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POSSE

Efeito prático...
REsp 588714 / CE
-Limitação de medidas do locador em
face do locatário inadimplente

Referência:
STJ. REsp 588714 / CE. Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima. 5ª. Turma. DJ: 29/05/2006
RECURSO ESPECIAL. CIVIL.
LOCAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO
AJUIZADA POSTERIORMENTE AO
ABANDONO DO IMÓVEL PELA
LOCATÁRIA. POSSIBILIDADE.
OBJETIVO: EXTINÇÃO DA RELAÇÃO
JURÍDICA. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E IMPROVIDO.
1. Celebrado o contrato de locação,
opera-se o fenômeno do desdobramento
da posse, pela qual o locador mantém
para si a posse indireta sobre o imóvel,
transferindo ao locatário a posse direta,
assim permanecendo até o fim da
relação locatícia.
2. Enquanto válido o contrato de locação,
o locatário tem o direito de uso, gozo e
fruição do imóvel, como decorrência de
sua posse direta. Nessa condição, pode o
locatário, sem comprometimento de seu
direito, dar ao imóvel a destinação que
melhor lhe aprouver, não proibida por lei
ou pelo contrato, podendo, inclusive, se
assim for sua vontade, mantê-lo vazio e
fechado.
3. As ações de despejo têm natureza
pessoal, objetivando a extinção do
contrato de locação, em razão do fim de
seu prazo de vigência, por falta de
interesse do locador em manter o
vínculo porque o locatário inadimpliu
qualquer de suas obrigações ou ainda
porque é de seu nteresse a retomada do
imóvel, por uma das causas previstas em
lei.
4. Hipótese em que, não existindo nos autos
prova de que o contrato de locação foi
rescindido, deve prevalecer a presunção de
sua validade, sendo vedado à locadora
retomar a posse do imóvel por sua livre e
espontânea vontade, ainda que a locatária
estivesse inadimplente no cumprimento de
suas obrigações, sob pena de exercer a
autotutela. O remédio jurídico, em tal caso,
nos termos do art. 5º da Lei 8.245/91, é o
ajuizamento da necessária ação de despejo.
Informativo nº 0412
19 a 23 de outubro de 2009.
Os recorrentes celebraram compromisso de
compra e venda de imóvel que ainda estava
financiado e hipotecado. Pagaram, então, o ágio e
se comprometeram a continuar a quitar as
prestações restantes. Contudo, havia cláusula, no
pacto, que permitia aos promitentes vendedores
continuar residindo no imóvel por mais dois anos.
Sucede que, após a celebração do compromisso e
antes que fosse levado ao registro, a recorrida
obteve a constrição do imóvel mediante penhora
em processo de execução referente à locação
afiançada pelos promitentes vendedores. Nesse
contexto, é necessário definir se os promitentes
compradores podem manejar embargos de
terceiro, nos termos da Súm. n. 84-STJ.
Anote-se que o Tribunal a quo reconheceu haver
posse indireta dos recorrentes, o que faz pressupor
uma transmissão ficta da posse mediante uma
espécie de constituto possessório, o que não pode
ser afastado sem reexame de prova ou cláusulas
contratuais (Súmulas ns. 5 e 7 do STJ).
conclui-se admissível a oposição dos embargos de
terceiros sob alegação de posse indireta referente a
compromisso de compra e venda sem registro.
Mostra-se inadequado acolher uma interpretação
mais restritiva do texto da citada súmula com o fim
de resguardar-se de eventual má-fé, visto que ela
pode ser adequadamente combatida pelo Poder
Judiciário. Precedentes citados: REsp 573-SP, DJ
6/8/1990; REsp 421.996-SP, DJ 24/2/2003; REsp
68.097-SP, DJ 11/9/2000, e REsp 64.746-RJ, DJ
27/11/1995. REsp 908.137-RS, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 20/10/2009.
CC, Art. 1.267. A propriedade das coisas não
se transfere pelos negócios jurídicos antes da
tradição.
Parágrafo único. Subentende-se a tradição
quando o transmitente continua a possuir
pelo constituto possessório; quando cede ao
adquirente o direito à restituição da coisa,
que se encontra em poder de terceiro; ou
quando o adquirente já está na posse da
coisa, por ocasião do negócio jurídico.
Tipos de posse e
vícios da posse
Classificações
Posse direta e indireta
Posse de boa-fé e de má-fé
Posse justa e injusta
Posse nova e velha
Aspectos subjetivos
Posse de boa-fé: ignora o obstáculo
que lhe impede a aquisição da coisa
“Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o
possuidor ignora o vício, ou o
obstáculo que impede a aquisição da
coisa.
Parágrafo único. O possuidor com
justo título tem por si a presunção
de boa-fé, salvo prova em contrário,
ou quando a lei expressamente não
admite esta presunção”.
Intentada a ação respectiva, a
presunção é atingida

“CCB, Art. 1.202. A posse de boa-fé


só perde este caráter no caso e
desde o momento em que as
circunstâncias façam presumir que o
possuidor não ignora que possui
indevidamente”.
CJF Enunciado n. 303
Considera-se justo título, para a
presunção relativa da boa-fé do
possuidor, o justo motivo que lhe
autoriza a aquisição derivada da
posse, esteja ou não materializado em
instrumento público ou particular.
Compreensão na perspectiva da
função social da posse.
Boa-fé é provada ou presumida?

Arts. 1.201 e 1.202


Aspectos objetivos

- Posse justa e posse


injusta
Mudança da cerca
Atos de violência
Deixa de restituir
Todos os atos são de violência?
“Posse violenta (adquirida vi) a que se adquire
por ato de força, seja ela natural ou física, seja
moral ou resultante de ameaças que incutam
na vítima sério receio. A violência estigmatiza a
posse independentemente de exercer-se sobre a
pessoa do espoliado ou de preposto seu, como
ainda do fato de emanar do próprio espoliador
ou de terceiro.”

(SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de direito civil.


Vol.IV – Direitos reais. 22ªed., atualizada por Carlos Edison do
Rego Monteiro Filho. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p.21)
Problematização da força
“(...) não é considerada violenta a posse caso o uso
da força se justifique para a remoção de
obstáculos físicos para o ingresso em bens
abandonados (v.g. destruição de cadeados ou
supressão de cercas). Pensamos que só há
violência quando o apossamento resulta de uma
conduta contrária à vontade do possuidor, pelo
fato de a coisa ser arrebatada de alguém que a
isso se oponha”.

