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UNIVERSIDADE LICUNGO
LICENCIATURA EM DIREITO
Quelimane
2024
1
Aida Eduardo
Albertina Amela
Arménio Pinto
Lúcio da Verónica Orlando
Sara Mário Varela
Shirley Fortunato
Quelimane
2024
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Índice
1. Introdução.......................................................................................................................3
2. Objectivos.......................................................................................................................4
2.1 Gerais............................................................................................................................4
2.2 Específicos....................................................................................................................4
3.Metodologia.....................................................................................................................4
4.Cotextualização................................................................................................................5
Personalidade Jurídica........................................................................................................5
6. Conclusão......................................................................................................................27
7. Referências Bibliográficas............................................................................................28
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1. Introdução
Neste trabalho, o grupo foi-lhe incumbido de abordar acerca dos Direitos da personalidade.
Esses direitos que são considerados bens jurídicos, protegidos pelo código civil.
Importante primeiro referir que a personalidade jurídica é um dos princípios do direito civil.
Segundo Carvalho Fernandes (2012), pode dizer-se que este é, de certo modo, um princípio
corolário, mera continuação do atrás analisado. Com efeito, o reconhecimento da dignidade
do Homem, enquanto pessoa jurídica, não assegura a plena realização do indivíduo e dos seus
interesses, quando actua no campo jurídico. Não basta afirmar a susceptibilidade de direita (o
poder ser titular) envolvida na noção técnico-jurídica de personalidade, qua tale; o princípio,
enquanto referido a uma mera qualidade jurídica, ficaria esvaziado de sentido, se lhe não
Pode dizer-se que este é, de certo modo, um princípio corolário, mera continuação do atrás
analisado. Com efeito, o reconhecimento da dignidade do Homem, enquanto pessoa jurídica,
não assegura a plena realização do indivíduo e dos seus interesses, quando actua no campo
jurídico. Não basta afirmar a susceptibilidade de direita (o poder ser titular) envolvida na
noção técnico-jurídica de personalidade, qua tale; o princípio, enquanto referido a uma mera
qualidade jurídica, ficaria esvaziado de sentido, se lhe não fosse dado conteúdo significativo
e útil, e uma inerente protecção, assegurando-se a cada pessoa jurídica – e pelo simples facto
de o ser – um conjunto mínimo de direitos, inerente a essa qualidade e de que ela se torna
imediatamente titular, ao adquirir persona fosse dado conteúdo significativo e útil, e uma
inerente protecção, assegurando-se a cada pessoa jurídica – e pelo simples facto de o ser – um
conjunto mínimo de direitos, inerente a essa qualidade e de que ela se torna imediatamente
titular, ao adquirir personalidade.
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2. Objectivos
2.1 Gerais
2.2 Específicos
3.Metodologia
Para a realização do trabalho o grupo recorreu a Normas Apas, isto é, o uso dos elementos
essenciais do trabalho científico, nomeadamente (a capa, contracapa, índice, introdução,
contextualização, conclusão e a referência bibliográfica).
4.Cotextualização
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Personalidade Jurídica
Segundo PINTO (1994) a personalidade das pessoas singulares é assim uma qualidade
jurídica ou um estatuto onde se vaza directamente a dignidade da pessoa humana, de todos e
de cada ser humano — e não apenas a máscara com que alguns actores se movimentam no
palco da vida sociojurídica. (pág 201)
Vasconcelos (2008) a “personalidade é a quantidade de ser da pessoa”. A personalidade é
originária e intente a qualidade humana. Por isso não pode ser alienada, limitada ou
condicionada, como alguém não pode ser dela privado enquanto vivo. A personalidade só se
extingue com a morte. (pág 13–14)
No que tange a personalidade jurídica podemos encontrar sustentados nos artigos 68°. e 70°.
do Código Civil que dispõem os seguinte:
Artigo 68°. do Código Civil ( Termo da personalidade)
1. A personalidade cessa com a morte.
2. Quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de uma a outra pessoa
presume-se, em caso de dúvida, que uma e outra faleceram ao mesmo tempo .
3. Tem-se por falecida a pessoa cujo cadáver não foi encontrado ou reconhecido,
quando o desaparecimento de tiver dado em circunstâncias que não permitam duvidar
da morte dela.
Artigo 70°. do Código Civil ( Tutela geral da personalidade)
1. A lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ou ameaça de ofensa à sua
personalidade física ou moral.
2. Independentemente da responsabilidade civil a que haja lugar, a pessoa ameaçada ou
ofendida pode requerer as providências adequadas às circunstâncias do caso, com o
fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já cometida.
Segundo João Soares Dono(2014) “ A personalidade jurídica é uma qualidade: a qualidade de
se pessoa. É uma qualidade que o Direito se limita a constatar e respeitar e que não pode ser
ignorada ou recusar. É um dado extrajurídico que se impõe ao direito”. A personalidade
jurídica consiste na aptidão ou susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigações, ou seja,
de relações jurídicas.
Nos termos do artigo 66°. nº1 do Código Civil “a personalidade adquire–se no momento de
nascimento completo e com vida”. São dois os requisitos da personalidade singular: o
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nascimento completo e com vida. E no mesmo artigo, n°2 dispõe o seguinte “ os direitos que
a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento”. (João Soares Dono, 2014,
pág.64).
Entendendo-se por nascimento a separação do filho do corpo materno, a personalidade
jurídica adquire-se no momento em que essa separação se dá com vida e de modo completo,
sem qualquer outro requisito. (Mota Pinto, 2005, pág. 201).
