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SUCESSÕES E PROCEDIMENTOS

SUCESSÓRIOS

PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS SUCESSÕES

a) Dignidade da pessoa humana: valor fundamental de respeito à existência humana.


Portanto, as normas sucessórias não podem afrontar esse princípio, sob pena de ter a
constitucionalidade questionada;

b) Igualdade: requer isonomia formal (em lei), e também material (na sociedade). Não se
permite, por exemplo, o tratamento desigual entre filhos consanguíneos ou não, ou entre
herdeiros da mesma classe;

c) Função social da propriedade: aliado ao princípio da saisine, garante que a propriedade


não permaneça sem titular;

d) Boa-fé: regra objetiva a ser observada nas relações jurídicas em geral. Nas sucessões,
pode ser aplicada na interpretação das disposições de última vontade, nos reflexos
sucessórios do regime de bens escolhido, indignidade, planejamento sucessório, etc.;

e) Autonomia da vontade: respeito à vontade humana. No plano sucessório, se aplica nas


disposições testamentárias, planejamento sucessório, aceitação e renúncia da herança,
etc.;
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f) Saisine: transmissão imediata e automática do domínio e posse da herança aos herdeiros
legítimos e testamentários, no instante em que a sucessão é aberta (o morto dá posse ao
vivo). Previsão legal: art. 1.784, CC;

g) (Non) Ultra Vires Hereditatis: Além do conteúdo da herança, “herança danosa”, “herança
maldita”. O herdeiro não pode ser obrigado a pagar dívidas e obrigações além da herança,
ou seja, com bens próprios. Previsão legal: art. 1.792, CC;

h) Função social da herança: permite redistribuição da riqueza do falecido, transmitida aos


seus herdeiros, além de poupá-los da perda de potenciais benefícios que teriam caso não
tivesse acontecido o falecimento;

i) Territorialidade: Previsão legal: art. 1.785, CC. A sucessão abre-se no lugar do último
domicílio do falecido (regra de ordem material);

j) Intertemporalidade: Previsão legal: arts. 1.787 e 2.041, CC. Para garantir segurança nas
relações jurídicas já consolidadas, evitando prejuízos de terceiros, aplica-se as normas
vigentes à época da abertura da sucessão;

k) Respeito à vontade manifestada: permite a produção de efeitos post mortem em relação


ao patrimônio do falecido, em respeito à sua vontade manifestada.

ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA

Pela leitura do art. 1.791, CC, é possível notar que, aberta a sucessão, forma-se uma massa
patrimonial que, pela saisine, é transferida imediatamente aos herdeiros, de forma indivisível,
aplicando-se as normas relativas ao condomínio.

Mas, se a massa patrimonial pertence a todos os herdeiros, quem administra?

Administrador provisório:

Art. 1.797, CC: Até o compromisso do inventariante, a administração da


herança caberá, sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura
da sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver
mais de um nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos
incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave
levado ao conhecimento do juiz.
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Inventariante:

Art. 617, CPC: O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:


I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se
toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;
VII - o inventariante judicial, se houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.

O patrimônio do falecido, composto por sua massa patrimonial indivisível, passa a ser
chamado de espólio, especialmente para fins processuais, pois, apesar de não ter personalidade
jurídica, tem capacidade postulatória (art. 75, CPC).

Abertura da sucessão Administração provisória Nomeação de inventariante

ACEITAÇÃO

Aceitação é o ato jurídico mediante o qual o herdeiro, de forma expressa, tácita ou presumida,
manifesta sua vontade de receber, aceitar a herança (autonomia privada).

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro,


desde a abertura da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro
renuncia à herança.

Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração


escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade
de herdeiro.

A aceitação pode ser:

a) Expressa: feita por declaração escrita, por documento público ou particular, ou mesmo
por termo nos autos;

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b) Tácita: quando o herdeiro pratica atos típicos de herdeiro. Por exemplo, se habilita na ação
de inventário, contrata advogado, recolhe o ITCMD, etc.;

Atenção para os parágrafos do art. 1.805:

§ 1º: Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral


do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda
provisória.
§ 2º: Não importa igualmente aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da
herança, aos demais co-herdeiros.

c) Presumida: resulta de uma situação fática de omissão, de inércia.

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o


autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.

Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a


herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo
razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob
pena de se haver a herança por aceita.

Quais os efeitos da aceitação?

Primeiramente, a aceitação irá retroagir à abertura da sucessão, em razão da


transmissibilidade abstrata decorrente do princípio da saisine.

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro,


desde a abertura da sucessão.

Por se tratar de ato puro, não admite condição ou termo. Portanto, não posso aceitar herança
sob a condição de não haver dívidas, ou aceitar parte da herança, ou seja, aceitar apenas
determinado bem, porque sei que sob os demais há litígio, por exemplo.

Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição
ou a termo.

