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Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).

Aluno Olivia Oliveira Guimarães


DIREITO CIVIL - SUCESSÕES CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS

DIREITO DAS SUCESSÕES

CONCEITO

Direito das sucessões é o conjunto de princípios e normas que regem a transferência da


herança, ou do legado, ao herdeiro ou legatário, em razão da morte de alguém.
Com a morte, as relações jurídicas não se extinguem, salvo as personalíssimas substituindo-se
apenas o de cujus pelos seus sucessores, mantendo-se todos os demais elementos da obrigação.

FORMAS DE SUCESSÃO

No Brasil, são duas as formas de sucessão: a legítima e a testamentária.


Na sucessão legítima ou ab intestato, defere-se a herança aos herdeiros expressamente
indicados pela lei, cuja ordem de vocação hereditária encontra-se no art. 1.829 do CC.
Dá-se a sucessão legítima quando não houver testamento, ou quando este caducar ou for
anulado por decisão judicial.
Por outro lado, na sucessão testamentária, a herança ou legado são deferidos aos herdeiros
instituídos ou legatários indicados no ato de última vontade. Alguns autores dizem que na sucessão
legítima há um testamento presumido ou tácito, pois ela reflete a vontade presumida do finado.
A liberdade de testar é absoluta ou relativa?
Depende. Em havendo herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge), é
relativa, porque aos referidos herdeiros é reservada a legítima, consistente em metade da herança
líquida, de modo que o testamento só poderá abranger a outra metade disponível. Se, porém, não
houver herdeiros necessários, a liberdade de testar é absoluta, e toda a herança é disponível,
podendo o testador distribuí-la livremente.
Admite-se também a coexistência das duas formas de sucessão, na hipótese de o testamento
não abranger todos os bens, aplicando-se as regras da sucessão legítima em relação aos bens
omitidos no testamento.
Finalmente, no Brasil, não se admite uma terceira forma de sucessão, qual seja a contratual ou
pacta corvina ou sucessão pactícia. De fato, o art. 426 proíbe o contrato de herança de pessoa viva,
quer se trate de pacto aquisitivo (de succedendo), quer renunciativo (de non succedendo). O Código de
1916 abria três exceções: a) nos contratos antenupciais, facultava-se aos nubentes disporem acerca da
recíproca e futura sucessão (art. 312); b) nos contratos antenupciais facultava-se, ainda, a realização de
doação para depois da morte do doador, em favor dos filhos deste; c) os pais, por ato entre vivos,
podiam partilhar os bens entre os descendentes (art. 1.776). O novo Código não repete as duas
primeiras exceções, operando-se a revogação global, mas mantém a terceira, qual seja a partilha inter
vivos (CC, art. 2.018), que se trata de uma verdadeira sucessão antecipada, porém restrita aos bens
presentes.

ABERTURA DA SUCESSÃO

No art.1.784 consagra-se o princípio de saisine, oriundo do direito francês, segundo o qual


com a morte a herança transmite-se desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários, ainda
que estes ignorem o falecimento. A transmissibilidade abrange o domínio e a posse da herança (CC,
art. 1.207) logo que se abre a sucessão, independentemente de qualquer ato do herdeiro. Aliás,
além da propriedade e da posse, transmitem-se também aos herdeiros todos os direitos,
pretensões, ações e defesas que o falecido era titular, exceto os direitos personalíssimos. De fato,

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os direitos personalíssimos são intransmissíveis (exemplos: obrigação de fazer infungível art.247 do


CC; direito real de uso, habitação e usufruto arts. 1.410, II; 1.413 e 1.416 do CC).
Nota-se, contudo, que o herdeiro não é representante do falecido autor da herança, pois o
sucede no patrimônio e não em sua pessoa.
Quanto ao legatário, a situação é distinta. Se infungível a coisa legada, adquire-lhe a
propriedade desde a abertura da sucessão; se fungível, só a adquire após a partilha. Quanto à
posse, seja a coisa fungível ou infungível, a aquisição só ocorre após a partilha.
Finalmente, na hipótese de comoriência, isto é, morte simultânea entre o autor da herança e
o seu herdeiro ou legatário, aplica-se o art. 8º, não se operando a transmissibilidade da herança ou
legado. Como se vê, os comorientes não herdam entre si, regendo-se a sucessão como se o
comoriente jamais houvesse existido.

SUCESSÃO UNIVERSAL E SINGULAR

A sucessão universal é a transferência da totalidade ou de um percentual do acervo deixado


pelo de cujus. Os herdeiros legítimos, isto é, indicados pela lei, e os herdeiros instituídos,
designados no testamento, sucedem a título universal, porque não há a individualização dos bens
que lhes são transmitidos.
Em contrapartida, a sucessão singular é a que recai sobre uma coisa individualizada pelo
testador ou sobre um percentual dela. O legatário sempre sucede a título singular.
Assim, é legatário quem recebe, por testamento, uma determinada coisa ou percentual dela.
Ao revés, é herdeiro quem recebe, por testamento, um terço de toda a herança.
Os herdeiros legítimos podem ser:

a) necessários: descendentes, ascendentes e cônjuge;


b) facultativos: companheiros e colaterais até quarto grau;
c) universal: o que recebe a totalidade da herança.

Quanto ao Município, discute-se sobre a sua natureza jurídica. Para uns, trata-se de herdeiro
obrigatório, porque não pode renunciar à herança, enquanto outros sustentam que ele não é
sequer herdeiro, e sim apenas destinatário da herança. A discussão tem repercussão no princípio
de saisine, aplicável tão-somente aos herdeiros. A matéria será abordada no estudo da herança
jacente.
A sucessão legítima sempre universal, pois transmite aos herdeiros uma fração da herança. A
sucessão testamentária, por sua vez, é universal, quando o testador nomeia herdeiros
testamentários, e singular quando contempla legatários.

DA CAPACIDADE PARA SUCEDER

A capacidade para suceder regular-se-á pela lei vigente no tempo da abertura da sucessão
(art. 1.784). Assim, a nova lei não pode retroagir a sucessões abertas antes da sua vigência.
Quanto à sucessão testamentária, a solução é a mesma, qual seja o herdeiro instituído ou
legatário deve ser capaz de suceder ao tempo da abertura da sucessão, ainda que não o seja ao
tempo da feitura do testamento. Se, porém, a nomeação se fizer mediante condição, a capacidade

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é apurada pela lei vigente ao tempo do implemento da condição.


Anote-se que a sentença de reconhecimento da paternidade, ainda que prolatada após a
morte do pai, retroage à data da concepção do filho, atribuindo-se a este o respectivo quinhão
hereditário.

SUCESSÕES IRREGULARES OU ANÔMALAS OU ANORMAIS

Sucessão irregular é aquela ditada por normas especiais, que alteram a ordem de vocação
hereditária prevista no Código Civil.
Vejamos alguns exemplos:

a) O Dec.-lei 3.438, de 17.07.1941, proíbe a sucessão de cônjuge estrangeiro em terrenos da


marinha.
b) A Lei 6.858/80 atribui aos dependentes previdenciários do de cujus a sucessão de créditos
previdenciários, trabalhistas, FGTS, PIS, PASEP e conta bancária de 500 OTN, desde que não haja
outros bens. Dispensa-se o alvará judicial para levantamento desses valores em favor dos
dependentes. Se, porém, não houver dependentes, atribui-se a sucessão aos herdeiros legítimos,
mediante alvará judicial, dispensando-se, contudo, o inventário.
c) No direito autoral, morrendo o autor sem herdeiros, a obra cai no domínio comum, em vez
de destiná-la ao Município (Lei 9.610/98).
d) O art. 692, III, do Código de 1916, dispunha que a enfiteuse se extinguia, se o enfiteuta
falecesse sem herdeiros. Como se vê, a enfiteuse não integrava a herança jacente.
e) O art. 10 da LINDB dispõe que a sucessão é regida pela lei do domicílio do defunto ou ausente,
qualquer que seja a natureza dos bens. Se, por exemplo, morrer um argentino, domiciliado no Paraguai,
deixando bens no Brasil, aplicar-se-á o Código Civil paraguaio. Este estatuto que designará os herdeiros
e os respectivos direitos, sendo certo, porém, que o inventário se realizará no Brasil, de acordo com as
nossas leis processuais. Adotou-se o princípio da unidade ou universalidade sucessória, segundo o qual a
sucessão é regida por única lei, a do domicílio do de cujus, sejam os bens móveis ou imóveis. Afastou o
nosso direito o princípio da fragmentariedade ou pluralidade, o qual prevê para os bens móveis a lei do
domicílio ou a da nacionalidade do de cujus, e para os imóveis, a lei da situação do bem. Abre-se uma
exceção ao princípio da unidade sucessória quando houver cônjuge ou filho brasileiro, ou quem os
represente, nesse caso, a lei brasileira é aplicável, se for mais favorável do que a do domicílio do de
cujus. Anote-se ainda que a capacidade para suceder não é regida pela lei do domicílio do de cujus, mas
pela lei do domicílio do herdeiro ou legatário, conforme § 2º do art. 10 da LINDB. É esta lei que
solucionará os problemas referentes à renúncia, deserdação, indignidade e falta de legitimação para
suceder.

DA INDIVISIBILIDADE DA HERANÇA

O direito à herança é indivisível (art. 1.791). A indivisibilidade, que abrange o domínio e a


posse dos bens hereditários, perdura entre a abertura da sucessão e a partilha, quando então se
individualizam os quinhões.
Antes de alienar os seus direitos, os demais herdeiros devem ser notificados, os quais poderão
exercer o direito de preferência na aquisição do quinhão. Se a alienação ocorrer sem essa
notificação, os herdeiros preteridos em seu direito de preferência ou preempção poderão ajuizar
ação reivindicatória, dentro do prazo de 180 dias após a transmissão, depositando em juízo o preço

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(art. 1.795). Sendo vários os coerdeiros a exercer a preferência, entre eles distribuir-se-á o quinhão,
na proporção das respectivas quotas hereditárias;

Por outro lado, o direito à herança é considerado bem imóvel para efeitos legais (art. 80, II, do
CC). As consequências são:
a) a cessão de direitos hereditários depende de escritura pública ou termo nos autos do
inventário;
b) a aludida cessão depende de outorga do cônjuge, salvo no regime de separação
obrigatória;
c) exige-se a outorga do cônjuge para que o herdeiro possa estar em juízo;
d) exige-se, também, a outorga do cônjuge para mover ação real em face do herdeiro, se o
litígio versar sobre direitos sucessórios, pois esses direitos são considerados bens imóveis (art. 73
do CPC/2015).

ACEITAÇÃO OU ADIÇÃO DA HERANÇA

A aceitação ou adição da herança é o ato pelo qual o herdeiro confirma o seu desejo de
receber a herança.
Trata-se de ato unilateral, porque se aperfeiçoa com a simples manifestação de vontade do
herdeiro. É ainda um ato não-receptício, uma vez que não precisa ser comunicado a ninguém.
Porém, é um ato obrigatório, retroativo à data da abertura da sucessão. Não mais vige a
parêmia filius ergo eres, isto é, o filho automaticamente herda. Urge, para que herde, a aceitação
da herança. De fato, ninguém é obrigado a herdar contra a própria vontade, razão pela qual a
aceitação é um ato obrigatório, apesar de ser meramente confirmatório, pois a aquisição da
herança se dá com a abertura da sucessão e não com a aceitação. Contudo, aceita a herança, torna-
se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão.
Há três formas de aceitação: expressa, tácita e presumida.
Expressa: o herdeiro declara por escrito, público ou particular, o desejo de receber a herança.
Não se admite a aceitação verbal (art.1.805).
Tácita: o herdeiro pratica ato positivo revelador do desejo de receber a herança. A aceitação
tácita é a que resulta tão somente de atos próprios da qualidade de herdeiro (art.1.805). Exemplos:
manifesta-se no inventário, por meio de advogado, concordando com as primeiras declarações ou
então requer alvará judicial para alienar bens. O pagamento de dívida da herança não é aceitação
tácita, pois o Código Civil admite o pagamento de dívida alheia.
Não exprimem aceitação tácita: a) atos oficiosos, isto é, sentimentais, como o pagamento das
despesas do funeral; b) atos de mera administração provisória, como a guarda dos bens do morto
ou simples requerimento de inventário; c) cessão gratuita, pura e simples de direitos hereditários
em favor de todos os herdeiros (§2º do art.1.805).
Presumida: o herdeiro permanece silente diante da notificação judicial, que lhe fixa o prazo
não maior de 30 dias para aceitar ou repudiar a herança. O silêncio implica aceitação. Com efeito,
dispõe o art.1.807 do CC: “O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança,
poderá, 20 (vinte) dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de 30
(trinta) dias, para nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita”.
A aceitação pode ainda ser direta ou indireta. É direta quando feita pelo próprio herdeiro e
indireta quando feita por quem não é herdeiro.

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A aceitação indireta ocorre nas seguintes hipóteses:


a) procurador com poderes especiais; o gestor de negócios também pode aceitar a herança,
mas a eficácia depende da confirmação do herdeiro;
b) tutor ou curador, com autorização do juiz, pode aceitar a herança em favor do herdeiro
absolutamente incapaz;
c) credor do herdeiro renunciante, na hipótese de insolvência, pode, mediante autorização do
juiz, aceitar a herança. A renúncia, porém, é válida, mas apenas ineficaz perante esses credores, de
modo que, após o recebimento do crédito, o eventual saldo não irá para o renunciante, e sim para
os demais herdeiros. Se o credor tomar conhecimento da renúncia somente após a partilha não lhe
será lícito aceitar a herança com ordem judicial. Urge, em tal situação, que promova a ação
pauliana ou então a ação revocatória se o renunciante for comerciante falido, para obter o
reconhecimento judicial da fraude. Aliás, o art. 129, V, da Nova Lei de Falências (Lei nº
11.101/2005) presume fraudulenta a renúncia à herança ou legado feita até dois anos antes da
declaração de falência. Washington de Barros Monteiro sustenta que nessa faculdade outorgada
aos credores não se inclui a de aceitar legado, recusado pelo devedor, porque semelhante recusa
pode ser fruto de ponderosas razões de ordem moral. É discutível na doutrina se essa faculdade de
o credor, mediante ordem judicial, aceitar a herança deve também ser estendida ao legado. Uns
respondem positivamente, aplicando analogicamente o disposto no art. 1.813; outros, ao revés,
sustentam a inadmissibilidade da analogia, por se tratar de norma restritiva de direitos.
Por outro lado, quanto à responsabilidade dos herdeiros pelas dívidas da herança, a aceitação
pode ser pura e simples e sob benefício de inventário.
Na aceitação pura e simples ou ultra vires hereditates, o herdeiro responde por todas as
dívidas do de cujus, ainda que superiores ao valor da herança.
Na aceitação sob benefício de inventário ou intra vires hereditates, o herdeiro responde pelas
dívidas do de cujus até o limite do quinhão herdado.
A lei brasileira adotou este último sistema. Há, porém, uma exceção na hipótese de não ter
sido feito o inventário. Em tal situação, incumbe ao herdeiro o ônus da prova de que as dívidas são
superiores à herança, sob pena de incidir no sistema de aceitação pura e simples, respondendo por
todo o débito; daí o interesse em realizar-se o inventário negativo, quando o de cujus não deixa
bens, mas apenas dívidas. Com efeito, dispõe o art.1.792 do CC: “O herdeiro não responde por
encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver
inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados”.

RENÚNCIA DA HERANÇA

A renúncia é o ato unilateral pelo qual o herdeiro abdica de seus direitos sucessórios. A
transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renunciar à herança (parágrafo único do
art.1.804). A renúncia produz efeitos ex tunc, retroativo à data da abertura da sucessão. O herdeiro
renunciante não chega a adquirir a herança, logo a renúncia não é ato de alienação, pois só o titular
do domínio tem o poder de alienação.
Trata-se de ato solene, que depende de escritura pública ou termo judicial nos autos do
inventário. O Código não exige a homologação judicial, mas há vários julgados condicionando a
eficácia da renúncia, por escritura pública, à sobredita homologação, mas dispensando-a quando
feita por termo nos autos.
Não se admite a renúncia tácita ou presumida, salvo na hipótese do herdeiro testamentário
ou legatário, nomeados sob encargo. Nesse caso, do não-cumprimento do encargo presume-se a
renúncia.

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A renúncia deve ser feita pelo próprio herdeiro ou por mandatário revestido de poderes
especiais e expressos. O herdeiro incapaz e o seu representante legal não podem renunciar
herança, salvo mediante ordem judicial, ouvindo-se o Ministério Público.
A renúncia pode ser própria e imprópria.
Na renúncia própria, também chamada pura e simples, o herdeiro simplesmente abre mão de
seus direitos hereditários. Nessa renúncia, não há incidência do imposto inter vivos, pois ela não é
considerada um fato de transmissão da propriedade, tendo em vista que o herdeiro renunciante é
tratado como se nunca tivesse existido. Nessa renúncia, o herdeiro não chega a adquirir a herança.
O único imposto devido é o causa mortis. O Código não exige a autorização do cônjuge do herdeiro
renunciante; não obstante, há opiniões no sentido de que o cônjuge deve anuir, porque o ato
assemelha-se à alienação e o direito à herança é considerado bem imóvel; outros ainda sustentam
que a dita anuência só se faz necessária quando o herdeiro for casado na comunhão universal. A
nosso ver, não é de se exigir a anuência do cônjuge, porque a renúncia pode ser fruto de
ponderosas razões morais.
Na renúncia imprópria, também chamada translativa ou in favorem, o herdeiro renuncia em
benefício de pessoa determinada. A rigor, não é renúncia, mas uma cessão gratuita de direitos
hereditários, que equivale à doação. Na verdade, há uma aceitação tácita e depois uma cessão
gratuita. É devido o imposto inter vivos, além do causa mortis. A nosso ver, é necessária a
autorização do cônjuge do herdeiro, porque o ato equivale a uma alienação de bem imóvel, salvo
no regime da separação de bens. A sobredita cessão, por seguir as regras da doação, não pode
exceder ao valor da legítima.
Por outro lado, a cessão gratuita em favor de todos os coerdeiros, isto é, em benefício do
monte, equivale à renúncia pura e simples, a menos que o herdeiro cedente tenha estipulado
cláusulas, encargos ou condições, quando então o ato seguirá as regras da renúncia translativa, pois
a estipulação de cláusulas, encargos ou condições implica aceitação tácita.
Na renúncia pura e simples, quanto ao destino do quinhão do herdeiro renunciante, cumpre
distinguir a sucessão legítima e a testamentária.
Na sucessão legítima, a quota hereditária do renunciante acresce aos demais herdeiros da
mesma classe. Assim, se o de cujus deixa três filhos (A, B, C) e um deles (A) vem a renunciar, a parte
deste acresce a dos outros dois (B e C). Anote-se que os filhos do renunciante não herdam por
representação, mas podem herdar por direito próprio em duas hipóteses: a) se o renunciante é
filho único; b) se todos da mesma classe renunciarem. Nesses dois casos, eles herdam como netos
do de cujus. Com efeito, dispõe o art. 1.811 do CC: “Ninguém pode suceder, representando
herdeiro renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da
mesma classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por
cabeça”.
Na sucessão testamentária, a parte do herdeiro testamentário ou legatário acrescerá à dos
demais herdeiros testamentários ou legatários, se o testamento não especificar o respectivo
quinhão. Se, ao revés, houver a especificação do quinhão, a parte do renunciante reverterá em
favor dos demais herdeiros legítimos do testador. Assim, se o testador deixa a herança para A, B e
C, e A vem a renunciar, a parte dele reverterá em favor de B e C, por força do direito de acrescer, a
menos que o testamento tenha nomeado um substituto para o renunciante. Se, porém, o testador
deixa a herança para A, B e C, mas especifica que A terá 20%, B, 50% e C, 30%, vindo A a renunciar,
a parte dele reverterá em favor dos herdeiros legítimos do testador. Vê-se, portanto, que na
sucessão testamentária, a renúncia do herdeiro torna caduca a disposição testamentária que o
beneficia, salvo se o testador houver indicado substituto para o renunciante ou quando houver
direito de acrescer.

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DISPOSIÇÕES COMUNS À ACEITAÇÃO E RENÚNCIA

A aceitação e renúncia não podem ser parciais, nem admitem termo, condição e retratação
(arts. 1.808 a 1.812).

Admite-se, porém, a aceitação ou renúncia parcial em duas hipóteses:


1ª) o prelegatário, isto é, o legatário que é também herdeiro, pode aceitar a herança e
renunciar o legado e vice-versa (§1º do art.1.808).
2ª) o herdeiro que recebe a herança por títulos diversos, isto é, na qualidade de herdeiro
legítimo e testamentário, pode aceitar a herança na qualidade de herdeiro legítimo e renunciar a
contemplada no testamento, ou vice-versa (§2º do art.1.808).

Quanto ao termo e condição, também não se admitem na aceitação ou renúncia. Se houver


termo, reputa-se não escrito, mas a aceitação ou renúncia são válidas. Se houver condição, anula-se
não apenas a condição, mas também a aceitação ou renúncia.
Por outro lado, a aceitação e renúncia são irretratáveis (art. 1.812).
Assim, com a aceitação, o herdeiro confirma a aquisição do domínio da herança. A renúncia
posterior não é propriamente uma renúncia, mas uma mera desistência, com efeito ex nunc, sujeita
à incidência do imposto inter vivos. De fato, são irrevogáveis os atos de aceitação e renúncia
(art.1.812), embora possam ser anulados.
Igualmente, a renúncia também é irretratável, mas nada obsta a sua anulação por erro, dolo
ou coação, mediante ação judicial. A retratação é o desfazimento do ato válido, ao passo que a
anulação recai sobre ato inválido. Cremos que a renúncia pode ser retratada numa hipótese,
quando feita por testamento. Nesse caso, o testador pode revogar o testamento, cancelando-se,
por consequência, a renúncia.
Finalmente, falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o direito de aceitar ou
renunciar passa-lhe aos herdeiros, desde que estes aceitem a segunda herança. De fato, se
aceitarem esta última herança, poderão renunciar ou aceitar a primeira. Mas, se renunciarem à
segunda, não poderão aceitar nem renunciar à primeira. Na hipótese de herdeiro testamentário e
legatário, nomeados sob condição suspensiva, ainda não verificada, falecidos antes da aceitação, o
direito de aceitar não se transmite aos herdeiros, porque caduca a disposição testamentária diante
do falecimento antes da ocorrência da condição (art.1.809).

HERANÇA JACENTE

CONCEITO

Herança jacente, em regra, é aquela cujos herdeiros não são conhecidos. Todavia, há ainda
outros casos de jacência, a saber:

➢ todos os herdeiros renunciam sucessivamente à herança. Nesse caso, em que todos os


chamados a suceder renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante,
conforme art.1.823 do CC, de modo que não haverá, no âmbito processual, a fase da
jacência.
➢ o único herdeiro é nascituro; até o nascimento a herança é considerada jacente;
➢ a herança é atribuída, por testamento, para que se constitua uma pessoa jurídica; até a dita

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constituição a herança será jacente;


➢ o único herdeiro é declarado indigno.

NATUREZA JURÍDICA

A herança jacente é um patrimônio especial, sui generis, administrado por um curador, sob a supervisão
do juiz, é que encontra maior ressonância no direito brasileiro. De fato, a herança jacente ingressa no rol das
chamadas “quase pessoas jurídicas” ou entes despersonalizados, à semelhança do espólio e massa falida,
patrimônios que titularizam alguns direitos e obrigações, embora destituídos de personalidade jurídica. Na
área processual, é considerada uma massa patrimonial com personalidade judiciária, pois pode atuar em juízo
como autor ou réu, representado pelo curador (art.75, VI, do CPC/2015).

