada em vida, só é cabível mediante os seguintes requisitos:
ESTERILIZAÇÃO
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Dispõe o art. 15 do CC que “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida,
a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”.
A anuência do paciente à intervenção cirúrgica só é necessária quando o perigo causado pela
doença for futuro.
Se, ao revés, houver iminente perigo de vida, é perfeitamente lícita a intervenção médica ou
cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante, conforme se depreende da
análise do § 3º do art. 146 do CP, que legitima esse ato, dispensando-se autorização judicial. Em tal
situação, ainda que a vítima dispense ou recuse o socorro, o médico deve intervir, sob pena de ser
responsabilizado criminalmente pela negligência.
No tocante à transfusão de sangue, rejeitada pela convicção religiosa do paciente ou
familiares, cremos que, em caso de iminente perigo de vida, o médico deva concretizá-la, com
apoio no § 3º do art.146 do CP, sob pena de responder criminalmente pela omissão.
De fato, não pode a liberdade religiosa sobrepor-se ao direito à vida. Trata-se de uma
hipótese de estado de necessidade, em que os valores religiosos são desconsiderados em prol da
preservação da vida do paciente.
Denota-se, portanto, que a anuência do paciente é dispensada quando houver iminente
perigo de vida. É claro, porém, que se o risco de vida da cirurgia ou transfusão de sangue for maior
do que o risco de vida provocado pela doença que acomete o paciente, a intervenção médica
dependerá do consentimento do moribundo ou de seu representante legal.
AUSÊNCIA
Verifica-se a ausência civil quando a pessoa desaparece de seu domicílio e não dá notícia de
seu paradeiro.
Na ausência, ao contrário da pessoa desaparecida em catástrofe, não há certeza de morte,
mas apenas uma suspeita, e, por isso, o legislador é cauteloso, presumindo a sua morte somente
após a abertura da sucessão definitiva (art. 6º).
Com efeito, o procedimento de ausência desenvolve-se em três fases sucessivas:
curadoria do ausente;
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sucessão provisória;
sucessão definitiva.
Aludido procedimento encontra-se disciplinado nos arts. 744 e 745 do CPC/2015. É instaurado
no último domicílio do ausente. Trata-se de jurisdição voluntária. Qualquer interessado pode
requerer a sua instauração, inclusive o Ministério Público.
O procedimento só é instaurado na hipótese de o ausente ter deixado bens. Para outros
assuntos, como, por exemplo, pensão previdenciária, a ausência pode ser demonstrada no curso da
ação, sem que haja necessidade de instauração de demorado procedimento de ausência. De fato,
para a percepção da pensão previdenciária, basta os dependentes do ausente demonstrarem o seu
desaparecimento, por mais de seis meses, no bojo da ação em que essa pensão é requerida (art. 78
da Lei nº 8.213/91).
Conquanto o ausente não seja considerado incapaz, urge que alguém o represente em
relação aos seus bens. Assim, na primeira fase, a da curadoria do ausente, a representação ficará
afeta ao curador do ausente; na segunda fase, a da sucessão provisória, o ausente será
representado ativa e passivamente pelos herdeiros que tomaram posse nos bens, de modo que
contra eles correrão as ações pendentes e que no futuro forem movidas em face do ausente. Na
última fase, a da sucessão definitiva, o ausente é considerado morto, e, por isso, ninguém mais o
representa.
CURADORIA DO AUSENTE
Nessa primeira fase, o juiz, convencendo-se de que certa pessoa encontra-se desaparecida,
após analisar a petição inicial, declarará a ausência, nomeando-lhe um curador.
O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de
dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador (art. 25).
Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes,
nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo (§1º do art. 25).
Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos (§2º do art. 25).
Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.
O critério de escolha do curador é similar ao do inventariante.
Convém esclarecer que o Ministério Público não deve ser nomeado curador do ausente.
Outrossim, que a lei não exige prazo mínimo de desaparecimento para instauração do
procedimento.
Por outro lado, se o ausente houver deixado representante ou procurador, não se declarará a
ausência e nem se nomeará curador, a não ser que o mandatário não queira, ou não possa exercer
ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.
Nessa primeira fase do procedimento, o juiz ainda mandará arrecadar os bens do ausente e a
administração ficará afeta ao curador do ausente, cujos poderes são similares aos dos tutores e
curadores.
Feita a arrecadação, o juiz mandará publicar editais na rede mundial de computadores, no
sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça,
onde permanecerá por 1 (um) ano, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da
comarca, durante 1 (um) ano, reproduzida de 2 (dois) em 2 (dois) meses, anunciando a arrecadação
e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens (art. 745 do CPC).
Do exposto se dá conta que esses editais visam conferir publicidade à arrecadação e convocar
o ausente a retornar para o seu domicílio. Se, por engano, algum bem alheio houver sido
arrecadado, o interessado poderá mover os embargos de terceiro.
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Passado 1 (um) ano da publicação do primeiro edital, ou 3 (três) anos se o ausente havia
deixado um representante, 3 (três) situações podem ocorrer:
a) o retorno do ausente. Nesse caso, ele assume seus bens, extinguindo-se o procedimento.
Acrescente-se que o ausente terá direito de receber todos os frutos e rendimentos dos seus bens,
deduzindo-se as despesas relativas à administração;
b) a certeza da morte do ausente. Provado o seu óbito, o procedimento é convertido em
inventário;
c) a persistência da ausência. Em tal situação, o procedimento avança para a segunda fase, a
da sucessão provisória.
SUCESSÃO PROVISÓRIA
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lhe tocaria.
Nessa fase da sucessão provisória, os herdeiros ainda não adquirem a propriedade dos bens
do ausente, mas apenas a posse, encontrando-se em situação similar ao usufrutuário, pois terão
direito aos frutos e rendimentos dos bens que lhes couberam.
Com efeito, o descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente,
fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores,
porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, convertendo-os em imóveis ou
títulos da dívida pública. Essa capitalização é ordenada pelo juiz, após ouvir o representante do
Ministério Público. O objetivo dessa capitalização é resguardar os interesses do ausente, caso ele
retorne e justifique o seu desaparecimento. Se, porém, o ausente aparecer e ficar comprovado que
a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e
rendimentos capitalizados.
Saliente-se, ainda, que os herdeiros não poderão alienar os imóveis do ausente, a não ser
mediante ordem judicial, para lhes evitar a ruína.
Quanto aos bens móveis, a venda também depende de ordem judicial.
Aliás, antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens
móveis, sujeitos à deterioração ou extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União, por
força do art. 29 do CC, que, por analogia, também pode ser aplicado após a partilha.
Dentro de dez anos, a contar do trânsito da sentença de abertura da sucessão provisória, ou,
então, dentro de cinco anos a contar de suas últimas notícias, se o ausente contava oitenta anos de
idade, podem ocorrer as seguintes hipóteses:
o retorno do ausente. Nesse caso, ele reassume o seu patrimônio, cessando a sucessão
provisória dos herdeiros. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor
provisório, não terá que devolver os frutos e rendimentos dos bens ao ausente; os outros
sucessores, porém, se a ausência for involuntária e justificada, terão que lhe devolver a
metade dos frutos e rendimentos, aquela que foi capitalizada para essa hipótese de retorno
do ausente;
a certeza da morte do ausente. Nesse caso, o juiz converte a sucessão provisória em
definitiva, ordenando ainda o levantamento das cauções prestadas;
a persistência da ausência. Em tal situação, o procedimento avança para a terceira fase, a da
sucessão definitiva.
SUCESSÃO DEFINITIVA
dez anos depois de passar em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão
provisória;
cinco anos a contar das últimas notícias, se o ausente contava oitenta anos de idade;
quando houver certeza da morte do ausente, comprovada por certidão de óbito.
presunção da morte do ausente (art. 6º). Trata-se da chamada morte ficta, pois o óbito não
é sequer registrado. Nas fases anteriores há presunção que o ausente está vivo, tanto é que
na primeira fase ele é representado pelo curador e na segunda pelos herdeiros, aliás, os
herdeiros respondem pelas dívidas do ausente até as forças da herança; na terceira fase, o
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Estes, até então, eram meros possuidores e titularizavam uma espécie de usufruto legal; a
partir da sentença de sucessão definitiva, adquirem a propriedade dos bens, e, por isso, podem
aliená-los, independentemente de ordem judicial.
Acrescente-se, contudo, que, dentro de dez anos, a contar da sentença de sucessão definitiva,
podem ocorrer as seguintes hipóteses:
Nesse caso, eles poderão requerer ao juiz a entrega dos bens existentes no estado em que se
acharem, ou sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros e demais interessados
houverem recebido pelos bens alienados.
Observe-se, portanto, que o retorno do ausente, até dez anos da sucessão definitiva, provoca
a extinção da propriedade, razão pela qual esta é tida como resolúvel. Saliente-se, contudo, que o
ausente não terá direito aos frutos e rendimentos referentes ao tempo da ausência.
DOMICÍLIO
Morada é a pousada eventual. Exemplo: casa de praia para passar o verão, em que a pessoa
chega, se abriga e parte, sem que haja qualquer estabilidade. Assim, a morada é o lugar onde a
pessoa se encontra e permanece sem a intenção de ficar.
Residência é a morada habitual. É o lugar onde a pessoa habita com uma estabilidade relativa.
Tal ocorre, por exemplo, com o estudante do interior que vem para a cidade de São Paulo estudar
durante um ano.
Domicílio, por sua vez, é a residência com ânimo definitivo, isto é, com a intenção de tê-la por
tempo indeterminado. É, pois, a morada estável e permanente.
Assim, a morada temporária, por tempo determinado, qualifica-se como residência, ao passo
que a morada permanente, com animus manendi (propósito de ali permanecer por tempo
indeterminado), identifica-se como domicílio.
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O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo (art. 70).
Os elementos do domicílio são:
a) elemento objetivo ou material: é a residência;
b) elemento subjetivo ou psicológico: é o animus manendi, isto é, a intenção de aí fixar-se por
tempo indeterminado.
DOMICÍLIO PROFISSIONAL
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CLASSIFICAÇÃO DO DOMICÍLIO
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BENS
CONCEITO
Sob o prisma jurídico, bens são os valores materiais e imateriais, com conotação econômica,
que podem ser objeto de uma relação jurídica.
a) corpóreos ou coisas: são os valores materiais, isto é, dotados de uma existência física.
Exemplos: roupas, automóveis, dinheiro, etc.
b) incorpóreos ou direitos: são os valores imateriais, que só podem ser compreendidos pela
inteligência do homem. Esses bens não têm um corpo, ou seja, uma estrutura física. Exemplos:
crédito; ponto comercial; direito de o autor reproduzir a obra, etc.
