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Sebenta de
Introdução ao Direito
ANUAL
Inês Freitas
Gustavo Lopes Flávia Silva
NOTA INTRODUTÓRIA:
Bom estudo!
1
Conteúdo
Noção e sentido do Direito- o que é o Direito, o que significa o Direito? ............................... 4
Fenómenos do Direito............................................................................................................. 4
A Ordem natural e a Ordem social ....................................................................................... 5
Instituições .............................................................................................................................. 7
O costume – Breve noção introdutória ................................................................................. 9
Teoria- “Problema da Força normativa dos factos”.............................................................. 10
As correntes do Realismo Jurídico .................................................................................. 11
Conjuntos de normas que regulam a nossa vida em sociedade: ........................................... 12
Ordens religiosas .................................................................................................................. 12
Ordem de trato social ........................................................................................................... 13
Ordem Moral ........................................................................................................................ 13
Distinção entre Direito e Moral - ....................................................................... 14
Objeção de consciência ......................................................................................................... 17
A Ordem jurídica ................................................................................................................. 19
Características da ordem jurídica: ..................................................................................... 21
Qual é papel da coação no direito? ......................................................................................... 27
Valores do Direito: Justiça e Segurança ................................................................................. 30
3 elementos lógicos da justiça: ............................................................................................. 31
Segurança .............................................................................................................................. 32
Potencial ocorrência de tensão entre a justiça e da segurança ......................................... 34
Institutos que são predominantemente manifestações de preocupações de justiça ........ 35
Direito Positivo VS Direito Natural ........................................................................................ 36
Problema do direito Natural ................................................................................................ 37
Dr. Freitas do Amaral, três fatores que justificam a existência do direito natural: ....... 38
Natureza imutável e universal do direito natural .............................................................. 39
Ramos do Direito ...................................................................................................................... 39
Direito Público VS Direito Privado ..................................................................................... 40
Direito internacional público .................................................................................... 42
Direito da União Europeia ................................................................................................... 42
Direito dos organismos intermédios .................................................................................... 44
Ramos do Direito Público ........................................................................................................ 44
Ramos do Direito Privado........................................................................................................ 49
Direito Civil ........................................................................................................................... 49
Direito das obrigações .......................................................................................................... 50
Direito das coisas ou direitos reais ...................................................................................... 50
2
Direito da família .................................................................................................................. 51
Direito comercial .................................................................................................................. 52
Direito do trabalho ............................................................................................................... 52
Direito Internacional Privado.............................................................................................. 53
Direito da propriedade intelectual ...................................................................................... 53
A Norma Jurídica ..................................................................................................................... 54
Características das normas jurídicas:................................................................................. 63
Classificação das normas jurídicas ..................................................................................... 64
A criação normativa estadual .................................................................................................. 67
Técnicas legislativas principais............................................................................................ 67
A codificação – criação normativa estadual ....................................................................... 73
3
Noção e sentido do Direito- o que é o Direito, o que significa o
Direito?
Definir direito não só no sentido científico e técnico, mas como arte e área de
intervenção humana é difícil. Assim sendo, considera-se “Direito” uma palavra
polissémica.
(Alguns exemplos)
Fenómenos do Direito
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nunca ao Homem isolado, porque se assim fosse não seria necessário existir
o Direito. Oliveira Ascensão diz: “há uma ligação necessária e constante
entre Direito e sociedade”.
Deste modo, podemos dizer que o Direito funciona sempre numa lógica de alteridade,
isto é, sempre em relação:
No entanto, Oliveira Ascensão afirma que muito mais há do que apenas esta ligação,
que faria com que o fenómeno social fosse unicamente pressuposto do fenómeno
jurídico. Deste modo, podemos considerar a sociabilidade como algo inato ao homem.
→ A vida em sociedade é regulada, por ordens, por normas, por regras; “sem ordem
sociedade nenhuma lograria subsistir” – Oliveira Ascensão (O.A)
5
ordem que rege os fenómenos da natureza. Não se considera que estas normas
são violadas, mas sim desmentidas.
Exemplo: Quando apareceu o Heliocentrismo viu-se que a teoria geocêntrica
estava errada e consequentemente desapareceu.
Existem ordens semelhantes à ordem natural: ordem técnica e ordem lógica.
Ordem técnica: regula a conduta adotar para obter bens que a sociedade não
oferece espontaneamente (Ex: Que elementos químicos tenho de juntar para
fazer ácido sulfúrico).
Ordem lógica: ordem autónoma da ordem natural porque não rege da natureza,
é puramente axiomática. Ordem fatal e universalmente válida, inviolável.
Costuma integrar a ordem ou ordens matemáticas e até filosóficas (Ex:
Hipotenusa ꞊ c ao quadrado x c ao quadrado).
“Essas leis não têm verificação fatal. Não o dizemos por poderem estar mal formuladas
(o que acontece frequentemente, dada a grande dificuldade de determinação dos fatores
decisivos e a impossibilidade de experimentação), mas por não serem leis naturais,
devendo contar-se com a possível insurgência da vontade do homem.” – Oliveira
Ascensão.
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DESCREVEM, MAS NÃO REGULAM
Uma ordem normativa é necessariamente uma ordem de condutas – mas o contrário não
é verdade.
Instituições
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As instituições:
Ø Variam de povo para povo e de cultura para cultura, não comuns a todas as
sociedades e só são institucionalizados os setores mais importantes para a vida
em sociedade. Exemplo: família, escola, casamento, contratos, propriedades,
prisões, museus (...)
Ø As instituições são, normalmente, transmitidas de geração em geração;
Ø São criações sociais e culturais, mas tendem para a juridificação, ou seja, a
serem absorvidas pelas normas jurídicas;
Ø As isntituições também sofrem mutações, há instituições que têm vindo a sofrer
desinstitucionalização: como por exemplo na instituição da família: atualmente é
comum o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
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As relações sociais não podem ser arbitrárias, porque a arbitrariedade gera incerteza,
decomposição da sociedade. “As relações sociais não podem ser arbitrárias; o arbítrio,
alastrado, decomporia a sociedade”.
Cada sociedade são as relações de índole cultural que existem nos seus membros.
Convicção da
obrigatoriedade
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Este é o entendimento dos empiristas do século XX, e dos realistas do século XXI.
Esta teoria é apresentada para tentar responder à questão: Os factos criam ou não
normas?
ü No entanto, existem autores que não concordam com esta teoria e defendem
que: apesar de existirem exemplos na história de como uma conduta aceite
iniversalmente por uma grande parte dos membros de uma sociedade acaba
por se impor como uma norma válida, a verdade é que: o que efetivamente
se verifica é que uma conduta social que se afasta da norma vigente só
adquire caráter normativo quando se generaliza a convicção de que é justa e
correta, ou seja, quando se afirma como legítima e vinculante. Além disso,
para estes autores o Direito situa-se no “Deve ser” e não no “ser”.
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As correntes do Realismo Jurídico
1) Crítica principal: Qual é o critério que está por detrás das decisões do
tribunal e que impede o juiz a decidir de dada forma?
2) Abre oportunidade a decisões arbitrárias e à subjetividade.
3) Se negarmos a existência de normas jurídicas anteriores à decisão
do juiz, então as decisões judiciais serão necessariamente arbitrárias
e baseadas em convicções pessoais.
4) Se negarmos a existência de normas jurídicas anteriores à decisão
do juiz, onde é que se fundamenta a autoridade de decisão do
tribunal?
5) Se a decisão do juiz é o único Direito reconhecido, o que é que justifica os
recursos em tribunal?
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Conjuntos de normas que regulam a nossa vida em sociedade:
↓
Ordens religiosas
Notas:
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Ordem de trato social
“Não se observando estas regras a convivência torna-se mais difícil mas a comunidade
não fica em perigo.” – Oliveira Ascensão.
“A ordem do trato social tem o mesmo sentido objetivo dum “ser devido” e por isso é
verdadeiramente uma ordem normativa” – Oliveira Ascensão.
Ordem Moral
Moral positiva – “conjunto de regras morais, ou aceites como tal, que vigoram numa
sociedade. Essas regras determinam comportamentos e relações sociais em medida
necessariamente vasta, pois o aperfeiçoamento individual só se realiza na participação
social.” – Oliveira Ascensão.
“toda a ordem moral, mesmo que de não generalizada aceitação, aspira à transformação
da ordem social, fazendo banir dela elementos nocivos ao aperfeiçoamento dos seus
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membros ou, dito positivamente, tenderá fazer implantar as condições favoráveis para
tal.” –Oliveira Ascensão.
Nota: Existe uma tendencial sobreposição das normas jurídicas e morais, mas nem
todas as normas jurídicas são morais, já que há normas jurídicas que não têm qualquer
tipo de elemento moral. Exemplo: regras de trânsito.
èHá um conjunto de normas jurídicas que são técnicas, que são amorais;
Exemplos: código da estrada: conduzir pela direita ou pela esquerda; uniforme dos
militares; abertura das câmaras legislativas.
èHá normas jurídicas cujo a aplicação ao caso concreto pode revelar-se imoral.
èDe facto, a moral tem uma certa dimensão individual, mas não podemos negar que há
uma moral geral na sociedade.
èHá normas jurídicas cujo o conteúdo pode ser encarado como imorais.
“Se as regras jurídicas não têm pois necessariamente conteúdo moral, é escusada
qualquer consideração ulterior sobre uma teoria que concebe o Direito como uma ordem
da mesma natureza que a moral – como um mínimo ético” - Oliveira de Ascensão
2- Critério da heteronomia
O Direito é uma criação exterior ao sujeito enquanto a moral é uma criação do próprio
sujeito.
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Crítica:
Se a ordem jurídica é de facto heterónima (que é), é exterior a cada sujeito, já não é
verdade que a moral seja uma criação autónoma, assente numa autoimposição do sujeito
aos ditames da sua consciência. As normas morais extravasam a consciência de cada
um. Existe uma Moral dominante de criação exterior ao sujeito, isto é, que surge
naturalmente da sociedade.
3- Critério da coercibilidade
Este critério diz que as normas jurídicas se caracterizam por gozarem de coercibilidade,
isto é, da possibilidade de impor algo através da força. Em contrapartida, as normas
morais não gozam dessa coercibilidade.
Críticas:
A regra moral é, de facto, incoercível dado que nenhum poder exterior pode impor que
os homens sejam melhores. Contudo:
Este critério (em termos radicais) defende que as normas morais incidem sobre a
interioridade dos atos, em contraste com as normas jurídicas, que incidem sobre o ato
exteriormente manifestado. Ou seja, novamente, a Moral atenderia à consciência, e o
Direito preocupar-se-ia com a conduta, não existindo ainvasão do fórum íntimo de cada
um.
Æ Moral atenderia ao foro íntimo de cada um. à a sua consciência, o que pretende,
o que pensa.
Exemplo concreto:
1) A esfaqueou B
2) A é médico e B está numa mesa para operar um apêndice.
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Conclusão: O ato é o mesmo, mas a intenção e o objetivo não. A intenção é relevante
para o Direito. Portanto. o critério em termos radicais é falso.
Exemplo:
• Art.128º do CC: O dever da obediência: de acordo com uma moral dominante e com
representatividade social, se a ordem dada pelos pais for considerada ilícita e imoral, o
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menor pode recusar-se a obedecer. O menor pode recusar-se invocando o artigo 128º do
código civil.
Objeção de consciência
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Ø Evitar o uso massivo, evitar uma invocação massiva provocando
instabilidade;
Nota: Há, todavia, exemplos de vezes excecionais em que foi possível utilizada a
objeção de consciência, mesmo que a lei infraconstitucional não o referisse,
nomeadamente, quando envolve conflitos com os próprios artigos da Constituição. É
exemplo práticos, uma situação na Alemanha, referente ao Direito do Trabalho - Uma
trabalhadora judia recusou-se a participar na produção de armas para uma encomenda
de Israel, com medo de que estas fossem utilizadas na luta contra Israel.
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Qual o fundamento do direito à objeção de consciência?
A Ordem jurídica
Crítica: Existe uma unidade de sentido que vai para além do mero somatório de regras e
o estudo do Direito tem que refletir isso.
Por fim, o entendimento que aborda a maior parte da doutrina é: A ordem jurídica, para
a maioria dos autores, corresponde a um conjunto relativamente estável de normas,
princípios, instituições e institutos jurídicos, correlacionados e harmónicos entre si.
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Sentidos da palavra direito:
“Direito das Sucessões à direito objetivo visto que o Direito das Sucessões é
uma realidade objetiva, ou seja, está-se mais perto da ideia de uma ordenação da vida
em sociedade. Não se encerra na titularidade de ninguém.
Assim, pode dizer-se que X tem o direito de suceder a Y mas não que X tem o Direito
das Sucessões.
“Há uma prioridade, pelo menos lógica, do momento objetivo sobre o subjetivo”
Se Z tem direito de suceder, é porque em harmonia com o Direito das Sucessões, tal
prerrogativa lhe é conferida.”
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Exemplo concreto:
1) Num contrato de compra e venda de umas calças na Zara quais são os direitos
subjetivos que nascem para mim:
->Transferência da propriedade
-> Entrega da coisa pelo vendedor ao comprador
2) O vendedor tem o direito de receber o preço
è Necessidade
Se não houvesse Direito só restava 2 hipóteses: despotismo em estado puro (que não
existe); ou anarquia (não é um estado que se consiga manter)à não são suscetíveis de
perpetuação.
Anarquia à no sentido puro é total ausência de regras. Períodos de anarquia surgem por
vezes na vida de uma sociedade, porém um estado puro de anarquia aponta também
para a extinção da sociedade em causa.
Há autores que defendem que o progresso irá eliminar os aspetos negativos da inicial
má estruturação social (sendo essa a razão por qual a ordem jurídica tornou-se
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necessária), tornando-se, depois, a superestrutura jurídica desnecessária e
consequentemente irá chegar-se à sua extinção.
Dividem-se os autores quanto aos motivos que poderiam ter levado à “anormal”
formação da ordem jurídica:
Oliveira Ascensão diz que a ordem jurídica é necessária quer seja um sociedade simples
ou numa sociedade industrial muito complexa dado que o lugar de cada um tem de ser
demarcado para que se alcance o objetivo comum. “A regra da vida social é justamente
o Direito.” Acrescenta que mesmo que os homens fossem perfeitos a ordem jurídica era
necessária para regular várias atividades como a distribuição das habitações, os horários
de trabalho, as regras de circulação de abastecimento dos mercados. Desta forma, o
Direito Penal poderia desaparecer, caso os homens fossem perfeitos mas a ordem
jurídica seria sempre necessária.
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A verdade é que temos normas facultativas como, por exemplo, o aborto-
permite, mas não impõe.
Segundo Oliveira Ascensão: “Nem toda a regra é necessariamente assistida
de sanção. (...) Mas a existência de sanções é natural consequência da
imperatividade.”
“Em si, a sanção não é um facto. Como consequência desfavorável, a sanção
é um efeito jurídico, conteúdo de uma regra jurídica cuja previsão é a
violação de uma regra de conduta.”
O funcionário que revelar segredos públicos a pessoa não autorizada será demitido:
à Regra principal: Funcionários não deve revelar segredos públicos a pessoa não
autorizada
A regra sancionatória pode ser por sua vez sancionada. Assim, o esquema repete-se e
entra em ação uma nova regra sancionatória, cuja previsão é a violação da primeira
regra sancionatória.
Distinção das várias espécies de sanções faz-se pela função que desempenham, que
podem ter finalidade:
-Compulsória
-Reconstitutiva
-Compensatória
-Preventiva
-Punitiva
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Apesar de termos vários tipos de sanções, não significa que se excluem na sua
aplicação, podem ser cumulativas em reação a uma só violação:
è Estatalidade
É muito comum identificar a norma jurídica como uma criação do estado aplicada por
orgãos que se integram o mesmo, e é verdade que não se pode negar que a maior parte
de normas jurídicas são de criação estadual. Contudo, nem todas as normas jurídicas são
criação do estado. Exemplo: normas que resultam da ONU, do Direito Internacional
Público.
Nem todo o Direito tem origem estadual (aliás, antes da existência do Estado já havia
Direito). Não só há normas jurídicas criadas por sociedades infra-estatais, ou seja, são
as normas criadas por municípios, por exemplo, como também há normas criadas por
sociedades supra-estatais, por exemplo, os tratados internacionais entre os Estados.
Um grande exemplo disto é o Direito Internacional Público que não deixa de ser Direito
pelo facto de não ser reconhecido por algum Estado.
• Em suma, apesar de nem todo o Direito ter fonte estadual, a maior parte das normas
jurídicas tem, de facto, origem no Estado e o seu âmbito de aplicação está delimitado
por esse Estado. Podemos dizer, portanto, que a estabilidade não é uma característica
absoluta, mas tendencial.