HERANÇA VACANTE

Herança vacante é a que é devolvida ao Município ou Distrito Federal, em face do


reconhecimento, por sentença, da ausência de herdeiros sucessíveis. Antes dessa sentença, haverá
apenas uma herança jacente, pautada pela incerteza da existência ou não de herdeiro.
A herança vacante é atribuída ao Município da situação dos bens, ou ao Distrito Federal,
quando os bens forem localizados em sua circunscrição, ou ainda à União quando localizados em
território federal (art.1.822 do CC).
A partir da vacância, eventuais ações envolvendo a herança devem ser movidas na Vara
Privativa da Fazenda Pública.
O Município ou Distrito Federal adquire a propriedade resolúvel dos bens, cuja incorporação
definitiva ao seu patrimônio só ocorre após cinco anos, contados da abertura da sucessão, e não do
trânsito em julgado da sentença de vacância. Dentro desse prazo, o herdeiro ainda pode mover, em
face do Município ou Distrito Federal, a ação de petição de herança. Quanto aos herdeiros
colaterais, não se habilitando até a declaração de vacância, ficarão excluídos da sucessão, conforme
preceitua o parágrafo único do art. 1.822, ocorrendo uma espécie de renúncia.
Tratando-se de valores devidos pelos empregadores aos empregados, os montantes das
contas individuais de FGTS, PIS-PASEP, reverterão em favor, respectivamente, do Fundo de
Previdência e Assistência Social, do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço ou do Fundo de
Participação PIS-PASEP (Lei nº 6.858/80).
Com o trânsito em julgado da sentença de vacância, cessam as funções do curador.

INDIGNIDADE

CONCEITO

Indignidade é pena civil cominada ao herdeiro ou legatário ingrato, consistente na perda da


herança ou legado.

CASOS DE INDIGNIDADE

A enumeração das hipóteses de indignidade, que é taxativa, consta no art. 1.814.


Basicamente, são os atentados dolosos contra a vida, a honra e a liberdade de testar do de cujus ou
de membros de sua família.

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A primeira causa de indignidade é o homicídio doloso, consumado ou tentado, cometido pelo


herdeiro ou legatário contra o autor da herança, seu ascendente, descendente, cônjuge ou
companheiro. O Código antigo limitava-se a considerar indignidade apenas o atentado contra a vida
do autor da herança. A postura do novo Código propicia o denominado efeito cascata da
indignidade. Com efeito, o filho que mata o pai, além de ser indigno em relação à herança de seu
pai, pode ainda ser considerado indigno quanto à herança de sua mãe, de seu avô e até de seu
irmão. Portanto, um único homicídio pode gerar várias indignidades. Urge, porém, que sejam
ajuizadas as respectivas ações de indignidade. O reconhecimento da indignidade não depende de
condenação criminal. A prova da indignidade pode ser feita no juízo cível. A eventual sentença
criminal absolutória, por negativa de autoria ou inexistência do fato, porém, impede o
reconhecimento da indignidade no juízo cível, por força do art. 935. Não haverá também
indignidade quando o autor do homicídio estiver acobertado por alguma causa de justificação
(legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito e estrito cumprimento do
dever legal). Igualmente, quando se tratar de morte culposa ou preterdolosa, porque ausente o
animus necandi. Também na indignidade quando a morte se dá por engano (erro sobre a pessoa)
ou desvio de pontaria (erro na execução). A instigação ao suicídio não é causa de indignidade, não
consta na lei, embora haja opiniões em contrário. Sobre o homicídio praticado por herdeiro menor
de 18 anos, o código é silente acerca da caracterização da indignidade. Cremos que não deva ser
considerado indigno, pois a responsabilidade civil do menor só é admitida nos casos expressos em
lei. Ademais, no Código atual, ao contrário do anterior, o menor púbere não é equiparado ao maior
em relação aos atos ilícitos que pratica. A extinção da punibilidade pela prescrição ou outra causa
não impedem o reconhecimento da indignidade, pois nessas hipóteses o crime subsiste.
Finalmente, suspeita de homicídio não induz à indignidade, é mister prova cabal da autoria e
materialidade do fato criminoso.
A segunda causa de indignidade consiste na denunciação caluniosa ou prática de crime contra a
honra, cometido pelo herdeiro ou legatário contra o autor da herança, seu cônjuge ou companheiro. O
dispositivo em apreço prevê duas hipóteses: denunciação caluniosa e crime contra a honra. A
denunciação caluniosa é um delito previsto no art. 339 do CP. Para Washington de Barros Monteiro só
se caracterizará a indignidade se houver prévia condenação do indigno no juízo criminal. Discordo, pois
o Código Civil não faz essa exigência. A calúnia assacada após a morte também é causa de indignidade,
pois é crime contra a honra (art.138, §2º do CP)
Finalmente, a terceira e última causa de indignidade ocorre quando o herdeiro ou legatário
utiliza-se de violência ou fraude para inibir o de cujus de livremente dispor de seus bens em
testamento ou codicilo, ou então obsta a execução dos atos de última vontade. Exemplos:
destruição, ocultação e falsificação do testamento do de cujus; coagir o de cujus a testar ou então
impedi-lo de revogar o testamento anterior. Não há indignidade na destruição de testamento nulo,
pois ato nulo não gera consequências jurídicas.

AÇÃO DE INDIGNIDADE

A ação de indignidade só pode ser proposta por quem tem interesse na sucessão, isto é, por
quem obtém um ganho com a exclusão do indigno. O credor deste herdeiro também pode ajuizar a
ação. O Município também, desde que a herança se torne jacente com a exclusão do indigno. Se
ninguém propuser a ação, o indigno herda, sendo vedado no Ministério Público propô-la, uma vez
que o interesse é eminentemente privado. Maria Helena Diniz considera o Ministério Público parte
legítima para a propositura da ação, sustentando que há interesse público e social em evitar que o
indigno herde. Nesse sentido, também, o Enunciado116 do CJF.

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A ação só pode ser proposta após a abertura da sucessão, logo a vítima não pode movê-la,
restando-lhe o poder de deserdar o herdeiro criminoso.
A morte do indigno impede a propositura da ação; se morrer no curso do processo, este deve
ser extinto sem julgamento do mérito, pois a indignidade é uma pena e esta não deve passar além
do criminoso. Ademais, trata-se de ação personalíssima. Assim, se o indigno morrer antes do
trânsito em julgado, o seu direito hereditário passará a seus sucessores.
O prazo para propositura da ação é de quatro anos, a contar da abertura da sucessão.
Com o trânsito em julgado da sentença de reconhecimento da indignidade, operam-se os
seguintes efeitos:
a) o indigno é excluído da sucessão e obrigado a restituir os frutos percebidos da herança,
equiparando-se ao possuidor de má-fé, pois tem o direito a ser indenizado das despesas com a
conservação com a dos frutos (parágrafo único do art. 1.817 do CC).
b) se o indigno for herdeiro legítimo, seus descendentes herdarão por representação, como
se morto fosse. Trata-se de um resquício de morte civil. A lei não prevê, porém, a sucessão do
cônjuge, ascendente e colaterais do indigno. Assim, se não houver descendentes, a quota do
indigno irá para os demais herdeiros da mesma classe;
c) se o indigno for herdeiro testamentário ou legatário, não haverá o direito de representação
em prol de seus descendentes. O seu quinhão será repartido aos demais herdeiros testamentários
ou legatários, por força do direito de acrescer, se o testador não especificou a quota de cada um; se
especificou, a parte do indigno irá para os herdeiros legítimos do testador;
d) o indigno não terá direito ao usufruto e à administração dos bens que a seus filhos
couberem na herança, ou à sucessão eventual desses bens. Os bens excluídos do indigno são
chamados ereptícios. Há quem sustente que o indigno pode herdar por representação, por
exemplo, representar o pai que ele matou na sucessão do avô, pois a pena deve ser considerada
restritivamente.
Diz a doutrina que a sentença de indignidade é meramente declaratória, tendo em vista a
retroatividade de seus efeitos (ex tunc).
Anote-se, porém, que o indigno tem o direito à indenização pelas despesas feitas para a
conservação dos bens.

HERDEIRO APARENTE

Herdeiro aparente é o que se comporta como tal, mas, juridicamente, não tem direito sobre
os bens da sucessão.
O indigno é uma das hipóteses de herdeiro aparente. Em relação a ele, a lei considera válidas
as alienações de bens hereditários feitas antes da sentença, mas ressalva aos herdeiros
prejudicados o direito de demandar-lhe as perdas e danos. Anote-se que, quanto às alienações, a
sentença de indignidade tem efeito ex nunc. O art.1.817 do CC só considera válidas as alienações
onerosas, as gratuitas são passíveis de anulação.
Com exceção do indigno, nas demais hipóteses de herdeiro aparente, o Código de 1916 não
previa a eficácia do ato. O novo Código, porém, adotou a teoria do herdeiro aparente, reputando
eficaz a alienação feita, a título oneroso, por outros herdeiros aparentes a terceiros de boa-fé (art.
1.827, parágrafo único).
O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não está obrigado a prestar o
equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a este, o direito de proceder contra quem o
recebeu (art.1.828 do CC).

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REABILITAÇÃO DO INDIGNO

Reabilitação é o perdão do indigno pelo autor da herança. Trata-se de ato solene, pois deve
ser feito por testamento ou documento autêntico, como, por exemplo, escritura pública. Pode ser
feito por instrumento particular, desde que autenticado. Não pode ser verbal.
O perdão deve ser expresso. Não se admite o perdão tácito ou presumido, salvo na hipótese
de o testador, após tomar ciência da causa de indignidade, contemplar o indigno no testamento.
Em tal situação, opera-se o perdão tácito, mas restrito à gratificação constante no testamento,
remanescendo a indignidade quanto aos demais bens da herança.
O perdão é irretratável, porque a retratação é imoral.
Se somente após a sentença definitiva de indignidade é descoberto o testamento de
reabilitação, é cabível ação rescisória, readquirindo o ex-indigno os seus direitos hereditários, e se
não houver mais bens terá direito ao valor deles.

DISTINÇÃO ENTRE INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO

A indignidade é extensiva a qualquer herdeiro, legítimo ou testamentário, e também aos


legatários, ao passo que a deserdação é restrita apenas aos herdeiros necessários (descendentes e
ascendentes). Conquanto herdeiro necessário, a lei não prevê a deserdação do cônjuge.
A indignidade é cominada pela própria lei; a deserdação depende de testamento, sendo, pois,
um ato de vingança do testador.
Tanto a indignidade quanto a deserdação, porém, dependem de sentença judicial. O
testamento, por si só, é insuficiente para deserdar o herdeiro necessário. Urge que, após a morte
do testador, dentro do prazo de quatro anos, a contar da abertura do testamento, os interessados
ou herdeiros testamentários proponham a ação de deserdação, demonstrando a veracidade da
causa constante no testamento.
Todas as causas de indignidade também são causas de deserdação, sendo certo, porém, que,
para deserdar, há ainda outras causas previstas em lei.

DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

CONCEITO

Em regra, o herdeiro mais próximo exclui o mais remoto. O direito de representação constitui
uma exceção a essa regra.
Assim, herdam por direito próprio ou por cabeça os parentes mais próximos do de cujus, ao
passo que no direito de representação ou sucessão indireta, ou por estirpe, o parente mais remoto,
de grau inferior, concorre à sucessão com o mais próximo, de grau superior. Com efeito, dispõe o
art.1.851 do CC: “Dá-se o direito de representação quando a lei chama certos parentes do falecido a
suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse”.
Fundamenta-se o direito de representação na vontade presumida do de cujus.
Exemplo: Paulo morre e deixa um filho vivo (A) e outro já falecido (B), que por sua vez deixou
dois filhos (B1 e B2). A herança de Paulo será dividida da seguinte forma: 1/2 para o filho A; 1/2
para os netos B1 e B2, sendo 1/4 para cada um deles.

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REQUISITOS DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

São requisitos do direito de representação:

a) que o representado seja premoriente, comoriente, indigno, ausente ou deserdado. Assim,


no exemplo acima, o representado, isto é, o filho B, deve ter morrido antes ou junto com o autor da
herança, ou então ser indigno, deserdado ou encontrar-se ausente. Quanto à deserdação, como
veremos, não é pacífico o direito de representação, sendo negado por uns e admitido por outros
juristas. Na renúncia, não há direito de representação;
b) que se trate de sucessão legítima. Na sucessão testamentária não há direito de
representação. Assim, os filhos de herdeiro testamentário premoriente nada herdam;
c) que o representado seja descendente ou irmão do autor da herança. Assim, não há direito
de representação quando o herdeiro premoriente for outro tipo de parente, como, por exemplo,
primo, tio ou pai do autor da herança. Portanto, se o de cujus deixa três primos como herdeiros e
há ainda um quarto primo premoriente, os filhos deste nada herdam, dividindo-se a herança
apenas entre os três primos vivos. Da mesma forma, se o de cujus deixa três sobrinhos como
herdeiros, o filho de um quarto sobrinho premoriente nada herdará;
d) que o representante seja descendente do representado. Se o representado não deixar
descendentes, não há falar-se em direito de representação. Exemplo: Paulo morre deixando um
filho vivo, sendo certo que havia outro filho, morto antes dele, que não deixou descendentes, mas
apenas a esposa. Esta, porém, nada herdará de Paulo. Toda a herança será atribuída ao filho vivo.
Como se vê, a lei não prevê a representação em favor do cônjuge, ascendente ou parente colateral
do representado. A propósito, dispõe o art.1.852 do CC: “O direito de representação dá-se na linha
reta descendente, mas nunca na ascendente”. Anote-se, ainda, que quando o representado é irmão
do de cujus, o direito de representação restringe-se aos filhos do irmão. De fato, reza o art.1.853 do
CC: “Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos filhos de irmãos
do falecido, quando com irmãos deste concorrerem”. Exemplo: João morre sem descendentes,
ascendentes ou cônjuge. Todavia, deixou três irmãos vivos, A, B e C, e um quarto irmão D, morto
antes dele. Este irmão D, por sua vez, deixou dois filhos D1 e D2 e um terceiro filho, D3, já morto.
Este filho D3, por sua vez, deixou também um filho, Dz, que é sobrinho-neto de João, o autor da
herança, e neto de D. A herança de João será repartida da seguinte forma: 1/4 para A; 1/4 para B;
1/4 para C; 1/4 para ser repartido entre D1 e D2, sendo 1/8 para cada. Quanto ao sobrinho-neto de
João, Dz, nada herdará, porque os netos de irmãos não podem suceder por representação (art.
1.853). Outro exemplo: Pedro morre e seus herdeiros são dois irmãos A e B. Apura-se que havia um
terceiro irmão, C, já morto, cujo filho também está morto, mas o neto encontra-se vivo. A herança
de Pedro será repartida apenas entre A e B, porque neto de irmão não herda por representação.

EFEITOS DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

O direito de representação surte os seguintes efeitos:

a) os representantes só herdam aquilo que o representado herdaria se estivesse vivo


(art.1.854 do CC). Exemplo: o de cujus deixou como herdeiros dois irmãos germanos vivos, A e B, e
um irmão unilateral morto, C, que, por sua vez, deixou um filho vivo, C1. Em tal situação, a herança
é dividida da seguinte forma: 40% para A; 40% para B e 20% para C1, pois se C estivesse vivo iria
herdar apenas 20%, de modo que ao seu filho C1 não pode ser atribuído percentual maior. De

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acordo com o art.1.855 do CC: “O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os
representantes”;
b) os quinhões hereditários dos que herdam por representação não respondem pelas dívidas
do representado, mas apenas pelas dívidas do autor da herança;
c) o renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão de outra
(art.1.856 do CC). Assim, o filho que renuncia à herança do pai pode representar o pai na herança
do avô, desde que este faleça depois daquele;
d) no direito de representação, há a incidência de um único imposto causa mortis, porque a
herança é transmitida do de cujus para o representante. O representado não chega a adquiri-la;
e) o representante terá que colacionar as doações que o representado recebeu do autor da
herança. Assim, os netos, quando herdam por representação, serão obrigados a trazerem à colação,
ainda que hajam herdado, os bens doados ao pai pelo avô.

DA VOCAÇÃO DOS HERDEIROS LEGÍTIMOS

DA ORDEM DE VOCAÇÃO

Dispõe o art. 1.829 do CC que a sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I. aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com
o falecido no regime de comunhão universal, ou no de separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime de comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;
II. aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III. ao cônjuge sobrevivente;
IV. aos colaterais.

Referida ordem é baseada nas relações de parentesco e no vínculo conjugal. A dependência


econômica e o vínculo de afinidade não são critérios de vocação hereditária, de modo que não se
defere direito sucessório em favor de pupilo, curatelado, sogro, genro, nora, enteado, enteada,
padrasto e madrasta.
O chamamento dos herdeiros é efetuado por classes. A classe mais próxima exclui a mais
remota, salvo na hipótese de direito de representação. Assim, só se convocam os ascendentes se
não houver descendentes.
O companheiro, a União, o Município e o Distrito Federal não figuram no sobredito rol, mas
também desfrutam de direitos sucessórios, por força dos arts. 1.790 e 1.844 do CC. A Propósito do
companheiro, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 1.790 e decidiu que a sucessão na
união estável é idêntica à do cônjuge, por força da isonomia que deve reinar entre estas duas
modalidades de famílias.
Tratando-se de de cujus estrangeiro, em relação aos bens situados no Brasil, a solução será a
seguinte:

a) se ele era domiciliado no Brasil, aplica-se a lei brasileira, de conformidade com a ordem de
vocação acima transcrita;

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b) se ele não era domiciliado no Brasil, a lei de seu domicílio, e não a de sua nacionalidade,
regerá a ordem de vocação hereditária (art. 10 da LINDB). Mas se ele era casado com brasileira ou
então deixou filhos brasileiros, ou quem os represente, aplicar-se-á a lei mais favorável ao cônjuge
ou filhos brasileiros (art. 10, § 1º, da LINDB). O juiz escolherá a lei mais favorável, dentre a lei
brasileira, a lei do domicílio do de cujus e a lei de sua nacionalidade.

DOS DESCENDENTES

Os descendentes de primeira classe são os filhos, de segunda, os netos, de terceira, os


bisnetos, e assim por diante.
Sucedem de duas formas: por direito próprio e representação.
A sucessão por direito próprio ou por cabeça ocorre quando todos se acham no mesmo grau.
Exemplo: o de cujus teve dois filhos, A e B, ambos falecidos antes dele. O filho A deixou três filhos; o filho
B, um filho. Ao todo são quatro netos, de modo que a herança é dividida em quatro partes iguais.
A sucessão por representação ou estirpe ocorre quando descendente de grau inferior
concorre à sucessão com o de grau superior em razão de premoriência, comoriência, indignidade,
ausência, e, para alguns autores, também a deserdação. Exemplo: Se o de cujus deixa dois filhos
vivos, A e B, e dois netos, X e Y, descendentes de um terceiro filho, C, pré-morto, a herança será dividida assim: 1/3
para A; 1/3 para B; 1/3 para X e Y, sendo 1/6 para cada um deles.
Desnecessário dizer que a igualdade entre filhos é mandamento constitucional, sendo vedada
qualquer discriminação entre eles, ainda que oriundos de adoção.

DOS ASCENDENTES

Na linha ascendente, os mais próximos excluem os mais remotos. Não há direito de


representação. Se o de cujus deixa o pai vivo e a mãe pré-morta, a herança irá para o pai, nada se
atribuindo aos avós maternos.
Por outro lado, havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha
paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna (§ 2º do art.1.836 do CC). É a
chamada sucessão por linhas ou in lineas. Exemplo: Se o de cujus deixa como herdeiros apenas três
avós, dois maternos (A e B) e um paterno (C), a herança será dividida em duas linhas: 1/2 para a
linha materna, sendo 1/4 para A e 1/4 para B; 1/2 para a linha paterna, isto é, para o avô C.
Tratando-se de filiação adotiva, a herança é deferida aos pais adotivos e demais ascendentes
da linha adotante. Quanto aos pais biológicos, nada herdam, porque a adoção extingue os vínculos
com a família de sangue. O Código acabou com a antiga distinção entre adoção plena e adoção
simples, admitindo apenas a adoção plena.
Finalmente, na hipótese de morte de filho não reconhecido, o pai que não o reconheceu nada
herdará. Só poderá efetuar o reconhecimento post mortem se o filho tiver deixado descendentes
(art. 1.609, parágrafo único, do CC).

CÔNJUGE SOBREVIVENTE

Em falta de descendentes e ascendentes, qualquer que seja o regime de bens, será deferida a
sucessão por inteira ao cônjuge sobrevivente (art. 1.838 do CC). Todavia, o cônjuge só terá a
condição de herdeiro se ao tempo da morte do outro não estavam separados judicialmente, nem
separados de fato há mais de dois anos. Como se vê, ao cônjuge separado de fato há mais de dois

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anos não é reconhecido direito sucessório, salvo prova de que essa convivência se tornou
impossível sem a sua culpa (art. 1.830 do CC). Anote-se que a discussão acerca da culpa do cônjuge
não pode ser feita no bojo do inventário, mas em ação autônoma. De fato, questão de alta
indagação, isto é, não comprovada documentalmente, não pode ser debatida dentro do inventário.
Cumpre observar que, após dois anos de separação de fato, o cônjuge deixa de ser herdeiro,
mas a lei é silente se continua ou não sendo meeiro. O tema é polêmico, mas prevalece o
entendimento, baseado no art.1.683 do CC, que a partir da cessação da convivência os bens não
mais se comunicam.
Na hipótese de anulação do casamento, o cônjuge sobrevivente pode ainda herdar, desde
que presentes dois requisitos:

a) reconhecimento judicial de sua boa -fé (casamento putativo);


b) anulação posterior à morte do outro.

Portanto, no caso de anulação de casamento, para que o cônjuge herde, exige-se o somatório
da putatividade e da anulação pós-morte.
O Código inovou na sucessão do cônjuge, admitindo a sua concorrência com os descendentes,
em determinados regimes de bens (art. 1.829, I ). Com efeito, em havendo descendentes caberá ao
cônjuge quinhão igual aos dos que sucederam por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à
quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer (art. 1.832 do CC).
Assim, se o de cujus deixa esposa e dois filhos, A e B, a herança é dividida em três partes: 1/3 para o
filho A, 1/3 para o filho B e 1/3 para a esposa. Se o de cujus deixa esposa e 10 filhos comuns, 1/4 da
herança vai para a esposa; a sobra é dividida por cabeça entre os filhos. A parte do cônjuge, quando
os filhos forem comuns, nunca pode ser inferior à quarta parte da herança.
O Código é omisso quanto à concorrência do cônjuge com filhos comuns e filhos incomuns.
Uma primeira corrente sustenta que, no caso de filiação híbrida, todos os filhos devem ser
considerados exclusivos do de cujus, por força dos princípios da isonomia e operabilidade,
deferindo-se ao cônjuge um quinhão igual ao dos filhos exclusivos, não se aplicando a reserva
mínima de ¼ (um quarto), pois se assim não fosse, prejudicariam os filhos exclusivos, que nada tem
a ver com o viúvo. Uma segunda corrente, considera todos os descendentes como sendo comuns,
reservando-se ao cônjuge supérstite a reserva mínima de ¼ (um quarto) da herança. A meu ver o
problema deve ser solucionado pelas regras de proporção matemática. A propósito, apresento a
seguinte fórmula:

a) divide-se a herança pela soma dos herdeiros, isto é, total de filhos e o cônjuge;
b) subtrai-se da herança a parte dos filhos incomuns;
c) apura-se ¼ (um quarto) sobre a herança, sem a parte dos filhos incomuns, encontrando,
desse modo, o quinhão do cônjuge;
d) subtrai-se da herança a parte do cônjuge, dividindo o resultado pelo número de filhos.