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De acordo com Clóvis, bens imóveis são as coisas que se não podem transportar, sem
destruição, de um para outro lugar.
Quanto a estes, se a remoção for possível, serão considerados bens móveis, como, por
exemplo, as barracas de feira e os pavilhões de circo; se, ao revés, a remoção alterar a sua
substância ou a destinação econômico-social, serão considerados imóveis, como, por exemplo, as
construções.
Saliente-se, portanto, que, em regra, os bens removíveis por força alheia, sem alteração da
substância ou da destinação econômico-social, são considerados bens móveis.
Todavia, em duas hipóteses, não obstante a possibilidade de remoção, reputam-se ainda
imóveis.
Com efeito, dispõe o art. 81 do CC que não perdem o caráter de imóveis:
I. as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas
para outro local;
II. os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.
No tocante às edificações separadas do solo, conforme ensina Renan Lotufo, só poderão ser
consideradas imóveis se mantiverem essa destinação econômico-social, trocando apenas de lugar.
Se nunca foram imobilizadas, nunca fixadas ao solo ou nunca estiveram sujeitas à habitação, mas
tão-somente ao comércio, por exemplo, não poderão ser consideradas imóveis, e sim móveis.
Os imóveis por natureza compreendem o solo e tudo quanto nele se lhe incorpora
naturalmente.
O subsolo, o solo e o espaço aéreo encontram-se incorporados naturalmente ao solo, razão
pela qual também são considerados imóveis por natureza.
As pedras, as árvores e as plantações, que se encontram no solo, são também considerados
imóveis por natureza. Igualmente, os componentes do subsolo, como os fósseis, as jazidas e o curso
d´água. Quanto às quedas d’água e outras fontes de energia hidráulica, o Código de Águas, no
art.145, ressalva que são bens imóveis considerados como coisas distintas do solo em que se
encontrem, logo o proprietário não pode abrangê-la para fim de aproveitamento industrial. De
fato, as quedas d’água e outras fontes de energia hidráulica pertencem à União.
Os imóveis por acessão física compreende tudo aquilo que o homem incorpora de forma
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artificial e permanentemente ao solo, a ponto de não poder ser removido sem alteração da
substância ou da destinação econômico-social. Exemplos: Construções, semente lançada a terra e
plantações.
BENS MÓVEIS
São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem
alteração da substância ou da destinação econômico-social (art. 82).
Os bens móveis classificam-se em:
Convém destacar, desde já, que os navios e aeronaves são bens móveis por natureza; todavia,
para fins de hipoteca, são considerados bens imóveis.
Os bens móveis por natureza são os suscetíveis de movimento próprio, como os semoventes,
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e os suscetíveis de remoção por força alheia, sem a alteração da sua substância, como as
mercadorias e os automóveis. O gás é bem móvel, pois pode ser removido por meio do
embotijamento.
Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam
sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum
prédio, a não ser que o proprietário tenha a intenção de reempregá-los na própria construção
demolida. Se houver a intenção de reempregá-los noutra construção, serão tidos como bens
móveis, enquanto não incorporados efetivamente nessa construção.
Os bens móveis por antecipação são aqueles incorporados temporariamente ao solo, para
depois serem removidos, a fim de cumprirem a sua destinação econômico-social. Exemplos: árvores
destinadas ao corte, para transformação em lenha ou carvão; plantações destinadas à finalidade
industrial da fabricação de remédios; casas vendidas para serem demolidas etc.
I. as energias que tenham valor econômico. O art. 155, § 3º, do CP também considera a
energia de valor econômico como sendo bem móvel. Exemplos: energia elétrica, energia genética,
energia nuclear, energia eólica (derivada do vento), energia radiotiva, etc.
II. os direitos reais sobre bens móveis e as ações correspondentes. Esses direitos reais são: o
usufruto, o uso, o penhor e a alienação fiduciária em garantia.
III. os direitos pessoais de caráter patrimonial e as respectivas ações. Assim, os direitos
pessoais patrimoniais são bens móveis, ainda que recaiam sobre imóveis. Exemplos: locação,
comodato, arrendamento, ações da S/A, a propriedade industrial (marcas, patentes), etc.
Finalmente, no tocante aos direitos do autor, no que tange ao seu aspecto patrimonial, é um
bem móvel, logo pode ser cedido sem autorização do cônjuge; todavia, no concernente ao seu
atributo moral, ingressa no rol dos direitos da personalidade.
São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e
quantidade (art. 85).
A “contrario sensu”, são infungíveis os que não podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
Assim, o bem é fungível quando a sua substituição for irrelevante, a ponto de vetar qualquer
tipo de reclamação, como, por exemplo, o dinheiro. Se, ao revés, houver possibilidade de o credor
rejeitá-la, é porque o bem é infungível. No Código Civil Brasileiro, só os bens móveis podem ser
fungíveis. Os imóveis são sempre infungíveis. Com efeito, o art. 85 do CC ao definir os bens
fungíveis referiu-se expressamente aos bens móveis.
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Dispõe o art. 86 do CC que: “São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição
imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação”.
Assim, a consuntibilidade pode ser de fato e de direito.
Com efeito, a consuntibilidade de fato ou natural ou material ocorre com os bens que se
destroem com o primeiro uso. Exemplos: cigarros, bebidas, gêneros alimentícios, tintas etc. Não é
possível o uso sem a destruição, ou melhor, com o uso o bem perde a sua capacidade de utilização.
A consuntibilidade de direito ou jurídica se dá com os bens destinados à alienação. Exemplos:
o livro exposto à venda etc.
Por outro lado, os bens inconsumíveis são aqueles que comportam uso reiterado, sem a
destruição imediata da sua substância. Exemplos: roupas, relógios, etc.
Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição
considerável de valor ou prejuízo do uso a que se destinam (art. 87).
Noutras palavras, bens divisíveis são aqueles que se podem partir em porções reais e
distintas, de tal modo que cada uma destas mantenha proporcionalmente a mesma substância, o
mesmo valor e a mesma utilidade que tinha o todo. Exemplos: uma saca de café; uma peça de
pano; uma fazenda; um lote de terreno etc.
Bens indivisíveis, ao revés, são aqueles cujo fracionamento implica em destruição da sua
natureza ou então diminuição considerável do valor ou do uso a que se destinam.
A indivisibilidade pode ser:
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Bens reciprocamente considerados são os analisados uns em face de outros. Sob esse prisma,
podem ser principais e acessórios.
Dispõe o art. 92 do CC:
“Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja
existência supõe a do principal”.
Assim, bem principal é o que tem existência autônoma, ao passo que o bem acessório, para
existir, pressupõe a existência de um outro bem. A árvore, por exemplo, é um bem acessório,
porque sua existência depende do solo onde foi plantada.
os frutos;
os produtos;
as benfeitorias;
as acessões;
as pertenças;
partes integrantes.
À exceção das pertenças, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal abrangem
também os acessórios. O princípio de que o acessório segue o principal, também chamado de
princípio da gravitação jurídica, embora não expresso na lei, encontra-se implícito no art. 94 do CC,
quando este é interpretado a contrario sensu.
Desse princípio são extraídas as seguintes consequências:
Frise-se, porém, que as pertenças, conquanto acessórias, não seguem o principal, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação da vontade, ou das circunstâncias do caso.
FRUTOS
Frutos são as produções normais e periódicas, cuja percepção deixa intacta a coisa que os
produziu.
A caracterização dos frutos, como ensina Renan Lotufo, requer a conjugação de três
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requisitos:
periodicidade;
inalterabilidade da substância;
separabilidade da coisa principal.
a. naturais: são os que se reproduzem periodicamente pela própria força orgânica da coisa.
Exemplos: as frutas e as crias dos animais;
b. industriais: são os que se reproduzem periodicamente em virtude do trabalho do homem.
Exemplo: a produção da fábrica;
c. civis: são os rendimentos produzidos por um bem. Exemplos: aluguéis, juros, lucro dos
sócios etc.
Quanto ao estado em que se encontram, os frutos podem ser:
PRODUTOS
Produtos são utilidades que se extraem da coisa, com dispêndio de sua substância. Exemplo:
o metal retirado da mina; a pedra extraída da pedreira.
Os produtos não se reproduzem periodicamente, ao passo que a reprodução periódica é a
característica principal dos frutos. Estes, quando retirados, deixam a coisa intacta; os produtos, ao
inverso, vão se reduzindo paulatinamente à medida que se extraem da coisa. Acrescente-se ainda,
que o possuidor de boa-fé, como, por exemplo, o usufrutuário, tem direito à percepção dos frutos
colhidos tempestivamente; todavia, deve restituir ou indenizar os produtos. Quanto ao possuidor
de má-fé, não tem direito aos frutos nem aos produtos, mas deve ser indenizado pelas despesas de
produção e custeio dos frutos.
Finalmente, convém salientar que, apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos
e produtos podem ser objeto de negócio jurídico autônomo e independente do bem principal,
deixando, pois, nesse caso, de ser bem acessório (art. 95).
BENFEITORIAS
Benfeitorias, na definição de Clóvis, são obras ou despesas efetuadas numa coisa para
conservá-la, melhorá-la, ou, simplesmente, embelezá-la.
As benfeitorias podem ser necessárias, úteis e voluptuárias.
As necessárias são feitas para conservar a coisa, impedindo-lhe a destruição ou deterioração,
como a construção de um muro de arrimo para evitar a queda da casa.
As úteis têm por fim aumentar ou facilitar o uso da coisa, como a construção de uma
garagem.
As voluptuárias ou suntuárias visam proporcionar mero recreio ou deleite, tornando a coisa
mais agradável ou luxuosa, como a construção de uma sauna. Essas benfeitorias não aumentam o
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ACESSÕES
PERTENÇAS
São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo
duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro (art. 93).
Assim, as pertenças, embora sejam coisas acessórias, conservam a sua identidade, pois não se
incorporam à coisa que se juntam. É a chamada res annexa (coisa anexada)
A acessoriedade das pertenças é meramente econômica e jurídica, tendo em vista o seu fim
de servir, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento da coisa principal.
Exemplos: os móveis e quadros da casa; o telefone do escritório; as máquinas da fábrica; o trator da
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fazenda etc.
Vê-se, portanto, que a separação das pertenças não altera a coisa principal, que permanece
intacta. A pertença é livremente separável, de modo que a qualquer tempo o proprietário, a seu
critério, poderá fazer com que a coisa deixe de ser pertença. Para tanto, basta não empregá-la ao
uso, ao serviço ou ao aformoseamento da coisa principal.
Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal, em regra, não abrangem as
pertenças. Assim, na venda de uma casa não se encontram compreendidos os bens que integram a
residência alienada. Trata-se de uma exceção ao princípio de que o acessório segue o principal.
