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Fatos Jurídicos
Prof.ª Arisa Ribas Cardoso
Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.ª Arisa Ribas Cardoso
C268d
ISBN 978-65-5663-232-2
ISBN Digital 978-65-5663-229-2
CDD 342.14
Impresso por:
Apresentação
A parte geral do Direito Civil aborda três grandes temas: pessoas,
bens e fatos jurídicos. Neste livro, você estudará o terceiro tema e todas as
suas implicações.
Bons estudos!
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao fim da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1
FIGURA 1 – ENCHENTE
1 INTRODUÇÃO
O estudo da Parte Geral do Código Civil costuma ser feito a partir de três
grandes temas: 1) pessoas; 2) bens; 3) fatos jurídicos. Na disciplina de Direito Civil
Parte Geral I, são estudados os dois primeiros temas. Na segunda parte, a grande
temática são os fatos jurídicos. Você começará o estudo a partir dos aspectos
mais gerais, como conceituação e classificações para, aos poucos, aprofundar-se
naqueles fatos que são os mais relevantes em termos de regulamentação jurídica:
os negócios jurídicos, os atos ilícitos, a prescrição e a decadência.
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
Minha Mãe era boa criatura. Quando lhe morreu o marido, Pedro de
Albuquerque Santiago, contava trinta e um anos de idade, e podia
voltar para Itaguaí. Não quis; preferiu ficar perto da igreja em que meu
pai fora sepultado. Vendeu a fazendola e os escravos, comprou alguns
que pôs ao ganho ou alugou, uma dúzia de prédios, certo número
de apólices, e deixou-se estar na casa de Mata cavalos, onde vivera
os dois últimos anos de casada. Era filha de uma senhora mineira,
descendente de outra paulista, a família Fernandes (ASSIS, 1899, p. 8).
4
TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
TUROS
ESTUDOS FU
5
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
ATENCAO
É importante que você perceba que essa noção de fato jurídico é o que
chamamos de fato jurídico em sentido amplo ou fato jurídico lato sensu. Isso
porque diz respeito a todos os tipos de fatos jurídicos, desde os mais simples, como
a perda da propriedade pela deterioração do bem (por exemplo, um livro que é
queimado no fogo), ou mais complexos, como os contratos sociais de empresas.
Se você procurar uma petição inicial de uma ação judicial cível qualquer,
perceberá que, em regra, ela se divide em três partes: fatos, direito e pedidos.
Por que é assim? Ora, os fatos que serão ali descritos são, justamente, os fatos
jurídicos que justificarão, na sequência, a argumentação de que o direito, que
existe objetivamente no ordenamento, é aplicável ao autor da ação, tendo se
tornado direito subjetivo. Não é possível requerer indenização sem que se tenha
sofrido um dano. Portanto, na parte inicial de uma ação dessa natureza, você
deverá narrar os fatos que causaram o dano, para justificar o direito do requerente
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TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
à indenização que está prevista na lei. Ou seja, demonstrará que o direito objetivo
(direito à indenização) virou um direito subjetivo (direito à indenização do autor
da ação em razão de ter tido seu carro abalroado em um acidente automobilístico).
Podemos resumir essa relação na seguinte fórmula: Direito objetivo + Fato
jurídico = Direito subjetivo.
ATENCAO
Ferraz Jr. (2015, p. 112) lembra-nos “que o inglês tem duas palavras diferentes
para enunciar os dois termos: law (direito objetivo) e right (direito subjetivo)”.
É importante lembrar que nem todos os fatos são fatos jurídicos. Muitos
acontecimentos não têm consequências jurídicas e, portanto, são irrelevantes para
o Direito. Esses fatos podem ser chamados de simples fatos, fatos materiais ou
fatos ajurídicos.
7
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
NOTA
8
TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
Ainda:
NOTA
9
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
NOTA
10
TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
DICAS
11
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
12
TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
TUROS
ESTUDOS FU
• Atos de conservação: são os “atos praticados pelo titular do direito para evitar o
perecimento, turbação ou esbulho de seu direito” (GAGLIANO; PAMPLONA
FILHO, 2015, p. 349). É, por exemplo, o ajuizamento de um pedido cautelar em
caráter antecedente para a produção antecipada de provas.
• Atos de defesa do direito lesado: quando “tendo ocorrido a violação do direito,
o ajuizamento de ações cognitivas ou executivas [...] é a medida adequada para
a conservação do direito” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 349)
É a possibilidade, por exemplo, do ingresso de ação judicial para cessação de
circulação de foto íntima e pedido de indenização pela violação do direito de
personalidade.
• Atos de defesa preventiva: são os realizados “antes mesmo da violação – mas
diante de uma ameaça evidente” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015,
p. 349). Esses atos podem ser judiciais, como o interdito proibitório, para
impedir a invasão de uma propriedade, ou extrajudiciais, como a inclusão de
uma cláusula penal no contrato, para evitar que uma das partes descumpra o
acordado.
• Autotutela: é praticada quando “ocorrida a violação, a ordem jurídica admite,
sempre excepcionalmente, a prática de atos de autotutela, como o desforço
incontinenti” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 349) Ou seja, a
autotutela é o meio de conservação de direitos pelo próprio titular, a qual
só poderá ser utilizada quando autorizada pelo ordenamento, sob pena de
caracterizar ato ilícito ou até o crime de exercício arbitrário das próprias razões.
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
NOTA
Os efeitos dos fatos jurídicos não são excludentes entre si. Numa mesma
situação, a depender da análise, poderemos falar de vários efeitos. Por exemplo, em uma
compra e venda: sob a ótica do comprador, haverá a aquisição do direito de propriedade;
sob a perspectiva do vendedor, terá ocorrido a extinção do direito de propriedade;
analisando-se o objeto, o que terá ocorrido é a modificação do direito de propriedade pela
substituição do seu titular.
ATENCAO
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TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
NOTA
A definição dos termos caso fortuito e força maior não é pacífica na doutrina.
Enquanto alguns autores entendem que são sinônimos, outros apontam para a existência
de diferenças elementares. Gagliano e Pamplona Filho (2015) defendem que, enquanto
o que caracteriza a força maior é sua inevitabilidade, o caso fortuito se qualifica pela
imprevisibilidade. Os mesmos autores ainda destacam que o caso fortuito pode ser causado
por ato humano, razão pela qual não se confunde com o fato jurídico em sentido estrito,
mas pode ser sim uma de suas causas, quando não decorrente de ato humano.
Como você pode notar, neste momento, passamos a usar o termo ato,
e não mais fato (apesar de que, como destacado anteriormente, essas mesmas
classificações sejam referidas por alguns autores como fatos humanos). Isso ocorre
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TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
• Ato lícito
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
NOTA
Discordando desses autores, Gagliano e Pamplona Filho (2015) entendem que os atos
materiais não se confundem com os atos-fatos jurídicos, pois, nos primeiros, é necessária
a vontade consciente e, nos últimos, não.
• Negócio jurídico
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TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
TUROS
ESTUDOS FU
• Ato ilícito
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
TUROS
ESTUDOS FU
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TÓPICO 1 — FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO
LEITURA COMPLEMENTAR
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
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RESUMO DO TÓPICO 1
• Os fatos jurídicos podem ser classificados em: fatos jurídicos em sentido estrito,
atos jurídicos lícitos e ilícitos e atos-fatos jurídicos.
23
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 2 —
UNIDADE 1
NEGÓCIO JURÍDICO
FIGURA 2 – NEGOCIAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Agora que já entendeu o que são os fatos jurídicos e as suas diferentes
modalidades, você aprofundará seus conhecimentos sobre o negócio jurídico, que
é o fato jurídico com maiores implicações no cotidiano do operador do Direito.
Estamos todos os dias a fazer contratos, travar negociações, elaborar regras para
convivência. Tudo isso é negócio jurídico!
2 NEGÓCIOS JURÍDICOS
Os negócios jurídicos, conforme estudado no tópico anterior, são um tipo
de ato jurídico lícito. A partir disso, podemos extrair duas de suas principais
características: eles dependem da vontade humana e devem estar de acordo com
o ordenamento jurídico. Assim, antes de estudar a definição de negócio jurídico,
é importe entender seus alicerces e os princípios que os cercam.
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
NOTA
26
TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO
Feitas essas breves observações sobre a relação dos negócios jurídicos com
a autonomia, além das limitações impostas pelos princípios, podemos analisar o
conceito de negócio jurídico.
Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 365), por sua vez, conceituam negócio
jurídico como:
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
28
TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO
• Quanto à forma:
ᵒ Formais ou solenes: são negócios que, para que tenham validade, devem
ser feitos de uma maneira específica. É o caso da compra e venda de imóvel
acima de trinta salários mínimos, que devem ser feitas por escritura pública,
e também o casamento, que, dentre outras formalidades, exige a presença de
testemunhas para o aperfeiçoamento do negócio jurídico.
ᵒ Não formais ou de forma livre: são negócios que não exigem nenhuma
formalidade específica para que sejam plenamente válidos, podendo a
manifestação de vontade ser expressa verbalmente, por gestos, ou até
tacitamente. A maior parte dos negócios jurídicos que fazemos no nosso
cotidiano é não formal. Por exemplo, compra e venda de bens móveis,
empréstimo de um livro, prestação de um serviço de eletricista.
TUROS
ESTUDOS FU
Ainda nesta unidade, você estudará mais a fundo a importância da forma para
a validade dos negócios jurídicos.
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
ᵒ Mortis causa: são os negócios “cujos efeitos somente decorrem após o óbito de
um ou de mais de um dos declarantes” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 611).
O principal exemplo é o testamento, pois as disposições que estão ali inscritas
só terão efeito após a morte do testador.
• Quanto à existência:
• Quanto ao conteúdo:
• Quanto à eficácia:
ᵒ Constitutivos: são os negócios que têm efeitos ex nunc, ou seja, aqueles cujas
obrigações e direitos começam a ser exigíveis a partir do momento da sua
celebração, como na compra e venda.
ᵒ Declaratórios: são os negócios que têm efeitos ex tunc, ou seja, retroativos
“ao momento da ocorrência fática a que se vincula a declaração de vontade”
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 369). É o que ocorre, por exemplo,
em um acordo de partilha: o acordo é feito em momento posterior ao fato
(separação), mas terá efeitos desde o momento da ocorrência do fato.
ATENCAO
Esse rol de classificações que você estudou não é taxativo, pois os doutrinadores
com frequência apresentam outros tipos e subtipos, conforme suas interpretações sobre o tema.
Ainda, não se esqueça de que as classificações não são excludentes entre si. Portanto, por
exemplo, um contrato normal de locação de imóvel poderá ser classificado como bilateral,
de administração, oneroso, não formal, inter vivos, principal, patrimonial e constitutivo.
30
TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO
Em razão disso, você, como futuro operador do Direito, deve saber quais
as regras básicas para interpretação dos negócios jurídicos quando, pelo menos,
uma das partes, eventualmente, não entende o acordado da mesma forma que a
outra. O Código Civil de 2002 possui três artigos que servem de regras gerais para
nortear a interpretação dos negócios jurídicos como um todo. Todavia, você deve
estar sempre atento, pois as diferentes modalidades de negócios jurídicos podem
ter peculiaridades interpretativas conforme a sua classificação, como já estudado,
ou também de acordo com a espécie, pois, por exemplo, o testamento e a fiança,
que são negócios jurídicos, têm artigos próprios que tratam da interpretação.
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
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TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
Primeira observação que você deve fazer ao ler o dispositivo é que a boa-
fé ali mencionada é a boa-fé objetiva. Ou seja, não se está tratando de questões
subjetivas, ou seja, se as partes agiram querendo uma prejudicar a outra, ou ter
algum outro tipo de vantagem indevida com o negócio. Quando se trabalha com
a boa-fé como princípio interpretativo, estamos falando de uma boa-fé geral e
objetivamente aferível. Trata-se do comportamento adequado esperado das
pessoas que estão participando daquele tipo de negócio. A boa-fé objetiva implica
os deveres de informação, de respeito de cooperação etc.
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TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
Por fim, o Código Civil de 2002 traz, no seu artigo 114, regra específica
para os negócios benéficos, nos seguintes termos: “Os negócios jurídicos benéficos
e a renúncia interpretam-se estritamente”. Como você já estudou no tópico sobre
classificação, o negócio jurídico benéfico, também referido como gratuito, é aquele
em que não há contraprestação, uma das partes recebe um benefício sem dar
nada em troca. Por sua vez, a renúncia é a declaração de vontade de um sujeito
no intuito de abdicar de um direito que possui.
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TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO
ATENCAO
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
PLANO DE EFICÁCIA
FONTE: O autor
No caso do plano de existência que, como será visto com mais detalhes
no próximo tópico, é um pressuposto lógico para a análise dos demais planos,
caso não seja verificado algum dos seus pressupostos, diremos que o negócio é
inexistente. Ou seja: simplesmente não há negócio jurídico, razão pela qual não
é possível chegar a analisar os demais planos. Por outro lado, verificado que o
negócio existe, pode ser que ele não esteja de acordo com o que o ordenamento
jurídico prevê como necessário para que seja tutelado, razão pela qual poderemos
estar diante de um negócio inválido.
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TÓPICO 2 — NEGÓCIO JURÍDICO
ATENCAO
DICAS
[...]
O § 1º [do Art. 113 do CC/02] e seus incisos estão alinhados com a Análise Econômica do
Direito. Já no inciso I, desloca-se a intepretação do contrato para a fase posterior a de sua
negociação, dando-se mais importância para o que as partes praticaram na execução do
contrato. Tal circunstância reforça a necessidade de customização do instrumento, com
base no que as pessoas diretamente envolvidas na operação irão efetivamente praticar.
Ponto para o trabalho humano do advogado contratualista, que, arrisco dizer, não deverá
ser substituído por robôs ou Inteligência Artificial.
Partindo para o inciso II, parece que se retorna a ideia que estava contida no Regulamento
737 de 1850. Os usos, costumes e práticas voltam à cena. Mas, há uma crítica importante:
como será feita prova quanto a esses pontos? Isso não ficou claro. Será necessária, assim,
uma construção doutrinária e jurisprudencial sobre a questão, ou, talvez, de uma estipula-
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
ção contratual expressa. Melhor teria sido regular os meios de prova, admitindo, e.g., a prova
oral. Essa matéria foi enfrentada pelo Superior Tribunal de Justiça no REsp nº 877.074 – RJ.
Quem ler o acórdão verá a controvérsia, e, certamente, concordará que os usos e costumes
mereciam o tratamento probatório devido.
No inciso III, que trata da boa-fé, não há novidade. A grande inovação está no inciso IV que
traz o contra proferentem para o nosso direito contratual. O qual consiste na interpretação
mais benéfica para quem não redigiu o instrumento. Tal dispositivo, contudo, ficou gené-
rico. No direito anglo-saxão, essa doutrina costuma ser aplicada – de forma excepcional
– em contratos de adesão. Isso tem uma lógica econômica resultante da massificação dos
contratos em formato de modelos (Farnsworth, “Contracts”, Aspen, §7.11, p. 459 e 460). A Lei,
portanto, deveria ter feito essa distinção. Como ela não fez, essa será mais uma questão
que ficará ao cargo da doutrina e jurisprudência. Esse ponto, por razões óbvias, não poderá
ser regulado por uma cláusula contratual. Ora, o redator do instrumento porá uma cláusula
sobre o contra proferentem? Seria um contrassenso total!