(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.


Curso de direito civil, p.106).
Defeitos relativos: apenas há
necessidade de ocorrerem contra
quem tem interesse em recuperar a
coisa possuída. Por isso só podem
ser acusadas pela vítima.

Vícios temporários: basta que


cessem para a situação voltar ao
normal.
Posse justa e injusta
- Modalidades de posse injusta
- Definição por exclusão
- Efeitos na usucapião
TJPR. Apelação n. 1232671-1. 18ª Câmara
Cível, DJ: 1586 17/06/2015

Discussão sobre proteção da posse


Apelação sustenta: I. Os pais do apelante foram
proprietários de dois imóveis rurais expropriados pelo
apelado, ficando as propriedades à disposição do
arrematante desde então; II. Passados cerca de 5
(cinco) anos do evento, e sem que o arrematante
apelado tomasse qualquer atitude ou providência
visando a ocupação e/ou exploração das áreas
arrematadas, o apelante passou a ocupá-las,
iniciando suas atividades agrícolas, o que vem
fazendo há mais de 15 anos, de forma pacífica, mansa
e sem oposição, tornando as terras produtivas, com o
plantio de diversas culturas, além de pastagens
artificiais e preservações legais quanto à flora;
a posse irregular do recorrente (sem qualquer título)
não pode ser oposta em face do legítimo direito do
proprietário de ser imitido na posse de imóvel
adquirido pelas vias legais. o apelante adentrou no
imóvel sem qualquer título (ou, como bem observou
o Juízo singular, simplesmente invadiu e começou a
explorar fl. 115), sua posse não pode ser considerada
justa e, consequentemente, não pode ser oposta ao
direito que o proprietário embargado tem de exercer
a posse direta sobre o bem. O modo de aquisição por
meio de invasão pelo apelante vai em desencontro
dos mais elementares princípios do direito privado,
principalmente ao direito de propriedade.
Aprofundamento: há como a posse ad
usucapionem não ser injusta?

Sebastião
Salgado
Crítica: Como é possível considerar que a
posse seja justa por não repugnar a ordem
jurídica, ao mesmo tempo em que é
exercida de forma a viabilizar a obtenção
do direito que atualmente pertence a
outro e independentemente (ou mesmo
contra) da vontade dele?

DANTAS, Marcus Eduardo de Carvalho. Toda posse ad


usucapionem é uma posse injusta. Civilistica.com.
Rio de Janeiro, a. 5, n. 1, 2016.
Dantas - há uma diferença, como indicado, no
significado da palavra “injusta” quando em
referência ao modo como a posse foi obtida e
quando em referência ao conteúdo da solução dada
pelo legislador. Uma posse pode ser “injusta” em um
aspecto formal, decorrente do fato de que foi obtida
de forma não autorizada, mas “justa” porque, de um
lado, não vem sendo utilizada pelo proprietário e, de
outro, representa a materialização de direitos
fundamentais sociais negligenciados pelo Estado.
O fato é que justiça material da ocupação de
terrenos abandonados por pessoas que não tem
acesso aos direitos de moradia frente à proprietários
negligentes não é incompatível com o
reconhecimento de que o apossamento não foi
autorizado e, neste sentido formal, gera uma posse
injusta.
A posse justa pode se tornar
injusta?
A posse injusta não se torna justa pela
vontade ou pela ação do possuidor. No
entanto, causa diversa pode fazê-lo.
Ex: aquele que tomou por violência
compra do esbulhado, aquele que
possuiu clandestinamente herda do
desapossado.
Efeitos da posse injusta

CC, art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera


permissão ou tolerância assim como não autorizam a
sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos,
senão depois de cessar a violência ou a
clandestinidade.
A posse injusta pode ser de boa-fé?
1. Altera a cerca sem saber

2. Adquire posse de quem exercia de má-fé


A posse JUSTA e ILEGÍTIMA?*

* Contraria ao direito?
posse obtida por meio de um negócio jurídico
nulo ou anulável, bem como no da aquisição a
non domino, hipóteses nas quais poder-se-ia
dizer que não há propriamente “vício”, mas
tampouco uma posse escorreita

Posse sobre imóvel público


Posse julgados
(parte dogmática)
0033398-18.2009.8.19.0001 - APELACAO - 2ª Ementa
DES. HELENO RIBEIRO P NUNES - Julgamento: 03/09/2013 –
5ª. Câmara Cível. (...) AÇÃO DE USUCAPIÃO. POSSE
DECORRENTE DE CONTRATO DE LOCAÇÃO QUE NÃO TEM O
CONDÃO DE CARACTERIZAR A PRESCRIÇÃO AQUISITIVA,
EM RAZÃO DA AUSÊNCIA DE "ANIMUS DOMINI",
ELEMENTO SUBJETIVO ESSENCIAL PARA O
RECONHECIMENTO DA USUCAPIÃO. DEVERAS, O FATO DE
OS AUTORES EFETUAREM O PAGAMENTO DOS ENCARGOS
RELATIVOS AO IMÓVEL, BEM ASSIM REALIZAREM
BENFEITORIAS NECESSÁRIAS, NÃO DESCARACTERIZA A
RELAÇÃO JURÍDICA SUBJACENTE HAVIDA ENTRE AS PARTES,
DE LOCAÇÃO, INDEPENDENTEMENTE DE QUANDO SE DEU
A ÚLTIMA COBRANÇA PELO LOCATÁRIO. RECURSO AO QUAL
SE NEGA PROVIMENTO.
STJ. REsp 1194694. Relator(a)Ministra NANCY ANDRIGHI.
3ª. Turma. DJe 19/04/2011
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO
REIVINDICATÓRIA. EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO
REJEITADA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
ANULAÇÃO. 1. A existência de decisão transitada
formalmente em julgado, determinando a anulação
de sentença para ingresso na fase de instrução, não
vincula, pelas regras inerentes à disciplina da coisa
julgada, a nova decisão a ser proferida. Contudo, as
provas cuja realização foi determinada no primeiro
acórdão devem ser levadas em consideração pelo
segundo, sob pena de nulidade deste por ausência
de fundamentação.
2. Se o possuidor propõe uma ação de usucapião
discutindo determinada área, a sua posse deve ser
analisada até a data do ajuizamento da ação. É
possível, entretanto, em princípio, que, ainda que o
pedido de usucapião venha a ser julgado
improcedente, o possuidor volte a discutir em ação
futura sua posse computando, agora, também o
prazo em que tramitou a primeira ação, caso não se
verifique depois dela um ato inequívoco do
proprietário visando à retomada do bem.
3. Há precedente, no STJ, considerando que a
mera contestação a uma ação de usucapião
não representa efetiva oposição à posse,
interrompendo o prazo de prescrição
aquisitiva. Para que o debate da questão volte
a ser travado nesta sede, no entanto, é
necessário a sua análise pelo acórdão
recorrido.
REsp 1347390. Ministra NANCY ANDRIGHI. 3ª.
Turma. DJe 17/02/2014.

