Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA 02
PESSOAS JURÍDICAS
1
Aula 02
Pessoas Jurídicas
Sumário
INTRODUÇÃO E CONCEITO ................................................................. 03
Natureza Jurídica ........................................................................... 04
Pressupostos de Existência ............................................................ 05
Representação ............................................................................... 06
CLASSIFICAÇÃO GERAL ...................................................................... 07
Pessoa Jurídica de Direito Público .................................................. 09
Pessoa Jurídica de Direito Privado .................................................. 17
Início da Existência Legal. Constituição ............................................. 31
Registro .......................................................................................... 32
DOMICÍLIO ........................................................................................ 34
Responsabilidade ............................................................................... 34
Extinção ............................................................................................. 37
Grupos Despersonalizados ................................................................. 38
Desconsideração da Personalidade Jurídica ....................................... 40
RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ....................................................... 47
Bibliografia Básica ............................................................................. 50
EXERCÍCIOS COMENTADOS (FCC) ...................................................... 51
EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE) .................................................. 72
2
INTRODUÇÃO
O homem, desde seus primórdios, sempre teve necessidade de se agrupar
para garantir a subsistência e atingir fins comuns. A necessidade de circulação
de riquezas como fator de desenvolvimento, fez com que se estabelecessem nas
sociedades grupos de atuação conjunta na busca de objetivos semelhantes. E o
Direito, ante a necessidade crescente de agilidade nas negociações, não ignorou
estas unidades coletivas. Portanto, a pessoa jurídica é fruto desta evolução
histórica-social.
CONCEITO
De forma técnica Pessoa Jurídica pode ser definida como a união de
pessoas naturais ou de patrimônios, com o objetivo de atingir determinadas
finalidades, sendo reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e
obrigações. Assim, como sujeito de relações jurídicas, possui personalidade
jurídica individual e própria (autônoma), independente da personalidade das
pessoas naturais que a compõe, principalmente quanto ao patrimônio.
PROTEÇÃO JURÍDICA
As pessoas jurídicas têm direito à personalidade (identificação, liberdade
para contratar, boa reputação, etc.), aos direitos reais (pode ser proprietária,
usufrutuária, etc.), aos direitos industriais (art. 5°, inciso XXIX da CF/88), aos
direitos obrigacionais (podendo comprar, vender, alugar ou contratar de uma
forma geral) e até mesmo aos direitos sucessórios (podem adquirir bens causa
mortis, ou seja, por testamento).
Segundo o art. 52, CC, aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a
proteção dos direitos da personalidade. Isso quer dizer que os dispositivos
relativos aos direitos da personalidade da pessoa natural (arts. 11 a 21, CC)
também podem ser aplicados em relação à pessoa jurídica, no que couber.
3
Assim, no campo do Direito Civil, a pessoa jurídica tem direito tanto à tutela
preventiva, como repressiva de seus direitos da personalidade, podendo ser
vítima e sofrer danos morais, tendo, inclusive, direito de acionar o Poder
Judiciário para exigir reparação desses danos. Trata-se da Súmula 227 do
Superior Tribunal de Justiça: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. No
entanto o próprio STJ deixou claro que isso somente ocorre hipótese em que
haja ferimento à sua honra objetiva.
NATUREZA JURÍDICA
Diversas teorias tentam identificar a natureza da personalidade da pessoa
jurídica. Uma corrente doutrinária nega a sua existência (negativista). Mas a
corrente afirmativista é a majoritária. E esta se divide basicamente em dois
grupos, sendo que cada um deles possui uma vasta subdivisão: a) Teorias da
Ficção (a pessoa jurídica é apenas uma criação artificial da lei ou da doutrina);
b) Teorias da Realidade (realidade orgânica ou objetiva, realidade jurídica,
realidade técnica, etc.).
Como nosso curso é objetivo, visando concursos públicos, vamos
deixar de lado a análise de cada uma dessas teorias sobre natureza da pessoa
jurídica e vamos nos ater somente ao que tem prevalecido nas provas.
4
Direto ao Ponto: de todas as teorias existentes sobre o tema, a que melhor
se adapta ao nosso sistema jurídico, sendo acolhida pelos mais renomados
doutrinadores e que tem caído em concursos (e é isso o que nos interessa), é
a TEORIA DA REALIDADE TÉCNICA. Realidade porque a existência continua
distinta da de seus membros e depende de formalização em registro público.
Técnica porque admite ser desconsiderada em determinadas hipóteses (que
veremos mais adiante). Assim, a pessoa jurídica existe de fato (ente real e
não uma mera abstração), sendo, portanto, sujeito de direitos e obrigações.
O próprio Estado reconhece a existência de grupos de pessoas que se unem na
busca de determinados fins, entendendo ser necessária a existência de
personalidade jurídica própria, distinta da dos membros que a compõe.
Assim, a personalidade jurídica é um atributo concedido a estes entes coletivos
por meio do ordenamento jurídico, sem que isso possa redundar em facilidade
para que seus componentes a utilizem como um instrumento de fraudes à lei ou
aos direitos de terceiros (permite-se, em casos especiais, a desconsideração).
CARACTERÍSTICAS
São características essenciais das pessoas jurídicas: a) existência
distinta da de seus membros; b) patrimônio próprio e diverso do de seus
integrantes; c) responsabilidade civil e criminal: as pessoas jurídicas são
civilmente responsáveis pelos atos de seus empregados e prepostos (art.
932, III, CC), bem como por crimes ao meio ambiente (art. 225, CF/88); d)
ilegitimidade para certos atos, como fazer testamento, adotar, etc.
5
REPRESENTAÇÃO
Por não poder atuar por si mesma, a pessoa jurídica deve ser
representada por uma pessoa física, ativa e/ou passivamente,
exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Prevê o art. 46,
III, CC que no registro da pessoa jurídica se declarará o modo porque se
administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente.
Pelo art. 47, CC, todos os atos negociais exercidos pelo representante, dentro
dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a
pessoa jurídica, que deverá cumpri-los. No entanto, se o representante
extrapolar estes poderes, responderá pessoalmente pelo excesso, ou seja, a
sociedade fica isenta de responsabilidade perante terceiros pelo ato do
administrador que extrapolar os limites do ato constitutivo (exceto se foi
beneficiada com a prática do ato, quando então passará a ter responsabilidade
na proporção do benefício auferido). A doutrina chama isso de teoria ultra
vires societatis (além do conteúdo da sociedade), caracterizada pelo abuso de
poder do administrador, ocasionando violação do objeto social lícito para o qual
foi constituída a empresa. Isso funciona como uma forma de proteção da
pessoa jurídica, responsabilizado apenas o sócio.
1. Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno → são representadas em
juízo, ativa e passivamente (art. 75, incisos I a IV, do Código de Processo Civil
de 2015):
a) União → pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante
órgão vinculado.
b) Estados e Distrito Federal → por seus Procuradores.
c) Municípios → por seu Prefeito ou Procurador.
7
B) Quanto à Estrutura Interna
1) Universitas Personarum nelas, o mais importante é o
conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de certos direitos e os
exerce por meio de uma vontade única. O objetivo é o bem-estar de seus
membros. Ex.: as sociedades (de uma forma geral) e as associações.
2) Universitas Bonorum nelas, o mais importante é o patrimônio
personalizado destinado a um determinado fim e que lhe dá unidade. O
objetivo é o bem-estar da sociedade. Ex.: fundações. O patrimônio e as
finalidades (objeto) das fundações são seus elementos essenciais.
C) Quanto às Funções e Capacidade Podem ser divididas em pessoas
jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado (art. 40, CC).
Este é o item mais importante, pois é o que tem maior incidência em
concursos. Daremos agora uma visão geral e panorâmica sobre o tema. A
seguir vamos analisar cada uma das espécies e subespécies, de forma
minuciosa.
I. DIREITO PÚBLICO
A) Interno (art. 41, CC)
1) Administração Direta: União, Estados, Distrito Federal, Territórios
e Municípios.
2) Administração Indireta: autarquias, associações e demais
entidades criadas por lei (são as fundações públicas de direito público).
B) Externo (art. 42, CC): Estados estrangeiros e demais pessoas regidas
pelo direito internacional público.
9
Costuma-se dizer que o Brasil é detentor de soberania, ou seja, não deve
obediência jurídica a nenhum outro Estado. É juridicamente ilimitada no plano
interno e somente encontra limites na soberania de outro País. Já as demais
entidades dentro do Brasil são detentoras de autonomias. A autonomia dos
entes da federação brasileira está devidamente delimitada pelo Direito. Esta
autonomia, na verdade, é o exercício do poder do Estado com a observância dos
parâmetros jurídicos estabelecidos em uma norma de hierarquia superior (em
outras palavras: a própria Constituição Federal).
A União designa a nação brasileira, nas suas relações com os Estados-
membros que a compõe e com os cidadãos que se encontram em seu território.
Os Estados federados (Estados-membros) possuem autonomia
administrativa, competência e autoridade legislativa, executiva e judiciária sobre
os negócios locais.
Os Municípios legalmente constituídos também se encaixam nesta
classificação, pois foram assegurados pela Constituição Federal; eles têm
interesses e economia próprios.
Também há previsão expressa em relação ao Distrito Federal. Mas em
relação a ele a natureza jurídica é controvertida. Alguns dizem que ele é um
município anômalo; outros que é uma autarquia territorial; outros que é uma
circunscrição territorial assemelhada aos territórios. Finalmente outros afirmam
que é “mais do que um município e menos que um Estado”. Possui previsão
expressa no art. 32, CF/88. Vejamos: a) o Distrito Federal rege-se por uma Lei
Orgânica (típica de Municípios) e não por uma Constituição Estadual (típica dos
Estados-membros); b) o Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa
(mistura de Câmara de Vereadores – Poder Legislativo Municipal e Assembleia
Legislativa – Poder Legislativo Estadual) composta por Deputados Distritais
eleitos, acumulando as competências legislativas reservadas aos Estados e
Municípios; c) o Chefe do Poder Executivo é um Governador (típico dos Estados)
Distrital e não um Prefeito (típico dos Municípios); d) é proibida a sua divisão
em municípios. Há uma grande crítica em relação ao texto do art. 18, §1o,
CF/88, pois ele afirma que Brasília é a Capital Federal, quando se devia ter
mantido a nossa tradição e correção técnica afirmando que “o Distrito Federal é
a capital da União”.
Na realidade Brasília é o nome de uma das Regiões Administrativas do
Distrito Federal (RA-I). Ela é um núcleo urbano, uma cidade que serve de
centro político à União, mas não pode ser considerada como um Município,
juridicamente falando. Esta região, em termos urbanos, compreende as “Asas”
Sul e Norte e a área central do chamado “Plano Piloto”. No entanto a Lei
Orgânica do Distrito Federal não menciona os limites de Brasília. Já as demais
aglomerações urbanas situadas fora do Plano Piloto pertencem a outras Regiões
10
Administrativas. Embora o Decreto n° 19.040/98 tenha proibido a expressão,
ainda se costuma usar o termo cidade-satélite (ex.: Gama, Taguatinga,
Brazlândia, Sobradinho, Planaltina, Ceilândia, Guará, etc.).
Chamo atenção para os Territórios. Como sabemos, já não existem mais
os Territórios no Brasil. Mas apesar de não mais existirem há previsão expressa
na Constituição Federal, possibilitando a criação de eventual novo Território,
por meio de Lei Complementar (arts. 18, §2° e 48, inciso VI, CF/88). Para o
Direito Civil ele será considerado como sendo uma pessoa jurídica de direito
público interno, pois há previsão expressa no art. 41, inciso II, CC. Alguns
autores classificam os territórios como “autarquias territoriais” dando a entender
que seriam pessoas jurídicas de direito público interno de administração indireta
(há uma grande discussão sobre este tema, mas diversos civilistas preferem
classificá-los como de administração direta).
11
expressão República Federativa do Brasil é usada no plano externo, para
identificar o Brasil perante os outros países (relações internacionais). Neste caso
seria uma pessoa jurídica de direito público externo (ou internacional),
integrada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A União representa
o Estado Federal nos atos de Direito Internacional, mas quem pratica
efetivamente os atos de Direito Internacional é a República Federativa do Brasil,
juridicamente representada por um órgão da União: a Presidência da República.
Resumindo
República Federativa do Brasil: pessoa jurídica de direito publico externo
(ou internacional).
