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Disciplina: DIREITO CIVIL III – Direito das Sucessões

Roteiro 04

Professora: Ássima Casella

UNIDADE II - DA HERANÇA E SUA ADMINISTRAÇÃO

1. Aceitação e renúncia da herança

1.1. Aceitação

Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, a aceitação ou adição da herança é ato pelo qual o
herdeiro anui à transmissão dos bens do de cujus, ocorrida por lei com a abertura da sucessão,
confirmando-a.

De acordo com Caio Mário a aceitação da herança é a manifestação livre de vontade de


receber a herança por parte do herdeiro.

Que o herdeiro poderá renunciar a herança, e os efeitos dessa renuncia são ex-tunc,
retroagindo desde a data da abertura da sucessão - principio da saisine.

O herdeiro renunciante é considerado como se nunca fosse herdeiro.

Tanto a aceitação quanto a renuncia, são atos irrevogáveis.

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a
abertura da sucessão.

Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança.
Art. 1.812. São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança.

Ver: art.1804/CC e 1812/CC

Obs.: A aceitação pode ser expressa, tácita ou presumida (Ver: art. 1805/CC)

Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando
tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro.

§ 1º Não exprimem aceitação de herança os atos oficiosos, como o funeral do finado, os


meramente conservatórios, ou os de administração e guarda provisória.

Quando ocorrer tacitamente, a aceitação ser dará por atos do herdeiro.

Ex.: Solicitação de abertura de inventario, habilitação no inventario.

- Aceitação presumida (art. 1807/CC)


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Art. 1.807. O interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte
dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para,
nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita.

Silencio qualificado

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e


não for necessária a declaração de vontade expressa.

- Ver: art. 1808/CC - Aceitação é indivisível e incondicional

Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo.

§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou,


aceitando-a, repudiá-los.

§ 2º O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos


sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que
renuncia.

Art. 1.809. Falecendo o herdeiro antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar
passa-lhe aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva,
ainda não verificada.

NÃO HÁ REPRESENTAÇÃO NO TESTAMENTO.

- Aceitação pelos sucessores (art. 1809/CC)

Ver: art.1809/CC

De acordo com Caio Mário, no caso do falecimento do herdeiro sem declarar se aceita ou não
a herança, a faculdade passa aos seus sucessores, valendo a declaração destes, como se
daquele partisse. Ainda conforme o referido autor, com a morte do herdeiro, não poderá ser
transmitido ao sucessor a herança ainda não aceita, mas será transferido o poder de
aceitação ou repúdio, pertinente ao herdeiro desde a abertura da sucessão.

1.2.Renúncia

Ver: art. 1806/CC

De acordo com Caio Mário, a renúncia não poderá ser feita antes de aberta a sucessão e não
será possível renunciar caso o herdeiro pratique qualquer ato que equivale à aceitação.

** Após a renúncia da herança, retroage à abertura da sucessão, portanto, o renunciante é


tratado como se nunca a ela fosse chamado. Ver: art. 1804, parágrafo único/CC.

Ato unilateral de vontade. Depende da manifestação de vontade do herdeiro renunciante.

Renuncia somente ocorre de forma expressa.


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Obs1.: O Agente para renunciar deverá ser capaz. Poderá ser realizada por mandatário, que
deverá ter poderes para tanto. Em recente decisão o STJ entendeu que a renúncia realizada
por procurador deverá ser feita por instrumento público. (REsp. 1236671)

Renúncia à herança só pode ser feita por procurador constituído por instrumento público

Por maioria de votos, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que,
quando a renúncia à herança é feita por procurador, este não pode ser constituído mediante
instrumento particular. A outorga da procuração precisa ser feita por instrumento público ou
termo judicial.

Acompanhando o voto-vista do ministro Sidnei Beneti, a Turma entendeu que, se o artigo 1.806
do Código Civil (CC) estabelece que a renúncia deve constar expressamente de instrumento
público ou termo judicial, então a concessão de poderes para essa renúncia também tem de ser
realizada por meio dos mesmos instrumentos.

A questão discutida pelos ministros não foi em relação à possibilidade ou não da renúncia por
procurador, a qual é inteiramente válida quando a procuração dá poderes específicos para a
renúncia. A Turma discutiu a forma de constituição do procurador para a renúncia, ou seja, a
necessidade de instrumento público para a transmissão de poderes.