4. O direito à posse é relativo, podendo esta


ser justa em relação a uns e injusta em
relação a outros, a depender da relação
existente entre os sujeitos, a ser analisada
casuisticamente.

Comentário: na visão tradicional posse injusta


não permite usucapião.
- Problematizando posse de má-fé
- Posse clandestina
Efeitos da posse
Efeitos da posse
a-) direito à interditos (e outras
proteções ao possuidor);
b-) percepção de frutos;
c-) indenização por benfeitorias
d-) retenção;
e-) usucapião.
a-) Interditos
Interditos
- Independe da qualidade da posse

CCB Art. 1.210. “O possuidor tem


direito a ser mantido na posse em
caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência
iminente, se tiver justo receio de ser
molestado”.
Interditos
- Manutenção de posse
- Reintegração de posse
- Interdito proibitório

- Imissão na posse*
Posse ad interdicta
Posse ad usucapionem
TJPR - 17ª Câmara Cível. Apelação n. 1409386-0.
Rel.: Francisco Jorge. DJ. 09.03.2016)
“como cediço em nosso ordenamento civil, a
posse, associada ao tempo de exercício, é requisito
fundamental para a declaração de domínio por
usucapião. Imperativa, porém, é a sua
caracterização posse como ad usucapionem,
exigindo a lei, para tanto, em primeiro lugar, a
comprovação do ânimo de dono, ou seja, a atitude
ativa no sentido do exercício dos poderes
inerentes à propriedade, comportando-se o autor
ostensivamente -- perante terceiros -- como se
comportaria o proprietário,
mesmo pela atitude passiva deste, ou de quem
figura como tal, exigindo-se, também, o exercício
manso e pacífico da posse, sem oposição ou
interrupções.
José encontrou um cadeado, que impedia acesso a
sua casa, posteriormente, a apenas um quarto. Há
esbulho ou turbação? E agora José, Qual ação
promover?
TJMG. Apelação Cível n. 10058150025706002 MG,
Relator: Kildare Carvalho. 16ª Câmara Cível, DJ:
07/07/2017.

As demandas possessórias possuem como


característica a fungibilidade, sendo autorizado ao
julgador deferir uma proteção possessória diversa
da postulada na petição inicial, desde que
comprovados os requisitos para tanto
CPC, Art. 554. A propositura de uma
ação possessória em vez de outra
não obstará a que o juiz conheça do
pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos
pressupostos estejam provados.
CPC, Art. 555. É lícito ao autor
cumular ao pedido possessório o de:
I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor
requerer, ainda, imposição de
medida necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou
final.
Procedimento posse nova e posse
velha

CPC, Art. 558. Regem o procedimento


de manutenção e de reintegração de
posse as normas da Seção II deste
Capítulo quando a ação for proposta
dentro de ano e dia da turbação ou do
esbulho afirmado na petição inicial.
CPC, Art. 562. Estando a petição
inicial devidamente instruída, o juiz
deferirá, sem ouvir o réu, a
expedição do mandado liminar de
manutenção ou de reintegração,
caso contrário, determinará que o
autor justifique previamente o
alegado, citando-se o réu para
comparecer à audiência que for
designada.
Em caso de inadimplemento de compra e venda,
pode-se promover ação possessória?
(STJ. AgInt nos EDcl nos EDcl no REsp 1534185/PE, Rel.
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, 3ª. Turma. DJe
06/11/2017). É imprescindível a prévia manifestação
judicial na hipótese de rescisão de compromisso de
compra e venda de imóvel para que seja consumada a
resolução do contrato, ainda que existente cláusula
resolutória expressa, diante da necessidade de
observância do princípio da boa-fé objetiva a nortear
os contratos. Por conseguinte, não há falar-se em
antecipação de tutela reintegratória de posse antes
de resolvido o contrato de compromisso de compra e
venda, pois somente após a resolução é que poderá
haver posse injusta e será avaliado o alegado esbulho
possessório.
A questão está em saber se, diante de compromisso de
compra e venda de bem imóvel com cláusula resolutória
expressa, pode haver ação direta de reintegração de posse
após notificação da mora, com deferimento de liminar, ou
se há necessidade de prévia resolução judicial do pré-
contrato. O Min. Relator destacou que este Superior
Tribunal preconiza ser imprescindível a prévia
manifestação judicial na hipótese de rescisão de
compromisso de compra e venda de imóvel, para que seja
consumada a resolução do contrato, ainda que existente
cláusula resolutória expressa, diante da necessidade de
observância do princípio da boa-fé objetiva a nortear os
contratos.
Por conseguinte, não há falar em antecipação de tutela
reintegratória de posse antes de resolvido o contrato de
compromisso de compra e venda, pois, somente após a
resolução é que poderá haver posse injusta e será avaliado
o alegado esbulho possessório. Diante disso, a Turma
conheceu em parte do recurso e, nessa parte, deu-lhe
provimento para afastar a concessão da tutela antecipada.
Precedentes citados: REsp 817.983-BA, DJ 28/8/2006;
REsp 653.081-PR, DJ 9/5/2005; REsp 647.672-SP, DJ
20/8/2007; REsp 813.979-ES, DJ 9/3/2009; AgRg no Ag
1.004.405-RS, DJ 15/9/2008; REsp 204.246-MG, DJ
24/2/2003, e REsp 237.539-SP, DJ 8/3/2000. REsp
620.787-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
14/4/2009.
Compra e venda com reserva de domínio
STJ. Informativo nº 0059. Período: 22 a 26 de maio
de 2000.
Ainda que sem prévia ou concomitante rescisão do
contrato de compra e venda com reserva de domínio, o
vendedor pode, ante o inadimplemento do comprador,
pleitear a proteção possessória sobre o bem móvel objeto
da avença.