Há, contudo, autores que defendem que a origem do Direito é necessariamente estatal
à posição muito ligada ao positivismo.
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Nota: Positivismo – corrente que desembocou do normativismo – “foi levado, na sua
busca da pureza metodológica, a afastar do campo do Direito tudo o que não se
reduzisse à “forma” essencial da norma jurídica.” – Oliveira de Ascensão
àCoercibilidade
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pois “Nenhuma sociedade subsistiria se tivéssemos a ameaça e a compulsão na origem
de toda a aplicação dos seus preceitos.”
No entanto, mesmo na ordem jurídica estadual, há normas sem sanção e normas cuja
sanção não pode ser coativamente imposta, como é possível observar nos seguintes
casos:
2. Prazos de decisão dos juízes: caso os juízes ultrapassem os prazos, não têm qualquer
sanção;
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4. As obrigações naturais estão previstas no art.º 402º do C. civil: artigo nº402 do
código civil: são obrigações naturais em que o credor não pode exigir coativamente o
cumprimento, mas se o devedor cumprir voluntariamente, o credor tem o direito de reter
a prestação a título de pagamento, não tendo de a devolver.
Sociólogo VS jurista
Max Weber- “existe direito quando a validade da ordem é garantida exteriormente pela
probabilidade de uma coação (física ou psíquica) que, aplicada por uma instância
humana especialmente instituída para esse efeito, force ao respeito e puna a violação
daquela ordem”.
Para Weber o conteúdo da norma não é parte da sua qualificação jurídica. O conteúdo é
irrelevanteà posição formalista do que é o direito.
Para o sociólogo, não há direito sem coação, a coação é parte essencial do Direito. É o
elemento que distingue a ordem jurídica das outras ordens sociais.
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Assim sendo, as normas jurídicas são aquelas que são suscetíveis de aplicação
institucional pela força.
Larenz veio dizer que “O Direito é uma ordem de convivência humana orientada pela
ideia de uma ordem justa, ideia essa a que, pelo seu próprio sentido, tal ordem vai
referida.”
Assim, o Direito é uma ordem de justiça e nessa medida, o que o caracteriza e distingue
das outras ordens normativas é a promoção de justiça, mas numa sociedade de seres
imperfeitos, a coercibilidade é essencial à eficácia das normas ànuma sociedade de
seres imperfeitos, o Direito enquanto ordem de justiça, precisa de coação para ser
eficaz, para vigorar, para ser respeitado, para ter aplicabilidade própria.
Para Larenz, a essência do Direito é a justiça e é essa noção de justiça que confere ao
Direito uma ordem de sentido e que o distingue de uma ordem de pura força. A
coercibilidade não pertence à essência do Direito, mas sim à sua eficácia.
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Tenta-se mostrar que a juridicidade da norma não advém da coercibilidade, pelo
contrário, a coercibilidade ou a legitimidade da coação resultam de a norma ser uma
norma de Direito à “o Direito não se define pela coercibilidade, mas esta é uma
característica ou qualidade que resulta da própria natureza do Direito” – Batista
Machado.
De certa forma, o ‘desobediente’ ampliaria a sua esfera de autonomia à custa das esferas
de autonomia dos outros.
Desta forma, torna-se não só legítimo, mas também exigível, o recurso a meios de
coação para repor a justiça.
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b) Questão da necessidade da coação
Batista Machado começa por dizer que “O Direito e uma ordem necessária: não há
sociedade sem Direito” e também a sociedade, por sua vez, é necessária, por natureza ao
homem.
Além disso, para que a “sociedade exista, tem de vigorar o Direito; e o Direito, para ser
Direito, tem de ter vigência social.”. É relevante mencionar a tríade fundamental “ubi
homo ibi societas; ubi ius ibi societas; ubi societas ibi ius”.
Diz Batista Machado, que numa sociedade utópica, com homens perfeitos, o Direito
continuaria a ser necessário, mas a coação seria dispensável.
c) Questão do valor especificante da coação – não relevante para aqui, mas sim
para a distinção entre Direito e Moral.
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• Não lesar os outros
• Dar a cada um o que é seu – “suum cuique tribuere”
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Justiça distributiva- rege a repartição dos bens comuns pelos membros da
sociedade, usando um critério de igualdade proporcional que atende à finalidade
da distribuição e à situação dos sujeitos, ou seja, aos seus méritos e às suas
necessidades. É a justiça própria das relações de subordinação, que
tradicionalmente associada ao direito público. Exemplo: rendimento social de
inserção.
Segurança
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desenvolvimento do tráfico jurídico- económico moderno porque este tráfico assenta
muitas vezes numa lógica de confiança, de crédito.
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è Formulação de leis em termos precisos e claros- ius strictum- sem deixar
grande margem a ambiguidades de interpretação- Exemplo: Lei que fixa a
maioridade aos 18 anos- art.122º do Código Civil.
Artº8 do Código Civil- proibição do non liquet- Juiz não pode recusar-se a julgar
um caso por falta de lei- este art.º tem de ser conjugado com os art. 10º e 11º
è Possibilidade de recurso à força pelo aparelho coativo a força por
aplicar a sanção de violação da norma
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è Princípio da não retroatividade- Não retroatividade da lei- em regra a lei
não se aplica em situações passadas e só se aplica para o futuro
è Normas que exigem determinadas formas para celebração de
determinados contratos- art.º 875 do Código Civil
è Instituto do caso julgado- proíbem-se recursos ordinários em decisões
transitadas em julgado visando essencialmente pôr um ponto final nos
litígios e assegurar a paz jurídica. à Sentença transita em julgado.
è Clausula geral da Boa fé- artg. 227º e 762º do Código civil- ex. num
contrato as partes devem concordar em boa féà Ex. Dois vizinhos tinham
uma relação bastante amigável. O vizinho A comprou tijolos ao vizinho B. E
ficou combinado que B deixaria os tijolos no terreno de A. Zangaram-se. B,
no dia acordado, à hora acordada deixou os tijolos no Poço do terreno de A
à Cumpriu, mas de forma contrária à boa fé;
è Abuso de direito artg334º- venire contra factum proprium
è Bons Costumes- artg 280º
è Ordem publica artg 228º
è Alteração superveniente das circunstâncias artg 437º
è Bom pai de família art.º 487 nº 2- cidadão responsável, medianamente
diligente e responsável- padrão de culpa
Este tipo de institutos são: ius aequum – institutos de justiça (conceitos indeterminados)
– para que o julgador possa ter em consideração o ambiente envolvente; permite uma
maior maleabilidade do caso. São cláusulas gerais e abertas. Cláusulas gerais- surgiram
a partir do código civil de 1966.
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Batista Machado, à luz do ius aequum diz que “a certeza do direito é sacrificada à
equidade e à maleabilidade da decisão, conforme as circunstâncias do caso e as
modificações trazidas pela evolução social.”
Fórmula de Radbruch – “sempre que a injustiça do direito positivo atinja um tão alto
grau que a segurança jurídica deixa de representar algo de positivo em confronto com
esse grau de violação de justiça, nesse caso não poderá duvidar-se de que o direito
positivo injusto deverá ceder perante a justiça.”
Assim sendo, o direito positivo deve ter como prioridade a segurança em detrimento da
justiça. O contrário só acontece em casos cujas consequências de atingir a justiça são
claramente melhores do que as consequências de atingir a segurança (ex.: julgamento
dos guardas que tentaram matar uma família que tentou saltar o muro de Berlim)
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Juspositivismo – para o Juspositivismo, não há outro direito para além do direito
positivo. Direito posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela vontade coletiva da
comunidade, ou seja, o direito positivo são as normas que são emanadas pelo povo
soberano ou pelos seus representados. Para os juspositivistas todo o direito surge daqui.
A comunidade em cada momento determina quais as normas que a regulam e só existem
essas normas.
Para os jusnaturalistas para além das normas do direito positivo, existe um outro
conjunto de norma, que são normas que se sobrepõem ao direito positivo e que
funcionam como padrão de validade do direito positivo.
Direito positivo- direito posto em vigor pelas autoridades oficiais ou pela vontade
coletiva da comunidade, ou seja, são as normas emanadas do povo soberano ou pelos
seus representantes. Todas as normas jurídicas são normas emanadas da comunidade.
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Dr. Freitas do Amaral, três fatores que justificam a existência do direito
natural:
2º Os valores promovidos pelo direito natural são valores jurídicos e NÃO políticos:
- Justiça
- Segurança
- Dignidade da pessoa humana
Freitas do Amaral diz que o direito natural dá resposta ao problema das revoluções neste
sentido: se o regime derrubado era contrário ao direito natural, então não era válido,
pelo que a revolução é legítima. O Direito Natural valida e legitima as revoluções.
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Natureza imutável e universal do direito natural
Durante muito tempo defendeu-se que o direito natural tinha uma natureza universal e
imutável. Atualmente não. O direito natural integra-se na realidade cultural a que
pertence o direito e, portanto, varia em função do tempo e da cultura. Reconhece-se, no
entanto, um núcleo imutável situado na dignidade da pessoa Humana.
Fará sentido continuar a falar em direito positivo e direito natural? O perigo de nós
deixarmos de focar nesta questão, que está civilizacionalmente pode mudar, é que as
circunstâncias podem mudar.
Em Portugal dificilmente encontraremos uma lei de direito positivo que não coincida
com o direito natural. Este debate tem vindo a “perder interesse” dado que tem vindo a
haver uma aproximação de ambos os termos. Porém, não se pode “relaxar”, dado que as
circunstâncias podem alterar. Apela-se assim a cada um que tome uma posição pessoal.
-Bibliografia Mínima:
Ramos do Direito
39
ü A ordem jurídica é composta por milhares de normas jurídicas e a função do
ordenamento jurídico é assegurar a coerência e a concatenação delas
ü Não se pode invocar o desconhecimento da lei por forma de não se culpabilizar.
ü Esta dificuldade imensa de desconhecimento de normas faz com que fosse
surgido uma organização.
ü Os ramos de direito são conjuntos de normas delimitadas segundo o seu
conteúdo, são compostos por conjuntos de normas que são delimitadas segundo
o seu conteúdo e o conteúdo de cada ramo é estruturada por intermedio de
princípios gerais próprios que lhe confere identidade.
ü Quando falamos em ramos de direito falamos em setores da ordem jurídica.
Problema: Não existe uma divisão rígida do interesse público e do interesse privado,
ou, pelas palavras de Oliveira de Ascensão: “Não há nenhuma linha radical de fratura
entre o interesse público e o interesse privado” pois o “interesse público corresponde,
pelo menos indiretamente, aos interesses particulares; os interesses particulares são
protegidos porque há um interesse público nesse sentido”.
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Oliveira de Ascensão defende que o critério dos interesses é impotente porque não
fornecesse resposta clara quanto a saber se uma determinada norma promove interesses
públicos ou interesses privados.
-Critério da qualidade dos sujeitos- Este critério defende que seria público o Direito
que regulasse situações em que interviesse o Estado ou qualquer ente público e seria
privado o Direito que regulasse as situações dos particulares
Critica: Este critério também falha- há casos em que o Estado atua como um qualquer
particular. “Não é pelo facto de os entes públicos celebrarem compras e vendas–
exemplifica Oliveira de Ascensão- que as respetivas regras deixam de ser Direito
Privado e passam a ser Direito Público.”
-Critério da posição dos sujeitos (critério que é adotado) – o Direito público é aquele
que constitui e organiza o Estado e outros entes públicos e regula a sua atividade como
entidade dotada de ius imperii (poder de império) – regula as relações dos entes
públicos entre si e as relações dos entes públicos com os entes privados quando aqueles
atuam no exercício do seu poder de autoridade.
Nota: Existem cada vez mais autores a criticar esta distinção afirmando que é artificial.
Dr. Oliveira de Ascensão afirma que a divisão entre ramos de Direito Público e Direito
Privado tem como base de referência o Estado. Portanto, os ramos de Direito supra-
estatais (Direito Internacional Público) e infra-estatais (Direito dos organismos
intermédios (=Direito corporativo)) não se encontram nestes ramos.
Segundo o autor, o Direito Internacional não pertence nem ao ramo de Direito Privado
nem ao ramo de Direito Público.
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Direito internacional público
A maioria dos autores entendem que é um ramo de Direito Público porque todos
os Estados têm soberania.
Regula a relação entre entes que atuam entre si no âmbito de sua soberania.
Não regulam só as relações entre Estados soberanos, mas também abrange todas
as relações com organizações internacionais.
Cada vez mais, o DIP deixa de ser um mero direito de Estados (ou relações entre
Estados com organizações internacionais) e passa a considerar um número de sujeitos
como os próprios indivíduos.
Como exemplifica Oliveira de Ascensão, “Há normas que têm por objeto as condutas
dos indivíduos, como as referentes aos chamados “criminosos de guerra”, ou as que
permitem a sujeitos individuais o recurso a tribunais internacionais.”
O DIP é o ramo do direito constituído pelo sistema de normas jurídicas que se aplicam a
todos os membros da comunidade internacional para regular os assuntos específicos
desta, a fim de garantir os fins próprios da referida comunidade nas matérias da sua
competência, ou seja, DIP regula as relações que se estabelecem no interior da
comunidade internacional.
Esta definição não é ideologicamente neutra (na sua totalidade), tem um pendor
federalista/europeísta.
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Fontes de direito da UE:
- Roma -1957;
- Bruxelas - 1965;
- Maastricht - 1992;
- Amesterdão - 1996;
- Nice - 2000;
- Lisboa - 2007.
Nota:
Regulamento- A partir do momento em que entra em vigor tem efeito imediato, vincula
imediatamente os seus destinatários. Portanto é diretamente aplicável. Os regulamentos
valem por si. Assim que entram em vigor, produzem efeitos na ordem jurídica nacional.
Diretiva- Exige uma transposição, ou seja, ela dirige se sobretudo ao estados membros
e dá indicações sobre o que pretende, mas dá liberdade quanto aos meios para alcançar
os objetivos. Cada estado membro depois transpõe para a sua lei/ordem interna essa
diretiva. O que vincula não é a diretiva, mas a lei ou o decreto de lei que a transpõe.
43
Direito dos organismos intermédios
Assim, aproveita-se a letra do artigo num sentido que se ajusta à atualidade. Entende-se
atualmente o conceito de “corporações” ou “normas corporativas”, de acordo com
Oliveira Ascensão como as normas que são criadas por “organismos representativos
das diferentes categorias morais, culturais, económicas ou profissionais” que ainda
hoje existem. O direito corporativo abrange as normas que regulam a Constituição e
funcionamento destes organismos, bem como as normas criadas por eles no âmbito do
seu poder normativo.
Como já foi mencionado supra, Oliveira de Ascensão considera que o Direito dos
organismos intermédios não se insere na “dicotomia Direito Público – Direito Privado”.
Quanto ao primeiro dado que “respeita à atuação de sujeitos diferentes do Estado”.
Quanto ao último visto que “não regula situações e que os sujeitos estão em posição de
paridade, pois os organismos intermédios podem até ter poderes de autoridade.
1º ramo do Direito Público – Direito constitucional- ocupa o lugar central nos ramos
de Direito sendo que caracterizando o Estado como detentor do poder soberano.
44
Regula:
Direito Tributário regula a obtenção coativa de receitas publicas pelo Estado através de
taxas e impostos.
Direito fiscal é um subtipo do Direito tributário que regula apenas a parte relativa a
impostos.
4º Ramo- Direito Penal- é composto pelo conjunto de normas jurídicas que qualificam
os factos ilícitos de maior gravidade social como crimes e estabelecem para eles as
penas e as medidas de segurança tidas como adequadas.
45
Baptista Machado afirma que o Direito Penal é constituído “pelo complexo de normas
que regulam os crimes e as penas, e bem assim as medidas de segurança a que estão
sujeitos os infratores cuja perigosidade subsiste para além do cumprimento da pena ou
aqueles que, sendo inimputáveis, são todavia socialmente perigosos.”
O direito penal é um reduto do que mais importante o Direito quer preservar. São
elevadas as normas de direito penal cuja violação afeta de forma mais gravosa o
objetivo do direito.
O que é característico do Direito penal é que do outro lado está a comunidade toda.
Oliveira Ascensão é o único autor em Portugal que defende que o Direito Penal é um
ramo do Direito Privado, justificando que os deveres penais são deveres dos indivíduos
e a aplicação das penas em termos judiciais não implica que o Direito Penal regule a
atividade do Estado.
Mas este não pode ser um ramo do direito privado, quando um processo penal tem a
representação do Estado dotado do seu poder de império. Este regula o comportamento
do sujeito perante a comunidade como um todo e o estado é dotado do poder de o
regular. (O ministério público defende o bem de toda a comunidade).
46
Legalidade - só há crime quando a conduta corresponder a um dos tipos previstos na lei
- Nullum crimen sine lege (Não há pena sem lei).