Em três hipóteses, porém, os negócios jurídicos envolvendo o bem principal abrangerá
também as pertenças.
A primeira ocorre quando houver alguma lei nesse sentido. Tal ocorre, por exemplo, com a
aquisição de um estabelecimento comercial, pois, por força dos arts. 1142 e 1143, todos os bens
que o compõe consideram-se abrangidos no negócio.
A segunda hipótese ocorre quando a vontade das partes ordena a abrangência das
pertenças. Exemplo: venda de uma casa mobiliada.
A terceira exceção ocorre quando as circunstâncias do negócio abrangem as pertenças. Se,
por exemplo, o agente compra um estúdio de gravação, torna-se evidente que o vendedor deverá
manter no local todos os equipamentos técnicos.
O bem imóvel destinado a servir outro imóvel, como uma quadra de tênis ou parque
agregados ao hotel, que os averbou no Registro de Imóveis, são também considerados pertenças,
que, nesse caso, revestem-se de natureza jurídica de bens imóveis.
Normalmente as pertenças são bens móveis, também chamados de móveis ajudantes, não
obstante a opinião contrária de Maria Helena Diniz que, classifica as pertenças móveis como sendo
bens imóveis por acessão intelectual.
BENS PÚBLICOS
Dispõe o art. 98 do CC que “são públicos os bens do domínio nacional pertencente às pessoas
jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
pertencerem”.
O dispositivo em apreço não espelha o real conceito de bem público, pois só considera como
tal os bens de domínio nacional, quando, na verdade, para ser público, basta que o bem pertença a
uma pessoa jurídica de direito público interno (União, Estados, Municípios, Distrito Federal,
autarquias). Quanto às fundações públicas, paira polêmica se é pessoa de direito público ou
privado.
Além disso, não é verdade que os demais bens sejam particulares. Ora, como salienta
Washington de Barros Monteiro, muitas coisas existem, no mar e em terra, que não pertencem a
ninguém (os animais bravios, enquanto entregues à sua natural liberdade, as pérolas que jazem no
fundo dos mares, os tesouros, as águas pluviais não captadas, as coisas abandonadas, as “res
nullius”, etc).
Acrescente-se, ainda, que os bens pertencentes às sociedades de economia mista e empresas
públicas são também considerados bens públicos de uso especial, quando essas entidades forem
prestadoras de serviços públicos. Igualmente, os bens das concessionárias prestadoras de serviço
público. A propósito, salienta Maria Sylvia Zanella Di Prieto:
“Com relação às entidades da Administração Indireta com personalidade de direito privado,
grande parte presta serviços públicos; desse modo, a mesma razão que levou o legislador a
imprimir regime jurídico publicístico aos bens de uso especial, pertencentes às pessoas jurídicas de
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a. de uso comum do povo: são aqueles cujo acesso é permitido a todos. O art. 99, I do CC
fornece-nos os seguintes exemplos: rios, mares, estradas, ruas e praças. Trata-se de um rol
meramente exemplificativo, pois qualquer bem que, por lei ou natureza, destina-se ao uso coletivo,
é considerado bem de uso comum do povo. O uso, aliás, pode ser gratuito ou retribuído, conforme
preceituar a lei da pessoa política a cuja administração pertencerem (art. 103).
b. de uso especial: são os usados pela Administração Pública para atingir seus fins. O art. 99,
II, do CC cita como exemplo os edifícios ou terrenos destinados às repartições públicas. Outros
exemplos: veículos oficiais; navios de guerra; terras dos silvícolas; cemitérios públicos; teatros
públicos; aeroportos públicos etc.
c. dominiais ou dominicais: são os que não tem destinação pública, e, por isso, integram o
patrimônio disponível do Poder Público, podendo ser aplicado inclusive para a obtenção de renda.
Exemplos: imóveis não utilizados pela Administração Pública; terrenos da marinha, terras
devolutas, salvo as necessárias à proteção dos ecossistemas, pois estas são bens públicos de uso
especial. Os bens dominiais são também chamados de bens do patrimônio privado do Estado.
Referidos bens podem ser objeto de direito pessoal ou real; admite-se inclusive a sua alienação,
observadas as exigências da lei (art.101 do CC).
Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado (parágrafo único do
art.99 do CC). Alguns autores usam o termo bem dominial como gênero, para indicar qualquer
espécie de bem público, reservando a expressão bem dominical para designar os bens públicos
desafetados, isto é, que integram o patrimônio disponível.
inalienabilidade;
imprescritibilidade;
impenhorabilidade;
impossibilidade de oneração.
INALIENABILIDADE
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Vimos que os bens públicos de uso comum são aqueles que, por lei ou pela natureza, podem
ser utilizados por todos em igualdade de condições.
Os bens públicos de uso comum por sua própria natureza, como os mares, os rios, as praias
etc., são absolutamente inalienáveis, pois são insuscetíveis de valoração econômica.
Em contrapartida, os bens públicos de uso comum por força de lei, como as praças e as
estradas, outrossim, os bens públicos de uso especial, são relativamente inalienáveis.
Com efeito, só serão inalienáveis enquanto conservarem essa qualificação de bem de uso
comum ou de uso especial (art. 109). Esses bens podem ser alienados, se forem desafetados.
Desafetação é a retirada da finalidade pública do bem, transformando-o em bem público
dominical. Assim, uma lei municipal pode determinar o fechamento da praça, ordenando a sua
alienação.
Quanto aos bens dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.
A alienação dos bens públicos, consoante preceitua o art. 17 da Lei 8.666/93, depende dos
seguintes requisitos:
IMPRESCRITIBILIDADE
Os bens públicos, seja qual for a sua natureza, são imprescritíveis, no sentido de serem
insuscetíveis de usucapião (art. 102).
IMPENHORABILIDADE
A execução contra a Fazenda Pública deve ser feita mediante precatório, conforme preceitua
o art. 100 da CF, sendo, pois, proibida a penhora de seus bens.
IMPOSSIBILIDADE DE ONERAÇÃO
CONCEITO
a) fatos jurídicos em sentido estrito ou fato natural: são os acontecimentos naturais, alheios à
vontade humana, que criam, modificam ou extinguem direitos e obrigações. Exemplos: aluvião,
avulsão, nascimento, a maioridade, a morte natural, etc.
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O direito nasce a partir de um fato jurídico, e não da lei. Esta cria apenas a possibilidade de o
direito vir a nascer, mediante a ocorrência do seu fato gerador.
Os direitos podem ser adquiridos:
Direitos atuais são os completamente adquiridos, e futuros os cuja aquisição não se acabou
de operar.
Assim, direito atual ou adquirido é o que pode ser exercido desde já, porque reúne todos os
fatos geradores necessários à sua aquisição. Tal ocorre, por exemplo, com o funcionário público
que já completou o tempo necessário para a sua aposentadoria.
Direito futuro, por sua vez, é o que não pode ainda ser exercido, pois não reúne todos os
fatos geradores necessários à sua aquisição.
Os direitos futuros subdividem-se em:
a) futuro deferido: é aquele cuja aquisição depende apenas de um ato de vontade da pessoa.
Exemplo: com a lavratura de uma escritura pública de compra e venda, a propriedade ainda não é
adquirida, encontrando-se na dependência do registro, cuja providencia depende apenas da
vontade do comprador.Outro exemplo: o herdeiro a partir da abertura da sucessão tem direito
futuro deferido porque a aceitação da herança depende do seu puro arbítrio.
b) futuro não deferido: são aqueles cuja aquisição depende de fatos falíveis, isto é, futuros e
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NEGÓCIO JURÍDICO
O Código Civil adotou a doutrina do direito alemão, que divide o ato jurídico em sentido
amplo em duas espécies: ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico.
Tanto o ato jurídico em sentido estrito quanto o negócio jurídico caracterizam-se como sendo
um comportamento humano voluntário apto a adquirir, resguardar, transferir, modificar ou
extinguir direitos.
Distinguem-se, porém, sutilmente. Com efeito, no negócio jurídico o efeito jurídico dele
emanado é previamente querido pelo agente, ao passo que no ato jurídico em sentido estrito, o
efeito jurídico emana diretamente da norma, independente do querer do agente.
No negócio jurídico, o intuito negocial sobrepõe-se ao conteúdo da norma, que pode ser
afastada para que prevaleça a intenção das partes. São negócios jurídicos tanto o testamento, que
é unilateral, como o contrato, que é bilateral, caracterizando-se esse último como sendo o negócio
jurídico por excelência.
Os atos jurídicos em sentido estrito podem ser, ao revés, destituídos de intuito negocial, pois em
alguns casos, o homem os pratica sem a intenção específica de produzir o efeito jurídico que dele
advém. Assim, por exemplo, a descoberta de um tesouro é um ato jurídico, pois o inventor torna-se
proprietário, ainda que não queira. Igualmente, quem de boa-fé planta em seu terreno com semente
alheia, adquire-lhe a propriedade, a despeito do seu querer. Note-se que, nesses atos jurídicos, o
agente alcança um efeito jurídico, que não tinha a intenção de alcançar.
Convém frisar que enquanto no negócio jurídico os efeitos jurídicos são previamente
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almejados e controlados pela vontade das partes, no ato jurídico os efeitos que dele emanam são
impostos pela lei, pouco importando se a partes os desejava ou não. Assim, o casamento é um ato
jurídico, pois as consequências matrimoniais são determinadas pela lei, não podendo os nubentes
subtraírem-se delas.
Podemos dizer que nos atos jurídicos os efeitos se produzem independentemente da vontade
de quem age, ao passo que nos negócios jurídicos os efeitos são intencionalmente desejados pelo
agente.
O negócio jurídico exige agente capaz, ao passo que a capacidade só é requisito do ato
jurídico, nos casos em que a lei a exige. Assim, o absolutamente incapaz que descobre um tesouro
adquire-lhe também a propriedade. Se fosse exigir a capacidade, esse ato seria nulo.
De fato, dispõe o art. 185 do CC, que as disposições referentes aos negócios jurídicos aplicam-
se, apenas, no que couber, aos atos jurídicos lícitos. Vê-se assim que o Código disciplinou o negócio
jurídico, ao passo que o Código de 1916 cuidava do ato jurídico em sentido amplo e sequer utilizava
a expressão negócio jurídico. No Código atual, as normas sobre negócio jurídico só se aplicam, no
que couber, aos atos jurídicos em sentido estrito.