A cláusula de reserva de domínio ou pactum reservati


dominii é uma disposição inserida nos contratos de
compra e venda que permite ao vendedor conservar para
si a propriedade e a posse indireta da coisa alienada até
o pagamento integral do preço pelo comprador, o qual
terá apenas a posse direta do bem, enquanto não solvida
a obrigação. Neste contexto, segundo doutrina, "o
domínio não se transmite com o contrato e entrega da
coisa, mas automaticamente com o pleno pagamento".
Desde que formulado o pacto com reserva de
domínio, o comprador tem conhecimento que
recebe a mera posse direta do bem e o vendedor,
por pressuposto, sabe que a sua propriedade é
resolúvel, uma vez que o primeiro poderá adquirir
a propriedade do bem com o pagamento integral
do preço, sendo franqueado à parte
vendedora/credora optar pelo procedimento que
melhor lhe convier a fim de ressarcir-se dos
prejuízos havidos com o ajuste inadimplido
Em outras palavras, é o direito conferido ao titular
de possuir o que é seu, independentemente de
prévio ajuizamento de demanda objetivando
rescindir o contrato de compra e venda, uma vez
que, nos ajustes cravados com cláusula de reserva
de domínio, a propriedade do bem, até o
pagamento integral do preço, pertence ao
vendedor, ou seja, não se consolida a transferência
da propriedade ao comprador.
Imissão na posse
(TJRS. Apelação Cível Nº 70073701674, 17ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em
31/08/2017).
Não tem interesse processual para propor ação
possessória aquele que arremata bem em leilão
extrajudicial e pretende investir-se na posse pela
primeira vez, com o afastamento dos antigos
possuidores que mantinham vínculo com o
alienante
Estando a causa de pedir exposta de maneira
completa na peça inicial que tem pedido condizente
com a pretensão posta em juízo, não se mostra
cabível a extinção sem resolução do mérito, sob a
alegação de que a ação eleita deveria ter cunho
petitório e não possessório, salvo nos casos em que
se verificar prejuízo à defesa do demandado
No caso concreto, verifica-se a impossibilidade de
conversão da ação possessória em petitória após a
apresentação de defesa com base na posse e
encerramento da fase de instrução, sob pena de
ofensa ao contraditório a ampla defesa. Sentença de
extinção por carência de ação mantida. APELO
DESPROVIDO. UNÂNIME.
Imissão na posse
TJAC. Agravo de instrumento n.
10009656420178010000. Rel. Des. Júnior Alberto, 2ª.
Câmara Cível, Dje 17/10/2017

A fungibilidade deve ser interpretada


restritivamente, somente atingindo os interditos
possessórios, não podendo, assim, o juiz converter
a ação de imissão na posse em ação possessória,
cujas causas de pedir são distintas, deferindo a
reintegração de posse que não consta do pedido
inicial.
Não se poderia dizer, assim, que a decisão teria
aplicado o princípio da fungibilidade das ações
possessórias, uma vez que essa ilação implicaria em
violação ao art. 554 , caput, do CPC , que restringe o
citado princípio às ações possessórias típicas
(manutenção, reintegração e interdito possessório),
não podendo ser utilizado para se converter uma ação
de natureza petitória, tais como a ação de imissão de
posse e a ação reivindicatória, que tem amparo no jus
possidendi (direito à posse) numa pretensão
possessória, fundada no jus possessionis (posse de
fato)
Há fungibilidade com o despejo?
TJSP. Agravo de instrumento n. 2182182-
27.2017.8.26.0000. Rel. Desª: Maria Lúcia
Pizzotti, 30ª Câmara de Direito Privado, Dje:
15/12/2017
Inexiste fungibilidade, própria das ações
possessórias, entre a reintegração de posse e a ação
de despejo, regida pela Lei n. 8.245 , de 1991. Ainda
que cogitável a emenda à inicial ou conversão, a
dúvida sobre a natureza da relação jurídica é
suficiente para indicar a inaplicabilidade do artigo
59, § 1º, da Lei de Locações; - Inviabilidade do
despejo liminar – controvérsia subsistente sobre a
natureza jurídica da ocupação pelo agravante
b-) Frutos
Classificação

- Naturais
- Civis: rendimentos
- Industriais
Quem faz jus à percepção?

- Possuidor de boa-fé
tem direito aos frutos

Frutos pendentes = não separados


Percebidos = colhidos
Percipiendos = podiam ter sido
colhidos
CCB, Art. 1.214. “O possuidor de
boa-fé tem direito, enquanto ela
durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. “Os frutos
pendentes ao tempo em que cessar
a boa-fé devem ser restituídos,
depois de deduzidas as despesas da
produção e custeio; devem ser
também restituídos os frutos
colhidos com antecipação”.
Atividade
Leitura do Código Civil e responder

O possuidor faz jus aos frutos que


já podiam ser colhidos?
Possuidor de boa-fé

- Possuidor de boa-fé: direito aos


frutos (não antecipadamente)
- Não faz jus aos frutos pendentes,
nem colheita antecipada

- Não confundir frutos e produtos!


Possuidor de má-fé

- Não faz jus a frutos (reembolso de


despesas de produção – CCB, art.
1.216)
c-) Indenização por
benfeitorias
Atividade
Leitura do código civil art. 96 e 1.119 a
1.222 e responder:
a-) quais os tipos de benfeitorias?
b-) o possuidor de má-fé tem direito à
indenização por benfeitorias? Quais?
c-) o possuidor de boa-fé tem direito à
indenização por benfeitorias
Benfeitorias

Necessárias

Úteis

Voluptuárias
Menor importância
Possuidor de má-fé

- Indenização das necessárias


CCB, Art. 1.220. “Ao possuidor de
má-fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias; não lhe
assiste o direito de retenção pela
importância destas, nem o de
levantar as voluptuárias”.
Possuidor de boa-fé