Suponha-se que o sujeito tenha morrido, deixando o cônjuge e uma herança de R$ 1.200,00,
além de quatro filhos comuns e um filho incomum. O cálculo deve ser feito da seguinte forma:

a) divide-se a herança de R$ 1.200,00 por 6, totalizando a importância de R$ 200,00;


b) retira-se da herança a parte do filho incomum, restando a importância de R$ 1.000,00;
c) apura-se a parte do cônjuge, que corresponde a 1/4 da herança, sem a parte do filho
incomum, vale dizer, 1/4 sobre R$ 1.000,00, totalizando-se a importância de R$ 250,00. Assim, este

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é o valor que o cônjuge herdará;


d) subtrai-se da herança a parte do cônjuge, dividindo o resultado entre os filhos, ou seja, R$
1.200,00 – R$ 250,00 = R$ 950,00. Dividindo-se esta importância por cinco, isto é, pelo número de
filhos, apura-se R$ 190,00, que é o quinhão correspondente a cada filho.

Anote-se, porém, que, em havendo descendentes, nem sempre o cônjuge herdará. Com
efeito, o art. 1.829, I, do CC exclui o cônjuge da sucessão, em concorrência com os descendentes,
quando for casado no regime da comunhão universal ou no da separação obrigatória de bens.
Quanto ao regime da comunhão parcial, o cônjuge só concorrerá com os descendentes em relação
aos bens particulares, isto é, incomunicáveis, deixados pelo de cujus. Maria Helena Diniz, porém,
sustenta que no regime da comunhão parcial, em havendo bens particulares do de cujus, o cônjuge
sobrevivente herdará um percentual sobre a totalidade da herança, pois esta é indivisível,
aplicando-se, também, o princípio da operabilidade, uma vez que se torna mais fácil o cálculo para
a partilha da parte cabível a cada herdeiro. Prevalece, no entanto, a opinião contrária. Conforme
ensina Zeno Veloso: “Penso que a concorrência só ocorrerá a respeito dos bens particulares, pois
em relação aos outros, o cônjuge sobrevivente já é meeiro”. Ademais, a parte final do art.1.829, I,
do CC prevê uma exceção e as exceções devem ser interpretadas restritivamente.
A respeito do regime da separação obrigatória, paira a discussão sobre a intenção do legislador.
Uma primeira corrente sustenta que aludido regime é aquele imposto por lei, nos casos do art. 1.641 do
CC. Outros entendem que se trata do regime da separação convencional, isto é, escolhido livremente
pelos nubentes por intermédio de pacto antenupcial. Esse último ponto de vista se deve ao fato de o art.
1.829, inciso I, do CC referir-se à separação obrigatória, colocando entre parênteses o parágrafo único do
art. 1.640, que é o dispositivo que cuida do pacto antenupcial. A confusão armada pelo legislador é
gritante, razão pela qual sugiro a interpretação ab-rogante daquilo que foi colocado entre parênteses,
desconsiderando-se a menção ao parágrafo único do art. 1.640. Noutras palavras, filio-me à primeira
corrente, pois a expressão “separação obrigatória” deve ser compreendida como sendo a imposta por lei,
independentemente de pacto antenupcial. Há ainda uma terceira corrente, defendida por Miguel Reale,
no sentido que o regime da separação obrigatória de bens, previsto no art.1.829, I do CC, é gênero que
abrange duas espécies: separação legal e separação convencional, sendo que em ambos os regimes o
cônjuge não tem meação, nem concorre à sucessão com descendente.
Quanto ao regime de participação final dos aquestos, prevalece o entendimento que se aplicam, no
tocante à concorrência sucessória com os descendentes, as mesmas regras da comunhão parcial, isto é, o
cônjuge sobrevivente só participa da sucessão em relação aos bens particulares do de cujus. Nesse
sentido, o Enunciado 270 do CJF.
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o
cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens. Concorrendo com os ascendentes de
primeiro grau, que são o pai e a mãe do de cujus, o cônjuge tocará um terço da herança, mas caber-
lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau (art. 1.827 do CC).
Assim, se o de cujus deixar o pai, a mãe e o cônjuge, a este tocará 1/3 da herança. Mas se deixar o
pai e o cônjuge, este terá 1/2 da herança. Igualmente, quando deixar avós e o cônjuge.
Do exposto, dessumem-se as seguintes situações:

a) em falta de descendentes e ascendentes, a herança é deferida ao cônjuge, qualquer que


seja o regime de bens;
b) em havendo descendentes, o cônjuge poderá ou não herdar. Dependerá do regime de
bens. Nada herdará: I) no regime da separação obrigatória; II) no regime da comunhão universal.
No regime da comunhão parcial e participação final nos aquestos, somente herdará os bens

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particulares do de cujus, isto é, os que não se comunicaram com o casamento. Nos demais regimes,
figurará como herdeiro, adquirindo um quinhão igual aos descendentes que sucederam por cabeça,
não podendo sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com
quem concorrer;
c) concorrendo com ascendente, o cônjuge herdará, qualquer que seja o regime de bens,
conforme já vimos;
d) em todas essas hipóteses, deixará de figurar como herdeiro quando estiver separado
judicialmente ou separado de fato há mais de dois anos.

O art. 1.831 do CC contempla ainda o cônjuge, qualquer que seja o regime de bens, sem
prejuízo da participação que lhe caiba na herança, com o direito real da habitação relativamente ao
imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único daquela natureza a inventariar. Se
houver mais de um imóvel residencial, uma corrente sustenta que desaparece o direito real de
habitação. Outra, defendida por José Luiz Gavião de Almeida preconiza que haverá apenas a perda
da residência familiar, subsistindo o direito real de habitação sobre outro imóvel, que deve oferecer
o mesmo conforto da residência anterior. Este entendimento é baseado no princípio da dignidade
da pessoa humana. Sobredito direito real opera-se ex vi legis. Cessa com a morte ou então se deixar
de servir de sua moradia. Ao inverso do direito anterior, o Código atual, acertadamente, não prevê
a perda desse direito pelo fato de o cônjuge supérstite contrair novo casamento. No direito real de
habitação, o uso do imóvel é gratuito, os herdeiros não poderão cobrar aluguel, mas o imóvel não
poderá ter outro destino que não seja a moradia do cônjuge sobrevivente, que não poderá alugá-lo,
nem cedê-lo em comodato. O enunciado 271 do CJF ressalva que: “O cônjuge pode renunciar ao
direito real de habitação, nos autos do inventário ou por escritura pública, sem prejuízo de sua
participação na herança”. Há quem sustente que a renúncia é nula porque envolve o direito à
moradia, que é indisponível (art.6º, caput da CF).
Quanto ao usufruto vidual, o Código não o repete, encontrando-se globalmente revogado. De
fato, no Código anterior, o cônjuge tinha direito ao usufruto da quarta parte dos bens do cônjuge
falecido, se houvessem filhos deste ou do casal, e da metade se não houvesse filhos, embora
sobrevivessem os ascendentes do de cujus.
Cumpre, ainda, rechaçar qualquer distinção entre herança e meação. Herança é o patrimônio
deixado pelo morto; meação é o patrimônio comunicável durante o casamento. Herança é direito
sucessório, cujo fato gerador é a morte do titular do patrimônio; meação é direito oriundo do
matrimônio, que pode ser reconhecido em vida, quando houver separação judicial ou divórcio.
A meação varia conforme o regime de bens, a saber:

a) no regime da comunhão parcial, comunicam-se os bens adquiridos onerosamente durante


o casamento. Igualmente, no regime de participação final nos aquestos;
b) no regime da comunhão universal, comunicam-se todos os bens, anteriores ou posteriores
ao casamento, ainda que adquiridos a título gratuito;
c) no regime da separação, comunicam-se apenas os bens adquiridos com esforço comum.

Assim, o cônjuge pode ser:

a) meeiro e herdeiro. Exemplo: casado na comunhão universal com uma pessoa que morreu
sem deixar descendentes;
b) meeiro sem ser herdeiro. Exemplo: casado na comunhão universal com uma pessoa que

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morreu deixando descendentes;


c) herdeiro sem ser meeiro. Exemplo: casado na separação de bens com uma pessoa que
morreu sem deixar descendentes;
d) nem herdeiro nem meeiro. Exemplo: casado na separação de bens com pessoa que morreu
deixando descendentes.

DA SUCESSÃO DOS COLATERAIS

Se não houver cônjuge sobrevivente, ou ele for indigno, serão chamados a suceder os
colaterais até o quarto grau (art. 1.839 do CC).
Na linha colateral, o parentesco começa em segundo grau, que são os irmãos. Estes podem
ser germanos ou bilaterais, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, e unilaterais, que são os que têm
apenas um genitor comum. Os irmãos unilaterais maternos são chamados uterinos; os paternos,
consanguíneos.
Os irmãos sucedem por cabeça. Se o de cujus deixar cinco irmãos unilaterais, divide-se a
herança por cinco. Igualmente, se deixar cinco bilaterais.
Concorrendo, porém, à herança do falecido, irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada
um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar (art. 1.841 do CC). Assim, o irmão
bilateral herda o dobro do unilateral. Por exemplo: a herança é de R$ 100.000,00 e o de cujus
deixou dois irmãos bilaterais, A e B, e um unilateral, C. A herança será dividida assim:

- R$ 40.000,00 para A;
- R$ 40.000,00 para B;
- R$ 20.000,00 para C.
Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes, quais sejam os sobrinhos. Os sobrinhos, filhos
do irmão do de cujus, colaterais de terceiro grau, herdam por cabeça e por representação.
Herdarão por cabeça se o de cujus não deixar nenhum irmão, mas apenas sobrinhos. Nesse caso, a
herança será repartida entre eles, em partes iguais, se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou
todos de irmãos unilaterais. Mas se uns forem filhos de irmãos bilaterais e outros de irmãos
unilaterais, cada um destes herdará metade do que herdar cada um daqueles (§ 2º do art. 1.843 do
CC). Herdarão por representação ou estirpe quando o de cujus deixar irmãos e sobrinhos (filhos de
outro irmão pré-morto). Exemplo: o de cujus deixa um irmão, A, e outro irmão, B, já falecido, que
por sua vez deixou três filhos, C, D e E. A herança de R$ 18.000,00 é dividida assim: metade, isto é,
R$ 9.000,00, é entregue a A; a outra metade vai para os filhos de B, isto é, C, D e E, sendo R$
3.000,00 para cada um. Se o falecido B fosse irmão unilateral, a herança seria dividida assim: R$
12.000,00 para A; R$ 6.000,00 para os filhos de B, isto é, C, D e E, sendo R$ 2.000,00 para cada um
deles.
Não havendo irmãos nem sobrinhos, a herança é deferida aos tios, irmãos dos pais do de
cujus. Mas aqui não há direito de representação. Exemplo: o extinto deixa três tios, A, B e C e um
quarto tio, D, pré-morto, que, por sua vez, deixou um filho, que é primo do de cujus. A herança é
repartida entre A, B e C. Como se vê, filho ou cônjuge de tio não herdam por representação.
Anote-se que os tios e sobrinhos são colaterais de terceiro grau, mas a lei dá preferência aos
sobrinhos, chamando-os à sucessão antes do tio. O meio-tio ou tio unilateral herdará por igual em
relação ao tio bilateral, pois as restrições constantes no art.1.841 e §2º do art.1.843 do CC são
aplicáveis apenas aos irmãos e sobrinhos, sendo vedada a analogia em norma restritiva de direitos.
Na falta de irmãos, tios e sobrinhos, a herança é deferida aos colaterais de quarto grau, que
são os primos-irmãos, tios-avós e sobrinhos-netos, partilhando-a por cabeça, de forma igualitária.
Aqui também não há direito de representação. Se, por exemplo, o extinto deixa dois primos, A e B,

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um tio-avô, C, um sobrinho-neto, D, e outro primo, E, pré-morto, a herança será dividida por


quatro, isto é, entre A, B, C e D. Os filhos do primo pré-morto nada herdam. O fato de serem
colaterais de quarto grau, unilateral ou bilateral, não interfere na distribuição da herança.

DA SUCESSÃO DA COMPANHEIRA OU COMPANHEIRO

A sucessão da companheira ou companheiro é regida pelo art. 1.790 do CC que, entretanto,


reveste-se de inconstitucionalidade, conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal. Com efeito,
de acordo com a Excelsa Corte, a família, seja ela constituída pelo casamento ou união estável, deve
ter um tratamento isonômico, e não díspar, sendo vedada a hierarquia que coloca o casamento
numa posição superior em matéria de deferimento de direitos. Portanto, a sucessão da
companheira ou companheiro é exatamente igual à do cônjuge. Não se muda uma vírgula entre
essas duas sucessões.
O concubinato adulterino ou incestuoso não produz efeitos sucessórios, mas a legislação
reconhece a validade da união estável quando a pessoa casada se achar separada de fato ou
judicialmente (§ 1º do art. 1.723 do CC).
Por outro lado, o Código é omisso a respeito do tempo necessário para que a união estável
com pessoa casada separada de fato gere direitos sucessórios. Deixar para o magistrado analisar
cada caso concreto acaba gerando uma insegurança jurídica, além de decisões conflitantes sobre o
mesmo assunto. À primeira vista, parece ser razoável a exigência de um prazo de dois anos, tendo
em vista que depois deste período o cônjuge separado de fato deixa de ter direitos sucessórios,
conforme preceitua o art. 1.830 do CC. Todavia, o art. 1.801, III, do CC preceitua que não pode ser
nomeado herdeiro nem legatário o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,
estiver separado do cônjuge há mais de cinco anos. Vê-se, portanto, que o concubino do testador
casado só pode figurar como herdeiro testamentário ou legatário depois de cinco anos de
separação de fato. Assim, se nem por vontade do testador o aludido concubino pode figurar como
herdeiro antes dos cinco anos, força convir que na sucessão legítima também é necessário o
decurso do prazo de cinco anos de separação de fato.
No concernente à união estável em que nenhum dos dois é casado, o código também é
omisso a respeito do prazo de convivência necessário para a caracterização de direitos sucessórios.
Cremos que a questão deva ser resolvida pelo magistrado na análise de cada caso concreto.
Quanto ao direito de habitação da companheira ou companheiro, previsto na Lei nº 9.278/96,
consistente na moradia sobre o imóvel que servia de residência do casal, desenvolveram-se duas
correntes. A primeira sustentando a manutenção deste direito, porque o Código Civil não o revogou
expressamente. A segunda proclamando sua revogação global, porque o Código disciplinou toda
matéria de união estável contida na Lei nº 9.278/96, omitindo apenas o direito de habitação, sinal que
quis eliminá-lo. Ademais, o art. 2.043 do CC, quanto às leis especiais, ressalvou apenas a vigência das
disposições de natureza processual, administrativa e penal, revogando implicitamente as normas de
direito civil. Filio-me a esta última corrente.
Saliente-se que esse direito de habitação, para quem o admite, cessa apenas com a morte ou
então com o casamento ou união estável.

ANÁLISE DO ART. 1.790 DO CC

À guisa de elucidação, passo à análise do art. 1.790 do CC, não obstante a sua
inconstitucionalidade.

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Dispõe o art. 1.790 do CC que a companheira ou companheiro participará da sucessão do


outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições
seguintes:

I. se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for
atribuída ao filho;
II. se concorrer com descendentes, só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que
houver a cada um daqueles;
III. se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
IV. não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.
O Código só atribui direitos sucessórios à companheira ou companheiro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável. Em relação a esses bens, a companheira ou
companheiro, além de meeiro, conforme art. 1.725 do CC, figura também como herdeiro. Se concorrer
com filhos comuns, terá direito à quota equivalente a um filho. Igualmente, quando concorrer com
descendentes comuns, embora o art.1.790, I, do CC refira-se a filhos. Se concorrer com filhos só do autor
da herança, terá direito apenas à metade do que cada filho herdará; se concorrer com ascendentes ou
colaterais, terá direito a um terço da herança; se não houver parente sucessível, terá direito à totalidade
da herança, é meeiro, sendo evidente a violação da isonomia.
Maria Berenice Dias, antes mesmo do STF declarar a inconstitucionalidade do citado art. 1.790 do
CC, já sustentava a incidência do princípio da isonomia, estendendo ao companheiro todos os direitos que
a lei atribuía a o cônjuge, de modo que se não houvesse descendentes ou ascendentes, ao companheiro
se deferiria toda a herança, posicionando-se, pois, à frente dos herdeiros colaterais.
Por outro lado, a lei não contempla a hipótese de o companheiro ou companheira concorrer
simultaneamente com filhos comuns e com filhos só do autor da herança. A solução, a meu ver,
deve ser baseada em regras de proporções matemáticas. A propósito, apresentamos a seguinte
solução:

1ª Fase:

PC = 1 x n.º FC + 0,5 x n.º FI


TF

2ª Fase:

PF = H .
n.º F + PC

Observações:
- PC corresponde à parte da companheira
- n.º FC corresponde ao total de filhos comuns
- n.º FI corresponde ao total de filhos incomuns
- PF corresponde à parte de cada filho
- H corresponde ao total da herança

Miremos no seguinte exemplo: João morreu, deixando a companheira, três filhos comuns e
dois filhos incomuns, bem como uma herança de R$ 5.800,00.
Para solucionar o problema, basta aplicar a fórmula acima.

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Vejamos:

1ª Fase:

PC = 1 x n.º FC + 0,5 x n.º FI


TF
PC = 1 x 3 + 0,5 x 2
5

PC = 3+1
5

PC = 4
5

PC = 0,8

Assim, a parte da companheira corresponde a 0,8 do que receber cada filho.

2ª Fase:

PF = H
n.º F + PC

PF = 5.800,00
5 + 0,8

PF = 5.800,00
5,8

PF = 1.000,00

Assim, a parte de cada filho corresponde a R$ 1.000,00.


A parte da companheira corresponde a 0,8 x 1.000,00, que é igual a R$ 800,00. Essa questão
da filiação híbrida, contudo, é polêmica. Uma segunda corrente considera, nesse caso, todos os
filhos como sendo comuns, aplicando-se o art.1.790, I, do CC, deferindo-se à companheira quinhão
equivalente a de um filho. Uma terceira corrente aplica o art.1.790, II, do CC, atribuindo-lhe metade
do que couber a cada um dos descendentes.
Note-se que a lei não prevê os direitos sucessórios em relação aos bens adquiridos antes da
união estável nem em relação aos adquiridos durante, mas a título gratuito. Diante da omissão,
força convir pela inexistência de direitos sucessórios em favor do companheiro quanto a esses
bens. Alguns autores, porém, sustentam que o companheiro poderia herdar esses bens, com base
no art. 1.844 do CC, que só considera a herança jacente na hipótese de inexistência de cônjuge,
companheiro ou algum parente sucessível, fazendo, como se vê, expressa menção ao companheiro.
Finalmente, cumpre frisar que o exposto acima tem apenas efeito histórico, posto que aplica-
se ao companheiro os mesmos direitos sucessórios que a lei atribui ao cônjuge.

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DO ESTADO

Como já salientado anteriormente, não sobrevivendo cônjuge, companheiro, nem parente


sucessível, ou tendo eles renunciado à herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal,
se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União, quando situada em território federal (art.
1.844 do CC).
O Estado é o único herdeiro forçado, porque lhe é vedado renunciar à herança.

DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

CONCEITO E CARACTERES

Testamento é o ato pelo qual alguém dispõe dos seus bens para depois de sua morte, ou
determina a própria vontade sobre certas situações de ordem estritamente pessoal ou moral.
O testamento apresenta as seguintes características:

a. é ato unilateral, porque se aperfeiçoa com uma vontade só, a do testador. Assim, o
beneficiado não pode assinar o testamento.
b. é ato gratuito, porque implica transferência de bens ou outro tipo de disposição sem
qualquer contraprestação. À gratuidade abre-se, porém, uma exceção ao testamento com
encargo, que acaba onerando o beneficiado;
c. é ato unipessoal, porque não pode ser feito em conjunto, mas isoladamente. O Código
proíbe o testamento conjuntivo, também chamado de mão comum, feito por duas pessoas , no
mesmo papel. Cada papel, isto é, instrumento, deve conter apenas um testamento;
d. é ato solene, porque deve observar a forma prescrita em lei;
e. é ato revogável, podendo ser alterado a qualquer tempo. Reputa-se nula a cláusula
de irrevogabilidade constante no próprio testamento. Há, porém, duas cláusulas irrevogáveis: a
que reconhece filho (Lei n° 8.560/92) e a que perdoa o indigno. Nada obsta, porém, a ação
anulatória de reconhecimento do filho, na hipótese de erro, dolo ou coação, pois a lei proíbe a
revogação, e não a anulação;
f. é ato causa mortis, porque só produz efeitos após a morte do testador. Proíbe o
Código Civil doação causa mortis. Portanto, a disposição de bens para depois da morte só deve
ser feita por meio de testamento. Muito comum é a doação com reserva de usufruto, também
chamada usufruto deducto, em que o doador transfere desde logo a propriedade do bem, mas
reserva para si o usufruto até que sobrevenha à sua morte. Além do testamento, ainda há
outros atos causa mortis: seguro de vida, codicilo e inscrição de pessoa como dependente
previdenciário para o fim de recebimento de pensão;
g. é ato personalíssimo. Não se admite, portanto, testamento por procuração, nem mesmo
com poderes especiais, sendo também vedada a assistência e a representação.

O testamento em regra tem conteúdo patrimonial, servindo-se para a disposição dos bens.
Contudo, presta-se também para fins extrapatrimoniais. Exemplos: reconhecimento de filho (art.
1.609), nomeação de tutor para filho menor (art. 1.729, parágrafo único), perdoar o indigno (art.
1.818), deserdar o herdeiro (art. 1.964), nomear testamenteiro (art. 1.976), dispor do próprio corpo
para fins altruísticos ou científicos (art.14 do CC) etc.

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CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA ATIVA

Dispõe o art. 1.860:

“Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno
discernimento”. E no parágrafo único acrescenta: “Podem testar os maiores de dezesseis anos.”

Assim, não podem testar:

a. os menores de dezesseis anos, ainda que emancipados. Completando os dezesseis anos


poderão testar, independentemente de autorização ou assistência do representante legal;
b. os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, (art. 4º, II).
c. os que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade (art.
4º, III). É nulo o testamento feito por quem, no ato de testar, não está em perfeito juízo, por
exemplo, embriagada.
d. qualquer outra pessoa que no ato de testar não tiver pleno discernimento (art. 1.860).
Exemplos: violenta emoção, surdo-mudo que não exprime a vontade etc.
e. pessoa jurídica, pois ela se extingue por fenômeno distinto da morte, sendo que o
testamento é ato causa mortis.