Passando ao inciso V, ele apresenta “razoável negociação das partes”, que seria inferida das
“demais disposições do negócio” (e não do contrato) “e da racionalidade econômica das
partes”, considerando “o momento da celebração”. Ficou vago. Apesar de tentar apresentar
a necessidade de uma avaliação com base na realidade negocial, econômica e comercial,
a redação acabou truncada, abrindo margem para interpretações dúbias. Para evitar isso, o
inciso terá de ser visto apenas como um reforço – ou um simples colorido – para a Análise
Econômica do Direito. Por fim, o § 2º reafirma, uma vez mais, a liberdade de contratar [...].
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RESUMO DO TÓPICO 2
• A interpretação dos negócios jurídicos deve observar a real intenção das partes,
a boa-fé e os usos do lugar da celebração.
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AUTOATIVIDADE
2 Os negócios jurídicos são atos realizados por sujeitos para regular os seus
interesses privados. Entretanto, é possível que, em alguns casos, existam
problemas de comunicação, sendo necessária a interpretação do negócio
jurídico por um terceiro, para dirimir eventual litígio. Imagine a seguinte
situação: Pedro compra um terreno de Joana. No contrato, consta que o
terreno tem as seguintes medidas: 22 m² de frente, 18 m² de fundos, 36
m² na lateral oeste e 44 m² na lateral leste. Após tomar posse do terreno,
Pedro percebe que as laterais do imóvel não correspondem às medidas
indicadas no contrato. Procura, então, Joana, que lhe diz que as medidas
estão certas, pois elas foram feitas levando em consideração os aclives
e declives do imóvel, e não a linha reta. Pedro, indignado, procura o
judiciário, pois entende que foi lesado, já que imaginava que as medidas
do terreno estavam considerando uma linha reta, como é usual. Com base
nessa situação, reflita sobre as orientações para interpretação do negócio
jurídico e disserte sobre quais seriam as possíveis formas de interpretação
desse contrato pelo magistrado que ficasse responsável pela demanda, de
acordo com o estudado até o momento.
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TÓPICO 3 —
UNIDADE 1
FIGURA 3 – CONTRATO
1 INTRODUÇÃO
Após a compreensão geral da estrutura do negócio jurídico, agora, você
estudará os elementos necessários para que se reconheça um negócio jurídico
como existente: a presença de uma manifestação de vontade, um agente, um
objeto e a forma. Na sequência, você explorará os requisitos legais para que o
negócio existente seja também reputado como válido, ou seja, que a manifestação
da vontade seja livre e de boa-fé, que o agente seja capaz, que o objeto seja lícito,
possível, determinado ou determinável, e que a forma seja a prescrita ou não
esteja defesa em lei.
• Manifestação da vontade
• Agente emissor da vontade
• Objeto
• Forma
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TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Ou seja, não se pode confundir vontade com a sua declaração. Não basta
você querer algo, ter vontade de fazê-lo. Para que o negócio realmente exista, é
imprescindível que essa vontade seja externalizada, o que deve ocorrer de alguma
forma (outro elemento de existência que você estudará logo na sequência).
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
ATENCAO
Gagliano e Pamplona Filho (2015) chamam atenção para o fato de que existem
meios que impedem, ou seja, neutralizam, totalmente, a manifestação de vontade. É o
caso da coação absoluta, que é aquela que recai sobre o corpo da vítima, quando a sua
subjetividade não corresponde à ação. Se um sequestrador, segurando o braço da vítima,
coloca o dedo dela no leitor biométrico do caixa eletrônico para efetuar o saque, podemos
dizer que a vítima agiu sob coação absoluta, posto que seu corpo estava sendo manipulado
por outra pessoa. Nesse caso, então, temos um negócio jurídico inexistente, por não haver
manifestação de vontade. Do mesmo modo, uma pessoa efetivamente hipnotizada, não
tem manifestação de vontade própria, posto que controlada por outra, razão pela qual se,
na condição, praticar algum negócio jurídico, este deve ser reputado inexistente.
A reserva mental está prevista no artigo 110 do Código Civil de 2002 nos
seguintes termos: “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja
feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário
tinha conhecimento”.
O que prevalece é o que foi manifestado, e não a vontade, que ficou apenas
no íntimo do sujeito. Apenas quando a reserva mental é exteriorizada, chegando
ao conhecimento do outro contraente, é que é possível ter efeitos relevantes,
pois se a outra parte conheceu a verdadeira intenção do contratante, é esta que
prevalecerá. Se a verdadeira vontade não tinha qualquer problema para sua
validade, o negócio pode ser mantido nos termos da real intenção da parte, caso
46
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Para ficar um pouco mais claro sobre do que trata o Art. 110, veja a seguinte
situação, apresentada por Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 425):
Por fim, Monteiro e Pinto (2012, p. 233) entendem que também “caracteriza
reserva mental a declaração de vontade emitida por brincadeira: se a outra parte
sabia da pilhéria, não produz efeitos jurídicos; se levou a sério o negócio jurídico,
este tem plena eficácia. E não pode ser invocada pelo próprio declarante para
anular o negócio jurídico que realizou”.
2.3 SILÊNCIO
Outra questão relacionada à manifestação da vontade é a que toca ao
silêncio. O artigo 111 do Código Civil de 2002 prevê o seguinte: “O silêncio
importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for
necessária a declaração de vontade expressa”.
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
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TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
2.5 OBJETO
Outro elemento essencial para que um negócio jurídico seja considerado
existente é o objeto. Azevedo (2017, p. 134) diz que “por objeto do negócio
deve-se entender todo o seu conteúdo”. Ou seja, o objeto é sobre o que se está
negociando, sobre o que recai a manifestação da vontade do agente. É a “utilidade
física ou ideal –, em razão da qual giramos interesses das partes” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2015, p. 374).
2.6 FORMA
O último elemento está diretamente relacionado à externalização da
vontade. É a forma. Segundo Azevedo (2017, p. 126), “forma do negócio jurídico
é o meio através do qual o agente expressa a sua vontade”. Ou seja, ela é o “meio
pelo qual a declaração se exterioriza, ou, em outras palavras, o tipo de manifestação
através do qual a vontade chega ao mundo exterior (forma escrita, oral, silêncio, sinais
etc.)” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 375, itálico no original). De
maneira simples, podemos dizer que forma é como a vontade deixa o sujeito
e consegue atingir terceiros, a fim de que passe a ter relevância para o mundo
jurídico.
Não há negócio sem forma. Que haja negócio com forma prescrita em
lei e negócio com forma livre, é questão que diz respeito ao plano de
validade; aqui, porém, no plano da existência, importa é não fazer a
confusão elementar de entender que somente os negócios com forma
prescrita é que têm forma, sem se dar conta de que todos eles, inclusive
os de forma livre, hão de ter uma forma, do contrário, inexistiriam
(plano de existência).
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
Por fim, cabe trazer uma última observação que complementa este assunto.
Conforme Pereira (2011, p. 402-403):
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TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
TUROS
ESTUDOS FU
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TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
ATENCAO
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UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
Enfim, para que o negócio seja válido, “[...] o agente deve ser capaz,
respeitadas as hipóteses de absoluta e relativa incapacidade traçadas pelos Arts.
3º e 4º da Codificação (com a redação emprestada pelo Estatuto da Pessoa com
Deficiência), sob pena de nulidade ou anulabilidade, respectivamente” (FARIAS;
ROSENVALD, 2017, p. 622).
Você deve ficar atento para o fato de que existem situações em que uma
pessoa, mesmo plenamente capaz, nos termos dos artigos 3º e 4º do Código
Civil, está impedida ou tem restrições para a prática de determinados atos
jurídicos. Estas restrições são chamadas pela doutrina de capacidade especial ou
legitimação ou legitimidade. Grande parte dos autores, porém, evita usar este
último termo, para que não haja confusão com a legitimidade postulatória, do
direito processual, por exemplo. Mas afinal, você deve estar se perguntando, o
que é essa legitimação? Mello (2015, s.p) explica que:
Ou seja, é quando a lei impõe mais requisitos que a mera capacidade civil
para que o sujeito possa efetuar certos negócios jurídicos. Isso é o que ocorre, por
exemplo, com a pessoa casada que pretende alienar um imóvel. Neste caso será
necessária, para a plena validade do ato, a outorga do cônjuge, sob pena de futura
anulação do negócio. No mesmo sentido é a explicação de Farias e Rosenvald
(2017, p. 622):
[...] por vezes, poderá a lei exigir, além da capacidade geral, determinado
requisito concreto, denominado doutrinariamente capacidade específica
ou legitimação, da qual é exemplo elucidativo a outorga do cônjuge
para a alienação de bens imóveis por pessoas casadas, exceto se o
regime do casamento for a separação de bens (CC, art. 1.647).
Outro exemplo que pode ser citado é o caso de venda de ascendente para
descendente que, se for feita sem anuência do cônjuge e dos demais herdeiros,
também será passível de anulação.
54
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Disso tudo, é possível perceber que a noção de agente capaz vai muito
além da mera capacidade civil alcançada com o advento da maioridade ou com
a emancipação. Por vezes, outros fatores deverão ser observados para que se
possa dizer, com certeza, se o agente era capaz e, consequentemente, se o negócio
jurídico era válido.
55
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
contrato, desde que a manifestação de vontade de efetuar este contrato seja feita
por seus representantes. Do mesmo modo, pode um adolescente relativamente
incapaz locar um imóvel, desde que assistido por seus genitores.
3.2 REPRESENTAÇÃO
O Código Civil, nos Arts. 115 a 120, trata da representação. Nesses
dispositivos, o legislador cuidou de temas relacionados tanto à representação
legal, como à representação convencional. Este é o primeiro ponto que deve ficar
claro para você aqui.
Representantes legais são aqueles cujos poderes são conferidos pela lei
para zelar pelos interesses dos incapazes. É o caso dos pais, com relação aos seus
filhos menores, dos tutores, com relação aos pupilos, e dos curadores, na sua
relação com os curatelados. Por sua vez, os representantes convencionais são
aqueles cujos poderes são transferidos pelos próprios interessados, pessoas que
devem ser capazes, sob pena de invalidade. Nas palavras de Farias e Rosenvald
(2017, p. 624):
56
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
o vínculo familiar, no caso dos pais, ou por meio de termo expedido pelo juiz
quando da nomeação do representante (tutor ou curador). O artigo 120 do
Código Civil prevê que: “Os requisitos e os efeitos da representação legal são os
estabelecidos nas normas respectivas; os da representação voluntária são os da
Parte Especial deste Código”.
NOTA
Caso queira se aprofundar no tema, o ideal é que busque maiores informações nos volumes
de Direito dos Contratos, das coletâneas de cursos de Direito Civil, na parte em que tratam
do contrato de mandato.
57
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
58
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
59
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
61
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
62
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Por fim, o objeto, além de lícito e possível, deve também ser determinado
ou determinável.
Para que seja tido como determinado, portanto, o objeto deve “conter
elementos mínimos de individualização que permitam caracterizá-lo”
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 393). Por exemplo, se na compra
de um automóvel é discriminado qual o modelo do veículo, ano de fabricação,
63
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
Agora, entendido quais são os objetos que podem ser negociados, vamos
finalmente tratar sobre a forma através da qual os negócios podem ou devem ser
feitos.
O inciso III do artigo 104 do CC/02 diz que a forma deve ser a “prescrita”,
ou seja, a determinada, ou “não defesa”, ou seja, a não proibida, pela lei. Por
sua vez, o artigo 107 dispõe que: “A validade da declaração de vontade não
dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Da
leitura conjunta destes dois dispositivos o que se conclui é que, o que vige em
nosso sistema jurídico é a forma livre.
64
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Na parte geral do Código Civil de 2002, temos uma das disposições sobre
exigência de forma do negócio jurídico mais conhecidas. Vejamos:
65
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
ATENCAO
Por fim, o Código Civil ainda dispõe que: “Art. 109. No negócio
jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este
é da substância do ato”. Ou seja, se as partes, quando da realização do negócio
acordarem entre elas que o negócio deve ser feito de alguma forma específica,
por exemplo, por escrito, este deverá ser feito por escrito, mesmo que a lei não
coloque este requisito como obrigatório. Portanto, podem as partes, por ato de
vontade e visando à segurança, prever que o negócio deve atender a solenidades.
A imposição do negócio solene pode ser, portanto, convencional entre as partes
(TARTUCE, 2016). Por exemplo, as partes de um contrato de locação de imóveis
que, pela lei, é não formal (ou seja, pode ser feito verbalmente ou por gestos ou
tacitamente) combinarem que o contrato e quaisquer de suas alterações devem
ser feitos por escrito, estes devem ser feitos por escrito, sob pena de invalidade do
negócio. Importante ressaltar que as parte não podem prever a desnecessidade de
se seguir uma forma prevista em lei: elas podem ampliar, formalizar um negócio
originalmente informal, mas nunca o contrário.
66
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
A vontade, por sua vez, deve ser explicitada de forma livre, sem
embaraços, não podendo estar impregnada de malícia ou vício. É
preciso que a exteriorização da vontade ocorra com respeito à boa-fé
(objetiva e subjetiva) e à autonomia privada. Sofrendo alguma mácula
(seja a má-fé, seja a quebra da autonomia privada), haverá defeito
de vontade caracterizando os chamados defeitos do negócio jurídico,
que podem ser vícios de vontade (quando houver discordância entre a
vontade e a declaração de vontade) ou vícios sociais (quando a vontade
estiver perturbada, sendo explicitada para causar prejuízo a alguém ou
fraudar a lei) (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 623).
67
UNIDADE 1 — TEORIA GERAL DOS FATOS JURÍDICOS
TUROS
ESTUDOS FU
E
IMPORTANT
[...]
Conforme observamos anteriormente, forma é o meio pelo qual o agente expressa a sua
vontade. O Direito não pode se ocupar da vontade que permanece intima, não exterioriza-
da. Forma é elemento de existência do negócio jurídico. Não há, portanto, negócio jurídico
sem forma, uma vez que não pode haver negócio jurídico sem que, de alguma maneira,
a vontade tenha deixado de ser um fenômeno interno. Por isso mesmo, segundo nosso
ordenamento, a reserva mental é irrelevante, salvo se o destinatário tinha conhecimento
(Art. 110 do Código Civil).
No direito contemporâneo a forma não figura como simples elemento de existência dos
negócios jurídicos. Apesar da liberdade formal ser a regra, a validade de alguns negócios
jurídicos necessita de forma especial.
Portanto, para ter tutela jurídica, a declaração de vontade deve ser querida (sem vícios) com
plena consciência, escolhida de maneira livre e deliberada sem o propósito de prejudicar
terceiros.
Cabe ao plano da validade aferir se a declaração de vontade atende a tais requisitos. Nu-
lidade e anulabilidade são consequenciais que dependem da orientação política seguida
por dado ordenamento.
No caso do Brasil, o Art. 104 do Código Civil estabelece que a validade do negócio jurídico
requer:
O Art. 166 do Código Civil, por sua vez, define que é nulo o negócio jurídico quando:
68
TÓPICO 3 — ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA E VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
Portanto, segundo nosso ordenamento, quando a legislação prevê a forma específica para
determinados negócios jurídicos, tal formalismo será requisito de validade.