- Indenização

- retenção
CCB, “Art. 1.219. O possuidor de
boa-fé tem direito à indenização das
benfeitorias necessárias e úteis, bem
como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las,
quando o puder sem detrimento da
coisa, e poderá exercer o direito de
retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis”.
Oficina mecânica tem posse de boa-fé? Pode
exercer retenção?
(STJ. REsp 1628385/ES, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA. 3ª. Turma. DJe 29/08/2017)
1. A controvérsia a ser dirimida no recurso especial
reside em definir se a oficina mecânica que
realizou reparos em veículo, com autorização de
seu proprietário, pode reter o bem por falta de
pagamento do serviço ou se tal ato configura
esbulho, ensejador de demanda possessória. 2. O
direito de retenção decorrente da realização de
benfeitoria no bem, hipótese excepcional de
autotutela prevista no ordenamento jurídico
pátrio, só pode ser invocado pelo possuidor de
boa-fé, por expressa disposição do art. 1.219 do
Código Civil de 2002.
3. Nos termos do art. 1.196 do Código Civil de
2002, possuidor é aquele que pode exercer algum
dos poderes inerentes à propriedade,
circunstância não configurada na espécie. 4. Na
hipótese, o veículo foi deixado na concessionária
pela proprietária somente para a realização de
reparos, sem que isso conferisse à recorrente sua
posse. A concessionária teve somente a detenção
do bem, que ficou sob sua custódia por
determinação e liberalidade da proprietária, em
uma espécie de vínculo de subordinação.
5. O direito de retenção, sob a justificativa de
realização de benfeitoria no bem, não pode ser
invocado por aquele que possui tão somente a
detenção do bem.
"Nem todo o estado de fato que se exerce sobre
uma coisa, ou que revela exercício de poderes
sobres as coisas, pode ser considerado como
relação possessória plena. Muitas situações
ocorrem, nas relações materiais com as coisas, que
não refletem realmente uma forma de uso
ou fruição do bem com poder pleno, ou a intenção
de exercer um determinado direito real. Existe um
certo poder sobre a coisa. Há uma relação
de disponibilidade, mas em nome alheio, ou sob
outra razão. Tal relação denomina-se detenção.
(RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Coisas. 8ª ed, Rio
de Janeiro: Editora Forense, 2016. p. 51-52)
Benfeitorias
voluptuárias

- Proprietário pode optar pelo


pagamento (não é obrigado a
indenizar se não puder ser
levantada) – CCB, art. 1219.
Qual o valor das
benfeitorias, atual ou
passado?

CCB, art. 1.222


Locação (Lei 8.245/91)

Art. 35. “Salvo expressa disposição


contratual em contrário, as benfeitorias
necessárias introduzidas pelo locatário,
ainda que não autorizadas pelo locador,
bem como as úteis, desde que
autorizadas, serão indenizáveis e
permitem o exercício do direito de
retenção”.
Locação (Lei 8.245/91)

Art. 36. “As benfeitorias voluptuárias não


serão indenizáveis, podendo ser
levantadas pelo locatário, finda a locação,
desde que sua retirada não afete a
estrutura e a substância do imóvel.”.
Natureza
Auto-defesa da
posse
Auto-defesa

Auto tutela

Desforço necessário
CC, Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido
na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá
manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse.
§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na
posse a alegação de propriedade, ou de outro
direito sobre a coisa.
Detenção x posse
Acrescenta-se que a empresa responsável pelos
reparos na máquina tem mera detenção do bem
móvel a ela entregue, não podendo retê-lo como
meio coercivo para pagamento do valor.
Autorizar esta prática seria fomentar o exercício da
autotutela, que é vedado pelo ordenamento. Ora, o
prestador de serviços não está autorizado a reter o
bem do devedor com o objetivo de coagi-lo a pagar o
débito - salvo raras exceções previstas em lei,
nenhuma aplicável aos autos. (TJMG - AC:
10499150006231001 MG, Relator: Juliana Campos
Horta, 12ª CÂMARA CÍVEL, Dje 13/06/2017)
Tempo
Tempo
Demolição de muro divisório entre dois imóveis
seguida da construção de um novo. Muro anterior
que estaria invadindo a propriedade dos réus-
nunciados, tendo a obra sido realizada para corrigir
de forma unilateral, e sem concordância da titular do
imóvel lindeiro, a divisão entre os terrenos.
Descabimento. Exercício do direito ao desforço
imediato e ao uso da autotutela em termos
inadmissíveis. Muro construído há mais de quinze
anos. Posse da autora consolidada no tocante à
parte do imóvel supostamente invadida. Corréu
Warner que não esteve, em momento algum, na
posse dessa área.
Tempo
Inadmissibilidade assim da utilização de força
própria para o ingresso na posse da porção do
terreno que entende lhe pertencer. Inteligência do
art. 1.210, § 1º, do Código Civil. Necessidade de
acionamento dos mecanismos jurisdicionais
pertinentes. Demanda procedente. Sentença
confirmada. Apelação do corréu Warner não provida,
por maioria de votos, em julgamento ampliado,
contra o voto da Relatora sorteada.

(TJSP 0012319-42.2009.8.26.0565, Relator: Fabio


Tabosa. 29ª Câmara de Direito Privado, 18/12/2017)
Exceptio domini
CC, Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido
na posse em caso de turbação, restituído no de
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá
manter-se ou restituir-se por sua própria força,
contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse.
§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na
posse a alegação de propriedade, ou de outro
direito sobre a coisa.
STJ. REsp 327.214/PR, Rel. Ministro SÁLVIO DE
FIGUEIREDO TEIXEIRA, 4ª. Turma. DJ 24/11/2003

A proteção possessória independe da alegação de


domínio e pode ser exercitada até mesmo contra o
proprietário que não tem posse efetiva, mas apenas
civil, oriunda de título.
Enunciados CJF
CJF, Enunciado 78 – Art. 1.210: Tendo em vista a não-
recepção, pelo novo Código Civil, da exceptio
proprietatis (art. 1.210, § 2º) em caso de ausência de
prova suficiente para embasar decisão liminar ou
sentença final ancorada exclusivamente no ius
possessionis, deverá o pedido ser indeferido e julgado
improcedente, não obstante eventual alegação e
demonstração de direito real sobre o bem litigioso.

Enunciado 79 – Art. 1.210: A exceptio proprietatis,


como defesa oponível às ações possessórias típicas,
foi abolida pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu
a absoluta separação entre os juízos possessório e
petitório.
CJF

Enunciado 493 - O detentor (art. 1.198 do Código


Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a
autodefesa do bem sob seu poder.

