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PESSOA JURÍDICA
Versão Full
SUMÁRIO
1. CONCEITO ................................................................................................................................. 3
6. ENTES DESPERSONALIZADOS............................................................................................. 23
O CC/02 teve a preocupação de trazer uma teoria geral sobre as pessoas jurídicas para
todo o Direito e, por isso, trata o tema tão detalhadamente.
Historicamente, surgiu a necessidade de personificação das pessoas jurídicas, enquanto
FATOS ASSOCIATIVOS HUMANOS.
Decorrência do fato associativo (teoria de cunho sociológico), a pessoa jurídica pode ser
definida como o grupo humano criado na forma da lei e dotado de personalidade jurídica própria
para a realização de fins comuns. A pessoa jurídica nasceu do fato associativo.
Alguns Estados falam em outras denominações: pessoas civis, pessoas místicas, pessoas coletivas
etc.
As pessoas jurídicas têm personalidade e capacidade que não são as mesmas das pessoas
naturais. Nesse aspecto, as pessoas jurídicas encontram certas limitações:
a) Não são titulares de direito de família;
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b) Podem ser titulares de direitos extrapatrimoniais (danos morais – súmula 227, STJ; o
artigo 52 do CC possibilita, no que couber, a extensão do sistema protetivo dos direitos da
personalidade das pessoas naturais às pessoas jurídicas; o dano extrapatrimonial é um dano in re
ipsa, ou seja, é uma afronta a um direito da personalidade, que tem sua origem axiológica na
dignidade da pessoa humana; os direitos da personalidade da pessoa jurídica podem ser
semelhantes aos direitos da personalidade da pessoa natural, para que possa alcançar a sua
finalidade até mesmo em prol das pessoas naturais). Direitos da personalidade da pessoa
jurídica (art. 52) – pacificou-se o entendimento no sentido de que esses direitos devem ser
protegidos. Visa-se à proteção da honra e da imagem, ou seja, sua integridade moral. O artigo fala
“no que couber”, ou seja, nos direitos que forem compatíveis.
É importante distinguir o dano moral sofrido por pessoa jurídica de direito privado e aquele
sofrido por pessoa jurídica de direito público. Apreciando o tema, o STJ já entendeu que o
reconhecimento da possibilidade de o ente público pleitear indenização por dano moral contra o
particular constituiria completa subversão da essência dos direitos fundamentais, não se mostrando
presente nenhum elemento justificador do pleito, como aqueles apontados pela doutrina e
relacionados à defesa de suas prerrogativas, competência ou alusivos a garantias constitucionais
do processo. Em conclusão, decidiu a Corte Superior que não se pode admitir o reconhecimento de
que o ente público pleiteie indenização por dano moral contra o particular, considerando que isso
seria uma completa subversão da essência dos direitos fundamentais.
Ocorre que em decisão envolvendo o INSS, o STJ decidiu que a pessoa jurídica de direito
público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da
imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre
os demais jurisdicionados em geral for evidente (Recurso Especial nº 1.722.423/RJ, Rel. Min.
Herman Benjamin, Segunda Turma, v.u., j. 24/11/2020).
Trata-se de decisão importantíssima para a Fazenda Pública. Enquanto o abalo mercadológico é o
que fundamenta o dano moral sofrido por pessoa jurídica de direito privado, o grave abalo
institucional foi o motivo para o STJ admitir a ocorrência de dano extrapatrimonial em detrimento
das pessoas jurídicas de direito público.
c) Têm uma limitação intrínseca para titularidade e exercício de direitos, que consiste
no atendimento aos seus fins (objetivo social);
d) A manifestação da vontade das pessoas jurídicas se faz de forma especial, porque
não têm voz – precisam, então, de um órgão técnico para sua representação (presentação). QUEM
GERENCIA A PESSOA JURÍDICA NÃO FALA PELA PESSOA JURÍDICA, FALA COMO SE
FOSSE ELA MESMA, A PRÓPRIA PESSOA JURÍDICA. No artigo 49 do CC, está previsto que, se
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faltar o órgão de representação, o juiz nomeará um administrador provisório, a requerimento de
qualquer interessado. A nomeação do juiz será feita para a prática de ato específico.
A Lei 13.874/19, ao incluir o art. 49-A no CC, incorporou, de fato, essa teoria ao dispor que:
“Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores
ou administradores.
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação
e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos, para
a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos.”
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por
que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de
direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no
registro.