Baptista Machado afirma que o objetivo das penas é “de garantir a autoridade e
vigência da ordem social e do substrato de valores básicos em que esta assenta.”
A culpa é um juízo de censura. O código civil atribui o juízo de culpa aos 7 anos.
Oliveira de Ascensão diz “A aplicação da regra penal tem por pressuposto um crime.
Mas um crime é uma ação: uma ação ilícita e culposa, mas sempre uma ação.”
5º ramo: Direito de mera ordenação social- Regula certos atos ilícitos de menor
gravidade por comparação com o direito penal.
Ilícitos de mera ordenação social- contraordenações. A sanção pecuniária que lhe está
associado não é a multa, mas sim as coimas. (é uma espécie de filho do Direito penal).
47
6ºramo: Direito processual- Disciplina a atividade dos juízes na solução dos casos
que lhes são apresentados. Diz-se que é direito adjetivo porque é direito instrumental
por oposição aos ramos de direito substantivo.
Ø Direito processual civil- aplica-se a todos os ramos de direito privado que não
lhe forem subtraídos. Segundo Batista Machado é o Direito que “regula a
proposição e o desenvolvimento das ações cíveis”.
Caracteriza-se por ser um processo dispositivo, ou seja, está na disponibilidade
das partes. As partes no processo civil: réu (a quem é interposta a ação) e o autor
(o que interpõe a ação).
Processo declarativo- Tem como objetivo tornar certo um direito. No fim o juiz declara
na sentença qual é o direito das partes. Exemplo:O Juiz declara que eu devo ao Hugo
50 mil euros- condena no pagamento de 50 mil euros- contudo é só papel e não tenho
medo de um papelàavanço a um processo executivo
Processo executivo- O objetivo é dar realização efetiva ao direito declarado. Para haver
processo executivo, o autor tem que ser titular de um título executivo. (sentença,
cheque, etc)
48
Nota: Só há 1 caso de prisão por dívida em Portugal que é a obrigação de alimentos ,
normalmente, associada a situações de divorcio à obrigação que alguém tem em
prestar alimentos a outrem.
Há 3 tipos de crimes:
49
Provavelmente é o mais antigo ramo do direito, sendo, por isso, o que foi mais
cultivado, trabalhado e construído.
Como diz Freitas do Amaral, “o Direito Civil cobre com o seu manto regulador toda a
vida privada dos indivíduos, desde o berço até ao túmulo”, além de regular, também, as
diferentes maneiras de organização coletiva de grupos de indivíduos.
Tendo por base a classificação germânica, é constituído por 5 livros – Parte geral;
Direito das obrigações; Direito das coisas; Direito da família; Direito das sucessões.
Batista Machado apresenta, por sua vez, a seguinte definição: direito que “regula o
tráfico de bens e serviços e a reparação dos danos e têm por instituição fundamental o
contrato como forma por excelência de expressão da autonomia privada”
Direito das coisas ou direitos reais- Ramo do direito que regula atribuição das
coisas de tal modo que uma pessoa fica com um direito oponível a terceiros, direito esse
que lhe outorga a possibilidade de tirar vantagem da coisa.
Exemplos de outros direitos reais: usufruto- direito real menor. Caso em concreto: em
Lisboa é muito comum em vez de comprar a casa usufruir do usufruto- é um direito
50
próximo do direito de propriedade que não permite vender a coisa ou destruir a sua
substância. São ainda exemplos a hipoteca (que se aplica a bens imóveis) e o penhor
(penhor # penhora – ação judicial de reter bens para pagamentos de dívidas).
àCasamento
àProcriação
àAdoção
àParentesco
àVínculo conjugal
àAfinidade
àAdoção
Legítima- aplica-se quando não há testamento em relação aos bens que não são
abrangidos pela sucessão legitimária; deferida a familiares, quando não há herdeiros
legitimários nem testamento ou quando o autor da sucessão não tenha manifestado por
testamento outra vontade.
51
Direito comercial- Ramo do direito privado especial que autonomizou-se muito mais
tarde.
O direito comercial tem se centrado, cada vez mais, na noção e lógica de empresa.
Há autores que dizem que pela discrepância de poder entre as partes, este ramo
do Direito não seria exatamente Direito privado, mas sim um regime misto. No
entanto, a verdade é que este contrato se realiza entre dois particulares, portanto
é Direito privado.
52
O direito do trabalho compreende 2 grandes zonas:
53
Por fim, na atualidade existe uma tendência de automizar outros ramos do Direito, como
por exemplo:
ü Direito Bancário
ü Direito dos Seguros
ü Direito do Consumo
ü Direito da Concorrência
Bibliografia Mínima:
A Norma Jurídica
Exemplo:
54
Contudo este pensamento está afastado
A norma não pode ser o ponto de partida da atuação do jurista, mas sim partir da
situação concreta, interpretá-la.
O método jurídico parte da situação da vida concreta, exige interpretar a sua situação
em todas as suas nuances, com base nas normas jurídicas, procura-se dentro de todas
elas, qual é a melhor que dá resposta aquela situação especifica.
Oliveira de Ascensão diz que o jurista parte dos factos, identificam as normas e aplicam
as normas aos factos.
Norma jurídica àa maior parte são normas de conduta, mas nem todas as são.
A norma jurídica refere-se a factos e, segundo Batista Machado “procura dar uma
imagem, visualização ou modelo daquele facto (…) que produz a consequência”.
Estes factos podem constituir, modificar ou extinguir situações jurídicas. (podem ser,
portanto, constitutivos, modificativos, extintivos). Não são factos jurídicos
acontecimentos que sejam irrelevantes para o Direito – ex. cor da T-shirt de X; corte de
cabelo;
55
Os factos jurídicos constitutivos normalmente geram relações jurídicas. Mas não tem de
ser assim. Há factos jurídicos constitutivos que geram a aquisição de uma qualidade
jurídica- ex. a personalidade jurídica; já o divórcio extingue uma relação jurídica.
É constituída pelo vínculo que une um poder a uma obrigação- existe uma relação
jurídica quando ao dever de um sujeito corresponde um direito de outro sujeito.
Exemplo: um carro que é destruído por um temporal. O temporal que destrói um carro é
facto natural (isto é, o temporal não resulta da vontade) que tem efeitos modificativos
do direito.
56
Outros exemplos: morte- seja ou não suicídio; nascimento- 1º efeito jurídico é a
aquisição de personalidade jurídica e que depois adquirimos a cidadania, direito á vida,
e uma série de direitos pessoais e de personalidade.
àAtos reais constituem a realização de um resultado material ou factual a que a lei liga
determinados efeitos jurídicos.
57
-Negócios jurídicos: corresponde a um facto voluntário cujo o núcleo essencial é
integrada por uma ou mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico atribui
efeitos jurídicos concordantes com o teor das vontades manifestadas. Os efeitos do
negócio jurídico ao contrário dos simples atos jurídicos produzem-se porque as partes
assim o desejam - ex voluntate.
Nota 2: O Contrato é um acordo protegido por o ordenamento jurídico que aplica força
vinculativa e coercível. → Princípio principal em matéria contratual - pacta sunt
servanda – os contratos são para cumprir ponto por ponto.
Os contratos são atos jurídicos compostos por duas ou mais declarações de vontade de
sentido oposto, mas convergente ajustando-se na sua comum pretensão de produzir um
resultado jurídico unitário coincidente com o teor das vontades das partes. Os contratos
são compostos por uma proposta e uma aceitação que se conciliam num consenso.
58
à Contratos Bilaterais//Negócios jurídicos bilaterais Bilaterais- Geram obrigações
para ambas as partes. Quando essas obrigações estão ligadas por um nexo de
correspetividade, ou seja, uma só existe por causa e em função da outra, diz se que o
contrato é sinalagmático.
Um contrato sinalagmático Gera obrigações para ambas as partes sendo que cada
obrigação só existe por causa da outra. As obrigações encontram-se ligadas por um
vínculo causal- art 428º C.C
Ex: contrato de arrendamento – pagamento da renda não faz sentido sem o gozo e
utilização da casa.
59
meios coercitivos que protegem esse poder. Ao poder do sujeito ativo contrapõe-se o
dever do sujeito passivo.
Divide-se em:
Tem uma eficácia erga omnes -contra todos. Ex. direito à vida; direito de propriedade;
direito à integridade física.
Quando o sujeito ativo tem um direito subjetivo absoluto, o sujeito passivo tem
obrigação passiva universal e um dever geral de abstenção.
1.2) Direito subjetivo relativo – são os direitos que possuem uma eficácia
circunscrita a um dado nº de pessoas- só em face delas podem ser invocados.
Exemplo: Estudante vive em casa dos pais e gosta de casino e jogar. Pediu emprestado a
um amigo 5000€ de dívida de jogo. O amigo emprestou e ficou determinado que o
estudante pagaria depois do natal com a prenda que envolvia dinheiro dos avós, tios,
etc. Nesse natal houve o covid e os familiares não deram presentes. Portanto, o
estudante não tinha maneira de pagar. O colega que lhe emprestou dinheiro foi pedir os
5000€ ao pai do estudante. à Não pode pedir ao pai, porque tem uma eficácia inter-
partes e o pai não faz parte.
60
2) Direito potestativo- poder de, através de simples declaração de vontade, integrada
ou não por uma decisão judicial, operar efeitos de direito na esfera jurídica do sujeito
passivo, sem que este nada possa fazer para o evitar.
Quando o sujeito ativo tem um direito potestativo, o sujeito passivo está em estado de
sujeição.
Exemplo: proprietário de um terreno que não tem acesso à rua- tem direito a uma
servidão de passagem. O que é direito potestativo, nesta situação, é o constituir a
servidão de passagem.
3)Direitos de direção, poderes deveres e poderes funcionais – o seu titular não é livre
de exercer as inerentes faculdades do poder, sendo também obrigado a atuar, porque
estão em causa direitos que não são só seus.
Diferença entre ónus e dever jurídico: a violação de um dever gera uma sanção,
a violação de um ónus não, apenas poderá ter uma consequência desvantajosa.
Não trás censura.
61
Exemplo: ónus da contestação nas ações declarativas: Uma ação em tribunal
inicia-se com uma petição inicial à e nessa petição diz o que se passa e o que se
pretende e deseja e, de seguida, envia-se à outra parte para dizer o que acha. Isto
é a contestação.
Ø Meros interesses jurídicos- interesses tutelados pela ordem jurídica a que não
correspondem direitos subjetivos, ou seja, o titular do interesse não tem o poder
de exigir ou pretender de outrem que adote o comportamento adequado à
salvaguarda do seu interesse.
Ø Faculdades em sentido estrito – possibilidades de agir que a ordem jurídica
admite e garante sem, todavia, constituírem direitos subjetivos. Estão em causas
meros poderes naturais (passear no jardim), ou na possibilidade de fazer
negócios jurídicos (ex.: casar). A estas faculdades dá-se o nome de faculdades
primárias, por oposição às faculdades secundárias, que são as que compõem o
conteúdo de um direito subjetivo.
Ø Direitos reflexos – posições jurídicas que são tuteladas por efeito de especiais
obrigações que oneram outros.
Exemplo: posição dos filhos que resulta no dever dos pais na responsabilidade
parental- filhos têm direitos reflexos das obrigações que oneram dos pais.
Ø Expectativas jurídicas – são situações em que se encontra uma pessoa que
ainda não tem um direito subjetivo, mas conta razoavelmente vir a ter. Dr.
Orlando de Carvalho diz que não está em causa uma simples esperança
longínqua e furtuita, trata-se “de uma situação intermédia mais ou menos
consistente da esperança” que o Direito protege de uma pessoa a favor de quem
se está a formar progressivamente um direito subjetivo, apenas faltando uma
condição para que exista ius perfectum.
(Herdeiro legitimário – herdeiros que não podem ser afastados da herança: como os
filhos, o cônjugue se não for afastado)
62
Características das normas jurídicas:
Exemplos:
63
ü Abstração- diz-se que é abstrato o preceito que disciplina ou regula um nº
indeterminado de casos. A norma aplica-se a um nº indeterminados de casos.
Oliveira de Ascensão afirma que uma norma jurídica pode aplicar-se a situações já
ocorridas. Isto não é contrário á abstração.
Baptista machado diz que abstração e generalidade na prática são a mesma coisa – diz-
se que é sempre uma essência de generalidade destinarem-se a realizar. Portanto,
qualquer preceito para ser norma jurídica destina-se a regular toda uma categoria de
situações ou de factos futuros e/ou presentes desde que a definição dessa categoria
obedeça a critérios gerais e objetivamente justificáveis.
v Normas injuntivas/imperativas:
v Normas dispositivas:
64
regulamentação. Portanto, uma norma supletiva é uma norma que só se
aplica se as partes do negócio não estabelecerem uma coisa diferente. Só se
aplica no silêncio das partes. As normas supletivas podem ser afastadas por
vontade das partes. O objetivo é facilitar a vida dos contraentes.
Exemplo: A quer uma caneta. B tem uma caneta e vende-a por 5 euros → celebração de
contrato. A fica em casa e B não sai de casa porque é ela quem iria vender. A não tem
caneta e B não fica com os 5 euros, não se especificou o local, então, qual é o lugar de
entrega? → art 772º do Código Civil – A devia ter ido ao domicílio de B.
Outro exemplo: Tentou-se afastar a escritura de uma casa, pode acontecer? 875o CC,
não. A norma é imperativa.
• Muitas das vezes está expressa na norma, por exemplo, → “salvo convenção em
contrário” ou “salvo acordo em contrário”, no caso das normas supletivas.
• Contudo, há vezes em que não está identificado,assim sendo, esta distinção
pode ser complicada e depende da interpretação, tendo por base a própria norma
e a sua integração no sistema jurídico. O intérprete tem de avaliar se a norma é
ou não essencial à fisionomia daquele instituto e se pode, ou não, ser posta de
parte sem romper o equilíbrio de interesse fixado pelo legislador.
Direitos da família das sucessões: maioria das normas são imperativas. (porém,
no direito da família existem normas supletivas, ex.: comunhão de adquiridos).
65
3ª Classificação: Oposição das normas gerais, normas excecionais e normas
especiais:
ü Normas autónomas – todas as que não são normas não autónomas nem
proposições jurídicas incompletas.
ü Normas não autónomas – aquela que por si só não tem um sentido completo,
faltando-lhe toda ou parte da hipótese ou toda ou parte da estatuição, o que só
obtém por remissão a outras normas. Exemplo: normas remissivas (que remetem
para outras normas)
ü Preposições jurídicas incompletas – não são verdadeiras normas jurídicas,
destinam-se a integrar as hipóteses globais de outras normas ou a definir os
conceitos normativos que elas usam. Ex. normas de definição ou classificação
legal – art 202º C.C
66
Bibliografia Mínima
Portanto, as técnicas legislativas são técnicas que o legislador utiliza para organizar e
redigir normas jurídicas através de textos legislativos.
São particularmente utilizadas em códigos, mas podem ser utilizadas em qualquer tipo
de legislação.
1ª técnica –
O que o legislador faz? à Numa parte geral, comum a todas as relações jurídicas,
estabelece a regra.
Exemplo Concreto:
67
Nota: Este título I do livro I é uma Teoria geral da lei que contem princípios
fundamentais de todo o ordenamento jurídico, portanto o seu âmbito não é só o Direito
Civil. Ele excede em muito o Direito Civil, aliás ele excede em muito o Direito privado-
são normas que se aplicam a todo o ordenamento jurídico – encontra-se no Código civil
por tradição.
2ª técnica –
É muito comum uma norma remissiva dizer “com as necessárias adaptações” caberá
ao intérprete acautelar essas especificidades à intérprete tem de ver se há necessidades
de adaptações ou não.
“sem prejuízo do disposto em” à qual prevalece? Prevalece a noma que se faz
referência à norma que vai enunciar a seguir. à é na mesma uma remissão.
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“não obstante o disposto em” à qual prevalece? – prevalece a norma que ele vai
enunciar pois significa que é uma norma especial ou excecional.
3ª técnica –
A ficção faz de conta que uma determinada situação é igual à outra, mandado aplicar à
primeira, o regime jurídico da segunda.
4ª técnica-
Vêm previstas no art 349º C.C. – as presunções são “as ilações que a lei ou o julgador
tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido”
Nos termos do art. 350º C.C – quem tem uma presunção legal a seu favor não tem que
provar o facto a que ela conduz, ou seja, as presunções têm impacto direto no ónus da
prova.
à quem invoca um direito deve fazer prova dos factos constitutivos do direito que
invoca, quem invoca um direito tem de provar que existe.
De uma maneira muito simples, quem é beneficiado pelos factos tem de os provar.