Ex. depositário
Desforço possessório

Enunciado 495 - No desforço possessório, a


expressão “contanto que o faça logo” deve ser
entendida restritivamente, apenas como a
reação imediata ao fato do esbulho ou da
turbação, cabendo ao possuidor recorrer à via
jurisdicional nas demais hipóteses.
Outras demandas
permitidas ao
possuidor
Ações permitidas (também) ao
possuidor
- Nunciação de obra nova
- Dano infecto
- Embargos de terceiro
Ação de nunciação de obra nova
CPC antigo
Art. 934. Compete esta ação: I - ao proprietário ou
possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra
nova em imóvel vizinho Ihe prejudique o prédio,
suas servidões ou fins a que é destinado;
II - ao condômino, para impedir que o co-
proprietário execute alguma obra com prejuízo ou
alteração da coisa comum; III - ao Município, a fim
de impedir que o particular construa em
contravenção da lei, do regulamento ou de postura
Caso - Embargos de terceiro com usucapião

Embargos de terceiro possuidor e exceção de usucapião.


Justo título. Boa-fé. Justifica-se a procedência
dos embargos de terceiro em acolhimento à exceção de
usucapião pela demonstração da posse do imóvel,
contínua e inconstestadamente, por dez anos, do justo
título e da boa-fé. O justo título para fins de usucapião
caracteriza-se como justo título da posse,
consubstanciado no contrato de promessa de compra e
venda do imóvel firmado entre o embargante
de terceiro e os adquirentes junto à embargada e
proprietária do imóvel.
Embargos de terceiro com
usucapião
A boa-fé demonstra-se pelo pagamento. A demora por
parte da embargada, como proprietária, para recuperar
o imóvel, também aproveita à exceção de usucapião,
que só se propicia se o proprietário não é diligente com
as suas coisas. Apelação provida. (TJRS. Apelação Cível
Nº 70073816076, 20ª. Câmara Cível, Relator: Carlos Cini
Marchionatti, Julgado em 28/06/2017).
Embargos de terceiro caso típico –
promessa de compra e venda

(TRT-3 - AP: 00106089720155030042 0010608-


97.2015.5.03.0042, Relator: Julio Bernardo do
Carmo, 5ª.Turma. Dje: 09/03/2018)
Embargos de terceiro caso típico –
promessa de compra e venda
AGRAVO DE PETIÇÃO. EMBARGOS DE TERCEIRO.
POSSUIDOR DE BOA FÉ. PENHORA. A orientação contida
na Súmula no. 84 do STJ tem como escopo a proteção do
direito de terceiro que tem a posse mansa, pacífica e de
boa-fé decorrente de compromisso ou contrato de
promessa de compra e venda de imóvel não registrado
no Cartório de Registro Imobiliário, atenuando a regra
geral estabelecida pelo art. 1245 , parágrafo primeiro, do
Código Civil , segundo o qual a transmissão da
propriedade imóvel somente se aperfeiçoa com o
registro imobiliário do título translativo.
Embargos de terceiro caso típico –
promessa de compra e venda
Outrossim, o registro do contrato de promessa de
compra e venda de imóvel constitui apenas o meio
próprio de dar publicidade ao ato, sendo necessário
apenas para fins de oponibilidade em face de terceiros,
consoante dispõe o art. 221 do Código Civil . Neste
contexto, comprovando-se a posse mansa, pacífica e de
boa-fé pelo terceiro adquirente, ainda que não
formalizada, em momento bem anterior ao ajuizamento
da ação trabalhista, impõe-se afastar a hipótese de
fraude à execução.
STJ. Súmula 84

É admissível a oposição de embargos


de terceiro fundados em alegação de
posse advinda do compromisso de
compra e venda de imóvel, ainda
que desprovido do registro
“no pólo passivo da ação de embargos de terceiro
figura como réu aquele que deu causa à apreensão
judicial, mediante pedido ao Poder Judiciário, ainda
que não haja, de sua parte indicação direta e precisa
do bem a ser apreendido. Assim, na execução, se
forem penhorados bens de terceiros, será réu da
ação de embargos o credor exeqüente, mesmo que
não tenha indicado o bem para ser penhorado e a
penhora resultou de atuação de ofício do oficial de
justiça.” GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual
Civil Brasileiro. 3. ed. Saraiva, 1987, v. 3

ESBULHO JUDICIAL
Embargos de terceiro caso típico –
exigência de boa-fé

(STJ - AREsp: 1233768, Relator: Ministro LUIS FELIPE


SALOMÃO, DJ 24/04/2018)
Embargos de terceiro caso típico –
exigência de boa-fé
Em que pese os apelantes arguirem que adquiriram o
referido imóvel de boa-fé e que antes da aquisição
verificaram que inexistia qualquer pendência ou
restrição judicial para efetivação da compra, restou
comprovado nos autos que o embargante Roberto
Carlos Mailho atuou como patrono do Sr. João Rosa e
Silva na ação de Busca e Apreensão (autos n.
014.2008.005639-8), tal como observado pelo juízo a
quo, tal fato era de conhecimento dos apelantes antes
da concretização do negócio, conforme se infere dos
seguintes trechos da fundamentação da sentença:
Embargos de terceiro caso típico –
promessa de compra e venda
[…] Ademais, o embargado juntou aos autos cópia da
procuração e petição (fls. 56/57), demonstrando que o
embargante Roberto Carlos Mailho atuou como
advogado do Sr. João Rosa da Silva na ação de Busca e
Apreensão n° 014.2008.005639-8, que visava a
apreensão do caminhão objeto do mesmo contrato, ou
seja, o embagante era conhecedor do contrato e
portanto, sabedor que o imóvel em questão era objeto
de demanda judicial, pois na petição juntada consta data
de 06/08/2008, antes da alegada aquisição do imóvel
pelos embargantes.
Problema para discussão

A boa-fé exige conduta ativa ou ciência?