Zanetti faz uma classificação segundo a função desempenhada pela exigência formal. Ana-
lisa, portanto qual a razão que justifica a forma imposta pela lei.
Na função assecuratória as partes podem estipular forma específica para o negócio jurídico,
como por exemplo a exigência de escritura pública para contrato de empreitada. Caso não
seja obtida a escritura, o negócio será nulo nos termos dos Art.s 109 e 166, V e VI do Código
Civil. A escritura pública, neste caso, será requisito de validade do negócio, por definição
das partes.
Parte da doutrina defende que as partes possam condicionar também a existência do ne-
gócio à adoção da escritura pública. Seria este o intuito do Art. 109 do Código Civil ao
prescrever que a forma seria a substância do ato [...].
69
RESUMO DO TÓPICO 3
• Para o negócio jurídico ser reputado como existente, é necessário que contenha:
manifestação da vontade, um agente emissor dessa manifestação, objeto e
forma.
• No estudo do plano de existência, ainda não são feitos juízos de valor sobre os
elementos.
• A capacidade pode ser suprida através da representação, que pode ser legal ou
convencional.
CHAMADA
70
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Maconha não se configura como objeto para que se possa dizer que o
negócio é existente.
b) ( ) O agente emissor da vontade não pode ter menos de dezesseis anos.
c) ( ) O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou determinável.
d) ( ) A forma é a exteriorização da vontade, sendo irrelevante como é feita.
6 Além dos requisitos previstos no artigo 104 do Código Civil, para que o
negócio jurídico seja válido é também imprescindível que a manifestação
de vontade tenha sido feita de forma livre e de acordo com a boa-fé, sob
pena de invalidade. Sobre a necessidade de respeito a estes pressupostos,
assinale a alternativa CORRETA:
72
UNIDADE 2 —
DEFEITOS E INVALIDADES
DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS E PLANO DE
EFICÁCIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao fim da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
73
74
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2
FIGURA 1 – ENCHENTE
1 INTRODUÇÃO
Os negócios jurídicos são fatos extremamente relevantes para a vida
em sociedade. Contudo, como você pode estudar na Unidade 1, para que eles
sejam válidos, é necessário que preencham diversos requisitos previstos na lei.
Além disso, sendo eles decorrência da expressão da vontade dos interessados,
é fundamental que essa vontade seja manifestada de forma livre e de boa-fé.
Entretanto, às vezes, isso não acontece, pois, pelos mais diversos motivos, a
manifestação da vontade acaba não correspondendo ao que as partes realmente
queriam, ou é feita com o intuito de prejudicar terceiros, o que não pode ser
tolerado. Em razão disso, o legislador, após identificar os principais problemas
que podem afetar a validade dos negócios jurídicos, elencou um rol de defeitos e
previu as suas consequências.
75
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
76
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Os vícios do consentimento são o erro (Art. 138 a 144), o dolo (Art. 145 a
150), a coação (Art. 151 a 155), o estado de perigo (Art. 156) e a lesão (Art. 157). O
principal vício social previsto na codificação é a fraude contra credores (Art. 158
a 165). Parte da doutrina ainda elenca a simulação (Art. 167) como vício social,
isso porque ela era prevista como um defeito do negócio jurídico no Código Civil
de 1916. Na codificação atual, a simulação foi prevista não mais como apenas
um defeito, mas, efetivamente, como uma causa de nulidade, uma vez que a
sua prática atinge preceitos de ordem pública. Portanto, não se surpreenda se
encontrar a simulação, em algumas doutrinas, estudada como mais um defeito,
que se diferencia apenas nas suas consequências (você estudará, mais adiante,
que os defeitos tornam os negócios jurídicos passíveis de anulação, enquanto, no
caso da simulação, o que ocorre é que o negócio é nulo).
77
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
ATENCAO
2.1 ERRO
O erro jurídico não é assim tão distinto dos erros que as pessoas cometem
em outras esferas das suas vidas. Imagine que você, aluno dos primeiros semestres
do curso, esteja respondendo uma prova de Direito Civil em que se pergunta se
um adolescente de 17 (dezessete) anos é absolutamente incapaz e, ao consultar
a legislação, você não se atenta para as diferenças entre as previsões dos Arts.
3º e 4º do Código, e responde que sim. Na questão seguinte, pergunta-se se é
válido o casamento de uma mulher com o pai de seu ex-marido e você também
responde que sim. Nesta situação, você teria cometido erro em ambas as questões,
pois os adolescentes de 17 (dezessete) anos são apenas incapazes relativamente
a certos atos, bem como o ordenamento jurídico brasileiro proíbe o casamento
entre parentes em linha reta. No primeiro caso, você errou porque teve uma
falsa percepção da realidade, ao entender que o adolescente seria absolutamente
incapaz. Na segunda situação, você errou por ignorância, pois ainda desconhece
os preceitos jurídicos que regem o direito de família. Assim como em uma prova,
alguém pode errar no momento de manifestar a sua vontade e realizar um negócio
jurídico.
78
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
79
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
NOTA
80
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Logo, pode-se dizer que o erro substancial deve ser de tal ordem que o
negócio jurídico não se realizaria se a realidade fosse conhecida do manifestante
da vontade. Portanto, não basta que haja erro quanto à substância do negócio
jurídico, mas é necessário que sua intensidade seja capaz de, efetivamente, viciar
à vontade (MELLO, 2015).
Quer dizer, então, que nos exemplos dados os negócios são todos
anuláveis? Não, necessariamente! Além de ser substancial, há outros elementos
que devem estar presentes para que o negócio possa ser invalidado. É sobre este
ponto que recai a maior controvérsia da doutrina no que tange à matéria dos
defeitos dos negócios jurídicos. Para que você a compreenda, leia, com atenção, a
segunda parte do Art. 138:
81
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
A parte da doutrina que defende que o segundo elemento que deve estar
presente para a anulação do negócio jurídico é a escusabilidade:
82
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
83
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Por fim, a última característica que o erro deve ter para que permita a
anulação do negócio jurídico é que ele deve ser real, isto é, tangível, palpável,
importando efetivo prejuízo para o interessado (non fatetur qui errat) (MONTEIRO;
PINTO, 2016).
Em suma, para que um negócio jurídico seja anulável por erro, esse
erro deve ser substancial, escusável e/ou cognoscível (a depender da corrente
adotada) e real.
Cada inciso elenca algumas classificações referentes aos tipos de erro que
podem ocorrer. No inciso I, tem-se o error in negotio, o error in corpore e o error in
substantia. O inciso II trata do error in persona, e o inciso III do error iuris. Veja então
que tipo de situação caracteriza cada um destes erros:
84
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
ATENCAO
85
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
E
IMPORTANT
• Error iuris (erro de direito): o inciso III do Art. 139 prevê que também é
substancial o erro quando for de direito (contrapondo-se aos demais erros,
que podem ser chamados de erros de fato), ou seja, o equívoco recair sobre
a existência ou validade de alguma norma jurídica. “O erro de direito não
consiste apenas na ignorância da norma jurídica, mas também em seu falso
conhecimento, na sua compreensão equivocada e na sua interpretação errônea,
podendo, ainda, abranger a ideia errônea sobre as consequências jurídicas
do ato negocial” (DINIZ, 2006, p. 455-456). Por exemplo, é o caso “de alguém
que eventualmente celebra um contrato de importação de uma determinada
mercadoria, sem saber que, recentemente, foi expedido decreto proibindo a
entrada de tal produto no território nacional” (GAGLIANO; PAMPLONA
FILHO, 2015, p. 400).
Entretanto, para que este tipo de erro torne o negócio jurídico anulável,
é importante que não implique na recusa da aplicação da lei. E o que isso quer
dizer? Lembre-se de que o Art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro dispõe que: Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não
a conhece. Ou seja, ninguém pode alegar em seu benefício que desconhecia a
legislação, de forma a não a cumprir. Assim, pensando no exemplo citado, o
importador, descobrindo a proibição, poderia pedir a anulação do contrato de
importação, mas nunca a permissão para que os produtos entrem no país, pois
isto implicaria na recusa da aplicação da lei.
Por fim, a última questão que deve ser verificada é se o erro de direito
era o único ou principal motivo para a realização do negócio. Ora, como você já
estudou antes, isso é decorrência do próprio fato de o erro ter que ser substancial.
Se não havendo o erro a pessoa não realizaria o negócio, ele será anulável, caso
contrário (ou seja, não era o único ou o principal motivo para o negócio), não
haverá justificativa para a anulação. Para finalizar esses tipos de erros substancial,
veja o exemplo trazido por Tartuce (2016, p. 256), que apresenta todos os elementos
do erro de direito:
86
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
87
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Você viu até agora todos os elementos necessários para que um negócio
jurídico possa ser anulado por erro. Todavia, como também já deve ter percebido,
existem uma infinidade de situações em que há erro, mas que não se enquadram
como erros substanciais. Nesses casos, tem-se o que se chama de erro acidental.
De acordo com Mello (2015, s.p), o erro acidental é “aquele que se refere
a qualidades secundárias do objeto da declaração ou das pessoas ou, ainda,
aos motivos determinantes do ato, estes quando não declarados como razão
determinante ou sob a forma de condição, não tem o condão de permitir a
anulação do ato jurídico”.
88
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Você ainda deve saber que, conforme o artigo 141, “A transmissão errônea
da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a
declaração direta”. Ou seja, se o veículo utilizado não transmite fielmente a
vontade, fazendo surgir divergência entre o agente e a outra parte, poder-se-á
alegar o erro nos mesmos casos, nas mesmas condições, em que a manifestação
da vontade é realizada inter praesentes (MONTEIRO; PINTO, 2016).
2.2 DOLO
Quando um vendedor afirma que a joia que vende é de ouro, mas, na
verdade, é de latão; quando um locador afirma que o apartamento é de frente
para a rua, mas na verdade é nos fundos; ou ainda quando o empregador assevera
que o trabalhador fará o serviço sentado, quando na verdade deverá passar o
dia em pé, é visível que há má-fé de uma das partes, a fim de induzir a outra a
fechar o negócio. Em todas essas situações, os sujeitos agiram com dolo, ou seja,
eles queriam que a outra parte fechasse e o negócio e, para isso, utilizaram-se de
informações falsas, subterfúgios, artifícios para convencê-la.
89
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
NOTA
O dolo que você está estudando não se confunde com o dolo penal, ou com
o dolo da responsabilidade civil. O dolo penal é o intuito de praticar determinada conduta
que é tipificada como crime.
O dolo da responsabilidade civil é como o dolo penal, só que o que se observa é a vontade
de causar um dano a alguém. Já o dolo como defeito do negócio jurídico diz respeito a
utilização de subterfúgios para conseguir que alguém manifesta sua vontade no sentido de
fazer um negócio jurídico.
Esses elementos, então, são o que a parte deverá, em futura ação judicial,
comprovar para que consiga a anulação do negócio jurídico. É importante
salientar, porém, conforme advertem Farias e Rosenvald (2017, p. 660), “não ser
necessário que haja prejuízo para aquele que, incorrendo no erro provocado,
90
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Da mesma forma o erro, o dolo pode, por vezes, recair sobre algum
elemento secundário do negócio. Ou seja, há um engano provocado pela outra
parte, mas ele não é o que determina a decisão final do negociante. É o que se
chama de dolo acidental, previsto expressamente no Código Civil: Art. 146. O
dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando,
a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. Por exemplo:
No caso, tendo em vista que o dolo não recaiu sobre uma característica
principal para este comprador (o principal é o carro e as suas características
mecânicas, não sendo fundamental a pintura metálica), não há motivo para
anular o negócio todo (desfazer a compra), já que a essência da vontade da parte
foi contemplada (ele adquiriu um carro). Todavia, se ele soubesse que o carro não
tinha cor metálica, talvez não tivesse pago o mesmo preço, por exemplo. Desse
modo, a legislação prevê que, recaindo o dolo sobre um elemento secundário da
negociação, apesar de a parte prejudicada não poder anular o negócio, poderá
pleitear perdas e danos, ou seja, um ressarcimento pelo prejuízo sofrido.
91
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
ATENCAO
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo
de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter
conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio
jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a
quem ludibriou (BRASIL, 2002, s.p).
.
Nesses casos, porém, é necessário que se observe se o beneficiado com o
negócio tinha (ou devesse ter) ciência, ou seja, conhecimento, do dolo praticado
pelo terceiro. Somente nessa situação o negócio será anulável. Por outro lado,
se o beneficiado nem imagina que o terceiro agiu ou poderia agir com dolo, não
92
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
93
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Há ainda uma última hipótese prevista na legislação, mas que não permite
a anulação do negócio. É o caso de haver o chamado dolo recíproco. De acordo
com o artigo 150: Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-
lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. É uma vedação expressão
ao benefício da própria torpeza. Farias e Rosenvald (2017, p. 662) lembram que
“pouco interessa a espécie de dolo que cada uma das partes possuía, não se
admitindo, em nenhuma hipótese, a anulação do ato”. Haverá, nesses casos, uma
espécie de compensação das condutas.
94
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
O dolo que você está estudando, que permite a anulação do negócio jurídi-
co, ou ao menos que se reclame perdas e danos, é classificado pela doutrina como dolus
malus, em contraposição ao dolus bonus, que seria um dolo aceitável, tolerável, em nossa
sociedade, como no caso de comerciantes que exageram na hora de fazer elogios às ca-
racterísticas de um determinado produto, a fim de chamar atenção da clientela. Entretanto,
os limites entre o dolus bonus e a propaganda enganosa são muito tênues. Em razão disso,
Farias e Rosenvald (2017, p. 661) advertem que:
Por fim, não é demais lembrar que “o dolo não se presume das
circunstâncias de fato, devendo ser provado por quem o alega” (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2015, p. 403). A parte interessada na anulação do negócio é
que deverá comprovar a prática do dolo pela outra parte.
2.3 COAÇÃO
Compreendido o erro e dolo, que são vícios de consentimento porque
a parte acaba manifestando a vontade por ter alguma informação equivocada,
distorcida, ou por não a ter, agora você compreenderá a coação, que é um vício
que atinge diretamente a liberdade da parte na hora de consentir. Na coação, a
pessoa não está sendo enganada, ela sabe exatamente o negócio que faz, mas ela
só aceita o negócio porque está sendo ameaçada, chantageada, extorquida.
A fim de que não reste dúvida, lembre-se sempre de que, na coação física,
o corpo da pessoa que está sendo coagida é manipulado em desacordo com os
seus sentimentos e desejos, não é ela que o conduz, mas sim o coator.
96
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
Se Fulano é coagido por Sicrano, que aponta uma arma para sua cabeça
ameaçado matá-lo em caso de negativa, a doar-lhe parte da sua fortuna, está-se diante de
um caso de coação moral. O fato de a ameaça recair sobre a vida, ou a integridade física
não é o que caracteriza esse tipo de coação, mas sim o fato de que, mesmo não sendo
o esperado, Fulano pode, teoricamente, negar-se a aceitar o negócio jurídico que Sicrano
quer obrigado a fazer.
Primeira coisa: assim como no erro e no dolo, para que o negócio jurídico
realizado seja anulável, deverá ser comprovado que a coação foi a sua causa. Ou
seja, que sem a ameaça, a chantagem, a parte não a teria realizado. Nas palavras de
Diniz (2006, p. 469): “A coação deve ser a causa determinante do negócio jurídico,
pois deve haver um nexo causal entre o meio intimidativo e o ato realizado pela
vítima. De modo que se o temor for ocasionado por força maior, será esta e não a
coação que viciará à vontade”. Como você poderá estudar na sequência, se a causa
da realização for negócio for um temor causado por evento que se caracteriza
como força maior, provavelmente estar-se-á diante do vício de estado de perigo.