Segundo Dono(2014), a doutrina distingue entre quem ainda não nasceu mas já foi
concebido, e a expectativa de alguém vir a ser gerado, designado o primeiro de nascituros e o
segundo de concepturo.(pág 64).
O artigo 2033°. do Código Civil , dispõe :
1. Tem a capacidade sucessória, além do Estado, todas a pessoas nascidas ou concebidas
ao tempo da abertura da sucessão, não exceptuadas por lei.
2. Na sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade:
a) Os nascituros não concebidos, que sejam filhos de pessoa determinada, viva ao tempo
da abertura da sucessão:
b) As pessoas colectivas e a sociedade.
Vasconcelos diz-nos que “ o nascituro não é, pois, objecto de direito. Como pessoa humana
viva, o nascituro é uma pessoa jurídica. As suas qualidades pessoais impõem-se ao Direito,
que não tem o poder de negar a verdade da pessoalidade, da humanidade do nascituro. Não
pode, pois, deixar de ser reconhecida, pelo Direito, ao nascituro a qualidade da pessoa
humana viva, o mesmo é dizer, a personalidade jurídica”.
Dono (2014), todo o direito existe por causa e em função dos homens. A pessoa está no
centro do direito. Etimologicamente, persona vem de ser sonare: soar através de: os actores
falavam através da máscara (a persona), o que melhoraria a acústica. A pessoa terá sido
introduzida em Roma, vindo da Grécia, pelo actor Roscius, 100 anos a. C.(pág 66)
Citando Cordeiro, “A Pessoa é definida em termos dogmáticos, como a susceptibilidade de
ser titular de direitos e ser adstrito a obrigações”.
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Designa-se por esta fórmula, direitos da personalidade, um certo número de poderes jurídicos
pertencentes a todas as pessoas. por força do seu nascimento–verdadeiros Direitos do Homem
no sentido das Declarações Universais sobre a matéria (designadamente a de 1789 e a de
1948), embora, pois estamos no plano do direito civil e não no do direito público (onde
correspondem tendencialmente a direitos fundamentais), direitos integradores de relações
entre particulares. Não significa esta última asserção, obviamente, que os direitos de
personalidade não se imponham ao próprio Estado — na verdade o Estado deve respeitá-los.
Significa, apenas, que a doutrina civilista dos direitos de personalidade cura apenas de
relações de direito privado. (Mota Pintos,2005, 207–208)
Toda a pessoa jurídica é, efectivamente, titular de alguns direitos e obrigações. Mesmo que,
no domínio patrimonial lhe não pertençam por hipótese quaisquer direitos — o que é
praticamente inconcebível, sempre a pessoa é titular de um certo número de direitos absolutos
(portanto, de estrutura idêntica à dos direitos reais), que se impõem ao respeito de todos os
outros, incidindo sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade. São os
chamados direitos de personalidade, fundamentado no artigo 70°. só Código Civil.
Código Penal. Trata-se pois, de uma prática ilícita, que constitui crime, mas que, em certas
circunstâncias, não é punível.
Artigo 140°. do Código Penal (Aborto)
1.Quem, por qualquer meio e sem consentimento da mulher grávida, a fizer abortar é punido
com pena de prisão de 2 a 8 anos.
2.Quem por qualquer e com consentimento da mulher grávida, a fizer abortar é punido com
pena de prisão até 3 anos.
3.A mulher grávida que ser consentimento ao aborto praticado por terceiro, ou que, por fato
próprio ou alheio, se fizer abortar, é punido com pena de prisão até 3 anos, artigo 141°.
(Aborto agravado).
1.Quando do aborto dos meios empregados resultar a morte ou uma ofensa à integridade
física grave da mulher grávida, os limites das penas aplicável aquele que a fizer abortar são
aumentados de um terço.
2.A agravação é igualmente aplicável ao agente que se dedicar habitualmente a prática de
aborto punível nos termos da lei n° 1 ou 2 do artigo anterior ou a realizar com intenção
lucrativa.
Artigo 142°. (Interrupção da gravidez não punível)
1.Não é punível a interrupção da gravidez efetuada por médico, ou sob a sua direcção, em
estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o consentimento da
mulher grávida, quando:
a)Constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível lesão para o
corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida;
b)Se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou grave e duradoura lesão para o corpo ou
para saúde física ou psíquica da mulher grávida e for realizada nas primeiras 12 semanas de
gravidez.
c)Houver seguros motivos para promover com que o nascituro virá a sofrer, de uma forma
incurável, de grave doença ou mal formação congénita, e for realizada nas primeiras 24
semanas de gravidez, excepcionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a
interrupção poderá ser praticada nas primeiras 16 semanas.
d)A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual e a
interrupção for realizada nas primeiras 16 semanas.
2.A verificação das circunstâncias que tomam não punível a interrupção da gravidez é
certificada em atestado médico, escrito e assinado antes da intervenção por médico diferente
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daquele por quem, ou sob cuja direcção, a interrupção é realizada, sem prejuízo do disposto
no número seguinte.
3.Na situação prevista na alínea e) do número 1, a certificação referida ao número anterior
circunscreve-se à comprovação de que a gravidez não excede as 10 semanas.