União: pessoa jurídica de direito público interno; é apenas uma das
entidades que forma o Estado Federal, e que, por determinação
constitucional (art. 21, I, CF/88) tem competência exclusiva de representá-lo
em suas relações internacionais.
AUTARQUIAS
São pessoas jurídicas de direito público, que desempenham atividade
administrativa típica, com capacidade de auto-administração nos limites
estabelecidos em lei. Embora ligadas ao Estado, elas desfrutam de certa
autonomia, possuindo patrimônio e orçamento próprio, mas sob o controle
do Executivo que o aprova por Decreto e depois o remete ao controle do
Legislativo. As autarquias não têm capacidade política (isto é, não podem
legislar e criar o próprio Direito, devendo obedecer a legislação administrativa à
qual estão submissas), porém podem baixar instruções normativas (que não são
consideradas leis em sentido estrito).
Elas são criadas por lei específica (iniciativa privativa do chefe do Poder
Executivo), com personalidade jurídica de direito público; integram a
administração indireta, possuindo atribuições estatais destinadas à realização de
obras e serviços públicos, de cunho social, geralmente ligadas a área da saúde,
educação, etc. (excluem-se, portanto as de natureza econômica ou industrial).
Portanto elas devem atuar em setores que exigem especialização por parte do
Estado, com organização própria, administração mais ágil e pessoal
especializado. Seus bens são considerados públicos.
12
A autarquia nasce com a vigência da lei que a instituiu, não havendo
necessidade de registro. Da mesma forma, sua extinção também deve ser
feita por meio de lei específica (princípio da simetria das formas jurídicas). Seus
atos são considerados como administrativos. Como possui personalidade jurídica
própria, ela se desliga do ente criador. Portanto, se alguém quiser discutir
judicialmente a revisão de sua aposentadoria, deve ingressar com ação judicial
não contra a União (entidade criadora), mas contra o próprio INSS como
entidade autônoma e com patrimônio próprio. Ex.: INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social), INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária),
CVM (Comissão de Valores Mobiliários), CADE (Conselho Administrativo de
Defesa Econômica), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis), Imprensa Oficial do Estado, etc.
ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS
O art. 241, CF/88 autorizou a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios a realizarem mediante lei os chamados consórcios públicos e os
convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão
associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de
encargo, serviços, pessoal e bem bens essenciais à continuidade dos serviços
transferidos. A Lei n° 11.107/05 regulou os consórcios públicos, cumprindo o
disposto na Constituição sendo uma nova forma de se prestar um serviço
público. Essa lei optou por atribuir personalidade jurídica aos consórcios
públicos, dando-lhes a forma de uma associação, podendo ser de pessoa
jurídica de direito público (associação pública) ou de direito privado.
Quando o consórcio público for pessoa jurídica de direito privado,
assumirá a forma de “associação civil”, sendo que aquisição da personalidade
ocorre com a inscrição dos atos constitutivos no registro civil das pessoas
jurídicas. Mesmo assim, estes consórcios estão sujeitos às normas de direito
público no que diz respeito à realização de licitação, celebração de contratos,
prestação de contas, admissão de pessoal, etc.
Quando criado com personalidade de direito público, o consórcio público
se apresenta como uma associação pública. O consórcio público será
constituído por contrato, cuja celebração dependerá de prévia subscrição de
protocolo de intenções. As questões de prova em concurso têm entendido que
as associações públicas são uma espécie de autarquia (e não uma nova
espécie de entidade da administração indireta).
FUNDAÇÕES PÚBLICAS
Fundação, de uma forma geral, é uma instituição do direito privado. Sua
criação resulta da iniciativa de uma pessoa (física ou jurídica), que destina um
acervo de bens particulares (que adquirem personalidade jurídica) para a
13
realização de finalidades sociais, sem natureza lucrativa (educacional,
assistencial, etc.). Compreende sempre: patrimônio e finalidade.
No entanto, as fundações também podem ter personalidade jurídica de
direito público, segundo dispõe a sua norma instituidora. Ultimamente o Poder
Público tem instituído fundações para a execução de algumas atividades de
interesse coletivo, sem finalidade lucrativa (assistência social, assistência
médica e hospitalar, educação e ensino, pesquisa científica, atividades culturais,
proteção ao meio ambiente, etc.). Elas integram a administração pública
indireta no nosso sistema jurídico, pois uma pessoa política faz a dotação
patrimonial e destina recursos orçamentários para a manutenção da entidade.
No entanto, como suas atividades não são exclusivas do Poder Público costuma-
se dizer que elas exercem atividades atípicas do Poder Público.
As fundações públicas se assemelham às fundações particulares, mas se
diferenciam nos seguintes aspectos: enquanto a fundação privada é criada a
partir de um ato (inter vivos ou causa mortis) de um particular e com
patrimônio deste, a fundação pública é criada mediante uma lei específica, a
partir de um patrimônio público. Ex.: FUNASA (Fundação Nacional da Saúde),
FUNARTE (Fundação Nacional das Artes), FUNAI (Fundação Nacional do Índio),
FBN (Fundação Biblioteca Nacional), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), FUB (Fundação
Universidade de Brasília), etc.
Se observarmos o art. 41, CC, que arrola as pessoas jurídicas de direito
público, vamos concluir que ele não menciona a “fundação”, como sendo uma
de suas espécies. No entanto, segundo a doutrina, as fundações públicas
estariam implícitas na expressão “demais entidades de caráter público criadas
por lei”. E Constituição Federal de 1988, em especial após a Emenda
Constitucional n° 19/98 (art. 37, XIX), reforçou esta posição.
16
DIFERENÇAS BÁSICAS: AUTARQUIA X FUNDAÇÃO PÚBLICA
AUTARQUIAS FUNDAÇÕES
Atividades típicas (exclusivas) Atividades atípicas da
Atribuições
ou atípicas da Administração. Administração.
Apenas Direito Público. Direito Público ou Privado.
Regime Jurídico
Observações
01) Segundo a doutrina os sindicatos entram no item associação, pois o
Enunciado 142 das Jornadas de Direito Civil do CJF afirma que o sindicato possui
natureza associativa.
02) Enunciado 144 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “A relação das
pessoas jurídicas de Direito Privado, constante do art. 44, incisos I a V, do
Código Civil, não é exaustiva (ou seja, é apenas exemplificativa, podendo ser
reconhecidas outras espécies pessoas de direito privado).
17
escritura pública (ato inter vivos) ou de um testamento (causa mortis).
Portanto elas não podem ser criadas por instrumento particular.
Fundação é o complexo de bens livres colocados por uma pessoa física ou
jurídica, a serviço de um fim lícito e determinado, com alcance social
pretendido por seu instituidor, de modo permanente e estável e em atenção
ao disposto em seu estatuto. Uma pessoa (natural ou jurídica) separa parte de
seu patrimônio, criando a fundação para atingir objetivo não-econômico. A
partir de sua criação, o patrimônio da fundação não pertence à pessoa que a
criou, uma vez que passa a ter personalidade própria. Ex.: a Fundação
Roberto Marinho não pode ser confundida com a Rede Globo de Televisão.
O próprio instituidor poderá administrar a fundação (forma direta) ou
encarregar outrem para este fim (forma fiduciária). De acordo com o parágrafo
único, do art. 62, CC (redação dada pela Lei n° 13.151/15) a fundação
somente poderá constituir-se para fins de assistência social, cultura, defesa
e conservação do patrimônio histórico e artístico, educação, saúde, segurança
alimentar e nutricional, defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
promoção do desenvolvimento sustentável, pesquisa científica, desenvolvimento
de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e
divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos, promoção da
ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos e atividades
religiosas. Exemplos: Fundação São Paulo (mantenedora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo), Fundação Ayrton Senna, etc. Para a sua
criação pressupõem-se:
• Dotação de bens livres: o instituidor destina determinados bens que
comporá o patrimônio da fundação, apto a produzir rendas ou serviços que
possibilite alcançar os objetivos visados. Podem ser imóveis ou móveis
(veículos, computadores, inclusive dinheiro), desde que sejam “bens
livres”, ou seja, que não estejam hipotecados, penhorados, nem sejam bem
de família. Resumindo: bens que podem ser alienados sem prejuízo de
terceiros.
• Elaboração de estatutos com base em seus objetivos. Eles devem ser
submetidos à apreciação do Ministério Público estadual que os fiscalizará. O
próprio MP pode elaborar os estatutos, caso o mesmo não seja feito por
quem de direito. Em regra, seu objetivo é imutável. No entanto é possível
a reforma dos estatutos, desde que (art. 67, CC): a) seja deliberada por
dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; b) não
contrarie ou desvirtue o seu fim; c) seja aprovada pelo órgão do Ministério
Público no prazo máximo de 45 dias, findo o qual ou no caso de o Ministério
Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. Se
18
não houver unanimidade da alteração do estatuto, de haver a impugnação
pela minoria vencida no prazo decadencial de 10 dias (art. 68, CC).
• Especificação dos fins (como enumerado acima, previsto no parágrafo
único, do art. 62, CC). A contrário senso, não pode ter finalidade econômica
ou fútil e, a exemplo da associação, se gerar receita, esta deve ser revertida
para ela mesma.
• Previsão do modo de administrá-la: embora seja interessante que a
fundação preveja o modo pelo qual ela deva ser administrada, este item não
é essencial para sua existência.
Observações
01) Terceiro Setor é uma terminologia sociológica que dá significado a todas
as iniciativas privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil. A
palavra é uma tradução do inglês third sector, um vocábulo muito utilizado nos
Estados Unidos para definir as diversas organizações sem vínculos diretos com
o Primeiro Setor (setor público, o Estado) e o Segundo Setor (setor privado, o
mercado). Em outras palavras, o terceiro setor é o conjunto de entidades da
sociedade civil com fins públicos e não lucrativos. Ex.: ONG (Organização Não
19
Governamental) e OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público).
02) As ONGS são grupos organizados, sem fins lucrativos, constituídas
formal e autonomamente, caracterizadas por ações de solidariedade no campo
das políticas públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito
de populações excluídas das condições da cidadania. Fazem parte do chamado
terceiro setor. Por não terem finalidade econômica, organizam-se como
fundações ou associações.
Supervisão das Fundações
As fundações privadas são supervisionadas pelo Ministério Público do
Estado onde estiverem situadas (art. 66, CC), através da curadoria das
fundações, que deve zelar pela sua constituição e funcionamento. Se
estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um
deles, ao respectivo Ministério Público (art. 66, §2°, CC). A doutrina entende
que não há esta fiscalização do Ministério Público em relação às fundações
públicas.
2. PARTIDOS POLÍTICOS
Os partidos políticos são entidades integradas por pessoas com ideias
comuns (pelo menos em tese...), tendo por finalidade conquistar o poder para a
20
consecução de um programa. São associações civis que visam assegurar, no
interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e
defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. De acordo
com o art. 17, §2°, CF/88 e a Lei n° 10.825/03, os partidos políticos, embora
tenham um caráter público, passaram a ser considerados como pessoas
jurídicas de direito privado, tendo natureza de associação civil. Os estatutos
devem ser registrados no cartório competente do Registro Civil de Pessoas
Jurídicas da Capital Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (Lei n° 9.096/95).
3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado,
formadas pela união de indivíduos com o propósito de culto a determinada força
(ou forças) sobrenatural, por meio de doutrina e ritual próprios, envolvendo
preceitos éticos. Atualmente a Lei n° 10.825/03 (que alterou o Código Civil)
deixou bem claro que elas são pessoas jurídicas de direito privado, tendo
também natureza de associação civil. É vedado ao poder público negar-lhe o
reconhecimento ou registro de seus atos constitutivos necessários a seu
funcionamento (art. 44, §1°, CC). Tal dispositivo está em consonância com o
texto constitucional (art. 5°, VI, CF/88).
Enunciado 142 da III Jornada de Direito Civil do CJF: “Os partidos políticos,
os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa,
aplicando-se-lhes o Código Civil”.
22
obrigações, possuindo capacidade patrimonial e adquirindo vida própria, que
não se confunde com a de seus membros. Se não houve registro a associação
existe, mas será considerada irregular (associação não personificada); será tida
como mera relação contratual disciplinada pelo seu estatuto. A convocação dos
órgãos deliberativos deve ser feita na forma do estatuto, garantindo-se a 1/5
dos associados o direito de promovê-la.
