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DIREITO DAS SUCESSÕES

AULA 01
1) Conceitos Iniciais:
a) Sucessão legitima: é aquela que está prevista em lei. Esse tipo de sucessão é subsidiário com relação
a sucessão testamentária, uma vez que no direito civil, prevalecerá a manifestação de vontade do
agente;
b) Sucessão testamentária: “testamento é a manifestação da última vontade”;
c) Relações patrimoniais: o direito das sucessão irá abordar apenas de relações patrimoniais.
d) Substituição: o direito das sucessões visa substituir o sujeito (seja ele ativo ou passivou, credor ou
devedor), em virtude do óbito do agente. Dessa a substituição visa recompor a relação obrigacional
para que elas sejam cumpridas, agora por novos titulares. A substituição decorre da herança, que
pode ser entendida como um conjunto de relações jurídicas patrimoniais que decorre da morte e
transmite aos sucessores. Atenção: só há direito de sucessão com a morte, logo, por exemplo, herança
não pode ser objeto de contrato de pessoa viva (art. 426, CC)
e) Automática: a transmissão, em regra, é automática (art. 1784). Exceções: direito real (usufruto),
alvará judicial (art. 666, CPC), direito autora (uma vez que decorrido o prazo de 70 anos a
titularidade se perde, vide art. 41, da Lei de Direitos Autorais).
f) Legatário: é aquele que recebe um bem individualizado;
g) Herdeiro Legítimo/necessário: art. 1789: e art. 1829;
h) Herdeiro Testamentário: decorre da manifestação;
i) Regime de bens: não pode confundir o regime com a sucessão, já que se tratam de institutos distintos;
j) Legítima: é a reserva do patrimônio quanto o autor deixa herdeiros necessários, vide art. 1846:
“Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a
legítima.”
k) Adjudicação (art. 651 e art. 659, §1º, CPC): quando o falecido deixa apenas 1 herdeiro, ou seja,
atribui-se ao herdeiro único um procedimento mais simples (arrolamento)
l) Espolio: ente despersonalizado que representa a herança, tanto judicialmente como extra, por meio do
inventariante
m) Limitação: os herdeiros apenas responderão nos limites da herança (art. 1792 e 1997)
n) Exclusão: equivale tanto para a legítima, quanto para a testamentária.
2) Princípios Norteadores:
a) Direito de Herança: art. 5º, XXX, CF: “é garantido o direito de herança”;
b) Princípios Gerais da Propriedade e da Função Social: art. 170, CF: “A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: II - propriedade
privada; III - função social da propriedade;”
c) Limite a Liberdade de Testar: art. 1857: Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da
totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte. § 1º: A legítima dos herdeiros
necessários não poderá ser incluída no testamento. Trata-se de uma limitação, pois havendo
herdeiros necessários, não poderá haver plena liberdade de testar. Por isso que se diz que há uma
funcionalidade sistêmica.
3) Características Principais da Herança:
a) É um bem jurídico imóvel: art. 80, II, CC: Consideram-se imóveis para os efeitos legais: II - o
direito à sucessão aberta.
b) É um bem jurídico universal: art. 91, CC:  Constitui universalidade de direito o complexo de relações
jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico.
c) É um bem jurídico indivisível: art. 1791, CC: A herança defere-se como um todo unitário, ainda que
vários sejam os herdeiros.
AULA 02

4) Sucessão em geral: O efeito jurídico principal da morte é a cessação da personalidade e, naturalmente,


dos direitos da personalidade. Entre outras consequências jurídicas da morte: abrir a sucessão (art. 1.784,
Código Civil), importando a transmissão imediata e automática do patrimônio do falecido aos seus
sucessores;
a) Abertura da sucessão: a regra é a transmissão automática (art. 1.784, CC), que abrange todas as relações
patrimoniais do morto, em caráter universal. Lembrar que abertura da inventário é diferente de abertura da
subseção.
OBSERVAÇÃO: havendo uma pluralidade de herdeiros, a abertura da sucessão seguirá a formação de um
condomínio e de uma composse, automaticamente, entre eles, uma vez que a herança é universal e
indivisível. Somente depois, com a partilha, é que será dissolvido o condomínio e a composse.

b) Efeitos da transmissão automática:


I) Fixação da norma jurídica disciplinadora da sucessão (art. 1.787, CC; art. 5º, XXXVI,
da Constituição Federal): a lei que irá reger a sucessão será aquela no momento da
morte. Dessa forma, podemos falar em uma possível ultratividade da norma sucessória.
Norma sucessória de natureza processual (vide art. 1.046, CPC).
OBSERVAÇÃO: Súmula 112, do Supremo Tribunal Federal: O imposto de
transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da
sucessão
II) Verificação da legitimação sucessória: aptidão para receber herança ou legado
verificada no momento da abertura da sucessão, isto é, no ato da morte do autor da
herança. Atenção: a legitimação para receber a herança é diferente de capacidade de
testamento, pois, o testamento como mandamento de exteriorização deve ser regido no
momento da última manifestação da vontade.
c) Cálculo da Legítima: legítima é a porção indisponível do patrimônio do falecido aos herdeiros
necessários. O cálculo será feito desde logo na abertura da sucessão, para fins de verificar eventual
excesso de disposição patrimonial no testamento e a consequente necessidade de redução das cláusulas
testamentárias (arts. 1.846, 1.847 e 1.967, CC; Enunciado 119, da I Jornada de Direito Civil)
d) Lugar da sucessão e regras de competência (art. 1.785, CC): a regra está no caput do 1785, ou seja, será
no último domicilio do falecido. A primeira exceção perfaz quando se tratar de incapazes: domicílio do
representante ou assistente. Ademais, o foro competente será aquele do autor da herança, vide art. 48,
CPC. O juízo do inventário: juízo universal (art. 612, CPC). Poderá ocorrer a pluralidade de juízes
sucessivas, quando ocorre, por exemplo, entre brasileiros e estrangeiros, a regra será sempre que deverá
ser processado cada inventário no limite da sua competência e territorialidade.
e) Legitimação sucessória: (art. 1.798, CC): instante para aferição da legitimação para suceder é a abertura
da sucessão. Capacidade para elaborar testamento verificada no momento da elaboração do negócio
jurídico.
I) embrião laboratorial: art. 1.798, CC e enunciado 267, da III Jornada de Direito Civil:
“A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados
mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação
hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às
regras previstas para a petição da herança.”
II) filiação adotiva e socioafetiva post mortem (art. 1.799, I e art. 1.597, IV, CC): aquisição
da legitimação sucessória após a abertura da sucessão, excepcionando a regra geral.
III) legitimação para suceder por testamento: art. 1.799, I, c/c art. 1.800, § 4º, CC (prole
eventual); (prole eventual que pode decorrer da adoção).
IV) proibição de figurar como beneficiários de um testamento: arts. 1.801 e 1.802, CC.
Razões de ordem pública/nulidade da cláusula conhecidas de ofício pelo juiz).
5) Formas de exclusão do legatário ou herdeiro em virtude da ocorrência de atos reprováveis do herdeiro.
Enquanto a indignidade (art.1814) é uma cláusula típica da sucessão, a deserdação (art. 1961) é típica do
testamento. Por possuírem uma natureza jurídica de sanção civil, impondo, como consequência, a perda
do direito subjetivo de receber o patrimônio transferido pelo passamento do titular, deve ser sempre
compreendida e interpretada restritivamente.
a) Indignidade: Para a doutrina majoritária, o rol do art. 1814 é taxativo, entretanto o STJ vem
entendendo como exemplificativo. De qualquer forma, a sua decretação, implica, necessariamente
uma propositura de uma ação civil (procedimento comum ordinário) e necessidade de decisão
judicial, respeitado o devido processo legal. A sentença declaratória terá efeitos ex tunc, isto é, efeitos
retroativos à data da abertura da sucessão. Lembrar sempre que a condenação criminal não implica em
nada na esfera civil. Possui prazo decadencial de 4 (quatro) anos, contados a partir da abertura da
sucessão: art. 1.815, § 1º, e art. 1.965, parágrafo único, CC. Os efeitos sempre serão pessoais (art.
1.816, CC). O herdeiro indigno será considerado como morto ao tempo da sucessão, sendo assim, os
herdeiros necessários do herdeiro indigno poderão suceder. Mas em caso de morte dos herdeiros
necessários do herdeiros indigno, não poderá o indigno e/ou deserdado suceder a quota parte herdada
pelo seus descendentes (art. 1.816, parágrafo único, CC.) Nessa hipótese, a parte que caberia ao
excluído ficará para a massa hereditária, salvo se havia substituto indicado no próprio testamento.
Reabilitação do indigno (art. 1.818, CC): somente será possível em casos de expressa manifestação do
próprio autor da herança.
b) Deserdação: Hipóteses de cabimento: arts. 1.961, 1.962 e 1.963, CC (figura típica da sucessão
legítima). Pressupostos: (a) declaração de vontade do autor da herança privando herdeiro necessário
por meio de testamento; (b) indicação do motivo da deserdação na própria declaração de vontade,
dentre as causas previstas em lei (art. 1.964, CC); (c) confirmação judicial em ação submetida ao
procedimento comum ordinário (art. 1.965, CC). Deserdação pro bono (tem por objetivo proteger o
herdeiro que está sendo deserdado): arts. 1.848 e 1.911, CC. Reabilitação do deserdado: parâmetros
do art. 1.818, CC.