O ato jurídico em sentido estrito é o praticado intencionalmente pela parte, embora os seus
efeitos sejam determinados pela lei, como, por exemplo, o casamento, ao passo que, no ato-fato-
jurídico, a parte não teve sequer a intenção de praticá-lo, não obstante a repercussão jurídica
imposta por lei. Assim, a descoberta ocasional de um tesouro seria um ato-fato-jurídico;
igualmente, os atos socialmente aceitos praticados por uma criança, como a compra de um sorvete.
Cremos que o ato-fato-jurídico encontra-se embutido no conceito de ato jurídico, pois tanto
naquele quanto neste os efeitos produzidos encontram-se previamente determinados por lei. Na
verdade, os casos de atos- fatos –jurídicos não passam de exemplos de atos jurídicos em sentido
estrito.
Para os adeptos dessa tríplice classificação, negócio jurídico, ato jurídico e ato-fato-jurídico, a
linha divisória seria a seguinte:
a) vontade qualificada. É a exigida para o negócio jurídico, pois a ação humana deve ser
direcionada à produção de um determinado efeito jurídico;
b) vontade simples. É a exigida para o ato jurídico, pois a ação humana deve ser direcionada
apenas à prática do ato, sem qualquer controle sobre os seus efeitos jurídicos;
c) irrelevância da vontade. É o que ocorre em relação ao ato-fato-jurídico, pois o querer inicial
do agente é indiferente para a produção dos efeitos determinados pela lei.
Na distinção entre ato jurídico em sentido estrito e negócio jurídico destacam-se duas teorias.
A primeira é a teoria voluntarista que considera negócio jurídico a declaração da vontade
dirigida a produção dos efeitos tutelados pela norma jurídica. Essa concepção não prevalece, pois
como esclarece Maria Helena Diniz, a voluntariedade do ato existe também no ato jurídico em
sentido estrito. Referida teoria só realiza a distinção entre o negócio jurídico e o ato-fato-jurídico.
A segunda, teoria objetiva de Bulow, o negócio jurídico alicerça-se na autonomia privada, no
poder de autorregulamentação dos efeitos jurídicos que se almeja que se produzam, ao passo que
no ato jurídico em sentido estrito os efeitos emanam da lei e não podem ser alterados ou excluídos
pela vontade, vedando-se a interferência da autonomia privada sobre a regularização dos seus
efeitos.
O negócio jurídico, em regra, tem conteúdo patrimonial, mas é também possível negócios
jurídicos extrapatrimoniais, relacionados ao direito de família (exemplos: regulamentação
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A teoria dos atos inexistentes surgiu na França, na obra de Zachariae, para explicar a
ineficácia de certos casamentos não declarados expressamente nulos pela lei. De fato, em matéria
matrimonial, a nulidade é sempre textual, isto é, o casamento só é nulo ou anulável nos casos em
que a lei o declara expressamente. Percebeu-se, porém, que em certos casos a lei não declara
expressamente a nulidade, mas , ao mesmo tempo, seria um absurdo considerá-lo válido diante da
falta de um elemento substancial à perfeição do ato.
Surgiu, então a teoria dos atos inexistentes para negar eficácia a esses casamentos não
declarados nulos pela lei.
Assim, o negócio jurídico inexistente é o que não reúne os elementos essenciais à sua
formação.
Na doutrina, discute-se quais seriam esses elementos essenciais. De acordo com Orlando
Gomes, os pressupostos de existência são apenas a vontade e o objeto.
De fato, todo negócio jurídico é uma declaração de vontade. Sem a vontade o ato não existe.
Exemplos: vontade extorquida pela coação física ou declarada por erro obstativo. Igualmente, se
faltar o objeto, o negócio é também inexistente, como, por exemplo, a compra e venda sem coisa
ou sem preço.
Outra corrente considera que são três os requisitos de existência:
a) Declaração de vontade;
b) Objeto;
c) Forma.
Por outro lado, o negócio jurídico nulo é o constituído em desacordo com a lei. O art. 104 do
CC preceitua que a validade do negócio jurídico requer:
I. agente capaz;
II. objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III. forma prescrita ou não defesa em lei.
Vê-se, assim, que os requisitos de validade complementam os de existência. Com efeito, a
declaração de vontade deve emanar de agente capaz, o objeto deve ser lícito, possível,
determinado ou determinável e a forma deve ser a prescrita ou a não defesa em lei.
O ato inexistente não produz qualquer consequência jurídica, além disso, nunca poderá
convalidar-se.
Em regra, a inexistência para ser reconhecida, independe de ação judicial, devendo o negócio
ser simplesmente ignorado, a não ser em casos excepcionais onde a inexistência depender da
produção de prova testemunhal, como, por exemplo, a arguição de ausência de consentimento no
casamento.
O ato nulo, ao contrário do inexistente, pode ter eficácia como putativo, em homenagem à
boa-fé de um dos contratantes.
O Código Civil não cuida dos atos inexistentes.
Justifica-se a omissão pelo fato de que ao legislar, como salienta Renan Lotufo, já se está no
plano da validade, e, portanto, só se deve operar com os planos da validade e da eficácia.
O negócio jurídico eficaz é o que está apto a produzir efeitos.
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I. agente capaz;
II. objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III. forma prescrita ou não defesa em lei.
AGENTE CAPAZ
OBJETO LÍCITO
O objeto lícito é o que está de acordo com a lei, moral, ordem pública e bons costumes. É
vedado, por exemplo, o contrato de herança de pessoa viva. Igualmente, é nulo o contrato pelo
qual alguém se compromete a realizar cenas de sexo explícito.
Em sendo ilícito o objeto, a nulidade é absoluta (art. 166, II, do CC). Portanto, o
descumprimento do avençado não enseja qualquer indenização por perdas e danos.
OBJETO POSSÍVEL
a. absoluta: quando a prestação for irrealizável por qualquer pessoa. Exemplos: volta ao
mundo em meia hora; viagem para Júpiter. Nesse caso, a nulidade é absoluta, de modo que a parte
não poderá pleitear indenização por perdas e danos.
b. relativa: quando a prestação for passível de realização, embora de difícil concretização.
Exemplos: construção de uma casa em uma semana; escrever um livro em cinco dias etc. Em tal
situação não se invalida o negócio, de modo que a inadimplência poderá ensejar uma indenização
por perdas e danos.
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FORMA
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a. contratos de que forem partes o Banco Nacional de Habitação ou entidades que integram o
Sistema Financeiro de Habitação (Lei 4.380/64);
b. os compromissos de compra e venda e promessa de cessão relativos a imóveis;
c. todos os atos relativos a cédula hipotecária (Dec. 70/66);
d. contratos de venda e compra de imóvel com alienação fiduciária em garantia (Lei
9.514/97).
MOTIVO
Causa é a finalidade econômica e social que a parte tem em mira ao celebrar o negócio
jurídico. Se, por exemplo, alguém compra uma casa para nela instalar um restaurante, essa
finalidade constitui a causa. Esta, distingue-se do objeto. No exemplo, a casa é o objeto; a
finalidade de montar um restaurante é a causa.
Motivo, por outro lado, é o antecedente psíquico da ação. É o móvel psicológico que
impulsiona o agente a celebrar o negócio jurídico. A causa é apenas uma espécie de motivo, pois
este, pode abranger uma infinidade de situações.
O Código de 1916 era anticausalista, porque deixou de incluir a causa entre os requisitos de
validade do negócio jurídico.
O Código de 2002 assumiu uma postura intermediária, pois demonstra uma tendência
causalista, dispondo no art. 166, inciso III, que é nulo o negócio jurídico quando o motivo
determinante, comum a ambas as partes, for ilícito.
Assim, o motivo ilícito, e não apenas a causa, vicia o negócio jurídico quando for comum a
ambas as partes. Basta, para que a nulidade seja decretada, que uma das partes tenha ciência da
má-fé da outra. Se, por exemplo, o locador aluga o imóvel ciente de que a finalidade do locatário é
utilizá-lo como cativeiro de um sequestro, não poderá mover-lhe a ação de cobrança dos aluguéis,
diante da nulidade do contrato. Se, ao revés, o locador estava de boa-fé, o contrato será válido,
viabilizando-se, destarte, a cobrança dos aluguéis. Anote-se que, no exemplo ministrado, o objeto
do negócio, qual seja, a casa alugada, é lícito, recaindo a ilicitude sobre a causa consubstanciada na
finalidade criminosa.
Na compra e venda de maconha, por exemplo, o objeto do negócio é ilícito. Nesse caso, para
a decretação da nulidade, pouco importa a boa-fé de um dos contratantes. Na causa ilícita, ao
revés, a boa-fé de uma das partes impede a nulidade do ato.
Força convir, portanto, que o Código de 2002 não é totalmente causalista nem anticausalista,
tendo assumido uma posição intermediária, atento à boa-fé e à má-fé das partes.
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outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido se
houvessem previsto a nulidade (art. 170). Assim, o negócio nulo pode ser convertido noutro válido,
desde que:
A compra e venda de imóvel, por exemplo, é nula, se for celebrada por instrumento
particular, todavia, poderá ser convertida em compromisso de compra e venda, pois este último
contrato não exige escritura pública. Outro exemplo: a nota promissória nula por falta de requisito
essencial pode ser convertida em confissão de dívida. A conversão não pode ser determinada ex
officio, urge que seja arguida pelas partes ou por terceiro juridicamente interessado.
V. for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade. Assim, a
falta de legitimação, nos casos exigidos pela lei, pode ser causa de nulidade absoluta ou relativa,
conforme seja ou não essencial essa formalidade. Se o interesse tutelado for público, haverá
nulidade absoluta; se for privado, a nulidade será relativa. Quando, porém, a lei exigir autorização,
a nulidade é relativa, podendo o ato ser validado pela posterior ratificação desse terceiro (art.176
do CC).
VI. tiver por objetivo fraudar lei imperativa. O ato com fraude à lei, vale dizer, para subtrair-se
à sua aplicação, reveste-se de nulidade absoluta.
VII. a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Quando
a lei usa a expressão “é nulo” ou outra equivalente, a nulidade é absoluta. Em contrapartida, a
nulidade é relativa quando a lei usa a expressão “é anulável”. Às vezes, porém, a lei proíbe a prática
do negócio, mas permanece silente sobre o ato ser nulo ou apenas anulável. Em tal situação, o
negócio jurídico, em princípio, será nulo. Todavia, como observa Sílvio Venosa, “poderão existir
situações nas quais o negócio se apresenta aparentemente como nulo, mas a interpretação
sistemática o faz entender como anulável. Devemos ter em mente que a nulidade repousa sempre
em causa de ordem pública, enquanto a anulabilidade tem vista mais acentuadamente o interesse
privado”.
Finalmente, a última causa de nulidade absoluta é a simulação. Com efeito, dispõe o art. 167
do CC que: “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
substância e na forma”.