Finalmente, estabelece o art. 61, CC que dissolvida a associação, o
remanescente do seu patrimônio líquido será destinado à entidade de fins não
econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou
semelhantes.
Observação: A doutrina afirma que os sindicatos tem natureza associativa.
No entanto eles possuem um viés de representação política de uma
categoria. Já as associações têm um cunho cultural, esportivo, artístico, sem
uma competência legal para representação da categoria, mas tão somente de
associados a ela.
5. SOCIEDADES
Sociedade é espécie de corporação dotada de personalidade jurídica
própria e instituída por meio de um contrato social (que é o seu ato
constitutivo), com o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar
lucros. Assim, duas ou mais pessoas, visando realizar negócios lucrativos,
resolvem criar uma entidade e aplicar nela dinheiro e serviço, formalizando por
escrito o ato constitutivo; ao se tornarem sócias elas passam a ter o direito de
participar dos resultados econômicos da entidade criada. Ela está prevista em
outro tópico do Código Civil, dentro do Livro II da Parte Especial (Do Direito de
Empresa), a partir do art. 981. Prevê este dispositivo: Celebram contrato de
sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si,
dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de
um ou mais negócios determinados.
Características das Sociedades em Geral
• Pluralidade: devem ser formadas por duas ou mais pessoas. A lei admite
exceções, as chamadas sociedades unipessoais que veremos adiante, as
quais possuem apenas um sócio.
• Affectio Societatis: intenção específica dos sócios em constituir a
sociedade, com personalidade distinta da de seus membros e permanecerem
unidos, para a execução de uma ou mais atividades econômicas.
• Exploração da atividade econômica: devem ter o propósito de executar
atividades ligadas à produção ou circulação de bens ou serviços.
23
• Contribuição de bens ou serviços: o capital social de ser constituído,
mediante contribuição de seus sócios, tanto em forma de bens (dinheiro,
imóveis, veículos, aparelhos, etc.), como em serviços (trabalho a ser
desenvolvido com conhecimentos técnicos especiais em benefício da
sociedade). Obs.: a possibilidade de contribuição em serviços não é admitida
em algumas espécies de sociedades, como nas sociedades limitadas e nas
sociedades por ações.
• Fins lucrativos: devem ter o intuito de gerar novos recursos para serem
distribuídos entre os sócios. O atual Código Civil deixou bem claro que a
finalidade lucrativa é o que distingue uma associação de uma sociedade.
Tanto isso é verdade que o art. 1.008, CC estabelece que é nula a
estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e
das perdas (princípio da vedação de cláusula leonina). Atenção: repartir o
lucro de forma diferenciada não viola a lei; o que é proibido é que algum
sócio seja excluído da participação nos lucros.
24
Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ). São regidas pelas normas previstas
na Parte Especial do Código (arts. 997 a 1.038), que disciplina seu contrato
social, direitos e obrigações dos sócios, sua administração, dissolução, etc.
25
Sociedade Cooperativa terá sempre natureza simples, independentemente de
seu objeto.
Observações Importantes
01) Sociedade Simples e Sociedade Empresária não são tipos societários,
mas sim naturezas de sociedades. A sociedade simples possui regras próprias de
funcionamento (arts. 997/1.038, CC). Já a sociedade empresária não possui
regras próprias, mas pode assumir algum dos tipos societários (arts. 1.039 a
1.092, CC).
02) A Sociedade Simples também pode optar por adotar qualquer dos tipos
societários previstos na lei, inclusive as sociedades por ações.
03) Toda Sociedade por Ações (S/A e C/A) é uma sociedade empresária,
independentemente de seu objeto (seja ele de natureza simples ou de natureza
empresária).
04) Desta forma, se uma Sociedade Simples adotar o tipo societário
Sociedade Anônima (que é sociedade por ações) será considerada
automaticamente como Sociedade Empresária por força de lei (primeira parte do
parágrafo único do art. 982, CC), estando sujeita às regras de registro
empresarial próprio, à escrituração própria e obrigatória do empresário, à Lei
das S/A e de Falências, etc.
26
• Sociedade Subsidiária Unipessoal Integral (art. 251, da Lei das S/A):
segundo esse dispositivo uma sociedade por ações pode ser formada por
apenas um sócio quando esse for uma sociedade brasileira.
• Empresa Pública Unipessoal: é possível a criação de uma empresa, sendo
que todos os recursos pertencem a somente um ente da Federação; sua
criação depende de prévia autorização legislativa (art. 37, XX, CF/88), como
no caso da Caixa Econômica Federal.
27
ao regime administrativo próprio das entidades públicas, previsto no art. 175,
CF/88).
Observações
01) Embora haja uma dualidade no objeto (exploração de atividade
econômica ou prestação de serviços públicos), segundo posicionamentos
doutrinários modernos, as empresas públicas e as sociedades de economia
mista, qualquer que seja o objeto, não estão sujeitas à falência, por força da
nova lei de falências (Lei n° 11.101/2005) que em seu art. 2°, I, afirma: “Esta
lei não se aplica a: I. empresa pública e sociedade de economia mista (...)”.
Outro ponto é que ainda que ambas estejam sujeitas ao regime das empresas
privadas (quando exploram atividade econômica), continuam obrigadas à
licitação.
02) O Supremo Tribunal Federal considera impenhoráveis os bens das
empresas públicas e das sociedades de economia mista, sempre que seu objeto
de atuação seja a prestação de serviço público de prestação obrigatória pelo
Estado.
Empresas Públicas: são pessoas jurídicas de personalidade de direito
privado, integrantes da administração indireta, instituídas pelo Poder
Público, mediante autorização de lei específica a se constituir com capital
próprio e exclusivamente público, para exploração de atividade
econômica ou prestação de serviços públicos ou coordenadora de obras
públicas, podendo se revestir de qualquer das formas de organização
empresarial (Ltda., S/A, etc.). Ex.: Empresa Brasileira de Correios de
Telégrafos (EBTC), Caixa Econômica Federal (CEF), Casa da Moeda, Serviço
de Processamento de Dados (SERPRO), EMURB, etc.
28
Diferenças Empresa Pública Sociedade de Economia Mista
29
Quanto ao nome empresarial, que identifica o empreendedor nas
realizações empresariais e contratuais, ele poderá adotar o próprio nome ou sua
abreviação, bem como um nome distinto da pessoa natural. No entanto o nome
adotado deverá conter como sinal distintivo a expressão “EIRELI” após a firma
ou denominação adotada. Exemplos: José João EIRELI; ou J.J. EIRELI, ou J.J.
Comercial EIRELI; ou ainda Alfa Comercial EIRELI. A pessoa natural que
constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá
figurar em uma única empresa dessa modalidade, o que a diferencia das demais
sociedades, uma vez que nestas os sócios podem ter outro empreendimento
sem qualquer problema.
A EIRELI pode ser originária ou derivada. Originária quando a pessoa
inicia do zero a atividade empresarial. Derivada quando resulta da
transformação de um empresário individual ou de uma sociedade, em EIRILI.
Assim, se uma sociedade limitada deixar de possuir pluralidade de sócios, ela
poderá ser transformada em uma EIRELI. Anteriormente esta situação implicava
numa verdadeira corrida contra o tempo do sócio remanescente, pois ele era
obrigado a procurar um novo sócio no prazo de 180 dias, sob pena de ver sua
sociedade extinta caso permanecesse na condição de apenas um sócio.
A V Jornada de Direito Civil do CJF aprovou o Enunciado 468
explicando a natureza jurídica da EIRELI: “A Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo ente
jurídico personificado”. Portanto, ela é uma pessoa jurídica constituída por
apenas uma pessoa (usa-se a expressão “titular”, ao invés de “sócio”), tendo
natureza especial, bem como tratamento específico no novo art. 980-A, CC.
Aplicam-se à EIRELI, no que couber, as regras previstas para as sociedades
limitadas, sendo que o Enunciado 469 do CJF estabelece que o patrimônio da
EIRELI responde pelas dívidas da pessoa jurídica, não se confundindo com o
patrimônio da pessoa natural que a constitui, sem prejuízo da aplicação do
instituto da desconsideração da personalidade jurídica (do qual falaremos mais
adiante). Finalmente, estabelece o Enunciado 470 do CJF que os atos
constitutivos da EIRELI devem ser arquivados no registro competente, para fins
de aquisição de personalidade jurídica. A falta de arquivamento ou de registro
de alterações dos atos constitutivos configura irregularidade superveniente.
Finalmente, estabelece a Instrução Normativa n° 117/2011, do Departamento
Nacional do Registro do Comércio (DNRC): “A EIRELI é pessoa jurídica
constituída por único titular, que deverá ser pessoa física”.
30
derivada; d) cada pessoa só pode constituir uma única EIRELI; e)
responsabilidade limitada até o valor do capital social (são regidas, no que
couber, pelas normas das sociedades limitadas); f) firma ou denominação
seguida da expressão EIRELI.
DISTINÇÕES
Associação X Sociedade
Semelhanças: conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de
certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única.
Distinções: Associação → não há fim lucrativo (ou de dividir resultados,
embora tenha patrimônio), formado por contribuição de seus membros para a
obtenção de fins culturais, esportivos, religiosos, etc. Sociedade → visa fim
econômico ou lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios.
Associação X Fundação
Semelhanças: ambas não visam finalidade lucrativa.
Distinções: Fundação → atribuição de personalidade jurídica a um
patrimônio; possui objeto mais restrito. Fiscalização do MP. Associação →
aglomeração orgânica de pessoas (naturais ou jurídicas); possui um objeto mais
amplo para sua criação (admite também objeto recreativo, esportivo, etc.).
31
Primeira Fase: Elaboração dos Atos Constitutivos A pessoa jurídica se
constitui, por escrito, por ato jurídico unilateral inter vivos ou causa mortis em
relação às fundações e por ato jurídico bilateral ou plurilateral em relação às
sociedades e as associações.
• Regra: a) Fundações → escritura pública ou testamento; b) Associações
(sem fim lucrativo) → Estatuto. b) Sociedades simples ou empresárias (com
finalidade lucrativa) → Contrato Social (no caso do capital social ser dividido
em quotas: Sociedade em Nome Coletivo, Comandita Simples e Limitada) ou
Estatuto Social (no caso do capital social ser dividido em ações: Sociedade
Anônima e Comandita por Ações).
Segunda Fase: Registro do Ato Constitutivo Para que a pessoa jurídica
exista legalmente, é necessário inscrever os contratos, estatutos ou
compromissos no seu registro peculiar. Antes do registro é chamada de
“sociedade de fato”.
• Regra: a) Sociedades Empresárias → Registro Público de Empresas
Mercantis (Junta Comercial); b) Demais pessoas jurídicas → Registro Civil de
Pessoas Jurídicas. Quaisquer alterações supervenientes nestas instituições
devem ser averbadas no mesmo registro.
REGISTRO
Como vimos, somente com o registro a pessoa jurídica adquire a
personalidade. Tal registro se dá no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. No
entanto uma sociedade empresária deve ser registrada no Registro Público de
Empresas Mercantis e Atividades Afins (Lei n° 8.934/94), sendo competente
para tais atos as Juntas Comerciais.
Art. 1.150, CC: O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao
Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a
sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas (...).
O registro é ato formal e solene, pois se trata de requisito essencial
para a validade do ato instituidor da pessoa jurídica. Segundo o art. 46, CC o
registro deve conter os seguintes elementos: a) a denominação, os fins, a
sede, o tempo de duração e o fundo social (quando houver); b) o nome e a
individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores; c) forma de
32
administração e representação ativa e passiva, judicial e extrajudicial; d)
possibilidade e modo de reforma do estatuto social; e) previsão da
responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obrigações sociais; f) condições de
extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio. A ausência de algum
desses elementos é causa de anulabilidade do estatuto, cuja ação decai no
prazo de 03 (três) anos (art. 45, parágrafo único, CC).
Uma pessoa jurídica começa a existir no momento em que é efetuado o
seu registro, passando a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações,
obtendo capacidade patrimonial, adquirindo vida própria e autônoma, não
se confundindo com a personalidade de seus membros. Dispõe o art. 45, CC:
“Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando
necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no
registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo”.