Quanto ao pródigo, conquanto elencado entre os relativamente incapazes (art, 4º, IV), a
nosso ver, pode elaborar testamento, desde que em perfeito juízo, porque, dentre os atos que se
encontra proibido de praticar, previstos no art. 1.782, não consta o testamento. O assunto, porém,
não é pacífico. Há quem sustente que o pródigo não pode fazer testamento, pois ele não tem o
pleno discernimento dos atos, tanto é que é considerado relativamente incapaz.
O Código admite o testamento feito por cego, analfabeto, falido, surdo, insolvente e mudo.
Idade avançada e proximidade da morte não anulam o testamento, salvo se houver falta de
discernimento. Quanto ao surdo-mudo, só poderá testar mediante testamento cerrado, se tiver
desenvolvimento completo, caso contrário, não.
Na dúvida, sobre o pleno desenvolvimento do testador, prevalece a presunção de capacidade.
Ao autor da ação de nulidade competirá o ônus da prova da incapacidade.
A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do
incapaz valida-se com a superveniência da capacidade (art. 1.861). Como se vê, a capacidade deve
existir ao tempo da feitura do testamento, sendo irrelevante a incapacidade superveniente. Se, ao
revés, o testador era incapaz ao tempo da elaboração do testamento, tornando-se capaz, a
nulidade persiste, posto que absoluta, logo insuscetível de convalidação ou ratificação.
Anote-se, porém, que a eventual ação de nulidade só pode ser proposta após a morte do
testador, porque não se pode litigar sobre herança de pessoa viva. Extingue-se em cinco anos o
prazo para impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro (art.1.859
do CC). O registro do testamento é ordenado pelo juiz, após a morte do testador. Trata-se de prazo
decadencial. Já a anulação do testamento por erro, dolo ou coação deve ser providenciada em
quatro anos, contados de quando o interessado tiver conhecimento do vício, mas somente após a
abertura da sucessão (parágrafo único do art.1.909 do CC)

FORMAS DE TESTAMENTO

Os testamentos ordinários ou comuns são: o público, o cerrado e o particular.

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Os testamentos especiais ou extraordinários são: o marítimo, o aeronáutico e o militar.


Não se admite outra forma de testamento, salvo na hipótese do estrangeiro, que elabora o
testamento no exterior. Nesse caso, observa-se a lei do lugar da feitura do testamento (locus regit
actum), podendo esse testamento ser cumprido no Brasil, ainda que desconhecida a forma
testamentária em face das nossas leis. O Código não admite o testamento nuncupativo, que é o
feito oralmente, sem ser reduzido a escrito, salvo quando se tratar de militar em situação de
iminente risco de vida. Também não é possível o testamento judicial ou apud acta, que é o ditado
ao juiz de direito.
É proibido o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo (art. 1.863).
Como vimos, o testamento conjuntivo ou mancomunado, é aquele feito por duas pessoas
num só instrumento. É nulo.
O Código não proíbe os testamentos simultâneos, recíprocos ou correspectivos. Esses
testamentos, desde que feitos em documentos separados, são válidos, ainda que feitos na mesma
data. O Código veda apenas a sua feitura de forma conjuntiva, isto é, num único instrumento.
Testamentos simultâneos são os que beneficiam uma terceira pessoa. Exemplo: o marido faz
testamento em favor de C; sua esposa também faz um testamento em favor de C.
Testamentos recíprocos são aqueles em que os testadores beneficiam-se mutuamente, sendo
herdeiro o que sobreviver. Exemplo: o marido faz um testamento em favor de sua esposa; ela
também faz um testamento em favor dele.
Testamentos correspectivos são aqueles em que os testadores efetuam disposições em
retribuição de outras correspondentes. Exemplo: A deixa, por testamento, uma casa para B em
retribuição ao fato deste ter também lhe deixado, por testamento, determinado bem.

TESTAMENTO PÚBLICO

Testamento público é o ditado, de viva voz, pelo testador ao tabelião ou seu substituto legal
ou então ao agente consular, na presença de duas testemunhas, para que este reduza a escrito em
seu livro de notas. O substituto legal do tabelião é o oficial-maior do tabelionato e também o
escrevente juramentado que esteja legalmente como substituto, no pleno exercício da função de
tabelião. Nada obsta que o testador apresente ao tabelião uma minuta do testamento, ainda que
redigida por seu advogado, em vez de ditá-lo em viva voz.
A escolha do Tabelião de Notas é livre, não precisa ser a do domicílio do testador ou o do
local dos bens (art.8º da Lei 8.935/94).
As testemunhas devem estar presentes do princípio ao fim. Embora o Código seja omisso, as
declarações do testador devem ser feitas em língua nacional, pois é feito por escritura pública
(art.215, §3º do CC). Se o testador não falar português e o tabelião não entender o idioma, é
necessária a nomeação de tradutor público que sirva de intérprete. Com efeito, dispõe o §4º do art.
215 do CC: “Se qualquer dos comparecentes não souber a língua nacional e o tabelião não entender
o idioma em que se expressa, deverá comparecer tradutor público para servir de intérprete, ou, não
o havendo na localidade, outra pessoa capaz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade e
conhecimento bastantes”.
Lavrado o instrumento, o testamento deve ser lido pelo tabelião, ou pelo próprio testador, na
presença das testemunhas. Em seguida, o testamento é assinado pelo testador, pelas testemunhas
e pelo tabelião, e registrado em livro próprio. Se o testador não souber, ou não puder assinar, uma
das duas testemunhas assinará por ele, a rogo (art. 1.865), não é necessária a impressão digital do
testador, mas por cautela é bom que se colha. Não é necessário, mas nada obsta, nesse caso, que a
assinatura a rogo seja feita por uma terceira testemunha. O tabelião pode escrever o testamento
de forma manual ou mecânica. De fato, reza o parágrafo único do art.1.864 do CC que “O

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testamento público pode ser escrito manualmente ou mecanicamente, bem como ser feito pela
inserção da declaração de vontade em partes impressas de livro de notas, desde que rubricadas
todas as páginas pelo testador, se mais de uma”.
O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá seu testamento, e, se não souber, designará
uma terceira testemunha, chamada de suplementar, que deverá ler o testamento em seu lugar. Vê-
se, portanto, que o testamento do surdo analfabeto é o único que exige três testemunhas.
Quanto ao mudo ou surdo-mudo, ainda que saiba ler e escrever, não pode testar de forma
pública, porque esse testamento deve ser feito de viva voz. Como veremos, a lei lhe permite o
testamento cerrado.
Ao cego só se permite o testamento público, que deverá ser lido duas vezes, uma pelo
tabelião, e a outra por uma das duas testemunhas instrumentárias (art. 1.867).
Finalmente, enquanto vivo o testador, a certidão do testamento público só poderá ser
fornecida a seu requerimento ou por ordem judicial. Entendimento diverso violaria o art.5º, X, da
CF, que protege a intimidade da pessoa.
Com a morte do testador, o testamento é apresentado em juízo, sendo lido na presença do
apresentante e interessados, que quiserem ouvir, em seguida os autos são enviados ao Ministério
Público. Se não houver vícios extrínsecos, o juiz ordena o registro e o cumprimento do testamento.

TESTAMENTO CERRADO

Testamento cerrado, também chamado secreto ou místico, é o escrito pelo próprio testador,
ou por alguém a seu rogo, com caráter sigiloso, e depois aprovado pelo tabelião, na presença de
duas testemunhas.
O testamento cerrado é elaborado em duas fases:

a. a da cédula testamentária;
b. a do auto de aprovação.

Quanto à cédula testamentária, isto é, ao testamento propriamente dito, deve ser escrito
pelo testador ou por outra pessoa a rogo, se o testador não puder ou não souber escrever. O
testamento deve ser assinado pelo testador ainda quanto escrito a rogo. A lei não exige que o
escrito seja de próprio punho, admitindo-se, portanto, a escrita mecânica, por exemplo,
datilografia. Quem escreve a rogo não pode ter interesse na sucessão, sendo nula a disposição que
o beneficia ou que beneficia seu ascendente, descendente, cônjuge, companheiro e irmão
(art.1.802 do CC).
Depois de escrito e assinado, o próprio testador deve entregar o testamento ao tabelião, na
presença de duas testemunhas. A entrega deve ser pessoal, nunca por procurador. Após o
recebimento, o tabelião lavra no testamento o auto de aprovação, lendo-o perante às
testemunhas, passando, em seguida, a cerrar e coser o instrumento aprovado, com cinco pontos de
retrós, conforme a praxe. O auto de aprovação é lançado após a assinatura do testador e se não
houver espaço agrega-se uma folha ao testamento. O auto de aprovação deve ser assinado pelo
próprio testador, e não a rogo; as testemunhas e o tabelião também o assinam.
Depois de aprovado e cerrado, será o testamento devolvido ao testador, que se incumbiria de
guardá-lo. O tabelião lançará no seu livro apenas uma nota do lugar, dia, mês e ano em que o
testamento foi aprovado e entregue. Anote-se que o conteúdo do testamento é secreto. Não é
conhecido pelas testemunhas nem pelo tabelião. Este, quando aprova o testamento, não toma
ciência do conteúdo da cédula instrumentária. Ele lê para as testemunhas o auto de aprovação, e

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não o conteúdo do testamento.


Cumpre acrescentar, porém, que o tabelião pode escrever o testamento a rogo do testador.
Nesse caso, o próprio tabelião, não obstante, poderá aprová-lo (art. 1.870).
O testamento cerrado pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira (art. 1.871). Se
escrito em língua estrangeira é preciso que, após a morte do testador, haja a tradução por tradutor
juramentado.
Não poderá dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba, ou não possa ler
(art. 1.872). Quem não sabe escrever, mas sabe ler, pode dispor dos bens em testamento cerrado,
salvo o mudo.
Quanto ao mudo ou surdo-mudo, poderá fazer o testamento cerrado, desde que ele mesmo
escreva. Não pode testar a rogo (art. 1.873). Assim, o mudo ou surdo-mudo que não sabe escrever
não poderá testar. Com efeito, o testamento público deve ser feito de viva voz; o particular deve
ser lido pelo próprio testador; o cerrado deve ser escrito pelo próprio surdo-mudo. O mudo,
quando entrega o testamento ao tabelião, deve escrever, no ato da entrega, na presença de duas
testemunhas, na face externa do testamento: “Este é o meu testamento, cuja aprovação peço”. O
tabelião, por sua vez, deve fazer constar no auto de aprovação que essa declaração escrita foi feita
em sua presença e das duas testemunhas.
O testamento cerrado só pode ser aberto pelo juiz,na presença do apresentante e do
escrivão, após a morte do testador (art. 1.875). Se for aberto pelo testador ou por pessoa
autorizada pelo testador, ter-se-á como revogado. Presume-se, até prova em contrário, que o
testamento cerrado que estiver aberto foi revogado pelo testador. Se se provar que foi violado por
outra causa, o juiz ordenará que seja cumprido.

TESTAMENTO PARTICULAR

O Código de 1.916 só previa o testamento particular hológrafo, isto é, escrito e assinado pelo
próprio testador. No novo código, a nosso ver, o testamento particular pode ser hológrafo e
alógrafo. O testamento alógrafo é o escrito a rogo, isto é, por outra pessoa a pedido do testador.
Urge, porém, que o próprio testador assine o testamento, e ainda o leia na presença de pelo menos
três testemunhas, ainda que alógrafo (§ 2º do art. 1.876). O novo código permite o testamento
alógrafo no parágrafo segundo do art. 1.876, quando salienta que o testamento elaborado por
processo mecânico deve ser assinado pelo testador, deixando entrever implicitamente que outra
pessoa pode subscrevê-lo, vedando apenas a assinatura a rogo.
O testamento particular pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas
a compreendam (art. 1.880). Pode ainda ser escrito do próprio punho ou mediante processo
mecânico, mas, nesse último caso, não pode conter rasuras ou espaços em branco. Se escrito de
próprio punho, as rasuras, correções e espaços em branco não invalidam o testamento.
Morto o testador, as testemunhas serão intimadas para confirmarem, em juízo, o testamento.
Basta, para a homologação do testamento, lembrarem-se da leitura do testamento e reconhecerem
as próprias assinaturas e a do testador. O juiz, antes de homologar o testamento particular, deve
ouvir as testemunhas e ainda colher a manifestação do Ministério Público.
Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma delas comparecer, o
testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver prova suficiente de sua veracidade
(art. 1.878, parágrafo único). Se, no entanto, faltar todas as testemunhas, o testamento caduca, isto
é, fica sem efeito.
Em circunstâncias excepcionais declaradas na cédula, o testamento particular de próprio
punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério do juiz (art.
1.879). Eis aí a única possibilidade do testamento sem testemunhas. Urge, porém, que a situação
excepcional esteja devidamente descrita no testamento. Este deverá ainda ser escrito de próprio
punho. É o chamado testamento de emergência ou testamento particular excepcional. Exemplos:

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pane no avião, internação na UTI etc. Por analogia ao art.1.891 entende-se que esse testamento
caduca depois de três meses após encontrar-se em local em que podia testar dentro da
normalidade. É, pois, o único testamento ordinário provisório.

TESTAMENTOS ESPECIAIS – CARACTERES E FORMAS

Os testamentos especiais ou extraordinários são: o marítimo, o militar e o aeronáutico.


Revestem-se de duas características: excepcionalidade e provisoriedade.
Com efeito, só podem ser elaborados em situações excepcionais, extraordinárias. Feitos em
situação normal, haverá nulidade absoluta.
Assim, o testamento marítimo só pode ser feito nas seguintes situações:

a. navio em alto mar;


b. navio ancorado, ou no curso de uma viagem, mas o testador não pode desembarcar
para testar na forma ordinária. Se puder desembarcar, o testamento é nulo. Se, porém, o navio
estiver ancorado, mas não for possível testar na forma ordinária, o testamento marítimo, de
acordo com a doutrina dominante, terá validade. Tal ocorre, por exemplo, quando no local não
houver Tabelionato de Notas ou consulado brasileiro.

O testamento aeronáutico, inovação do novo Código, só pode ser feito quando o testador
estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial.
Quanto ao testamento militar, só pode ser feito nas seguintes situações:

a. militar em campanha, dentro ou fora do País;


b. militar em praça sitiada, ou que esteja de comunicações interrompidas.

Por outro lado, os testamentos especiais, em suas três formas, são provisórios, porque
caducará se o testador não morrer nos noventa dias subseqüentes, após se encontrar em lugar
onde podia testar na forma ordinária. Todavia, o testamento militar cerrado pode ser definitivo se
constarem as formalidades do parágrafo único do art. 1.894, isto é, se o auditor ou oficial a quem o
testamento foi apresentado anotar, em qualquer parte dele, o lugar, dia, mês e ano, em que lhe foi
apresentado, nota esta que deverá ser assinada por ele e pelas testemunhas.
Os testamentos marítimo e aeronáutico podem ser públicos e cerrados. Serão públicos
quando ditados ao comandante em presença de duas testemunhas. O testamento aeronáutico não
é ditado ao comandante, mas à pessoa que este designar. Serão cerrados quando escrito pelo
testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e depois entregue ao comandante ou substituto deste
perante duas testemunhas. Em ambas as hipóteses, o registro do testamento será feito no diário de
bordo. O testamento ficará sob a guarda do comandante, que o entregará às autoridades
administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional, contra-recibo averbado no diário de
bordo (art. 1.890). O Código diz que o testamento marítimo ou aeronáutico deve observar a forma
que corresponda ao testamento público ou cerrado, mas é claro que essas solenidades poderão ser
reduzidas, competindo ao juiz, na hipótese de omissão de uma dessas formalidades, decidir por
equidade. Referidos testamentos podem ser feitos pela tripulação e passageiros
Quanto ao testamento militar, pode ser público, cerrado e nuncupativo.
O testamento militar público é ditado ao comandante ou diretor do hospital, perante duas
testemunhas. Se o testador não puder ou não souber assinar, é necessária uma terceira
testemunha, para assinar por ele. É o único testamento especial que exige três testemunhas. Se o
testador for o oficial mais graduado, o testamento será ditado àquele que o substituir.
O testamento militar cerrado é o escrito do próprio punho do testador. Em seguida, deverá

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ser apresentado, aberto ou cerrado, na presença de duas testemunhas, ao auditor ou ao oficial de


patente, que lhe faça as vezes neste mister. Quando é apresentado aberto é chamado de
testamento militar particular.
Finalmente, o testamento militar nuncupativo ou in extremis ou in articulo mortis ou em
iminente risco de vida é o feito oralmente. O testador confia sua última vontade a duas
testemunhas. Sobredito testamento caducará se o testador não morrer na guerra ou então se vier a
convalescer do ferimento. Logo, para caducidade, não há necessidade de se aguardar os 90 dias,
mas apenas o término da guerra ou o seu convalescimento. Aludido testamento é o único que é
verbal. Nada é escrito. Só pode ser feito em situação excepcionalíssima, qual seja, militar em
combate ou ferido, desde ainda que esteja em campanha, em praça sitiada ou de comunicações
interrompidas. Esse testamento, para surtir efeito, deverá ser confirmado ao juiz pelas duas
testemunhas.

CODICILOS

Codicilo é o documento particular hológrafo, isto é, escrito e assinado pelo próprio


codicilante, dispondo sobre seu enterro, sobre esmolas de pouca monta, assim como móveis,
roupas ou jóias, de pouco valor, de seu uso pessoal. O codicilo ainda se presta para nomear ou
substituir testamenteiros (art. 1.883), perdoar o indigno (art. 1.818), nomear tutor (art. 1.729,
parágrafo único) e reservar parcelas para sufrágios de sua alma (art. 1.998). Cremos que também se
possa reconhecer filho em codicilo, porque a Lei nº 8.560/92 permite o reconhecimento em escrito
particular, mas o assunto é polêmico, sendo negada essa possibilidade por valiosas opiniões.
O codicilo é documento autônomo, porque sua existência independente de o de cujus ter
deixado testamento (art. 1.882).
Consideram-se, porém, revogados os codicilos, se, havendo testamento posterior, este os não
confirmar ou modificar (art. 1.884). Assim, para que o codicilo seja revogado, basta que o
testamento posterior a ele não se refira. O codicilo não pode revogar o testamento, pois
testamento só se revoga por outro testamento. Zeno Veloso, no entanto, ensina que o codicilo
posterior que regula a matéria do testamento anterior, atribuindo, por exemplo, certo relógio de
pequeno valor a certa pessoa, tem o condão de revogar a disposição testamentária que
beneficiava outra pessoa com esse bem.
Quanto ao valor da liberalidade, que pode ser objeto de codicilo, há uma tendência de que
não pode ultrapassar 10% do valor da herança. Mas a melhor doutrina sustenta que a questão deva
ser analisada pelo juiz, caso a caso. Anote-se, porém, que não pode abranger bens imóveis.
Se estiver fechado o codicilo, abrir-se-á do mesmo modo que o testamento cerrado, isto é,
pelo juiz (art. 1.885).
O codicilo deve ser inteiramente escrito pelo codicilante. Não se admite a escrita ou
assinatura a rogo. A nosso ver, pode ser datilografado, pois o novo código admite a datilografia ou
outras escritas mecânicas em testamento particular, logo com maior razão deve ser admitido no
codicilo.
O Código não prevê a cláusula codicilar, segundo a qual o testamento nulo deve ser aceito, ao
menos, como codicilo. Referida cláusula não é possível, testamento nulo não pode ser recebido
como codicilo.
Finalmente, não se pode nomear nem deserdar herdeiros pelo codicilo.

NULIDADE DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

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O art. 1.900, I, reputa nula a disposição que institua herdeiro ou legatário com a condição
captatória de que este disponha, também, por testamento, em benefício do testador, ou de
terceiro. Exemplo: “A” é meu herdeiro, se ele, em seu testamento, nomear-me seu sucessor.
Testamento não é contrato nem ato de troca de favores. A imoralidade é a razão da nulidade.
O inciso II do art. 1.900 também reputa nula a disposição que se refira a pessoa incerta, cuja
identidade não se possa averiguar. É, pois, preciso que o nome do herdeiro ou legatário conste no
próprio testamento, sendo nula a remissão a outros documentos.
O inciso III do art. 1.900 considera também nula a disposição que favoreça pessoa incerta,
cometendo a determinação de sua identidade a terceiro.
Em três hipóteses, porém, é válido o testamento que beneficia pessoa incerta:

a. em favor dos pobres. No silêncio do testamento, entende-se que são os pobres do lugar
do domicílio do testador ao tempo de sua morte;
b. em favor de instituições de caridade. No silêncio, são as do domicílio do testador,
sendo certo que as instituições particulares preferirão sempre às públicas (art. 1.902);
c. quando se atribuir a um terceiro a nomeação, dentre duas ou mais pessoas
mencionadas pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um
estabelecimento por ele designado (art. 1901, I). Só é válida essa cláusula se o testamento
delimitar as pessoas a serem escolhidas, mencionando-as, ou fazendo alusão à família ou corpo
coletivo de onde deva elegê-la.

CLÁUSULA DE INALIENABILIDADE

A cláusula de inalienabilidade, por ato de vontade, só pode recair sobre bens doados,
deixados por testamento e em relação ao bem de família do Código Civil. Não pode ser inserida
esta cláusula na compra e venda. Quando imposta na doação, deve constar da própria escritura de
doação, sendo vedada a sua inserção posterior. O doador, em vida, poderá cancelar a cláusula.
Morto o doador, porém, a cláusula persiste, a menos que ele a tenha revogado em vida ou por
testamento. As cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade quando
impostas através de testamento sobre a legítima exigem fundamentação numa justa causa
(art.1.848 do CC).
A cláusula de inalienabilidade pode ainda ser temporária e vitalícia. No silêncio, será vitalícia,
isto é, acompanhará toda a existência da pessoa beneficiada. Com a morte do beneficiário,
extingue-se a sobredita cláusula. Seu cancelamento deve ser pleiteado judicialmente. É vedada a
cláusula de inalienabilidade que ultrapasse a vida do beneficiário.
A inalienabilidade pode ser absoluta e relativa. É absoluta quando o testador veda a
alienação, sem abrir qualquer exceção. É relativa quando ele permite que se aliene a certas pessoas
ou em certas condições.
Se houver cláusula de inalienabilidade, o herdeiro não poderá fazer a renúncia translativa da
herança, isto é, em favor de certa pessoa, mas apenas a renúncia pura e simples ou renúncia em
favor do acervo hereditário, que a rigor também é pura e simples.
A cláusula de inalienabilidade implica impenhorabilidade e incomunicabilidade (art. 1.911).
Nada obsta, porém, a inserção apenas da cláusula de incomunicabilidade ou impenhorabilidade. Em
tal situação, o bem poderá ser livremente alienado, porque a inalienabilidade não é presumida,
devendo constar expressamente no testamento.
Discute-se se a cláusula de inalienabilidade implica impenhorabilidade dos frutos do bem
gravado. Uns entendem que não, pois a cláusula deve ser interpretada restritivamente; outros, que
sim, porque a finalidade da dita cláusula é proteger o beneficiado, ademais, o acessório segue o

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principal. Há ainda uma terceira corrente, sustentando que a impenhorabilidade dos frutos só é
possível mediante cláusula expressa no testamento. A nosso ver, essa última é a melhor exegese,
de modo que, no silêncio, a penhora ainda pode recair sobre os frutos (art. 834 do CPC/2015). De
fato, os frutos do bem inalienável são alienáveis e por conseqüência penhoráveis.
Por outro lado, admite-se a sub-rogação, isto é, a transferência da cláusula de inalienabilidade
para outros bens, mediante autorização judicial. Sub-rogação só é possível quando o bem for
desapropriado ou então por alguma conveniência econômica do herdeiro ou donatário (parágrafo
único do art. 1.911). Mediante ordem judicial, admite-se a venda do bem. O produto da venda
converter-se-á em outros bens, sobre os quais incidirão a inalienabilidade. Se os bens adquiridos
forem de maior valor, somente até o montante do bem originariamente gravado subsistirá o ônus.
Reputa-se não escrita a cláusula testamentária proibitiva da sub-rogação. Sem alvará judicial, é nula
a venda do bem. Admite-se a venda do bem, mediante alvará judicial, para tratamento de doença
grave do beneficiado.
A cláusula da inalienabilidade pode recair sobre qualquer bem, móvel ou imóvel, inclusive
dinheiro.
A inalienabilidade não atinge os credores do de cujus, que poderão requerer a penhora do
bem. Quanto à Fazenda Pública, também poderá requerer a penhora dos bens gravados com
cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade (art. 184 do Código Tributário Nacional e art. 30
da Lei nº 6.830/80).