Há uma classificação das pessoas jurídicas que já foi cobrada em prova oral do TRF1, a respeito
de sua estrutura:
a) Universitas personarum: pessoas jurídicas que se formam pela reunião de pessoas que
possuem identidade de fins – sociedades, associações;
b) Universitas bonorum: pessoas jurídicas que se formam em torno de um patrimônio, que
possui um fim específico – fundações.
1Segundo Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica
ganhou força a partir da década de 50, com a publicação do trabalho de ROLF SERICK, professor da Faculdade de Direito
de Heidelberg, na Alemanha. Com fulcro em sua teoria, pretendeu-se justificar a superação da personalidade jurídica da
sociedade em caso de abuso, permitindo-se o reconhecimento da responsabilidade ilimitada dos sócios.
Dois casos foram paradigmáticos para o início da teoria:
a) Bank of United States vs. Deveaux (CORTE AMERICANA);
b) Caso julgado em 1.896 (Salomon Vs Salomon Co) (INGLATERRA). Salomon quis
constituir uma Cia. e elaborou um contrato social no qual ele tinha 99% das ações. Essa sociedade
começou a atuar no mercado, angariando dívidas. Para tentar se salvar, Salomon começou a emitir
títulos no mercado, que foram comprados por ele mesmo, passando a ser o primeiro da fila no
recebimento dos créditos. Os demais credores alegaram que Salomon usou da pessoa jurídica para
fins de fraude.
Essa teoria sustenta o afastamento temporário da personalidade da pessoa jurídica,
em caso de abuso ou fraude, para permitir que os credores lesados satisfaçam os seus créditos no
patrimônio pessoal dos sócios ou administradores. Lamentavelmente, no Brasil, a teoria não tem
sido bem aplicada, tendo como um dos problemas a confusão que o juiz faz entre desconsideração
e despersonificação.
DESCONSIDERAÇÃO DESPERSONIFICAÇÃO
Para desconsiderar é preciso apontar o Aniquila a pessoa jurídica, em alguns casos ela
cumprimento dos requisitos. A desconsideração pode ser aplicada, é como se fosse a aplicação
é um ato de força, é uma sanção. em último grau da desconsideração.
Continua a existência da pessoa jurídica. Aniquila a pessoa jurídica. 9
EXEMPLO: ativo maior que o passivo não EXEMPLO: despersonificação das torcidas
significa a aplicação da desconsideração. organizadas em SP.
Alterado e ampliado pela Lei da Liberdade Econômica, o dispositivo traz agora critérios
objetivos para a desconsideração da personalidade jurídica. Importante lembrar que a norma não
se aplica à desconsideração em outros sistemas jurídicos, como no CDC, na legislação ambiental
ou na lei anticorrupção.
A mudança promovida pela Lei nº 13.874/2019 no caput do art. 50 foi a seguinte: só se pode atingir
o patrimônio particular do administrador ou do sócio se ficar demonstrado que eles se beneficiaram,
direta ou indiretamente, do abuso da personalidade jurídica.
Assim, é acrescido um novo requisito para que se atinja o patrimônio do administrador ou sócio:
deve ser provado que essa pessoa foi beneficiada com o abuso da personalidade jurídica.
Esses requisitos do art. 50 do CC, mais rígidos do que os demais diplomas pátrios, se
inserem no que se convencionou chamar de teoria maior da desconsideração. Maior porque os
requisitos são mais severos, devem ser demonstrados claramente. Uma vez ausentes, não poderá 11
o juiz superar a separação patrimonial existente entre a entidade e seu membro.
Teoria MAIOR Teoria MENOR
O Direito Civil brasileiro adotou a No Direito do Consumidor e no Direito Ambiental,
chamada teoria maior da adotou-se a teoria menor da desconsideração. Isso
desconsideração. Isso porque o art. 50 porque, para que haja a desconsideração da
exige que se prove o desvio de finalidade personalidade jurídica nas relações jurídicas
(teoria maior subjetiva) ou a confusão envolvendo consumo ou responsabilidade civil
patrimonial (teoria maior objetiva). ambiental, basta provar a insolvência da pessoa
jurídica.