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Há situações em que o legislador sabe que provar os factos é difícil, portanto o que faz é
presunções que façam com que não se tenha de provar o facto. A presunção inverte o
ónus da prova (art.344º CC): se eu beneficio de uma presunção, eu não tenho que provar
o facto. Exemplo: art. 441º CC; art. 830º nº 2) C.C.
Há 2 tipos de presunções:
5º técnica
Definições legais - Não são normas autónomas e em regra não deve caber ao legislador
fazer definições – “omnis definitio periculosa est”- toda a definição é perigosa. As
definições cabem à doutrina e não ao legislador. (Devem ser evitadas)
70
Prof. Baptista machado diz que as definições legais são na prática indiretamente
previsões a que se ligam consequências, são elaboradas pelo legislador e tem força
normativa, tem carater prescritivo e tem que ser respeitadas à a doutrina divide-se, mas
tomamos esta posição.
Justificações:
2º) Facultar uma espécie de osmose, uma maior sobreposição, um melhor ajustamento,
entre máximos éticos sociais e o Direito
71
A clausula geral não regula tipo de caso especialmente determinados, mas deixando
bastante definidos os casos que se virá a aplicar.
7ª técnica)
72
A codificação – criação normativa estadual
O código distingue por se tratar de uma lei, em sentido amplo, que contenha disciplina
fundamental de uma determinada matéria e de um determinado ramo do direito,
disciplina essa que está elaborada de forma científico-sistemática e unitária
1. Estatutos – designação que é por vezes utilizada para identificar leis que
regulam de maneira unitária e sistemática uma dada matéria, mas é uma matéria
que não goza de amplitude, dignidade ou estabilidade suficientes para ser
considerada um código. Também se chama estatuto leis que regulam de maneira
unitária e sistemática uma determinada carreira ou profissão (estatuto da ordem
dos advogados)
2. Leis orgânicas – regulam de modo unitário e sistemático o funcionamento de
um serviço
3. Leis avulsas ou extravagantes – são matérias que só relevantes para o abito
material do código, porque por exemplo, foram criadas posteriormente, porque
não são tão estáveis, não estão integradas no Código – leis que introduzem
alterações a matérias de âmbito temáticos de códigos, mas não se integram nesse
código.
73
Vantagens da codificação:
Desvantagens/Críticas:
Não é verdadeiro que o código seja um sistema fechado à ele fornece ao jurista
padrões e critérios, mas nada impede a sua alteraçãoà é um sistema aberto.
Bibliografia:
74
Índice
A TUTELA DO DIREITO E DOS DIREITO ................................................................................3
Tutela Compulsória ......................................................................................................... 3
Tutela Reconstitutiva ......................................................................................................4
Tutela Preventiva ............................................................................................................6
Tutela Punitiva ................................................................................................................7
Recusa dos Efeitos Jurídicos ...........................................................................................7
Inexistência .................................................................................................................8
Invalidade ...................................................................................................................8
Regime da Nulidade ...............................................................................................8
Regime da Anulabilidade .......................................................................................9
Institutos da conversão e da redução ...................................................................9
Ineficácia em Sentido Estrito .................................................................................. 11
Tutela jurídica quanto aos entes ............................................................................... 11
Ação Direta ............................................................................................................. 12
Legítima Defesa ...................................................................................................... 12
Estado de Necessidade ...........................................................................................13
Outras figuras ..........................................................................................................13
AS FONTES DE DIREITO E VIGÊNCIA DAS NORMAS
Fontes de Direito ........................................................................................................ 13
Fontes comunitárias ................................................................................................ 14
Fontes Nacionais ..................................................................................................... 15
Equidade .............................................................................................................. 15
Doutrina ............................................................................................................... 17
Costume ............................................................................................................... 17
Usos ...................................................................................................................... 19
Jurisprudência ...................................................................................................... 20
Lei ......................................................................................................................... 21
A EFETIVAÇÃO DO DIREITO. O MÉTODO JURÍDICO ........................................................ 30
Interpretação .............................................................................................................. 30
Querela dos métodos .............................................................................................. 31
Elementos da interpretação .................................................................................... 34
Resultados da interpretação .................................................................................... 35
Integração de Lacunas ................................................................................................. 36
Relação entre integração e interpretação ............................................................... 39
Modos de integração de lacunas ..............................................................................40
Plenitude do ordenamento jurídico .............................................................................41
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO ..........................................................................................43
O problema da sucessão de leis no tempo ..................................................................43
Soluções para o problema da aplicação da lei no tempo ........................................... 46
APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO..........................................................................................52
O MÉTODO JURÍDICO ........................................................................................................53
Jurisprudência dos Conceitos........................................................................................53
Jurisprudência dos Interesses .......................................................................................54
Jurisprudência dos Valores ...........................................................................................55
Jurisprudencialismo ......................................................................................................56
2
Introdução ao Direito – 2.º Semestre
A Tutela do Direito e dos direitos
A característica primordial na distinção entre as normas jurídicas das restantes é a
COERCIBILIDADE à suscetibilidade de aplicação de uma sanção pela força (aparelho de coerção
estadual) caso seja necessário.
Sendo o objetivo do ato de tutelar proteger o Direito, porque é que se afirma que o principal
meio de tutela é a sanção, quando esta decorre, precisamente, da violação da norma?
A tutela atua procurando evitar que o sucedido se volte a repetir. A sanção, para além de
desincentivar a violação futura da norma, ainda tenta eliminar as consequências negativas
geradas pela violação.
Contudo, nem todos os meios de tutela atuam depois da violação da norma, havendo meios
de tutela, que não sanções, a atuar previamente à violação da norma.
Meios de Tutela
® Quanto aos FINS: ® Quanto aos ENTES:
o Compulsória o Heterotutela
o Reconstitutiva o Autotutela
o Preventiva
o Punitiva
o Recusa de efeitos jurídicos
3
*TUTELA COMPULSIVA/COMPULSÓRIA*
São as medidas destinadas a atuar sobre o infrator da norma, com o principal intuito de
constrangê-lo a adotar o comportamento devido (ainda que tardiamente). Assim, apesar de já
ter sido violada a norma, procura-se levar o infrator a adotar o comportamento que, até então,
omitiu.
Exemplos:
\ ® Prisão por incumprimento da obrigação de alimentos (artigo 250.º do CP)
Único caso de prisão por dividas em Portugal. O artigo permite ao tribunal declarar a extinção da
pena ainda não cumprida logo que a pensão seja paga. É, portanto, uma medida de pressão e
não propriamente um castigo. Quer-se, apenas, que a obrigação seja cumprida.
Esta sanção aplica-se nas prestações de facto infungíveis em que não estejam em causa especiais
qualidades científicas ou artísticos do obrigado. Consiste, portanto, em condenar o devedor
inadimplente (em incumprimento) ao pagamento de uma quantia pecuniária por cada dia de
atraso no cumprimento ou por cada infração.
Prestação à objeto das relações de crédito (artigo 397.º), ou seja, acaba por ser um
comportamento a. que o devedor está obrigado para satisfazer o interesse do credor ou
de terceiro. Pode ser:
• De facto – se esgota no comportamento
o Fungível – devedor pode ser substituído por terceiro sem prejuízo para o
credor;
o Infungível – só podem ser praticadas pelo devedor, uma vez que a substituição
traria prejuízo para o credor
• De coisa – entrega de uma coisa (sendo, também, prestação de facto, porque envolve
o comportamento de entrega da coisa
4
*TUTELA RECONSTITUTIVA*
São as medidas que se destinam a reconstituir a situação que existiria caso não tivesse ocorrido
a inobservância da norma ou da conduta juridicamente devida.
j\ QUAIS OS TIPOS DE RECONSTITUIÇÃO?
5
A execução especifica só́ não pode ser aplicada nos casos de prestações de facto infungíveis,
uma vez que a substituição do devedor por um terceiro não é possível.
COMPENSAÇÃO
• Aplica-se a danos morais. Danos morais são aqueles impossíveis de indemnizar, uma vez
que é impossível remover um dano moral.
• Imaginemos que Francisco mata Afonso, filho de Ana. Nenhuma indemnização retira a
dor de perder um filho.
• Assim, é entregue uma quantia ao lesado denominada compensação.
• A lógica subjacente é: aliviar o dano, através da atribuição da compensação, uma vez que
o lesado poderá usar a quantia em atividades que lhe confiram prazer.
*TUTELA PREVENTIVA*
São as medidas destinadas a impedir a violação da ordem jurídica, a prevenir ou a evitar a
inobservância das normas.
6
MEDIDAS DE SEGURANÇA
• Proíbem a prática de determinada atividade ou o exercício de certa profissão àqueles
que tenham sido condenados por determinados delitos.
• São aplicadas para evitar a prática de contraordenações e/ou crimes futuros quando o
sujeito revela uma especial tendência para delinquir.
• EXEMPLO: apreensão da carta de condução; internamento de um inimputável (não é
passível de juízo de culpa por crime praticado dadas as suas características...)
*TUTELA PUNITIVA*
Nos casos de violações mais graves da ordem jurídica, o direito recorre à aplicação de penas, às
quais implicam simultaneamente a privação de um bem (da vida, da liberdade, de valores
patrimoniais) e uma reprovação da conduta do infrator.
• O que está em causa não é reconstituir a situação que existiria, mas castigar o infrator (no
entanto, podem atuar em simultâneo).
• O ramo do Direito por excelência desta tutela é o Direito Penal, mas cada vez mais se assiste
a tutela punitiva no Direito Civil.
7
HÁ 3 TIPOS DE INEFICÁCIA EM SENTIDO AMPLO (por ordem decrescente de gravidade)
INVALIDADE
• Quando a lei considera o próprio ato, que deveria ser fonte dos efeitos, sem valor.
• Abrange os casos em que a não produção de efeitos deriva de vício ou falha presente nos
elementos internos e essenciais ao negócio.
• DUAS MODALIDADES:
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• Insanável mediante confirmação à não é possível anular o vício por vontade das
partes.
A PROBLEMÁTICA:
• Trata-se de saber se, no caso de um fundamento de invalidade ser relativo apenas a
uma parte do conteúdo negocial, o negócio deve valer na parte restante ou deve ser
nulo ou anulável na sua totalidade.
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A SOLUÇÃO:
• Na doutrina propõe-se, predominantemente, o critério da vontade hipotética ou
conjetural das partes que passa por uma vontade fingida ou construída pelo juiz
(figura do bom pai de família) à averiguar aquilo que as partes teriam desejado se
soubesse que o negócio se opunha parcialmente a alguma disposição legal e não
pudessem realizá-lo em termos de ser válido na integra.
o Se se admite que as partes, nessa hipótese, não teriam realizado o negócio
à invalidade total
o Se a conclusão for que as partes, provavelmente, sempre teriam realizado o
negócio na parte não diretamente atingida pelo defeito à redução do
negócio.
• A procura da vontade hipotética ou conjetural deve operar tendo em conta todas as
particularidades do caso em concreto.
• E NO CASO DE DÚVIDAS?
o A doutrina tradicional entende o PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS
NEGÓCIOS JURÍDICOS e a IDEIA DE PROPORCIONALIDADE ENTRE A CAUSA E
O EFEITO (ou seja, este último defende que sendo a nulidade/anulabilidade
parcial, deve, igualmente, a sanção afetar apenas a parte viciada).
o No panorama jurídico português, admite-se que o negócio só deve ser
anulado se se provar que o negócio não teria sido concluído sem a parte
viciada à o contraente que pretender a declaração da invalidade total tem
o ónus de provar que a vontade hipotética das partes ou de uma delas, no
momento de negócio, se tivesse conhecimento do vicio, teria preferido não
realizar o mesmo.
o Se não se provar à redução.
A PROBLEMÁTICA:
• Trata-se de saber se, declarado nulo ou anulado totalmente um negócio, este não
produzirá quaisquer efeitos negociais ou se, dados certos requisitos, não poderá
reconstituir-se num outro negócio, cujo resultado final económico-jurídico, embora
mais precário, se aproxime do tido em vista pelas partes na celebração do contrato
totalmente inválido.
OS REQUISITOS DA ADMISSIBILIDADE:
1. Necessário que o negócio inválido contenha os requisitos essenciais de forma e
substância (capacidade, objeto e vontade) necessários para a validade do negócio
sucedâneo.
2. Exige-se que a vontade hipotética ou conjetural das partes seja no sentido da
conversão. Ou seja, só haverá conversão quando se imponha a conclusão de que as
partes teriam querido o negócio sucedâneo se, na hipótese de se terem apercebido
do defeito, não pudessem ter celebrado o negócio principal sem essa deficiência.
3. Os efeitos económicos do negócio sucedâneo não podem exceder os efeitos visados
com o negócio inválido pois isso contraria uma vontade hipotética construída sobre
a base do negócio principal à o domínio negocial deve ser respeitado.
4. A conversão tem lugar sempre que a boa fé o imponha, mesmo contra a vontade das
partes – artigo 239.º e 334.º do CC
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5. Há casos em que a lei obriga à conversão à 946.º n.º2 do CC
NOTA BEM:
Redução – o ónus da prova cabe à parte que não quer
Conversão – o ónus da prova cabe à parte que quer à exige, portanto, a prova da
vontade hipotética das partes, não tendo lugar em caso de dúvida.
11
AÇÃO DIRETA (ARTIGO 336.º DO CC):
• É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando a ação
direta for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos
normais, para evitar a inutilização prática desse direito, contando que o agente não exceda
o que for necessário para evitar prejuízo.
• Pode consistir:
o Na apropriação/destruição ou deterioração de uma coisa;
o Na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do direito;
o Noutro ato análogo
• Não é lícita, quando sacrifique interesses superiores aos que o agente visa realizar ou
assegurar.
OS REQUISITOS:
¨ Indispensabilidade da conduta para evitar a inutilização prática do direito.
¨ Impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais.
¨ Racionalidade dos meios empregues à proporcionalidade (padrão é o BOM PAI DE FAMÍLIA)
REQUISITOS:
1. Visar evitar uma agressão ilegal, injusta ou ilícita.
2. A agressão deve estar em execução ou ser iminente, ou seja, esta não pode estar terminada.
3. Deve a agressão ser contra a pessoa ou património do próprio ou alheio, podendo ser
pessoal ou patrimonial e também própria ou alheia.
4. Só é justificada em casos onde o recurso à força pública é impossível em tempo útil à por
ser subsidiária
5. Deve a necessidade ou racionalidade ter um peso enorme na justificação de um ato de
legítima defesa à o prejuízo causado pelo ato não deve ser manifestamente superior ao que
resultar da agressão – implica proporcionalidade
a. Contudo, tem de ser medida em concreto.
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ESTADO DE NECESSIDADE (ARTIGO 339.º DO CC):
¨ Reação sobre a esfera jurídica de outrem por quem está ameaçado por um perigo que não
resulta da agressão daquele.
¨ Visa a proteção de direitos colocados em perigo por forças da natureza ou por terceiros que
não aqueles contra quem a ação necessitada se dirige.
¨ Existe uma situação de perigo e, para a afastar, é necessário sacrificar interesses de terceiros
inocentes.
¨ Permite destruir ou danificar coisa alheia para afastar um perigo atual de um dano
manifestamente superior do agente ou de terceiro.
¨ O prejuízo gerado pelo estado de necessidade pode ser indemnizável pelo agente ou até por
outras pessoas.
Exemplo: Para evitar um atropelamento de uma criança, A desvia bruscamente a viatura e destrói
uma montra. O prejuízo pode ser indemnizado pelos pais (terceiros).
OUTRAS FIGURAS
¨ Direito de retenção à artigo 754.º do CC
¨ Exceção de não cumprimento à 428.º do CC
¨ Direito de resolução por incumprimento à 432.º ao 436.º do CC
o Mecanismos de extinção/cessação unilateral de um contrato com fundamento no
incumprimento da outra parte, sendo suficiente um incumprimento grave e/ou
reiterado.
o O direito de resolução é um direito potestativo.
CONTEXTO GERAL:
• A ordem jurídica, conceção já desenvolvida, está indispensavelmente inserida na
ordem social. Ora, como sabemos, a ordem social tem os seus tempos e formas de
evolução e, assim, também a ordem jurídica sofre com estas mutações.
• Podemos, então, dizer que a verdadeira fonte de Direito é sempre e só a ordem
social à os próprios atos normativos que advêm dos órgãos com funções legislativas
só conseguem produzir efeitos se a ordem social não os repelir.