(STJ. RMS 27.358/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,


3ª. Turma. DJe 25/10/2010)
O que é boa-fé nos embargos de
terceiro?
Na alienação de imóveis litigiosos, ainda que não haja
averbação dessa circunstância na matrícula, subsiste a
presunção relativa de ciência do terceiro adquirente
acerca da litispendência, pois é impossível ignorar a
publicidade do processo, gerada pelo seu registro e
pela distribuição da petição inicial, nos termos dos
arts. 251 e 263 do CPC.
O que é boa-fé nos embargos de
terceiro?
Diante dessa publicidade, o adquirente de qualquer
imóvel deve acautelar-se, obtendo certidões dos
cartórios distribuidores judiciais que lhe permitam
verificar a existência de processos envolvendo o
comprador, dos quais possam decorrer ônus (ainda
que potenciais) sobre o imóvel negociado
O que é boa-fé nos embargos de
terceiro?
Cabe ao adquirente provar que desconhece a
existência de ação envolvendo o imóvel, não apenas
porque o art. 1.º, da Lei n.º 7.433/85, exige a
apresentação das certidões dos feitos ajuizados em
nome do vendedor para lavratura da escritura pública
de alienação, mas, sobretudo, porque só se pode
considerar, objetivamente, de boa-fé o comprador
que toma mínimas cautelas para a segurança jurídica
da sua aquisição.
(STJ. REsp 1227318/MT, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,
3ª. Turma. DJe 14/11/2012)
Publicidade x ciência
A regra do art. 42, § 3º, do CPC, que estende ao terceiro
adquirente os efeitos da coisa julgada, somente deve ser
mitigada quando for evidenciado que a conduta daquele
tendeu à efetiva apuração da eventual litigiosidade da coisa
adquirida. Há uma presunção relativa de ciência do terceiro
adquirente acerca da litispendência, cumprindo a ele
demonstrar que adotou todos os cuidados que dele se
esperavam para a concretização do negócio, notadamente a
verificação de que, sobre a coisa, não pendiam ônus judiciais
ou extrajudiciais capazes de invalidar a alienação.
.
Comentário – Lei 13097/2015
Art. 54. Os negócios jurídicos que tenham por fim constituir,
transferir ou modificar direitos reais sobre imóveis são
eficazes em relação a atos jurídicos precedentes, nas
hipóteses em que não tenham sido registradas ou averbadas
na matrícula do imóvel as seguintes informações:
I - registro de citação de ações reais ou pessoais
reipersecutórias;
II - averbação, por solicitação do interessado, de constrição
judicial, do ajuizamento de ação de execução ou de fase de
cumprimento de sentença, procedendo-se nos termos
previstos do art. 615-A da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de
1973 - Código de Processo Civil;
.
Comentário – Lei 13097/2015
III - averbação de restrição administrativa ou convencional ao
gozo de direitos registrados, de indisponibilidade ou de
outros ônus quando previstos em lei; e
IV - averbação, mediante decisão judicial, da existência de
outro tipo de ação cujos resultados ou responsabilidade
patrimonial possam reduzir seu proprietário à insolvência,
nos termos do inciso II do art. 593 da Lei no 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
Comentário – Lei 13097/2015
Parágrafo único. Não poderão ser opostas situações
jurídicas não constantes da matrícula no Registro de
Imóveis, inclusive para fins de evicção, ao terceiro de
boa-fé que adquirir ou receber em garantia direitos
reais sobre o imóvel, ressalvados o disposto nos arts.
129 e 130 da Lei no 11.101, de 9 de fevereiro de
2005, e as hipóteses de aquisição e extinção da
propriedade que independam de registro de título de
imóvel.
(STJ. REsp 1141990 , Rel. Ministro LUIZ FUX, 3ª.
Turma. DJe 19/11/2010)

penhora do bem em execução fiscal, ainda que não


averbada, é oponível ao terceiro de boa-fé?
Comentário – Lei 13097/2015
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. DIREITO TRIBUTÁRIO.
EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE À EXECUÇÃO FISCAL.
ALIENAÇÃO DE BEM POSTERIOR À CITAÇÃO DO DEVEDOR.
INEXISTÊNCIA DE REGISTRO NO DEPARTAMENTO DE
TRÂNSITO - DETRAN. INEFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO.
INSCRIÇÃO EM DÍVIDA ATIVA. ARTIGO 185 DO CTN, COM A
REDAÇÃO DADA PELA LC N.º 118⁄2005.
A diferença de tratamento entre a fraude civil e a fraude
fiscal justifica-se pelo fato de que, na primeira hipótese,
afronta-se interesse privado, ao passo que, na segunda,
interesse público, porquanto o recolhimento dos tributos
serve à satisfação das necessidades coletivas.
Comentário – Lei 13097/2015
Conclusivamente: (a) a natureza jurídica tributária do
crédito conduz a que a simples alienação ou oneração de
bens ou rendas, ou seu começo, pelo sujeito passivo por
quantia inscrita em dívida ativa, sem a reserva de meios
para quitação do débito, gera presunção absoluta (jure et
de jure) de fraude à execução (lei especial que se sobrepõe
ao regime do direito processual civil); (...) (c) a fraude de
execução prevista no artigo 185 do CTN encerra
presunção jure et de jure, conquanto componente do elenco
das "garantias do crédito tributário"; (...) 11. Recurso especial
conhecido e provido. Acórdão submetido ao regime do artigo
543-C do CPC e da Resolução STJ n.º 08⁄2008.”
Comentário – Lei 13097/2015
(c) a fraude de execução prevista no artigo 185 do CTN
encerra presunção jure et de jure, conquanto componente
do elenco das "garantias do crédito tributário"; (...)
11. Recurso especial conhecido e provido. Acórdão submetido
ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução STJ n.º
08⁄2008.”
Aquisição da
posse
Aquisição da posse
Forma originária
- Apreensão do bem – exercício da posse

Forma derivada
- Tradição efetiva – cessão da posse
- Tradição simbólica – ato representativo da
transferência
Aquisição da posse

CCB, art. 1.204. Adquire-se a posse desde o


momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos
poderes inerentes à propriedade.

Aquisição originária =agente pratica o ato


por si mesmo (ex. coisa abandonada)

Aquisição derivada = recebe de alguém –


compra, doação, sucessão.
Transmissão

A posse pode ser transmitida, e na


transmissão seguem seus vícios.

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros


ou legatários do possuidor com os mesmos
caracteres.
Conceitos e
institutos
Constituto possessório: Quem possuía em nome
próprio, passa a possuir em nome de outrem.

ex.: “vende o bem, mas conserva a posse”. (CHALUB,


Melhim Namem. Direitos reais. 2. ed. São Paulo: RT,
p. 48).

Transfere a posse indireta e continua com a direta,


possuindo em nome alheio (ex: locatário,
comodatário, etc.). Vendo imóvel, mas reservo o
direito a minha permanência na casa.
Legislador de 2002 omitiu como modo de aquisição
da posse, o que não afasta sua existência. Ex.:
negócio jurídico em que se transfira a posse indireta,
ficando com a direta.
Enunciado 77 da I Jornada de Direito
Civil:
“a posse de coisas móveis e imóveis
também pode ser transmitida pelo
constituto possessório”.

Perda da posse: art. 1223. Cessa o poder


sobre o bem.
Direito à posse x Direito de posse
Direito à posse ou Ius possidendi
Significa que em decorrência de outra relação
jurídica há direito de posse. Ex.: o proprietário tem
o direito à posse, do bem do qual é também
titular.