Deve-se provar: De acordo com a Teoria Menor, a
1) Abuso da personalidade (desvio de incidência da desconsideração se justifica:
finalidade ou confusão patrimonial) a) pela
2) Que os administradores ou comprovação da insolvência da pessoa jurídica para
sócios da pessoa jurídica foram o pagamento de suas obrigações, somada à má
beneficiados direta ou indiretamente pelo administração da empresa (art. 28, caput, do CDC);
ou
abuso (novo requisito trazido pela Lei nº b) pelo mero fato de
13.874/2019). a personalidade jurídica representar um obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores, nos termos do § 5º do art. 28 do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1735004/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 26/06/2018.
[...]
5. A desconsideração da personalidade jurídica, com a consequente invasão no patrimônio
dos sócios para fins de satisfação de débitos da empresa, é medida de caráter excepcional sendo
apenas admitida em caso de evidente caracterização de desvio de finalidade, confusão patrimonial
ou, ainda, conforme reconhecido por esta Corte Superior, nas hipóteses de dissolução irregular sem
a devida baixa na junta comercial (Precedentes: REsp 1.169.175/DF, Rel. Ministro Massami Uyeda,
Terceira Turma, julgado em 17/2/2011, DJe 4/4/2011; AgRg no Ag 867.798/DF, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 21/10/2010, DJe 3/11/2010) 6. Evidenciada a dissolução
irregular da empresa, matéria cuja revisão revela-se inviável em sede de recurso especial tendo em
vista o óbice da Súmula nº 7/STJ, merece ser mantido o redirecionamento. 13
7. Agravo regimental não provido.
(AgRg no Ag 668.190/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 13/09/2011, DJe 16/09/2011)
Art. 34. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser
desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei,
fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. P. único: A desconsideração também
será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da
pessoa jurídica provocados por má administração.
3Disponível em https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI311604,91041-
A+lei+da+liberdade+economica+lei+1387419+e+os+seus+principais. Acesso em 01/10/19.
controlada com o intuito de fraudar partilha em dissolução de união estável, a companheira
prejudicada, ainda que integre a sociedade empresária na condição de sócia minoritária, terá
legitimidade para requerer a desconsideração inversa da personalidade jurídica de modo a
resguardar sua meação. Inicialmente, ressalte-se que a Terceira Turma do STJ já decidiu pela
possibilidade de desconsideração inversa da personalidade jurídica – que se caracteriza pelo
afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na
desconsideração da personalidade jurídica propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu
patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio –, em razão
de uma interpretação teleológica do art. 50 do CC/2002 (REsp 948.117-MS, DJe 3/8/2010). Quanto
à legitimidade para atuar como parte no processo, por possuir, em regra, vinculação com o direito
material, é conferida, na maioria das vezes, somente aos titulares da relação de direito material.
Dessa forma, a legitimidade para requerer a desconsideração é atribuída, em regra, ao familiar que
tenha sido lesado, titular do direito material perseguido, consoante a regra segundo a qual “Ninguém
poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei” (art. 6º do CPC).
Nota-se, nesse contexto, que a legitimidade para requerer a desconsideração inversa da
personalidade jurídica da sociedade não decorre da condição de sócia, mas sim da condição de
companheira do sócio controlador acusado de cometer abuso de direito com o intuito de fraudar a
partilha. Além do mais, embora a companheira que se considera lesada também seja sócia, seria 15
muito difícil a ela, quando não impossível, investigar os bens da empresa e garantir que eles não
seriam indevidamente dissipados antes da conclusão da partilha, haja vista a condição de sócia
minoritária. REsp 1.236.916-RS, 3T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2013.
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se
e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
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interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.
19. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não econômicos
estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica (Enunciado 284 da CJF).
20. A desconsideração da pessoa jurídica é matéria sob reserva de jurisdição ou a
administração pública pode desconsiderar de ofício? Em regra, a desconsideração é matéria
jurisdicional, salvo em situações excepcionalíssimas admitidas pela doutrina (Gustavo Tepedino) e
pela jurisprudência (STJ, RMS n 15.166/BA) em caso grave de fraude4.
Enunciado 284, CJF: As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins
não econômicos estão abrangidas no conceito de abuso de personalidade.
CUIDADO: Enunciado 282 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: Art. 50: O encerramento
irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso da
personalidade jurídica.
O Direito Civil brasileiro adotou a chamada teoria maior da desconsideração. Isso porque o
art. 50 exige, além da insolvência, que se prove o desvio de finalidade (teoria maior subjetiva) ou a
confusão patrimonial (teoria maior objetiva). 23
CESPE, 2018: “A desconsideração inversa é caracterizada pelo afastamento da autonomia
patrimonial da sociedade, resultando na execução de bens da sociedade por obrigações pessoais
de um de seus sócios.”