• Poderíamos dizer que só a ordem ou a ordenação social é verdadeiramente fonte
de Direito à mas não excluímos a autonomia e o significado das fontes como
elementos singulares que alteram a Ordem Jurídica
FONTES DE DIREITO
à Em sentido técnico-jurídico – modos de formação e revelação de regras jurídicas
à Manifestação ou facto social que tem o sentido de conter uma regra jurídica
à Podem ser:
• Não intencionais (ex.: costume)
• Intencionais
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AS FONTES COMUNITÁRIAS – FONTES INTERNACIONAIS
DUE DERIVADO:
REGULAMENTO à é fonte
• Verdadeiro ato normativo com força geral e obrigatória (generalidade e obrigação)
• Destinatários à Estados-membros e particulares
• Aplicabilidade direta, independente de qualquer receção, transposição ou mediação destes
• Obrigatoriedade à porque não há possibilidade de escolha no que respeita à aplicação parcelar
regulamentar, passam automaticamente a obrigar também o território nacional, sem necessidade
de publicação pelo Estado Português
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No entanto, esta conceção da equidade como fonte de Direito é motivo de discordância entre a doutrina:
® Aqueles que consideram que a equidade é fonte de Direito têm uma razão: o caso resolve-se pela
equidade, pois ela revela-nos o direito aplicável àquele caso, além de ser modo de revelação do
Direito, embora com referência a casos singulares.
® Aqueles que não consideram a equidade como fonte de Direito, entre eles Oliveira Ascensão, que
diz: se fontes de Direito são os modos de formação e revelação de regras jurídicas, a equidade,
como critério formal de decisão, está fora desta noção. Isto porque, não só não se determinam,
através dela, regras, como a própria solução do caso não se faz através da mediação de uma regra,
elaborada pelo intérprete de modo a abranger a categoria em que o caso se enquadra.
Apresenta-se a equidade como um critério de resolução de casos com dignidade jurídica, mas ela não se
projeta noutros casos, não cria normas jurídicas.
A decisão segundo a equidade não assenta em normas jurídicas, mas sim num juízo de justiça individual
feito pelo julgador, tendo por base as especificidades do caso concreto. São as chamadas decisões extras
sistemáticas, que não assentam no sistema jurídico. Portanto, as decisões segundo a equidade não gozam
de qualquer previsibilidade.
Enquanto a norma jurídica se pauta por uma natureza geral e abstrata e consegue essa natureza
identificando, na previsão, os elementos de que faz depender a aplicação da norma e mandando aplicar
essa norma quando esses elementos se verificam, ignorando os restantes elementos que compõem a
identidade do caso concreto, quando o juiz decide segundo a equidade, ele tem em atenção tudo acerca
da situação, analisando todas as especificidades do caso na procura do equilíbrio. Daí que Oliveira
Ascensão diga que, na equidade, a decisão atende a circunstâncias que a norma despreza, como a força
ou a fraqueza das partes ou a incidência sobre o seu estado de fortuna para encontrar a solução que
melhor se adapta à justiça daquela situação concreta.
“Se a justiça é cega, a equidade não é” -> uma metáfora, que nos diz que a justiça atende apenas à
generalidade e ignora as especificidades e elementos que compõe o caso fora da normatividade jurídica,
sendo igual p/ todos.
Superior risk bearer- a pessoa que suporta melhor o risco; a pessoa que sairá menos afetada -> elemento
muito usado na equidade.
Artigos: 72/2 (direito ao nome); 400/1 (determinação da prestação); 489 (indemnização por pessoa não
imputável); 1675 (dever de assistência); 437
16
Segundo Carneiro da Frada, a equidade corresponde a uma “forma superior de justiça”, acima da lei e do
Direito constituído. A decisão segundo a equidade convoca um “modo de decidir” em que a substância, a
forma, a matéria e o processo se fundem. Porém, a equidade não é estranha ao Direito, antes procura a
concordância entre a sabedoria e a realização de valores no Direito, assinalando a amplificação e a
perfeição a que o Direito tende, em ordem à justiça. A equidade é o sistema que assegura a justicibilidade,
exequibilidade, coercibilidade e eficácia da decisão. É a arte de harmonizar a justiça com outras virtudes
que regulam as relações humanas. Tende a dar mais valor aos sentimentos, aos afetos pessoais e às
emoções das partes. É, por isso, a “justiça do coração”. A equidade relaciona-se com a sabedoria,
representa uma sublimação da justiça.
A equidade, como decisão extra-sistemática, postula um não aprisionamento da justiça pelo conjunto
articulado de normas e princípios historicamente vigentes.
Os critérios do “razoável”, do “bom senso”, do “naturalmente justo” ou da “ordem natural das coisas”
assumem um papel importante na equidade, na seleção dos argumentos, sendo que nenhum é excluído
à priori. Tem-se em conta a pertinência da decisão e as suas consequências.
A equidade não remete para o simples entendimento pessoal do juiz ou para a sua íntima convicção,
reclama sempre uma fundamentação intersubjetiva; está em causa uma apreciação racional e objetivável.
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• Comummente se distingue no costume dois elementos constitutivos:
Oliveira Ascensão:
o Não cabe a uma fonte de Direito reconhecer ou excluir outras fontes de Direito (a lei não
pode dizer se o costume é, ou não, fonte de Direito) à se admitirmos que ambas são
fontes, a dignidade é a mesma.
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o O costume, por derivar da convivência em sociedade, é a mais pura manifestação de
criação normativa à resulta de uma prática social reiterada (nasce em sociedade) e é
acompanhada da convicção de que é a prática mais correta (apesar de ser muito difícil a
criação de um costume contra legem)
o Artigo 348.º do CC à reconhece relevância ao costume à impõe àquele que o invoca em
Tribunal a prova da sua existência.
Argumentos contra:
o Nos artigos relativos às fontes de Direito (1º e 4º do CC) à o legislador não refere o
costume
o Artigo 7º/1 do CC à rejeita a revogação de uma lei por um costume contra legem.
OA à Parece que nada impede o Estado de condicionar a medida em que os seus órgãos aplicam ou
não normas costumeiras. Nada impede o Estado de vedar os seus órgãos de aplicar estes costumes,
assim como nada impede o Estado de legislar contra determinado costume.
CABE AO ESTADO à determinar em que termos e em que medidas é que os seus órgãos devem ou
não aplicar Direito Consuetudinário.
19
JURISPRUDÊNCIA – SERÁ FONTE DE DIREITO?
o O que é a jurisprudência à Conjunto das decisões dos tribunais.
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ACÓRDÃOS UNIFORMIZADORES DE JURISPRUDÊNCIA à figuras que surgem depois da revogação dos
assentos.
o São tomados em Pleno das Secções Cíveis do Supremo Tribunal de Justiça
o Quando acontece à quando surgem decisões distintas para a mesma matéria. Tomados por
maioria.
o Têm grande valor persuasivo porque são decisões tomadas por todos os juízes.
o Se não forem acatados por tribunais de 1.ª instância ou de relação à constitui motivo para uma
admissibilidade especial de recurso – 629.º/2/c) do Código Processual Civil
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LEI EM SENTIDO MATERIAL à tem na base a análise do conteúdo da lei (se tem ou não conteúdo
normativo)
LEI EM SENTIDO FORMAL à forma adotada (tipos de atos legislativos acima referidos)
Praticado pelo chefe do executivo. Acto de Assinada pelos membros do GV. Tem
obrigatória intervenção do PR e deve ser duvidosa base constitucional porque não se
referendado pelo GV e publicado no DR. encontra fundamentada em fonte
hierárquica superior. Contudo, já há um
verdadeiro costume de aceitação. Não carece
2.º RESOLUÇÃO DO CM de promulgação mas deve ser publicada.
Não carece de promulgação pelo PR mas tem
de ser publicada no DR. 4.º DESPACHO NORMATIVO
22
LEI CENTRAL VS. LEI REGIONAL VS. DIPLOMAS LOCAIS
Ninguém questiona o caráter de fonte de Direito destes diplomas, uma vez que
criam normas de âmbito local.
SURGE, NO ENTANTO, UM PROBLEMA: ESTES DIPLOMAS NÃO PROVÊM DE
ÓRGÃOS ESTADUAIS, NÃO CABENDO NO ARTIGO 1.º/2 do CC à posições quanto
a esta problemática:
• OA à muito confusa
• Adotamos a POSIÇÃO MAIORITÁRIA:
o Pires de Lima e Antunes Varela
o É necessário interpretar a expressão “órgãos estaduais competentes”
do artigo 1.º/2 em sentido amplo à para abranger todas as normas
provenientes de instituições de Direito Público, incluindo as autarquias
locais.
Principais causas:
Quando é desrespeitada uma
• Falta de promulgação e
regra sobre a produção A situação mais importante
assinatura do PR – 117.º
jurídica. Pode ser: que torna uma lei ineficaz é a
CRP
• Nulidade falta da sua publicação.
• Falta de referenda do PM
• Anulabilidade
– 140.º/2 CRP
23
PUBLICAÇÃO
Há um acto que é indispensável para conferir à lei a obrigatoriedade: a sua PUBLICAÇÃO.
• Destina-se a tornar possível o conhecimento por todos os seus destinatários à “A lei não nasce
para ser mantida secreta” – OA.
• Para que todos possam pautar por ela a sua conduta à a ignorância da lei é juridicamente
irrelevante, segundo o artigo 6.º do CC.
• Onde? No Jornal Oficial à Diário da República em Portugal, agora em formato eletrónico à
www.dre.pt .
Segundo o artigo 5.º/1 do CC à “A lei só se torna obrigatória depois de publicada no jornal oficial”.
Contudo, o artigo 119.º/1 da CRP é possível observar que nem todas as leis estão subordinadas à
publicação no DR. Devemos, no entanto, afirmar que TODAS AS NORMAS DE FONTE LEGAL estão
sujeitas a algum tipo de publicidade, remetendo para lei ordinária (119.º/ 2 e 3 da CRP).
Devemos, aqui, fazer uma INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA para ser possível conjugar os dois artigos.
Assim, o legislador, no artigo 5.º/1 do CC, não quer dizer que todas as leis têm de ser publicadas
no DR para gozarem de obrigatoriedade, mas sim que A LEI QUE DEVA SER PUBLICADA NO
JORNAL OFICIAL, SÓ SE TORNA OBRIGATÓRIA COM ESSA PUBLICAÇÃO. à prevalece o 119.º da
CRP.
RETIFICAÇÃO
A publicação deve refletir integralmente o texto original, que faz fé. Por vezes, isso pode não acontecer
por i) lapsos de impressão/formatação ou ii) por consequência de anomalias do processo legislativo.
Estas anomalias podem consistir na alteração posterior de um texto já publicado. à frequente a
publicação de RETIFICAÇÕES no jornal oficial.
• Em princípio, o texto da retificação confunde-se com o próprio texto do diploma à mas a
utilização abusiva do processo provoca problemas delicados. Assim sendo, a Lei 74/98, no seu
artigo 5.º/2 impõe um prazo de 60 dias para publicação de retificações.
QUE EFEITOS SE RECONHECE AO TEXTO INICILAMENTE PUBLICADO E QUE DEPOIS VEIO A SER
RETIFICADO?
• Este texto não deriva de nenhuma lei – o texto não corresponde a nenhum ato legislativo.
• A publicação da retificação não revoga o diploma anteriormente publicado. A primeira
formulação verá a cessar automaticamente os seus efeitos com a publicação da retificação à
cessação automática dos efeitos do texto com o erro.
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ENTRADA EM VIGOR
A partir do momento que é publicada, a lei fica em condições de produzir efeitos, passando a ser um
elemento vinculante dentro da ordem jurídica. CONTUDO, isto não quer dizer que seja desde logo
aplicável, acontecendo só com a sua entrada em vigor.
VIGÊNCIA:
• só se dá com a entrada em vigor da lei;
• começa em momento posterior à publicação da lei – salvo exceções.
Entre o período da publicação da lei e o período da sua entrada em vigor decorre um prazo ao qual se
dá o nome de VACATIO LEGIS (férias da lei).
• Normalmente, a própria lei fixa a sua entrada e vigor (ou seja, o seu período de vacatio legis
• Se nada diz? à artigo 2.º da Lei 74/98, que determina a entrada em vigor de uma lei em
território nacional no 5.º dia após a sua publicação. Nos Açores e Madeira, no 15.º dia após a
publicidade. No estrangeiro, no 30.º dia após publicação.
• Lei 74/98 artigo 2.º/4 à o período de férias da lei começa a contar no dia imediatamente
seguinte à publicação no DR.
• Há, no entanto, que entender que estes prazos são os considerados normais, porque existem
variações:
o Para mais - Dificuldade de apreensão de certas leis à um exame prolongado
o Para mais - Dificuldade de adaptação das pessoas ao novo regime
o Para menos - reduzir o prazo por condições de urgência
Pequena nota: não levanta problemas a lei que entra em vigor no dia a seguir à sua publicação. O
problema é entrar em vigor no dia da sua publicação.
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CESSAÇÃO DA VIGÊNCIA DA LEI à artigo chave: 7.º do CC
As leis que não estiverem sujeitas a prazos especiais de vigência permanecem tendencialmente para
sempre. A antiguidade da lei nunca é argumento contra a sua aplicação.
Mas pode a própria lei ser atingida, assim como os seus efeitos. Dá-se, portanto, a cessação ou o termo
da vigência da lei.
ARTIGO 7.º DO CC:
• N.º1 diz-nos que, quando não se destine a ter vigência temporária, a lei só deixa de vigorar se
for revogada por outra lei à contudo, para quem considera o costume como fonte de Direito,
é falso dizer que uma lei sem vigência temporária só cessa a sua vigência com a entrada em
vigor de uma lei que a revogue. Isto porque existe o costume contra legem.
• Serve-nos de base, mas não é suficiente à uma vez que é possível, para além de fazer cessar
a vigência da lei, suspender a vigência da lei, por prazo limitado ou ilimitado.
• Dizer que a lei só cessa de vigorar quando for revogada por outra lei à legislador pretende
excluir o costume contrário.
• O mero desuso de uma lei não implica a extinção desta, enquanto não for sustentada por
verdadeiro costume
• Para quem acredita o costume como fonte de Direito à o costume situa-se na mesma posição
hierárquica que a lei e que uma fonte não pode ser mais importante que a outra.
• Admitimos a suscetibilidade de existência de um costume posterior que revogue lei anterior.
CADUCIDADE
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REVOGAÇÃO
AS MODALIDADES DE REVOGAÇÃO
EXPRESSA TÁCITA
O legislador indica EXPRESSAMENTE quais Mesmo que o legislador nada diga, uma lei é
são os preceitos ou os diplomas que a nova revogada se há incompatibilidade entre ela e
lei revoga os preceitos da nova lei.
• Normalmente existe um artigo antes • Havendo incompatibilidade, prevalece
do período de vacatio legis a dizer “a a lei posterior, sem contestação.
presente lei revoga (...)
GLOBAL INDIVIDUALIZADA
• Prevista no artigo 7.º/2 in fine (parte Tudo o que não é global. Em regra, a
final) revogação é INDIVIDUALIZADA E NÃO
• Quando uma revogação revoga toda a GLOBAL.
matéria da lei anterior à revoga
globalmente.
• A lei nova regula todo um instituto
jurídico ou todo um ramo do Direito à
ficam revogados os preceitos das leis TOTAL
anteriores desse instituto ou ramo do
AB-ROGAÇÃO: quando o diploma é
Direito.
substituído no seu conjunto. Todo ele é
• Não é necessário demonstrar
revogado.
incompatibilidade entre todos os
preceitos da lei nova e da lei anterior à PARCIAL
revogação em bloco, ou seja, mesmo que
a nova lei não regule aspetos que eram DERROGAÇÃO: apenas alguns
regulados pela lei anterior, esta é, na preceitos/artigos da lei antiga são
mesma, revogada. revogados.
27
REGRA GERAL: LEI POSTERIOR REVOGA LEI ANTERIOR
• É a nova lei a publicada em data posterior à a data relevante para este efeito é a DATA DE
PUBLICAÇÃO.
• Quando duas leis são publicadas na mesma data? Não há revogação.
EXCEÇÕES À REGRA:
• Lei inferior NÃO revoga lei superior à uma lei inferior não tem poder de revogar uma lei
superior.
• Lei geral posterior NÃO revoga lei especial anterior, salvo se outra for a vontade inequívoca do
legislador à artigo 7.º/3 do CC.
o Mas porquê? Qual o fundamento?
§ Ainda que o regime geral tenha mudado, à partida este continua sem acautelar
as especificidades que justificou a lei especial à merece e é necessário que se
mantenha em vigor, precisamente porque acautela uma especificidade que o
regime geral anterior e o novo não acautelam.
§ Ressalva: compatibilidade entre a lei geral nova e a lei especial anterior à não
se coloca o problema da revogação. Só é colocado este problema quando há
incompatibilidade de regimes (lei geral mais recente contraria o regime especial
antigo).
o Porque é que o legislador estabelece que a lei geral não revoga lei especial salvo se
outra for vontade inequívoca do legislador?
§ Porque a lei especial foi pensada para a situação particular que regula.
§ À partida, o regime especial novo não terá em consideração essas
circunstâncias especiais à não se sobreporá à lei especial que existia, ou seja,
a lei geral nova não afetará a vigência de um regime especial anterior que seja
com ele incompatível.