O negócio jurídico é anulável, conforme preceitua o art. 171 do CC, nas seguintes hipóteses:
O negócio ainda será anulável nos casos expressamente declarados na lei. Dispõe, por
exemplo, o art. 496 do CC que: “É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os
outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido”. É também
anulável o negócio por falta de autorização nos casos que a lei exige (art.176 do CC).
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interessado. No caso de incapacidade relativa, a nulidade relativa só pode ser arguida pelo incapaz
ou pelo seu representante legal, vedando-se a arguição pela outra parte a não ser quando se tratar
de obrigação indivisível (art.105 do CC).
Curável ou sanável, porque o negócio anulável pode ser confirmado pela parte a quem a lei
protege. A ratificação ou confirmação purifica o negócio, que, por consequência, torna-se válido.
Com efeito, preceitua o art. 172 do CC que: “O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes,
salvo direito de terceiro”. A ratificação, como se vê, não pode prejudicar direitos de terceiros. Se,
por exemplo, um menor relativamente incapaz aliena um imóvel sem a assistência de seu
representante legal, a venda será anulável, de modo que, ao completar 18 anos, poderá ratificá-la,
sanando o vício. Se, no entanto, ao completar a maioridade civil, ao invés de ratificar a venda,
alienou o mesmo imóvel a um terceiro de boa-fé, não poderá ratificar a primeira venda, porque a
ratificação prejudicará os direitos deste terceiro. Portanto, o negócio anulável não pode ser
ratificado quando se efetuou um segundo negócio válido com terceiro de boa-fé.
A ratificação pode ser expressa e tácita. A ratificação expressa deve fazer menção às cláusulas
mais importantes do negócio, todavia, não se exige que se mencione expressamente o defeito a ser
sanado. Com efeito, dispõe o art.173 do CC: “O ato de confirmação deve conter a substância do
negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo”. Registre ainda que essa ratificação deve ter a
mesma forma prescrita para o negócio primitivo. Assim, a ratificação de uma venda de imóvel, por
exemplo, deve ser feita por escritura pública.
A ratificação tácita, por sua vez, consiste na execução completa ou parcial da obrigação, não
obstante a ciência do vício que o inquinava. Exige-se, portanto, dois requisitos:
a) cumprimento total ou parcial, da obrigação;
b) conhecimento do vício que maculava o negócio. Assim, a compra de um bem efetuado por
relativamente incapaz sem assistência, por exemplo, é passível de ratificação tácita, se o
representante legal efetuar o pagamento da primeira prestação. Igualmente, se contribuir para a
realização de benfeitorias no bem. Vê-se, portanto, que a ratificação pode ser unilateral.
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Decretada a nulidade, seja ela absoluta ou relativa, o negócio é desfeito, como se nunca
tivesse existido, reconduzindo-se as partes ao estado anterior à sua celebração. Assim, anulando o
testamento, por exemplo, o herdeiro deve restituir os bens herdados. Anulada a compra e venda, o
vendedor restitui o preço e o comprador a coisa.
A nulidade pode ser total e parcial. A primeira afeta o negócio jurídico inteiramente; a
segunda destrói apenas uma ou algumas cláusulas.
Em regra, vigora o princípio da incomunicabilidade das nulidades, segundo o qual a nulidade
parcial de um negócio não o prejudica na parte válida se esta for da outra separável (art.184 do CC).
Assim, anulado o testamento pelo fato de ter invadido a legítima dos herdeiros necessários,
subsiste a validade na parte de reconhecimento de filho. Outro exemplo: anulada a cláusula do
divórcio, que versa sobre a herança de pessoa viva, o restante do acordo permanece válido.
O princípio da incomunicabilidade das nulidades comporta duas exceções.
A primeira é quando não for possível a separação da parte não atingida pela nulidade.
Anulada uma das cláusulas de transação, por exemplo, toda a transação será nula, por força do
princípio da indivisibilidade da transação. A segunda é a invalidade da obrigação principal, que
implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal. Assim,
anulada a compra e venda, anulam-se também as obrigações acessórias, como a hipoteca, o
penhor, a cláusula penal, etc. Todavia, a nulidade da obrigação acessória não atinge a obrigação
principal, exceto na hipótese de condição ilícita, em que a nulidade da condição atinge a obrigação
principal (art. 123, II, do CC).
Finalmente, a invalidade do instrumento, isto é, da forma escrita, não contamina o negócio
jurídico, sempre que este puder provar-se por outro meio (art.183 do CC). Assim, nos negócios
solenes, a nulidade do instrumento invalida também o negócio jurídico, mas nos negócios de forma
livre, que foram celebrados por escrito, a nulidade do instrumento não anula o negócio jurídico,
pois este poderá provar-se por outros meios.
Dispõe o art. 180 do CC que: “O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para
eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela
outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.
Vê-se, portanto, que o menor, ao agir com dolo quanto à sua idade, ocultando-a ao ser
interrogado pela outra parte, ou, então, declarando-se espontaneamente maior, fica inibido de
mover a ação anulatória do negócio jurídico, equiparando-se, destarte, ao maior, apesar de o ato
ter sido celebrado sem a assistência de seu representante legal.
De acordo com Sílvio Rodrigues, a regra do art. 180 do CC, para ser aplicada, não basta que o
menor tenha agido com dolo, urge ainda o erro escusável da outra parte. Tratando-se, por
exemplo, de menor com aparência infantil, a outra parte deve desconfiar. Nesse caso, o erro é
inescusável, fruto da negligência, viabilizando-se a anulação do negócio.
Finalmente, o aludido dispositivo legal é inaplicável ao menor de dezesseis anos, cujo negócio
praticado sem a representação de seu representante legal reveste-se de nulidade absoluta.
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CONDIÇÃO
CONCEITO
Dispõe o art. 121 do CC: “Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da
vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”.
a) futuridade do evento;
b) incerteza do evento.
Evento futuro é o que ainda não aconteceu. Se já aconteceu, não é condição, mas um ato
puro e simples, ainda que a parte ignore a sua ocorrência, que, porém, só surtirá efeito se o fato
realmente se verificou. Alguns autores a denominam de condição imprópria. Vejamos o exemplo de
Spencer Vampré: prometo certa quantia se premiado for meu bilhete da loteria que correu ontem.
Se o bilhete havia sido premiado, a promessa de doação é válida, como sendo pura e simples; se, ao
revés, não havia sido premiado, a promessa é nula e ineficaz, tendo em vista a absoluta
impropriedade do objeto.
Evento incerto, por sua vez, é o que pode ou não ocorrer. Urge que a incerteza seja objetiva,
real, e não meramente subjetiva, oriunda da ignorância do agente. Tratando-se de fato futuro e
certo, como a morte, haverá termo, e não condição.
CONDIÇÕES IMPOSSÍVEIS
a) fisicamente impossíveis;
b) juridicamente impossíveis.
São as que contrariam as leis da natureza. Por exemplo: dar-te-ei cem mil reais, se
conseguires ressuscitar um morto. Essas condições, quando suspensivas, isto é, impeditivas da
aquisição do direito, como no exemplo ministrado, invalidam os negócios jurídicos que lhe são
subordinados, por força do art. 123, I, do Código Civil. Se, porém, constar como condição resolutiva,
serão tidas como inexistentes, vale dizer, não escritas. Tal ocorre, por exemplo, quando o doador
prevê a extinção da liberalidade, quando um morto ressuscitar. Nesse caso, a doação reputa-se
pura e simples, considerando-se não escrita essa condição resolutiva, isto é, extintiva da obrigação.
De fato, dispõe o art. 124 do CC: “Tem-se por inexistentes as condições impossíveis, quando
resolutivas, e as de não fazer coisa impossível”. Como exemplo de condição de não fazer coisa
impossível, podemos citar a doação sob a condição de o donatário não morrer ou de não piscar
mais os olhos. Nesses casos, a condição reputa-se não escrita, mas o negócio permanece válido.
Assim, as condições fisicamente impossíveis, para invalidarem o negócio, devem revestir-se
de dois requisitos:
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Em contrapartida, o negócio jurídico será válido, anulando-se apenas a condição, quando esta
for:
a) resolutiva, ainda que positiva. Exemplo: te dôo essa casa, desde já, mas se alguém
conseguir dar a volta ao mundo a pé em dois dias, a doação será extinta.
b) negativa, isto é, de não fazer coisa impossível. Nesse caso, o negócio será válido ainda que
a condição seja suspensiva. Exemplo: dar-te-ei tal objeto, se abstiveres de viajar numa máquina do
tempo.Tem-se por inexistente essa condição de não fazer, mas o negócio é válido como puro e
simples.
São as que contrariam o ordenamento jurídico, isto é, a lei, a ordem pública e os bons
costumes, e, por isso, jamais podem realizar-se. Exemplo: dar-te-ei cem mil reais se o Congresso
Nacional suprimir da Constituição Federal a inviolabilidade do direito à vida.
A condição juridicamente impossível, quando suspensiva, como no exemplo ministrado,
invalida o negócio jurídico que lhe é subordinado (art.123, I). Se, porém, for resolutiva, o negócio
jurídico é válido, como se não houvesse a condição, que será tida como inexistente (art. 124).
Tal ocorre, por exemplo, quando o doador diz: essa doação será extinta quando o Congresso
nacional suprimir da Constituição Federal a inviolabilidade do direito à vida.
No sistema do Código de 1916, as condições juridicamente impossíveis sempre anulavam o
negócio jurídico, fossem elas suspensivas ou resolutivas. No Código atual, apenas as condições
suspensivas têm o condão de anular o negócio jurídico.
a) condição puramente potestativa: é a que se sujeita ao puro arbítrio de uma das partes, vale
dizer, a sua ocorrência depende exclusivamente da vontade da pessoa, independentemente de
qualquer fator externo. Exemplo: dar-te-ei cem mil reais o dia em que eu vestir meu terno azul ou o
dia em que eu disser que te odeio. Dispõe o art.122, 2ª parte, que são defesas, isto é, ilícitas, essas
condições puramente potestativas, invalidando todo o negócio jurídico, por força do inciso II do art.
123 do CC.
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A condição mista é a que depende da vontade de uma das partes e de um fato casual ou da
vontade de uma das partes juntamente com a vontade de uma terceira pessoa. Exemplo: dar-te-ei
mil reais se caminhares na chuva que cairá amanhã. Outro exemplo: dar-te-ei cem mil reais se
casares com Maria. As condições casuais e mistas também são válidas.
Finalmente, a condição promíscua é a inicialmente puramente potestativa, que acaba se
tornando dificultosa, em virtude de circunstâncias supervenientes e independentes da vontade do
sujeito. Exemplo: dar-te-ei mil reais se ergueres o braço, sendo certo que, no dia seguinte, tu sofre
um acidente, paralisando-te o braço.