CERTO
6. ENTES DESPERSONALIZADOS
Entes despersonalizados são universalidades que têm quase tudo de uma pessoa jurídica,
mas lhes falta a personalidade jurídica. Exemplos: espólio, massa falida e condomínio. Espólio e
massa falida são universalidades de bens, o primeiro já se transmitiu aos herdeiros, mas de maneira
indivisa (inventário e arrolamento servem para viabilizar a divisão). O condomínio é uma agregação
de pessoas, que são os condôminos, mas que não ganha personalidade jurídica.
Esses entes despersonalizados podem praticar vários atos: podem estar em juízo (CPC),
podem praticar ato de alienação, mas não têm personalidade jurídica (parte da doutrina diz que têm
uma personalidade jurídica parcial ou restrita).
A falta de personalidade não é causa, evidentemente, de desobrigação da reparação de
ilícitos porventura perpetrados. Nunca será possível aos gestores do ente despersonalizado
invocar essa situação jurídica para se esquivar dos deveres legais.
A Classificação das Pessoas Jurídicas visa a estabelecer uma sistemática para facilitar o estudo do
assunto:
a) Pessoas jurídicas de direito público (artigos 41 e 43): Externo – Estados, organismos
internacionais; Interno – entes políticos, autarquias e demais pessoas de caráter público criadas por lei.
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as
pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos
dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo
contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.
Note que o CC/02 não prevê expressamente a fundação pública como pessoa jurídica de
direito público interno; quem o faz é a Constituição, e isso por entendimento doutrinário.
b) Pessoas jurídicas de direito privado (artigo 44) – o CC/02 fez uma distinção entre
sociedades e associações. Esse artigo já foi alterado para a inclusão das organizações religiosas e
dos partidos políticos (Lei 10.825/03), bem como para a inclusão da EIRELI (Lei 12.441/11).
Sociedades (teoria da empresa, atividade econômica organizada);
Associações (sem finalidade lucrativa);
Fundações;
Organizações religiosas;
Partidos políticos;
EIRELI.
7.1. ASSOCIAÇÕES
As associações são pessoas jurídicas que reúnem pessoas para fins não econômicos, mas as
suas finalidades não são altruísticas. Sempre se discutiu se no quadro de associados poderia ou
não haver pessoas jurídicas. Classicamente, estava restrita a pessoas naturais; o CC/02 não
estabelece essa restrição, mas os doutrinadores estão defendendo que, pelo regramento
exposto, não é possível a participação de pessoas jurídicas. Podem até gerar renda, mas é
revertida para a própria associação. Exemplo: associações de bairro, terceiro setor. Associação
não tem sócio.
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não
econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha
sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto.
Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5
(um quinto) dos associados o direito de promovê-la.
A associação já nasce com um quadro associativo, mas é possível aos associados dispor
em seus atos constitutivos: se, como e quando será admitida a participação de novos associados.
Aqui cabe uma importante ressalva feita pela CR/88 (o CC não faz): as exigências de associação
não podem ser discriminatórias injustificadamente.
O associado pode ser obrigado a deixar a associação, ou seja, ser excluído/expulso na forma
que o estatuto deliberar – quais os motivos e condições, razões de sua expulsão etc. Note-se que
deve haver também uma razoabilidade no estabelecimento desses motivos.
A exclusão de associado só é possível se houver respeito ao princípio do contraditório e
da ampla defesa. Nesse sentido, aliás, o art. 57 do CC.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.
A dissolução da associação será feita na forma que o estatuto estabelecer e por questões legais.
O problema reside na existência de patrimônio (artigo 61 do CC). O patrimônio líquido
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(ou seja, primeiro serão pagas as dívidas, de modo que o direito de retirada, pelos associados,
dos valores que contribuíram para formação do patrimônio, depende de previsão no ato
constitutivo) será destinado:
1o. Para uma entidade de fins não econômicos, como determinado no estatuto;
2o. Para uma entidade pública municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou
semelhantes, na omissão do estatuto;
3o. Arrecadados como bens vagos (Fazenda Pública do Estado, do Distrito Federal ou da
União), caso não haja entidade pública nos termos do item anterior.