LEGADOS

CONCEITO. DISTINÇÃO ENTRE LEGADO E HERANÇA. OBJETO

Legado é um bem, fungível ou infungível, que, por testamento, é deixado para alguém.
Distingue-se da herança. Esta é composta pela universalidade, isto é, a totalidade da massa
hereditária, ou percentual dela.
O herdeiro sucede a título universal, assumindo o lugar do morto, no tocante às relações
jurídicas herdadas. O legatário sucede a título singular, recebendo apenas uma coisa concreta do
acervo hereditário. O herdeiro responde por dívidas da herança até o limite do quinhão herdado, o
legatário não, salvo quando o espólio for insolvente ou a herança houver sido distribuída por inteiro
em legados válidos. De fato, se as dívidas absorverem toda a herança, o credor do de cujus pode
acionar os legatários, responsabilizando-os pelos débitos. O herdeiro pode ajuizar ações
possessórias, porque tem posse desde a abertura da sucessão, o legatário não, porque sua posse só
advém após a partilha.
Nada obsta que toda a herança seja distribuída em legados, desde que não hajam herdeiros
necessários.
Qualquer pessoa, natural ou jurídica, pode figurar como legatária, inclusive o próprio
herdeiro. Chama-se legado precípuo ou prelegado, o atribuído ao herdeiro legítimo. Exemplo: o
testador deixa para seu filho “A” a biblioteca jurídica.
O objeto do legado pode ser qualquer bem, móvel, imóvel, fungível, infungível, corpóreo,
incorpóreo etc. Como veremos, admite-se até legado de dívida. O legado pode abranger ainda
bens presentes ou futuros, pertencentes ou não a o testador. Nada obsta o legado de obrigações de
dar, fazer e não fazer. Quanto ao valor do legado, o próprio testador deve fixá-lo, sendo-lhe vedado
delegar essa atribuição a terceiro, salvo para remuneração de serviços que lhe foram prestados, por

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ocasião da moléstia de que faleceu.

LEGITIMAÇÃO PARA SUCEDER POR TESTAMENTO

REGRA GERAL

Em regra, qualquer pessoa, natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, existente ao tempo


da morte do testador, ainda que morra logo em seguida, desfruta de legitimação sucessória.
Presume-se a capacidade sucessória.
Excepcionalmente, pessoas ainda não existentes ao tempo da morte do testador também
podem ser contempladas no testamento. São as seguintes: nascituro, prole eventual, pessoa
jurídica sem registro e fundação.
No primeiro caso, do nascituro, o testamento só produzirá efeito se sobrevier o nascimento
com vida. Tratando-se de natimorto, opera-se a caducidade da disposição testamentária,
porquanto elaborado sob condição suspensiva.
O segundo caso, prole eventual, foi bem disciplinado no novo Código, suprindo as deficiências
do direito anterior. Assim, o testamento pode beneficiar filhos, ainda não concebidos, de pessoas
indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir a sucessão (art. 1.799, I). Vê-se, portanto,
que não é qualquer prole eventual que pode ser beneficiada, mas apenas filhos, e não netos, de
pessoas indicadas pelo testador. Exemplo: diz o testador: deixo os bens para os eventuais filhos de
Maria. Esta, no entanto, nem grávida está. O testamento, porém, é válido. Enquanto é aguardada a
concepção e o nascimento da prole eventual, os bens da herança, no silêncio do testamento, serão
confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz (art. 1.800). Atuará como
curador, no silêncio do testamento, a pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e,
sucessivamente, o seu cônjuge ou companheiro (§ 1º. do art. 1.800). Nascendo com vida o herdeiro
esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da
morte do testador (§ 3º. do art. 1.800). Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não
for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário, caberão aos
herdeiros legítimos do testador (§ 4º. do art. 1.800). Discute-se se a prole eventual abrange ou não
os filhos adotivos. A nosso ver, sim, porque é vedada discriminação entre filhos. Outros dizem que
não, porque a adoção seria uma maneira de burlar a disposição testamentária.
O terceiro caso, pessoa jurídica sem registro, a nosso ver, só é possível, e mesmo assim por
equidade, quando se tratar de instituição de caridade; nos demais casos, não, porque sem o
registro a pessoa jurídica não desfruta de personalidade, de modo que não pode adquirir direitos,
malgrado a opinião contrária do eminente jurista Washington de Barros Monteiro, segundo o qual
tais entidades equiparam-se ao nascituro. É razoável aplicar por analogia o art.554 do CC, que cuida
da doação, dispondo que: A doação a entidade futura caducará, em dois anos, se esta não estiver
constituída regularmente.
O último caso, instituição de fundação, ocorre quando o testador reserva bens para formação
dessa entidade. Até o registro do ato constitutivo da fundação, os bens devem ser arrecadados
como herança jacente.

CASOS DE FALTA DE LEGITIMAÇÃO

No art. 1.801 está o rol dos que não podem ser nomeados herdeiros nem legatários, sob pena
de nulidade da disposição testamentária.

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No inciso I encontra-se a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, o seu cônjuge ou


companheiro, seus ascendentes e irmãos. O inciso I omitiu os descendentes, mas a omissão é
suprida pelo parágrafo único do art. 1802, que também os proíbem de sucederem.
No inciso II encontram-se as testemunhas do testamento. O parágrafo único do art. 1.802
estende a proibição aos seus ascendentes, descendentes, irmãos, cônjuge ou companheiro.
No inciso III encontra-se o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos. A proibição, por força do parágrafo único do
art. 1.802, abrange também os ascendentes, os descendentes, os irmãos, e o cônjuge ou
companheiro do concubino. Anote-se que o testador separado judicialmente ou divorciado pode
testar em favor de sua companheira. Quanto ao testador casado, só poderá testar em favor da
companheira após cinco anos da separação de fato, desde que não tenha sido culpado pela
separação. O legislador exagerou no prazo de cinco anos. Deveria tê-lo fixado em dois anos,
mantendo-se a coerência com o disposto no art. 1.830, que nega direito sucessório ao cônjuge
separado de fato há mais de dois anos. Observe-se ainda que a concubina casada também está
proibida de testar em favor do seu concubino. No código anterior, a proibição restringia-se ao
testador casado. Por fim, nada obsta o testamento em favor de outros cúmplices do adultério,
porque a proibição restringe-se ao concubinato, relacionamento que pressupõe uma certa
estabilidade. Quanto à doação, o legislador é mais rigoroso, proibindo que o doador casado
contemple qualquer cúmplice do adultério, concubina ou não (art. 550).
No inciso VI encontra-se o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante
quem se fez, assim como o que fez ou aprovou o testamento. A proibição estende-se também aos
seus ascendentes, descendentes, cônjuge, companheiro e irmãos, por força do parágrafo único do
art. 1.802.
Além das pessoas mencionadas, falta ainda capacidade testamenteira passiva aos governos
estrangeiros (art. 11, §2º da LINDB). Estes não podem adquirir bens no Brasil, à exceção dos prédios
necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares (§ 3º do art. 11 da
LINDB).
Finalmente, quando o herdeiro ou legatário é domiciliado fora do Brasil, podem surgir outros
casos de incapacidade para suceder, porque, de acordo com o § 2 º do art. 10 da LINDB, é a lei do
domicílio do herdeiro ou legatário que regula a capacidade para suceder.

HERDEIROS NECESSÁRIOS

CONCEITO

Herdeiros necessários ou reservatários são os que têm direito à legítima, isto é, à metade dos bens
da herança. São eles: os descendentes, os ascendentes e o cônjuge do “de cujus”. O novo Código inovou,
para melhor, ao inserir o cônjuge no rol dos herdeiros necessários (art. 1.845).
Cumpre não confundir herdeiro legítimo e herdeiro necessário.
Herdeiros legítimos são os que constam no rol do art. 1.829. Podem ser: necessários e
facultativos. Necessários são os descendentes, ascendentes e cônjuge; facultativos são os
companheiros e os colaterais até quarto grau. Todo herdeiro necessário é legítimo, mas nem todo
herdeiro legítimo é necessário.
Os herdeiros necessários só podem ser afastados da herança por indignidade e deserdação.
Observe-se, porém que o Código não prevê a deserdação do cônjuge, de modo que a sua exclusão
só poderá ocorrer por indignidade.

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CÁLCULO DA LEGÍTIMA E DA PORÇÃO DISPONÍVEL

Legítima ou reserva é a parte da herança pertencente aos herdeiros necessários. Em regra,


compreende a metade da herança líquida. A outra metade é a porção disponível.
Assim, em havendo herdeiros necessários, o testamento só pode versar sobre a quota
disponível, sendo, pois, restrita ou relativa a liberdade de testar. Se, porém, não há herdeiros
necessários, toda a herança torna-se disponível, podendo o testador dispor de seus bens como
melhor lhe aprouver, porque a sua liberdade de testar torna-se irrestrita, absoluta.
No cálculo da legítima, toma-se por base a herança bruta. Em seguida, abatem-se as dívidas
do de cujus e as despesas do funeral. O resultado dessa operação constitui a herança líquida ou
monte partível. Divide-se a herança líqüida em duas metades. Uma dessas metades corresponde à
legítima, e a outra, à porção disponível. Se, por exemplo, a herança líquida é de R$ 30.000,00 e o
testador deixou dois filhos, A e B, a legítima é de R$ 15.000,00, que será dividida entre A e B, sendo
R$ 7.500,00 para cada um. A outra metade de R$ 15.000,00 é a quota disponível.
Se, porventura, o testador, em vida, efetuou doações aos seus descendentes, aumenta-se o
tamanho da legítima, porque essas doações devem ser adicionadas a ela (art. 1.847). Anote-se que,
em regra, toda doação de ascendente para descendente deve ser colacionada, isto é, descontada
da legítima. Para a concretização desse desconto, urge que primeiro seja adicionada à legítima.
Assim, a legítima é a metade da herança líquida mais as doações colacionáveis. Veja a
fórmula: L = ½ HL + DC.
Se, por exemplo, o testador deixa dois filhos, A e B, e uma herança líquida de R$ 60.000,00,
sendo certo, porém, que, em vida, doou R$ 20.000,00 para o seu filho A, o valor de legítima passa a
ser de R$ 50.000,00. É só seguir a fórmula. Vejamos:
L = ½ HL + DC
L = R$ 30.000,00 + R$ 20.000,00
L = R$ 50.000,00
No exemplo acima, a legítima de cada filho é de R$ 25.000,00. Logo, o filho A receberá apenas
R$ 5.000,00, porque em vida já recebeu R$ 20.000,00. O filho B receberá da herança R$ 25.000,00.
Outro exemplo: o testador deixa uma herança líquida de R$ 100.000,00. Em vida doou R$
20.000,00 para o filho A e R$ 10.000,00 para o filho B. Deixou cinco filhos: A, B, C, D e E.
Sigamos a fórmula.
L = ½ HL + DC
L = R$ 50.000,00 + R$ 20.000,00 + R$ 10.000,00
L = R$ 80.000,00
A legítima de cada filho é de R$ 16.000,00. Os filhos C, D e E receberão R$ 16.000,00, cada
um. O filho B receberá apenas R$ 6.000,00, porque em vida já recebeu R$ 10.000,00. Quanto ao
filho A, nada receberá e ainda terá de repor R$ 4.000,00 à herança, porque em vida havia recebido
R$ 20.000,00.
Mais adiante veremos que não há colação se o doador dispensou, na escritura de doação ou
em testamento, o donatário de colacionar.
Anote-se que antes de calcular a legítima, deve ser apurado o valor da herança, excluindo-se
a meação, se houver, pertencente ao cônjuge sobrevivente.
Finalmente, dispõe o art. 1.849 que o herdeiro necessário, a que o testador deixa sua parte
disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima. Assim, enquanto as doações feitas
aos descendentes devem ser colacionadas, não obstante extraídas do disponível, as deixas
testamentárias escapam da colação.

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RESTRIÇÕES À LEGÍTIMA

Em havendo justa causa, declarada no testamento, pode o testador estabelecer cláusula


de inalienabilidade, impenhorabilidade e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima
(art. 1.848). O § 1º proíbe que o testador estabeleça a conversão dos bens da legítma em
outros de espécie diversa. Referida conversão só pode ser determinada pelo juiz, mediante
justa causa, após autorizar a venda do bem gravado com cláusula de inalienabilidade
(art.1.848, §2º e parágrafo único do art.1.911 do CC). Fora dessa hipótese, é nula a cláusula
testamentária que manda vender os bens da legítima para com o produto da alienação se
adquirir outros bens.
No regime do Código anterior, a inserção dessas restrições não estava condicionada a uma
justa causa. O novo Código exige, porém, que o testamento esclareça a razão da restrição,
apontando uma justa causa. Quanto aos testamentos feitos na vigência do Código de 1916, estatui
o art. 2.042 que o testador deverá aditar o testamento, no prazo de um ano, após a entrada em
vigor do novo Código, para declarar a justa causa, sob pena de não subsistir a restrição. A nosso ver,
o art. 2.042 padece de inconstitucionalidade, porque a nova lei não pode retroagir para violar o ato
jurídico perfeito.
No tocante à parte disponível, pode ser gravada de inalienabilidade, impenhorabilidade e
incomunicabilidade, independentemente de justa causa. Aplica-se, para tanto, o disposto no art.
1.911 do CC.
A cláusula de inalienabilidade é a que veda a transferência da propriedade dos bens. Não
pode ser perpétua, isto é, além da vida do herdeiro. A cláusula de inalienabilidade implica
impenhorabilidade e incomunicabilidade (art.1.911 do CC).
A cláusula de incomunicabilidade é a que veda a comunicação dos bens ao cônjuge do
herdeiro. Só é necessária no regime de comunhão universal; nos demais regimes a herança não se
comunica.
A cláusula de impenhorabilidade é a que veda a penhora do bem. Quanto aos frutos do
bem impenhorável, também podem ser gravados com cláusula de impenhorabilidade; se não
houver estipulação expressa poderão ser penhorados, à falta de outros bens (art. 834 do
CPC/2015).
Por outro lado, cumpre registrar que, mediante autorização judicial e havendo justa causa,
podem ser alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-
rogados nos ônus dos primeiros (§ 2º do art. 1.848). Note-se que o juiz pode autorizar a venda do
bem, desde que haja justa causa, como na hipótese de o proprietário não dispor de recursos para o
pagamento do condomínio. Com o produto da venda devem ser adquiridos outros bens, para os
quais serão transferidas as cláusulas de inalienabilidade, incomunicabilidade ou impenhorabilidade.
Finalmente, não se admitem outras restrições, de modo que a legítima, por falta de previsão
legal, não pode ser objeto de fideicomisso.

EXCLUSÃO DOS HERDEIROS FACULTATIVOS

Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu
patrimônio sem os contemplar (art. 1.850).

SUBSTITUIÇÃO VULGAR OU ORDINÁRIA OU DIRETA

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Dá-se a substituição vulgar quando o testador indicar certa pessoa para a hipótese de a
primeira nomeada não querer ou não poder aceitar a herança ou legado. A expressão “não querer”
refere-se à renúncia; a expressão “não poder” abrange os casos de indignidade, deserdação,
premoriência e comoriência do herdeiro ou legatário nomeado em primeiro lugar. Presume-se que
a substituição foi nomeada para as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se refira (art.
1.947). Exemplo: deixo a casa para A, se ele não puder, irá para B. A expressão “não puder” abrange
também a expressão “não quiser”, e vice-versa.

SUBSTITUIÇÃO FIDEICOMISSÁRIA OU INDIRETA

Verifica-se a substituição fideicomissária quando o testador deixa a herança ou legado a uma


pessoa (fiduciário), estabelecendo que a partir da morte desta, ou após o implemento de certo
termo ou condição, passará para outra pessoa (fideicomissário). Exemplo: diz o testador – deixo a
minha casa a Paulo; quando este morrer Pedro sucederá.
Testador é o fideicomitente; o que sucede em primeiro lugar é o fiduciário; o que sucede por
último é o fideicomissário.
Ressalte-se, ainda, que o art. 1.952 só permite o fideicomisso em favor da prole eventual, isto
é, de pessoa não concebida ao tempo da morte do testador. Trata-se de interessante inovação,
porque no regime anterior qualquer pessoa física ou jurídica podia figurar como fideicomissário.

DESERDAÇÃO

CONCEITO

Deserdação é privação da legítima do herdeiro necessário, por vontade motivada do testador.


É, pois, uma sanção civil.
Só é possível deserdar os ascendentes e descendentes. O cônjuge, conquanto seja também
herdeiro necessário, não pode ser deserdado, diante da falta de previsão legal, de modo que para
excluí-lo da herança a única via é a ação de deserdação.

CAUSAS DA DESERDAÇÃO

No Brasil, não existe a deserdação imotivada. Urge que o testador declare expressamente no
testamento as razões da deserdação. Todas as causas de indignidade justificam a deserdação.
Todavia, para a deserdação, há ainda outras causas previstas nos arts. 1.962 e 1.963 do CC.
Acrescente-se, porém, que é vedada a deserdação fora das hipóteses legais, pois o rol é taxativo.
O art. 1.962 diz que os ascendentes podem deserdar os descendentes nas seguintes
hipóteses:
I) ofensa física, a nosso ver, ainda que de natureza leve, não se exigindo prévia decisão da
justiça penal. A prova da ofensa física (lesão corporal ou vias de fato) pode ser feita na própria ação
de deserdação.
II) injúria grave. Não há necessidade de ser criminosa, porque o crime de injuria já é causa de
indignidade, e, por conseqüência de deserdação. A ofensa deve ser contra o testador e não às
pessoas de sua família.
III) relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto. Essas relações ilícitas devem ser de
conotação sexual ou libidinosa.
IV) desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade. A alienação

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mental deve ser transitória, porque deserdação depende de testamento, e alienado mental não
pode testar.
O direito anterior previa ainda como causa de deserdação a desonestidade da filha que vivia
na casa paterna, mas essa hipótese já vinha sendo considerada revogada pela Constituição Federal
de 1988, por ferir o princípio da isonomia.
Por outro lado, o art. 1.963 autoriza o descendente a deserdar o ascendente nas seguintes
hipóteses:
a) ofensa física. Anote-se, porém, que a ofensa física moderada em filho menor, para fim
educativo, não configura causa de deserdação. Se o filho for maior, a ofensa física, ainda que
moderada, é causa de deserdação;
b) injúria grave;
c) relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou do neto, ou com o marido ou
companheiro da filha ou neta;
d) desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave enfermidade.

REQUISITOS DA DESERDAÇÃO

A deserdação depende de três requisitos: testamento válido, motivação e sentença judicial.


Com efeito, a deserdação só pode ser ordenada em testamento válido. O testamento nulo
não gera efeitos jurídicos. Escritura pública e codicilo são meios inidôneos para levar a efeito a
deserdação. Qualquer testamento, público, cerrado, particular, marítimo, militar e aeronáutico, são
meios idôneos para deserdação.
É ainda necessário que o testador mencione a causa da deserdação e que esta encontre
correspondência na lei (art. 1.814, 1.962 e 1.963).
Por fim, após a morte do testador, deve ser movida a ação de deserdação, obtendo-se uma
sentença favorável.

AÇÃO DE DESERDAÇÃO

A ação de deserdação pode ser movida, após a morte do testador, pelo herdeiro
testamentário ou por aquele a quem aproveite a deserdação, inclusive o Município, na hipótese de
a herança tornar-se jacente com a exclusão do herdeiro necessário. Não há previsão legal para que
o testamenteiro proponha essa ação (art. 1.981). De fato, a lei atribui legitimidade ao
testamenteiro para defender a validade do testamento, e não para propor a ação de deserdação,
de modo que só poderá propô-la na hipótese de beneficiar-se com a deserdação. O Ministério
Público não pode mover a ação, pois ela versa sobre interesse patrimonial.
Ao autor da ação incumbe o ônus da prova da veracidade da causa alegada pelo testador (art.
1.965). Em favor do deserdado milita o princípio da presunção da inocência. Se a causa não for
demonstrada, a ação deverá ser julgada improcedente, e então o deserdado herdará. Também
herdará se os interessados optarem pela não propositura da ação, cujo prazo é de quatro anos a
contar da abertura do testamento (parágrafo único do art. 1.965). No Código anterior, o prazo era
contado da abertura da sucessão.
O Código de 1916 conferia ao deserdado o direito de propor ação declaratória da inexistência
da deserdação, no prazo de quatro anos, a contar da abertura da sucessão (art. 178, § 9º, IV). O
novo Código não repete esse preceito. Aliás, o deserdado é presumidamente inocente, até prova
em contrário, tornando-se inócua aquela ação declaratória.
Anote-se, por fim, que o Código não prevê a deserdação do cônjuge, que só pode ser excluído

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da sucessão na hipótese de indignidade, não obstante revestir-se da qualidade de herdeiro


necessário. Também não há previsão legal para a deserdação dos herdeiros facultativos. Em relação
a estes, basta o testador omiti-los no testamento.
Quanto à reconciliação do testador com o deserdado, não implica perdão tácito, porque a
revogação da deserdação depende de novo testamento, revogando-a.

EFEITOS DA DESERDAÇÃO

O deserdado é excluído da sucessão.


Discute-se se os descendentes do deserdado devem ou não herdar em seu lugar, por
representação. Washington de Barros Monteiro sustenta que não há direito de representação,
porque para a deserdação a lei não repetiu a regra do art. 1.816. Prevalece, porém, a orientação de
que os descendentes do deserdado devem herdar por representação, por força do princípio da
intransmissibilidade da pena, podendo ainda ser invocada analogicamente a regra do art. 1.816.
Ademais, o Código diz expressamente que na renúncia não há representação, silenciando sobre a
exclusão desse direito na deserdação, sinal que quis manter o direito de representação, se quisesse
excluí-lo teria dito expressamente.
Quanto à posse da herança pelo deserdado, Silvio Rodrigues sustenta que na pendência da
ação de deserdação deve ser nomeado um depositário judicial, até o trânsito em julgado da
sentença. A questão não me parece assim tão simples, porque em favor do deserdado milita o
princípio da presunção de inocência. Ademais, não há previsão legal para excluí-lo
antecipadamente da posse, salvo se demonstrado o fumus boni juris e o periculum in mora.

REVOGAÇÃO DOS TESTAMENTOS

CONCEITO

Revogação do testamento é a sua ineficácia por vontade expressa, tácita ou real do testador.
O testamento é ato essencialmente revogável. Nula é cláusula testamentária que proíbe sua
revogação. Só são irrevogáveis: (a) a cláusula que reconhece filhos (Lei n° 8.560/92); (b) a cláusula
que perdoou o indigno, porque é imoral cancelar o perdão.

