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DIREITO DAS SUCESSÕES

NOTA DE AULA 5

PROF° CAROLINA VASQUES SAMPAIO

HERANÇA JACENTE E VACANTE

Com a abertura da sucessão, opera-se, do ponto de vista ideal, a transferência do acervo


patrimonial, por força do Princípio da Saisine,

Ocorre que nem sempre existem herdeiros do falecido.

Da mesma forma, nem sempre os herdeiros têm conhecimento do falecimento do autor


da herança, por não terem mais contato com ele, pela ruptura dos laços de convivência.

Existe, assim, um patrimônio cujo novo titular, por força da sucessão, é desconhecido. O
que pode ser feito?

Herança jacente é uma herança estabelecida, mas ainda sem um destinatário


conhecido. (Artigo 1819 do CC).

Em outras palavras, é aquela em que o falecido não deixou testamento ou herdeiros


notoriamente conhecidos.

A herança jacente é uma massa patrimonial – é resultado de uma arrecadação de bens,


para se evitar que fique sem titular indefinidamente.

Possui capacidade processual ativa e passiva juridicamente, por ser um ente


despersonalizado.

Herança jacente não pode ser confundida com o espólio.

O espólio compreende os bens deixados pelo falecido desde a abertura da sucessão até a
partilha. Os herdeiros legítimos e testamentários são conhecidos. Pode aumentar com os
rendimentos que produza ou diminuir em razão de ônus e deteriorações.

A herança jacente, por sua vez, é a de uma sucessão sem um dono (herdeiros
desconhecidos)

Como se dá a arrecadação?
A herança jacente ocorre quando da situação do falecimento de alguém e não se existe
testamento ou herdeiros.

O Estado, com a finalidade de evitar o perecimento do valor representado pelos bens


cujo titular se ignora, determina a arrecadação, com o objetivo de entregar essa
massa patrimonial aos herdeiros que eventualmente demonstrem essa condição.

Enquanto não surgem herdeiros, o curador dado à herança jacente deve


providenciar a regularização de ativos e passivos da massa patrimonial – artigo 1821
CC.

E se não aparecerem herdeiros?

A herança jacente se converte em vacante – artigo 1820 CC.

Herança Vacante: é aquela que não teve qualquer habilitação de herdeiro, seja por ser
desconhecido, seja porquê aqueles de que se têm notícias renunciaram-na.

Obs: quando todos os chamados a suceder renunciarem à herança, será desde logo
declarada vacante – artigo 1823 CC.

Ressalta-se, a vacância só é reconhecida quando não houver qualquer habilitação de


herdeiros para a herança, sendo a jacência um estado provisório.

Decorrido o prazo de um ano, contado da publicação do primeiro edital, (artigo 1820 CC)
para o reconhecimento da vacância da herança ou ocorrendo a situação de imediato
reconhecimento da herança vacante (artigo 1823 CC), quais as consequências para a
massa patrimonial sem titular conhecido?

A declaração da vacância não prejudicará os herdeiros que legalmente se habilitarem,


mas, decorridos 5 anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio
do Município ou do DF, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se
ao domínio da União quando situados em Território Federal. Se os colaterais NÃO se
habilitarem até a declaração da vacância, ficam excluídos da sucessão. (Artigo 1822 CC).

Enquanto não houver incorporação não há prejuízo aos herdeiros, pois podem se habilitar
para receber a herança, salvo os colaterais que não são herdeiros necessários, que ficam,
excluídos da sucessão.
A aquisição de propriedade mediante usucapião somente é possível até a declaração de
vacância, pois a sentença de vacância já traduziria o marco de transição entre os domínios
público e privado, ainda que a consolidação do direito se dê após os 5 anos.

Obs: essa matéria está disciplinada nos artigos 738 a 743 do CPC – Procedimentos
especiais.

PETIÇÃO DE HERANÇA:

A ação de petição da herança está prevista nos artigos 1824 a 1828 do CC.

Por meio da AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA, o herdeiro pode demandar o


reconhecimento do seu status sucessório, visando obter a restituição de toda a herança,
ou de parte dela, contra quem indevidamente a possua (Artigo 1824 CC).

