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DIREITO DAS SUCESSÕES

1. Noções Introdutórias (art. 5º, XXX, CF/88)


2. Abertura da Sucessão
2.1. Princípio da Saisine
2.2. Momento de Abertura da Sucessão
2.3. Local de Abertura da Sucessão
3. Espólio e Administração da Herança

1. Noções Introdutórias
Temos que o direito das sucessões é tratado no último livro do Código Civil de 2002 (Livro V –
Do Direito das Sucessões) e é o ramo do direito civil que trata da sucessão mortis causa. É
neste ramo do direito que se estudam noções gerais como herança, testamento, espólio e
outros termos relacionados à sucessão decorrente da morte.
O direito à herança encontra, inclusive, previsão constitucional, encontrando-se plasmado no
art. 5º, XXX da CF/88, de forma bastante objetiva, enfatizando a natureza de garantia
constitucional de tal direito: “XXX – é garantido o direito de herança”. E diferente não poderia
ser, já que o direito de herança é indissociável das noções de direito de propriedade e sua
função social.

2. Abertura da Sucessão
A sucessão se abre com a morte, imediatamente. E para evitar a existência de direitos, deveres
e bens sem um titular, a lei cria um efeito que se opera com a abertura da sucessão, ou seja,
com a morte, que é transmissão automática da posse dos bens do falecido para os seus
herdeiros, e assim, todos os herdeiros, até que se ultime a partilha dos bens eventualmente
deixados pelo falecido, terão a composse destes bens. Esta posse se transmite de forma
imediata e automática, sem a necessidade de nenhum ato por parte dos herdeiros.

2.1. Princípio da Saisine


A este efeito dá-se o nome de PRINCÍPIO DA SAISINE (droit de saisine), e em nosso
ordenamento, este princípio encontra previsão no art. 1.784 do CC:

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários.
Veja-se: “Aberta a sucessão” = morte;
“transmite-se, desde logo” = imediata e automaticamente
Verifica-se, portanto, que nosso sistema adota do Princípio da Saisine, e nas palavras de
Anderson Schereiber, “esse imediatismo na transmissão dos bens impede que o patrimônio
permaneça por qualquer instante sem titular, o que serve para evitar abusos e conflitos
decorrentes do esbulho e heranças abertas” (SCHEREIBER, 2020; p. 1.014).

2.2. Momento de Abertura da Sucessão


Já se sabe que a sucessão se abre com a morte, mas é preciso relembrar aqui, que nem
sempre o momento da abertura da sucessão é facilmente verificável. E para tanto, apenas a
título de recapitulação, é preciso relembrar as noções de morte à luz do direito civil,
notadamente, (i) morte real; (ii) morte presumida sem declaração de ausência (art. 7º, CC); (iii)
morte presumida com declaração de ausência (art. 22, CC) e (iv) comoriência (art. 8º, CC). De
toda sorte, é fundamental, independente das circunstâncias, precisar o momento da morte, pois
é com a abertura da sucessão que se verifica a legislação aplicável, que será aquela vigente
ao tempo da morte:
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura
daquela.

2.3. Local de Abertura da Sucessão


Já o local da abertura da sucessão será aquele em que o falecido tinha seu último domicílio,
atentando-se aqui às regras de fixação de domicílio insertas no art. 71 do CC e nas regras de
fixação de competência no art. 48 do CPC:

Código Civil
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com
ânimo definitivo.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

Código de Processo Civil


Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a
partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou
anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o
óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
3. Espólio e Administração da Herança
Uma vez aberta a sucessão – repita-se, com a morte – os bens do falecido são considerados
como uma universalidade, cuja posse incumbe aos herdeiros. A esta universalidade, dá-se o
nome de espólio, que é o ente despersonalizado ou despersonificado que encampa todos os
direitos, deveres, bens, dívidas, etc., porventura deixados pelo de cujus.

Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.
A administração da herança regula-se pelas normas relativas ao condomínio, e o espólio
possui legitimidade judicial ativa e passiva, desde que devidamente representado pelo
inventariante (art. 75, VII do CPC).
Ao inventariante cabe a administração da herança (art. 1.991, CC), e até que o inventariante
assuma este compromisso, a administração é regulada na forma do art. 1.797 do CC:
Art. 1.991. Desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha, a
administração da herança será exercida pelo inventariante.
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança caberá,
sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um
nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos antecedentes,
ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz.
Ademais, a lei confere à sucessão aberta a natureza jurídica de bem imóvel, conforme art. 80
do CC, ainda que o falecido somente tenha deixado bens móveis. Significa que uma vez aberta
a sucessão, e antes de ultimada a partilha com a transmissão definitiva dos bens aos novos
titulares, estes bens, considerados enquanto universalidade, tem, por força de lei, natureza de
bem imóvel:

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


(...)
II - o direito à sucessão aberta.

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