Os primeiros quatro casos previsto no artigo 142°. do Código Penal, podem reconduzidos,
mais próxima ou mais retomante, à legítima defesa da mãe. Nos dois primeiros, para
protecção da sua vida e integridade física; nos terceiro e nos quartos, para defesa de sua
integridade moral e psíquica perante o sofrimento que lhe poderá muitas das vezes causar a
maternidade naquelas circunstâncias. (ibiden)
Mas o quinto caso de aborto “ad natum”, dificilmente encontra uma justificação aceitável. É
também de difícil justificação a exclusão do pai, quando seja conhecido, da decisão quanto ao
aborto, principalmente a desconsideração da sua possível oposição. Este regime parece-nos
incompatível com o direito à vida do filho ainda não nascido, com o direito do pai à
paternidade com o princípio da igualdade do pai e da mãe. (ibiden)
O regime de não punibilidade do abordo quando praticado nas circunstâncias previstas no
artigo 142°. do Código Penal não afasta a sua ilicitude. Em Direito Civil, a interrupção
voluntária da gravidez constitui, sem dúvidas, uma prática ilícita.
É também controversa a eutanásia, como interrupção voluntária da vida humana. A discussão
envolve divergências éticas e desentendimentos conceptuais. Desde logo, é necessário não
confundir as práticas médicas de alívio do sofrimento na morte com o encurtamento da vida
de doentes incuráveis. O Direito entrega a Medicina a determinação do estado de agonia.
Nesse estado, podem e devem-os médicos fazer o possível para aliviar o sofrimento da morte.
Na agonia, mas não antes, é lícito ministrar ao moribundo medicamentos que aliviem ou
mesmo criminem o sofrimento, ainda que com o efeito de encurtar a vida. Tal não deve,
porém, ser confundido com a intenção suicida do doente que pede ao médico que lhe
provoque a morte. O auxílio ao suicídio é ilícito e constitui um crime punido no artigo
135°.,do C6digo Penal. Também o homicídio a pedido da vitima constitui crime (artigo
134°.." do CódigoPenal),ainda que esse pedido seja "instante, consciente, livre e expresso".
Diferente, porém, é a situação em que o paciente, lúcida e informadamente, opta por ondo se
submeter a um tratamento ou dela cessação do mesmo depois de iniciado, decidindo que é
tempo de entregar a sua vida. Os meios modernos de prolongamento da vida humana podem,
por vezes, perverter-se no prolongamento artificial do sofrimento e da agonia. Ao paciente,
desde que esteja lúcido, não deve ser recusada a decisão sobre o tratamento.
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O suicídio é um acto ilícito, embora sem natureza penal. O suicídio é um mal social e pessoal.
A ilicitude do suicídio decorre da indisponibilidade da vida, tanto pelo próprio como por
outrem. Razões de criminologia e de penologia desaconselham a incriminação do suicídio.
Na verdade, não é razoável punir criminalmente aquele que tentou sem êxito suicidar-se.
Porém, a não criminalização não significa licitude.
resulta um “direito a fazer ruído "e muito menos a licitude do impedimento do repouso
alheio.
Sempre que a saúde de alguma pessoa esteja ameaçada ou agredida, quer por condições
ambientais concretas, como por exemplo, lixeiras a céu aberto ou emissões industriais
venenosas, pode essa pessoa requerer ao Tribunal que adopte as providências adequadas. A
prevenção ou cessação da ofensa, ou a atenuação dos seus efeitos. (ibiden)
Numa outra perspectiva, embora próxima da integridade psíquica, pode ser tipificada a tutela
da inviolabilidade moral. As pessoas são seres morais, que vivem num ambiente povoado de
valores fáticos que são da maior importância, que integram a sua personalidade e que
merecem tutela jurídica, designadamente civil. É neste campo que se inserem a autonomia
total, a liberdade religiosa de convicção e de culto, o respeito pelos mortos e pela sua
memória, o respeito pela honra, pela privacidade e pelo pudor. São valores da maior
dignidade cuja defesa não pode ser encarda com ligeireza.
Mas a liberdade de culto não pode tomar lícitas práticas que agridam direitos de
personalidade alheios. Quando assim suceda, ocorre um conflito de direitos de personalidade
que deve ser resolvido de acordo com os critérios gerais do artigo 335°."do Código Civil.
(ibiden)
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1.O direito à honra, a defesa do bom nome e reputação, insere-se também no âmbito da
inviolabilidade moral, assim como a tutela da privacidade e do pudor. Merece uma atenção
particular.
A honra existe numa vertente pessoal, subjectiva, e noutra vertente social, objectiva. Na
primeira, traduz-se no respeito e consideração quecada pessoa tem por si própria; na segunda,
traduz-se no respeito e consideração c que cada pessoa merece ou de que goza na
comunidade a que pertence". A perda ou lesão da honra a desonra resulta, ao nível social,
objectivo, na perda do respeito e consideração que a pessoa tem por si próprio, e ao nível
social, objectivo, pela perda do respeito e consideração que a comunidade tem peia pessoa. A
lesão da honra pode não ser total-só em casos excepcionais o será-e limitar-se a um seu
detrimento. A honra, neste caso, é lesada, mas não perdida. O respeito e consideração que a
pessoa tem por si própria ou de que goza na comunidade, são então apenas diminuídos,
agravados, feridos, mas não perdidos.
Todas as pessoas têm direito à hora pelo simples facto de existirem, isto é, de serem pessoas.
É um direito inerente a qualidade e à dignidade humana. Mas as pessoas podem perder a
honra ou sofrer o "No mesmo sentido seu detrimento em virtude de vicissitudes que tenham
como consequência a perda ou diminuição do respeito e consideração que a pessoa tenha por
si própria ou de que goze na sociedade. As causas de perda ou do detrimento da honra- a
desonra - são, em termos muito gerais, acções da autoria própria pessoa ou que lhe sejam
imputadas, e que lhe sejam consideradas reprováveis na ordem ética vigente, quer ao nível da
própria pessoa, quer ao nível da sociedade.
em termos sociais objectivos. Quer isto dizer que, num caso concreto, pode a pessoa sentir
mais gravemente a perda de respeito e consideração que tem por si própria do que a medida
em que a sociedade perde de respeito e consideração por ela. E vice-versa.