É interessante deixar claro que se uma sociedade que ainda não foi
registrada estiver praticando atos, nos termos do art. 986, CC, será regida pelas
normas da sociedade comum (que é uma espécie do gênero sociedade sem
personalidade jurídica) e subsidiariamente pelas normas da sociedade simples
(espécie do gênero sociedades personificadas). Isso quer dizer que a sociedade
existe de fato. Porém, nos termos do art. 990, CC não há separação de
patrimônio, ou seja, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente
pelas obrigações da sociedade.
Atenção
• Personalidade da Pessoa Natural: nascimento com vida. O registro
possui apenas efeito declaratório, pois quando ele é feito, a condição de
pessoa já havia sido adquirida. O registro apenas declara uma situação pré-
existente: o nascimento com vida.
• Personalidade da Pessoa Jurídica: registro. O registro neste caso possui
efeito constitutivo; é com ele que a pessoa jurídica “nasce” ou se
constitui juridicamente como ente autônomo.
• Observação importante para concursos: digamos que uma sociedade
funcionou durante cinco anos sem ser registrada. Após este prazo,
resolveram registrá-la. Pergunta-se: o registro retroage desde o início das
atividades da sociedade ou somente a partir do registro? Resposta: os
efeitos do registro da pessoa jurídica são sempre para o futuro (efeito ex
nunc); não se pode retroagir, legitimando o passado.
33
DOMICÍLIO DAS PESSOAS JURÍDICAS
As pessoas jurídicas também possuem domicílio (art. 75, CC); é a sua
“sede jurídica”, onde os credores podem demandar o cumprimento das
obrigações. Situações legais:
• União → Distrito Federal.
• Estados e Territórios → suas respectivas Capitais.
• Municípios → o lugar onde funciona a Administração Municipal (a sede
municipal).
• Demais Pessoas Jurídicas → Regra: o lugar onde elegerem domicílio
especial nos seus estatutos ou atos constitutivos. Na omissão é o local onde
funcionam as respectivas diretorias e administrações. Essa regra se aplica
também às autarquias, empresas públicas e outros órgãos da administração
indireta. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares
diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele
praticados. Admite-se, portanto, a pluralidade domiciliar da pessoa jurídica,
desde que tenha estabelecimentos em lugares diferentes (ex.: filiais, agências,
escritórios de representação, etc. – art. 75, §1°, CC). Finalmente estabelece o
art. 75, §2°, CC que se “a administração, ou diretoria, tiver a sede no
estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às
obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder”.
35
Teoria da Responsabilidade Objetiva do Estado. A pessoa lesada apenas
deve provar que houve uma conduta por parte do Estado, que ela sofreu um
dano e que houve um nexo de causalidade entre a conduta e o dano. Ou
seja, a vítima não tem mais o ônus de provar culpa ou dolo do funcionário.
Vigora atualmente a Teoria do Risco Administrativo. Nela o Estado
responde objetivamente, porém não em qualquer hipótese. Permite-se que a
responsabilidade do Estado seja afastada em situações onde consiga provar a
culpa exclusiva da vítima (no caso de culpa concorrente apenas se atenua sua
responsabilidade, diminuindo o valor da indenização), o caso fortuito ou a força
maior, a ausência de nexo causal, etc. As pessoas jurídicas de direito público e
as de direito privado prestadoras de serviços públicos (abrangendo as
concessionárias e permissionárias) têm responsabilidade civil:
Pelos danos que seus agentes (sentido amplo), nessas qualidades,
causarem a terceiros (art. 37, §6°, CF/88 e art. 43, CC). Art. 43, CC: “As
pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por
atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvados direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por
parte destes, culpa ou dolo”. Art. 37, §6°, CF/88: “As pessoas jurídicas de
direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa”. Percebam que o texto constitucional foi mais abrangente
do que o Código Civil ao inserir também as pessoas jurídicas de direito
privado que sejam prestadoras de serviços públicos, incluindo não só as
concessionárias, como aquelas que agem por delegação, como é o caso dos
notários e tabeliães.
Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo
objetiva, isto é, a responsabilidade existe independentemente de culpa do
funcionário. Há que se provar a conduta (positiva ou negativa), a lesão (dano
patrimonial ou moral) e o nexo causal (a lesão foi causada pela conduta). Não
se analisa eventual culpa. Provados aqueles elementos (conduta, dano e nexo),
o Estado deve indenizar. Também não se indaga da licitude ou ilicitude da
conduta administrativa. Ou seja, às vezes, mesmo agindo licitamente o Estado
pode ser obrigado a indenizar um particular. Ex.: quando o Estado realiza uma
obra que em tese irá beneficiar muitas pessoas, pode causar prejuízo a uma
pessoa em especial. A obra realizada é lícita. Mas se causar prejuízo a um
particular, esse deve ser indenizado (ex.: seu imóvel foi desvalorizado com a
obra).
Os mesmos dispositivos citados (art. 37, §6°, CF/88 e art. 43, CC)
autorizam ao Poder Público o chamado direito de regresso contra o causador
36
do dano, se houver culpa ou dolo de sua parte. Lembrando que quando se fala
“culpa”, devemos entender seu sentido amplo, abrangendo tanto a culpa em
sentido estrito (o agente praticou uma conduta, mas não teve a intenção da
ocorrência de um resultado específico, porém este acabou acontecendo por
imprudência, negligência ou imperícia do agente) como o dolo (o agente teve a
intenção de praticar a conduta, desejando ou assumindo o risco pelos resultados
advindos de sua conduta). Assim, o Estado responde de forma objetiva (ou seja,
independentemente de culpa). Mas se o Estado for condenado e ficar provada a
culpa ou o dolo do funcionário, o Estado poderá acionar regressivamente o seu
agente. Logo, a responsabilidade do funcionário é do tipo subjetiva, pois deve
estar comprovada a sua culpa em sentido amplo (que abrange o dolo ou a culpa
em sentido estrito) no evento.
Por atos de terceiros e por fenômenos da natureza. Neste caso, a
responsabilidade é somente subjetiva. Ou seja, deve-se provar a culpa da
Administração (ex.: casos de enchentes ou depredações por movimentos
populares, já previstos pela administração). Trata-se de uma exceção à
regra de que o Estado responde de forma objetiva.
Observações
01) A doutrina e a jurisprudência de forma majoritária entendem que na
hipótese de uma conduta omissiva por parte do Estado, a sua
responsabilidade dependeria de demonstração de culpa da sua parte. Seria
então mais um caso de responsabilidade subjetiva do Estado. No entanto há
quem sustente, também nesse caso, de responsabilidade objetiva.
02) O Supremo Tribunal Federal já decidiu que as ações fundadas na
responsabilidade objetiva só podem ser ajuizadas contra a pessoas jurídica. No
entanto, se o autor se dispõe a provar a culpa ou dolo do servidor
(responsabilidade subjetiva), abrindo mão de uma vantagem, poderá movê-la
diretamente contra o causador do dano. Isso pode ser mais vantajoso porque a
execução contra o particular é menos demorada (não há a expedição dos
famosos precatórios). E se preferir mover a ação contra ambos, deverá também
arcar com o ônus de provar a culpa do funcionário.
03) Cabe ação contra o Estado ainda quando não se identifique o funcionário
causador do dano (“culpa anônima da administração”).
04) A pessoa jurídica também pode ser penalmente responsável, na hipótese
de crimes ambientais (art. 225, §3°, CF/88 e art. 3° da Lei n° 9.605/98).
37
• Dissolução deliberada e voluntária de seus membros (extinção
convencional) por unanimidade de votos e mediante distrato. Distrato é a
rescisão de um contrato. A dissolução voluntária pode ser amigável ou
judicial (quando não há concordância quanto a seus termos). Nesse
último caso é ressalvado o direito de terceiros e da minoria. Assim, se a
minoria desejar a continuidade da sociedade, impossível será sua
dissolução amigável (haverá então uma sentença judicial), a menos que o
contrato contenha cláusula que preveja a extinção por maioria simples. No
entanto, se a minoria tentar extinguir a pessoa jurídica, não conseguirá.
• Morte de seus membros (extinção natural).
• Quando a lei assim determinar (extinção legal).
• Decurso do prazo, se constituída por prazo determinado.
• Dissolução por decisão judicial: procedimento falimentar (em regra para
as sociedades empresárias) ou liquidação (em regra para sociedade
simples). Nesse caso independe a vontade dos sócios.
• Administrativa: decorre da cassação da autorização de funcionamento,
específica para algumas entidades (ex.: instituições financeiras que
dependem de autorização do Banco Central).
GRUPOS DESPERSONALIZADOS
Como vimos, as sociedades, as associações, as fundações, etc., possuem
personalidade jurídica. Mas nem todo grupo ou ente que objetiva um
38
determinado fim é dotado de personalidade jurídica. Os grupos
despersonalizados (ou entes com personificação anômala) constituem um
conjunto de direitos e obrigações, de pessoas e bens, sem
personalidade jurídica, que geralmente se formam independentemente da
vontade de seus membros. No entanto, apesar de não terem personalidade,
possuem capacidade processual isto é, capacidade para postular em juízo (ou
seja, ser autor ou réu em uma ação judicial – vide art. 75, Código de Processo
Civil/2015). Citamos como principais exemplos:
• Sociedades em Comum (sociedades de fato ou irregulares) são
sociedades empresárias que não estão juridicamente constituídas, não
possuindo, portanto, personalidade jurídica. Para alguns doutrinadores,
sociedades de fato e sociedade irregulares são expressões sinônimas. Outros,
contudo, as distinguem: nas sociedades de fato não há qualquer instrumento
firmado pelos sócios, não há qualquer ato constitutivo (estatuto ou contrato
social); já nas sociedades irregulares há um contrato firmado entre os sócios,
pode até haver um ato constitutivo, porém o mesmo não foi levado a registro. A
sociedade em comum pode elaborar e registrar o ato constitutivo no cartório
competente a qualquer momento, ocasião em que passará a ser uma sociedade
personificada, podendo escolher uma das cinco formas societárias (nome
coletivo, comandita simples, limitada, sociedade anônima ou comandita por
ações). Elas não podem requerer falência de outras empresas e nem requerer a
sua recuperação judicial. Há responsabilidade solidária e ilimitada dos
sócios pelas obrigações da sociedade. Isto porque nelas os credores da
sociedade são credores dos sócios, não havendo autonomia da pessoa jurídica.
Estão previstas nos arts. 986 a 990, CC.
• Massa Falida decretando-se a falência de uma sociedade, a pessoa
perde o direito à administração e à disposição do patrimônio, sendo que os as
coisas e os direitos são arrecadados; a reunião desses bens recebe o nome de
massa falida. O administrador judicial da falência a representa ativa e
passivamente (ou seja, pode ser autor ou réu de uma ação judicial). Lembrando
que a expressão “administrador judicial” foi inserida em nosso ordenamento
pela Lei n° 11.101/2005 (que regula a recuperação judicial e extrajudicial, bem
como a falência do empresário e da sociedade empresária), em substituição à
expressão “síndico da massa falida” usada pela antiga Lei de Falências (Decreto-
Lei n° 7.661/45) e que ainda costuma cair nas provas.
• Espólio é o conjunto de direitos e obrigações ou uma simples massa
patrimonial deixada pelo de cujus; é a herança, propriamente dita. O
inventariante prestará compromisso legal e irá representar ativa e
passivamente, em juízo ou fora dele os interesses do espólio.
39
• Herança Jacente e Vacante é o conjunto de bens deixados pelo
falecido, enquanto não entregue a um sucessor devidamente habilitado. Ocorre
a herança jacente quando a pessoa morre sem deixar testamento, sem deixar
herdeiro certo e determinado, ou deixando herdeiros, eles renunciam (art.
1.819, CC). Os bens são arrecadados e ficam sob a guarda e administração de
um curador nomeado pelo Juiz. São expedidos editais e aguarda-se um ano. Se
ninguém aparecer se dizendo herdeiro a herança é declarada vacante (art.
1.820, CC). Os bens arrecadados passarão ao domínio do Poder Público (em
sentido amplo). Ainda assim, aguardam-se mais cinco anos desde a abertura da
sucessão. Só então os bens arrecadados passarão definitivamente ao domínio
do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas
circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados em
território federal.