AULA 03
6) Aceitação da Herança: a regra da transmissão imediata (art. 1.784, CC) do patrimônio do falecido para os
seus herdeiros, mas cabe ao herdeiro aceitar ou repudiar a herança. A aceitação é ato jurídico unilateral,
através do qual o herdeiro (legítimo ou testamentário) manifesta o desejo de receber a herança que já lhe
foi transmitida automaticamente por força de lei. Trata-se de consolidação dos direitos hereditários. Uma
vez aceita a herança transmitida, o herdeiro não responde pelos débitos deixados pelo falecido que
superem o limite do patrimônio transferido, isto é, da herança recebida, ultimada a partilha, respondem os
herdeiros, na medida de seus quinhões (art. 1.997, CC). A aceitação da herança é ato jurídico irrevogável
e irretratável (art. 1.812, CC), porque os seus efeitos estão previstos em lei, insuscetíveis de disposição
pelo interessado.
a) anulação da aceitação da herança: defeito do ato jurídico de exteriorização da vontade do agente. Prazo
decadencial de quatro anos (art. 178, CC). Ação movida antes de transitar em julgado a decisão de
partilha e competência de vara cível.
b) aceitação integral (art. 1.808, CC). A herança é um bem jurídico de caráter universal, imóvel e
indivisível. Títulos sucessórios diversos (art. 1.808, § 2º, CC).
c) formas de aceitação da herança: expressa, tácita e presumida (arts. 1.805 e 1.807, CC). Exemplos de
aceitação presumida: credor do herdeiro ou o herdeiro do herdeiro.
d) a quem cabe aceitar a herança: O próprio sucessor, seja herdeiro ou legatário (se incapaz, por meio do
representante ou assistente); o tutor do curador, mediante autorização judicial (art. 1.748, II, CC);
independe da anuência do cônjuge (art. 1.647, CC); se o sucessor falecer sem exteriorizar a vontade (art.
1.809,CC).
e) aceitação indireta da herança (art. 1.813, CC), limitada ao montante do crédito do aceitante, até o limite
da partilha. Mas se partilhada a herança, resta aos credores prejudicados acionar diretamente o herdeiro
renunciante, que lhes prejudicou.

7) Cessão de Direitos Hereditários: é um contrato [depois de aberta a sucessão e antes de promovida a


partilha] bilateral, translativo, gratuito ou oneroso, aleatório, que um herdeiro realiza com uma pessoa,
tendo por objeto a totalidade ou uma cota da herança, da qual é titular. Mas a qualidade de herdeiro é
intransmissível, o que ocorre é a transmissão de direitos econômicos, patrimoniais. O direito de
preferência ou prelação, ou preempção (art. 1.794, CC): O efeito jurídico decorrente da preterição do
direito de preferência dos coerdeiros é a ineficácia do negócio jurídico celebrado com relação aos
coerdeiros prejudicados. Adjudicação compulsória (art. 1.795, CC). O procedimento comum ordinário:
litisconsórcio passivo necessário entre alienante e adquirente.
a) requisitos para a cessão de direitos hereditários (negócio jurídico aleatório): (a) lapso temporal entre a
abertura da sucessão e a partilha do patrimônio transmitido, em juízo ou em cartório; (b) forma solene
(arts. 80, II, e 1.793, caput, CC); (c) capacidade jurídica do cedente (alienante); (d) universalidade de
bens (art. 1.793, §§ 2º e 3º, CC).
b) efeitos da cessão: transferência para o cessionário dos direitos patrimoniais do cedente, abrangendo a
posse e a propriedade dos bens, assim como as ações defensivas correspondentes.
c) responsabilidades do cedente e do cessionário. O cessionário (adquirente) assume o lugar do herdeiro
(cedente), sub-rogando nos seus direitos respectivos. O cessionário responde pela dívidas do espólio, até
o valor do quinhão respectivo do cedente. O cedente (herdeiro) não reponde pelos riscos da evicção ou
por vícios redibitórios em razão do caráter aleatório do negócio, tampouco se o valor do quinhão for
inferior ao do negócio.