No caso de morte de associado, O LEGISLADOR DISTINGUE A QUALIDADE DE
PROPRIETÁRIO, DE FORMA QUE O PATRIMÔNIO PODE SER TRANSFERIDO AO SUCESSOR
sem, com isso, atribuir a qualidade de associado a quem se transmite.
Ex.: falece uma pessoa e o estatuto não prevê a possibilidade de transmissão, de forma que
o filho não será associado, mas se tornará proprietário da fração patrimonial do seu pai; se NÃO
FOSSE ISSO, O CÓDIGO SERIA INCONSTITUCIONAL, POR VIOLAR O DIREITO INDIVIDUAL
E FUNDAMENTAL À HERANÇA. O Código não poderia dizer que o patrimônio do associado não
vai ser transmitido aos herdeiros.
Então ele separou: a qualidade de associado é personalíssima, se o contrário não for
previsto; a qualidade de proprietário não – essa é transmissível.
Então, em síntese, eu teria um filho condômino, mas não associado; um filho que é
proprietário, mas não é associado.
Caberá à associação ou comprar o patrimônio dele, ou autorizar que ele transmita o
patrimônio junto com a qualidade de associado para um terceiro, ou, então, extinguir o condomínio.
Veja, quando esse associado tem, vamos supor, 1% do patrimônio de uma associação que,
em muitos casos, significa muito dinheiro, ele não é associado, mas ele é condômino, posso não
ser associado, mas parte desse patrimônio é minha. E aí um direito potestativo que se atribui a
condômino é o direito de extinguir o condomínio, relativamente às suas quotas.
7.2. FUNDAÇÕES
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento,
dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a
maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: (Redação dada pela
Lei nº 13.151, de 2015)
I – assistência social;
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III – educação;
IV – saúde;
V – segurança alimentar e nutricional;
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável;
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas
de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos;
Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a 28
transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão
registrados, em nome dela, por mandado judicial.
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
(REQUISITOS CUMULATIVOS)
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias,
findo o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do
interessado. (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)
Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os
administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão
que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias.
As fundações somente podem ser constituídas para fins ideais, não podendo ter finalidade
lucrativa; é claro que podem produzir renda, mas esta deve ser reinvestida na própria fundação.
Não pode haver pro labore ou divisão de lucros (artigo 62, parágrafo único, CC).
A fundação é feita pela afetação de um patrimônio, ou seja, o patrimônio é deslocado para
a formação da fundação, é uma parcela de patrimônio que se personifica. Pode ser instituída por
pessoa física ou jurídica.
Fases de constituição da fundação:
a) Afetação de bens livres;
b) Instituição por escritura pública ou testamento;
c) Elaboração do ato normativo constitutivo = estatuto;
d) Aprovação pela autoridade competente;
e) Registro civil do estatuto da fundação.
Os bens devem ser livres e desembaraçados, bem como suficientes ao objetivo da fundação.
Se os bens forem insuficientes para dar nascimento à fundação, serão entregues a outra
fundação que se proponha a fim igual ou semelhante, salvo se o instituidor não dispuser de
outra forma (artigo 63).
Praticado o ato de instituição, ainda não nasceu a fundação, depende-se de um estatuto que
deve ser levado a registro. O estatuto pode ser elaborado: pelo instituidor no ato de instituição
(elaboração direta); pelo instituidor em ato posterior (elaboração direta); por terceiro incumbido pelo
instituidor (elaboração fiduciária); pelo MP, no prazo de 180 dias, se não for elaborado no prazo
estabelecido pelo instituidor ou se não houver prazo (parágrafo único do artigo 65). 29
A aprovação será feita pelo MP, ficando dispensada caso o próprio “parquet” tenha sido o
responsável pela elaboração. O MP é o órgão de fiscalização por excelência nas fundações.
As fundações não têm quadro responsável pelas deliberações de gestão, p. ex. não podem vender
seus bens sem a fiscalização do MP e com autorização judicial.
Em qualquer caso, exceto quando ele elabore, os estatutos devem ser submetidos ao MP.
A extinção das fundações (artigo 69) poderá ocorrer nos seguintes casos:
a) Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação;
b) Vencido o prazo de sua existência;
A promoção de extinção pode ser feita pelo MP ou por qualquer interessado, incorporando-
se seu patrimônio em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou
semelhante, se outra não for a previsão no ato constitutivo ou no estatuto.