Cautela

Beneti ressaltou que a exigência de instrumento público, constante no artigo 1.806 do CC, é
decorrente do disposto no artigo 108 do mesmo código, que considera a escritura pública
essencial à validade dos negócios jurídicos que visem “à constituição, transferência,
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis”.

Segundo o ministro, “a exigência da lei tem toda razão de ser, pois, caso contrário, seria aberto
caminho fácil à atividade fraudulenta por intermédio de escritos particulares”. Assim, ele
concluiu que o acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) violou o artigo 1.806 do CC,
ao validar renúncia à herança feita por procurador constituído por instrumento particular.

Por isso, seguindo o voto de Beneti, a maioria dos ministros da Turma deu provimento ao
recurso, restabelecendo a sentença de primeiro grau. Ficou vencido o relator, ministro Massami
Uyeda, que negava provimento ao recurso e mantinha a decisão do TJSP.

Irrevogável

Efeito ex-tunc

Doutrina - incapaz poderia fazer por meio do representante

Requer capacidade

Obs2: Se a herança é bem imóvel, a renúncia do herdeiro casado pode depender de vênia
conjugal.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização
do outro, exceto no regime da separação absoluta:
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I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, o herdeiro renunciante será tratado como se jamais
houvesse sido chamado, portanto, a renúncia tem por efeito afastar o renunciante da
sucessão.

*** Renúncia abdicativa ou translativa

Caio Mário aduz, “Ao propósito, costuma-se distinguir da renúncia abdicativa a chamada
renúncia translativa, que implica a transmissão a determinada pessoa, designada pelo
renunciante. A primeira (abdicativa) é verdadeira renúncia, ao passo que a segunda
(translativa ou translatícia) envolve duas declarações de vontade, importando em aceitação e
alienação simultânea ao favorecido.”

Em sua obra, Rosenvald e Cristiano Chaves, aduzem o seguinte: a renúncia é ato simples de
despojamento da herança, não sendo possível destinar o patrimônio repudiando ao benefício
de terceiros. Ou seja, a renúncia não tende ao favorecimento de terceiros, tratando-se,
portanto, de ato abdicativo. Ainda, entendem que na renuncia translativa, o herdeiro estaria
aceitando a herança para em seguida cede-la gratuitamente à terceiros, por isso, se trata na
verdade de uma cessão de direitos hereditários.

ITCMD - Imposto de transmissão causa mortis e outros direitos.

Imposto Estadual

ITBI - imposto de transmissão de bens imóveis.

Segue entendimento do TJMG sobre a renúncia translativa:

TJ-MG - Agravo de Instrumento Cv AI 10024096786371002 MG (TJ-MG)

Data de publicação: 04/12/2013

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ALVARÁ JUDICIAL - LEVANTAMENTO DE VALORES


DEIXADOS POR SERVIDOR FALECIDO - SUCESSORES - RENÚNCIA TRANSLATIVA - DOAÇÃO - ITCD
DEVIDO - RECURSO DESPROVIDO. A renúncia propriamente dita é aquela que o herdeiro
renuncia em favor do monte mor. A renúncia translativa é ato complexo que configura dois
tributos, causa mortis e inter vivos, por ter origem na aceitação e na doação. Assim, tal
renúncia configura-se verdadeira doação sobre a qual é devido o imposto de transmissão inter
vivos.

Direito de acrescer (art. 1810/CC)

Art. 1.810/CC Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da
mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente.

Nas palavras de Tartuce, o art. 1810/CC prevê, na hipótese de renúncia, que a parte do
herdeiro renunciante, seja devolvida aos herdeiros da mesma classe. Aduz ainda o referido
autor, que ninguém poderá suceder representando o herdeiro renunciante, pois a renúncia
gera um tratamento ao renunciante como se ele nunca tivesse existido como pessoa.
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De acordo com Maria Berenice Dias, com a renúncia, opera-se o direito de acrescer: o quinhão
volta automaticamente aos herdeiros. Neste caso, os descendentes do renunciante não
podem representa-lo porque ele nada recebeu.

Obs.: Art. 1811/CC

Credores

Ver: art. 1.813/CC

Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão
eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante.