97
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
mal, o coator pode ameaçar deixar de fazer algo. Se esta omissão for relevante a
ponto de gerar um temor fundado no coagido, teremos um negócio viciado. Por
exemplo, se Fulano ameaça deixar de comparecer à audiência de um processo
contra Sicrano, sendo ele a única testemunha de defesa que poderia absolvê-lo, o
temor dessa omissão pode ser suficiente para levar Sicrano a ceder a ameaça de
Fulano.
O medo, então, é que deve ser iminente, e não o mal. Este deve ser
inevitável e considerável. Ser considerável que dizer que “há necessidade de que
seja grave o mal que se ameaça causar. Não uma gravidade especial. Basta que
se refira a um mal capaz de fazer com que a pessoa se sinta ameaçada” (MELLO,
2015, s.p). Em outros termos, pode-se dizer que “a ameaça deve ser séria e injusta,
e de tal monta que coloque o paciente numa alternativa entre o mal iminente e o
negócio extorquido, levando-o razoavelmente a suportar este último com todas
as suas consequências” (PEREIRA, 2011, p. 444).
Não se olvidou, porém, que, por vezes, pessoas que não são do núcleo
familiar podem ser o objeto da ameaça. Assim, o parágrafo único do Art. 151
prevê que, se for este o caso, o magistrado analisará o caso concreto para verificar
se pode considerar ter havido coação. Apesar de normalmente ser referido este
dispositivo pensando-se em amigos, namorados e outras pessoas que não são
família, mas com as quais se tem relações de afeto. Diniz (2006, p. 471) lembra que
é possível que ocorra a coação mesmo quando o dano visa pessoa não relacionada
diretamente ao coagido, nos seguintes termos: “Para evitar o assassínio iminente
98
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
do refém, a pessoa acede à extorsão. Não importa que entre a vítima da extorsão
e a vítima da ameaça não exista liame algum, familiar, social ou afetivo. A
solidariedade humana é suficiente para justificar a sucumbência do coacto à
exigência do coator”.
99
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Por fim, do mesmo modo que com o dolo, o legislador tratou de prever as
consequências do negócio jurídico quando o vício é causado por terceiro, e não
pelo próprio beneficiário. Veja o que dispõem os Arts. 154 e 155:
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela
tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta
responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de
terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter
conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas
e danos que houver causado ao coacto (BRASIL. 2002, s.p)
100
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
101
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Portanto, tudo que exceder o que seria normal de ser cobrado nesta situação,
por exemplo, estará eivado de vício e passível de ser reputado inválido. Se toda
a situação se caracterizar como excessiva, e ficar patente a má-fé do beneficiário
do negócio, em regra, todo ele será anulável. Entretanto, uma vez que se aplica
ao estado de perigo o disposto no §2º do Art. 157 do CC/02, quando as situações,
como no caso de um atendimento médico em hospital particular, envolverem
um serviço que possui um custo normalmente, somente estará autorizado o
reequilíbrio das prestações. Em outras palavras, somente se considerará legitima
102
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
103
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
o risco de dano. Por outro lado, no estado de perigo o risco é atual ou iminente
e causado por uma situação externa aos envolvidos, como um acidente ou uma
doença. A parte que se beneficia no estado de perigo toma conhecimento de um
risco já existente, que não foi ele que deu causa.
2.5 LESÃO
Nem a lesão, nem o estado de perigo estavam previstos no Código Civil
de 1916, tendo sido incluídos em 2002. Isso não significa dizer que sejam institutos
jurídicos novos. A lesão, em especial, está historicamente presente no ordenamento
brasileiro, com destaque para a sua previsão na Lei nº 1.521/51 (Crimes Contra
Economia Popular) e no Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, é
importante ter em mente, desde já, que os pressupostos e as consequências da
lesão em cada legislação são distintos. Nesta seção você estudará detidamente
os elementos que caracterizam o que a doutrina chama de lesão especial, que é a
que está prevista no Código Civil de 2002. Ao final, poderá conhecer algumas das
diferenças para as outras lesões mencionadas.
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores
vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido
suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a
redução do proveito.
NOTA
Em regra, a lesão será aplicável aos contratos comutativos, que são aqueles
em que há “equivalência aproximada ou exata entre as prestações das partes contratantes”
(FARIAS; ROSENVALD, 2018, p. 285). Normalmente, ocorre nas compras e vendas, locações,
prestações de serviços etc.
A lesão, assim como o estado de perigo, para que torne o negócio anulável,
deverá apresentar dois elementos. O elemento objetivo é a desproporção entre as
prestações. O elemento subjetivo é a premente necessidade ou a inexperiência.
Pode ser simplificado na seguinte fórmula: “LESÃO = Premente necessidade ou
inexperiência (elemento subjetivo) + onerosidade excessiva (elemento objetivo)”
(TARTUCE, 2016, p. 268).
105
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
ocorre quando a pessoa não tem conhecimento daquele ramo específico, ou sobre
o produto em questão. O exemplo típico é da pessoa que recebe uma obra de
arte como herança e a vende pelo valor de um objeto decorativo comum, por
desconhecer que foi feito por artista famoso. Nesse sentido, é o disposto no
Enunciado nº 410 do Conselho da Justiça Federal (BRASIL, s.d., s.p.):
Portanto, para que se possa dizer que o negócio é anulável pela lesão é
necessário que além da desproporção, o interessado prove que estava em premente
necessidade ou que era inexperiente naquele tipo de negócio. Sempre lembrando
que: Esses dois dados (necessidade ou inexperiência) devem ser considerados
alternativamente, de modo que não é preciso que ocorram simultaneamente no
caso concreto. Nada importa, porém, se os dois se materializem em concorrência
(MELLO, 2015).
Outro aspecto bastante importante que você deve se atentar quando for
analisar a lesão, é que não é necessário que se prove que a outra parte teve dolo
de aproveitamento (conforme previsto, inclusive, no Enunciado nº 150 do CJF: “A
lesão de que trata o Art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento”
(BRASIL, s.d., s.p.)). “Basta, portanto, que a parte que se beneficia conheça a
situação de inferioridade, sendo desnecessária a intenção do agente de obter lucro
exagerado. Note-se, pois, que o elemento subjetivo diz respeito à vítima, não ao
beneficiário” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 668). Ou seja, não é necessário que
se prove o intuito, o dolo, da parte beneficiada, mas apenas que ela tinha como
perceber, ou conhecer, a situação de necessidade ou inexperiência da outra. Caso
contrário, agirá de boa-fé, não havendo justificativa para a anulação do negócio.
106
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
107
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
E
IMPORTANT
Importante observar que, como a lesão usurária é tida como crime, para sua caracterização
é necessária a prova do dolo, enquanto nas demais modalidades não.
108
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
NOTA
109
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
NOTA
Na fraude contra credores, o credor terá que provar, sempre, que o devedor
era insolvente ou se tornou por meio do ato que se busca anular. Afinal:
110
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
comprove que o ato praticado pelo devedor diminuiu o seu patrimônio a ponto
de torná-lo insolvente (ou ainda mais insolvente, caso já estivesse nesta situação)
para que o negócio possa ser anulado como fraude contra credores. Não haverá
análise de elemento subjetivo. O devedor e quem foi beneficiado pelo negócio,
poderiam estar de total boa-fé no caso e, mesmo assim, poderão sofrer as
consequências da anulação do negócio.
Você deve ter percebido que o dispositivo legal, quando fala dos credores,
os chama de credores quirografários. O que são, afinal, credores quirografários?
Basicamente, são os credores comuns, aqueles que não tem nenhuma garantia.
Em geral são os portadores de títulos de crédito (cheques, notas promissórias)
ou contratos sem garantias. Ou seja, enquanto os credores com garantias, no caso
de inadimplemento do devedor, já têm um meio definido de cobrá-lo (execução
da garantia) tendo preferência sobre os bens que lhe foram dados em garantia,
aos credores quirografários, o que garante o crédito é o patrimônio em geral
do devedor. É por isso que é ele que tem o direito de arguir a fraude contra
credores. No caso do credor com garantia, caso o devedor venda o bem que lhe
estava reservado, ele terá meios contratuais para reverter a situação. Já o credor
quirografário não. Ele depende do patrimônio livre do devedor.
NOTA
111
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
relação a alienações que Sicrano fez antes da data do empréstimo. Portanto, para
que se alegue a fraude é importante observar o seguinte: primeiro, formação do
crédito, depois, realização do ato de fraude. Em outras palavras:
112
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Para a ação, do disposto no Art. 158 e seu §1º, é possível concluir quem
tem legitimidade ativa para reclamar a fraude contra credores, ou seja, ingressar
com a ação paulina: são os credores quirografários ou os credores com garantia
insuficiente, que já eram credores no momento da realização do negócio jurídico
que se busca anular. O que deverá ser provado? Os elementos que você estudou:
a) o prejuízo causado aos credores pelos atos que se busca anular (eventus damni);
b) o estado de insolvência do devedor; e, se tratar-se de negócio oneroso, c) a
ciência da fraude pelo adquirente, ou o conluio fraudulento (consilium fraudis).
Por fim, deve-se saber contra quem a ação deve ser dirigida. Isso está previsto no
Art. 161 do Código Civil (BRASIL, 2002, s.p):
Art. 161. A ação, nos casos dos Arts. 158 e 159, poderá ser intentada
contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a
estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que
haja procedido de má-fé.
114
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
115
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
E
IMPORTANT
Com base nesse entendimento, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por
unanimidade, declarou ineficaz a alienação de um imóvel rural para permitir que ele sirva
de garantia de dívida de devedores insolventes.
Segundo o STJ, a fraude contra credores não gera a anulabilidade do negócio, mas sim a
retirada parcial de sua eficácia em relação a determinados credores, permitindo a execução
judicial dos bens que foram fraudulentamente alienados.
Requisitos
116
TÓPICO 1 — DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Efetividade
Acesse: http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias-
antigas/2018/2018-05-15_09-27_Intencao-de-lesar-credor-nao-e-imprescindivel-para-
caracterizar-fraude.aspx#:~:text=Para%20a%20caracteriza%C3%A7%C3%A3o%20da%20
fraude,do%20devedor%20(scientia%20fraudis).
117
RESUMO DO TÓPICO 1
• Se o dolo recair sobre algum elemento que não é principal do negócio, ou provir
de terceiro, sem conhecimento do beneficiário do negócio, é possível, ainda, a
satisfação da parte por perdas e danos.
• O negócio jurídico realizado para que a parte se salve, ou alguém com quem
está relacionado, de um risco conhecido da outra parte, poderá ser anulado
pela presença do estado de perigo.
118
AUTOATIVIDADE
(1) Erro
(2) Dolo
(3) Coação
(4) Estado de perigo
(5) Lesão
( ) Glória liga para Clóvis, político muito conservador, e afirma que se ele
não efetuar uma doação de R$ 50.000,00 para determinada instituição,
disponibilizará na internet fotos nuas da esposa de Clóvis.
( ) William empresta caneta de prata para Luana tomar posse em cargo
público, e ela a recebe como se fosse uma doação.
( ) Otávio recebe algumas obras de arte como herança de uma tia que vivia
em Nova Iorque. Não conhecendo nada de arte, e querendo transformar
aquilo em dinheiro rapidamente, vende as obras, que valem mais de 500
mil dólares, por menos de 100 mil reais.
( ) Nelson compra um terreno acreditando ser de frente para a avenida, pois
pretende construir um prédio comercial. Entretanto, na verdade o terreno
adquirido tem acesso apenas por uma servidão, fato que se soubesse o
teria feito desistir do negócio.
( ) Diego conquista Mafalda e a convence, ainda antes do casamento, a vender
para si um veículo que possui, por um preço abaixo do de mercado, a fim
de que ela tenha dinheiro para pagar pelo vestido de casamento que tanto
sonha, lembrando-a que quando casarem tudo voltará para ela. Após a
transferência do bem, mas antes do casamento, foge com o veículo sem dar
satisfação.
( ) Sandra procurando um presente para sua namorada vai até uma joalheria.
Indecisa, o vendedor a aborda e indica um lindo brinco, afirmando ser
feito de ouro puro e pedras importadas. Após a compra, porém, Sandra
acaba descobrindo que o brinco, na verdade, é mera bijuteria.
( ) O filho de Soraia sofre um grave acidente automobilístico. Quando ela
chega ao hospital é informada que ele precisa urgentemente realizar
uma cirurgia, mas para que esta possa ser realizada, é necessário que seja
prestada caução no valor de 100 mil reais.
119
( ) Márcia pegou dinheiro emprestado com Luiz, entretanto, por diversas
circunstâncias, está com dificuldade de pagar as parcelas do empréstimo
como combinado. Em um encontro para renegociar a dívida, Luiz diz que,
se Márcia não se casar com ele, ele irá executá-la judicialmente.
( ) Angela, pequena empresária, possui uma dívida com o banco que, caso
não seja paga logo, irá vencer e a principal máquina de sua empresa poderá
ser tomada. Assim, afim de não perder a máquina, da qual depende seu
trabalho, ela vende sua casa, que vale mais 300 mil reais, por apenas 150
mil reais.
( ) Bruno, pescador, tem problemas em sua embarcação e ela começa a
afundar. Neste momento, vendo outros barcos passarem, ele grita pedindo
socorro e afirmando que dará sua casa, seu carro e todo o seu dinheiro a
quem o salvar, o que é feito logo em seguida pelos tripulantes do barco
que passou mais próximo.
I- Para que se possa anular uma doação feita em fraude contra credores é
necessário provar que os envolvidos tinham o conhecimento quanto à
situação de insolvência do devedor;
II- Para reconhecimento judicial da fraude contra credores deverá ser
comprovada o prejuízo causado ao(s) credor(es);
III- Qualquer alienação feita por um devedor insolvente é fraude contra
credores;
120
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 1, você estudou os requisitos de validade do negócio
jurídico, quais sejam: a) agente capaz; b) objeto lícito, possível, determinado ou
determinável; c) forma prescrita ou não defesa em lei; d) manifestação da vontade
livre e de boa-fé. Neste tópico agora você estudará quais as consequências da
violação destes requisitos, ou sejam as invalidades dos negócios jurídicos.
121
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
E, ainda em:
• total: quando atinge todo o negócio jurídico (por exemplo, no caso de uma
compra e venda de drogas, que será nulo por ter objeto ilícito);
• parcial: quando atinge apenas uma parte do negócio, podendo ser mantidas as
demais disposições (por exemplo, um contrato de financiamento bancário com
juros abusivos – o financiamento poderá ser mantido, sendo declaradas nulas
apenas as disposições que versem sobre os juros).
E
IMPORTANT
2 NULIDADE
A nulidade, também referida como nulidade absoluta, é a sanção aplicável
as violações mais graves ao ordenamento. “Em síntese, percebe-se que a nulidade
de um ato ou negócio jurídico resulta, efetivamente, da violação a preceitos de
ordem pública, estabelecidos em lei, ligados, de modo geral, à própria formação
válida da figura negocial, conforme previsão do Art. 104 da Lei Civil” (FARIAS;
ROSENVALD, 2017, p. 633). Lembre-se que uma norma de ordem pública é aquela
que é cogente, ou seja, não está sujeita à adaptação ou flexibilização pela vontade
das partes. Por mais que os negócios jurídicos sejam manifestações de vontade e
emanações da autonomia privada, seus limites estão postos na legislação pelas
normas de ordem pública, cuja violação ensejará na sua nulidade.