Curiosidade Histórica
Anteriormente não havia no Brasil uma previsão expressa na lei. Quem
primeiro tratou do tema no Brasil foi o Prof. Rubens Requião. Relata a doutrina
que o primeiro caso na história abordando o tema ocorreu na Inglaterra em
um famoso processo que ficou conhecido como “Salomon versus Salomon & Co.
Ltd.”, julgado pela House of Lords (Câmara dos Lordes), em 1897. Uma pessoa
chamada Aaron Salomon constituiu uma sociedade com seis sócios, todos eles
membros de sua família, cedendo uma ação para cada e reservando outras vinte
mil para si. A empresa (pessoa jurídica), que passava por dificuldades
financeiras, emitiu títulos privilegiados, sendo que o próprio Salomon (pessoa
física) os adquiriu. A pessoa jurídica Salomon & Cia. Acabou falindo... No
entanto, antes disso, pagou seu débito para com a pessoa física Aaron Salomon
(que era o credor com privilégios). A empresa não conseguiu pagar os demais
credores, que não tinham preferências. Entendeu-se inicialmente que Aaron
usou a companhia apenas como “escudo” para lesar os demais credores. A tese
inicialmente vingou: Aaron teria agido com má-fé. No entanto a Câmara dos
Lordes (uma espécie de segunda instância) acabou por entender que a conduta
de Aaron foi legal, pois ele (pessoa física) não poderia responder pelas dívidas
de sua empresa (pessoa jurídica). Ocorre que apesar da tese ter sido perdedora
no final do processo, acabou ganhando adeptos e repercutiu nos Estados
Unidos, onde ganhou força e se espalhou vitoriosa. Posteriormente retornou
para os países europeus e se difundiu.
41
Como se trata de um instituto que teve início no Direito anglo-saxão
(Inglaterra e EUA) é comum, inclusive em concursos, a utilização de
expressões inglesas: disregard of the legal entity (desconsideração da pessoa
jurídica) ou disregard doctrine (doutrina da desconsideração), ou piercing the
corporate veil (perfurando ou rasgando o véu da corporação) ou lifting the
corporate veil (levantando ou desvelando o véu da corporação).
No Brasil, inicialmente, tratava-se apenas de uma doutrina. Com o tempo
a teoria foi ganhando força e os juízes começaram a aplicá-la como uma
questão de justiça, de equidade, coibindo assim os abusos e enriquecimentos
sem causa (princípios que vedam o abuso de direito e da fraude contra
credores). Com o tempo a teoria foi ganhando força e foi se formando uma
sólida jurisprudência. O passo seguinte foi a previsão do instituto em lei.
Portanto, a desconsideração já era aplicada mesmo antes da positivação em lei.
O estatuto legal pioneiro no Brasil sobre o tema foi o Código de Defesa do
Consumidor (Lei n° 8.078/90 – CDC), ainda em vigor, nos seguintes termos:
Art. 28: “O Juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado
de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica causada por má
administração” (...) §5º: “também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento
de prejuízos causados aos consumidores”.
Por esse dispositivo civil permite-se ao Juiz (somente ele e não uma
autoridade administrativa ou mesmo o Ministério Público), de forma
fundamentada (não pode agir de ofício, ou seja, sem ser provocado por um
interessado), ignorar os efeitos da personificação da sociedade, para atingir e
vincular também as responsabilidades dos sócios, com intuito de impedir a
consumação de fraudes e abusos, desde que causem prejuízos e danos a
terceiros. Os sócios e administradores serão então incluídos no polo passivo do
processo, respondendo com seus bens particulares nos negócios jurídicos
praticados em nome da pessoa jurídica pelos danos causados a terceiros.
42
Uma pessoa lesada por uma empresa pode ser ressarcida por meio das
próprias pessoas que constituíram a empresa. Neste caso específico e
determinado, o Juiz não leva em consideração a pessoa jurídica (daí o termo
“desconsideração da pessoa jurídica”), decidindo como se a própria pessoa física
tivesse realizado o negócio. No entanto, o Juiz deve agir com cautela ao decidir
pela desconsideração. Deve examinar cada caso em particular, se foram
preenchidos todos os requisitos legais para decretação da medida.
Segundo entendimento jurisprudencial a desconsideração não depende de
ação específica e autônoma, podendo ser incidental ao processo que se cobra o
cumprimento das obrigações da empresa. Pela corrente majoritária referente ao
art. 50, CC, dispensa-se a prova do dolo específico do sócio ou
administrador.
REQUISITOS. O art. 50, CC exige, de forma alternativa, os seguintes
requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica: a) desvio de
finalidade; b) confusão patrimonial.
a) Considera-se desvio de finalidade: realização de atividades fora das
autorizadas no contrato social para a pessoa jurídica; exercício de atividades
ilícitas; utilização da pessoa jurídica para o fim de enriquecimento de seus
sócios em detrimento da saúde administrativa da empresa (retirada de capital
financeiro fazendo com que o patrimônio deixe de ser capaz de suprir as
obrigações), etc.
b) Confusão patrimonial: quando não se distingue os bens do sócio e os da
empresa (ex.: bem imóvel utilizado para os interesses da pessoa jurídica é
adquirido e colocado em nome do sócio).
43
desconsidera a personalidade jurídica da sociedade não desfaz o seu ato
constitutivo, nem acarreta em sua dissolução. Trata apenas de suspensão
episódica da eficácia desse ato (que permanece válido e eficaz para todos os
outros fins).
Enunciados
• Enunciado 7 da I Jornada de Direito Civil do CJF: “Só se aplica a
desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato
irregular, e limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam
incorrido”.
• Enunciado 281 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “A aplicação da teoria da
desconsideração, descrita no art. 50 do Código Civil, prescinde da
demonstração de insolvência da pessoa jurídica”. Segundo o entendimento do
STJ, “a mera demonstração de insolvência da pessoa jurídica ou de
dissolução irregular de empresa sem a devida baixa na junta comercial, por
si sós, não ensejam a desconsideração da personalidade jurídica. Nos termos
da teoria adotada pelo CC, é a intenção ilícita e fraudulenta que autoriza a
aplicação do instituto”.
• Enunciado 282 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “O encerramento
irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta para
caracterizar abuso de personalidade jurídica”.
44
Observações Doutrinárias e Jurisprudenciais Importantes
01) A respeito da desconsideração, fala-se em Teoria Maior e Teoria Menor.
a) Pela TEORIA MAIOR a desconsideração não pode ser aplicada com a
mera demonstração de estar a pessoa insolvente para o cumprimento de suas
obrigações para com seus credores. Exige-se maior apuro e precisão na
constatação dos requisitos legais para a decretação da medida. Além do
prejuízo causado aos credores, deve estar configurado que os sócios agiram
com desvio de finalidade, ou ainda que houve confusão patrimonial entre os
bens da pessoa física e os bens da pessoa jurídica. É a regra geral em nosso
sistema jurídico, adotada pelo Código Civil e também pelo art. 28, caput, do
Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90 - CDC). Essa teoria ainda
possui uma subdivisão; a) teoria maior objetiva: quando há confusão
patrimonial, situação mais fácil de ser comprovada; b) teoria maior
subjetiva: pressupõe o desvio de finalidade, elemento com maior dificuldade de
ser comprovado, pois a intenção que o sócio possui em frustrar os interesses do
credor deve ser demonstrada.
b) Pela TEORIA MENOR dispensa-se um raciocínio mais cuidadoso para
a incidência da desconsideração, sendo mais fácil de ser aplicada. Não se exige
a demonstração de eventual abuso da personalidade; basta que haja o
descumprimento (inadimplemento) da obrigação e verificação de prejuízo para
os credores, sem analisar os reais motivos que levaram a sociedade a deixar de
honrar seus compromissos. Porém, seu âmbito de aplicação fica restrito ao
Direito Ambiental (art. 4° da Lei n° 9.605/1998) e ao Direito do
Consumidor (art. 28, §5°, do CDC: “Também poderá ser desconsiderada a
pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”). Para esta teoria o
risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo
terceiro que contratou com a pessoa jurídica, mas sim pelos sócios e/ou
administradores. Há quem também sustente essa teoria no caso das relações
trabalhistas (TST: “não se mostra razoável imputar aos empregados os riscos da
atividade econômica, pertencentes ao empregador”).
Dica em relação ao CDC: aplica-se a teoria maior em relação ao caput do art.
28; aplica-se a teoria menor em relação ao §5°, do art. 28.
02) Se a desconsideração incidir sobre uma Sociedade Limitada, entende o
STJ que os sócios administradores respondem integralmente com o seu
patrimônio pelas dívidas contraídas pela sociedade, não havendo limitação em
relação às quotas sociais de cada sócio. Isso seria temerário, indevido e
resultaria na desestabilização do instituto da desconsideração da personalidade
jurídica, até porque nos dispositivos legais sobre o tema não há qualquer
45
restrição acerca de a execução contra os sócios ser limitada às suas respectivas
quotas.
03) Fala-se em desconsideração inversa, como modalidade autônoma,
quando se vincula o patrimônio da pessoa jurídica, para responsabilizá-la por
uma obrigação contraída pelo sócio. Exemplo: uma pessoa muito rica transfere
todos os seus bens para uma pessoa jurídica da qual possui o controle absoluto.
Assim, embora tecnicamente não seja proprietário dos bens, continua a
desfrutar de todos eles. E se a pessoa física contrair uma dívida, em tese, o
credor não pode executar tais bens, pois eles não são dela, mas sim da pessoa
jurídica (escondidos). O devedor assim procede para lesar a pessoa de quem
pediu o dinheiro emprestado ou para livrar os bens de uma futura partilha em
uma separação judicial. Por meio da “desconsideração inversa” se desconsidera
a pessoa física do sócio para atingir o patrimônio da pessoa jurídica e esta
responda perante terceiros, pelas dívidas contraídas pela pessoa física.
Enunciado 283 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “É cabível a
desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar
bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens
pessoais, com prejuízo a terceiros”.
04) Fala-se, também em desconsideração indireta, nos casos em que
uma empresa é controladora de outra, principalmente quando a primeira se
utiliza da segunda para praticar fraudes e abusos diversos. Neste caso
desconsidera-se a controlada para atingir a controladora (art. 28, §1° CDC: “A
pedido da parte interessada, o juiz determinará que a efetivação da
responsabilidade da pessoa jurídica recaia sobre o acionista controlador, o sócio
majoritário, os sócios gerentes, os administradores societários e, no caso de
grupo societário, as sociedades que o integram). Na prática há casos de difícil
solução por não se saber bem que é a controladora. E mais. Às vezes uma
pessoa jurídica age no País com pouco ou nenhum patrimônio e está totalmente
em mãos de uma empresa escritural estrangeira (as chamadas off shores),
praticando irregularidades. É um caso de difícil solução, cabendo ao Juiz avaliar
este aspecto e onerar o patrimônio do verdadeiro responsável pelo fato, sempre
que um prejuízo injusto for ocasionado a terceiros.
05) Como uma evolução da desconsideração da personalidade jurídica tem-
se adotado a Teoria da Sucessão de Empresas, pela qual, nos casos em que
ficar patente a ocorrência de fraude poderá o magistrado estender as
responsabilidades de uma empresa para outra (denominadas empresa sucedida
e sucessora, respectivamente).
06) Como a lei não faz ressalvas, entende-se que as pessoas jurídicas de
direito privado sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos também são
atingidas pela teoria da desconsideração. Neste sentido é o Enunciado 284 da IV
Jornada de Direito Civil do CJF: “Art. 50. As pessoas jurídicas de direito privado
46
sem fins lucrativos ou de fins não-econômicos estão abrangidas no conceito de
abuso da personalidade jurídica”. No entanto, nesse caso, a desconsideração
atinge somente os seus dirigentes (que a representam na forma dos estatutos)
e não os associados em geral.
07) Último ponto. Não confundir a desconsideração com a teoria da ultra
vires societatis (além do conteúdo da sociedade). A regra geral é que os atos
dos administradores vinculam a pessoa jurídica pela qual são responsáveis. No
entanto, de acordo com tal teoria, a sociedade poderá ficar isenta de
responsabilidade quando provado que os administradores excederam os poderes
que lhes são conferidos. Assim, o dever de indenizar deverá ser imputado
exclusivamente ao administrador. As hipóteses estão no art. 1.015, parágrafo
único, CC. Não há uma desconsideração, até porque o sócio não se esconde
atrás da pessoa jurídica. Por isso ele responde por atos próprios, aplicando-se,
para a reparação do dano causado, a norma contida na legislação civil (arts. 186
e 927, CC).