As condições ilícitas são todas que contrariam a lei, a ordem pública e os bons costumes, mas
que, no entanto são passíveis de realização. Tal ocorre, por exemplo, com a condição de se
prostituir ou de matar alguém.
As condições juridicamente impossíveis, além de contrariarem a lei, a ordem pública e os
bons costumes, são insuscetíveis de realização. Tal ocorre, por exemplo, com a condição imposta ao
pai de emancipar voluntariamente o filho antes dos 16 anos de idade.
Enquanto a condição ilícita sempre invalida o negócio jurídico, seja ela suspensiva ou
resolutiva, por força do inciso II do art. 123 do CC, que não faz distinção, a condição juridicamente
impossível, ao inverso, só invalida o negócio jurídico subordinado a condição suspensiva,
preservando-se, destarte, a validade dos negócios sob condição resolutiva, como sendo puro e
simples, reputando-se inexistente a condição, por força do art. 124 do CC.
As condições ilícitas sempre contaminam o negócio jurídico, invalidando-o, sejam elas
positivas ou negativas; as condições juridicamente impossíveis só viciam o negócio quando forem
positivas, se forem negativas reputam-se inexistentes, preservando-se a validade do negócio, por
força da última parte do art. 124 do CC.
CONDIÇÕES SUSPENSIVAS
Condição suspensiva é a que impede a eficácia do negócio jurídico até a realização do evento
futuro e incerto. O negócio só adquire eficácia após o implemento da condição. Exemplo: dar-te-ei
minha casa se o Brasil vencer a Copa do Mundo de futebol.
A condição suspensiva deve ser analisada sob três estados diferentes:
a) o estado de pendência: é o que perdura enquanto não se verifica o evento futuro e incerto.
Dispõe o art. 125 do CC que: “Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva,
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa”. Portanto, nesse
estado, não há direito adquirido, de modo que não se pode mover ação judicial para exigir a
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prestação, pois esta ainda não é devida; a prescrição não está fluindo; e se o devedor pagar, por
erro, supondo ter ocorrido a condição, terá direito a reaver o que pagou, movendo a ação de
repetição de indébito. Todavia, o titular do direito condicional pode praticar atos destinados a
conservá-lo, por força do art. 130 do CC, como pedir a abertura de inventário e mover as ações
cautelares necessárias.
b) estado de implemento da condição: é o que gera a aquisição do direito, que, de condicional
passa a ser adquirido.
c) estado de frustração: quando não se verifica a condição. Nesse caso, é como se nunca
houvesse existido a estipulação. Sobre o assunto, dispõe o art. 129 do CC: “Reputa-se verificada,
quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a
quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente
levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento”. Referido dispositivo também
aplicável à condição resolutiva.
Assim, com a frustração da condição, não se adquire o direito, salvo se a parte a quem ela
desfavorecer dolosamente impedir a sua ocorrência. A expressão maliciosamente, para uns,
abrange apenas o dolo, para outros compreende também a culpa grave.
CONDIÇÕES RESOLUTIVAS
Condição resolutiva é o fato futuro e incerto que, uma vez ocorrido, provoca a extinção do
direito. Exemplo: “A” doa uma casa para “B”, estatuindo que a doação será extinta na hipótese de
certo candidato vencer uma determinada eleição. Com efeito, dispõe a 1ª parte do art. 128 do CC:
“Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe”.
Assim, na condição resolutiva, o negócio aperfeiçoa-se desde logo, mas sua eficácia fica
ameaçada pelo acontecimento futuro e incerto.
A condição resolutiva pode também ser considerada sob três aspectos:
O titular de um direito sob condição resolutiva pode transferi-lo, por ato “inter vivos” ou
“causa mortis”, todavia, a condição remanesce intacta, pois essa alienação não tem o condão de
transformar o negócio em puro e simples. Desde que a condição conste no Registro de Imóveis, a
extinção do negócio retroagirá inclusive para apagar os direitos reais constituídos em favor de
terceiros, pois o registro inibe a aquisição de boa-fé.
TERMO
CONCEITO
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CLASSIFICAÇÃO
a. termo inicial (dies a quo) ou suspensivo: é o que suspende o exercício do direito, pois fixa o
dia em que o negócio começará a produzir efeitos.Exemplo: a doação terá início a partir de 1º de
janeiro de 2030. Dispõe o art. 131 do CC que: “O termo inicial suspende o exercício, mas não a
aquisição do direito”. Portanto, o direito sob termo é considerado direito adquirido. Distingue-se da
condição suspensiva, pois esta impede a aquisição do direito. Ademais, no termo, o evento é futuro
e certo; na condição, é futuro e incerto. O devedor que paga uma dívida antes do termo, não pode
reaver o que pagou; se, ao revés, efetuar o pagamento antes da condição, torna-se viável a
repetição do pagamento. Se a coisa perecer por caso fortuito ou força maior antes do advento do
termo, não há direito à indenização, pois os riscos da coisa são suportados pelo credor.
b. termo final (ad quem ou ad diem) ou resolutivo: é o que extingue o direito. Exemplo: a
locação se extinguirá em 02 de fevereiro de 2030. Assemelha-se à condição resolutiva, pois em
ambos o direito é extinto. O termo, porém, é um acontecimento futuro e certo, ao inverso da
condição, que é futuro e incerto. Ademais, a extinção em razão do advento do termo produz efeitos
“ex nunc”, sem que haja retroatividade; na condição resolutiva, ao revés, os efeitos são “ex tunc”,
retroativos, salvo quando se tratar de negócio de execução continuada ou periódica.
a. termo certo: é o que se reporta a um fato certo e com data certa. Exemplos: 07 de abril de
2020; início da primavera; quando tal pessoa atingir a maioridade.
b. termo incerto: é o que se refere a um fato certo, mas cuja data de ocorrência não se pode
precisar. O fato é certo, mas a data é incerta. Exemplo: dar-te-ei esta casa no dia em que Pedro
morrer. A morte é um fato inexorável, uma certeza matemática, razão pela qual, no exemplo acima,
estamos diante de um termo, e não de uma condição. Se, ao revés, o doador te dissesse: dar-te-ei
esta casa se Paulo morrer antes de Pedro, há condição e não termo, porque o evento é incerto.
Os atos ou negócios que não admitem termo nem condição, dentre outros, são os seguintes:
CONCEITO
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A condição suspensiva impede a aquisição e exercício do direito, ao passo que o encargo não
suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente constar no ato como
condição suspensiva.
O encargo é coercitivo, pois a pessoa pode ser constrangida a cumprir a obrigação, salvo se o
encargo for personalíssimo, a condição, ao inverso, não coage, porque ninguém pode ser obrigado
a submeter-se a uma condição. Com efeito, se não for cumprido o encargo, o interessado pode
mover ação judicial visando o adimplemento da obrigação; na condição não lhe assiste essa
faculdade.
No encargo, antes mesmo que a obrigação seja cumprida, a pessoa já adquire o direito,
porque não suspende a aquisição nem o exercício do direito.
Denota-se, portanto, que o encargo é menos restritivo que a condição. Na dúvida, o negócio
deve ser tratado como encargo e não condição.
Nada obsta, porém, que o estipulante discipline expressamente o encargo como condição,
conforme preceitua o art. 136 do CC. Washington de Barros Monteiro afirma que a conjunção “se”
serve para indicar que se trata de uma condição, enquanto o emprego das locuções “para que”, “a
fim de que”, com a obrigação de, denota a presença de encargo. Haverá condição no seguinte
exemplo: dou-te tal terreno se nele construíres um asilo. Em contrapartida, haverá encargo quando
disseres: dou-te tal terreno para o fim de construíres um asilo.
Na condição, a aquisição e o exercício do direito só ocorrerão após a construção do asilo; no
encargo, adquire-se desde logo o terreno. Se descumprida a condição, não será possível exigir o
adimplemento da obrigação, isto é, a construção do asilo; no encargo, admite-se a ação judicial
visando o seu cumprimento. Se o descumprimento do encargo emanar de caso fortuito ou força
maior, o donatário estará liberado, mantendo-se, porém, a doação, como sendo pura e simples,
pois a doação, ainda que sujeita a encargo, não perde o caráter predominante de liberalidade. No
encargo imposto como condição suspensiva, não executado aquele, ainda que por caso fortuito ou
força maior, o donatário deixará de adquirir o direito.
LESÃO
CONCEITO E ESPÉCIES
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“Ocorre a lesão quando uma pessoa sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”. Como se vê, não basta o
lucro desproporcional, é ainda mister a situação de necessidade ou inexperiência da parte lesada.
Na lesão especial, consagrada pelo Código Civil, não se exige o dolo de aproveitamento, que é
a má-fé da parte beneficiada, o intuito de obter vantagem excessiva da situação de necessidade da
outra parte.
Finalmente, a lesão usurária ou usura real, além do lucro excessivo e da situação de
necessidade ou inexperiência da parte lesada, para se caracterizar, exige ainda o dolo de
aproveitamento, consistente na má-fé da parte beneficiada, que celebra o negócio jurídico ciente
da necessidade ou inexperiência do outro contratante. Essa lesão é prevista no art. 4º da Lei
1.521/51, encontrando-se tipificada como crime contra a economia popular, caso o lucro
patrimonial exceda a um quinto do valor da prestação, isto é, 20% (vinte por cento). Nesse caso, de
acordo com Silvio Rodrigues, a nulidade é absoluta, por ilicitude do seu objeto. O § 3º do mesmo
artigo manda o juiz ajustar os lucros usurários à medida legal, devendo ordenar a restituição da
quantia paga em excesso, com os juros legais, de modo que a situação não é de nulidade absoluta,
mas relativa, pois o ato é preservado na parte válida.
Vimos que o Código Civil adotou a lesão especial, cujo reconhecimento depende de dois
requisitos:
EFEITOS DA LESÃO
Presentes esse requisitos acima, a parte lesada pode pleitear a anulação do negócio jurídico.
Faculta-se, contudo, à parte favorecida oferecer suplemento suficiente para o reequilíbrio das
prestações, ou concordando com a redução do proveito, abatendo o preço, evitando-se, destarte, a
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anulação do negócio. Se, por exemplo, pagou-se quarenta mil reais em um apartamento que valia
setenta mil reais, ao ser citado para a ação anulatória poderá efetuar o complemento do preço,
depositando a diferença de trinta mil reais. Esse pedido de preservação do negócio jurídico, porém,
deve ser feito em reconvenção.
Nada obsta que a parte lesada formule pedido subsidiário: revisão judicial e a anulação do
negócio jurídico, devendo este último pedido ser acolhido apenas na hipótese de a parte favorecida
não concordar com a redução do proveito.