122
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
Repare que as previsões dos incisos I, II, IV e V não mais são que
consequências da violação do disposto no Art. 104 do Código Civil. Atente-se,
porém, a um ponto: no caso da incapacidade, será nulo apenas o ato praticado
por absolutamente incapaz, ou seja, conforme a atual previsão legal, apenas
pelos menores de 16 (dezesseis) anos. No caso do inciso V, ele nada mais é do que
um desmembramento do requisito da forma, uma vez que as solenidades fazem
parte da forma (por exemplo: o casamento civil exige a forma pública, sendo uma
de suas solenidades a necessidade da presença de ao menos duas testemunhas
do ato).
Portanto, o que torna nulos estes negócios não é seu objeto, mas sim o
objetivo, o “para quê” queriam realizar aquele negócio jurídico.
123
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
O inciso VII, por fim, prevê que será nulo todo ato que a lei proibir,
sem cominar sanção. São, portanto, aquelas disposições em que o Código
veda determinada prática, mas não diz explicitamente qual a consequência
dela. Como exemplo, vide o Art. 1.863 do Código Civil que dispõe: É proibido
o testamento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo. No caso,
caso um testamento seja feito desta forma, ele será nulo, mesmo o dispositivo
não prevendo essa sanção, por força do disposto no inciso VII do Art. 166, agora
estudado.
NOTA
124
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
O juiz, em regra, não deve se manifestar sobre questões que não foram
levadas até ele. Entretanto, no caso das nulidades, por se tratar de questão de ordem
pública, ele poderá, sem provocação de qualquer parte, reconhecê-las, desde que
já provadas. “Suponha-se, por exemplo, que ao juiz seja apresentado testamento
feito por menor de menos de 16 anos de idade. Encontrando-a provada, o juiz
pronunciará a nulidades quando conhecer do ato, e não poderá supri-la, ainda
que nisso convenham todos os interessados” (MONTEIRO; PINTO, 2016, s.p).
Ademais, não pode o juiz sanar a nulidade. Em outras palavras: ele não
pode corrigir o negócio viciado ou desconsiderar o vício, visto que foi a própria
lei que foi violada (não faria sentido o juiz, que deve aplicar a lei, relevar uma
norma de ordem pública para convalidar um negócio em prol de interesses
privados). Declarada a nulidade, reconhece-se que o negócio jurídico não surte
efeitos, sendo necessário, se for o caso, repeti-lo, sem o vício, para que passe a
produzir os efeitos esperados.
Assim como o juiz não pode sanar o vício, as partes também não podem
confirmar o negócio viciado. Conforme ressaltam Gagliano e Pamplona Filho
(2015, p. 437, itálicos no original), “o negócio nulo não admite confirmação razão
por que, constatando-se o vício, o ato há que ser repetido, afastando-se o seu defeito”.
Se um adolescente fez um contrato quando ainda era absolutamente incapaz,
não poderá, ao completar a maioridade, simplesmente ratificá-lo. O contrato é
nulo. Um novo deverá ser feito, se for de interesse das partes. Este novo contrato,
terá efeito apenas a partir dali, e nunca retroativo, posto que negócios nulos não
surtem efeitos jurídicos.
Parte dos estudiosos entende que a declaração de nulidade pode ser feita
a qualquer momento. Entretanto, o pedido de indenização, de perdas e danos,
deve ser feito dentro do prazo prescricional previsto para a pretensão (os quais
125
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
serão estudados na próxima unidade). Há outra parte dos juristas que entendem
que, se a declaração de nulidade é imprescritível, os pedidos dela decorrentes
também o são. Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 439-440) opinam que:
NOTA
TUROS
ESTUDOS FU
126
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
2.1 SIMULAÇÃO
A simulação, como já foi observado, era tratada como defeito dos negócios
jurídicos no Código Civil de 1916.
127
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
A simulação absoluta por sua vez não tem negócio dissimulado para
esconder. Nela, só há o negócio simulado. Só um faz de conta com o qual não se
quer ter o efeito jurídico normal daquele tipo de negócio, servindo simplesmente
128
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
Fica claro, então, que esse caso é simplesmente criado um negócio, feita
uma declaração, imposta uma condição, com o intuito de que não tenham efeitos
práticos. Assim, sendo absoluta a simulação, todo o negócio será nulo.
Enfim, como bem expressado por Diniz (2006, p. 480), “na simulação a
vontade se conforma com a intenção das partes que combinam entre si no sentido
de manifestá-la de determinado modo, com o escopo de prejudicar terceiro que
ignora o fato”. Em razão disso, a simulação era tida como um vício social. Para a
sua caracterização é imprescindível que as pares envolvidas estejam em conluio
com a finalidade de prejudicar terceiros.
129
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
negócios jurídicos, visto que aqueles só poderão ser alegados pelos prejudicados.
No caso da fraude contra credores, por exemplo, nenhum dos envolvidos no
negócio poderá alegar, mas apenas o credor prejudicado.
Por fim, vale observar que, para alguns autores, a reserva mental, já
estudada na Unidade 1, converter-se-á em simulação quando o destinatário tomar
conhecimento do objetivo da pessoa que fez a declaração de vontade. Conforme
explicam Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 425-426):
130
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
negócios nulos, como anuláveis, mas só tem real relevância para os primeiros,
pois como você verá na sequência, os atos anuláveis podem ser conservados de
outras formas mais fáceis.
A conversão está prevista no Art. 170 do Código Civil, o qual tem redação
criticada pela falta de clareza. Veja:
O artigo antecedente é aquele que diz que “o negócio jurídico nulo não é
suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo”. Lendo ambos
na sequência, fica um pouco mais fácil de perceber o que ele quer dizer, não? O
negócio nulo não pode ser confirmado, nem convalesce com o passar do tempo,
porém ele poderá subsistir se contiver os requisitos de outro, que as partes teriam
feito, se soubessem que o primeiro era nulo!
Em verdade, não é o negócio nulo que irá subsistir. Ele será efetivamente
convertido em outro. Serão analisados todos os elementos do negócio, tanto
referentes à vontade das partes, quanto formais, para ver se, juntando tudo, é
possível fazer um outro negócio, agora válido.
131
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Veja mais alguns exemplos, para auxiliar na sua compreensão sobre como
e quando pode ser realizada a conversão substancial:
Agora que você compreendeu o quê e quais são os atos jurídicos nulos,
bem como o que deve ser observado para conservá-los, quando possível, vamos
ao estudo das anulabilidades, ou também referidas como nulidades relativas.
3 ANULABILIDADE
Enquanto a nulidade é uma sanção à violação da lei, a preceitos de ordem
pública, “a anulabilidade, por sua vez, é vício menos grave, comprometendo
interesses particulares” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 631).
132
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
133
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença,
nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar,
e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de
solidariedade ou indivisibilidade (BRASIL, 2002, s.p).
Vamos analisar o artigo por partes. O artigo prevê que a anulabilidade não
pode ser pronunciada de ofício, ou seja, o juiz não pode anular um negócio sem
que tenha havido pedido das partes. Além disso, o pedido, ou seja, a alegação da
anulabilidade, só pode ser feita pelos interessados. Enquanto a nulidade pode
ser arguida por “qualquer interessado”, que denota uma amplitude maior, não
se exigindo a comprovação de um prejuízo direto, mas somente uma justificativa
para o interesse; a anulabilidade deve ser alegada por um “interessado”, e este
interessado refere-se ao diretamente interessado, aquele que foi efetivamente
prejudicado pelo negócio. Por exemplo, se Fulano assinou um contrato cedendo
parte de sua empresa para Sicrano em razão da coação exercida por este último,
somente Fulano, diretamente prejudicado, é que poderá ajuizar a ação e reclamar
a anulação deste contrato.
134
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
Por fim, o Art. 177 ainda diz que a anulabilidade não tem efeito antes de
julgada por sentença. Isso quer dizer que antes que o juiz anule o negócio, ele
surtirá efeitos. Isso é justificável pelo próprio fato de que a anulabilidade pode ser
confirmada. Ou seja, caso as partes não tenham interesse na anulação, o negócio,
mesmo viciado, poderá ser mantido na forma original. Assim, somente havendo
pedido, por meio de ação anulatória, e o reconhecimento judicial é que o negócio
deixa de ser eficaz.
Esse prazo de quatro anos, entretanto, não é o prazo geral para anulação
dos negócios jurídicos. Ele serve para aqueles ali elencados. Em outras situações, os
próprios dispositivos legais preverão qual o prazo para arguição da anulabilidade
(por exemplo, o parágrafo único do Art. 119 prevê um prazo de cento e oitenta
dias para reclamar a anulação de negócio feito em conflito de interesses entre
135
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem
estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a
contar da data da conclusão do ato.
De qualquer modo, há quem entenda que os prazos dos Arts. 178 e 179
do Código Civil devem ser contados não da celebração do ato, mas
da sua ciência correspondente. Dessa feita, no caso de uma venda de
imóvel, o prazo decadencial para a ação anulatória deve ser contado
do registro imobiliário, e não da elaboração da escritura.
136
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
Por outro lado, o negócio mesmo viciado, poderá também ser confirmado
por interesse, ou seja, através da manifestação da vontade das partes. Essa
manifestação de vontade, para caracterizar a confirmação, pode ser tanto tácita,
como expressa. Farias e Rosenvald (2017, p. 640) explicam:
137
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
O Código Civil ainda deixa expresso que, havendo a confirmação, esta não
poderá ser revogada, extinguindo-se qualquer direito a ela relacionada. Tartuce
(2016, p. 304) explica que:
Por fim, vale ainda mencionar que o Art. 176 dispõe que: Quando a
anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado
se este a der posteriormente. Ou seja, no caso de um negócio feito por um
relativamente incapaz, a confirmação não precisa ser feita por ele, após cessar a
incapacidade. Poderá também ser confirmado o negócio pelo terceiro. Neste caso,
o assistente do incapaz. Do mesmo modo, no caso de uma venda de ascendente a
descendente, viciada pela falta de anuência dos demais herdeiros, poderá haver
convalidação, pela anuência destes outros herdeiros em momento posterior.
Todavia, deve-se observar que, nestes casos, a confirmação “deve, em regra, ser
feito de forma expressa, não se admitindo, salvo regra excepcional, a prova de
uma autorização tácita” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 444).
Em síntese:
138
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
contamina todo o negócio jurídico, desde sua realização. Diz-se que o negócio
nulo, juridicamente, não produz efeitos. Assim, é quase como se o negócio não
existisse. Desse modo, o juiz irá apenas declarar, ou seja, reconhecer a existência
da nulidade. Não é ele que torna o negócio sem efeito, é o negócio que já é nulo,
e ele apenas faz o reconhecimento da sua invalidade. Por outro lado, os negócios
anuláveis, como o próprio termo denota, não são a priori inválidos, eles são
passíveis de anulação (anuláveis). Ou seja, eles surtirão efeitos até que, após a
reclamação do interessado, o juiz os anule, ou seja, os desconstitua.
139
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para
eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a
ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se,
declarou-se maior (BRASIL, 2002, s.p).
Primeiro ponto que deve ser destacado é que essa previsão é exclusivamente
aplicável aos relativamente incapazes em razão da idade, ou seja, os adolescentes
entre dezesseis e dezoito anos.
140
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
141
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
142
TÓPICO 2 — INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
E
IMPORTANT
É voz corrente a que refere que a pronúncia da invalidade do ato anulável possui efeito ex
nunc. Entretanto, a desconstituição dos efeitos do ato anulável é retroativa, ou seja, opera-
se ex tunc.
Enquanto a nulidade é declarada em sentença que inclusive pode ser prolatada a qualquer
tempo reconhecendo a invalidade, a anulabilidade produz efeitos provisórios que podem
ser convalidados pelo decurso do tempo ou da vontade, sendo sua pronúncia judicial
constitutivo-negativa, ou seja, desconstitutiva, retroagindo e desfazendo os efeitos
fulminados. Não fosse assim, não se restituiriam, tanto na nulidade quanto na anulabilidade,
as partes ao status quo ante como manda a lógica e o Art. 182 do Código Civil. E do mesmo
modo, ter-se-ia que afirmar que o vício reconhecido não é original, mas muito posterior
ao negócio viciado, como se o dolo, a lesão, o erro, a coação, o estado de perigo, a fraude
contra credores ou a incapacidade relativa não estivessem na gênese do pacto inválido.
Acesse: http://estadodedireito.com.br/anulabilidade-e-os-efeitos-retroativos-de-seu-
reconhecimento/.
143
RESUMO DO TÓPICO 2
• Nulidade e anulabilidade são sanções pelo desrespeito aos requisitos que a lei
prevê para realização de um negócio jurídico válido.
• A nulidade não pode ser confirmada, mas admite a conversão, assim como não
convalesce pelo decurso do tempo.
144
AUTOATIVIDADE
145
146
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2
FIGURA 3 – TEMPO
1 INTRODUÇÃO
Encerrado o estudo das invalidades, você pode saltar para o terceiro
degrau da Escada Ponteana: o plano de eficácia. Se você analisar bem os negócios
jurídicos do dia-a-dia, perceberá que, na maioria das vezes, os negócios que são
existentes e válidos, são automaticamente eficazes. E é isso mesmo. Em regra,
não estando contaminado por nenhum defeito, ou eivado de nulidade, o negócio
jurídico, assim que perfectibilizado, será capaz de emanar seus efeitos jurídicos.
147
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
NOTA
É preciso que se diga que, por vezes, o ato eivado de nulidade absoluta
produz efeitos jurídicos, a exemplo do que ocorre no casamento
putativo, ou seja, tem repercussões no plano da eficácia, e, bem assim,
na hipótese de atos praticados por menores (incapazes), sem a devida
representação ou assistência, mas com indiscutível eficácia jurídica e
aceitação social.
2 CONDIÇÃO
O primeiro elemento acidental é a condição. De acordo com o Art. 121 do
Código Civil: Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente
da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro
e incerto. Portanto, ela “é o acontecimento futuro e incerto, de cuja verificação
a vontade das partes faz depender o nascimento ou a extinção das obrigações
e direitos” (PEREIRA, 2011, p. 464). Dessa definição, extrai-se que a condição é
caracterizada por três elementos fundamentais:
a) a incerteza;
b) a futuridade;
c) voluntariedade.
148
TÓPICO 3 — ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
149
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei,
à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas
se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o
sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (BRASIL, 2002, s.p).
ᵒ Lícitas: são aquelas que estão de acordo com a lei, não contrariam a ordem
pública, nem os bons costumes. Não prejudicam de a validade do negócio
jurídico.