ESPÉCIES

A revogação pode ser expressa, tácita e real.

REVOGAÇÃO EXPRESSA E REVOGAÇÃO TÁCITA

Dá-se a revogação expressa ou direta quando o novo testamento declara textualmente que
está revogando o anterior. Pode ser total e parcial.
Efetua-se a revogação tácita ou indireta quando o novo testamento é absolutamente
incompatível com o anterior. Exemplo: num primeiro testamento deixo minha casa para A; e num
novo testamento deixo essa mesma casa para B. O testamento posterior revoga o anterior. A
revogação tácita também pode ser total e parcial. De fato, se o testamento posterior não contiver
cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste em tudo que não for contrário ao posterior
(parágrafo único do art. 1.970). É, pois, possível a pluralidade de testamentos, coexistindo todos, se
forem compatíveis, e não houver revogação expressa. Não há limite ao número de testamentos que

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cada pessoa pode fazer.

REGRAS COMUNS À REVOGAÇÃO EXPRESSA E TÁCITA

Essas duas formas de revogação, expressa e tácita, apresentam as seguintes regras comuns:
a) a revogação deve operar-se por novo testamento. Não se pode revogá-lo por escritura
pública ou codicilo;
b) o testamento revogador deve ser válido. Se for nulo, subsiste o testamento anterior;
c) o testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e forma que pode ser feito (art.1.969).
Assim, o testamento público pode ser revogado pelo testamento particular ou pelo testamento
cerrado e vice-versa. Note-se que o testamento revogado não precisa ter a mesma forma do
revogado, e sim uma das formas previstas em lei;
d) a revogação surtirá efeitos ainda que o herdeiro ou legatário contemplado no novo
testamento seja indigno, deserdado, renunciante ou incapaz de suceder (art. 1.971);
e) se um outro testamento revoga o testamento revogador, o primitivo testamento não
revigora a sua eficácia, salvo mediante cláusula expressa, pois não há respristinação tácita,
implícita, automática. Tal qual acontece com as leis, não há também repristinação de testamento,
salvo mediante cláusula expressa no novo testamento. Assim, se um terceiro testamento revoga o
segundo não se restabelece a eficácia do primeiro.

REVOGAÇÃO REAL OU MATERIAL

Dá-se essa revogação quando o testamento particular ou cerrado é destruído pelo testador.
Silvio Rodrigues a denomina revogação presumida.
No tocante ao testamento cerrado, dispõe o art. 1.972: “O testamento cerrado que o testador
abrir ou dilacerar, ou for aberto ou dilacerado com seu consentimento, haver-se-á como revogado.”
Vê-se, portanto, que a simples abertura do testamento cerrado é suficiente para revogá-lo.
Se o testamento cerrado encontrar-se aberto, presume-se que tenha sido feito pelo próprio
testador, ou então com seu consentimento, competindo aos interessados o ônus da prova em
sentido contrário, mediante ação ordinária.
No tocante ao testamento particular, presume-se também revogado em relação às cláusulas
que estiverem riscadas, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 1.972.
Finalmente, a destruição do testamento público não implica sua revogação, porque esse
testamento é registrado em livro próprio do cartório de notas. Não se pode deduzir que o testador
o tenha destruído com fito de revogá-lo. O propósito pode ter sido outro, como ocultá-lo dos
herdeiros, prevenindo-se de discussões antecipadas.

ROMPIMENTO OU RUPTURA DO TESTAMENTO

O rompimento ou ruptura do testamento, também chamada revogação legal ou presumida,


independe de novo testamento ou da vontade do testador. Deriva de um fato previsto na lei, que
gera a revogação automática do testamento. Verifica-se em três hipóteses:
A primeira ocorre quando sobrevém descendente sucessível ao testador, que não o tinha
quando testou. Observe-se, porém, que o nascimento de um filho só provoca a revogação do
testamento se o testador não tinha nenhum outro filho. Se quando testou já tinha filho, o
nascimento de outro não faz romper o testamento, ocorrendo apenas a preservação da sua
legítima. Acrescente-se, ainda, que se o testador, que não tinha filho, vier a adotar um, após o

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testamento, este deve ser rompido, porque entre filhos vigora a isonomia.
A segunda hipótese ocorre quando sobrevém descendente ao testador que não o conhecia
quando testou. Aqui o descendente já existia ao tempo do testamento, mas o testador ignorava a sua
existência. Tal ocorre, por exemplo, quando for julgada procedente a ação de investigação de
paternidade. Tome-se outro exemplo: morre o testador e a sua namorada encontra-se grávida, tendo a
gravidez ocorrido após o testamento. Rompe-se o testamento? Depende. Se quando testou não tinha
nenhum descendente, ocorrerá a ruptura, quer ele soubesse ou não da gravidez. Se, ao revés, já tinha
outros descendentes, não há falar-se em rompimento. E se a gravidez for anterior ao testamento?
Depende. Se quando testou tinha ciência da gravidez, não haverá ruptura, quer ele tivesse ou não
outros filhos, mas tão-somente a redução para preservação da sua legítima. Se, porém, quando testou
ignorava a gravidez, ocorrerá a ruptura, ainda que já tivesse outros filhos.
A terceira hipótese ocorre quando o testador, na ocasião da feitura do testamento, ignorava a
existência de outros herdeiros necessários (art. 1.974). Não se rompe o testamento, se o testador
dispuser de sua metade, não contemplando os herdeiros necessários, de cuja existência sabia, ou
quando os exclua dessa parte (art. 1.975).
São taxativas essas três hipóteses de rompimento do testamento (arts. 1.973 e 1.974). Não
concordamos, por falta de amparo legal, com o posicionamento que preconiza pela revogação do
testamento feito por um cônjuge em favor do outro, em razão da superveniência de separação judicial.
Anote-se, por fim, que o rompimento é sempre total e condicional. Total, porque se rompem
todas as disposições testamentárias, conforme preceitua o art.1973, e não apenas a parte invasora
da legítima do herdeiro necessário. Condicional, porque se opera sob condição suspensiva, qual
seja, a sobrevivência do descendente ao testador. Se aquele morrer primeiro que este não há falar-
se em rompimento.
A ruptura do testamento opera-se automaticamente, por força de lei, competindo ao juiz
decretá-la de ofício, no próprio inventário, independentemente do ajuizamento de ação específica.
Finalmente, é válida a cláusula pela qual o testador previne a ruptura, declarando
expressamente no testamento, que este não se rompe nas hipóteses dos arts. 1.973 e 1.974 do CC,
porquanto referida declaração destrói a presunção da imperfeição da manifestação da vontade
ante o desconhecimento do herdeiro necessário.

CADUCIDADE, NULIDADE E ANULABILIDADE DO TESTAMENTO

Caducidade é a ineficácia de um testamento válido por fato posterior à sua formação. Já


analisamos os casos de caducidade do legado. No tocante à herança, o testamento caduca nas
seguintes hipóteses:
a) se o herdeiro testamentário morrer antes do testador, ou simultaneamente com ele;
b) se não se realizar a condição a que estava dependente a instituição do herdeiro ou então se
este falecer antes de realizada a condição;
c) se o herdeiro testamentário renunciar, for excluído da sucessão ou for incapaz de herdar;
d) se o testador, que fez testamento marítimo, militar ou aeronáutico, não morrer na viagem
nem nos três meses subseqüentes ao seu desembarque em lugar onde podia testar na forma
ordinária;
e) a modificação substancial da coisa legada, gera a caducidade do legado, outrossim, o
perecimento sem culpa da coisa legada.

Com a caducidade do testamento, subsiste a sucessão legítima como se não houvesse


testamento, salvo nas hipóteses de substituição e direito de acrescer.

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Por outro lado, a nulidade do testamento é a sua ineficácia, em razão da violação dos
requisitos necessários à sua formação válida. Na nulidade, o testamento já nasce defeituoso, na
caducidade, nasce perfeito.
A nulidade pode ser absoluta e relativa.

A nulidade absoluta verifica-se quando o testamento:


a) é feito por pessoa incapaz de testar;
b) for ilícito, ou impossível, o seu objeto;
c) não se revestir da forma prescrita em lei;
d) for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
e) tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
f) a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática. Tal ocorre, por exemplo, com o
testamento conjuntivo;
g) houver simulação.

Essas nulidades absolutas podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério
Público, quando lhe couber intervir; e devem ainda ser pronunciadas de ofício pelo juiz, quando
conhecer do ato ou de seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las,
ainda que a requerimento das partes (art. 168).
A nulidade relativa ou anulabilidade ocorre quando houver erro, dolo, coação e fraude contra
credores. Só pode ser alegada pelos interessados; o juiz não se pronuncia de ofício. É necessária
uma ação de anulação, cuja sentença só aproveitará a parte que a alegar, salvo o caso de
solidariedade ou indivisibilidade (art. 177). A ação anulatória do testamento por erro, dolo ou
coação deve ser ajuizada em quatro anos, contados de quando o interessado tiver ciência do vício
(parágrafo único do art. 1.909 do CC).
De acordo com o princípio da incomunicabilidade das nulidades, a nulidade de uma
disposição testamentária não afeta as outras, salvo aquelas que não teriam sido elaboradas pelo
testador se não fosse a disposição contaminada (art. 1.911).
Finalmente, na hipótese de nulidade, seja absoluta ou relativa, os bens são revertidos aos
herdeiros legítimos do testador.

TESTAMENTEIRO

CONCEITO

Testamenteiro é a pessoa física encarregada de cumprir o testamento. A pessoa jurídica não


pode ser testamenteiro.

VINTENA

Vintena ou prêmio é a remuneração a que tem direito o testamenteiro pelos serviços


prestados, levando-se em conta o valor da herança e o trabalho da execução do testamento.
O valor da vintena é fixado pelo testamento. Se este for omisso, o juiz o fixará, de um a cinco por
cento sobre o valor da herança líquida, conforme a importância dela e a maior ou menor dificuldade na
execução do testamento (art. 1.987). Havendo herdeiros necessários, a vintena é calculada apenas
sobre a metade disponível (parágrafo único do art. 1.987).
Em havendo vários testamenteiros, a vintena é paga a todos, em partes iguais, se não se

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estabeleceu a função de cada um; e proporcionalmente ao trabalho de cada um e ao valor dos bens
compreendidos nas funções, se se tratar de atribuições discriminadas.
Se o espólio for insolvente, a vintena deverá ser paga pelos credores.
Descabe o pagamento da vintena quando o testamento não é cumprido. Tal ocorre, por
exemplo, quando o único herdeiro testamentário morre antes do testador.
Por outro lado, também não tem direito à vintena:
a) o testamenteiro que for removido (art. 1.989). Nesse caso, o prêmio será revertido à
herança (art. 1.990);
b) o testamenteiro que for herdeiro testamentário;
c) o testamenteiro que for legatário. O testamenteiro que for herdeiro ou legatário poderá
optar entre o prêmio e a herança ou legado (parágrafo único do art. 1.987). No Código anterior,
essa opção era exclusiva do legatário. Nada obsta que, antes da escolha, ele requeira ao juiz a
fixação da vintena, para saber se esta será ou não maior do que a herança ou legado;
Discute-se se o herdeiro legítimo tem ou não direito à vintena. Clóvis responde
afirmativamente, porque o art. 1.766, atualmente o art. 1.987, disciplina a sucessão testamentária,
de modo que o herdeiro proibido de receber a vintena, a que faz alusão o sobredito dispositivo
legal, é o testamentário. Carvalho Santos responde negativamente, porque onde a lei não distingue
o intérprete não pode distinguir.

REDUÇÃO DAS DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

Da intangibilidade da legítima resulta que a parte do testamento que a exceder deve ser
objeto de redução. A nulidade recai apenas sobre o excesso, mantendo-se a validade do restante
do testamento. A parte do testamento que excede à legítima é chamada de excesso inoficioso.
Havendo acordo entre os interessados, a redução efetua-se nos próprios autos do inventário.
Se alguém impugná-la, aí então deve efetivar-se mediante ação autônoma, chamada ação de
redução ou expletória ou de suplemento da legítima. A questão não pode ser discutida em ação de
nulidade de testamento. De fato, a redução pressupõe testamento válido, recaindo a nulidade
apenas quanto ao excesso. Se o testamento for nulo, não há redução, pois nenhum efeito ele
produzirá, bastando, para cancelá-lo, a ação de nulidade, sem necessidade de se discutir a questão
da redução.
Com o advento do Código Civil de 2002, o cônjuge tornou-se herdeiro necessário. O
testamento anterior à vigência do Código Civil se submeterá à redução prevista no § 1º do art.
1.967, naquilo que atingir a porção reservada ao cônjuge sobrevivente, elevado que foi à condição
de herdeiro necessário (Enunciado 118 das Jornadas de Direito Civil do STJ).
A ação de redução pode ser movida pelo: a) herdeiro necessário; b) sucessor do herdeiro
necessário, caso este já tenha falecido; c) credores do herdeiro necessário ou de seus sucessores, se
aquele é falecido; d) cessionário dos herdeiros necessários.
Trata-se de ação de natureza divisível, de modo que a sentença só beneficiará o autor da
ação. Não há lei atribuindo a este a qualidade de substituto processual dos demais.
A ação de redução deve ser proposta em face dos herdeiros testamentários. Se houver mais
de um, a redução será proporcional ao quinhão de cada um. Se a redução imposta aos herdeiros
instituídos for insuficiente, a ação também poderá ser proposta em face dos legatários, reduzindo-
se os legados na proporção do seu valor. Vê-se assim que a redução é “pro rata”, por igual, mas
proporcional ao quinhão de cada herdeiro ou legatário.
Essa ordem de redução pode ser alterada pelo testador, porque a matéria não é de ordem

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pública (§ 2º do art. 1.967).


Por outro lado, quando o legado consistir em prédio divisível, far-se-á a redução dividindo-o
proporcionalmente (art. 1.968), isto é, separa-se a parcela do imóvel que deve ser devolvida ao
espólio. Recaindo, porém, o excesso inoficioso sobre imóvel indivisível, o legatário, se o excesso
não exceder a um quarto do valor do prédio, poderá ficar com o prédio e repor em dinheiro a
diferença aos herdeiros. Se, ao revés, exceder a um quarto, o legatário deixará o imóvel inteiro para
a herança, ficando com o direito de pedir aos herdeiros, em dinheiro, a parte do imóvel que não
excedeu à legítima. Finalmente, se o legatário for também herdeiro necessário, poderá ficar com o
imóvel, ainda que o excesso seja superior a um quarto do imóvel, repondo a diferença em dinheiro.
Essa faculdade conferida ao herdeiro necessário só é assegurada se a legítima mais a parte
subsistente do legado forem de importância igual ou superior ao valor do prédio (§ 2º do art.
1.968).

REDUÇÃO DAS DOAÇÕES INOFICIOSAS

Dispõe o art. 549:


“Nula também é a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da
liberalidade, poderia dispor em testamento.”
Esse dispositivo estabelece a igualdade entre os poderes do doador e do testador. Tanto na
doação quanto no testamento impõem-se o respeito à legítima.
Busquemos, com exemplo, clarear o assunto.
O pai, que tem dois filhos e um patrimônio de R$ 100.000,00, poderá doar, para um terceiro,
no máximo R$ 50.000,00, que é a parte disponível. Entretanto, para um dos filhos poderá doar até
R$ 75.000,00, sendo R$ 50.000,00 referente ao disponível e R$ 25.000,00 consistente na legítima
do próprio filho. Não há nulidade porque, por testamento, ele poderia dispor dos R$ 75.000,00 em
favor de um dos seus filhos, de modo que poderá fazer o mesmo por meio de doação.
Anote-se, por outro lado, que o excesso de doação é apurado levando-se em conta o valor do
patrimônio do doador ao tempo da doação, e não ao tempo da abertura da sucessão. O posterior
empobrecimento do doador não anula as doações feitas quando ainda era homem rico.
Na hipótese de doações sucessivas, o ponto de partida é sempre a primeira doação. Soma-se
ao patrimônio atual as doações anteriores. Do resultado obtido deduzem-se as doações anteriores,
sendo que essa diferença é a que poderá ser objeto de novas doações.
Tome-se o seguinte exemplo: o sujeito, que tem dois filhos e um patrimônio de R$
100.000,00, doou R$ 20.000,00 para seu sobrinho. Depois disso, ganhou na loteria mais R$
200.000,00. Do seu patrimônio atual, que é de R$ 280.000,00, poderá doar R$ 130.000,00. Com
efeito, se nunca tivesse feito doação, seu patrimônio atual seria de R$ 300.000,00, dos quais
poderia doar R$ 150.000,00. Como já doou R$ 20.000,00, poderá ainda doar R$ 130.000,00.
Questão interessante é a referente ao enriquecimento do doador após as doações inoficiosas.
Uns entendem que as doações anteriores continuam nulas, porque a inoficiosidade é apurada ao
tempo da liberalidade;
Outros, acertadamente, sustentam a convalidação da doação, aplicando-se analogicamente o
disposto no § 2º do art. 1.268.
Finalmente, a ação de querela inoficiosa pode ser proposta apenas pelos herdeiros
necessários em face do donatário. Os cessionários e sucessores do herdeiro necessário, e seus
credores, também podem ajuizar a ação. Na hipótese de várias doações inoficiosas feitas a herdeiro
necessário, em diferentes datas, serão elas reduzidas a partir da última, até a eliminação do
excesso (§ 4º do art. 2.002). Se houver, porém, várias doações inoficiosas feitas em favor de quem

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não seja herdeiro necessário, persiste ainda a polêmica. Para uns, a redução deve recair sobre a
última, depois a penúltima e assim por diante. Para outros, a redução deve ser
proporcional,recaindo sobre todas as doações inoficiosas. Filiamo-nos ao primeiro sistema,
aplicando por analogia o § 4º do art. 2002. Acrescente-se, ainda, que embora o art. 549 declare
nula a doação, prevalece a opinião de que o ato é apenas anulável (nulidade relativa), porque a
questão é patrimonial. Trata-se de um defeito de linguagem do legislador. O prazo para a
propositura da ação, de acordo com Silvio Rodrigues, é de quatro anos, por força do art. 178 do CC.
Prevalece a opinião de que a ação pode ser proposta durante a vida do doador. Não tem
cabimento aguardar a sua morte, como sustentam alguns, sob o pretexto de que não se pode litigar
sobre herança de pessoa viva. Ora, na referida ação não se pleiteia a herança de pessoa viva, mas
tão-somente a anulação de um ato jurídico, tanto é que, uma vez anulada a doação, o bem
retornará para o patrimônio do doador. Acrescente-se, ainda, que se o donatário alienar o bem a
terceiro de boa-fé não haverá mais como anular o ato, tendo em vista o princípio da relatividade
dos contratos. Portanto, a tese de que ação só pode ser proposta após a morte do doador mostra-
se incompatível com a realidade jurídica, mas, no entanto, é defendida por valiosos civilistas. Alem
de definir o momento da propositura da ação, a discussão tem outras duas consequências. A
primeira é que a redução das doações inoficiosas só serão feitas se a redução das disposições
testamentárias forem insuficientes para integrar a quota do herdeiro necessário, ao passo que se a
ação puder ser proposta em vida o que se reduz primeiro são as doações inoficiosas. A segunda é
que se ação só for possível após a morte do doador a discussão só poderá ser feita mediante ação
de colação, mas se admitida a discussão em vida a ação cabível será a de redução, cujo prazo
prescricional é de 10 (dez) anos.

SONEGADOS

CONCEITO

Sonegados são os bens que o herdeiro dolosamente oculta da herança ou deixa de colacioná-
los. Há também ocultação quando o herdeiro tem ciência que o bem está em poder de terceiro e
não o denuncia.
A pena de sonegados consiste na perda dos direitos sucessórios sobre o bem ocultado.

AÇÃO DE SONEGADOS

A pena de sonegados só pode ser imposta em ação autônoma, sendo vedada a sua aplicação
nos autos do inventário, por tratar-se de questão de alta indagação.
Portanto, a ação de sonegados só é necessária para a imposição da pena de sonegados.
Aludida ação pode ser movida pelos herdeiros, legítimos ou testamentários, ou pelos credores da
herança (art. 1.994). A ação de sonegados prescreve em dez anos (art. 205). A sentença que se
proferir na ação de sonegados, movida por qualquer dos herdeiros ou credores, aproveita aos
demais interessados (parágrafo único do art. 1.994). Assim, o herdeiro ou credor que move a ação é
substituto processual dos demais. A Fazenda Pública pode mover a ação, na qualidade de credor do
espólio, para que o bem seja inventariado, mas já se decidiu que ela não pode pedir a aplicação da
pena de sonegados se a omissão da descrição do bem contou com a anuência dos demais
herdeiros.
Só se pode mover a ação após o herdeiro declarar no inventário que não possui o bem. Mas
se o sonegador for o inventariante, a sonegação só pode ser arguida depois de encerrada a

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descrição dos bens, com a declaração por ele feita, de não existirem outros por inventariar (art.
1.996). Assim, com relação ao inventariante, só se admite a alegação de sonegação depois das
últimas declarações.
A petição inicial deve demonstrar que o bem sonegado pertencia ao de cujus e que se
encontra em poder do herdeiro sonegador. Alguns civilistas ainda atribuem ao autor da ação o ônus
da prova do dolo, enquanto outros falam em dolo presumido in re ipsa, invertendo-se o ônus da
prova, competindo ao réu descaracterizar a sua má-fé. A culpa, ainda que grave, é insuficiente para
ensejar a sonegação. Na dúvida se há ou não má-fé, o juiz julga a ação improcedente. Exemplo: o
herdeiro sonegador se julgava, por erro, proprietário exclusivo do bem.
A ação deve ser movida em face do herdeiro ou cessionário do herdeiro, inventariante ou
testamenteiro, que sonega bens da herança ou deixa de colacioná-los (art. 1.992). Em face de
outras pessoas, não se move ação de sonegados, e sim ação possessória ou ação petitória.
Quando o sonegador for o cônjuge-meeiro, há divergência doutrinária. Uns entendem que,
desde que seja também inventariante, pode figurar como réu na ação de sonegados, sofrendo a
respectiva pena de sonegados, por força do art. 1.993. Outros, ao revés, proclamam a
impossibilidade da aplicação da pena de sonegados, invocando o art. 1.992, que alude
expressamente ao herdeiro. Filiamo-nos à essa última corrente, porque a lei que estabelece uma
pena civil deve ser interpretada restritivamente. Assim, o art. 1.993, ao referir-se à inventariante,
deve ser compreendido como inventariante que também seja herdeiro. É, no entanto, possível a
ação sonegados contra o inventariante ou testamenteiro que não é herdeiro, com o objetivo de
destituí-lo, e não de aplicar-lhe a pena de sonegados.
Julgada procedente a ação, os bens devem ser restituídos à herança.
Por outro lado, se não se restituírem os bens sonegados, por já não os ter o sonegador em
seu poder, pagará ele a importância dos valores que ocultou, mais as perdas e danos (art. 1.995).
Assim, em ação de sonegados não é lícito decretar a nulidade da venda praticada pelo sonegador.
A sonegação de bens da herança também constitui crime de apropriação indébita (art. 168,
§1º, II, do CP).