Esta realidade abre o caminho para una dualização da problemática da honra em duas
perspectivas: a pessoal, subjectiva, e a social, objectiva. A honra continua a ser só uma, mas
as perspectivas pessoal e social podem ser diferentes e suscitar questões diversas. Ambas
tuteladas pelo Direito. São ilícitas as ofensas a honra, quer se traduzam em agravante ao
respeito consideração que a pessoa tem por si próprio, quer prejudiquem o respeito e
consideração de que a pessoa goza no meio social em que se insere ou mesmo na
colectividade em geral.
A liberdade de imprensa não sobreleva o direito à honra. Embora ambos estejam formalmente
consagrados na Constituição da República como direitos, liberdades e garantias, a defesa da
honra situa-se no âmbito superior dos direitos de personalidade e é, por isso,
hierarquicamente superior a liberdade de imprensa.
A questão tem sido colocada a propósito das pessoas com notoriedade, também chamadas
"figuras públicas”, que, segundo algumas opiniões, beneficiariam de uma menor tutela da
honra e da privacidade.
Esta "capitis deminutio" fundar-se-ia no carácter voluntário da sua exposição, pública que,
segundo o velho brocardo "volentis non fit injuria" excluiria a licitude das ofensas à sua
honra e privacidade a questão está mal colocada. O direito a honra e à privacidade podem ter
de ser, em concreto, compatibilizados com o interesse público da revelação de certos factos
ou situações. Quando o interesse público o imponha, o direito A honra e a privacidade, não
podem impedir a revelação daquilo que for estritamente necessário e apenas do que for
estritamente necessário. A exclusão da ilicitude resulta, então, do carácter público do
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interesse em questão e não do carácter público da pessoa atingida ou da sua exposição. É esse
o sentido da cláusula de excluso da licitude contida no artigo 180°. n."2 do Código Penal. Só
deve admitir-se a exclusão da ilicitude se e quando se deste convincentemente que o interesse
público sofreria dano grave e real sem a agressão à honra ou à privacidade da pessoa
ofendida. Trata-se de casos muito graves e sem dúvidas excepcionais.
Com estes casos não devem ser confundidos os casos, sem dúvida, ilícitos, em que a ofensa à
honra ou a violação da privacidade ocorrem por simples interesse comercial ou de lucro,
como sucede com os meios de comunicação social sensacionalista que exploram o
"voyeurismo" e a curiosidade malsa de algum público, revelando a vida privada de pessoas
com notoriedade e acusando escândalos que possam aumentar tiragens ou audiências".
Desde logo, sem dúvida, o da vida doméstica, familiar, sexual e afectiva. Mas, mais do que
uma delimitação positiva do âmbito material da esfera de privacidade, há que proceder à sua
delimitação negativa. Quer isto dizer que, em vez de se procurar a determinação de quais as
zonas da vida que merecem estar ao abrigo da curiosidade alheia, se deve antes acertar em
que condições, matérias da vida das pessoas podem ficar fora dessa esfera de protecção.
secreto existe na vida pessoal, que a pessoa ou quase nunca partilha com outros, ou que
comunga apenas com pessoas muitíssimo próximas, como a sexualidade, a afectividade, a
saúde, a nudez; na esfera da privacidade, que é já mais ampla, incluir-se-ia aspectos da vida
pessoal, fora da intimidade, cujo acesso a pessoa permite a pessoas das suas relações, mas
não a desconhecidos ou ao público; a esfera pública abrangida tudo o mais, aquilo a que, na
vida de relação e na inserção na sociedade, todos têm acesso.
Esta construção permite a ilusão formalista de exactidão e rigor na aplicação do direito, mas
não resiste a um olhar atento. A questão é de relacionamento da pessoa com os outros. Nesse
campo, se bá que distinguir estratos, não se encontra justificação para que sejam apenas estes
três. A intimidade e a privacidade são gradativas e não podem ser rigidamente distribuídas
por prateleira fixas. Como bem se diz, no artigo
80°."do Código Civil, a sua intensidade depende da natureza do caso e da condição das
pessoas. E, quando se fala da condição das pessoas não é apenas da pessoa do titular da
privacidade, mas também das pessoas que com ela estão em contacto e em relação a quem o
problema se coloca. Os limites da intimidade e da privacidade de certa pessoa não são os
mesmos estes do outro dos seus irmãos, dos seus familiares, dos seus amigos ou dos seus
colegas de trabalho. Além disso, também nesta matéria há dias e dias, assim como há
circunstâncias e circunstâncias distinção das três esferas é formal e introduz. Fracturas
artificiais num contínuo gradual de intensidade. Numa imagem plástica, a teoria das três
esferas quebrou uma rampa suave e subtil com três degraus abruptos.
Entre o segredo total daquilo que não se conta a ninguém e a publicidade daquilo a que se dá
abertura total, há uma reinação de polaridade. Não se deve, pois, concluir que isto é íntimo,
aquilo é privado e a resto é publico, mas antes que isto é mais íntimo ou mais privado que
aquilo, e que esta pessoa me é mais íntima do que aquela. Se fosse possível distinguir
estratos, eles teriam de ser inúmeros, tantos que a sua operacionalidade se frustraria. Em
nossa opinião, a teoria dos três círculos é uma tentativa falhada que tem, todavia, o mérito de
sugerir a polaridade.