ᵒ Ilícitas: de outro norte, são exatamente aquelas que contrariam os preceitos
anteriormente descritos. Por exemplo, condicionar a doação de um bem a
prática de um crime. Também são proibidas, e portanto ilícitas, as condições
que privam de qualquer efeito o negócio (emprestar um vestido para uma
amiga, com a condição de que ela não o use), e aquelas que sujeitam a eficácia
do negócio ao puro arbítrio das partes, chamada de condição puramente
potestativa (por exemplo: te venderei minha casa se me der vontade). As
condições ilícitas, sejam suspensivas, sejam resolutivas, invalidam todo o
negócio jurídicos, nos termos do Art. 123, inciso II, do Código Civil. Ainda,
tem o mesmo efeito das condições ilícitas, as condições incompreensíveis
ou contraditórias, também chamadas de perplexas, consoante inciso III do
Art. 123.
• Quanto à possibilidade:
ᵒ Possível: condições possíveis “são aquelas que podem ser cumpridas, física
e juridicamente, não influindo na validade do negócio” (TARTUCE, 2016, p.
247).
ᵒ Impossível: “Condições fisicamente impossíveis são aquelas irrealizáveis por
qualquer pessoa, ou seja, cujo implemento exigiria esforço sobrenatural”
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 461). No que toca às condições
impossíveis, o ponto mais importante a ser observado é se ela é uma
condição suspensiva ou resolutiva, pois as consequências jurídicas de cada
uma são distintas. Se a condição impossível for suspensiva (por exemplo:
doarei um terreno a Fulano se ele correr uma maratona em cinco minutos),
todo o negócio é inválido, de acordo com o Art. 123, inciso II, do CC/02, visto
que ela impede qualquer eficácia. Por outro lado, se a condição impossível
é resolutiva (empresto meu tênis a Fulano até ele conseguir correr uma
maratona em cinco minutos), reputa-se inexistente apenas a condição, sendo
o negócio jurídico válido e eficaz, consoante previsto no Art. 124 do Código
Civil.
• Quanto à origem:
ᵒ Casual ou causal: são as condições que derivam de eventos naturais, ou
fortuitos, sobre os quais as partes não têm qualquer influência. Por exemplo:
te emprestarei meu guarda-chuva se estiver chovendo na hora que você sair.
150
TÓPICO 3 — ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
O código prevê, ainda, no Art. 126, que: Se alguém dispuser de uma coisa
sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquelas novas disposições,
estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.
Ou seja, mesmo no período de mera expectativa quanto à aquisição do direito,
o ordenamento protege a pessoa a quem se destinou um bem ou direito, não
podendo a pessoa que a destinou fazer novas disposições que sejam incompatíveis
com a primeira. Conforme elucida Meirelles (2013, p. 251):
151
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Por fim, uma última regra muito importante no que toca à condição é
a esposada no Art. 130: Ao titular do direito eventual, nos casos de condição
suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-
lo. Isso quer dizer que mesmo a parte tendo, no caso da condição suspensiva,
apenas uma expectativa de direito, ela poderá exercer direitos para conservá-lo
(por exemplo, registrar o termo de doação no Cartório de Registro de Imóveis).
Da mesma forma, também poderá o titular de um direito que pode se encerrar a
qualquer momento em razão do implemento da condição resolutiva, defendê-lo
(por exemplo, com o ingresso de uma ação de reintegração de posse do imóvel
que ocupa).
3 TERMO
Agora que você compreendeu o que é a condição, o estudo do termo
torna-se bastante facilitado. O termo, assim como a condição, é um evento futuro.
Entretanto, ao contrário daquela, ele é um evento certo. Portanto, é tudo que se
pode afirmar com certeza que acontecerá. Os temos mais utilizados são as datas.
Por exemplo: o contrato de locação terá início no dia 12 do próximo mês; ou, você
poderá acessar o seu curso online até o dia 31 de março do próximo ano.
152
TÓPICO 3 — ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
O termo também possui outras classificações. Ele pode ser um termo certo,
quando se souber exatamente quando vai ocorrer, sendo as datas o exemplo por
excelência deste tipo de termo. Pode ainda ser um termo incerto, que é um evento
certo, ou seja, que se tem certeza se vai acontecer, mas não se conhece quando
ocorrerá. O exemplo típico de termo incerto é a morte. Muita atenção: a morte
é um evento certo, pois sabe-se que um dia ocorrerá, mas não se sabe quando.
Portanto, se Fulano prever que doará mil reais por mês para uma organização
que resgata animais de rua depois que o seu cachorro morrer, ele está colocando
um termo inicial para esta doação, pois seu cachorro morrerá um dia, mesmo que
não se saiba quando. Todavia, se ele disser que fará a doação caso seu cachorro
morra no próximo ano, passa-se a ter uma condição, isso porque, muito embora
seja certo que o cachorro vai morrer um dia, não é possível asseverar que isso
ocorrerá no próximo ano. Portanto, muita atenção sempre que se deparar com
um elemento acidental cujo evento a que se refira seja a morte!
153
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
Ainda com relação a prazos, o Art. 133 prevê que: Nos testamentos,
presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do
devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias,
resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes.
Sobre esse dispositivo, Monteiro e Pinto (2016, s.p) comentam que:
154
TÓPICO 3 — ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
4 ENCARGO
Por fim, temos o último elemento acidental previsto no Código Civil, qual
seja, o encargo (também chamado de modo). Esse elemento é aplicável quase que
exclusivamente aos negócios jurídicos benéficos/gratuitos.
155
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
156
TÓPICO 3 — ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
157
UNIDADE 2 — DEFEITOS E INVALIDADES DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS E PLANO DE EFICÁCIA
LEITURA COMPLEMENTAR
Prazo para questionar doação só prescreve após data para cumprir condição
Termo inicial
FONTE: CONJUR. Prazo para questionar doação só prescreve após data para cumprir condi-
ção. 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-mar-04/prazo-rever-doacao-pres-
creve-data-cumprir-condicao. Acesso em: 10 jul. 2020.
158
RESUMO DO TÓPICO 3
• O encargo, se não for colocado como condição, não limita nem a aquisição,
nem o exercício do direito.
CHAMADA
159
AUTOATIVIDADE
160
UNIDADE 3 —
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
161
162
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3
ATO ILÍCITO
1 INTRODUÇÃO
Nas unidades anteriores, você estudou toda a classificação dos fatos
jurídicos e compreendeu a amplitude dos eventos que se enquadram nessa
definição e que nos cercam. Desse modo, sabendo que fatos jurídicos são todos
os eventos que dão origem, modificam ou extinguem direitos, você, como
futuro operador, está cada dia mais apto a identificar as situações juridicamente
relevantes que circundam o nosso dia a dia. De todos os fatos, entretanto, foi
dado maior destaque aos negócios jurídicos.
Como você pode perceber, os negócios jurídicos são fatos jurídicos que,
por dependerem da manifestação de vontade das partes, tanto para delimitação
do seu conteúdo, como para determinação dos seus efeitos, demandaram um
cuidado especial do legislador, a fim de delinear seus requisitos de validade e
eficácia. Do mesmo modo, já se previram, na legislação, os principais vícios que
podem macular os negócios jurídicos: o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo,
a lesão e a fraude contra credores, descritas as suas consequências. Além disso,
você também compreendeu que existem vícios mais graves que, por violarem
frontalmente os elementos fundamentais dos negócios jurídicos, podem causar a
nulidade, como a simulação absoluta ou, também, o desrespeito à forma.
163
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Por fim, fechando esta disciplina, você conhecerá quais os tipos de provas
de negócios jurídicos previstas no Código Civil. Embora o aprofundamento
da temática sobre provas esteja reservado às disciplinas de processo civil,
considerando que as provas são úteis não só em juízo, mas também fora dele, é
importante ter em mente as suas diferentes modalidades, as previsões legais e a
sua aplicabilidade. Outrossim, você compreenderá que prova não se confunde
com forma, embora, por vezes, estejam conectadas.
2 ATO ILÍCITO
164
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
em sentido estrito e negócio jurídico), o ato ilícito gera consequências que não
são aceitas pelo ordenamento, pois violam direitos. É o caso típico dos acidentes
de trânsito: quando um carro bate no outro, a consequência é a depreciação ou
o perecimento do patrimônio de alguém. De acordo com Tartuce (2016, p. 486),
“o ato ilícito é considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que
produz efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente aqueles
impostos pela lei”.
Importante observar, porém, que você estudará o ato ilícito civil. Entretanto,
“é fundamental apontar que há casos em que a conduta ofende a sociedade
(ilícito penal) e o particular (ilícito civil), acarretando dupla responsabilidade”
(TARTUCE, 2016, p. 486), podendo, também, atingir outras esferas jurídicas.
Veja o seguinte exemplo: Fulano é funcionário da empresa ZYX. Ele não possui
habilitação para dirigir, mas um dia, sem autorização dos seus superiores, pega
o carro da empresa para resolver um assunto particular. No caminho, atropela
Sicrana, que atravessava na faixa de pedestres. Pode-se perceber que, na situação,
Fulano praticou vários ilícitos: no âmbito trabalhista, no âmbito administrativo,
no âmbito penal e na esfera cível, e poderá ser punido em cada um deles com as
medidas cabíveis: demissão por justa causa, multa, pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos e condenação ao pagamento de indenização. Para o Direito
Civil, os fatos relevantes serão aqueles que geraram dano a alguém. No caso,
a lesão à pessoa atropelada e, eventualmente, os danos no veículo da empresa,
pelos quais Fulano poderá ser demandado a pagar indenização.
165
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
166
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
Quanto à ação humana, deve-se atentar para o fato de que ela pode se
dar de forma positiva, ou seja, por meio de uma ação, ou de forma negativa, por
meio de uma omissão. O primeiro caso é o que ocorre, por exemplo, quando
alguém, sem se atentar ao retrovisor, engata a marcha ré e atinge outro veículo.
Houve uma conduta ativa (comissiva), pois o motorista agiu para colocar o carro
em movimento, o que causou o resultado ilícito. A segunda situação ocorre, por
exemplo, quando o motorista deixa de acionar o freio de mão quando estaciona
seu veículo em uma ladeira, e acaba correndo morro abaixo e atinge outro veículo.
Em ambos os casos, portanto, houve uma conduta humana, a diferença é que,
em uma, foi a ação que diretamente causou o dano, enquanto na outra, foi uma
inação, uma omissão, a causa do acidente.
Sobre isso, Pereira (2011, p. 548, grifos do original) explica que “comete-o
comissivamente quando orienta sua ação num determinado sentido, que é
contraveniente à lei; pratica-o por omissão quando se abstém de atuar, se deverá
fazê-lo e, na sua inércia, transgride um dever predeterminado”.
167
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Um outro exemplo pode deixar a situação mais clara: Fulano para seu
carro no semáforo quando surge o sinal vermelho; Beltrano, que vinha logo
atrás, para também o carro normalmente; Sicrano, por sua vez, desatento, acaba
não freando a tempo e bate no carro de Sicrano, que bate no de Fulano. Nesse
caso, Sicrano não agiu voluntariamente, ele foi, literalmente, passageiro do seu
veículo, que foi deslocado devido à batida causada por Sicrano. Assim, Beltrano
não praticou qualquer ato ilícito.
Portanto, pratica ato ilícito por negligência quem, por exemplo, deixa de
fechar o portão de casa, onde tem um cachorro, e este foge e vem à morte um
transeunte; ou então, quem atropela um transeunte porque não arrumou o freio
do carro que estava estragado. Pode, ainda, cometer ato ilícito por negligência, e
caracterizar, também, uma imperícia, o médico que esquece material no corpo do
paciente durante uma cirurgia. Por imprudência, o ato ilícito pode ser praticado
por pessoa que atravessa via preferencial sem parar para verificar o fluxo; ou,
então, por trabalhador que acelera a velocidade recomendada para uso de um
maquinário. No caso da imperícia como modalidade da imprudência, pode-se
mencionar o médico que não utiliza a melhor técnica de sutura, causando feias
cicatrizes no paciente.
168
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
169
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
NOTA
170
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
171
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Assim, enquanto o ato ilícito stricto sensu a ilicitude reside no todo, tanto
no conteúdo como nas consequências; no abuso de direito a ilicitude está na forma
de execução do ato (TARTUCE, 2016). Ou seja, no ato ilícito temos um problema
de conteúdo, de direito material violado. No abuso de direito, o problema está na
forma de exercício de um direito que é garantido a parte. Tartuce (2016, p. 489,
grifos do original) esclarece, ainda, que “o abuso de direito é um ato lícito pelo
conteúdo, ilícito pelas consequências, tendo natureza jurídica mista – entre o ato jurídico
e o ato ilícito – situando-se no mundo dos fatos jurídicos em sentido amplo”.
Pode-se perceber, portanto, que na prática pode ser muito mais difícil
caracterizar o abuso de direito do que o ato ilícito, já que a conduta é em parte
lícita, legítima. Carpena (2013, p. 426) explica que:
172
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
Importante observar, deste excerto, que o abuso pode recair não só sobre
direitos tratados em sentido estrito, mas também sobre as liberdades, faculdades,
funções ou poderes. Por exemplo, se Fulano ingressar na casa de Sicrano sob a
justificativa de estar exercendo sua liberdade de ir e vir, estará abusando dessa
liberdade, ao invadir a esfera da privacidade de Sicrano. Ainda, se Beltrano tem
o poder familiar sobre seu filho, mas o exerce de maneira abusiva, imputando
castigos excessivos, por exemplo, também se pode falar em abuso. Do mesmo
modo, o empresário que tem a faculdade de demitir funcionários sem justa causa,
pode incorrer em abuso se fizer isso em retaliação a determinada reivindicação
legítima que um empregado tenha feito.
173
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
NOTA
174
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
175
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
176
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
Nesses casos, uma vez que a parte viola os termos do negócio ao qual está
atrelado voluntariamente, sua culpa é presumida. É o caso da pessoa que deixa
de receber o prestador do serviço no horário previsto no contrato. O prestador
poderá demandar o pagamento de indenização pelo inadimplemento do tomador,
sem que tenha que comprovar que este agiu com dolo ou com culpa.
177
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
A legítima defesa ocorre quando alguém tem que repelir uma agressão a
um direito próprio ou alheio no momento em que ocorre ou está prestes a ocorrer,
não havendo tempo hábil para acionamento das autoridades do estado. Ela exclui
a ilicitude do dano eventualmente causado, pois “a ação de quem se defende
ou acode outrem não infringe o ordenamento jurídico, mas sim ajusta-se a seu
comando” (CRUZ, 2013, p. 449).
178
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
Por fim, a pessoa que age em legítima defesa deve se utilizar dos meios
necessários, que são aqueles que:
NOTA
A legítima defesa exclui a ilicitude, o que significa, na prática, que quem causou
dano a outrem por agir em legítima defesa não poderá ser responsabilizado pelo dano
causado. Entretanto, deve-se atentar que, ao contrário do que ocorre no Direito Penal, no
âmbito cível, “a legitima defesa putativa não exclui o dever de indenizar” (TARTUCE, 2016, p.
585, itálico no original). E o que é a legítima defesa putativa? É aquela que ocorre quando a
ameaça não é real. A pessoa apenas acha estar em uma situação de agressão, quando na
verdade não está. Veja o seguinte exemplo:
Do mesmo modo, no Direito Civil, a defesa só será legítima quando for própria, não cabendo,
em regra, a legítima defesa de terceiros como excludente. Nesse sentido, advertem Farias e
Rosenvald (2017, p. 697): “Vale pontuar, ademais, que o Direito Civil, reversamente ao sistema
penal, não admite a legítima defesa putativa ou de terceiro, somente reconhecimento, com
causa de afastamento da ilicitude, a legítima defesa própria”.