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA
a) Vontade humana criadora (affectio societatis); b) Licitude dos objetivos; c)
Obediência aos requisitos legais (existência e capacidade reconhecidas pela lei).
NATUREZA JURÍDICA
Corrente majoritária → Teoria da Realidade Técnica (a pessoa jurídica existe
de fato e não como mera abstração).
CARACTERÍSTICAS
a) existência distinta da de seus membros; b) patrimônio próprio e diverso do de
seus integrantes; c) responsabilidade civil e criminal; d) ilegitimidade para certos atos
(ex.: fazer testamento).
CLASSIFICAÇÃO PRINCIPAL
A) Pessoas Jurídicas de Direito Público
1. Externo (art. 42, CC) → a) Estados estrangeiros; b) outras pessoas regidas
pelo Direito Internacional Público (ONU, OEA, uniões aduaneiras como o
MERCOSUL, Santa Sé, etc.
47
2. Interno (art. 41, CC) → O Estado.
a) Administração Direta ou Centralizada → União, Estados Membros,
Distrito Federal, Territórios e Municípios.
b) Administração Indireta ou Descentralizada → autarquias comuns ou
especiais (agências reguladoras); associações públicas (consórcios: Lei n°
11.107/05); demais entidades de caráter público criadas por lei (fundações
públicas de direito público).
B) Pessoas Jurídicas de Direito Privado (art. 44, CC)
1. Espécies
a) Fundações Particulares: universalidades de bens personificados em
atenção ao fim que lhes dá unidade (arts. 62/69, CC). Registro da escritura
pública ou testamento. Elementos Fundamentais: a) patrimônio (dotação
de bens livres que passam a ser inalienáveis); b) finalidade: especificação dos
objetivos (em regra imutáveis e sem finalidade lucrativa, previstos no
parágrafo único, do art. 62, CC). Fiscalização pelo Ministério Público.
b) Partidos Políticos (Lei n° 10.825/03).
c) Organizações Religiosas (Lei n° 10.825/03).
d) Associações: união de pessoas, sem finalidade lucrativa (seu objetivo
pode ser moral, cultural, esportivo, beneficente, etc.). Liberdade de associação
para fins lícitos (art. 5°, XVII, CF/88). Entre os associados não há direitos e
obrigações recíprocas. Registro do Estatuto. Incluem-se os sindicatos.
e) Sociedades: pessoas naturais que formalizam por escrito uma união de
esforços, aplicando dinheiro e serviço para a realização de negócios
lucrativos. Natureza: simples ou empresárias → ambas visam finalidade
lucrativa; no entanto a diferença está no seu objeto: exercício (ou não) de
atividade própria de empresário sujeito ao registro previsto no art. 967, CC. As
sociedades simples são constituídas em geral por profissionais liberais ou
prestadores de serviço. Palavras chaves: organização e atividade. Tipos
Societários: Nome Coletivo, Comandita Simples, Conta de Participação (não
personificada), Limitada, Sociedade Anônima e Comandita por Ações.
Obs.: empresas públicas e sociedades de economia mista são integrantes da
administração indireta, no entanto são consideradas como pessoas jurídicas de
direito privado, pois foram criadas pelo Estado como instrumento de sua
atuação no domínio econômico.
f) Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI - Lei n°
12.441/11): a) é pessoa jurídica (e não física) de direito privado (possui
personalidade jurídica, devendo ser registrada); atividade empresarial; não é
uma nova espécie de sociedade; b) capital inicial de no mínimo 100 vezes o
maior salário mínimo, totalmente integralizado por seu único titular (pessoa
física); c) pode ser criada de forma originária ou derivada; d) cada pessoa só
pode constituir uma única EIRELI; e) responsabilidade limitada até o valor do
capital social (são regidas, no que couber, pelas normas das sociedades
limitadas); f) firma ou denominação seguida da expressão EIRELI.
2. Principal diferença entre as pessoas jurídicas de direito privado e
direito público: disponibilidade patrimonial. Os bens das pessoas jurídicas
de direito privado são disponíveis e sujeitas a penhora e usucapião. Os bens das
pessoas jurídica de direito público são impenhoráveis e imprescritíveis
48
(impossibilidade de usucapião), embora os dominicais possam ser alienados,
quando presentes os requisitos legais.
3. Início
a) Ato Constitutivo: ato jurídico unilateral inter vivos ou causa mortis
(fundações) ou ato jurídico bilateral ou plurilateral (associações e sociedades).
Fundações → escritura pública ou testamento. Associações → Estatuto.
Sociedade (simples ou empresárias) → Contrato Social ou Estatuto Social.
b) Registro Público: inscrição dos contratos, estatutos ou compromissos no
seu registro peculiar: Sociedade empresária → Junta comercial; demais
pessoas jurídicas de direito privado → Registro civil das pessoas jurídicas;
Sociedade simples de advogados → Registro na Ordem dos Advogados do
Brasil. A existência da pessoa jurídica de direito privado inicia-se com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro (art. 45, CC).
Requisitos: art. 46, CC. Algumas pessoas jurídicas necessitam de autorização
do executivo.
4. Domicílio: sede jurídica, onde os credores podem demandar o cumprimento
das obrigações.
a) Direito Público: art. 75, incisos I, II e III, CC. União → Distrito Federa;
Estados e Territórios → suas respectivas Capitais; Municípios → o lugar onde
funciona a Administração Municipal (a sede municipal).
b) Demais Pessoas Jurídicas (art. 75, IV, CC) → Regra: o lugar onde
elegerem domicílio especial nos seus estatutos ou atos constitutivos. Na
omissão, o local onde funcionam as respectivas diretorias e administrações.
Diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados. Admite-se, portanto, a
pluralidade domiciliar da pessoa jurídica. Se a administração, ou diretoria,
tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no
tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
5. Extinção: a) Convencional: dissolução deliberada de seus membros,
conforme quorum previsto nos estatutos ou na lei; b) Legal: hipóteses em que a
lei determina; c) Administrativa: dependem de autorização do governo e
praticam atos nocivos ou contrários aos seus fins; d) Natural: morte de seus
membros e não ficou estabelecido se prosseguirá com seus herdeiros; decurso de
prazo (quando for constituída por prazo); e) dissolução judicial. Após a
dissolução a personalidade da pessoa jurídica ainda pode subsistir para fins de
liquidação (pagamento de dívidas e partilha do remanescente entre os sócios).
Após o encerramento da liquidação → cancelamento da inscrição da pessoa
jurídica no respectivo registro (art. 51, CC).
6. Grupos Despersonalizados: conjunto de direitos e obrigações, pessoas e
bens, sem personalidade jurídica, mas com capacidade processual
(representação) → sociedades em comum (sociedade de fato ou irregulares),
massa falida, espólio, herança jacente e vacante, etc.
RESPONSABILIDADE
1. Responsabilidade Contratual: tanto as pessoas jurídicas de direito público
como as de direito privado são responsáveis pelo que estiver disposto no contrato
firmado, respondendo com seus bens pelo eventual descumprimento de cláusulas
contratuais (art. 389, CC). Nos termos do CDC, têm responsabilidade objetiva por fato
49
e vício do produto. Obs.: ambas também possuem responsabilidade penal (atividade
lesiva ao meio ambiente: art. 3°, da Lei n° 9.605/98).
2. Responsabilidade Extracontratual:
a) Pessoa Jurídica de Direito Privado. Regra → Responsabilidade indireta, ou
seja, a pessoa jurídica deve reparar o dano causado pelo seu representante que
agiu de forma contrária ao direito. Além disso, é solidária, pois em razão do
vínculo entre a pessoa jurídica e seus funcionários, a vítima pode reclamar os
danos tanto da pessoa jurídica como do agente causador do dano. Não há
presunção de culpa (in eligendo ou in vigilando): arts. 931, 932, III, 933, CC.
b) Pessoa Jurídica de Direito Público. Regra → Responsabilidade objetiva.
Deve indenizar todos os danos que seus funcionários, nessa qualidade, por atos
comissivos, causem aos direitos de particulares. O Estado, como regra, responde
independentemente de culpa (em sentido amplo), tendo direito a ação de
regresso contra o funcionário causador do dano, se provada a culpa deste. Art.
37, §6°, CF/88 e art. 43, CC. Teoria do risco administrativo: permite-se que a
responsabilidade seja afastada em algumas hipóteses (ex.: ausência de nexo de
causalidade entre a conduta e o dano, culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou
força maior, etc.).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
50
MAXIMILIANO, Carlos – Hermenêutica e Aplicação do Direito. Editora
Freitas Bastos.
MONTEIRO, Washington de Barros – Curso de Direito Civil. Editora Saraiva.
NERY, Nelson Jr. e Rosa Maria de Andrade – Código Civil Comentado.
Editora Revista dos Tribunais.
PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil. Editora
Forense.
RODRIGUES, Silvio – Direito Civil. Editora Saraiva.
SERPA LOPES, Miguel Maria de – Curso de Direito Civil. Editora Freitas
Bastos.
SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico. Editora Forense.
VENOSA, Silvio de Salvo – Direito Civil. Editora Atlas.
Exercícios Comentados
Fundação Carlos Chagas
01) (FCC – Ministério Público de Contas do Estado do Mato Grosso –
Analista de Contas – Direito – 2013) União de pessoas que se organizam
para fins não econômicos é conceito que se aplica às
(A) associações.
(B) sociedades anônimas.
(C) sociedades empresariais.
(D) fundações.
(E) sociedades simples.
COMENTÁRIOS. Estabelece o art. 53, CC: “Constituem-se as associações pela
união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. Gabarito: “A”.
51
(A) II e IV, apenas.
(B) III e IV, apenas.
(C) I, III e IV, apenas.
(D) II, III e IV, apenas.
(E) I, II, III e IV.
COMENTÁRIOS. O item I está errado. Já vimos na aula anterior. Embora os
direitos da personalidade sejam intransmissíveis e irrenunciáveis, são admitidas
exceções, conforme o art. 11, CC. O item II está errado. Estabelece o art. 52,
CC que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade. O item III está correto nos termos do art. 42, CC. O item IV
está correto nos termos do art. 44, CC. Gabarito: “B”.
52
(B) as fundações e os condomínios em edificação.
(C) as pessoas jurídicas que forem regidas pelo direito internacional público,
quando as respectivas sedes se acharem em países estrangeiros.
(D) as associações, inclusive as associações públicas, em razão da atividade
que exercerem.
(E) as organizações religiosas e as autarquias.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está correta, pois o art. 44, CC arrola os partidos
políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI) como
pessoas jurídicas de direito privado. A letra “b” está errada, pois o dispositivo
citado não insere em seu rol os condomínios em edificação. A letra “c” está
errada, pois as pessoas jurídicas regidas pelo direito internacional público são
pessoas jurídicas de direito público externo (art. 42, CC). As letras “d” e “e”
estão erradas, pois as associações públicas e as autarquias são pessoas jurídicas
de direito público (art. 41, IV, CC). Gabarito: “A”.
53
(A) compete privativamente à assembleia geral especialmente convocada
alterar o estatuto de uma associação, cujo quorum para aprovação será
sempre de, no mínimo, dois terços dos associados.
(B) se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da
associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da
qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa
do estatuto.
(C) a convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto,
garantido a um sexto dos associados o direito de promovê-la.
(D) constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para
fins não econômicos, havendo entre os associados direitos e obrigações
recíprocos.
(E) o estatuto da associação não será nulo se não contiver a forma de gestão
administrativa e de aprovação das respectivas contas, que será decidida em
assembleia geral especialmente convocada para este fim.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está errada, pois estabelece o art. 59, CC:
Compete privativamente à assembleia geral: I. destituir os administradores; II.
alterar o estatuto. Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os
incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembleia especialmente
convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem
como os critérios de eleição dos administradores. A letra “b” está certa nos
termos do art. 56, parágrafo único, CC. A letra “c” está errada, pois determina o
art. 60, CC que a convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do
estatuto, garantido a 1/5 (um quito) dos associados o direito de promovê-la". A
letra “d” está errada, pois estabelece o art. 53, CC que constituem-se as
associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos".