SIMULAÇÃO
CONCEITO
Simulação é o acordo entre as partes, para dar existência real a um negócio jurídico fictício,
ou, então, para ocultar o negócio jurídico realmente realizado.
Trata-se de uma declaração enganosa da vontade, que oferece ao negócio jurídico uma
aparência diversa da desejada pelas partes. Estas, de comum acordo, fingem praticarem o negócio
simulado. A simulação não é vício de consentimento, porque o desacordo entre a vontade interna e
a declarada é intencional. É um vício social, pois a vontade é conscientemente declarada,
enganando terceiros ou violando a lei.
REQUISITOS
a. Acordo entre as partes, ou com a pessoa a quem ela se destina. Assim, na simulação existe
um conluio entre as partes. Todavia, os atos unilaterais também a admitem, desde que se verifique
esse conluio entre declarante com outra pessoa. Exemplo: homem casado promete recompensa a
quem devolver certo objeto que ele diz ter perdido, mas na verdade havia deixado com a sua
concubina, combinando com esta a devolução para entregar-lhe a recompensa. Denota-se que essa
promessa de recompensa não passa de um negócio simulado para encobrir o negócio verdadeiro,
qual seja, a doação. O testamento é outro exemplo de ato unilateral passível de simulação.
b. Declaração enganosa da vontade. Há, pois, desconformidade consciente entre a vontade
declarada e a vontade interna. As partes, como observa Silvio Rodrigues, não querem o negócio
declarado, mas tão-somente fazê-lo aparecer como querido. O conteúdo do ato é falso, isto é,
narra uma mentira, caracterizando-se, inclusive, o crime de falsidade ideológica, previsto no art.
299 do CP. Saliente-se, assim, que, na simulação, há uma falsidade ideológica ou intelectual,
recaindo apenas sobre o conteúdo do negócio jurídico. Este, sob o aspecto formal, apresenta-se
perfeito. Diferentemente ocorre com a falsidade material, que incide sobre o conteúdo e também
sobre os aspectos formais, consistindo, pois, numa contrafação física, isto é, numa alteração do
documento verdadeiro, através da inserção de novos dizeres.
ESPÉCIES
a) absoluta;
b) relativa;
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c) objetiva;
d) subjetiva;
e) maliciosa;
f) inocente.
Simulação subjetiva é aquela em que o negócio jurídico transmite direitos a certa pessoa,
para que esta os repasse a outra. Nessa simulação, o negócio jurídico beneficia aparentemente o
testa-de-ferro ou prestanome ou homem de palha, mas o verdadeiro beneficiado é outra pessoa.
Exemplo: homem casado simula doar imóvel para um amigo, para que este o repasse
gratuitamente à sua concubina. Outro exemplo: o pai, desejando vender um bem para seu filho,
diante da oposição dos demais filhos, finge doar para um amigo, em seguida, realiza a venda
desejada. Se o simulador, que adquiriu aparentemente o bem ou direito, celebrar algum contrato
com terceiro de boa-fé, os direitos deste serão respeitados. Com efeito, dispõe o § 2º do art. 167
que: “Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico
simulado”.
A simulação subjetiva só se caracteriza quando o testa-de-ferro transmite o bem à pessoa a
quem o negócio visa beneficiar. Enquanto isso não se realiza, não se pode falar em nulidade.
Por outro lado, diz-se objetiva a simulação quando o negócio jurídico contém declaração não
verdadeira. Assim, simulação objetiva é a que diz respeito à natureza do negócio, ao objeto ou a um
dos elementos contratuais. Exemplo: escritura pública de compra e venda com preço inferior ao
real; quando os instrumentos particulares forem ante-datados, ou pós-datados; quando o negócio
jurídico contiver declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira.
Simulação inocente é a que não objetiva violar a lei ou prejudicar terceiro. Tal ocorre, por
exemplo, na doação mascarada de compra e venda feita por homem solteiro à sua concubina. O
Código de 1916 continha dispositivo expresso, reputando valido o negócio jurídico. O Código de
2002 é omisso. Todavia, como adverte Fábio Ulhoa Coelho:
“Se a simulação não prejudica terceiro, não existe como tal e deve ser considerado válido o
negócio praticado em descompasso com a verdadeira intenção das partes. Assim, se uma pessoa
precisa viajar mas deve assinar documento particular com data futura, por razões de conveniência
das partes, não havendo nenhum prejuízo a terceiro, não se configura a simulação”. O certo,
porém, é que o Código Civil fulmina a simulação com nulidade absoluta, sem abrir exceção para a
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simulação inocente que, por isso mesmo, também é causa de nulidade absoluta. A propósito,
dispõe o enunciado 152 do CJF: “Toda simulação, inclusive a inocente, é invalidante”.
Simulação fraudulenta ou maliciosa, por sua vez, é a que objetiva fraudar a lei ou prejudicar
terceiros. Nesse caso, o ato será nulo. Há a intenção de enganar terceiros ou violar a lei. Enquanto
no dolo, uma das partes é enganada, na simulação as partes têm ciência da burla, concretizada para
enganar terceiro. Assim, não é possível a coexistência, no mesmo negócio, de dolo e de simulação.
EFEITOS
A simulação, seja ela absoluta, relativa, objetiva ou subjetiva, maliciosa ou inocente, provoca
a nulidade absoluta do negócio jurídico.
Portanto, esse vício deve ser decretado de ofício pelo magistrado.
No Código de 1916, os simuladores não podiam arguirem o vício em juízo, um contra o outro,
ou contra terceiro. No Código atual, não existe essa restrição, pois a nulidade é absoluta, podendo
ser suscitada pelas partes ou qualquer interessado, devendo ainda o juiz pronunciar-se de ofício.
A ação de nulidade do negócio jurídico é imprescritível. De fato, o negócio jurídico nulo não é
suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo (art. 169). Abre-se exceção ao
testamento simulado, que é nulo, mas se convalida se a ação de nulidade não for proposta em 5
(cinco) anos, a contar do seu registro (art. 1.859 do CC).
Por outro lado, subsistirá o que se dissimulou se válido for o negócio na substância e na
forma.
Tal ocorre, por exemplo, na simulação relativa, desfeito o negócio aparente cumpre examinar
a validade do negócio verdadeiro, que poderá manter-se intacto caso sua prática seja permitida
pelo direito (validade substancial) e seja observado o modelo legal (validade formal). Sobre o
assunto, o enunciado 153 do CJF reza: “Na simulação relativa, o negócio jurídico simulado
(aparente) é nulo, mas o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a
terceiros”. O enunciado 293 do CJF complementa que: “Na simulação relativa, o aproveitamento do
negócio jurídico dissimulado não decorre tão somente do afastamento do negócio jurídico
simulado, mas do necessário preenchimento de todos os requisitos substanciais e formais da
validade daquele”.
Por outro lado, na simulação inocente, o negócio jurídico dissimulado é válido, pois não há a
intenção de prejudicar terceiros, ou de violar disposição de lei. Também é possível a simulação
absoluta inocente, como, por exemplo, a confissão de dívidas entre “A” e “B” para evitar suicídio
alheio.
Na simulação relativa inocente, o primeiro negócio é nulo, mas o segundo será válido, se
preencher os requisitos substanciais e formais.
Em contrapartida, na simulação absoluta inocente, a nulidade atinge o negócio jurídico, não
subsistindo nenhum outro sucedâneo, porquanto a vontade das partes não se dirige à realização de
qualquer negócio.
RESERVA MENTAL
CONCEITO
Reserva mental é a declaração de vontade com a intenção de não cumpri-la, visando enganar
o declaratário ou terceiro. Tal ocorre, por exemplo, quando o vendedor aliena o objeto, mas não
tem a intenção de entregá-lo.
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Pode-se dizer que reserva mental é o inadimplemento premeditado; é o não querer o que
manifestou.
GENERALIDADES
Dispõe o art. 789 do CPC/2015 que: “O devedor responde com todos os seus bens presentes e
futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”.
Em regra, portanto, o patrimônio do devedor responde por suas dívidas, ressalvando-se alguns
bens, como, por exemplo, o bem de família. No direito moderno, não há prisão civil por dívida, a não ser
nos casos de devedor de alimentos e depositário infiel (art. 5.º, LXVII, da CF). Toda via, a súmula
vinculante nº 25 do STF preceitua: “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito”. Esta proibição já constava no pacto de São José da Costa Rica, ao qual o Brasil
aderiu em 1992.
O devedor insolvente, que é aquele cujo patrimônio passivo é superior ao ativo, encontra-se
proibido de alienar bens, justamente para não desfalcar a garantia de seus credores. Se, porém,
não obstante a proibição legal, ele praticar atos de disposição de seus bens, haverá fraude contra
credores ou fraude de execução.
Pode-se dizer, assim, que bens pertencentes a terceiros respondem pelas dívidas do devedor,
quando aqueles o houverem adquiridos mediante fraude contra credores ou fraude de execução.
CONCEITO E REQUISITOS
Fraude contra credores é o negócio jurídico realizado pelo devedor insolvente, ou que o
conduz à insolvência, suscetível de diminuir ainda mais o seu patrimônio.
O devedor solvente, que é aquele cujo patrimônio ativo é superior ao passivo, tem plena
liberdade para dispor de seus bens. Todavia, ao se tornar insolvente, sofre restrição ao seu direito
de propriedade, pois não lhe é mais lícito a realização de atos de alienação, seja onerosa ou
gratuita, a não ser mediante a anuência de todos os credores.
Urge, para a caracterização da fraude contra credores, a presença de três requisitos:
consilium fraudis, insolvência e eventus damni.
Nos negócios jurídicos onerosos faz-se necessária a presença de todos esses requisitos.
Entretanto, nos negócios jurídicos gratuitos, como a doação e o testamento, dispensa-se a
comprovação do consilium fraudis, pois a lei o presume de forma absoluta.
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CONSILIUM FRAUDIS
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INSOLVÊNCIA
EVENTUS DAMNI
AÇÃO PAULIANA
Tanto a fraude contra credores quanto a fraude de execução têm por pressupostos: o
consilium fraudis, a insolvência e o eventus damni.
A linha divisória entre uma e outra fraude é o momento da alienação do bem.
Uma primeira corrente sustenta que a fraude à execução ocorre quando o insolvente aliena
bens após a citação em uma ação patrimonial onde figura como réu ou executado.
Uma segunda corrente preconiza que, para configuração da fraude à execução, basta que o
insolvente aliene bens após o ajuizamento dessa ação patrimonial.