É CABÍVEL A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DE
FUNDAÇÕES? SIM, ASSIM COMO A DE QUALQUER ESPÉCIE DE PESSOA JURÍDICA, POIS
O ART. 50 DO CC APLICA-SE ÀS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO EM GERAL,
NÃO SE LIMITANDO ÀS SOCIEDADES.
CESPE, 2019: “A modificação de regra prevista em estatuto de fundação privada deve ser
aprovada pela maioria absoluta das pessoas responsáveis pela gerência da fundação e somente
produzirá efeitos após decisão homologatória do Poder Judiciário.”
ERRADO
Segundo Rosenvald e Farias, quanto à estrutura interna, as pessoas jurídicas classificam-se em:
a) Universitas bonorum: cuja estrutura interna é composta de um patrimônio destinado,
afetado, a uma finalidade específica que lhe dá unidade, como são as fundações;
b) Universitas personarum: compostas, em sua teia orgânica estrutural, por um conjunto de
pessoas que se unem ao derredor de uma finalidade comum, como nas corporações.
Daí ser lícito afirmar que as pessoas jurídicas podem ser corporações ou fundações. As corporações
englobam as sociedades e as associações. A ideia de corporação se opõe à ideia de fundação.
As corporações são formadas por grupamento de pessoas, ligadas por um sentimento comum
(affecio societatis), tendendo a um desiderato único. São pessoas que, percebendo as vantagens
do associativismo, buscam alcançar mais facilmente determinado resultado. As fundações são fruto
da destinação patrimonial, almejando um fim lícito, consubstanciando a vontade do titular de vê-lo
funcionalizado a uma finalidade.
8. RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público (art. 43, CC/02 e art. 37,
par. 6º, CR/88) – fundada na teoria do Risco Administrativo (objetiva), retirando os elementos
subjetivos (dolo e culpa), bastando o nexo de causalidade entre o dano e a conduta. Note-se que a
CR equipara, para responsabilidade, as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço
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público. Em caso de dolo ou culpa do agente causador do dano, a pessoa jurídica de direito público
terá direito ao regresso.
A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado é regulada pelas regras gerais
da teoria da responsabilidade civil. Em regra, ela será subjetiva, salvo no exercício de atividades
de alto risco.
Responsabilidade dos administradores (artigos 47 a 49) – aqui se trata de regras genéricas
– as específicas estão no Direito de Empresa. Os atos do administrador praticados em
conformidade com estatutos ou contrato social dão ensejo à responsabilidade da pessoa
jurídica; se for em desconformidade, a sua responsabilidade é pessoal (art. 47), aplicando-se a teoria
ultra vires.
Administração coletiva (art. 48) – pode ser deliberada pela maioria dos presentes, salvo
se for estipulado o contrário no estatuto ou no contrato social.
Administração provisória (art. 49) – impedimento momentâneo; pode ser estabelecida
pelo juiz.
Teoria da aparência: pessoas que negociam em nome da pessoa jurídica, tendo aparente
legitimidade para tal, obrigam esta a cumprir os atos assumidos perante terceiros, com fundamento
na teoria da aparência. Assim, a pessoa jurídica terá direito de regresso contra quem praticou o ato.
Essa teoria, no que se refere à alienação de direitos reais, encontra previsão expressa no CC/02:
Art. 1.268 - Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto
se a coisa (...) for transferida em circunstancias tais que, ao adquirente de boa fé, como a qualquer
pessoa, o alienante se afigurar dono.
As pessoas jurídicas de direito privado terão seu domicílio no local previsto no estatuto ou no
contrato social, sendo o local de sua sede. Se for o ato constitutivo omisso, observa-se o inciso IV
do art. 75.
Súmula 363, STF: “A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio
da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato”. Trata-se do princípio da autonomia
do estabelecimento.
O artigo 53 do CPC trata dessa questão, afirmando que será competente o foro do local no
qual a pessoa jurídica tenha estabelecido relações jurídicas que tenham sido entabuladas (no local)
com autonomia. EXEMPLO: Bradesco tem sede em Osasco/SP. As relações jurídicas que se
estabelecerem com autonomia em Manaus poderão lá ser resolvidas, mas se se tratar de uma
dissolução de sociedade, evidentemente, a competência será do local da sede, porque não há
subsidiária ou sucursal com essa autonomia.
10. EXTINÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu
funcionamento, ELA SUBSISTIRÁ PARA OS FINS DE LIQUIDAÇÃO, ATÉ QUE ESTA SE
CONCLUA.
§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais
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pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.
ANOTAÇÕES
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