§ MAS há que ter atenção à parte final do artigo 7.º/3 do CC à é possível que a
própria lei geral posterior revogue expressamente a lei especial anterior e ainda
é possível que, resultante da interpretação da lei geral posterior, o legislador
pretenda aplicá-la à situação regulada pela lei especial, tendo aqui uma
revogação tácita.
o EM SUMA: lei geral posterior revoga lei especial anterior QUANDO:
§ O legislador o expressa
§ Resulte com especial certeza da lei geral nova que se pretende aplicar à situação
regulada pela lei especial anterior
E SE FOR UMA LEI ESPECIAL POSTERIOR INCOMPATÍVEL COM UMA LEI GERAL ANTERIOR?
• A lei especial posterior revoga parcialmente a lei geral anterior à a lei geral deixa de se
aplicar à situação que é abrangida pela lei especial na medida dessa incompatibilidade.
• Se a lei especial for revogada sem ser substituída por outra lei, aplica-se o regime geral à
porque esse regime geral já está em vigor.
28
O PROBLEMA DA NÃO REPRISTINAÇÃO (NÃO REENTRADA EM VIGOR)
7.º/4 à A REVOGAÇÃO DA LEI REVOGATÓRIA NÃO IMPORTA O RENASCIMENTO DA LEI QUE ESTA
REVOGARA.
• A perda da vigência da lei revogatória não importa o renascimento da lei que esta revogara.
• A não repristinação significa que a cessação da vigência de uma lei que revogou uma lei
anterior não implica o renascimento da lei que foi por ela revogada mesmo que a lei não regule
essa matéria.
• Na falta de disposição em contrário sempre se entendeu que não havia repristinação.
EX: Uma lei 1, que entrou em vigor em 1990, é revogada pela lei 2, que foi publicada em 2005, e
esta foi revogada pela lei 3 de 2010. A revogação da lei 2 pela lei 3 não implica o renascimento da
lei 1, mesmo face aos casos em que a lei 1 não seria incompatível com a lei 3.
E se, por lapso, um legislador remete uma lei nova para uma lei que, afinal, já estava revogada ou
cuja vigência tinha cessado? Quid iuris?
• Nestes casos, parece de admitir que a lei nova não repõe a lei antiga à Não há
repristinação.
• O que faz é apropriar-se MATERIALMENTE do conteúdo da lei antiga para qual remete à
a nova lei torna seu o conteúdo da lei antiga na parte para que remete.
CONFLITO DE LEIS
Quando estamos perante normas conflituantes (o conteúdo dessas normas não é compatível), esse
conflito é resolvido com recurso a 3 critérios:
• Princípio da Superioridade à lex superior derogat legi inferiori à lei superior prevalece sempre
sobre lei inferior
• Princípio da posterioridade à lex posteriot derogat legi priori à estando as lei no mesmo
patamar da pirâmide, a lei mais recente prevalece sobre lei mais antiga, exceto se a lei mais
antiga for uma lei especial.
• Princípio da especialidade à lex specialis derogat legi generali à se a lei antiga for uma lei
especial ela não é afetada pela lei geral mais recente, exceto se outra for a vontade inequívoca
do legislador.
NB: para aplicarmos o princípio da superioridade, temos de atender à hierarquia das leis:
Leis constitucionais editadas pelo legislador constituinte originário/ leis constitucionais emanadas do
poder constituinte de revisão/ Leis reforçadas da AR/ L, DL E DLR/ Decretos regulamentares do GOV./
Resoluções do CM/ Portarias/ Despachos
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O PAPEL DAS INSTRUÇÕES
• INSTRUÇÕES (NÃO SÃO FONTE DE DIREITO, NÃO TÊM FORÇA OBRIGATÓRIA GERAL) à circulares,
ordens de serviço, instruções propriamente ditas, os despachos e outras fontes semelhantes
proferidos no seio de uma determinada hierarquia (normas internas)
o De facto, as instruções são actos genéricos, mas internos à destinam-se a inferiores
hierárquicos, pelo que pessoas situadas fora daquela hierarquia não têm de as acatar.
o Têm caráter administrativo.
o Não podem ser consideradas leis, não gozam de força obrigatória geral.
NORMAS CORPORATIVAS
• Artigo 1.º/1 do CC à as normas corporativas são fonte imediata de Direito.
• São normas intraestaduais criadas por ordens institucionais menores, que tem uma vida jurídica
autónoma em relação à vida do Estado (ex.: Ordem dos Advogados)
• Normas criadas por organismos representativos das diferentes categorias morais, culturais,
económicas ou profissionais que ainda hoje existem.
• Não podem contrariar leis de caráter imperativo, mas prevalecem sobre os usos (artigo 3.º/2)
A disposição legal apresenta-se ao jurista como um conjunto de palavras que constituem um texto.
O OBJETIVO à ao ler o texto legal, retirar dele um conteúdo, que depois se aplicará ao caso concreto.
ANTERIORMENTE ATUALMENTE
Entende-se a tarefa de interpretação como Entende-se que nenhum texto comporta um
apenas necessária quando o texto legal único sentido, por mais claro que ele seja.
suscitava dúvidas. ASSIM: TODAS AS LEIS DEVEM SER
No antigo parecer à no texto claro não cabia INTERPRETADAS.
interpretação. Só sabemos se uma disposição legislativa é
clara depois de a interpretar.
A interpretação é imposta SEMPRE.
Normas jurídicas à essa situação é ainda mais
DAÍ A NECESSIDADE DA INTERPRETAÇÃO. intensa, devido ao uso de expressões ambíguas,
Atividade do jurista que se destina a fixar o da natureza técnica do vocabulário, dos
sentido e o alcance que o texto deve valer. conceitos indeterminados e das cláusulas
De entre os sentidos do texto, deverá escolher gerais. Devemos ainda atender à possibilidade
um. de a expressão verbal ter atraiçoado o
pensamento legislativo.
30
Mas não poderá escolher um qualquer sentido!
• A lei é um instrumento de prática conformação e ordenação da vida social à dirigida a uma
GENERALIDADE DE PESSOAS e a uma SÉRIE INDETERMINADA DE CASOS.
• Daí que deva procurar-se extrair um sentido que valha para todas as pessoas e para todos os casos.
à há que fixar-se um sentido decisivo da lei que garanta um mínimo de uniformidade de soluções.
• É, portanto, neste contexto que a doutrina fixa, no artigo 9.º do CC, um conjunto de diretivas e
critérios que devem orientar a atividade do intérprete à HERMENÊUTICA JURÍDICA (falaremos
posteriormente).
AUTÊNTICA DOUTRINAL
• Dotada de uma força especial • Não é feita por um órgão competente para
• O órgão competente cria a lei à tem esse efeito.
competência para INTERPRETAR, modificar, • Não tem força normativa à é feita por
suspender ou revogar. quem aplica o Direito (pessoas sem poder
• Quando publicada a lei à se surgirem legiferante).
dúvidas acerca do seu sentido ou conteúdo: • Atividade do jurista que se destina a
pode o órgão interpretar a lei anterior identificar o sentido e o alcance com que o
através de uma nova lei à lei interpretativa texto legal deve valer.
à artigo 13.º CC. • Apenas poder persuasivo = poder da
• Este diploma interpretativo tem a força argumentação em que assenta.
vinculante de uma lei normal, podendo até
ser hierarquicamente superior à lei anterior
• Os cânones ou diretivas hermenêuticas não
vinculam o órgão em questão.
• Conjunto de diretivas ou cânones que devem orientar a atividade do intérprete na sua tarefa
interpretativa à para evitar o casuísmo (caso a caso) e o arbítrio de cada julgador, incompatíveis
com as necessidades da vida social e da segurança jurídica.
SUBJETIVISIMO VS OBJETIVISMO
HISTORICISIMO VS ATUALISMO
31
SUBJETIVISIMO VS OBJETIVISMO
PERGUNTA PRINCIPAL à deverá o intérprete procurar a vontade real do legislador? Ou aquilo que
resulta da lei – vontade ou intenção da lei?
kl
SUBJETIVISMO – MENS LEGISLATORIS OBJETIVISMO – MENS LEGIS
• A vontade interpretativa deve ir apontada à • A interpretação deve dirigir-se
descoberta da vontade do legislador. essencialmente à descoberta do sentido da
• Dá, por isso, menos importância à fórmula normativa objetivada no texto,
objetivação linguística dessa vontade no autonomizando-se da vontade psicológica
texto da lei. que esteve na sua origem.
• Das várias aceções que o texto legal • O intérprete não está vinculado à vontade
comporta, deve prevalecer aquela que do legislador real, mas no sentido
comporta a “vontade historicamente real objetivado do texto
do legislador” - HECK • Deverá supor um legislador ideal que pensa
as leis com o sentido mais razoável que o
texto comporta
32
SERÁ ESTA DISCREPÂNCIA DOUTRINAL ASSIM TÃO RELEVANTE?
• Dr. Manuel Andrade: na prática não é assim tão notória esta divergência. Centra-se, apenas, na
importância que é conferida aos trabalhos preparatórios da lei (projetos, anteprojetos, relatórios
oficiais, atas de comissões....).
• São estes trabalhos que nos podem elucidar quanto à vontade real do legislador. Na falta de
elementos para chegar a esta vontade real, os próprios subjetivistas reconhecem que tem de ser a
partir do texto da lei.
• Esta querela só é determinante nos casos raros em que existem elementos concretos que revelam a
vontade real do legislador e esta vontade colide com o sentido que resulta do texto da lei.
HISTORICISIMO VS ATUALISMO
PERGUNTA PRINCIPAL à quando se interpreta a lei, deve o intérprete concentrar-se no sentido que
ela tem no momento em que é elaborada OU se deve adequar esse sentido ao momento histórico em
que a lei é aplicada? Deverá prevalecer a rigidez da lei ou o dinamismo e a fluidez da vida na sua
evolução histórico-social.
ATUALISTAS
HISTORICISTAS
• O sentido da lei deve evoluir de acordo com
• O sentido da lei permanece imutável ao
o evoluir da vida, adequando-se às
longo do tempo da sua vigência
circunstâncias de cada momento histórico.
33
ELEMENTOS DE INTERPRETAÇÃO
• Elementos a que um intérprete recorre para retirar o sentido correto da norma.
• Temos um texto linguístico à norma apresentada sob fórmula normativa, sendo preciso retirar desta
o sentido correto, que depois será utilizado na aplicação da norma na realidade da vida concreta.
• Em cada tarefa de interpretação à devemos recorrer à conjugação de 2 grandes elementos:
gramatical e lógico, que se subdivide em 3 (teleológico, sistemático e histórico) à A INTEPRETAÇÃO
DEVE SEMPRE PARTIR DE TODOS ESTES ELEMENTOS.
• É dos resultados que surgirem da conjugação destes quatro elementos que nasce a tarefa de
interpretação.
ELEMENTO GRAMATICAL
• O texto é o ponto de partida da interpretação (porque é preciso ler a norma para a interpretar)
à “texto da lei” / “letra da lei”
• Função negativa: eliminar aqueles sentidos que não tenham qualquer apoio, ou pelo menos uma
qualquer “correspondência” ou ressonância nas palavras da lei.
• Função positiva – 2 dimensões à convicção de que o legislador se soube exprimir
adequadamente:
o Se o texto comporta apenas um sentido – é esse o sentido da norma (em regra) à pode
acontecer que, com a conjugação com outras normas, se chegue à conclusão de que, com
base nos elementos de interpretação, a redação do texto não represente o pensamento
do legislador (atraiçoando-o);
o Se o texto comporta mais que um sentido – o que é normal – deve o intérprete, na falta
de outros elementos que induzam em sentido contrário, acolher aquele sentido que
melhor e mais imediatamente corresponda ao significado natural das expressões verbais
(no seu sentido técnico-jurídico) utilizadas na norma.
ELEMENTO LÓGICO
TELEOLÓGICO:
• Consiste na RAZÃO DE SER DA LEI à ratio legis
• O que a lei pretende à fim visado pelo legislador ao elaborar a norma
• Elemento determinante à percebendo o que a lei pretende regular e como, chegamos muito
mais rapidamente ao seu sentido
• Ratio legis à fim visado ao elaborar a norma, com que finalidade legislativa é razão de ser da
norma.
• O conhecimento deste fim, principalmente quando acompanhada do conhecimento das
circunstâncias (políticas, sociais, económicas, morais, etc) em que a norma foi elaborada, ou da
conjuntura politico-económico-social que motivou a decisão legislativa – occasio legis à grande
importância para determinar o sentido da norma.
• É um elemento muito fácil de manipular à na sua análise, devemos ter a preocupação de ser
neutros e abrangentes na análise, não podendo esquecer a occasio legis:
o Quais as circusntâncias
o Interesses em jogo
o Quem são os afetados
o A qual desses interesses deve o legislador atribuir prevalência e em que medida o fez
34
SISTEMÁTICO:
j • Tem em vista a consideração das outras normas que formam aquele instituto em que se integra
a norma a interpretar
• Objetivo: considerar as outras normas que formam o instituto em que se integra a norma que
estamos a interpretar.
• Devemos considerar as outras normas que regulam a mesma matéria, bem como normas que
regulam matérias próximas e afins à porque a solução entre todas a normas tem de ser coerente
• A norma deve ser considerada em consonância com o espírito de todo o ordenamento jurídico.
HISTÓRICO:
• Todos os elementos relacionados com a história do preceito:
o A evolução histórica do instituto, figura ou regime jurídico em causa à pode lançar luz
acerca do conhecimento da norma
o Fontes de lei à trabalhos preparatórios da lei e tudo o que a inspirou.
RESULTADOS DA INTERPRETAÇÃO
• Segundo a doutrina tradicional, o intérprete, socorrendo-se dos elementos ou subsídios
interpretativos acabados de referir acabará por chegar a um dos seguintes resultados ou
modalidades de interpretação (relação com o elemento gramatical):
DECLARATIVA:
• O interprete limita-se a eleger um dos sentidos que o texto direta e claramente comporta por ser
aquele que corresponde ao pensamento legislativo;
• Depois de aplicar os 4 elementos, o intérprete atribui à norma um dos sentidos que o texto direta
e claramente comporta.
• Existe correspondência entre o sentido que o intérprete atribui à norma e um dos sentidos que o
texto da norma direta e claramente comporta.
• Conclusão à nos termos do artigo 9.º/3 do CC, o legislador exprimiu de modo correto e adequado
o pensamento legislativo.
EXTENSIVA:
• O intérprete chega à conclusão de que a letra do texto fica aquém do espírito da lei à forma verbal
peca por defeito, dizendo menos do que aquilo que se pretendia dizer
• A norma tem um sentido mais amplo que aquele que resulta da sua letra
• O intérprete vai, então, alargar o que resulta imediatamente da letra da lei, dando-lhe um alcance
mais amplo que corresponda ao verdadeiro sentido da lei.
• EM NADA SE RELACIONA COM A LACUNA à a interpretação extensiva não resulta de falta de
regulamentação, ao contrário da lacuna:
o Os casos não diretamente abrangidos pelo texto da lei, são indubitavelmente abrangidos
pelo espírito da lei - decorre da própria ratio legis
• Vai para além do texto da lei mas não para além dos elementos de interpretação.
• Assume normalmente a forma de extensão teleológica à casos não abrangidos pela letra mas pela
finalidade
35
• Argumentos:
o Argumento da identidade da razão (a pari) à onde a razão de decidir seja a mesma, a
F decisão também deve ser a mesma.
o Argumento da maioria da razão (a fortiori) à se a lei explicitamente contempla certas
situações para que estabelece um determinado regime, forçosamente há de também
pretender abranger outra ou outras situações que com ainda mais fortes motivos exigem
ou justificam o mesmo regime.
RESTRITIVA:
• Depois de aplicar os quatros elementos, o intérprete chega à conclusão que o texto da lei vai além
do seu sentido à o legislador disse mais do que queria dizer
• É necessário reduzir o alcance da norma que resultaria do elemento gramatical de maneira a que
ele seja coincidente com o sentido que resulta da razão de ser da lei
• “cessant ratio legis cessat eius dispositio” à cessando a razão de ser da norma, cessa o seu alcance
• Também aqui a ratio legis tem palavra decisiva à o intérprete não deve deixar-se arrastar pelo
alcance aparente do texto, mas deve restringir este em termos de o tornar compatível com o
pensamento legislativo.
REVOGATÓRIA OU AB-ROGANTE:
• Amplamente excecional
• O intérprete chega à conclusão que existe uma contradição insanável entre duas disposições legais
à é necessário sacrificar, em obediência à razão de ser de tal pensamento legislativo, a totalidade
ou parte de uma norma.
• Quando entre duas disposições legais existe uma contradição insanável.