COLAÇÃO OU CONFERÊNCIA

CONCEITO

Colação é o retorno à herança, com o fim de igualar as legítimas, das doações que o de cujus
fez em vida aos seus descendentes ou cônjuge.
Em regra, como veremos, qualquer doação feita pelo pai ao filho importa em adiantamento
da legítima. Deve ser colacionada, isto é, descontada do donatário, imputando-lhe no seu quinhão,
por ocasião do inventário do doador. Venda feita pelo pai ao filho não é colacionada, por isso, a lei
exige a autorização dos demais descendentes, para que fiscalizem o ato, evitando a simulação, isto
é, a doação mascarada de compra e venda. Na doação, a lei dispensa a autorização dos
descendentes do doador, justamente porque no futuro haverá a colação.
A finalidade da colação é igualar a legítima dos descendentes e do cônjuge sobrevivente.
Funda-se na vontade presumida do “de cujus” no sentido de que ele tinha igual afeto pelos
descendentes.
O descendente ou cônjuge que descumpre a obrigação de colacionar pode sofrer a pena de
sonegados, consistente na perda dos direitos sucessórios sobre o bem que lhe foi doado pelo “de
cujus”.

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PESSOAS OBRIGADAS À COLAÇÃO

Só o cônjuge e os descendentes sucessíveis, em qualquer grau, são obrigados à colação. Os


demais herdeiros e estranhos não se submetem à colação. Se, porém, a doação é feita pelo sogro
ao genro, casado sob o regime da comunhão universal, a filha deverá colacionar a metade, porque,
nesse regime, as doações se comunicam. Nos demais regimes, a filha não colacionará as doações
que o pai fizer ao seu marido.
Quanto aos netos, quando herdam por direito próprio só são obrigados a colacionarem as
doações diretamente recebidas do avô, mas não colacionam os bens doados ao pai pelo avô. Os
netos que, ao revés, herdarem por representação, serão obrigados a trazer à colação, ainda que
não o hajam herdado, os bens doados ao pai pelo avô, mas, nesse caso, não são obrigados a
colacionarem as doações recebidas diretamente do avô.
Em relação ao herdeiro indigno, deserdado e renunciante, só são obrigados à colação da
parte inoficiosa da doação, isto é, invasora da legítima (art. 2.008).
Por outro lado, os pais não devem colacionar, na herança de seu ascendente, a doação feita
por este ao seu filho.
Vimos que o neto, quando herda por direito próprio, deve colacionar as doações recebidas do
avô. O novo Código inovou, porém, nessa matéria, ressalvando que não haverá colação se ao
tempo da liberalidade o donatário não figurava como herdeiro necessário (parágrafo único do art.
2.005). Assim, se na época da doação, seu pai estava vivo, esse neto, que recebeu a doação do avô,
não terá de colacioná-la.
Outra inovação do novo Código Civil consiste na obrigação de o cônjuge do doador colacionar
as doações que este lhe fez. De fato, dispõe o art. 544 que: “a doação de ascendentes a
descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança”.
Embora o art. 2.002 seja omisso quanto à obrigação de conferir do cônjuge, impõe-se a colação por
força do citado art. 544. Quanto às doações feitas aos ascendentes, não são colacionadas, não
obstante a condição de herdeiros necessários, restando aos herdeiros necessários apenas a
propositura da ação de redução, na hipótese de a doação invadir a legítima. Idêntica é a solução
quando a doação beneficia colaterais ou terceiros. Também não há colação em relação ao legado
ou herança que por testamento é deixado aos descendentes ou cônjuge, restringindo-se a colação
às doações.
Finalmente, sendo feita a doação por ambos os cônjuges, no inventário de cada um se
conferirá por metade (art. 2.012).

BENS EXCLUÍDOS DA COLAÇÃO

Não se submetem à colação as seguintes doações:


a) doações remuneratórias, isto é, feitas em pagamento de serviços prestados
pelo descendente, mas não cobrados;
b) os frutos e rendimentos dos bens doados;
c) gastos ordinários do ascendente com o descendente, enquanto menor, na sua educação,
estudos, sustento, vestuário, tratamento nas enfermidades, enxoval, assim, como as despesas de
casamento, ou feitas no interesse de sua defesa em processo-crime. Esta última hipótese, despesa
feita na defesa em processo-crime, tornou-se inócua, porque a maioridade civil ocorre a partir dos
18 anos, sendo certo que o menor de dezoito anos não pode ser réu em processo criminal;
d) doação retirada da metade disponível, com cláusula de dispensa da colação. Esta cláusula
deve constar na própria escritura de doação ou em testamento. Se constar na escritura de doação,

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o testamento não pode mais cancelá-la, porque a doação é um ato jurídico perfeito. Sem a cláusula
de dispensa da colação, a doação, conquanto retirada do disponível, submete-se à colação.
Excetuando-se essas hipóteses, as demais doações que o ascendente fizer ao seu cônjuge ou
descendente são colacionadas, ainda que, por morte do doador, inexistam outros bens a
inventariar. O valor que a seguradora paga ao descendente, em razão de contrato de seguro, não é
colacionado, pois não saiu do patrimônio do “de cujus”.
Anote-se ainda que os bens sujeitos à colação pertencem ao descendente donatário, e não ao
espólio, porque a doação é um ato jurídico perfeito. Aludidos bens não respondem pelas dívidas do
morto nem se submetem ao imposto causa mortis.

MODOS DE COLAÇÃO

Por dois modos faz-se a colação:


a) por substância ou in natura;
b) por estimação ou imputação ou ideal.
Na colação por substância, o bem doado é restituído ao acervo hereditário,
provocando a resolução da doação, excluem-se as benfeitorias feitas pelo herdeiro.
Na colação por estimação, imputa-se no quinhão hereditário do herdeiro-donatário o valor
dos bens doados.
Essa distinção é aceita por toda a doutrina, à exceção de Silvio Rodrigues. Esse ilustre civilista
ensina que a colação por substância é a feita pelo valor do bem ao tempo da liberalidade; e colação
por estimação, pelo valor ao tempo da abertura da sucessão. Explica que conferir um bem não
significa devolvê-lo ao monte para ser partilhado, mas devolver o seu valor. Esse critério de
distinção, porém, não é repetido por nenhum outro civilista.
No regime do código anterior, duas correntes discutiam o modo de colacionar perfilhado pelo
direito brasileiro.
Washington de Barros Monteiro dizia que se o donatário conservasse o bem, isto é, não o
alienasse, a colação devia ser feita por substância. A colação por estimação, isto é, pelo seu valor,
só se faria se o bem doado já houvesse sido alienado. Fundamentava-se no art. 1.787 do Código de
1916: “No caso do artigo antecedente, se ao tempo do falecimento do doador, os donatários já não
possuírem os bens doados, trarão à colação o seu valor.” Outros civilistas, como Francisco Morato,
sustentavam que a colação devia ser feita por estimação, por força dos §§ 1º e 2º do art. 1.792 do
Código de 1916.
O novo Código manteve a confusão acerca do assunto, não disciplinando a matéria com
clareza.
Com efeito, o parágrafo único do art. 2.003 preceitua que: “os bens doados serão conferidos
em espécie, ou, quando deles já não disponha o donatário, pelo seu valor ao tempo da
liberalidade”. Consagrou-se, nesse dispositivo, a colação por substância, salvo se, por ocasião da
morte do doador, o bem doado não mais existir. Por outro lado, os §§1º e 2º do art. 2.004
consagraram a colação por estimação dizendo que só o valor dos bens doados entrará na colação.
A nosso ver, a colação pode ser por substância ou estimação, a critério do herdeiro-donatário.
Com efeito, dispõe o § 1º do art. 640 do CPC/2015:
“É lícito ao donatário escolher dentre os bens doados, tanto quanto bastem para perfazer a
legítima e a metade disponível, entrando na partilha o excedente para ser dividido entre os demais
herdeiros.”
Nítida, como se vê, a opção de o donatário manter-se na propriedade do bem doado,
podendo, pois, optar entre a colação por substância e a colação por estimação.

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Ora, se o donatário tem condição de entregar à herança o valor do bem, fere à lógica ordenar
a sua devolução, tanto é que o §2º do art. 640 do CPC/2015 preceitua que o imóvel colacionado, se
for indivisível, deverá ser vendido em hasta pública, sendo certo que o donatário terá preferência
para adquiri-lo, se oferecer um lance igual ao dos demais herdeiros.
Finalmente, quer se trate de colação em substância quer por estimação, o valor do bem será
apreciado ao tempo da abertura da sucessão, conforme parágrafo único do art. 639 do CPC/2015,
que revogou tacitamente o art. 2004 do CC, que mandava avaliar o bem ao tempo da liberalidade.

AÇÃO DE COLAÇÃO

A ação de colação só é necessária quando envolver matéria de alta indagação, isto é, não
comprovada por documento. Caso haja prova documental da doação, a colação pode realizar-se no
próprio inventário. Na pendência da ação de colação, o herdeiro-donatário não poderá receber o
seu quinhão hereditário, salvo se prestar caução correspondente ao valor dos bens sobre que
versar a conferência (§ 2º do art. 641 do CPC/2015).
Se a obrigação de colacionar estiver comprovada documentalmente, não há necessidade de
se mover a ação da colação. Nesse caso, o juiz decidirá a questão nos próprios autos do inventário.
Procedente a ação, o bem colacionado ou seu valor é adicionado à legítima, e não na parte
disponível da herança.
Com efeito, dispõe o art.641 do CPC/2015 que se o herdeiro se negar à obrigação de colacionar, o
juiz, ouvida as partes no prazo comum de quinze dias, decidirá à vista das alegações e provas
produzidas. Declarada improcedente a oposição, se o herdeiro, no prazo improrrogável de quinze dias,
não proceder à conferência, o juiz mandará sequestrar-lhe, para serem inventariados e partilhados, os
bens sujeitos à colação, ou imputar ao seu quinhão hereditário o valor deles, se já os não possuir (§ 1º
do art. 641 do CPC/2015).
A procedência da ação de colação não implica necessariamente na aplicação de pena de
sonegados, que não pode ser imposta de ofício pelo juiz. Referida pena civil depende de ação
específica de sonegados, mediante comprovação do dolo do herdeiro sonegador, podendo ser
cumulada com a ação de colação. Se não houver cumulação, será preciso, para que se aplique a
pena de sonegados, o ajuizamento da ação específica de sonegados.

DISTINÇÃO ENTRE DOAÇÃO INOFICIOSA E DOAÇÃO COLACIONÁVEL

Diz-se inoficiosa a doação que, ao tempo da liberalidade, invade a legítima dos herdeiros
necessários. Trata-se de um ato inválido, que pode ser impugnado, em vida, pelos herdeiros
necessários. O donatário, que pode ou não ser herdeiro necessário, e até mesmo estranho, terá de
devolver os frutos da parte inoficiosa.
Em contrapartida, a doação colacionável é um ato jurídico válido, pois recai sobre a parte
disponível do doador. A colação só pode ser feita após a morte do doador. Só é colacionável a
doação que se fizer ao cônjuge ou descendente. A colação não incide sobre os frutos do bem
doado.
Anote-se, por fim, que a doação inoficiosa feita ao cônjuge ou descendente do doador
também pode ser objeto de colação, se ninguém impugná-la durante a vida do doador.

DO INVENTÁRIO

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CONCEITO

Inventário é o procedimento destinado à apuração dos haveres deixado pelo de cujus, com o
fito de partilhá-los entre os herdeiros e legatários.
Deve ser requerida a sua abertura dentro de dois meses, a contar do óbito, ultimando-se nos
doze meses subsequentes, mas o juiz, por motivo justo, pode dilatar esses prazos, de ofício ou a
requerimento da parte ( §2º do art. 610 do CPC/2015).
A lei estadual pode prever uma multa como sanção pelo retardamento do início ou da
ultimação do inventário (súmula 542 do STF).

FORO COMPETENTE

O inventário deve ser requerido no último domicílio do de cujus. Se este não tinha domicílio
certo, o foro competente é o do local da situação dos bens imóveis. Se não tinha domicílio certo e
os bens imóveis encontram-se em diversas comarcas, o foro competente é o do local de qualquer
dos bens do espólio (art. 48, parágrafo único, do CPC/2015).
Anote-se que a competência é territorial, de modo que o juiz não pode decliná-la de ofício.
O juízo, isto é, a vara competente varia conforme a legislação estadual (art. 125 da CF). Na
comarca de São Paulo tramita em varas especializadas de família e sucessões; no interior do Estado
de São Paulo, em varas cíveis, diante da inexistência de varas especializadas.
Tratando-se de estrangeiro, que morre e deixa bens no Brasil, o inventário deve ser feito pela
autoridade judiciária brasileira, em relação aos bens aqui situados. Em matéria de inventário, a
jurisdição brasileira é exclusiva (art. 23, II, do CPC/2015). Não se homologa, no Brasil, sentença
estrangeira de inventário. Anote-se, porém, que se aplicará o código civil da lei do domicílio do de
cujus (art. 10 da LICC). Com efeito, a jurisdição é brasileira, mas a sucessão será regida pela lei do
domicílio do defunto.

LEGITIMIDADE ATIVA

O inventário deve ser requerido por quem está na posse e administração do espólio (art. 615
do CPC/2015).
Tem, contudo, legitimidade concorrente (art.616 do CPC/2015):
I - o cônjuge ou companheiro supérstite;
II - o herdeiro;
III - o legatário;
IV - o testamenteiro;
V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;
VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;
VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse;
IX - o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do
cônjuge ou companheiro supérstite.
Não há mais previsão legal para o juiz determinar de ofício a instauração do inventário.
O inventário, em que há herdeiro incapaz, é uma ação judicial necessária, porque a lei não
prevê, nessa hipótese, o inventário administrativo. Este, no entanto, é possível, mediante escritura
pública, se todos os interessados forem capazes e concordes (§1º do art. 610 do CPC/2015).

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INVENTARIANTE

O juiz ao despachar a inicial nomeia o inventariante, que pode ser legal, judicial e dativo.
O inventariante legal é o indicado pela lei. A ordem de prioridade é a seguinte (art. 617 do
CPC/2015):

I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo


com o outro ao tempo da morte deste.
Note-se que o cônjuge ou companheiro supérstite tem preferência para ser nomeado
inventariante legal, ainda que não figure como herdeiro do “de cujus”. O cônjuge ou companheiro
supérstite que estava separado de fato não pode ser inventariante. Vale lembrar que se a
separação de fato não excedeu a dois anos, o cônjuge ainda preserva os direitos sucessórios,
podendo requerer a abertura do inventário, embora não possa ser nomeado inventariante,
vedando-se qualquer discussão acerca da culpa pela separação, pois ainda que culpado não terá
seus direitos sucessórios afetados. Se, no entanto, a separação de fato perdurou por mais de dois
anos a preservação dos direitos sucessórios depende da análise da culpa. Se a convivência se
tornara impossível sem culpa do sobrevivente, mantêm-se os direitos sucessórios; se, ao invés, foi o
culpado pela separação, não se lhe reconhece direito sucessório. Todavia, a discussão da culpa é
questão de alta indagação e, por isso, não pode ser discutida no inventário, reclamando, pois, ação
autônoma.
Não se exige, para que o cônjuge ou companheiro seja inventariante, o regime de comunhão
de bens.
A companheira ou companheiro, por sua vez, tem a mesma posição do cônjuge.
Por consequência, tem preferência para o múnus de inventariante, desde que atenda aos três
requisitos. Primeiro, convivência com outro ao tempo da morte deste. Assim, a separação de fato
elimina a preferência. Segundo, prova pré-constituída da união estável e do período de sua
vigência. De fato, no inventário é proibida a discussão de questão de alta indagação, de modo que a
existência da união estável deve ser comprovada em ação autônoma. Se, porém, houver
concordância de todos os herdeiros acerca da existência da união estável de do período de sua
vigência, a companheira ou o companheiro poderá ingressar no inventário, e ainda figurar como
inventariante, não obstante a ausência da prova pré-constituída, isto é, documental. Terceiro, que
o interesse da companheira ou do companheiro não colida com o interesse do espólio ou dos
demais herdeiros.
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio.
Nenhum herdeiro estando na posse e administração do espólio, o juiz nomeará inventariante
qualquer herdeiro, legítimo ou testamentário, dando preferência para aquele que residir na
comarca do inventário ou para o herdeiro que mantinha vínculo de convivência com o de cujos.
Quando ao legatário, não pode ser nomeado inventariante legal, diante da falta de previsão na lei.
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal.
Trata-se de uma novidade do CPC/2015, pois a jurisprudência anterior não admitia
que o herdeiro menor, através do seu representante legal, exercesse a inventariança.
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se
toda a herança estiver distribuída em legados;

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VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário.


Esta ordem, a rigor, não pode ser violada pelo magistrado, salvo se houver algum motivo
justo, como, por exemplo, no arrolamento sumário em que a nomeação do inventariante costuma
recair sobre a pessoa indicada pelos próprios herdeiros, diante do consenso firmado entre eles. Se,
porém, o inventariante houver sido indicado no testamento, o juiz não é obrigado a nomear esta
pessoa designada pelo testador.
Por outro lado, o inventariante judicial é um auxiliar da Justiça, que presta concurso público
para exercer essa função. Só é nomeado à falta do inventariante legal. No Estado de São Paulo, não
existe.
Por fim, o inventariante dativo é uma pessoa estranha, mas idônea, que só é nomeada à falta
do inventariante legal e do inventariante judicial.
O inventariante é nomeado pelo juiz, salvo no inventário extrajudicial quando então a nomeação é
feita pelos próprios herdeiros, consoante resolução nº 35 do Conselho Nacional da Justiça, malgrado o
silêncio da lei acerca da necessidade de inventariante no inventário extrajudicial.
À exceção do inventário extrajudicial, nos demais casos a nomeação do inventariante é ato
exclusivo do juiz.
Dentre as funções do inventariante, destacam-se as seguintes:
a) representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele. Assim, o inventariante
pode propor ações em nome do espólio, figurando ainda no polo passivo das ações propostas
contra este, independentemente de autorização judicial. Tratando-se, porém, de inventariante
dativo, a representação ativa e passiva do espólio será feita não só por ele, mas também por todos
os herdeiros e sucessores do de cujus. Portanto, na ação movida em face do espólio não se cita os
herdeiros, mas apenas o inventariante, salvo se este for dativo, quando então a citação deverá
recair sobre ele e todos os sucessores do de cujus, sob pena de nulidade do processo;
b) administrar o espólio. Todavia, para a realização de despesas, pagamento de dívidas,
alienação de bens e transação é necessária autorização judicial (art. 619 do CPC/2015);
c) prestar as primeiras e últimas declarações;
d) prestar contas de sua administração ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar.
O inventariante pode receber dívidas, sem autorização do juiz. Esta autorização só é necessária
para o pagamento de dívidas. A obrigação de prestar contas não é personalíssima, logo se transmite
aos herdeiros do inventariante;
e) requerer a declaração de insolvência do espólio, quando as dívidas excederem às forças da
herança.
A inventariança é exercida por uma única pessoa. A lei não prevê o inventariante conjunto.
O inventariante que descumpre as suas funções será removido de ofício pelo juiz ou a
requerimento (art. 622 do CPC/2015). O incidente de remoção correrá em apenso nos autos do
inventário. A própria decisão que o remove deve nomear outro em seu lugar.

PRIMEIRAS DECLARAÇÕES E CITAÇÃO

As declarações preliminares, também chamadas de primeiras declarações, devem ser


apresentadas pelo inventariante dentro de 20 (vinte) dias, contados da data em que prestou
compromisso.
As primeiras declarações devem conter:
a) qualificação do de cujus, dia e lugar do falecimento e a informação se deixou ou não
testamento;

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b) qualificação dos herdeiros, do cônjuge ou companheiro supérstite e do regime de bens,


inclusive, o endereço eletrônico.
c) relação completa dos bens do espólio e dos alheios que nele forem encontrados, bem como
dos bens que devem ser colacionados. Assim, os bens pertencentes a terceiros, que se encontrem
em poder do de cujus, são mencionados nas primeiras declarações, mas excluídos do inventário e
da partilha. Igualmente, a meação do cônjuge ou companheiro supérstite.
Feita as primeiras declarações, o juiz mandará citar, pelo correio, o cônjuge, o companheiro,
os herdeiros e os legatários e intimará a Fazenda Pública. O testamenteiro também será intimado,
se o finado deixou testamento. O Ministério Público só é intimado se houver interesse de incapaz
ou de Fundação. O art. 626 do CPC/2015 prevê ainda a participação do Ministério Público na
hipótese de herdeiro ausente. Cremos, porém, que se refere ao ausente civil; porque em relação ao
ausente processual, citado fictamente, a curadoria deverá ser exercida por advogado nomeado
pelo juiz. Há ainda citação por edital dos interessados incertos ou desconhecidos (art. 259, III, do
CPC/2015).
A citação será dispensada se os interessados já estiverem representados nos autos pelos
respectivos advogados.
A lei não ordena a citação do cônjuge do herdeiro. Discute-se se é ou não necessária quando
o herdeiro for casado na comunhão universal; parece que não, porque a transmissão decorre do
regime de bens e não do direito hereditário. Nos demais regimes, não há qualquer discussão acerca
da prescindibilidade da citação.
Feita a citação, as partes têm o prazo de 15 (quinze) dias para se manifestarem sobre as
primeiras declarações. Após esse prazo, a Fazenda Pública também poderá se manifestar em 15
(quinze) dias.

QUESTÃO DE ALTA INDAGAÇÃO

Em inventário é vedada a discussão sobre questão de alta indagação.


Questão é o ponto impugnado, controvertido, de índole jurídica ou fática.
As questões de direito, por mais complexas que sejam, não são de alta indagação, e, por isso,
devem ser solucionadas nos próprios autos do inventário.
As questões de fato são as que envolvem a prova de um acontecimento da vida. Se se
acharem provadas por documentos, devem ser dirimidas nos autos do inventário. Portanto,
questão de alta indagação é a que envolve matéria fática, que não está comprovada por
documento; é a questão, cuja solução depende de prova testemunhal ou pericial. Exemplos:
investigação de paternidade; reconhecimento de união estável etc.
A questão de alta indagação deve ser discutida em ação própria (art. 628, §2º, do CPC/2015).
Todavia, o juiz mandará reservar o quinhão do suposto herdeiro, até que se decida o litígio nas vias
ordinárias.
No caso de união estável, se os herdeiros concordarem com o ingresso da companheira no
inventário, ela poderá ingressar, porque a alegação não se tornou questão. Se, porém, houver
impugnação, urge que ela demonstre o fato em ação autônoma, sendo vedada qualquer discussão
nos autos do inventário, a não ser que haja documento (contrato ou sentença judicial)
comprovando a união estável.

ADMINISTRADOR PROVISÓRIO

Até que o inventariante preste compromisso, continua o espólio na posse do administrador

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provisório (art.613 do CPC/2015).


O administrador provisório é toda e qualquer pessoa que esteja na posse e administração dos
bens da herança. Nada obsta que a concubina seja administradora provisória.
O administrador provisório deve requerer a abertura do inventário. Além disso, representar
ativa e passivamente o espólio.
Com efeito, dispõe o art. 614 do CPC/2015:
“O administrador provisório representa ativa e passivamente o espólio, é obrigado a trazer ao
acervo os frutos que desde a abertura da sucessão percebeu, tem direito ao reembolso das
despesas necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa.”
Do exposto dessume-se que o espólio é representado ativa e passivamente, em juízo ou fora
dele, em primeiro lugar, pelo inventariante. Se este for dativo, a representação competirá ao
inventariante e demais sucessores do de cujus. Se ainda não foi aberto o inventário, a
representação competirá ao administrador provisório. Se não há sequer administrador provisório, a
representação será exercida por todos os herdeiros.