180
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
181
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Você pode agora estar achando injusto que a pessoa, agindo em estado de
necessidade e, portanto, licitamente, tenha que indenizar a vítima do dano. Tal
solução, porém, não é absoluta. O causador do dano em estado de necessidade,
apesar de poder ser demandado e poder ter que pagar indenização à vítima,
poderá, depois, ingressar com uma ação, que chamamos de regressiva, contra
o verdadeiro causador do dano, ou seja, contra o responsável pela situação de
perigo que demandou a ação em estado de necessidade. Tartuce (2016, p. 586)
explica didaticamente essa questão:
182
TÓPICO 1 — ATO ILÍCITO
E
IMPORTANT
Agora, com o estudo do ato ilícito você concluiu o estudo das diferentes
categorias de atos jurídicos: fatos jurídicos em sentido estrito, ato jurídico em
sentido estrito, negócio jurídico e ato ilícito! No próximo tópico, você estudará
a prescrição e a decadência que são tipos de fatos jurídicos em sentido estrito de
extrema importância para o direito.
183
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
E
IMPORTANT
Afirma-se com frequência que a responsabilidade civil decorrente do abuso de direito in-
depende de culpa. Em sede doutrinária, é recorrente a tese de que o Art. 186 do Código
Civil conteria uma cláusula geral de responsabilidade por culpa, enquanto o Art. 187 ofere-
ceria uma cláusula geral de ilicitude de natureza objetiva. De certa forma, é também o que
propõe o Enunciado 37 na 1a Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro de Estudos
Judiciários do Conselho da Justiça Federal: A responsabilidade civil decorrente do abuso
do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.
[...]
A despeito de sua aceitação, tanto na literatura, quanto nos tribunais, a tese de que a res-
ponsabilidade decorrente do abuso de direito é objetiva comporta maior reflexão.
[...]
Todavia, não há, no Código Civil, nenhum ponto de apoio para a conclusão de que a
responsabilidade por abuso de direito seria independe de culpa. É, nesse aspecto, que o
Enunciado 37 da 1a Jornada se equivoca. A responsabilidade em caso de abuso de direito
pode ou não prescindir de culpa, a depender do suporte fático da pretensão indenizatória.
O fornecedor de produtos e serviços que abusa de seu direito responde objetivamente pe-
los danos sofridos pelo consumidor; mas isso decorre, não tanto do regime do abuso, mas,
antes, porque a responsabilidade do fornecedor está fundada no defeito do produto ou do
serviço, para o qual a culpa é irrelevante. A empresa jornalística que abusa de seu direito
pode, eventualmente, ser responsabilizada independentemente de culpa, com fundamen-
to na cláusula geral do Art. 927, parágrafo único, do Código Civil, desde que se considere
que sua atividade implica, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. De qualquer
forma, o abuso de direito, por si só, não torna objetiva a sua responsabilidade.
184
RESUMO DO TÓPICO 1
• Ato ilícito é um ato jurídico em sentido amplo que viola o ordenamento jurídico.
• Uma pessoa pode causar dano a outra sem que isso configure ato ilícito quando
no exercício da legítima defesa, de direito regular, ou em estado de necessidade.
185
AUTOATIVIDADE
1 Dentro dos fatos jurídicos em sentido amplo, além de todos os fatos, atos
e negócios que estão de acordo com o ordenamento jurídico, que tem suas
consequências nele previstas ou por ele tuteladas, temos também uma
modalidade específica para quando as consequências de um ato não estão
em consonância com o ordenamento, que é o ato ilícito. Ao contrário do
direito penal, cujas condutas precisam estar tipificadas especificamente para
que possam sem punidas, o ato ilícito civil deve ser identificado por seus
elementos genéricos, quais sejam: ação humana, ilicitude e prejuízo. Além
disso, também serão considerados ilícitos os atos que, apesar de pautados
em um direito da parte, extrapolarem os seus limites, causando prejuízo a
outras pessoas. Tendo isso em mente, analise as situações a seguir:
I- João se distraiu com seu celular e colidiu com o veículo que transitava na
sua frente, causando um amassado.
II- Sérgio resolveu limpar sua casa durante a noite, e para animar o serviço,
colocou músicas em volume alto, gerando desconforto aos vizinhos.
III- Ana, dançando em seu quarto, escorregou e caiu, ferindo o joelho.
2 Muitas vezes, danos são causados a fim de evitar um mal maior: Carla,
que conduzia seu veículo normalmente, ao vislumbrar um cachorro sobre
a pista, desvia do animal e, em razão da manobra, acaba arranhando um
veículo que estava estacionado. Nessa situação, é CORRETO dizer que:
a) ( ) Carla terá que pagar o prejuízo do dono do carro, mesmo tendo agido
em estado de necessidade.
b) ( ) Carla terá que pagar o prejuízo do dono do carro, pois praticou ato
ilícito.
c) ( ) Carla não terá que pagar o prejuízo do dono do carro, pois agiu em
estado de necessidade.
d) ( ) Carla terá que pagar o prejuízo do dono do carro, mesmo que seja ele o
responsável pelo cachorro na rua.
186
O que diferencia as duas espécies de atos [ato ilícito e abuso de
direito] é a natureza da violação a que eles se referem. No ato
ilícito, o sujeito viola diretamente o comando legal, pressupondo-
se então que este contenha previsão expressa daquela conduta.
No abuso, o sujeito aparentemente age no exercício de seu
direito, todavia, há uma violação dos valores que justificam o
reconhecimento deste mesmo direito pelo ordenamento. Diz-se,
portanto, que no primeiro, há inobservância de limites lógico
formais e, no segundo, axiológicos materiais. Em ambos, o agente
se encontra no plano da antijuridicidade: no ilícito, esta resulta da
violação da forma, no abuso, do sentido valorativo. Em síntese,
o ato abusivo está situado no plano da ilicitude, mas com o ato
ilícito não se confunde, tratando-se de categoria autônoma de
antijuridicidade (CARPENA, 2013, p. 427).
Agora, com as suas palavras, tente explicar as principais diferenças entre o ato
ilícito em sentido estrito (do Art. 186) e o abuso de direito (do Art. 187).
187
188
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3
DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, você estudará institutos extremamente relevantes para o
direito: a prescrição e a decadência. Elas representam consequências do decurso
do tempo sobre pretensões e direitos. Entretanto, para a contagem dos prazos e
para a implementação das consequências desses institutos, é necessário conhecer
a natureza de cada um, as diferenças entre si e as regras específicas que as regem.
2 DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
FIGURA 2 – RELÓGIO
189
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
190
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
191
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
192
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Outro ponto relevante no que diz respeito a prescrição que deve ser
destacado, é que a prescrição não tem apenas o efeito de extinguir pretensões. A
prescrição tem o poder também de permitir a aquisição de direitos. Nas palavras
de Farias e Rosenvald (2017, p. 734), “[...] convém ressaltar que a prescrição tem
de ser compreendida a partir de uma dualidade conceitual, servindo, a um só
tempo, para extinguir situações jurídicas (prescrição extintiva) e para consolidar
relações que se protraem, se perpetuam, no tempo (prescrição aquisitiva)”. Ainda
sobre o tema, os autores explicam que:
193
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
194
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Assim, quando há direitos, que por sua própria natureza possuem prazo
determinado para serem exercidos, o decurso desse prazo, aliado à inércia do
titular, caracterizará a decadência (também chamada de caducidade) desse direito
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015). Resumindo: a decadência
195
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
NOTA
196
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
DICAS
Pois bem. Da própria leitura do Art. 189 do Código Civil, é possível concluir
que a contagem se inicia com o nascimento da pretensão. Portanto, o marco inicial
será a data da violação do direito. Ou seja, se Fulano empresta dinheiro para Sicrano,
sendo combinado que Sicrano deveria devolver o valor até 20 março, e Sicrano não
o faz, 20 de março será a data a violação do direito. Se esse empréstimo foi feito por
meio de instrumento particular (um contrato de mútuo), o prazo prescricional é de
5 (cinco) anos, nos termos do Art. 206, §5º, I, do Código Civil.
197
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
NOTA
O entendimento que vem sendo firmado é no sentido de que o prazo para o exercício
da pretensão não pode ser iniciado antes de a parte ter ciência da violação. Para que esta
exceção seja aplicada, porém, deve a parte demonstrar que só teve ciência em momento
posterior, conforme ensinam Farias e Rosenvald (2017, p. 741):
Nesse sentido, há, inclusive, Súmula do STJ versando sobre o marco inicial da prescrição
nas ações de cobrança de seguro. A Súmula 278 dispõe que: “O termo inicial do prazo pres-
cricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da
incapacidade laboral” (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2003, s.p.). É no mesmo sentido o
Enunciado 539 do CJF: “Nas pretensões decorrentes de doenças profissionais ou de caráter
progressivo, o cômputo da prescrição iniciar-se-á somente a partir da ciência inequívoca
da incapacidade do indivíduo, da origem e da natureza dos danos causados” (CONSELHO
DA JUSTIÇA FEDERAL, s.d., s.p.).
198
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
E
IMPORTANT
[...]
No julgado esposado, com a aplicação da teoria da actio nata na viés subjetiva, ainda que
de maneira implícita, temos, pois, a valoração do princípio da boa-fé objetiva, mais adequa-
do às ideias de eticidade, socialidade e por corolário, mais justo, obstando que o titular do
direito seja prejudicado por não ter tido conhecimento da lesão que lhe foi imposta.
A teoria da actio nata na viés subjetiva é explanada como sendo o início do termo da pres-
crição que fluirá a partir do conhecimento inequívoco da lesão ou violação do seu direito
nos casos em que envolvam ilícitos oriundos a responsabilidade extracontratual (visão ado-
tada pelo Professor José Fernando Simão), e/ou também por responsabilidade contratual
(visão adotada pelo Professor Flávio Tartuce), e não de sua violação que a ação é chamada
a combater, objetivamente, como ensina Savigny.
[...]
Insta salientar que a teoria da Actio Nata em sua viés subjetiva, será aplicada em caráter de
exceção e somente na prescrição cuja natureza seja extintiva, sempre avaliado pelo caso
concreto, como já previa o professor Simão, observando ainda no tocante ao que vaticina
o Art. 374 do novo Código de Processo Civil, fatos que independem de prova.
No esteio, tal tese veio a contemplar de modo incisivo a boa-fé objetiva, onde se espera
das partes uma conduta de lealdade, que por sua vez fora muito ressaltada quando do
surgimento do nosso novo Código de Processo Civil, conforme se verifica nos Arts. 5° e 6°.
Tal tese vem sofrendo duras críticas, posto que restava claro o lapso deste entendimento,
haja vista que a pretensão na verdade só nasceria efetivamente para a vítima do ilícito ex-
trajudicial ou contratual quando do conhecimento inquestionável da lesão ou da violação
do direito subjetivo, sendo impossível exercer tal pretensão em momento anterior a esta
cognição.
Ora, se não há conhecimento de lesão ou violação do direito subjetivo, não há que se falar
em nascimento da pretensão, sendo certo que o termo sequer começaria a fluir (faceta
subjetiva da teoria da actio nata). Entendimento diverso nos dias atuais tem se mostrado
superado, retratando uma verdadeira injustiça para com o lesado.
199
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
200
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Por fim, apesar de ser uma exigência natural dos princípios que norteiam
nosso ordenamento jurídico, a renúncia da prescrição também não pode ser feita
com prejuízo de terceiros. Lembre-se, por exemplo, da situação de uma pessoa
insolvente: se ela perdoar um credor, há fraude contra credores; se ela pagar uma
dívida ainda não vencida, quem recebeu poderá ser demandado a devolver o
valor; do mesmo modo, se ela pagar uma dívida prescrita, em detrimento de
outras, também estará incidindo em conduta repudiada pelo direito. Sobre esse
ponto, Farias e Rosenvald (2017, p. 738) pontuam que:
NOTA
Sobre o tema, o Enunciado 295 do CJF destaca que: “A revogação do Art. 194
do Código Civil pela Lei n° 11.280/2006, que determina ao juiz o reconhecimento de ofício
da prescrição, não retira do devedor a possibilidade de renúncia admitida no Art. 191 do
texto codificado” (CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL, s.d., s.p.). Ou seja, o fato de se permitir
que o juiz reconheça de ofício a prescrição, não impede que a parte beneficiada a renuncie,
razão pela qual, inclusive, é recomendado que os magistrados sempre consultem ambas as
partes antes de extinguir uma demanda pela prescrição.
201
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
O Art. 193, por sua vez, dispõe que: A prescrição pode ser alegada
em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita. Em regra, nos
procedimentos de direito privado, as alegações devem ser feitas no primeiro
momento em que se fala nos autos, não sendo possível inovar as teses se não há
uma causa superveniente. A questão da prescrição, porém, foge a esta lógica, pois
mesmo que a parte, por qualquer motivo, tenha deixado de alegar a prescrição
em um primeiro momento, poderá aventá-la posteriormente. “Ilustrando, a
prescrição pode ser alegada em sede de apelação, ainda que não alegada em
contestação” (TARTUCE, 2016, p. 320)
Entretanto, deve-se atentar que a inovação só pode ser feita nos graus
de jurisdição ordinários, não se podendo invocar a prescrição não alegada
anteriormente, por exemplo, em sede de Recurso Extraordinário perante o
Supremo Tribunal Federal. Farias e Rosenvald (2017, p. 752) explicam que:
202
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Por fim, ainda no que toca a essas disposições gerais sobre a prescrição,
o Art. 196 prevê o seguinte: A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a
correr contra o seu sucessor. Ou seja, se Fulano tem uma dívida para cobrar de
Sicrano, e já se passaram dois anos do prazo prescricional quando vem a falecer,
os sucessores de Fulano terão apenas o tempo remanescente para cobrar Sicrano.
Objetivamente, quer dizer que se o titular do direito falece sem que o tenha
reclamado, o prazo não se reiniciará para seus sucessores. Sobre esse dispositivo,
Tartuce (2016, p. 325-326) ainda comenta que:
203
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
204
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
NOTA
205
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
O inciso I traz uma causa que hoje é bastante objetiva, ou seja, não corre
prescrição contra os absolutamente incapazes que, desde 2016, são apenas as
crianças e adolescentes até 16 anos. Portanto, pode-se dizer tranquilamente
que essa é uma causa apenas de impedimento, e não de suspensão do prazo
prescricional, uma vez que alguém que ultrapassou o marco da incapacidade
absoluta, nunca voltará a ser absolutamente incapaz. Entretanto, a redação desse
artigo é anterior à alteração do disposto no Art. 3º do CC/02, de modo que, para
algumas situações, as consequências da mudança acabaram não sendo totalmente
benéficas. Farias e Rosenvald (2017, p. 744-745, itálicos no original) fizeram uma
ponderação detalhada sobre a questão:
206
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
NOTA
A doutrina estende a amplitude desse dispositivo para que se aplique também aos
ausentes. Tartuce (2016, p. 327) explica que “há entendimento pelo qual a ausência, causa de
morte presumida, está incluída nesse Art. 198, II, do CC”. Nesse sentido, extrai-se, do Enunciado
156 do CJF, que: “Desde o termo inicial do desaparecimento, declarado em sentença, não corre
a prescrição contra o ausente” (CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL, s.d., s.p.).