CORRETIVA:
• Partilha com a revogatória o facto de ser necessário sacrificar parte ou totalidade de uma fórmula
normativa
• O intérprete chega à conclusão de que a fórmula normativa é tão pouco clara /tão mal inspirada
que nem sequer consegue aludir com o mínimo de segurança às hipóteses a que a lei se pretende
referir OU deixa-as de fora OU abrange hipóteses que não estão de todo no espírito da lei.
• Só é possível quando não se consegue chegar a esse resultado com a extensiva ou a restritiva.
ENUNCIATIVA:
• O intérprete deduz de uma norma um preceito que está apenas virtualmente contido nela à
utilizando inferências lógico-jurídicas de argumentos para retirar de uma norma uma outra norma
que considera que está nela contida
• ARGUMENTOS:
o “a maiori ad minus” à a lei que permite o mais, também permite o menos
o “a minori ad maius” à a lei que proíbe o menos, também proíbe o mais
o “a contrario” à deve ser usado com muita prudência:
§ Por meio dele deduz-se de um ius singulare
§ Deduz-se da disciplina excepcional estabelecida para certo caso, um princípio regra
de sentido oposto para os casos não abrangidos pela norma excepcional.
§ A partir de uma norma excepcional se deduz a contrário que os casos que nela não
são abrangidos seguem, portanto, um regime oposto que será o regime-regra.
§ Para usar este argumento à 36 demonstrar que a consequência prevista só está
consagrada na norma excepcional, e não qualquer outra hipótese
ARTIGO 9.º DO CC
• Norma sobre norma à vale para todo o Direito, independentemente do ramo em causa.
• OBJETIVO à determinar o modo de determinação do conteúdo significativo de todas as outras
normas do sistema jurídico
• Critérios que devemos utilizar para determinar qual o sentido de todas as restantes normas do
sistema jurídico
• BM à todas as normas trazem associadas a si o artigo 9.º.
• Inúmeras respostas quanto `as querelas doutrinais:
§ Não cabe ao legislador tomar posições em termos de matérias doutrinais à no artigo 9.º, este
não usa a expressão “vontade do legislador” nem “vontade da lei”. Prefere o termo
“pensamento legislativo”.
§ Contudo, não podemos esquecer que, no artigo 9.º/3 à deixa claro que o intérprete deve ter
em mente um legislador ideal que se soube exprimir corretamente e não a vontade do
legislador concreto – indício OBJETIVISTA
§ 9.º/1 – parte final à adoção da posição atualista:
• Deve o intérprete ter em atenção as condições específicas do tempo em que a lei é
aplicada
• Elemento gramatical à inicio do artigo.
o Função negativa à n.º 2
o Função positiva à n.º3
• 9.º/1 à elemento sistemático – “unidade do sistema jurídico”, mencionando logo de seguida a
atenção às circunstâncias contextuais em que a lei foi elaborada (occasio legis), para identificar a
sua importância quanto à ratio legis.
INTEGRAÇÃO DE LACUNAS
O QUE É UMA LACUNA?
• Temos uma lacuna quando há uma situação da vida merecedora de tutela jurídica, mas que não se
encontra regulada em nenhuma norma jurídica.
• As leis são impotentes para regular todas as situações da vida que exigem disciplina jurídica à
existirão sempre hipóteses que não são previstas nem objeto de qualquer específica determinação
• É uma situação que merecia ser regulamentada, mas não o foi.
A) DEFICIÊNCIA DE PREVISÃO:
• É impossível prever todas as situações.
• A situação já existia, mas o legislador esqueceu-se.
• Frequentes.
B) SITUAÇÕES NOVAS
• Evolução incessante das circunstâncias faz com que a lei feita hoje se vá aplicar amanhã de maneira
muito diferente
• Pode acontecer mesmo que situações que ainda não ocorriam no momento da elaboração da lei
exijam depois disciplina própria.
37
C) INTENÇÃO DE NÃO REGULAR DESDE LOGO
• Sobretudo em matérias ainda em evolução, o legislador, conscientemente, deixa por vezes aspetos
k por regular
• 3 razões:
o Por se tratar de matéria ainda muito fluída, sendo arriscado encerrá-la, desde logo, num
regime preciso à o legislador tende a confiar mais na capacidade de acomodação da vida
que nos seus próprios prognósticos
o Por querer deixar os órgãos de aplicação do Direito, sobretudo aos órgãos judiciais à
espaço livre em que se pensa ser útil que eles dêem o seu contributo
o Falta de capacidade dos órgãos legiferantes para encontrar a solução adequada ou o acordo
que torne possível a sua implantação.
É neste sentido que OA refere que, quando estamos perante uma nova situação para qual não existe
regulamentação na ordem jurídica à NECESSÁRIO DISTINGUIR SE ELA É UMA LACUNA OU UMA
SITUAÇÃO EXTRA JURÍDICA
• Para haver lacuna à não basta dizer que existe um caso que não é regulado pelo Direito.
• A maior parte das situações da nossa vida não são reguladas pelo Direito à porém, o facto de
não ser regulada nesse momento não significa que não possa ser posteriormente.
• Há situações que não são reguladas pelo Direito porque não têm de ser.
LACUNA:
SITUAÇÃO EXTRA-JURÍDICA:
• Caso que não está regulado pelo Direito,
• Situação que não é regulada pelo Direito
mas devia estar
porque não tem de o ser
• Tem dignidade jurídica e merece
• Ex: cor da minha roupa
tratamento normativo
Para haver lacuna, temos de ter uma situação da vida não regulada normativamente, mas que tem
DIGNIDADE JURÍDICA.
• COMO SE AVALIA ESSA DIGNIDADE. JURÍDICA:
o A matéria cabe dentro das características e das funções da ordem jurídica? Estão fora as
matérias de cortesia, ordem moral, ordem religiosa à o Direito não intervém.
o Se gozar de dignidade jurídica à preciso avaliar se ela deve ser juridicamente regulada,
ou seja, se o sistema jurídico, para ser completo, requer a consideração e a solução
daquele caso concreto.
38
RELAÇÃO ENTRE INTEGRAÇÃO DE LACUNAS E INTERPRETAÇÃO
• A integração supõe a interpretação (em sentido estrito), mas não é ela a própria interpretação.
• Supõe a interpretação desde logo no momento de determinação da lacuna à só depois de apurado
o sentido das fontes existentes podemos concluir que o caso não está especificamente regulado.
• Pode haver aparentemente lacuna, mas pode ser resolvida pela interpretação extensiva.
• É uma relação de COMPLEMENTARIDADE, mas também de EXCLUSÃO.
COMPLEMENTARIDADE
• A própria identificação de uma lacuna prossupõe uma atividade de interpretação das normas
jurídicas à só depois de se ter apurado o sentido de todas as normas em vigor, se poderá chegar à
conclusão que aquele caso é lacunoso
• Só através da interpretação à possível identificar lacunas.
• UM DOS MECANISMO DE INTEGRAÇÃO DE LACUNAS:
o Nos termos do artigo 10.º à analogia
o Como se aplica a analogia? Aplicação de outras normas do ordenamento à no momento
de preenchimento da lacuna, o recurso à analogia prossupõe a interpretação da norma para
aferir se as situações (do caso e prevista na norma) são análogas.
• É pela interpretação que identificamos a lacuna e é por interpretação que a colmatamos por
analogia.
• Interpretação pode detetar lacunas ocultas.
o O que é uma lacuna oculta? Existe uma ou mais normas aparentemente genéricas, que
aparentam dar resposta a certa situação. à contudo, por interpretação restritiva ou por ab-
rogante da norma, conclui-se que, afinal, aquela norma não regula aquela situação concreta
à lacuna
EXCLUSÃO
• Entre a integração de lacunas e a interpretação à se a situação for passível de enquadramento por
interpretação extensiva, NÃO HÁ LACUNA.
• COMO SE DESTINGUE UMA INTEGRAÇÃO DE LACUNA E UMA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA?
o Em ambos os casos: a regulamentação não resulta do texto da norma, mas sim da
interpretação extensiva do seu sentido, ainda incluído na norma.
o Só estaremos perante uma integração de lacunas quando a situação NÃO CABE DENTRO DA
LETRA DA NORMA NEM NO ESPÍRITO DE NENHUMA NORMA EM VIGOR.
o Razão de ser: 11.º do CC à proibida a aplicação por analogia de normas excecionais, mas é
permitida a interpretação extensiva.
LACUNA E COSTUME
• Para quem admite o costume como fonte de Direito à se uma matéria é regulada por costume, não
há lacuna.
39
MODOS DE INTEGRAÇÃO DE LACUNAS
É no artigo 8.º/1 do CC que a problemática surge. “O tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a
falta ou obscuridade da lei ou alegando dúvida insanável acerca dos factos em litígio.” à PROIBIÇÃO DO
NON LIQUET.
Assim, deverá o juiz/intérprete colmatar e integrar estas lacunas no ordenamento jurídico.
ARTIGO 10.º DO CC
ANALOGIA
• Repousa na exigência do tratamento igual de casos semelhantes.
• Processo geral de pensamento que, em matéria de integração de lacunas, tem uma das suas
aplicações jurídicas.
• Se uma regra estatui de certa maneira para um caso, é natural que um caso análogo seja resolvido
da mesma forma, apesar de lacunoso.
• A semelhança que prossupõe a analogia não é uma semelhança fáctica (descrição exterior da
situação). É, sim, uma semelhança sob o ponto de vista jurídico, querendo isto dizer que ambas as
situações partilham a mesma razão justificativa de regulamentação.
• O núcleo essencial comum ao caso omisso e ao caso análogo exige que se aplique a ambos a mesma
consequência jurídica à 10º do CC.
• Há que entender que o caso omisso tem necessariamente diversidade em relação ao caso previsto.
à é relativamente semelhante e relativamente diferente, importando, contudo, no respeitante à
analogia, apenas as suas semelhanças. O núcleo essencial supra referido deve pesar mais que as
diversidades para que seja aplicada a analogia.
• A analogia é, acima de tudo, uma atividade de valoração das normas, onde se procura a essência
da regulamentação.
Regras que definem os crimes e estabelecem as penas e os respetivos efeitos não podem ser
aplicados por analogia.
Porquê?
• Defesa das pessoas contra eventuais abusos de poder à principio da tipicidade das normas
penais.
• Ninguém será sentenciado criminalmente, se não houver lei anterior que declare puníveis o acto
ou omissão.
JÁ AS NORMAS PENAIS NEGATIVAS à podem ser aplicadas analogamente, uma vez que afastam a
punição.
40
DIREITO FISCAL
• Por força do princípio da legalidade fiscal, os impostos devem ser criados e disciplinados por lei
– artigo 103º/2 e 3 da CRP.
• Não é permitido integrar lacunas por imposto, seja por analogia seja por outro método.
NORMAS EXCEPCIONAIS
ARTIGO 11º à “As normas excepcionais não comportam aplicação analógica, mas admitem
interpretação extensiva.”
• Duas normas podem estar entre si na relação regra/exceção:
o À regra estabelecida pela primeira opõe-se a excepção à aberta a um círculo mais ou
menos amplo de situações.
o A excepção é necessariamente de âmbito mais restrito que a regra, e contraria a
valoração ínsita nesta, uma vez que segue finalidades particulares.
• A lógica subjacente a este artigo é: se a norma excepcional é contrária ao regime regra, no caso
de se proceder à identificação de uma lacuna, deverá ser aplicada o regime regra, e não a
excepção.
• Da regra expecional pode extrair-se a regra geral à através do argumento a contrario à este é
um dos processos de determinação da regra aplicável. SERIA UMA MODALIDADE DA
INTERPRETAÇÃO ENUNCIATIVA (como já vimos).
JUSTIFICAÇÃO
• Numa primeira instância, a justificação pode parecer simplista: a excepção está delimitada para
os casos para que foi estabelecida e não tem elasticidade para abranger novas situações.
• Contudo, a proibição do recurso à analogia através de normas excepcionais é mais complicada
que o enunciado supra. Podem surgir casos que apresentam mais semelhanças com os regulados
de modo excepcional que com os constantes da regra geral.
o A proibição da analogia equivale a qualificar os casos que não sejam idênticos ao
regulado pela regra excepcional como casos opostos.
NB. à o Dr. Oliveira Ascensão e o Dr. Teixeira de. Sousa distinguem duas modalidades de normas
execpcionais:
• Normas que gozam de excepcionalidade formal
• Normas que gozam de excepcionalidade substancial à associada ao conceito de ius
singulare:
o Conjunto de regras que, por visarem uma utilidade especial, vão contra um
princípio fundamental de Direito. Ou seja, não basta uma norma entrar em
contradição com uma outra para ser excecional. Deve divergir de um princípio
fundamental de direito. à a justificação encontra-se aqui. Devido ao seu ratio
peculiar, a norma excepcional não pode ser aplicada analogamente (extensão a
outros casos).
41
ANALOGIA LEGIS E ANALOGIA IURIS
g
Modalidades de analogia que suscitam especiais dificuldades no seio doutrinal.
CRÍTICAS
A pretensa plenitude encontra-se, hoje, afastada.
• Primeiro, porque a doutrina reconhece a existência de “lacunas rebeldes à analogia” à O artigo
10.º/3 reconhece expressamente a possibilidade de persistência de lacuna “na falta de caso análogo”.
o A norma ad hoc criada nos termos do artigo 10.º/3 é inspirada no sistema, mas não
está contida no sistema.
42
• Para além disso, é falso afirmar que a integração de lacunas preenche o ordenamento jurídico, uma
vez que não são criadas normas. O sistema incompleto continua incompleto à depois de integrar
lacuna continua a existir lacuna.
Contudo, isto não significa que não se possa configurar um conflito de leis no tempo.
Existem situações na vida que se prolongam ao longo de várias substituições legislativas, que continuam
quando a lei muda.
• É que a entrada em vigor de uma lei nova não provoca um corte radical na continuidade da vida
social à há factos e situações que, tendo-se verificado antes da entrada em vigor da nova lei,
tendem a continuar no futuro ou a projetar-se nele.
O PROBLEMA É: que lei aplicar a uma situação jurídica que nasce ao abrigo de uma
determinada lei, mas que se prolonga no tempo, continuando a existir mesmo depois
dessa lei ser substituída por outra?
Surge no século XVIII à está em jogo a proteção dos direitos fundamentais do cidadão
e da segurança jurídica contra o abuso do poder.
43
O problema da aplicação da lei no tempo deriva de um conflito entre as duas funções (antinómicas
entre si)kdo Direito:
Daí que se diga que o princípio fundamental da aplicação da lei no tempo é O PRINCÍPIO DA NÃO
RETROATIVIDADE DA LEI. Este decorre da essência da lei, podendo afirmar-se que o mesmo é um
princípio universal do Direito.
MAS ESTE PRINCÍPIO NÃO É ABSOLUTO à há situações de aplicação retroativa da lei. Surgem,
assim os 3 graus possíveis de retroatividade:
44
RETROATIVIDADE DE GRAU MÍNIMO
• gAquela a que se refere o artigo 12.º/1 do CC
• Se nada for dito pelo legislador, aplica-se este grau de retroatividade
• A lei aplica-se a situações constituídas antes da sua entrada em vigor, MAS RESPEITA OS
EFEITOS JÁ PRODUZIDOS AO ABRIGO DA LEI ANTIGA.
O legislador não pode atribuir retroatividade à lei se, através desta, violar ou colocar em
causa DIREITOS FUNDAMENTAIS constitucionalmente tutelados ou qualquer outro PRINCÍPIO
OU GARANTIA CONSTITUCIONAL.
Mas é aqui que surge um problema: RETROATIVIDADE DE GRAU MÁXIMO à o desrespeito pelo
caso julgado anterior à lei nova viola ou não viola o princípio constitucional da SEPARAÇÃO DE
PODERES (artigo 111.º da CRP)?
45
ARTIGO 2.º DO CP
As penas e as medidas de segurança são determinadas pela lei vigente no momento da prática do
factogou do preenchimento dos pressupostos de que dependem.
• CONTUDO:
o se a lei nova eliminar o facto que até ali era punível do número das infrações, o arguido
já não pode ser condenado e, se já o foi por sentença transitada em julgado, tem-se a
pena por extinta.
o Sendo diferentes a pena estabelecida pela lei do tempo das infrações (lei antiga) e as
penas estabelecidas (para o mesmo delito) por leis posteriores, será sempre aplicada
a pena mais leve ao infractor ainda não condenado por sentença transitada em
julgado.
o No caso de tiver havido condenação, mesmo que transitada em julgado, cessam a
execução e os seus efeitos penais logo que a parte da pena que se encontrar cumprida
atinja o limite máximo da pena prevista na lei posterior.
o As disposições legais sobre os efeitos das penas têm efeito retroativo, em tudo o que
seja favorável ao infractor.