ESPÉCIES DE INVENTÁRIO

O inventário denomina-se:
a) orfanológico – quando houver herdeiro menor, interdito, ausente ou desconhecido;
b) de provedoria – quando o de cujus houver deixado testamento ou codicilo;
c) de maiores – quando, além dos herdeiros serem todos maiores e capazes, não houver
testamento;
d) conjunto ou cumulação de inventários– é o que abrange mais de um espólio. Só é possível
em três hipóteses, conforme art.672 do CPC/2015. A primeira é quando os herdeiros ou legatários
forem os mesmos. A segunda, quando se tratar de heranças deixadas pelos dois cônjuges ou
companheiros. A terceira, quando houver dependência de uma das partilhas em relação à outra
(exemplo: morte de um dos herdeiros antes da partilha). Nesta terceira hipótese, se a dependência
for parcial, por haver outros bens, o juiz pode ordenar a tramitação separada, se melhor convier ao
interesse das partes ou à celeridade processual;
e) negativo – quando o de cujus não deixa bens. Só é possível em dois casos. O primeiro diz
respeito à viúva ou viúvo que deseja se casar no regime de comunhão; se não fizer o inventário o
regime será o da separação legal (art. 1.523 cc art. 1.641, I). A Excelsa Corte, porém, já decidiu que:
“A falta do chamado ‘inventário negativo’ não acarreta, por si mesma, o regime da separação de
bens no segundo casamento, uma vez provado que notoriamente não havia bens a inventariar (RT
549/217).” O segundo caso de inventário negativo ocorre quando o de cujus não deixa bens, mas
deixa dívidas; nesse caso, há interesse em realizar-se o inventário para que os credores não
aleguem a dilapidação do patrimônio por parte dos herdeiros.

ARROLAMENTO

O arrolamento é o inventário de procedimento simplificado.


O arrolamento pode ser comum e sumário.
O arrolamento comum ou ordinário ocorre quando a partilha é judicial, mas a herança não
excede a 1.000 (mil) salários mínimos (art. 664 do CPC/2015).
O arrolamento sumário é para os casos de partilha amigável, qualquer que seja o valor da
herança.
Portanto, o inventário, na verdade, só é reservado às hipóteses de partilha judicial em que a

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herança é superior a 1.000 (mil) salários mínimos.

DISTINÇÃO ENTRE INVENTÁRIO E ARROLAMENTO COMUM

No inventário, o inventariante presta compromisso; no arrolamento, não.


No inventário, o imposto causa mortis deve ser pago antes da partilha, sob pena de esta não
ser elaborada. No arrolamento, admite-se a elaboração e julgamento da partilha,
independentemente do pagamento desse imposto (art.662 do CPC/2015).
No inventário, há a intervenção da Fazenda Pública; no arrolamento não.

DISTINÇÃO ENTRE ARROLAMENTO COMUM E SUMÁRIO

No arrolamento comum, a partilha é judicial; no sumário, amigável.


No arrolamento comum, o procedimento é de jurisdição contenciosa; no sumário, a jurisdição
é voluntária.
No arrolamento comum, admite-se a impugnação do valor dos bens, quando então o juiz
nomeará um avaliador que oferecerá o laudo em 10 dias; no sumário não, salvo se impugnada a
avaliação por credores do espólio (art. 661 do CPC/2015).

DISPENSA DE INVENTÁRIO E DE ARROLAMENTO

Independerá de inventário ou arrolamento o pagamento dos valores previstos na Lei n° 6.858,


de 24 de novembro de 1980 (art. 666 do CPC/2015).

INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Sobre o assunto, dispõe o §1º do art. 610 do CPC/2015:


“Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por
escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para
levantamento de importância depositada em instituições financeiras”.
O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem
assistidas por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato
notarial (§ 2o do art. 610 do CPC/2015).
Do exposto denota-se a exigência dos seguintes requisitos:
a) que todos os herdeiros sejam capazes. Em havendo incapaz ou menor, proceder-se-á ao
inventário judicial. Tratando-se, porém, de menor emancipado, será admitida a forma extrajudicial.
b) que o cônjuge ou companheiro, com direito à meação, também seja capaz.
c) concordância de todas as partes interessadas. De fato, em havendo divergência, impõe-se o
inventário judicial. É possível a representação das partes por procurador, podendo ser o mesmo
para todos os interessados. As normas da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo
exigem que esta procuração seja por instrumento público.
d) que todas as partes interessadas estejam assistidas por advogado ou defensor público. Não
há necessidade de o advogado exibir a procuração. É vedada aos Tabeliães a indicação de advogado
às partes. Se estas não reunirem condições econômicas para contratar advogado, o Tabelião deverá
recomendar-lhes a Defensoria Pública, onde houver, ou na sua falta, a OAB.
O CPC anterior proibia o inventário extrajudicial quando houvesse testamento. O CPC 2015

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não contém mais esta vedação.


Presentes os requisitos acima, far-se-á o inventário e a partilha por escritura pública, lavrada
perante o tabelião do Cartório de Notas, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário,
independentemente de homologação judicial. Não há competência territorial, sendo, pois, livre a
escolha do tabelião de notas para a escritura pública, pouco importando o local do óbito ou da
situação dos bens.
Nada obsta, porém, que as partes optem pela via judicial, realizando-se a partilha no
arrolamento sumário, porquanto a lei não impõe a obrigatoriedade do inventário extrajudicial.
Todavia, as partes não podem se valer simultaneamente de ambas as medidas. Caso optem por
uma delas, a qualquer momento poderão desistir para promoção da outra.
Figuram como partes o cônjuge sobrevivente ou companheiro e os herdeiros, outrossim, segundo
as Normas da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, os cônjuges dos herdeiros, quando
casados na comunhão universal de bens. Nos demais regimes, os cônjuges dos herdeiros devem
comparecer ao ato como anuentes, dispensando-se a sua presença no regime da separação absoluta.
Quanto à indicação, na escritura pública, de um ou mais herdeiros, com os mesmos poderes
de um inventariante, é plenamente possível, para a representação do espólio no cumprimento de
obrigações ativas ou passivas. Nessa indicação, o tabelião seguirá a ordem prevista no art. 617 do
CPC/2015, cuja alteração somente será possível se houver unanimidade dos herdeiros e do cônjuge
viúvo.
Referentemente à partilha, cumpre à escritura declarar todos os bens comuns do casal,
indicando o título aquisitivo e o valor de avaliação, especificando também os bens particulares de
cada cônjuge. É claro que as dívidas e obrigações serão também mencionadas, porque a partilha é
feita sobre o saldo. É admissível, na escritura pública, a partilha parcial, bem como a sobrepartilha.
A existência de credores do espólio não impede a partilha ou a adjudicação. A propósito, quando
houver um só herdeiro, maior e capaz, ao invés da partilha, lavra-se a escritura pública de
adjudicação dos bens.
É admissível também inventário negativo por escritura pública, mas é vedada lavratura de
escritura pública de inventário e partilha de bens localizados no exterior, pois a soberania de nosso
Estado não tem o condão de atingir coisas situadas fora do nosso território.
Não se pode olvidar, contudo, que o imposto “causa mortis” (ITCMD) incide sobre o total dos
bens, deduzida a meação do cônjuge supérstite. Esclareça-se ainda que se houver torna de um
herdeiro para outro, sobre esta haverá a incidência do imposto de transmissão de bens imóveis
(ITBI). Aliás, o ITCMD deve ser recolhido antes da lavratura da escritura. A gratuidade por
assistência judiciária em escritura pública não isenta a parte do recolhimento do imposto de
transmissão, pois este é regido por legislação própria. A escritura pública de inventário e partilha
pode ser lavrada a qualquer tempo, mas sofrerá a incidência da eventual multa prevista para o
imposto causa mortis.
Os eventuais erros de dados na escritura serão retificados mediante outra escritura pública de
re-ratificação, podendo o advogado ser constituído para representar as partes, evitando o novo
comparecimento de todos na serventia.
Por outro lado, conforme já vimos, diante da ausência de vedação legal, cumpre admitir a
viabilidade da partilha parcial, relegando-se para momento ulterior a sobrepartilha. Outrossim, a
presença de herdeiro renunciante não inibe a lavratura de escritura pública, seja a renúncia pura e
simples ou translativa, incidindo, nessa última hipótese, o imposto “inter vivos”.
Por derradeiro, o companheiro ou companheira, titular da metade ou de uma parcela dos
bens objetos da partilha, pode figurar na escritura pública, desde que haja concordância de todos
os interessados, dispensando-se, nesse caso, eventual sentença ou documento comprobatório da

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união estável. Ao revés, não obstante o reconhecimento documental da união estável, em havendo
discordância de algum interessado, o inventário e partilha extrajudicial não poderá ser realizado.

PARTILHA

O objeto do inventário é o monte-mor, que compreende a herança bruta e a meação do


cônjuge supérstite, ao passo que o objeto da partilha é a herança líquida, também chamada monte
partível, que é apurada após a subtração da meação do cônjuge ou companheiro supérstite e do
pagamento das dívidas do de cujus e do espólio.
Partilha é, pois, a repartição da herança líquida entre os sucessores do de cujus.
Trata-se de um ato declaratório, porque a transmissão da propriedade não se dá com a
partilha e sim com a abertura da sucessão, por força do princípio de saisine.
A partilha pode ser amigável e judicial.
A partilha amigável é ato solene, que pode revestir-se de três formas: escritura pública,
escritura particular e termos nos autos do inventário (art. 657 do CPC/2015). Nas suas três formas,
deve ser homologada, por sentença, pelo juiz. Só é admissível a partilha amigável quando todos os
herdeiros forem maiores, capazes e estiverem de pleno acordo. A existência de testamento não
impede a partilha amigável, mas, nesse caso, devem ser ouvidos o testamenteiro e o curador de
resíduos (nome que se dá ao Ministério Público nos procedimentos em que há testamento). A
existência de dívidas do de cujus também não obsta a partilha amigável, desde que se reservem
bens suficientes para o pagamento (art. 663 do CPC/2015). A partilha amigável é um ato
plurilateral, porque envolve a participação de várias pessoas.
Por outro lado, a partilha judicial é aquela cujo esboço é elaborado pelo partidor, órgão
auxiliar da justiça. Depois disso, o juiz ouvirá os interessados dentro do prazo de quinze dias,
resolvendo as reclamações e julgando em seguida a partilha (art. 652 do CPC/2015). A partilha deve
ser sempre judicial quando algum dos herdeiros divergir ou for menor ou incapaz.
Anote-se que a partilha amigável segue o procedimento do arrolamento sumário, ao passo
que a partilha judicial tramitará como inventário ou arrolamento comum, conforme a herança
supere ou não a 1.000 (mil) salários mínimos.
Finalmente, é válida a partilha feita pelo ascendente, por ato entre vivos ou de última
vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários (art. 2.018). Note-se,
portanto, que essa partilha pode ser feita por doação ou testamento. Poderá abranger ou não
todos os bens do ascendente. Se feita por ato inter vivos, impõe-se a reserva de bens que garantam
a sobrevivência do doador, porque a lei proíbe a chamada doação universal. Acrescente ainda que a
partilha inter vivos, para Silvio Rodrigues, não precisa assumir o perfil de doação, podendo
restringir-se a um documento autenticado no qual tracem as regras da divisão dos bens. Estamos
com esse civilista, porque o art. 2.018 não utiliza a palavra doação.

A partilha, em todas essas modalidades, deve reger-se por três regras:


a) máxima igualdade possível entre os herdeiros. Essa regra sofre exceção na sucessão
testamentária, porque a parte disponível pode ser partilhada como melhor aprouver o testador;
b) prevenção de litígios futuros. Para tanto, é conveniente se evitar o estado de comunhão,
isto é, o condomínio. Como esclarece Washington de Barros Monteiro, não se recomenda partilha
que se cinge a atribuir parte ideal nos imóveis a cada herdeiro, permanecendo todos pro indivisos.
O art. 647 do CPC/2015 preceitua que o juiz, no despacho de deliberação da partilha, pode designar
os bens que devem constituir o quinhão de cada herdeiro e legatário. Na prática, porém, isso não
ocorre, de modo que cada herdeiro acaba ficando com uma parte ideal nos imóveis, terminando-se

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o inventário da mesma forma que começou, isto é, em estado de comunhão;


c) deve ser atendida à comodidade dos herdeiros, do cônjuge ou do companheiro,
contemplados. Se um deles, por exemplo, mora em prédio do espólio, deverá receber em
pagamento esse mesmo imóvel, sempre que possível. O juiz poderá, em decisão
fundamentada, deferir antecipadamente a qualquer dos herdeiros o exercício dos direitos
de usar e de fruir de determinado bem, com a condição de que, ao término do inventário,
tal bem integre a cota desse herdeiro, cabendo a este, desde o deferimento, todos os ônus
e bônus decorrentes do exercício daqueles direitos (parágrafo único do art. 647 do
CPC/2015).
d) os bens insuscetíveis de divisão cômoda, que não couberem na meação do cônjuge ou
companheiro sobrevivente ou no quinhão de um só herdeiro, serão licitados entre os interessados
ou vendidos judicialmente, partilhando-se o valor apurado, a não ser que haja acordo para que
sejam adjudicados a todos (art. 649 do CPC/2015).

Se um dos interessados for nascituro, o quinhão que lhe caberá será reservado em
poder do inventariante até o seu nascimento (art. 650 do CPC/2015).

SOBREPARTILHA

Sobrepartilha é a nova partilha, que é feita após o trânsito em julgado da anterior, recaindo
sobre bens ainda não partilhados.
O inventário deve então ser reaberto, citando-se novamente os interessados. O
procedimento de sobrepartilha tramita em apenso aos autos do inventário (art. 670 e parágrafo
único do CPC/2015). Haverá necessidade de uma nova sentença, que decidirá acerca da
sobrepartilha.
Dispõe o art. 669 do CPC/2015, que ficam sujeitos à sobrepartilha os bens:
I. sonegados;
II. da herança que se descobriram depois da partilha;
III. litigiosos, assim como os de liquidação difícil ou morosa;
IV. situados em lugar remoto da sede do juízo onde se processa o inventário.
Anote-se que a sobrepartilha abrange não só os bens sonegados e desconhecidos, como
também os litigiosos ou de liquidação difícil ou morosa e os situados em lugar remoto.

EMENDA DA PARTILHA

Emenda da partilha é a retificação de seus erros materiais.


A emenda pode ser determinada de ofício pelo juiz, ou mediante requerimento da parte,
ainda que a sentença já tenha transitado em julgado (art. 656 do CPC/2015).

FORMAL DE PARTILHA

Formal de partilha é o documento que autoriza herdeiros e legatários a registrarem os


imóveis em seus respectivos nomes.
É expedido após o trânsito em julgado da sentença de partilha, mediante a comprovação do
pagamento de todos os impostos (art. 655, V, do CPC/2015).
Vimos que no arrolamento admite-se o julgamento da partilha, mesmo sem a quitação do

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imposto causa mortis. Todavia, para o recebimento do formal, urge que se demonstre o pagamento
não só do imposto causa mortis como de todos os demais impostos.
O formal de partilha, que deve conter os documentos previstos no art.655 do CPC/2015, pode
ser substituído por certidão do pagamento do quinhão hereditário, quando este não exceder a
cinco vezes o salário mínimo (parágrafo único do art. 655 do CPC/2015).

HERDEIRO EVICTO

Diz-se evicto o herdeiro que, por sentença, perdeu a propriedade ou a posse do bem
herdado.
Dispõe o art. 2.024 que os coerdeiros são obrigados a indenizá-lo.
Cessa a obrigação de indenizá-lo em três casos:
a) se na partilha ou em outro documento se convencionou a exclusão dessa
responsabilidade;
b) se a evicção ocorreu por sua culpa. Exemplos: não contestou a ação reivindicatória que o
terceiro lhe moveu; não alegou usucapião em sua defesa etc.;
c) se a evicção ocorreu por fato posterior à partilha. Exemplo: apreensão do bem por
motivos sanitários ou fiscais.
A ação de indenização é pessoal. Prescreve em dez anos a contar do trânsito em julgado da
sentença de evicção.
O evicto será indenizado pelos co-herdeiros na proporção de suas quotas hereditárias, mas,
se algum deles se achar insolvente, responderão os demais na mesma proporção, pela parte desse,
menos a quota que corresponderia ao indenizado (art. 2.026).
Finalmente, o legatário evicto não tem direito à indenização dos herdeiros, salvo se estes
tiveram culpa pela evicção.

PAGAMENTO DAS DÍVIDAS

A herança pode conter dívidas póstumas e dívidas do falecido.


As dívidas póstumas são as despesas de funerais (enterro, luto do cônjuge e filhos do finado,
bem como os sufrágios por alma). Os sufrágios por alma, para serem devidos, devem ser ordenados
em testamento ou codicilo.
As dívidas do falecido são as contraídas em vida pelo de cujus.
As dívidas póstumas, bem como as dívidas do falecido consistentes em gastos com a sua
doença no semestre anterior à morte, gozam de privilégio geral nos bens do defunto, conforme art.
965, I, III e IV.
O credor do espólio pode cobrar o seu crédito de duas formas:
a) movendo ação de cobrança ou ação de execução, conforme tenha ou não título executivo.
Nesse caso, deve ser feita a penhora no rosto dos autos (art. 860 do CPC/2015), a não ser que os
herdeiros autorizem o inventariante a nomear bens à penhora no processo em que o espólio for
executado (art. 646 do CPC/2015);
b) requerer a habilitação do crédito no inventário (art. 642 do CPC/2015). A habilitação deve
ser feita antes da partilha, instruindo-se o requerimento com o título da dívida. Não havendo
impugnação, o juiz julga procedente a habilitação, determinando o pagamento da dívida, antes da
partilha. O credor de dívida não vencida também pode habilitar-se se todos os herdeiros e
interessados concordarem.
Se houver, porém, impugnação de qualquer interessado, fica vedada a habilitação do credor

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DIREITO CIVIL - SUCESSÕES CPF - 04326633123
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS

no inventário, esteja ou não vencida a dívida. Nesse caso, o credor deve mover ação de cobrança ou
de execução (art. 634 do CPC/2015).
Os donatários serão também chamados a pronunciar-se sobre a aprovação das dívidas,
sempre que haja possibilidade de resultar delas a redução das liberalidades (§ 5o do art. 642 do
CPC/2015).
O credor, cujo crédito não foi impugnado, pode requerer a separação de bens, isto é, a
indicação dos bens do espólio que lhe devem ser entregues para solução da dívida ou serem
vendidos em hasta pública para o mesmo fim. A separação é uma medida anterior ao pagamento e
posterior ao deferimento de habilitação. Em primeiro lugar, a separação deve recair sobre dinheiro;
e, em sua falta, quaisquer outros bens. Se todos concordarem, o credor pode adjudicar o bem,
operando-se a dação em pagamento.
Vimos que se houver impugnação é vedada a habilitação. Acrescente-se ainda que a
impugnação pode ser feita por qualquer interessado, a saber: inventariante, cônjuge-meeiro,
companheiro, herdeiros, Ministério Público e curador especial dos herdeiros ausentes. A
impugnação não precisa ser fundamentada.
O credor, cuja habilitação foi impugnada, deve mover ação de cobrança ou de execução, mas
ele pode formular o pedido de tutela cautelar de reserva de bens. Nesse caso, a ação de cobrança
ou de execução deve ser ajuizada em trinta dias, sob pena de caducidade da reserva determinada.
A reserva de bens só é cabível quando a dívida estiver devidamente documentada, mas, mesmo
assim, desde que a impugnação não se tenha fundado em quitação (parágrafo único do art. 643 do
CPC/2015).
Por outro lado, a Fazenda Pública, no que diz respeito aos débitos tributários, é paga
independentemente de habilitação.
Observe-se, ainda, que, mesmo após a partilha, o credor pode cobrar os herdeiros, na
proporção dos respectivos quinhões (art. 1.997, 2ª. Parte); mas não há solidariedade entre os
herdeiros. Anote-se, ainda, que o legatário não é obrigado a pagar as dívidas do testador. Se,
porém, o bem legado estava hipotecado, o legatário que efetuar o pagamento do débito, para
liberar a hipoteca, terá direito de regresso contra os demais herdeiros.
Finalmente, dispõe o art. 2.000 que os legatários e credores da herança podem exigir que do
patrimônio do falecido se discrimine o do herdeiro, e, em concurso com os credores deste, ser-lhe-
ão preferidos no pagamento. A 1ª. Parte do dispositivo visa evitar a confusão entre o patrimônio do
de cujus e o do herdeiro; a 2ª. Parte preceitua que o credor do de cujus recebe na frente do credor
do herdeiro.

ANULAÇÃO E RESCISÃO DA PARTILHA

Dispõe o art. 2.027: “A partilha, uma vez feita e julgada, só é anulável pelos vícios e defeitos
que invalidam, em geral, os negócios jurídicos.
Parágrafo único. Extingue-se em um ano o direito de anular a partilha.”
Aludido dispositivo cuida apenas da partilha amigável, porque a partilha judicial submete-se à
ação rescisória, conforme dispõe o art. 658 do CPC/2015.
A partilha amigável, como vimos, propicia o arrolamento sumário, procedimento de jurisdição
voluntária, cuja sentença é passível de ação anulatória, e não ação rescisória, conforme parágrafo
único do art. 657 do CPC/2015).
A ação anulatória é ajuizada no juízo de primeiro grau, diferentemente da ação rescisória, que
é proposta diretamente no tribunal.
A ação anulatória deve ser proposta em um ano; a rescisória, em dois. Em ambas as

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hipóteses, o prazo é decadencial.


Na partilha judicial, o prazo de dois anos para ajuizar a ação rescisória é contado a partir do
trânsito em julgado da sentença. Na partilha amigável, o termo inicial no prazo de um ano para a
ação anulatória varia conforme a causa da anulabilidade.
Com efeito, dispõe o parágrafo único do art. 657 do CPC/2015:
“O direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1 (um) ano, contado este prazo:
I. no caso de coação, do dia em que ela cessou;
II. no erro ou dolo, do dia em que se realizou o ato;
III. quanto ao incapaz, do dia em que cessar a incapacidade”.
Anote-se que o art. 2.027 do CC e o art. 657 do CPC/2015 cuidam apenas da anulabilidade,
isto é, da nulidade relativa da partilha amigável. Portanto, o incapaz a que se refere o inciso III,
acima transcrito, é o relativamente, que intervém no ato sem a assistência de seu representante
legal. Tratando-se de absolutamente incapaz, a nulidade é absoluta; igualmente, quando o seu
objeto for ilícito ou impossível. O prazo para a propositura da ação da nulidade absoluta da partilha
é de dez anos (art. 205), mas há opiniões considerando-a imprescritível.
Por outro lado, a partilha judicial é elaborada nos autos do inventário ou do arrolamento
comum, procedimentos de jurisdição contenciosa, cuja sentença submete-se à coisa julgada
material, razão pela qual o art. 658 do CPC/2015 prevê, para a hipótese, a ação rescisória.
Anote-se, porém, que a coisa julgada consubstanciada na ação rescisória ou anulatória só
atinge as pessoas que participaram do inventário ou arrolamento. Os herdeiros que não
participaram do processo devem propor a ação de petição de herança; e, os terceiros, ação de
nulidade, cujo prazo é de dez anos (art. 205).

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