Todavia, sobre a aceitação parcial da herança, é preciso destacar os casos em que a mesma
pessoa figura como herdeiro e legatário, nada o impede de aceitar um e renunciar o outro (art.
1.808, §1º, CC). Da mesma forma, nada impede que o herdeiro à título legítimo e testamentário
sobre a mesma sucessão possa aceitar um e renunciar o outro (art. 1.808, §2º, CC).

Não é, portanto, uma aceitação parcial da herança, mas, sim, uma aceitação total de
apenas uma ou algumas partes que lhe cabe.
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Uma vez aceita a herança, é possível revogar a aceitação? E o que
?
acontece se o herdeiro falece antes de aceitar a sua herança?
?

RENÚNCIA

A renúncia consiste na prática de um ato jurídico abdicativo do direito hereditário conferindo,


com efeitos retroativos, que excluem o sujeito da cadeia sucessória como se herdeiro nunca
houvesse sido. Assim, o sucessor renunciante é banido por vontade própria da sucessão (art. 1.811,
CC).

Características da renúncia:

a) Não depende de consentimento de qualquer pessoa;

b) Não pode ser presumida, decorre de declaração expressa (art. 1.806, CC);

c) É negócio puro, não podendo haver condição ou termo (art. 1.808, CC);

d) Não se admite renúncia parcial (art. 1.808, CC);

e) É negócio formal, exigindo escritura pública ou termo judicial, sob pena de nulidade (art.
1.806, CC);

f) Não pode ser feita antes da abertura da sucessão (art. 426, CC, pacta corvina);

g) Deve acontecer antes da aceitação, já que esta não admite revogação (art. 1.804,
parágrafo único, CC);

h) É irrevogável (art. 1.812, CC).

O que acontece se essa renúncia prejudicar os credores do renunciante?


?
?

CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS

Conhecida também como “renúncia translativa”, a cessão de direitos hereditários é um ato


jurídico negocial que se opera quando o herdeiro (cedente) transfere, à título gratuito ou oneroso,
por escritura pública ou termo nos autos, a sua quota hereditária em favor de terceiro (cessionário).

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É um ato negocial de natureza aleatória, pois o cessionário assume o risco de nada vir a
receber, caso de apure a existência de dívidas que esgotem as forças da herança, ou de receber
menos do que negociou, caso surjam novos herdeiros, diminuindo a quota cedida.

Art. 1.793: O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha
o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.

Características da cessão de direitos hereditários:

a) É negócio formal, exigindo escritura pública, sob pena de nulidade (art. 1.793, CC). A
jurisprudência tem admitido a cessão por termo nos autos, assim como acontece na
renúncia;

b) Não se admite cessão de bem singular (art. 1.793, §2º e 3º, CC);

c) Se admite o direito de preferência sobre a quota hereditária (art. 1.794 e 1.795, CC);

d) Não abrange direito posteriormente incorporado (art. 1.793, §1º, CC).

Tendo por base o art. 1.647, I, CC, para cessão de direitos hereditários, é
?
necessária a autorização do cônjuge do herdeiro cedente?
?

Para finalizar, como fica a questão tributária em caso de renúncia e cessão de direitos
hereditários?

Se houver a renúncia propriamente dita, o herdeiro renunciante fica dispensado do


pagamento do ITCMD, sendo a sua quota do imposto paga pelos sucessores beneficiados pela
renúncia, que efetivamente a receberão.

Já na cessão de direitos hereditários, haverá sempre o recolhimento de dois impostos:

Se a cessão for gratuita, será recolhido o ITCMD (causa mortis) pelo recebimento da herança,
e novamente o ITCMD (doação) pela parcela doada.

Se a cessão for onerosa, será recolhido o ITCMD (causa mortis) pelo recebimento da
herança, e ITBI pela parcela transmitida a título oneroso.

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EXERCITANDO O QUE APRENDEU

(FCC – 2022 – TRT 23ª Região) De acordo com o Código Civil, a herança

a) só se transmite aos herdeiros depois de concluído o inventário.


b) não pode ser disposta integralmente por testamento quando existirem herdeiros necessários.
c) transmite-se definitivamente aos herdeiros necessários independentemente de aceitação.
d) pode ser parcialmente renunciada pelo herdeiro.
e) defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.

(IESES – 2022 – TJ-TO) Conforme disposto no Código Civil, é possível a cessão de direitos
hereditários, mediante escritura pública. A respeito desse assunto, leia as assertivas:

I. É ineficaz a cessão de direitos hereditários em relação a qualquer bem da herança considerado


singularmente.
II. Os direitos conferidos ao herdeiro em razão de direito de acrescer presumem-se abrangidos pela
cessão de direitos hereditárias feita anteriormente.
III. O co-herdeiro poderá ceder onerosamente seus direitos hereditários à pessoa estranha à
sucessão independentemente de direito de preferência dos demais co-herdeiros.
IV. A cessão de direitos hereditários pode ser total ou parcial, bem como onerosa ou gratuita.

Com base nas assertivas acima, assinale a alternativa correta:

a) Apenas a assertiva II está correta.


b) Todas as assertivas estão corretas.
c) Estão corretas as assertivas I e IV.
d) Estão corretas apenas as assertivas I, II e IV.

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