Finalmente a letra “e” está errada, pois o art. 54, CC prevê que, sob pena de
nulidade, o estatuto das associações conterá (...) VII. a forma de gestão
administrativa e de aprovação das respectivas contas. Gabarito: “B”.
54
(D) pela maioria absoluta dos competentes para gerir e representar a fundação
e homologada pelo Juiz competente, após aprovação do Ministério Público.
(E) por todas as pessoas competentes para gerir e representar a fundação e
homologada pelo Juiz competente, após aprovação do Ministério Público.
COMENTÁRIOS. Segundo o art. 67, CC, para que se possa alterar o estatuto
da fundação é necessário que a reforma: I. seja deliberada por dois terços dos
competentes para gerir e representar a fundação; II. não contrarie ou desvirtue
o fim desta; III. seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a
denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. Gabarito: “B”.
55
III. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas. Se
estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada
um deles, ao respectivo Ministério Público.
IV. Vencido o prazo de existência da fundação, em regra, o órgão do
Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção,
incorporando-se o seu patrimônio.
Está CORRETO o que se afirma APENAS em
(A) II, III e IV.
(B) I e II.
(C) I e IV.
(D) III e IV.
(E) I, III e IV.
COMENTÁRIOS. O item I está errado, pois determina o art. 67, I, CC que o
quorum é de dois terços. O item II está errado, pois o parágrafo único do art.
62, CC não faz menção a fins políticos. O item III está correto, nos termos do
art. 66, CC. O item IV está correto nos termos do art. 69, CC. Gabarito: “D”
(somente estão corretos os itens III e IV).
57
(A) três anos.
(B) um ano.
(C) dois anos.
(D) quatro anos.
(E) cinco anos.
COMENTÁRIOS. Segundo o art. 48, CC, se a pessoa jurídica tiver
administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de votos dos
presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso. Parágrafo
único. Decai em três anos o direito de anular as decisões a que se refere este
artigo, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo,
simulação ou fraude. Gabarito: “A”.
58
(E) a fundação criada para fins políticos deverá ter o seu estatuto registrado no
Tribunal Regional Eleitoral do lugar da sua sede.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está errada. Se por um lado não há prazo de
duração para funcionamento de uma fundação, por outro lado, nada impede que
o instituidor possa fixá-lo. A letra “b” está errada, pois o juiz pode suprir, nos
termos do art. 67, III, CC. A letra “c” está correta nos termos do art. 66, §2°,
CC. A letra “d” está errada, pois além de não poder ser criada fundação com
finalidade econômica (parágrafo único do art. 62, CC), também não há
fiscalização do Banco Central. A letra “e” está errada, pois também não pode ser
criada fundação com objetivos políticos, somente para os fins previstos no
parágrafo único do art. 62, tais como culturais, religiosos, assistenciais, etc.;
além disso, o registro delas é feito no Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
Gabarito: “C”.
59
(C) apenas em relação a Joaquim, independentemente de quaisquer requisitos,
por ostentar a qualidade de sócio majoritário e administrador da empresa.
(D) a requerimento da parte ou de ofício, se comprovado abuso da
personalidade jurídica, caracterizado pelo inadimplemento das obrigações.
(E) a requerimento da parte, se comprovado abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pela inexistência de bens penhoráveis à época do cumprimento
da sentença.
COMENTÁRIOS. Nos casos em que a personalidade da pessoa jurídica é
utilizada para fugir das suas finalidades e para lesar terceiros a personalidade
jurídica deve ser desconsiderada, decidindo o julgador como se o ato ou negócio
houvesse sido praticado pela própria pessoa natural. Não se trata de considerar
nula a pessoa jurídica o extingui-la definitivamente, mas, apenas desconsiderá-
la temporariamente. A letra “a” é a única se adéqua ao texto do art. 50, CC.
Gabarito: “A”.
60
19) (FCC – TRT/12ª Região/SC – Analista Judiciário – 2013) No tocante
às pessoas jurídicas:
(A) começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com o
início efetivo de suas atividades ao público.
(B) de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus
agentes que, nessa qualidade, causem danos a terceiros, ressalvado direito
regressivo contra os causadores do dano, se houver por parte destes culpa ou
dolo.
(C) a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das
instituições religiosas é condicional, por ser laico o Estado brasileiro, que
deverá autorizar ou não seu reconhecimento e registro.
(D) os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito público interno.
(E) as autarquias e as associações públicas são pessoas jurídicas de direito
privado.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está errada, pois segundo o art. 45, CC, começa a
existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato
constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo. A letra “b” está correta nos exatos
termos do art. 43, CC. A letra “c” está errada, pois segundo o art. 44 §1°, CC,
são livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento
das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes
reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu
funcionamento. A letra “d” está errada, pois prevê o art. 44, CC que são pessoas
jurídicas de direito privado: (...) V. os partidos políticos. Finalmente a letra “e”
está errada, pois estabelece o art. 41, CC: São pessoas jurídicas de direito
público interno: (...) IV. as autarquias, inclusive as associações públicas.
Gabarito: “B”.
61
COMENTÁRIOS. A letra “a” está correta nos termos do art. 45, CC. A letra “b”
está errada, pois estabelece o art. 47, CC que obrigam a pessoa jurídica os atos
dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato
constitutivo. A letra “c” está errada, pois o art. 48, CC, prevê que se a pessoa
jurídica tiver administração coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de
votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso. A
letra “d” está errada, pois dispõe o art. 49, CC que se a administração da pessoa
jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-
lhe-á administrador provisório. Finalmente a letra “e” está errada, pois uma vez
registrada a pessoa jurídica começa a existir, obtendo capacidade
patrimonial, adquirindo vida própria e autônoma, não se confundindo com a
personalidade e patrimônio de seus membros. Se houver abuso da
personalidade jurídica pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir pela
desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do art. 50, CC.
Gabarito: “A”.
64
(A) constituída com bens insuficientes, serão eles convertidos em títulos da
dívida pública, como regra, até que seu rendimento perfaça capital bastante
para sua viabilização.
(B) não pode ter alterado seu estatuto, em nenhuma hipótese, pois sua
finalidade é imutável.
(C) pode ser constituída somente por negócio jurídico entre vivos, vedado
testamento por ser incompatível com sua natureza jurídica.
(D) poderá constituir-se para qualquer fim lícito, inclusive empresarial, cultural,
de assistência ou religioso.
(E) se constituída por ato entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a
propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados e, se não o fizer,
serão registrados em nome dela por mandado judicial.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está errada, pois nos termos do art. 63, CC,
quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão,
se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação
que se proponha a fim igual ou semelhante. A letra “b” está errada, pois o art.
67, CC permite a alteração do estatuto, desde que cumpridas algumas
formalidades. A letra “c” está errada, pois segundo o art. 62, caput, CC, a
fundação pode ser constituída por escritura pública (inter vivos) ou por
testamento (causa mortis), A letra “d” está errada, pois nos termos do
parágrafo único do art. 62, CC a fundação pode se constituir, entre outras
finalidades, as religiosas, morais, culturais ou de assistência. No entanto, não
pode ter fins empresariais. A letra “e” está correta nos exatos termos do art. 64,
CC. Gabarito: “E”.
66
II. O prazo decadencial para anular a constituição das pessoas jurídicas de
direito privado, por defeito do ato respectivo, é de dois anos a contar da
publicação de sua inscrição no registro.
III. Em regra, se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões
se tomarão pela maioria de votos dos presentes. Neste caso, o prazo
decadencial para anular as referidas decisões que violarem a lei ou estatuto
é de dois anos.
IV. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade.
Está CORRETO o que se afirma APENAS em
(A) II e III.
(B) I, II e IV.
(C) III e IV.
(D) I, II e III.
(E) I e IV.
COMENTÁRIOS. O item I está correto, nos termos do art. 44, III e IV, CC. O
item II está errado. Nos termos do parágrafo único, do art. 45, CC o prazo é de
três anos. O item III está errado. Nos termos do parágrafo único, do art. 48,
CC o prazo também é de três anos. O item IV está correto, nos exatos termos
do art. 52, CC. Gabarito: “E”.
67
serviço de um fim lícito e determinado (especial), com alcance social pretendido
por seu instituidor (interesse público), de modo permanente e estável e em
atenção ao disposto em seu estatuto. Dois são seus elementos fundamentais: a)
patrimônio; b) finalidade (que é imutável e não pode visar lucro). São criadas a
partir de uma escritura pública (ato inter vivos) ou de um testamento (causa
mortis). O item II está errado. Segundo o parágrafo único do art. 62, CC, a
fundação não poderá ter finalidade econômica. O item III está correto de
acordo com o texto literal do art. 63, CC. O item IV está errado. Segundo o art.
67, CC, para que se altere o estatuto da fundação é necessário: I. que seja
deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II. não contrarie ou desvirtue o fim desta; III. seja aprovada pelo órgão do
Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a
requerimento do interessado. Gabarito: “E” (somente os itens I e III estão
corretos).
69
em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou
semelhante.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está correta nos termos do art. 64, CC. A letra “b”
está correta nos termos do art. 62, CC. A letra “c” está correta nos termos do
art. 63, CC. A letra “d” está correta nos termos do art. 67, CC: Para que se
possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma: I. seja deliberada
por dois terços (não é necessária a unanimidade dos membros mencionado na
questão) dos competentes para gerir e representar a fundação; II. não contrarie
ou desvirtue o fim desta; III. seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no
prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o
Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do
interessado (o que está sublinhado esta de acordo com a redação dada pela Lei
n° 13.151/2015). A letra “e” está correta nos termos do art. 69, CC. Gabarito:
“D”.
71
Exercícios Comentados
CESPE – Certo ou Errado
72
sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Pelo art. 47, CC, todos os atos
negociais exercidos pelo representante, dentro dos limites de seus poderes
estabelecidos no estatuto social, obrigam a pessoa jurídica, que deverá cumpri-
los. No entanto a teoria ultra vires societatis (além do conteúdo da sociedade)
dispõe que, se o administrador, ao praticar atos de gestão, violar o objeto social
delimitado no ato constitutivo, este ato não poderá ser imputado à sociedade.
Assim, a sociedade fica isenta de responsabilidade perante terceiros, salvo se foi
beneficiada com a prática do ato, quando então, passará a ter responsabilidade
na proporção do benefício auferido. Cuidado com a expressão “sempre” da
questão.
73
QUESTÃO 07 (CESPE/UnB – Advogado do Banco da Amazônia S/A –
BASA – 2012) Acerca da pessoa jurídica, julgue o item que se segue.
a) Em virtude de os direitos da personalidade constituírem categoria criada
pelo homem e para o homem, é incabível dano moral a pessoa jurídica.
COMENTÁRIOS
a) Errado. É cabível o dano moral pela pessoa jurídica nos termos do art. 52,
CC e da Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”. Isto
porque estas entidades podem ter sua honra objetiva ofendida e, com isso,
sofrerem danos em sua imagem e em seu bom nome.
76
c) As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
pelos atos dos seus agentes que, nessa qualidade, causem danos a terceiros,
ressalvado o direito regressivo contra os causadores do dano,
independentemente de ter havido, por parte destes, culpa ou dolo.
COMENTÁRIOS
a) Errado. Algumas atividades dependem de autorização ou aprovação do
poder público (art. 45, CC).
b) Certo. Nos termos do art. 50, CC: Em caso de abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,
pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou
sócios da pessoa jurídica.
c) Errado. Segundo o art. 43, CC cabe o direito de regresso contra o causador
do dano em caso de culpa ou dolo de sua parte.
77
b) Errado. A primeira parte da afirmação está correta, nos termos do art. 62,
caput, CC: Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública
ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se
destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A
fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou
de assistência. No entanto a segunda parte da afirmação está errada, pois
estabelece o art. 63, CC: Quando insuficientes para constituir a fundação, os
bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor,
incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.
80
quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos
administradores.
81
e) Errado. As fundações possuem como elementos fundamentais o patrimônio
e a finalidade (que é imutável e não pode visar lucro). O acordo de vontades
não é elemento essencial.
82
f) Errado. Nos termos do art. 982, CC “salvo as exceções expressas, considera-
se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria
de empresário sujeito a registro; e, simples, as demais”.