Direito de posse ou Ius possessionis


Proteção da posse, enquanto relação autônoma.
Como aponta Luciano Penteado, consiste no
“direito do possuidor de ter a situação possessória
respeita”. (Direito das Coisas, 3ed. p. 605)
Ius possesionis e ius possidendi

STJ, Informativo n. 579


17 de março a 1º de abril de 2016
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AJUIZAMENTO
DE AÇÃO POSSESSÓRIA POR INVASOR DE TERRA
PÚBLICA CONTRA OUTROS PARTICULARES.

É cabível o ajuizamento de ações possessórias por


parte de invasor de terra pública contra outros
particulares. Inicialmente, salienta-se que não se
desconhece a jurisprudência do STJ no sentido de
que a ocupação de área pública sem autorização
expressa e legítima do titular do domínio constitui
mera detenção (REsp 998.409-DF, Terceira Turma,
DJe 3/11/2009).
Contudo, vislumbra-se que, na verdade, isso revela
questão relacionada à posse. Nessa ordem de ideias,
ressalta-se o previsto no art. 1.198 do CC, in verbis:
"Considera-se detentor aquele que, achando-se em
relação de dependência para com outro, conserva a
posse em nome deste e em cumprimento de ordens
ou instruções suas". Como se vê, para que se possa
admitir a relação de dependência, a posse deve ser
exercida em nome de outrem que ostente o jus
possidendi ou o jus possessionis.
Ora, aquele que invade terras públicas e nela
constrói sua moradia jamais exercerá a posse em
nome alheio, de modo que não há entre ele e o
ente público uma relação de dependência ou de
subordinação e, por isso, não há que se falar em
mera detenção. De fato, o animus domni é
evidente, a despeito de ele ser juridicamente
infrutífero. Inclusive, o fato de as terras serem
públicas e, dessa maneira, não serem passíveis de
aquisição por usucapião, não altera esse quadro.
Com frequência, o invasor sequer conhece essa
característica do imóvel.
Portanto, os interditos possessórios são
adequados à discussão da melhor posse entre
particulares, ainda que ela esteja relacionada a
terras públicas. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min.
Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016, DJe
15/3/2016
Ius possesionis x ius possidendi

TJRO. Apelação n. 0011251-40.2011.822.0002,


Relator: Desembargador Rowilson Teixeira, Dje:
10/05/2017.
1. O Direito Civil Brasileiro cataloga duas espécies
de direitos possessórios, o jus possessionis e o jus
possidendi. O jus possessionis é o direito de posse,
ou seja, é o poder sobre a coisa e a sua
possibilidade de sua defesa por intermédio dos
interditos, possuindo relação direta com o bem. Já
o jus possidendi, é o direito à posse decorrente do
direito de propriedade, ou seja, emana-se do
próprio domínio da coisa, em outras palavras,
confere-se ao titular o direito de possuir o que é
seu.
2. Aquele que dispõe de um título de propriedade
de um imóvel é titular do jus possidendi, posse que
decorre do título, havendo uma situação jurídica
legal e não fática - que lhe serve de alicerce. 3. Nas
ações de imissão de posse, é prevalente o título de
propriedade traduzido por escritura pública com
registro no respectivo cartório com averbação na
matrícula, sendo, portanto, ineficaz o contrato
particular de compra e venda entabulado com
terceiro que não detinha propriedade do bem. 4. A
posse, ainda que pacífica e pública, não é óbice
para a imissão de posse em favor daquele que
detém título legítimo da propriedade do imóvel.
Constituto possessório

STJ, Informativo n. 468


A Turma, entre outras questões, entendeu ser cabível
o manejo de ação possessória pelo adquirente do
imóvel cuja escritura pública de compra e venda
continha cláusula constituti, já que o constituto
possessório consiste em forma de aquisição da posse
nos termos do art. 494, IV, do CC/1916. Na espécie, a
recorrente (alienante do bem) alegou que o
recorrido não poderia ter proposto a ação de
reintegração na origem porque nunca teria exercido
a posse do imóvel. Entretanto, segundo a Min.
Relatora, o elemento corpus – necessário para a
caracterização da posse – não exige a apreensão
física do bem pelo possuidor; apenas tem a
faculdade de dispor fisicamente da coisa.
Salientou ainda que a posse consubstancia-se na
visibilidade do domínio, demonstrada a partir da
prática de atos equivalentes aos de proprietário,
dando destinação econômica ao bem. Assim,
concluiu que a aquisição de um imóvel e sua não
ocupação por curto espaço de tempo após ser
lavrada a escritura com a declaração de imediata
tradição – in casu, um mês – não desnatura a figura
de possuidor do adquirente. Precedente citado: REsp
143.707-RJ, DJ 2/3/1998. REsp 1.158.992-MG, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/4/2011.
Acessio possessionis: soma das
posses (acessão da posse)
Acessio possessionis
TJSP. Apelação n. 0001879-73.2006.8.26.0247,
Relator: Francisco Loureiro. 6ª Câmara de Direito
Privado, DJe: 13/02/2014
Natureza declaratória da ação de usucapião que
não inviabiliza procedência, em tese, da ação
desde que provados todos os requisitos da
prescrição aquisitiva para data anterior à vigência
da Constituição Federal de 1988, mediante
utilização da figura da "accessio possessionis". O
autor apela (fls. 199 e seguintes), alegando, em
síntese, que adquiriu a área usucapienda do
espólio de José Nogueira de Amorim. Sustenta que
sua posse, somada à posse dos cedentes e à dos
anteriores possuidores, soma quase quarenta
anos, conforme escritura de cessão de direitos
posses
Julgados para
análise
Caso 1 – Natureza dúplice
O Código de Processo Civil já assegurou à parte que
figurar como ré em ação possessória a apresentação
de pedido contraposto, não havendo necessidade
de aguardar o trânsito em julgado da decisão para
buscar a proteção possessória ou pleitear
indenização por perdas e danos.
(STJ. REsp 1297425/MT, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO
DE NORONHA, 3ª. Turma. DJe 27/02/2015)
Comentários
CPC, Art. 556. É lícito ao réu, na contestação,
alegando que foi o ofendido em sua posse,
demandar a proteção possessória e a indenização
pelos prejuízos resultantes da turbação ou do
esbulho cometido pelo autor.
Comentários
> desforço

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