A polaridade entre o público e o privado corresponde a uma escala progressiva e gradual, sem
quebras de continuidade nem saltos bruscos, entre o que é totalmente privado e vedado ao
conhecimento e ao contacto dos outros e o que é completamente aberto que se partilha com
toda a gente. É difícil, senão mesmo impossível estabelecer padrões previamente definidos e
precisamente delimitados de níveis de privacidade. Tudo depende de tudo. Das pessoas, de
cada pessoa, da sua sensibilidade e das suas circunstâncias; das necessidades e exigências da
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A reserva da privacidade deve ser considerada a regem e não a excepção. É esse o sentido
que se retira, por um lado, da natureza do direito à privacidade como direito de personalidade
e, por outro, da sua consagração constitucional como direito fundamental. O direito a
privacidade só pode ser licitamente agredido quando e só quando um interesse público
superior o exija, em termos tais que o contrário possa ser causa de danos gravíssimos para a
comunidade.
Tal como sucede com o direito a honra, o direito a privacidade colide frequentemente com o
direito à liberdade de expressão, principalmente com a liberdade de imprensa. A questão não
é substancialmente diferente. As ofensas à privacidade cometidas através da comunicação
social são sempre de uma brutal gravidade. A divulgação e a credibilidade dos meios de
comunicação social agravam a ofensa e tomam-na praticamente irreparável. Cai, portanto,
sobre os meios de comunicação social um dever agravado de prudência na divulgação de
comunicações que possam agredir a privacidade. (ibiden)
É ilícita a agressão à privacidade quando o interesse que a impulsiona seja eticamente pouco
relevante como o simples interesse de lucro, de tiragem ou de audiência, ou eticamente
negativo, como o sensacionalismo, a inveja, o ódio, ou os intuitos de difamar ou de injuriar.
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Tal como sucede com as ofensas à honra, não deve admitir-se ao estatuto degradado, de
menor dignidade, para as chamadas "figuras públicas”, pessoas que gozam, ou que sofrem, de
maior notoriedade, designadamente na comunicação social, em virtude da titularidade
descargos públicos ou políticos de maior relevância, ou de posições profissionais ou sociais
que as tornem mais notadas. Segundo algumas opiniões, a notoriedade dessas pessoas, por
um lado, tornaria justificada a curiosidade pública sobre a sua vida privada e, por outro lado,
o facto de a exposição pública da pessoa ser tolerada ou mesmo intencionalmente procurada
implicaria uma espécie de consentimento objectivo que, como indica o brocardo "volentis
non fit injuria", tornaria lícitas as ofensas à sua privacidade. De acordo com estas opiniões, as
pessoas publicados não teriam privacidade.
As chamadas "figuras públicas”, as pessoas com maior notoriedade, tem o mesmo direito à
privacidade que todas as pessoas. Admitir paralelas um estatuto pessoal degradado seria
inconstitucional e colidiria com o princípio da igualdade. Como ficou já exposto acerca do
direito a honra, a compressão da esfera de privacidade que eventualmente possam sofrer só
pode fundar-se na publicidade e relevância do interesse em questão e nunca pode resultar
simplesmente da notoriedade da pessoa.
Também as matérias dos artigos 75.°a 78.° do Código Civil se compreendem no âmbito do
direito à privacidade, embora sem o esgotar. Os artigos 75.°a78."tratam de questões sobre
memórias, cartas e outros escritos, que tradicionalmente suscitam problemas, e reconhece-
lhes a dignidade de se inserirem no âmbito da tutela da personalidade, distingue os escritos
confidenciais dos que o não são. No que respeita aos primeiros, protege a confidencialidade
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dos escritos, impondo a reserva sobre o seu contendo e proibindo o aproveitamento das
informações que contenham. Depois de morto o destinatário, permite que o tribunal ordene a
sua restituição ao autor ou aos seus familiares referidos no artigo 71.° do Código Civil, a sua
destruição, o seu depósito em mão de pessoa idónea ou outra medida apropriada.
No que respeita aos escritos não confidencias, só permite a sua utilização em termos que o
contrariem a expectativa do autor, permite a sua publicação com o consentimento do autor ou
das pessoas enumeradas no artigo 71°.",ou com o seu suprimento judicial desse
consentimento, salvo quando sejam utilizadas como documentos literários, históricos ou
artísticos.(ibiden)
No seu artigo 26.°,a Constituição da República prevê , como direito fundamental, um direito
à identidade pessoal. É um direito de personalidade, porque orientado funcionalmente a tutela
da dignidade humana, através de defesa daquilo que garante a infungibilidade, a
indivisibilidade e a irrepetibilidade de cada una das pessoas humanas.
Toda a pessoa tem o direito a sua individuação, como pessoa única com uma dignidade
própria, não susceptível de ser amalgamada na massa nem hipostasiada numa transpessoa.
Nos artigos 72°.,73°.e 74°.",o Código Civil prevê o direito a ter nome, a usá-lo, completo ou
abreviado, a protege-lo contra o uso ilícito que dele seja feito. A pessoa pode, por exemplo,
impedir que numa obra de ficção seja usado um nome idêntico ou que possa ser confundido
com o seu, em moldes que ofendam a sua dignidade.
No caso, relativamente frequente, de haver mais de uma pessoa com o mesmo nome,
incumbe ao tribunal decretar" as providências que, segundo juízos de equidade, melhor
conciliem os interesses e conflito". Ao nome é equiparado o pseudónimo, quando seja
notório. (ibiden)
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O artigo 79°..do Código Civil consagra, como direito de personalidade, o direito à imagem.