O inciso III diz respeito àqueles que estiverem nas forças armadas em
tempos de guerra. Do mesmo modo que com relação ao inciso antecedente, a
justificativa para esta suspensão é o fato de a pessoa ter que se dedicar ao serviço e
não dever ter que ficar se preocupando com o prazo para ingressar com demandas
de ordem privada. Na leitura estrita do Código, este inciso só é aplicável aos
servidores das Forças Armadas em tempos de guerra, não sendo um benefício
para os militares ou conscritos em geral. Tartuce (2016, p. 327, grifos do original),
entretanto, pondera que:
207
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
208
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no
juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença
definitiva (BRASIL, 2002, s.p)
De acordo com Tartuce (2016, p. 328), “esse dispositivo legal tem aplicação
direta aos casos que envolvem a pretensão indenizatória, com prazo prescricional
de três anos, contados da ocorrência do evento danoso ou do conhecimento de
sua autoria, conforme o Art. 206, §3º, V, do atual CC”. Ou seja, ele é aplicável nos
casos em que há ato ilícito que também é um ilícito criminal.
ATENCAO
O prazo prescricional para a ação civil ex. delito só se inicia com a sentença
definitiva da ação penal. Ou seja, após o trânsito em julgado da última decisão proferida,
quando não há mais possibilidade de recursos.
ATENCAO
210
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Além disso, o caput do Art. 202 prevê que a interrupção somente poderá
ocorrer uma vez. Ou seja, enquanto a suspensão pode ocorrer tantas vezes quanto
surgirem suas causas, a interrupção incidirá apenas uma vez sobre o prazo
prescricional. Entretanto, consoante comentam Farias e Rosenvald (2017, p. 750,
grifos do original):
211
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Por sua vez, o inciso III versa sobre o protesto de cambial, ou seja, aquele
efetuado nos cartórios de protesto. É, portanto, uma causa extrajudicial de
interrupção da prescrição.
O quinto inciso é uma cláusula supletiva. Aponta que qualquer ato judicial
que constitua em mora o devedor é suficiente para interromper a prescrição. Isso
ocorre, por exemplo, nos casos do ingresso de ações de notificação ou interpelação
judicial. Muito importante perceber que o dispositivo fala em ato judicial, assim,
conforme adverte Tartuce (2016, p. 331, grifos do original):
213
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Por fim, o parágrafo único do Art. 202 dispõe sobre o momento em que
o prazo prescricional volta a fluir. Basicamente, se o ato realizado é único, assim
que feito, será realizada a interrupção e o prazo voltará a correr do zero. Se o ato
se realiza por meio de um processo, o prazo zerado só volta a correr ao final deste.
Farias e Rosenvald (2017, p. 750) explicam que:
214
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
215
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este
Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido
mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada (BRASIL, 2002,
s.p)
216
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Observe, porém que, se o dano sofrido por Fulano tivesse ocorrido em 20/04/1994,
em janeiro de 2003 haveria passado menos de 10 anos, de forma que o prazo
prescricional aplicável seria o do novo Código. Assim, a pretensão de Fulano
estaria prescrita em 11/01/2006.
O Art. 206, por sua vez, traz inúmeras situações que tem o prazo de
prescrição entre 1 (um) e 5 (cinco) anos. O §1º traz as pretensões que prescrevem
em um ano. Entre elas destaca-se a prescrição da pretensão para cobrança pelo
fornecimento de hospedagem ou alimentos em hospedarias, pensões e congêneres,
e a prescrição da pretensão do segurado contra a seguradora ou da seguradora
contra ele (aplicável aqui aos seguros privados, facultativos).
O §2º do Art. 206 traz apenas uma hipótese de pretensão que prescreve em
dois anos, que a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em
que se vencerem. Sobre o parágrafo, é importante lembrar que não corre prescrição
contra os absolutamente incapazes (Art. 198, I, CC/02), e nem entre ascendente
e descendente durante o poder familiar (Art. 197, I, CC/02). Deste modo, não
prescrevem os alimentos fixados a menor de 16 anos, e nem ao adolescente entre
16 e 18 anos se o alimentante for seu ascendente.
217
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
ATENCAO
O Art. 208, por sua vez, elenca dois dispositivos que tratam da prescrição,
mas que também são aplicáveis à decadência. São eles: o Art. 195 e o Art. 198,
inciso I, do Código Civil. Lembre-se: o Art. 195 versa sobre a possibilidade de o
incapaz, que foi prejudicado por seu representante não tomar as providências
em tempo de evitar a prescrição, demandar ação contra essa pessoa para ser
ressarcido. O inciso I, do Art. 198, por sua vez, dispõe que não corre prescrição
contra os absolutamente incapazes. Portanto, também não corre decadência
contra os absolutamente incapazes.
219
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
ATENCAO
Com relação à primeira norma, verifica-se que, com a revogação do Art. 194,
é a mesma aplicável à prescrição. Ou seja, percebendo a ocorrência da decadência
legal, o juiz pode declará-la de ofício. Entretanto, em respeito ao contraditório,
deve sempre consultar as partes antes de extinguir o processo. A regra, porém, de
acordo com a redação legal, não se aplica à decadência contratual, a qual deverá
ser arguida pela parte interessada. Por fim, o Art. 211 salienta que mesmo sendo
convencional, a decadência poderá ser alegada em qualquer grau de jurisdição.
Não pode, entretanto, o juiz declará-la de ofício.
220
TÓPICO 2 — DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
221
RESUMO DO TÓPICO 2
• A prescrição pode ser interrompida, mas a interrupção só ocorre uma vez, e faz
com que o prazo volte a correr do zero.
222
• A decadência, em regra, não é impedida, suspensa ou interrompida.
223
AUTOATIVIDADE
a) ( ) 06/04/2024.
b) ( ) 03/03/2024.
c) ( ) 06/04/2022.
d) ( ) 03/03/2022.
224
( ) Daiana nasceu em 18/07/2006. Em 25/10/2007 o juiz condenou o seu pai,
Artur, a pagar-lhe pensão alimentícia. Artur não está pagando a pensão
de Daiana desde o mês de julho de 2013. Em julho de 2015 prescreveu a
pretensão de Daiana cobrar as pensões atrasadas por seu pai.
( ) Willian, nascido em 05/05/2002, teve seu celular quebrado por um colega
de aula no dia 10/10/2018. Willian poderá ingressar com ação de reparação
civil contra o colega até o dia 11/10/2021.
( ) Renata, através de instrumento particular, emprestou R$ 10.000,00 para
Lucas, que deveria devolver o valor em 07/07/2014. Lucas não pagou Renata
na data acordada. Em 20/09/2016 Renata e Lucas casaram-se, mas, três anos
depois, em 20/09/2019, divorciaram-se. Quando do divórcio, Lucas ainda
não tinha pago a dívida com Renata, mas ela não poderá mais cobrá-lo, pois
a dívida já havia prescrito.
( ) Heitor foi lesionado por Fábio durante uma briga em 18/09/2015. Heitor
ajuizou ação criminal contra Fábio. O processo criminal só teve a sentença
tornada definitiva em 20/06/2019. Heitor poderá ingressar com a ação de
reparação civil contra Fábio até 21/06/2022.
225
a) ( ) A pretensão de Gustavo prescreveu em 11/01/2006.
b) ( ) A pretensão de Gustavo prescreveu em 11/02/1995.
c) ( ) A pretensão de Gustavo prescreveu em 11/02/2012.
d) ( ) A pretensão de Gustavo prescreverá em 11/01/2023.
226
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Durante o estudo dos temas anteriores, provavelmente, em algum
momento, você se perguntou: como provar isso? Pois, sabemos que quando as
partes não estão de acordo e é necessário que um fato ou negócio jurídico seja
levado ao judiciário para que se resolva alguma controvérsia, a parte que alega
um fato terá que prová-lo perante o juiz. No presente tópico, então, você irá
estudar os meios de provas referentes aos negócios jurídicos, as quais poderão
ser utilizadas tanto para as relações extrajudiciais, ou, se necessário, fazer prova
em um processo judicial.
227
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
O Código Civil elencou cinco meios de prova pelo qual é possível provar
os negócios jurídicos. Vejamos:
Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico
pode ser provado mediante:
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V – perícia (BRASIL, 2002, s.p)
Agora você estudará cada um desses tipos de provas que foram elencados
no Código Civil, alguns tendo regulamentação explícita e outros não.
228
TÓPICO 3 — DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
2.1 CONFISSÃO
De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2015, p. 473), “a confissão é o
reconhecimento livre da veracidade do fato que a outra parte da relação jurídica
ou do próprio negócio pretende provar”. Ou seja, é quando alguém admite que é
verdade o que a outra parte alega com relação à sua conduta, em geral incidindo
em uma consequência desfavorável para o confitente.
O Art. 214, por sua vez, dispõe que: A confissão é irrevogável, mas pode
ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação. Gagliano e Pamplona Filho
(2015, p. 474), comentando esse dispositivo, explicam que:
229
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
2.2 DOCUMENTO
Os documentos são amplamente usados como provas, uma vez que
admitem o registro dos negócios jurídicos, ou de parte deles, de forma diversa.
Conceitualmente, pode-se dizer que documento é “[...] um escrito representativo de
determinado fato jurídico” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2015, p. 475, grifos
do original).
230
TÓPICO 3 — DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
Um dos documentos que pode ter maior peso como prova em um processo
é a escritura pública. Isso porque, conforme o Art. 215, caput, a escritura pública,
lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova
plena. O fato de a escritura pública ter fé pública e fazer prova plena, que dizer
que, no que toca às declarações e à forma, gozam de uma presunção absoluta de
veracidade, só estando passíveis de questionamento se comprovada grave fraude
e violação de deveres do tabelião responsável pelo documento. Isso não quer dizer,
porém, que tudo que envolve o negócio jurídico insculpido na escritura não seja
questionável. O que é declarada pelo tabelião faz prova plena, mas o que houve
por traz, antes de as partes declararem tal conteúdo perante o oficial público, é
passível de questionamento (por exemplo, uma coação, ou uma simulação).
Acaso uma das partes não souber ou não puder assinar, outra assinará
a seu rogo. Ainda, prevê-se que é obrigatório a escritura ser redigida na língua
nacional e, caso algum dos envolvidos não a entenda, poderá ser chamado
intérprete.
232
TÓPICO 3 — DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
233
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
O Art. 222, por sua vez, trata sobre o telegrama: O telegrama, quando
lhe for contestada a autenticidade, faz prova mediante conferência com o
original assinado. Isso quer dizer que “a presunção legal (relativa, logicamente)
de autenticidade do telegrama restringe-se à forma e ao que dele consta, não
podendo atingir aos fatos que estão nele consignados” (FARIAS; ROSENVALD,
2017, p. 827). Esse meio de comunicação vem caindo em desuso, razão pela
qual “[...] a jurisprudência, inclusive, já admitiu a aplicação das regras sobre o
telegrama também ao fax e ao telex. Veja-se, nessa linha de ideias, não haver
motivo para que não se estenda a referida regra também ao correio eletrônico”
(FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 828).
O Art. 223 tem extrema relevância prática, uma vez que é corriqueiro a
utilização de cópias reprográficas para instrução dos processos. O dispositivo
legal prevê que:
[...] Como o título de crédito vale pelo que contém, regido pelos
princípios da literalidade, cartularidade, autonomia e abstração,
a exigência legal apresenta-se de significativo interesse prático,
excepcionando a regra contida no caput do dispositivo legal,
coadunando-se, ainda, como os Arts. 887 do próprio Código Civil.
Assim sendo, a produtividade de efeitos concretos pelos títulos de
crédito depende da sua apresentação no original, não sendo admitida
cópia, nem mesmo regularmente autenticada.
234
TÓPICO 3 — DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
Para que sirvam como prova, em regra, conforme o Art. 224, os documentos
redigidos em língua estrangeira serão traduzidos para o português para ter
efeitos legais no país. Portanto, “os documentos produzidos no país (inclusive
os instrumentos negociais) devem estar em língua portuguesa, garantindo
fácil acesso ao seu conteúdo por todos, além de corresponder a uma exigência
decorrente de motivações atreladas à própria soberania nacional” (FARIAS;
ROSENVALD, 2017, p. 830).
235
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
2.3 TESTEMUNHA
A prova testemunhal costuma ser de extrema importância para a solução
de diversos litígios. A sua regulamentação no Código Civil, entretanto, foi
significativamente afetada pela entrada em vigor, tanto do Estatuto da Pessoa
com Deficiência (Lei nº 13.146/15), como do Código de Processo Civil (Lei nº
13.105/15). Restou, apenas ainda vigente, o Art. 228, com parte de seus incisos.
236
TÓPICO 3 — DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
O Art. 228 do Código Civil trata sobre as pessoas que não podem ser
admitidas como testemunhas, quais sejam: os menores de dezesseis anos; o
interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; os cônjuges,
os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das
partes, por consanguinidade, ou afinidade.
2.4 PRESUNÇÕES
O Código Civil também menciona como meio de prova as presunções.
237
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
2.5 PERÍCIA
Por fim, temos a prova pericial. Ela é “destinada a elucidar fatos que exigem
percepção técnica e qualidades sensoriais especializadas dos observadores, aliadas
a conhecimentos científicos e técnicos” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 835). É a
prova técnica, ou seja, que demanda conhecimento, habilidades e procedimentos
específicos para se chegar a alguma conclusão. São exemplos típicos de provas
periciais os exames de DNA, as medições de áreas em ações reivindicatórias, as
avaliações contábeis, os exames grafotécnicos, dentre outros.
238
TÓPICO 3 — DA PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
O Art. 232, por sua vez, prevê que a recusa à perícia médica ordenada
pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame. É uma
norma complementar à anterior. Quer dizer: além de a recusa à perícia médica
não poder ser utilizada a favor da parte, esta pode, inclusive, ser usada contra si.
Antes mesmo da positivação dessa norma, já era o entendimento dos tribunais,
em especial nos casos de ações de investigação de paternidade em que os réus se
negavam a realizar o exame genético.
239
UNIDADE 3 — ATO ILÍCITO, PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIAS, E PROVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
LEITURA COMPLEMENTAR
[...]
[...]
240
RESUMO DO TÓPICO 3
• A confissão é irretratável.
• A confissão pode ser feita por meio de representante, desde que este tenha
poderes específicos para tanto.
• Testemunha é uma pessoa não relacionada aos fatos que o conhece direta ou
indiretamente.
CHAMADA
241
AUTOATIVIDADE
I- A confissão pode ser realizada por representante, desde que tenha poderes
para tanto.
II- Um contrato escrito é um instrumento.
III- Qualquer pessoa, mesmo que parente ou amiga íntima de uma das partes,
pode ser testemunha.
242
REFERÊNCIAS
ALVES, L. J. L. F. T. Não fiz contrato, e agora? 2019. Disponível em: https://jus.
com.br/artigos/72126/nao-fiz-o-contrato-e-agora. Acesso em: 21 jun. 2020.
243
BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código
Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del2848compilado.htm. Acesso em: 18 fev. 2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça [STJ]. REsp 1264112/PR, Rel. Ministro Ari
Pargendler, Primeira Turma, julgado em 12/11/2013, DJe 29/11/2013.
Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_
registro=201101565441&dt_publicacao=29/11/2013. Acesso em: 28 nov. 2019.
244
CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciado 413. Brasília, [s.d.].
Disponível em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/224. Acesso em: 15
fev. 2020.
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