§ 1º A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta dias seguintes ao conhecimento do


fato.

§ 2º Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será


devolvido aos demais herdeiros.

Os credores prejudicados podem anular a renúncia, aceitando, mediante autorização judicial, a


herança em nome do adbicante. Importa ressaltar que não é necessário demonstrar fraude,
mas apenas o prejuízo.

*** Somente cabível àqueles que já eram credores quando do repúdio à herança.

Obs.: Falência – ato de renúncia é ineficaz em relação à massa falida se operada até dois anos
antes da decretação da falência.

Lei 11.101/2005

Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento
do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar
credores:

I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por
qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;

II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizadas dentro do termo legal, por qualquer
forma que não seja a prevista pelo contrato;

III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo legal,
tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de
outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca
revogada;

IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;

V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;

VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o


pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens
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suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver
oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do
registro de títulos e documentos;

Questão discursiva:

(DPGE/RJ – XVI concurso) Diferencie, na sucessão legítima, renúncia (abdicativa e translativa) à


herança de cessão de direitos hereditários.

1. Arnaldo faleceu e deixou os filhos Roberto e Álvaro. No inventário judicial de Arnaldo,


Roberto, devedor contumaz na praça, renunciou à herança, em 05/11/2019, conforme
declaração nos autos. Considerando que o falecido não deixou testamento e nem dívidas a
serem pagas, o valor líquido do monte a ser partilhado era de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Bruno é primo de Roberto e também seu credor no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
No dia 09/11/2019, Bruno tomou conhecimento da manifestação de renúncia supracitada e,
no dia 29/11/2019, procurou um advogado para tomar as medidas cabíveis.

Sobre esta situação, assinale a afirmativa correta.

a) Em nenhuma hipótese Bruno poderá contestar a renúncia da herança feita por


Roberto.

b) Bruno poderá aceitar a herança em nome de Roberto, desde que o faça no prazo de
quarenta dias seguintes ao conhecimento do fato.

c) Bruno poderá, mediante autorização judicial, aceitar a herança em nome de Roberto,


recebendo integralmente o quinhão do renunciante.

d) Bruno poderá, mediante autorização judicial, aceitar a herança em nome de Roberto,


no limite de seu crédito.

2. Márcia era viúva e tinha três filhos: Hugo, Aurora e Fiona. Aurora, divorciada, vivia
sozinha e tinha dois filhos, Rui e Júlia. Márcia faleceu e Aurora renunciou à herança da
mãe.

Sobre a divisão da herança de Márcia, assinale a afirmativa correta.


a) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre Hugo e
Fiona, cabendo a cada um metade da herança.
b) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre Hugo,
Fiona, Rui e Júlia, em partes iguais, cabendo a cada um 1/4 da herança.
c) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre Hugo,
Fiona, Rui e Júlia, cabendo a Hugo e Fiona 1/3 da herança, e a Rui e Júlia 1/6 da
herança para cada um.
d) Aurora não pode renunciar à herança de sua mãe, uma vez que tal faculdade não é
admitida quando se tem descendentes de primeiro grau.
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3. Heitor, solteiro e pai de dois filhos também solteiros (Roberto, com trinta anos de idade, e
Leonardo, com vinte e oito anos de idade), vem a falecer, sem deixar testamento. Roberto,
não tendo interesse em receber a herança deixada pelo pai, a ela renuncia formalmente por
meio de instrumento público. Leonardo, por sua vez, manifesta inequivocamente o seu
interesse em receber a herança que lhe caiba. Sabendo-se que Margarida, mãe de Heitor,
ainda é viva e que Roberto possui um filho, João, de dois anos de idade, assinale a
alternativa correta.

a) Roberto não pode renunciar à herança, pois acarretará prejuízos a seu filho, João, menor de
idade.

b) Roberto pode renunciar à herança, o que ocasionará a transferência de seu quinhão para
João, seu filho.

c) Roberto pode renunciar à herança, e, com isso, o seu quinhão será acrescido à parte da
herança a ser recebida por Leonardo, seu irmão.

d) Roberto pode renunciar à herança, ocasionando a transferência de seu quinhão para


Margarida, sua avó, desde que ela aceite receber a herança.

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