46
E QUANDO O LEGISLADOR NADA DIZ? APLICAR AS REGRAS DO DIREITO TRANSITÓRIO (12.º, 13.º
j DO CC)– 2.ª OPÇÃO
E 297.º
• A maior parte das vezes ou para a grande maioria dos casos o legislador nada diz em especial
sobre a lei aplicável a situações em que suscita um problema de conflitos de leis no tempo.
• O jurista é, então, remetido para o princípio da não retroatividade da lei, nos termos do
artigo 12.º.
Vigora o princípio de NÃO RETROATIVIDADE DA LEI.
ARTIGO 12.º/1 Considera-se retroativa a lei que se aplica a factos que ocorrem
antes do início da sua vigência.
1.ª REGRA/PRINCÍPIO:
Quando o contrário não resultar de disposição legal (não seja atribuída eficácia
retroativa pelo legislador), a lei só dispõe para o futuro.
2.ª REGRA/PRINCÍPIO:
Mesmo nos casos em que o legislador admite a aplicação da lei a factos passados
antes do início da sua vigência, presumem-se ressalvados os efeitos já produzidos
que a lei se destina a regular à retroatividade de grau mínimo
Nota bem:
• O artigo 12.º/1 à quando há retroatividade, ela é de grau mínimo
• O artigo 12.º/2, segunda parte + disposições transitórias (quando o legislador assim o
expressa) à há retroatividade
ARTIGO 12.º/2
PRIMEIRA PARTE
47
SEGUNDA PARTE h
As normas da lei nova que dispõe sobre o conteúdo de certas situações jurídicas e o
modelam sem olhar aos factos que a tais situações deram origem à aplicam-se de
imediato às situações jurídicas constituídas antes da entrada em vigor da lei nova,
mas em curso à data desse início de vigência.
• APLICA-SE A LEI NOVA aos efeitos da situação jurídica ocorridos após o
início da sua vigência (retroatividade de grau mínimo), ou seja, neste
caso, a lei nova, além de se aplicar às situações jurídicas constituídas no
passado e que ainda estão em curso à data da sua entrada em vigor, mas
apenas a partir dessa data, não incidindo sobre os efeitos produzidos por
essa situação jurídica antes da entrada em vigor da lei nova.
No caso das NORMAS IMPERATIVAS que consagrem matérias que tenham por bases normas
em matéria de estatuto das pessoas, bens, princípios estruturadores da ordem social ou
económica à PREVALECEM AS DISPOSIÇÕES DA LEI NOVA, uma vez que é nas normas
imperativas que as partes encontram a limitação à sua liberdade contratual.
48
PROBLEMA GERAL DE TODAS AS SITUAÇÕES SUPRA MENCIONADAS
• Para determinar a competência da lei aplicável são relevantes, apenas, os factos que CONSTITUEM,
f
MODIFICAM OU EXTINGUEM relações jurídicas.
o Pode acontecer que uma lei nova que se aplica a um facto constitutivo ocorrido já depois
do início da sua vigência pode ter impacto ou ser aplicada a factos passados que ela assume
como pressupostos positivos ou negativos da validade ou admissibilidade da situação
jurídica em causa.
EXEMPLOS:
• Lei que regula os impedimentos matrimoniais aplica-se à data da celebração do casamento, não à
data que o impedimento surgiu à pode ter reflexos sobre situações de impedimentos que
aconteceram antes. Isto não é aplicação retroativa, porque o facto constitutivo da situação jurídica
é o casamento.
• Lei que regula a capacidade sucessória é a lei em vigor à data de abertura da sucessão, mesmo que
os fundamentos de deserdação tenham ocorrido antes.
Estes factos passados são apelidados por FACTOS PRESSUPOSTOS (BM) cuja localização no
tempo não influi sobre a determinação da lei aplicável à RETROCONEXÃO
297.º/1
“A lei que estabelecer, para qualquer efeito, um prazo mais curto do que o fixado na lei anterior
é também aplicável aos prazos que já estiveram em curso, mas o prazo só se conta a partir da
entrada em vigor da nova lei, a não ser que, segundo a lei antiga, falte menos tempo para o
prazo se completar.”
• A lei nova aplica-se aos prazos em curso, mas o novo prazo só se conta a partir da entrada em
vigor desta lei, SALVO quando, segundo a lei antiga, falta menos tempo para o prazo se
completar.
2.º PRAZO
1.º PRAZO Quando é fixado o término do prazo na nova lei, mas
Se a lei não tivesse mudado sabendo que esse prazo só se começa a contar a
partir da sua vigência
EXEMPLO:
Lei antiga de 2015 que fixa um prazo de 5 anos a começar a ser contado a 1 de maio de 2017.
Lei nova que diz que o prazo é de 3 anos e entra em vigor a 1 de maio de 2020.
Qual se aplica? A lei antiga, porque o prazo termina em 2022. O da lei nova terminaria em 2023.
49
Se a lei nova vem estabelecer um prazo com duração de metade do tempo da lei antiga e entra
em vigor a metade do tempo à aplica-se a LEI NOVA, porque a lei antiga só se aplicará se faltar
h tempo para o seu prazo de completar.
menos
EXEMPLO:
Lei antiga que estabelece um prazo de 10 anos.
Lei nova que estabelece o prazo de 5 anos e entra em vigor no decorrer do 5.º ano do prazo.
Ambas terminam no mesmo ano, mas aplica-se a LEI NOVA.
297.º/2
“A lei que fixar um prazo mais longo é igualmente aplicável aos prazos que já estejam em curso,
mas computar-se-á neles todo o tempo decorrido desde o momento inicial.”
• A lei nova que alarga o prazo previsto é igualmente aplicável aos prazos em curso, mas contar-
se-á todo o prazo decorrido desde o momento inicial.
Estas soluções também se aplicam se a lei nova modifica o momento a partir do qual o prazo se
começa a contar.
A regra do artigo 297.º do CC não se aplica aos prazos que dizem respeito ao decurso de um dado
período de tempo como fundamento de uma presunção legal como pressuposto do
reconhecimento de certa “capacidade especial” ou faculdade ou, em geral, como pressuposto que
deve acrescer a um facto principal para que este se torne relevante e produza certa consequência
de direito. à nestes casos nada interessa o facto de o prazo em causa ter decorrido, no todo ou
em parte, sob a lei antiga, visto que tal decurso não é, de per si, causa de qualquer efeito jurídico.
• Só o facto principal é que determina a lei aplicável. O decurso do tempo do prazo não
representa nunca um facto constitutivo, sendo um simples facto-pressuposto.
• Nos termos do nº1 do presente artigo, assumimos que a lei interpretativa se insere na lei
interpretada à relativamente a leis desta natureza não há que aplicar o princípio da não
retroatividade consagrado no artigo anterior. Não se coloca, portanto, os problemas referentes à
retroatividade das restantes leis.
• São ressalvados, no entanto, os efeitos já produzidos pelo cumprimento das obrigações, por
sentença transitada em julgado, por transação ainda que não homologadas ou por actos de análoga
natureza.
o Nos termos do nº2 do mesmo artigo, é esclarecido que podem ser revogados pelo
desistente ou confitente a quem a lei interpretativa for favorável a desistência e a confissão
não homologadas pelo tribunal.
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PORQUE RAZÃO CONSIDERAMOS A LEI INTERPRETATIVA COMO PARTE INTEGRADORA DA LEI
INTERPRETADA? PORQUE RAZÃO SE AFIRMA QUE NÃO EXISTE PROBLEMAS DE RETRATIVIDADE?
• A lei interpretativa fixa uma das interpretações possíveis que já se retirava da lei interpretada à
h´
assim sendo, não ocorre nenhuma violação de expectativas seguras dos destinatários desta lei
interpretada nem de legitimidades fundadas.
POR VEZES, O LEGISLADOR DECIDE DECLARAR INTERPRETATIVA UMA LEI QUE, NA REALIDADE, NÃO É
INTERPRETATIVA, SENDO, DESTE MODO, INOVADORA.
• Acaba por se tratar de um disfarce da retroatividade da lei.
• Quando não existe norma de hierarquia superior que proíba a retroatividade à a qualificação do
legislador deve ser aceite para efeito de dar a tal disposição um efeito equivalente ao de uma lei
interpretativa, nos termos do artigo 13º.
• Há que, nestas situações, olhar para a lei interpretativa como UMA SOLUÇÃO QUE OS TRIBUNAIS
PODERIAM JÁ TER ADOTADO.
EXISTEM REQUISITOS ESSENCIAIS E NECESSÁRIOS QUE, OBSERVADOS, NOS DÃO A CERTEZAM QUE
ESTAMOS PERANTE UMA LEI INTERPRETATIVA:
2 – Que a solução definida pela nova lei se situe dentro dos quadros da
controvérsia, sendo que o julgador ou intérprete poderiam chegar a ela sem
ultrapassar os limites da interpretação da lei.
NOTAS IMPORTANTES:
• Não é interpretativa uma lei cuja solução fixada para resolver o ponto controvertido seja tal que
um intérprete não poderia chegar a ela pelas vias normas da hermenêutica jurídica.
• O mesmo texto da lei pode conter, de forma simultânea, disposições inovadoras e disposições
interpretativas.
LEIS CONFIRMARTIVAS
• Frequentemente sucede que a lei nova vem aligeirar formalidade havidas por demasiado pesadas
exigidas pela lei antiga.
PROBLEMA EM CAUSA:
É possível invalidar um ato que, à data da sua prática, não respeitou uma formalidade exigida pela lei
em vigor (antiga), sendo que a lei nova veio eliminar a exigência dessa formalidade, pelo que, se
avaliado à luz da lei nova, o ato seria válido?
• Deve considerar-se que a alteração pela lei nova em nada afeta o vício de que padece o ato.
Contudo, BM defende que, se a lei nova for mais favorável ao particular, NÃO AFETANDO
INTERESSES DA CONTRAPARTE OU DE TERCEIROS à faz sentido aplicar uma espécie de
retroatividade in mitius, sendo, contudo, uma exceção.
• BM tem este entendimento, porque o principal objetivo do principio da não retroatividade é
salvaguardar a estabilidade e segurança jurídicas.
o Na maior parte das vezes, as leis confirmativas, pelo contrário, em vez de comprometer essa
segurança, vêm reforça-la, afastando aquelas perturbações que seriam causadas pela
anulação ou declaração de nulidade de atos que os seus atores poderão ter concluído “na
melhor das boas-fés”.
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Exemplos, regra:
• ESTATUTOS DAS PESSOAS à lei nova (regra); exceções: alteração da maioridade.
• AQUISIÇÃO DE DIREITOS REAIS à lei antiga (regra)
• CONTEÚDO DE DIREITOS REAIS à lei nova (regra)
• ESTADOS DE FAMÍLIA à lei antiga (regra)
• CONTEÚDO DE UMA RELAÇÃO FAMILIAR à lei nova (regra)
• MATÉRIA DE SUCESSÕES à lei em vigor à data da morte
• VALIDADE FORMAL DO TESTAMENTO à lei à data da elaboração do testamento
• VALIDADE FORMAL DO TESTAMENTO à lei à data da morte
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O MÉTODO JURÍDICO
QUAL É O PERCURSO MENTAL PARA CONSTRUIR DIREITO?
l
JURISPRUDÊNCIA DOS CONCEITOS
• CABRAL DE MONCADA: “não há ciência sem conceitos, sem elaboração e construção dialética da
experiência, sem a entrada em campo de todas as operações da inteligência” à também a ciência
do direito “dispõe duma conceptologia ou mundo de conceitos”
• A construção e a sistematização são a parte mais científica da ciência do direito à o jurista traduz
a realidade que apreende pela interpretação de conceitos à aprisiona-a com as formas
conceptuais do pensamento lógico-abstrato, vertendo a realidade interpretada em conceitos.
o Esta atividade denomina-se por construção, seguindo-se a sistematização destas
construções.
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CRÍTICAS À PRESENTE ESCOLA:
54
CARACTERÍSTICAS à em 3 notas:
• O juiz deve obediência à lei, por ser a expressão da comunidade jurídica de que o legislador é
h
legítimo representante à cabe-lhe, na interpretação, investigar todos os interesses que
determinaram a tal lei, procurando compreender o juízo de valor do legislador.
• A lei é um imperativo, cujo conteúdo consiste na resolução de um conflito de interesses (materiais
ou ideais);
• O direito legal é lacunoso porque é impossível ao legislador prever e valorar todos os conflitos de
interesses.
A jurisprudência dos valores defende que a aplicação NÃO RESULTA DE UMA DEDUÇÃO
SUBSUNTIVA (aplicação lógico-conceitual)
RESULTA SIM da repetição da ponderação que a lei oferece, mediante uma comparação da situação
dos interesses aqui pressupostos com a situação real dos interesses aqui pressupostos com a
situação real dos interesses no caso concreto à permite realizar, no caso concreto, a valoração de
interesses que o legislador impôs em geral.
CRITICA SOCIOLÓGICA:
• Não considera todos os interesses CRITICA CRITERIOLÓGICA:
juridicamente relevantes, sobretudo em • Vendo nos interesses o objecto e o critério
certos setores do direito privado (ex. de aplicação do Direito à não sabe
Comercial) e do direito público. distinguir o objecto da valoração do
• Não considera os outros fatores sociais fundamento da valoração.
relevantes para o direito para além dos • Não podemos procurar fundamentação no
interesses (ex. situações de poder) seu objecto à a jurisprudência dos valores
não se preocupa com o fundamento, mas
só com o objecto, atribuindo ao legislador o
CRITICA SISTEMÁTICA: papel da valoração.
• Sem a consideração daqueles fundamentos • Abstêm-se de fazer juízos de valores legais,
era impossível atingir a unidade intencional a sua função é técnica, continuando a
constitutiva do sistema jurídico. seguir-se pela nora que Direito é tudo o que
• Falha em encontrar o elemento de unidade o legislador quiser
do sistema jurídico.
Principal autor nesta matéria: Karl Larenz Surge em resposta à crise de metodologia
jurídica após a 2º GM
• Defende que o sistema jurídico é um sistema aberto assente e fundamentado em princípios e
valores fundamentais, dos quais se destacam:
f
Justiça Igualdade Proteção dos Direitos Fundamentais
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• Veio trazer ao sistema jurídico o recurso a CLÁUSULAS GERAIS E CONCEITOS INDETERMINADOS à
permitem a adaptação do sistema às exigências axiológicas da norma.
• Parte-se do caso, sendo que o resultado axiológico é TAREFA FUNDAMENTAL DE INTERPRETAÇÃO
DAS NORMAS.
JURISPRUDENCIALISMO
• Este modelo compreende o direito como validade axiológico-
Preconizadores no
normativa de realização problemática.
panorama nacional:
• Considera o pensamento jurídico um pensamento prático-
• Dr. Castanheira Neves
jurisprudencial à a sua principal função é contribuir para a
• Santo Justo
resolução de problemas práticos
• Exige-se a fundamentação de todas as pretensões e recorre-se a argumentos de validade à
manifesta um sentido normativo transindividual.
• Por isso, convoca-se a consciência jurídica geral da comunidade histórico-cultural à
considerada fonte dos valores e princípios fundamentais que transcendem o campo do direito
positivado, com o qual travam um diálogo permanente que o enriquece e o atualiza.
• Enquadra-se na JURISPRUDÊNCIA DOS VALORES, densificando-a.
• Enquadra-se numa corrente jusnaturalista.
• Afirma a realidade jurídica como um conjunto de duas dimensões que estão em dialética:
• O Dr. Castanheira Neves diz que, com esta nova revolução deixou de se centrar a atenção
na norma para se começar a localizar no prius metódico (o primeiro momento metódico)
no CASO CONCRETO DA VIDA sobre cuja validade jurídica haverá de pronunciar-se.
• A factualidade relevante identifica-se agora como conteúdo jurídico-material de um caso
concreto à por isso, é que a interpretação não é mais encarada como um fim em si mesma,
mas como UM MOMENTO NORMATIVA E METODOLOGICAMENTE SUBORDINADO AO
SERVIÇO DA APLICAÇÃO DO DIREITO.
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Se se chega a um juízo de inadequação à norma não é aplica e o sistema dinamiza-se e
enriquece-se com novos princípios, que se harmonizam numa nova unidade: DINAMISMO. O
SISTEMA CONSTRÓI-SE.
• Esta corrente enfatiza o caso concreto como ponto de partida: O CASO CONCRETO
CONDICIONA A INTERPRETAÇÃO à só é possível interpretar a norma perante um caso
concreto.
Segundo Castanheira Neves, “o prius metódico deixa de se localizar na norma para passar a
localizar-se no caso concreto e a factualidade relevante identifica-se agora com o conteúdo de
um caso” à INTERPRETAÇÃO ESTÁ AO SERVIÇO DO DIREITO
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