Assim, para uns, a alienação antes da citação é fraude contra credores; após a citação, fraude
à execução. Outros, no entanto, sustentam que a alienação após o ajuizamento da ação já configura
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CONCEITO
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O prazo prescricional só pode emanar da lei, o prazo decadencial advém também da lei, mas
se o direito for disponível, pode ainda resultar da vontade unilateral ou bilateral. Nada obsta, por
exemplo, um prazo decadencial fixado pelo testador.
O Juiz deve decretar de ofício a prescrição, por força da Lei nº 11.280 de 16 de fevereiro de
2006. Quanto à decadência, preceitua o art. 210 do CC: “Deve o juiz, de ofício, conhecer da
decadência, quando estabelecida em lei”. Observe-se, contudo, que a decadência convencional,
estabelecida pela vontade das partes, não deve ser decretada de ofício.
O ideal é o juiz, antes de decretar a prescrição, intimar o devedor para ele se manifestar,
tendo em vista que, por razões morais, às vezes o devedor tem o desejo de efetuar o pagamento,
optando pela renúncia à prescrição. Se o devedor renunciar à prescrição e efetuar o pagamento,
aplica-se o art. 487, III, a, do CPC/2015 (reconhecimento do pedido), mas se renunciar à prescrição
e ofertar contestação para discutir a existência do débito, o processo deve prosseguir. Há sim
interesse em renunciar à prescrição e ao mesmo tempo discutir o débito, provar que se trata de
cobrança indevida e pleitear, em reconvenção, a indenização pelas perdas e danos. Se o devedor ao
ser intimado para manifestar-se sobre a prescrição, quedar-se inerte, significa que não houve
renúncia, pois a renúncia é interpretada restritivamente (art. 114 do CC).
Finalmente, os prazos prescricionais não podem ser alterados por acordo das partes (art.
192). Assim, as partes não podem ampliá-los nem suprimi-los. Em contrapartida, os prazos
decadenciais, desde que o direito seja disponível, pode perfeitamente ser ampliado ou reduzido por
convenção das partes.
RENÚNCIA À PRESCRIÇÃO
Renúncia da prescrição é o ato pelo qual o devedor abre mão do direito de argui-la.
O Código proíbe a renúncia prévia, antecipada. Noutras palavras, não se pode renunciar a um
prazo prescricional ainda em curso. Consumado, porém, esse prazo, a renúncia torna-se lícita.
Assim, por exemplo, um prazo prescricional de 10 (dez) anos só poderá ser renunciado após o
decurso desse decênio.
No tocante à decadência, quando o prazo é fixado em lei, é nula a renúncia, seja ela prévia ou
consumada, por força do art. 209 do CC. Tratando-se, porém, da decadência convencional, a
renúncia é sempre admitida, pouco importando se o prazo encontra-se em curso ou já consumado.
Na primeira, o prescribente declara por escrito que não pretende arguir a prescrição; na
segunda, ele pratica algum ato positivo, incompatível com o desejo de alegar a prescrição, como
uma carta reconhecendo a dívida ou um pedido de parcelamento do débito.
Convém ainda esclarecer que a renúncia, além de exigir uma prescrição consumada, não pode
prejudicar terceiros. Urge, portanto, que o renunciante seja solvente. Se for insolvente, a renúncia
poderá ser cancelada pelos credores, através da ação pauliana.
A prescrição e a decadência podem ser alegadas em qualquer grau de jurisdição (arts. 193 e
211).
O momento adequado para a arguição, contudo, é a contestação.
A prescrição e a decadência são exceções peremptórias, porque provocam a extinção do
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No impedimento, o prazo prescricional não chega a se iniciar. Tal ocorre, por exemplo,
quando alguém causa prejuízo a uma criança de três anos. Nesse caso, o prazo para propositura da
ação indenizatória só começará a fluir quando a vítima completar 16 anos de idade. De fato,
conforme veremos logo adiante, não corre a prescrição contra os absolutamente incapazes. Nada
obsta, porém, que o representante legal mova a aludida ação, em nome do incapaz, não havendo
necessidade de se aguardar que este atinja os 16 anos de idade.
Na suspensão, o prazo prescricional em curso sofre uma parada temporária, continuando, de
onde havia parado, após a cessação do obstáculo.
Tal ocorre, por exemplo, quando morre o credor e o seu único herdeiro tem 8 anos de idade.
Nessa situação, se já havia transcorrido seis anos do prazo prescricional de dez, após o seu
herdeiro completar 16 anos, o prazo retoma o seu curso, restando apenas quatro anos para a
consumação da prescrição.
Finalmente, na interrupção, o prazo prescricional em curso reinicia-se por inteiro,
desconsiderando-se o período anteriormente transcorrido.
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“contra non valentem agere non currit praescriptio”, isto é, contra incapaz de agir não corre
prescrição, deve ser aplicada por equidade, a despeito da omissão do Código. Assim, por exemplo,
se, em razão de alguma revolução (guerrilha interna), os fóruns acabam sendo fechados, força
convir que o lapso prescricional deve permanecer suspenso. De acordo com o ilustre civilista, os
casos de suspensão não encerram um rol “numerus clausus”, pois é cabível a aplicação analógica,
sobretudo, quando inspirada por razões de equidade.
Com base nesse mesmo raciocínio, alguns civilistas sustentam, acertadamente, que, durante
a união estável, a prescrição deve permanecer suspensa, pois sendo esta uma entidade familiar
protegida pela Constituição Federal, não deve ser estimulada a propositura de ação entre os
conviventes, para que se preserve a harmonia entre eles.
Finalmente, as causas de impedimento e suspensão da prescrição são personalíssimas, logo
incomunicáveis, salvo quando a obrigação for indivisível (art. 201). Tratando-se, de obrigação
solidária ou divisível, a suspensão em benefício de um dos credores não aproveitará aos outros,
contra os quais a prescrição fluirá normalmente. Acrescente-se, porém, que a herança, por força de
lei, é indivisível, até que sobrevenha a partilha. Portanto, se o crédito do “de cujus” acabou sendo
herdado por vários herdeiros, se um deles for absolutamente incapaz, verifica-se a suspensão da
prescrição em benefício dele, estendendo-se aos demais herdeiros.
De acordo com o art. 202 do CC, a primeira causa interruptiva da prescrição é o despacho do
juiz que ordena a citação do devedor. Aludido despacho, porém, só tem o condão de interromper a
prescrição se o autor promover a citação nos dez dias subsequentes a esse despacho (§2º do art.
240 do CPC/2015).
Saliente-se, contudo, que esse despacho interrompe a prescrição ainda que tenha sido
ordenado por juiz incompetente, sob a condição, porém, de a citação operar-se validamente, pois a
citação nula impede a interrupção da prescrição, ainda que o despacho citatório haja sido ordenado
por juiz competente.
O art. 202, I, do Código Civil, ao referir-se ao despacho do Juiz como ato interruptivo da
prescrição, deve ser interpretado restritivamente, aplicando-se apenas às comarcas de vara única.
Tratando-se de comarca com mais de uma vara cível, a propositura da ação verifica-se com a
distribuição, e não com o despacho que ordena a citação (art. 263 do CPC).
De fato, o §1º do 240 do CPC/2015, prevê que a interrupção da prescrição retroagirá à data
da propositura da ação.
Convém ainda esclarecer que, não se efetuando a citação dentro do prazo de 10 dias, haver-
se-á por não interrompida a prescrição, conforme preceitua o §2º do art. 240 do CPC/2015, a não
ser que a demora tenha sido por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, consoante súmula
106 do STJ e §3º do art. 240 do CPC/2015.
A citação válida feita em processo depois anulado ou então extinto sem resolução do mérito
mantém o seu efeito interruptivo da prescrição, pois a propositura da ação demonstra
inequivocamente que o autor não está inerte. Frise-se, ainda, que a citação deve ser válida; se for
nula, não ocorrerá a interrupção da prescrição. Ressalte-se, contudo, que, nas ações movidas
contra a Fazenda Pública, a citação inicial não interrompe a prescrição quando, por qualquer
motivo, o processo tenha sido anulado, conforme dispõe o art. 7º do Decreto 20.910/32.
A segunda causa de interrupção da prescrição é o protesto judicial, ainda que ordenado por
juiz incompetente (§2º do art. 726 do CPC/2015). Aludido protesto é feito por petição dirigida ao
juiz, que, ao recebê-la, ordena a intimação do devedor. Trata-se, a rigor, de uma simples notificação
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A propósito, o § 1o do art. 921 do CPC/2015 preceitua que quando o executado não possui
bens penhoráveis, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se
suspenderá a prescrição. Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o
executado ou que sejam encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos
(§2o). Decorrido o prazo de que trata o § 1o sem manifestação do exequente, começa a correr o
prazo de prescrição intercorrente (§4o ). O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze)
dias, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição de que trata o § 4o e extinguir o processo (§ 5o ).
O prazo prescricional da fase de execução da ação é o mesmo da ação de conhecimento. Se,
por exemplo, a ação de cobrança prescreve em 10 anos. Após o trânsito em julgado da sentença,
inicia-se o prazo prescricional para a fase de execução, que também será de 10 anos. Essa
prescrição da execução no âmbito do Direito Civil, é conhecida como prescrição superveniente.
Quanto à legitimidade para promover a interrupção da prescrição, o art. 203 do CC a confere
a qualquer interessado. Exemplos: credor; credor do credor; fiador do credor etc.
Por fim, a interrupção da prescrição, em regra, é incomunicável, não beneficia os outros
credores, nem prejudica os demais devedores. Essa regra, porém, comporta as seguintes exceções:
a) na solidariedade ativa, a interrupção promovida por um dos credores beneficia os demais
credores (§ 1º do art. 204);
b) na solidariedade passiva, a interrupção operada contra um dos devedores estende-se aos
demais devedores (§ 1º do art. 204);
c) a interrupção efetuada contra o devedor principal estende-se ao fiador (§ 3º do art. 204).
Trata-se da aplicação da máxima: o acessório segue o principal. A interrupção comunica-se ao
fiador, independentemente de este vir a ser comunicado;
d) na obrigação indivisível, a interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário
prejudica os outros herdeiros ou devedores. Se, porém, a obrigação for solidária, a interrupção contra um
dos herdeiros do devedor solidário não se comunica aos outros herdeiros ou devedores (§ 1º do art. 204).
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE
Conceito
Fundamento constitucional
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Hipóteses legais
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A execução fiscal, que é a movida pela Fazenda Pública, também admite a prescrição
intercorrente, sendo regida pelo art. 40 da Lei 6.830/80.
Sobre o assunto, reza a súmula 314 do STJ:
“Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano,
findo o qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente”.
Por aplicação subsidiária do CPC, também deve fluir a prescrição intercorrente, quando o
devedor não for localizado.
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execução já iniciada.
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