Trata-se da defesa da pessoa contra a exposição, reprodução ou comercialização do seu
retrato, sem o seu consentimento.
Publicamente".
Mas esta dispensa cessa, segundo o n°3 do artigo, quando "do facto resultar prejuízo para a
honra, reputação ou simples decoro da pessoa retratada".
Este artigo permite confirmar o que já atrás se tinha concluído quanto à eventual limitação
dos direitos a honra e à privacidade de pessoas com notoriedade. A dispensa do
consentimento justificada pela notoriedade e pelas outras circunstâncias referidas no n°.2 do
artigo deixa de se verificar quando da resultar prejuízo para a honra. O que significa a
confirmação da superioridade hierárquica do direito a honra.
a sua nudez na praia não significa que tenha permitido o controlo da sua imagem e não possa
opor-se a que essa imagem seja publicada a primeira página de um jornal noutro local
qualquer . Além disso, não é a mesma coisa a exposição voluntária do corpo numa praia de
nudismo ou a sua exposição num jornal. Caso o jornal tivesse querido publicar uma simples
fotografia da praia, na qual tivesse necessariamente abrangida aquela pessoa, a fotografia
deveria ser tratada de modo que essa pessoa não fosse identificável nem reconhecível.
(ibiden)
Mota Pinto (1994), em caso de lesão de que provenha a morte, o direito a indemnização
é deferido às pessoas referidas nos artigos 495.° e 496.° do Código Civil. Seria todavia
insólito falar-se, a este respeito, num verdadeiro e próprio direito de uma pessoa à
conservação da vida de outrem. O direito à indemnização, nestes casos, resulta, por um lado,
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da lesão de um interesse próprio dos seus titulares ( art. 483°. do Código Civil) sendo, por
outro lado, considerados também os danos não patrimoniais sofridos pela vítima.
Artigo 483°. do Código Covil (Princípio geral)
1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou
qualquer disposição legal destinada a protege interesses alheios fica obrigado a
indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.
2. Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa nos específicos na lei.
Artigo 495°. do Código Civil (Indemnização a terceiros em caso de morte ou lesão corporal)
1. No caso de lesão corporal de que proveio a morte, é o responsável obrigado a
indemnizar as despesas feitas para salvar o lesado e todas as demais, sem exceptuar as
do funeral.
2. Neste caso, como em todos os outros de lesão corporal, têm direito a indemnização
aqueles que socorreram o lesado, bem como os estabelecimentos hospitalares,
médicos ou outras ou entidades que tenham contribuído para o tratamento ou
assistência da vítima.
3. Têm igualmente direito a indemnização os que podiam exigir alimentos ao lesado oi
aqueles a quem os prestava no cumprimento de uma obrigação natural.
Artigo 496°. do Código Civil ( Dano não patrimoniais)
1. Na fixação da indemnização deve atender-se aos danos não patrimoniais que, pela sua
gravidade, mereçam a tutela do direito .
2. Por morte da vítima, o direito à indemnização por danos não patrimoniais cabe, em
conjunto, ao cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens e aos filhos ou
outros descendentes; na falta destes, aos pais ou outros ascendentes, e, por último, aos
irmãos ou sobrinhos que os representem.
3. O montante da indemnização será fixado equitativamente pelo tribunal, tendo em
atenção, em qualquer caso, as circunstâncias referidas no artigo 494°. do Código
Civil; no pela vítima, com os sofridos pelas pessoas com direito a indemnização nos
termos do número anterior.
Hoje a cláusula de tutela geral da personalidade do artigo 70.",
né 1, do Código Civil, deve, porém, ser concretizada tendo em atenção quer o regime, dos
“direitos , liberdades e garantias individuais”, consagrado no capítulo III do artigo 56°. da
Constituição da República de Moçambique) a que correspondem direitos de personalidade,
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quer, como mínimo de protecção reconhecido, os tipos de crime que visam proteger bens
jurídicos correspondentes aos direitos de personalidade.
Certamente para afastar quaisquer dúvidas previsíveis sobre a sua inclusão na tutela geral
operada pelo artigo 70.°, prevê expressamente no artigo 80.° o chamado direito à reserva
sobre a intimidade da vida privada (diria° alia reserva terra, na expressão italiana; direito a
uma esfera de segredo — Gehennsph(ire — na teoria germânica).( Mota Pinto, 2005, pág
212)
Artigo 80° do Código Civil (Direito à reserva sobre a intimidade da vida privada)
1. Todos devem guardar quanto à intimidade da vida privada de outrem.
2. A extensão da reserva é definida conforme a natureza do caso e a condição das
pessoas.
Reconhece-se assim merecedora de tutela a natural aspiração da pessoa ao resguardo da sua
vida privada. As renúncias e sacrifícios de uma família, os factos respeitantes à vida familiar
(casamento, divórcio, etc.) ou aos afectos e sentimentos de uma pessoa, as pequenas
acomodações da vida quotidiana podem nada ter a ver com a honra e o decoro, e não ser
apreciados desfavoravelmente no ambiente externo, mas há neles algo de íntimo e privado
que basta para considerar lesiva qualquer forma de publicidade. Pretende-se assim defender
contra quaisquer violações a paz, o resguardo, a tranquilidade duma esfera íntima de vida; em
suma, não se trata de tutela da honra, mas do direito de estar só, na tradução de expressiva
fórmula inglesa («right to be alone»).
O Código Civil disciplina, também, o direito ao nome (art. 72.°) que apresente as seguintes
disposições:
1. Toda a pessoa tem direito a usar o seu nome, completo ou abreviado, e a opor–se a
que outrem o use ilicitamente para a sua identificação ou outros fins.