Ex: João, falece, deixando, a princípio, como herdeiros, seus filhos Joaquim Jr e Jucineia.
Após a abertura da herança, surge Carmelo, que se diz fruto de uma relação extraconjugal
do falecido, pleiteando o seu reconhecimento como filho e herdeiro.

Logo, a petição de herança, é o meio pelo qual alguém demanda o reconhecimento


da sua qualidade de herdeiro, bem como, pleiteia a restituição da herança, total ou
parcialmente, em face de quem a possua.

Obs: ação de petição de herança é diferente de ação de reivindicação.

Ação de Petição de Herança Ação Reivindicatória


Reconhecimento da qualidade de Reconhecimento do direito de
herdeiro, da qual pode derivar o propriedade sobre determinada coisa.
reconhecimento de um direito de
propriedade, de outro direito real, de um
direito de crédito ou de outro direito
pessoal.
O herdeiro dever provar unicamente seu O autor deve provar que adquiriu a
título de aquisição propriedade, mas que a houve de quem era
proprietário.

Logo, visa reconhecer a qualidade de herdeiro e o pedido de restituição da herança, ou


seja, tem-se ação do tipo declaratória e ao mesmo tempo condenatória.
É possível o pedido de reserva de bens no inventário ou arrolamento, para se assegurar o
resultado útil da demanda, desde que os pressupostos da tutela estejam configurados.

Prazo para propor?

A petição da herança tem duas finalidades:

 Reconhecimento da qualidade de herdeiro – natureza declaratória


 Restituição de bens – natureza condenatória

Observação importante:

Existe relação entre os institutos da prescrição e decadência com a classificação das ações.

Prescrição Decadência
É a extinção da pretensão à prestação Perda efetiva do direito pelo seu não
devida – ou seja, perda do direito de ação. exercício no prazo estipulado. Em relação
O direito continua a existir. a direitos protestativos – de que dependem
de manifestação judicial.
Somente se aplica nas ações Ações constitutivas.
condenatórias.

Ações declaratórias - visam o reconhecimento de uma certeza jurídica são


IMPRESCRITÍVEIS, pois não modificam qualquer estado de coisas.

Direitos potestativos exercitáveis mediante declaração de vontade do titular, sem prazo


especial para o exercício previsto em lei, eventual ação judicial também será
imprescritível, à exemplo da ação de divórcio, que desconstitui o vínculo matrimonial.

Logo, no tocante a restituição de bens da herança o prazo será prescricional de 10 anos, a


contar da abertura da sucessão – artigo 205 CC.

Obs: se da abertura da sucessão os possíveis herdeiros possam ser nascituros ou menores


de idade, o prazo prescricional não corre contra absolutamente incapazes, tendo início o
decurso do prazo quando tornar-se relativamente incapaz – artigo 198, I, CC.

Quem tem legitimidade para propor?

Todo potencial herdeiro que se considerar excluído do direito sucessório. Ex: filhos não
reconhecidos, herdeiros testamentários excluídos da sucessão etc.
É dever o inventariante informar ao juízo acerca da possível existência de outros herdeiros
habilitáveis.

Petição da herança e boa-fé:

Antes de se propor a ação de petição de herança, a presunção é que o possuidor dos bens
da herança esteja de boa-fé (presunção relativa).

A partir da citação, a presunção deixa de existir, devendo o possuidor responder de acordo


com as regras referentes à posse da má-fé e à mora.

Obs: na perspectiva do princípio da boa-fé e da própria teoria da aparência, não podem


ser prejudicados aqueles que, amparados na legitima expectativa da qualidade de
herdeiro, firmam com teste uma relação negocial juridicamente possível (artigo 1827 e
1828 CC).

Logo, o terceiro que com o possuidor dos bens hereditários houver travado uma relação
jurídica, de boa-fé, não poderá ser prejudicado, cabendo, ao real herdeiro, prejudicado,
exigir do sucessor aparente a eventual compensação devida.

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