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8) Renúncia da Herança: o exercício do direito de suceder não é obrigatório. A renúncia, portanto, será um
ato jurídico em sentido estrito, unilateral, pelo qual o herdeiro declara não aceitar o patrimônio do
falecido, repudiando a transmissão automática que a lei operava em seu favor. Produz efeitos ex tunc
(arts. 1.810 e 1.811, CC), retroativos à abertura da sucessão. Inexistente a transmissão não há incidência
tributária, já que não houve qualquer transmissão. Desnecessária a homologação judicial (no que difere
da renúncia da meação).
a) Requisitos:
i) A condição de herdeiro e pessoa capaz (se incapaz, autorização judicial, ouvido o Ministério
Público: art. 1.691, caput, CC); consentimento do cônjuge, salvo no regime de separação
absoluta de bens, convencional (arts. 1.647, I e 1.687, CC). No regime de separação
obrigatória de bens (súmula 377/STF)
ii) Requisito formal (art. 1.806, CC): Hipótese de renúncia presumida no âmbito da sucessão
testamentária (art. 1.913, CC).
iii) Requisito temporal: somente após a abertura da sucessão (ver art. 426, CC) e antes da
partilha.
b) O herdeiro-renunciante pode ter a administração e o usufruto dos bens recebidos por seus filhos
menores e pode suceder seus filhos quando não mais existirem sucessores na mesma classe.
c) A renúncia é irretratável e irrevogável (art. 1.812, CC). Anulação do ato de renúncia: prazo
decadencial de quatro anos, no juízo cível. Não é possível a renúncia parcial: indivisibilidade do ato
d) É ato abdicativo (inadmissibilidade de renúncia translativa). A transmissão em favor de terceiro
caracteriza cessão de direitos hereditários, gratuita ou onerosa.
9) Petição de Herança: (art. 1.824, CC).
a) Objeto: declaração judicial da condição de herdeiro do autor da herança e obtenção da posse e da
propriedade dos bens que compõem a herança e que se encontram indevidamente em poder de
terceiro, no todo ou em parte.
b) Ajuizada antes da partilha: juízo do inventário; se já se efetivou a partilha: foro do domicílio dos réus.
Ação de petição de herança cumulada com investigação de paternidade: foro do domicílio do
investigante.
c) Natureza jurídica: ação real imobiliária e universal (art. 1.825, CC), contendo pedido de índole
condenatória. Exige-se o consentimento do cônjuge do autor, exceto se o casamento estiver sob o
regime de separação absoluta de bens (art. 73, Código de Processo Civil).
d) Legitimados: aquele que se afirma herdeiro ou coerdeiro, legítimo ou testamentário, ou ainda: o
sucessor do herdeiro legitimo; o substituto do herdeiro testamentário; o poder público; o credor do
titular; cessionários.
e) Prescritibilidade da pretensão (súmula 149/STF; art. 205, CC). Mesmo quando cumulada com outro
pedido, a petição de herança sempre prescreverá em dez anos. A fluência do prazo prescricional
inicia-se na data do conhecimento da violação ou lesão ao direito subjetivo pelo seu respectivo titular
(art. 189, CC). O termo inicial para o ajuizamento da ação de petição de herança é a data do trânsito
em julgado da ação de investigação de paternidade, quando, em síntese, confirma-se a condição de
herdeiro. Ver STJ, REsp 1.475.759/DF, j. 17/05/2016, Rel. Min. João Otávio de Noronha.
f) Efeitos (art. 1.826, CC).
g) Herdeiro aparente. Exemplos: aquele que recebeu a herança em razão de um testamento que veio a ser
anulado ou declarado nulo; o ascendente que recebe a herança ignorando a existência de descendente;
o herdeiro que é deserdado pelo autor da herança em testamento que somente é conhecido tempos
depois da abertura da sucessão.
h) Boa-fé (art. 1.827, parágrafo único, CC): restará ao herdeiro titular do direito hereditário reclamar do
herdeiro aparente o prejuízo sofrido, afastada a desconstituição do negócio.
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