2. O titular do nome não pode, todavia, especialmente no exercício de uma actividade
profissional, usá-lo de modo a prejudicar os interesses de quem nome total ou
parcialmente idêntico; nestes casos, o tribunal decretará as providências que, segundo
juízos de equidade, melhor conciliem os interesses em conflito.
E o direito ao pseudónimo (reconhecido quando tiver notoriedade — art. 74.° ( “o
pseudónimo, quando tenha notoriedade, goza da protecção conferida ao próprio nome).
Tutela, assim, o bem da identidade pessoal(embora este se não esgote naqueles dois
aspectos). Inclui-se este direito entre os direitos de personalidade e tal inclusão é
perfeitamente legítima, pois o bem da identidade (afirmar-se o ser humano como sendo certo
indivíduo) é um dos aspectos morais da personalidade, ao lado dos bens da honra, da
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validamente renunciar a ele ou limitá–lo. Contudo o artigo 81°. do código civil admite a
limitação voluntária dos direitos de personalidade.
Artigo 81°. do código civil (limitação voluntária dos direitos de personalidade)
1. Toda a limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade é nula, se for
contrária aos princípios da ordem pública.
2. A limitação voluntária, quando legal l, é sempre revogável, ainda que com obrigação
de indemnizar os prejuízos acusados às legítimas expectativas da outra parte.
5.4 Intransmissíveis – são direitos intransmissíveis quer em vida, quer por morte,
extinguindo-se, assim com o seu titular.
Providos, em regra, de protecção penal – o código penal pune como crime as ofensas mais
significativas aos direitos da personalidade.
Imprescritíveis – o exercício dos direitos de personalidade não prescrevem com o tempo.
Segundo Mota Pinto (1994) os direitos de personalidade são inalienáveis e Mi-enunciáveis,
dada a sua essencialidade relativamente à pessoa, da qual constituem o núcleo mais profundo.
Constituem «o mínimo necessário e imprescindível do conteúdo da personalidade»
(ADRIANO DL CL,P1S). Neste sentido
Podem dar-se-lhe hoje as consabidas denominações da escola do direito natural racionalista:
direitos inatos» e «direitos originários.
A irrenunciabilidade dos direitos de personalidade não impede a eventual relevância do
consentimento do lesado: este não produz a extinção do direito e tem um destinatário que
beneficia dos seus efeitos. A limitação voluntária ao exercício dos direitos de personalidade
deve, todavia, para ser válida como negócio jurídico ou para ser relevante como circunstância
que exclui a ilicitude do acto lesivo e consequentemente a responsabilidade civil do lesante,
ser conforme aos princípios da ordem pública, constando nos artigos (81°.e 280.°do código
civil).
Artigo 280°. do Código Civil ( Requisitos do objecto negocial)
1. É nulo o negócio jurídico cujo objecto seja física ou legalmente impossível, contrário
à lei ou indeterminável.
2. É nulo o negócio contrário à ordem público, ou ofensivo dos bons costumes.
Assim, deve ter-se por irrelevante ou nulo o consenso (mera tolerância ou verdadeiro
negócio) na lesão do bem «vida».
Já, porém, se pode ter por admissível, dentro de certos limites, uma limitação voluntária do
direito à integridade física: consentimento para intervenções médicas (sempre necessário,
salvos os extremos do estado de necessidade), para operações estéticas (em princípio
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relevante, salvo casos excepcionais, como quando se consente numa operação gravemente
perigosa para corrigir um defeito estético de escasso relevo), para benefício da saúde de
terceiros (transplantações de certas partes do corpo ou transfusões de sangue), para participar
em jogos desportivos violentos, etc. O critério decisivo a este respeito é sempre o do artigo
81°. do código civil, não contrariedade aos princípios de ordem pública. É óbvio igualmente
que, quando o consenso do titular do direito seja legal, não poderá ter lugar uma execução em
forma específica e o consentimento pode ser revogado, com indemnização dos prejuízos
causados às expectativas legítimas da outra parte (consagrado no artigo 81.°, n.° 2). (Teoria
do Direito Civil, 1994, pág 216)
Segundo Mota Pinto (2005) há questão muito interessante e actual, mas muito delicada, seria
a de saber se há um «direito a não nascer», especialmente quando se nasce com graves
malformações, de tal modo que a pessoa com essas deficiências possa agir judicialmente
contra os médicos que, por negligência, não detectaram antecipadamente tais anomalias, ou
não informaram devidamente os pais, impedindo-os, assim, de interromper licitamente a
gravidez. Pode a criança, uma vez nascida, pedir uma indemnização contra os médicos? Ou,
até, contra os pais, se estes, devidamente esclarecidos, optaram, no entanto, por ter o filho?
Esta questão é normalmente conhecida, no direito comparado, pelas expressões em língua
inglesa «wrongful life» e ewrongfid fértil», e tornou-se mundialmente famosa e discutida a
partir, sobretudo, do famoso arrêt Perruche, da Cour de Cassation francesa . Entre nós, existe
já um Acórdão do STJ que decidiu em conformidade com a doutrina dominante no direito
comparado, mas que é contrária à que a Cassation subscreveu no mencionado arrêt .
Convém, à partida, distinguir as situações em que são os pais a pedir uma indemnização por
danos próprios, daquelas situações em que os pais intervêm como representantes do filho
menor pedindo uma indemnização por danos deste, por danos sofridos pelo filho. Trata-se, no
primeiro caso, das questões de «wrongfitl birth». e. no segundo caso, das questões ditas .