83
b) São duas as possibilidades de extinção da pessoa jurídica, na forma
convencionada nos atos constitutivos ou por determinação judicial, não
havendo, no Brasil, possibilidade de extinção de sociedade privada por ato da
administração pública.
c) Os direitos da personalidade não se aplicam à pessoa jurídica.
COMENTÁRIOS
a) Errado. O erro consiste em afirmar que se pode instituir uma fundação por
meio de um documento particular. Segundo o art. 62, CC, para criar uma
fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação
especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se
quiser, a maneira de administrá-la.
c) Errado. Como algumas entidades necessitam de autorização governamental
para funcionamento (art. 45, CC), pode haver a extinção da pessoa jurídica por
ato administrativo (ex.: instituições financeiras que dependem de autorização do
Banco Central). A título de complementação estabelece o art. 51, CC que nos
casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu
funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se
conclua.
d) Errado. Segundo o art. 52, CC, Aplica-se às pessoas jurídicas, no que
couber, a proteção dos direitos da personalidade.
84
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.
c) Errado. Dispõe o art. 52, CC que aplica-se às pessoas jurídicas, no que
couber, a proteção dos direitos da personalidade. Segundo a doutrina a pessoa
jurídica possui honra objetiva, pois tem patrimônio, reputação, bom nome, etc.
Dispõe a Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.
d) Certo. A pessoa jurídica é um sujeito de direitos e obrigações, tendo
existência independente dos membros que a compõem. Há uma separação
patrimonial entre os bens da pessoa jurídica e os bens dos sócios e
administradores. No entanto, visando coibir de abuso da personalidade jurídica,
caracterizada por desvio de finalidade ou confusão patrimonial (art. 50, CC),
surgiu a figura da desconsideração da pessoa jurídica, que é uma exceção ao
princípio da autonomia patrimonial.
85
COMENTÁRIOS
a) Certo. O fato de uma associação possuir patrimônio e realizar negócios para
aumentá-lo não a desnatura, pois não irá proporcionar lucro aos associados,
mas sim ajudar a manter e amplias seus objetivos não econômicos. Enunciado
534 das Jornadas de Direito Civil do Conselho de Justiça Federal: “As
associações podem desenvolver atividade econômica, desde que não haja
finalidade lucrativa”.
b) Certo. A teoria menor é aquela em que se dispensa maiores cuidados para
sua incidência; é mais fácil de ser aplicada. Tem seu âmbito de aplicação restrito
ao Direito Ambiental (art. 4° da Lei n° 9.605/1998) e ao Direito do Consumidor
(art. 28, §5°, da Lei n° 8.078/1990). Já para a teoria maior é necessário maior
apuro e precisão na constatação dos requisitos legais, somente incidindo em
casos especiais previstos na lei e de forma fundamentada, sendo a adotada pelo
Código Civil.
c) Certo. Se analisarmos o cabeçalho da questão vamos perceber que o
examinador exige conhecimento sobre o empresário individual. Assim,
podemos conceituar o empresário individual como sendo a própria pessoa física
ou natural, que exerce atividade empresária, respondendo os seus bens pelas
obrigações que assumiu, quer sejam civis ou comerciais; ou seja, é aquele
que exerce atividade econômica organizada pessoalmente, pois trata-se de uma
empresa que possui apenas uma pessoa. A afirmação ao mencionar a expressão
"pessoalmente" (e não profissionalmente como no art. 966, CC que trata do
empresário de uma forma geral e não do empresário individual) não torna a
questão errada. Apenas traz uma especificidade do empresário individual. No
tocante à segunda parte da afirmação, quanto à exigência de estabelecimento
comercial a afirmação também está correta, pois estabelece o art. 1.142, CC:
Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício
da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
87
a) A pessoa jurídica de direito público e a pessoa jurídica de direito privado
têm direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra
ou da imagem.
COMENTÁRIOS
a) Errado. Segundo jurisprudência do STJ, a pessoa jurídica de direito público
não tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra
ou da imagem.
88
c) Errado. Enquanto a residência é uma situação de fato (lugar em que a
pessoa se estabelece habitualmente, com a intenção de permanecer), domicílio
é um conceito jurídico, sendo a sede da pessoa (natural ou jurídica), onde se
presume a sua presença para efeitos de direito e onde exerce ou pratica,
habitualmente, seus atos e negócios jurídicos.
d) Errado. Estabelece o art. 45, CC que começa a existência legal das pessoas
jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo
registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.
e) Errado. As fundações são universalidades de bens, pois resultam da afetação
de um patrimônio (e não da união de indivíduos), personificados, em atenção ao
fim que lhes dá unidade. Para a sua criação é essencial a dotação de bens livres.
89
constitutivo da pessoa jurídica, superado este, consolidada está a personalidade
da associação que possuía algum defeito no ato constitutivo.
90
dividido entre os associados; deve ser revertido em proveito da própria
associação.
91
QUESTÃO 41 (CESPE/UnB – DPE/MS – Defensor Público – 2012) Acerca
da pessoa jurídica, julgue o item a seguir.
a) A desconsideração inversa da personalidade jurídica significa que afasta-se
a autonomia patrimonial da sociedade para atingir, então, o ente coletivo e
seu patrimônio social, responsabilizando a pessoa jurídica por obrigações de
seus sócios ou administradores.
COMENTÁRIOS
a) Certo. Além dos comentários da questão acima, é de se acrescentar o
Enunciado 283 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: “É cabível a
desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar
bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens
pessoais, com prejuízo a terceiros”.
92
QUESTÃO 44 (CESPE/UnB – PG/DF – Procurador do Distrito Federal –
2013) A respeito da desconsideração da personalidade jurídica, julgue o
item a seguir.
a) No entendimento do STJ, não é cabível a desconsideração da
personalidade jurídica denominada inversa para alcançar bens de sócio que se
tenha valido da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com
prejuízo a terceiros.
COMENTÁRIOS
a) Errado. A expressão desconsideração inversa da personalidade jurídica é
utilizada pela doutrina e jurisprudência como sendo a busca pela
responsabilização da sociedade no tocante às dívidas ou aos atos praticados
pelos sócios, utilizando-se para isto, a quebra da autonomia patrimonial. Fábio
Ulhôa Coelho define como sendo “o afastamento do princípio da autonomia
patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade por obrigação do
sócio”. Assim, na desconsideração inversa os bens da sociedade respondem por
atos praticados pelos sócios, sendo aplicados os demais princípios do instituto
legal. Estabelece o Enunciado 283 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: Ӄ
cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para
alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar
bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.
93
a) Errado. Nem todo grupo que objetiva um determinado fim é dotado de
personalidade jurídica. Os grupos despersonalizados constituem um conjunto de
direitos e obrigações, de pessoas e bens, sem personalidade jurídica. No
entanto, apesar de não terem personalidade, possuem capacidade para postular
em juízo (capacidade postulatória). A massa falida é um destes exemplos.
Atualmente a nomenclatura mais correta, usada pela Lei n° 11.101/05 é de
“administrador judicial” (e não mais síndico, usada pela antiga Lei de Falências,
já revogada).
b) Errado. Na desconsideração inversa é a pessoa jurídica que responde por
dívidas contraídas pelos sócios ou administradores.
94
c) Se, após constituída, uma associação vier a realizar negócios para
aumentar seu patrimônio, estará caracterizado desvio de finalidade, que
acarretará o cancelamento do registro no órgão competente.
COMENTÁRIOS
a) Certo. A desconsideração da personalidade jurídica é técnica consistente na
ineficácia relativa da própria pessoa jurídica (ineficácia do contrato ou estatuto
social da empresa), frente a credores cujos direitos não são satisfeitos, mercê
da autonomia patrimonial criada pelos atos constitutivos da sociedade (e não na
ineficácia ou invalidade de negócios jurídicos celebrados pela empresa).
b) Errado. Segundo o art. 66, CC: Velará pelas fundações o Ministério Público
do Estado onde situadas. §2° Se estenderem a atividade por mais de um
Estado, caberá o encargo a cada um deles, ao respectivo Ministério Público.
c) Errado. O fato de uma associação possuir determinado patrimônio e realizar
negócios para aumentar esse patrimônio, isso não a desnatura e nem
caracteriza eventual desvio de finalidade, pois não irá proporcionar lucro aos
associados. Consequentemente não irá ocorrer o cancelamento de seu registro.
Exemplificando. Se uma associação esportiva passar a vender aos seus
membros camisas, calçados, bolas, alimentos, etc., embora isso traga lucro e
aumento de patrimônio para a associação, nem por isso ela perde a categoria de
associação.
95
a) Errado. O modo de administrá-la não é essencial. Art. 62, CC: Para criar
uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento,
dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e
declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
b) Certo. É o que prevê expressamente o art. 67, CC.
c) Errado. Estabelece o art. 69, CC: Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a
finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão
do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção,
incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato
constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se
proponha a fim igual ou semelhante.
d) Errado. Estabelece o parágrafo único do art. 65, CC: “Se o estatuto não for
elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento
e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público”.
96
nulidade do ato negocial, pois a tutela do Poder Público (sob a forma de
participação do Estado-juiz, mediante autorização judicial) é de ser exigida”.
97
QUESTÃO 52 (CESPE/UnB – MS – Ministério da Saúde – Administrador –
2013) Julgue o item a seguir.
a) As empresas públicas são compostas por capital unicamente de origem
governamental.
COMENTÁRIOS
a) Certo. Empresa Pública é pessoa jurídica de direito privado, integrante da
administração indireta, instituída por um ente estatal e administrada
exclusivamente pelo Poder Público, com finalidade prevista em lei. Esta
finalidade pode ser tanto de atividade econômica como de prestação de serviços
públicos. Ela pode constituída sob qualquer das formas admitidas em direito,
cujo capital é formado unicamente por recursos públicos de pessoa de
administração direta ou indireta.
100
(C) Quanto à responsabilidade por atos ilícitos, aplicam-se às pessoas jurídicas
de direito privado as mesmas obrigações impostas às pessoas jurídicas de
direito público.
(D) As fundações podem ter personalidade jurídica de direito público ou de
direito privado, segundo dispõe a sua norma instituidora.
(E) As pessoas jurídicas não são objeto de proteção de direito da
personalidade, pois esses direitos são próprios das pessoas naturais.
COMENTÁRIOS. A letra “a” está errada. O domicílio das pessoas jurídicas de
direito público é expresso no art. 75, CC: Quanto às pessoas jurídicas, o
domicílio é: I. da União, o Distrito Federal; II. dos Estados e Territórios, as
respectivas capitais; III. do Município, o lugar onde funcione a administração
municipal. A letra “b” está errada. O art. 75, §1°, CC é específico a esse
respeito: Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares
diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele
praticados. A letra “c” está errada. De em relação à responsabilidade contratual,
aplicam-se as mesmas regras às pessoas jurídica de direito público e de direito
privado. No entanto, no tocante à responsabilidade extracontratual, a
responsabilidade civil se difere. As pessoas jurídicas de direito privado
respondem por ato próprio (art. 47, CC) e por ato de terceiro (art. 932, III, CC).
Já às pessoas jurídicas de direito público aplicam-se as regras do art. 37, §6°,
CF e do art. 43, CC. A letra “d” está certa. As fundações podem ter
personalidade jurídica de direito público ou de direito privado. Nesse sentido,
segundo o STF na ADI 191/RS: "A distinção entre fundações públicas e privadas
decorre da forma como foram criadas, da opção legal pelo regime jurídico a que
se submetem, da titularidade de poderes e também da natureza dos serviços
por elas prestados". A letra “e” está errada. Art. 52, CC: Aplica-se às pessoas
jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. Gabarito:
“D”.
101
possível a desconsideração da personalidade jurídica quando verificado o desvio
de finalidade (Teoria Maior Subjetiva da Desconsideração), caracterizado pelo
ato intencional dos sócios de fraudar terceiros com o uso abusivo da
personalidade jurídica, ou quando evidenciada a confusão patrimonial (Teoria
Maior Objetiva da Desconsideração), demonstrada pela inexistência, no campo
dos fatos, de separação entre o patrimônio da pessoa jurídica e os de seus
sócios. Os efeitos da desconsideração da personalidade jurídica somente
alcançam os sócios participantes da conduta ilícita ou que dela se beneficiaram,
ainda que se trate de sócio majoritário ou controlador”. Gabarito: “C”.
102