No primeiro caso, os pais invocam os danos por eles sofridos, sejam danos patrimoniais (p.
ex., encargos com o sustento da criança), sejam danos morais, resultantes, uns e outros, do
nascimento de um filho não desejado. Estes casos de «wrotzgfid birth» podem resultar, por
exemplo, de esterilizações ou interrupções de gravidez mal sucedidas.
Assim como de informação deficiente sobre os riscos de nascimento de crianças com
malformações. Poderá estar em causa, de algum modo, o poder de autodeterminação dos pais
(e especialmente da mãe) quanto ao planeamento familiar.
Já no segundo caso o que se pretende indemnizar é o dano sofrido pela própria criança, por
ter nascido com graves deficiências físicas e/ou mentais. Deficiências essas que os médicos
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não detectaram ou sobre as quais não informaram convenientemente os pais. Não se trata de
deficiências causadas pelos médicos, antes de deficiências que não foram comunicadas aos
pais, sendo certo que estes, se tivessem sido bem esclarecidos, teriam optado por abortar. As
uwrongful lufe actos» baseiam-se, assim, na omissão. Pelos médicos, do dever de infernação,
ou no negligente cumprimento de tal dever, de que vem a resultar o nascimento de uma
criança com graves malformações, pelo que é ela própria que pretende Ser indemnizada. Por
que dano? Pelo dano de ter estas situações levantam problemas de vária ordem. No plano
estritamente jurídico, podemos enunciar os seguintes. O pedido de indemnização pressupõe a
responsabilidade dos médicos, a qual depende de culpa, de acordo com as regras gerais. Esta
responsabilidade tanto pode ser contratual como extracontratual, admitindo-se -se, em
conformidade com a posição dominante entre nós. Que o lesado pode optar por uma ou por
outra, e, até, cumular na mesma acção as regras de ambas as modalidades de
responsabilidade. (pág.218)
Assim como se permite, em geral, a reparação tanto de donos patrimoniais corno de danos
morais (não patrimoniais). Quer na responsabilidade delitual, quer na responsabilidade
contratual (neste último caso, de acordo com a posição dominante, haverá, ainda, que
identificar o direito lesado, o dano ocorrido e o nexo de causalidade. E aqui que se situam as
maiores dificuldades.
No caso decidido pelo STJ em 19 de Junho de 2001, estava em causa um pedido de
indemnização por danos patrimoniais e morais sofridos pela própria criança. Mas não passou
despercebido ao Tribunal que o problema seria diferente se os autores da acção tivessem sido
os pais, se o pedido de indemnização dissesse respeito aos danos sofridos por estes por não
terem sido devidamente informados, durante a gravidez. Das malformações do feto, o que os
impediu. Assim, de optarem por fazer um aborto.
Se o caso fosse este, se os autores da acção tivessem sido os pais, ver-se-ia, então, se haveria
direito a uma indemnização. O Supremo Tribunal de Justiça não tomou posição a este
respeito — pois não era isso que estava em causa no caso —, mas não deixou de aludir. Mais
do que uma vez. A que a questão seria diferente se o pedido de indemnização tivesse sido
formulado pelos pais e não pelo menor. Parece, assim, que deixou a porta aberta para uma
solução diferente no caso de o autor da acção serem os próprios pais.
No caso concreto, todavia, a situação era outra. Os pais intervieram como representantes do
filho menor. Autor da acção foi a própria criança, invocando danos por si sofridos (por ter
nascido com malformações nas duas pernas e na mão direita). O fundamento do pedido foi a
conduta negligente dos réus (médico e clínica privada), que não detectaram, durante a
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gravidez da mãe. Tais anomalias. O pedido foi recusado, tendo, assim, o STJ confirmado as
decisões das instâncias inferiores.
O Supremo Tribunal de Justiça chamou a atenção para o facto de, no plano estritamente
processual, não haver conformidade entre o pedido e a causa de pedir. De todo o modo, para
além deste obstáculo processual. E tendo em conta que o autor era a própria criança, o
Tribunal concluiu que aquilo que estaria em causa seria o direito à não existência. Ora, tal
direito, no entender do Supremo Tribunal de Justiça, não está consagrado na lei,
acrescentando que, mesmo que tal «direito não existência» fosse legalmente reconhecido, ele
não poderia ser exercido pelos pais em nome do filho. «Só este, quando maior, poderá,
eventualmente, concluir se devia ou não existir e só então poderá ser avaliado se tal é
merecedor de tutela jurídica e de possível indemnização» — lê-se no acórdão, decidiu bem o
STJ, a nosso ver. São muitos os problemas, como temos dito. Mas, no essencial, reconhecer à
criança o direito a uma indemnização por danos próprios parece que pressuporia reconhecer a
alguém um «direito a não nascer», já que a alternativa seria
Não ter nascido. E não se afigura que tal «direito» seja de reconhecer. (ibidem).
6. Conclusão
Após a conclusão das pesquisas feitas pelo grupo, o grupo concluiu que a dignidade do
homem implica que o mesmo tenha personalidade jurídica, ou seja, a susceptibilidade de ser
titular de direitos e obrigações. A dignidade da pessoa humana onde obriga não só ao
reconhecimento de personalidade jurídica, como também a capacidade jurídica. Por isso
justifica-se e fundamenta os chamados direitos de personalidade. São posições jurídicas que
reportam, directamente, a pessoa tutelada. O direito de personalidade tutela bens jurídicos
como a vida, a honra e privacidade do próprio sujeito. Por outra, são direitos de
personalidade, direitos que constituem atributo da própria pessoa e que têm por objecto bens
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7. Referências Bibliográficas.