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PESSOA JURÍDICA
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SUMÁRIO
1. CONCEITO ................................................................................................................................. 3

2. LIMITAÇÕES DAS PESSOAS JURÍDICAS ............................................................................... 3

3. NATUREZA JURÍDICA DAS PESSOAS JURÍDICAS ................................................................ 4

4. NASCIMENTO DAS PESSOAS JURÍDICAS ............................................................................. 7

5. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA ........................................................ 8

6. ENTES DESPERSONALIZADOS............................................................................................. 23

7. CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS ...................................................................... 24

7.1. ASSOCIAÇÕES ................................................................................................................. 25

7.2. FUNDAÇÕES ..................................................................................................................... 27

7.2.1. UNIVERSITAS BONORUM E UNIVERSITAS PERSONARUM ........................................ 30

7.3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS......................................................................................... 30

8. RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................................................... 31

9. DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA ....................................................................................... 32


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10. EXTINÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS ............................................................................... 33
1. CONCEITO

O CC/02 teve a preocupação de trazer uma teoria geral sobre as pessoas jurídicas para
todo o Direito e, por isso, trata o tema tão detalhadamente.
Historicamente, surgiu a necessidade de personificação das pessoas jurídicas, enquanto
FATOS ASSOCIATIVOS HUMANOS.
Decorrência do fato associativo (teoria de cunho sociológico), a pessoa jurídica pode ser
definida como o grupo humano criado na forma da lei e dotado de personalidade jurídica própria
para a realização de fins comuns. A pessoa jurídica nasceu do fato associativo.
Alguns Estados falam em outras denominações: pessoas civis, pessoas místicas, pessoas coletivas
etc.

2. LIMITAÇÕES DAS PESSOAS JURÍDICAS

As pessoas jurídicas têm personalidade e capacidade que não são as mesmas das pessoas
naturais. Nesse aspecto, as pessoas jurídicas encontram certas limitações:
a) Não são titulares de direito de família;

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b) Podem ser titulares de direitos extrapatrimoniais (danos morais – súmula 227, STJ; o
artigo 52 do CC possibilita, no que couber, a extensão do sistema protetivo dos direitos da
personalidade das pessoas naturais às pessoas jurídicas; o dano extrapatrimonial é um dano in re
ipsa, ou seja, é uma afronta a um direito da personalidade, que tem sua origem axiológica na
dignidade da pessoa humana; os direitos da personalidade da pessoa jurídica podem ser
semelhantes aos direitos da personalidade da pessoa natural, para que possa alcançar a sua
finalidade até mesmo em prol das pessoas naturais). Direitos da personalidade da pessoa
jurídica (art. 52) – pacificou-se o entendimento no sentido de que esses direitos devem ser
protegidos. Visa-se à proteção da honra e da imagem, ou seja, sua integridade moral. O artigo fala
“no que couber”, ou seja, nos direitos que forem compatíveis.

É importante distinguir o dano moral sofrido por pessoa jurídica de direito privado e aquele
sofrido por pessoa jurídica de direito público. Apreciando o tema, o STJ já entendeu que o
reconhecimento da possibilidade de o ente público pleitear indenização por dano moral contra o
particular constituiria completa subversão da essência dos direitos fundamentais, não se mostrando
presente nenhum elemento justificador do pleito, como aqueles apontados pela doutrina e
relacionados à defesa de suas prerrogativas, competência ou alusivos a garantias constitucionais
do processo. Em conclusão, decidiu a Corte Superior que não se pode admitir o reconhecimento de
que o ente público pleiteie indenização por dano moral contra o particular, considerando que isso
seria uma completa subversão da essência dos direitos fundamentais.
Ocorre que em decisão envolvendo o INSS, o STJ decidiu que a pessoa jurídica de direito
público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou da
imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre
os demais jurisdicionados em geral for evidente (Recurso Especial nº 1.722.423/RJ, Rel. Min.
Herman Benjamin, Segunda Turma, v.u., j. 24/11/2020).
Trata-se de decisão importantíssima para a Fazenda Pública. Enquanto o abalo mercadológico é o
que fundamenta o dano moral sofrido por pessoa jurídica de direito privado, o grave abalo
institucional foi o motivo para o STJ admitir a ocorrência de dano extrapatrimonial em detrimento
das pessoas jurídicas de direito público.

c) Têm uma limitação intrínseca para titularidade e exercício de direitos, que consiste
no atendimento aos seus fins (objetivo social);
d) A manifestação da vontade das pessoas jurídicas se faz de forma especial, porque
não têm voz – precisam, então, de um órgão técnico para sua representação (presentação). QUEM
GERENCIA A PESSOA JURÍDICA NÃO FALA PELA PESSOA JURÍDICA, FALA COMO SE
FOSSE ELA MESMA, A PRÓPRIA PESSOA JURÍDICA. No artigo 49 do CC, está previsto que, se
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faltar o órgão de representação, o juiz nomeará um administrador provisório, a requerimento de
qualquer interessado. A nomeação do juiz será feita para a prática de ato específico.

3. NATUREZA JURÍDICA DAS PESSOAS JURÍDICAS

Nesse ponto, foram desenvolvidas teorias explicativas:


a) Teorias Negativistas: a pessoa jurídica não existe – é um simples patrimônio coletivo,
condomínio ou grupo de pessoas físicas. BRINZ e BEKKER afirmavam tratar-se de mero patrimônio
destinado a um fim. Outra vertente de pensamento imaginava a pessoa jurídica como uma forma
de condomínio (PLANIOL, WIELAND e BARTHÉLEMY). Finalmente, BOLZE e IHERING
defenderam tese no sentido de que os próprios associados (pessoas físicas) seriam considerados
em conjunto. Também negavam a existência da pessoa jurídica IEHRING e DUGUIT.
b) Teorias Afirmativistas: a pessoa jurídica tem existência como sujeito de direito. Embora
afirmem a existência, apresentavam divergência entre si:
1. Teoria Da Ficção (Savigny) – a pessoa jurídica não existe realmente, ela é uma mera
ficção, posto que não é possível visualizar o corpo. Kelsen é adepto dessa teoria. Ou seja, a
pessoa jurídica é mera ficção legal, o que predominou até o século XVIII. Com o fortalecimento da
criação dos Estados, começou-se a verificar que essa teoria não era suficiente, na medida em que
não se pode aceitar a ideia de que o Estado é mera ficção jurídica. Não reconhecia existência real
à pessoa jurídica, imaginando-a como uma abstração, mera criação da lei.
2. Teoria Da Realidade Objetiva Ou Organicista – existência social. CLÓVIS
BEVILÁQUA, DISCÍPULO DE AUGUSTO COMTE. Sustentava que a pessoa jurídica não seria
mera abstração ou criação da lei, tendo existência própria, real, social, como os indivíduos
(SCHÄFFLE, LILIENFELD, BLUNTSCHLI, GIERKE, GIORGI, FADDA e BENSA, LACERDA DE
ALMEIDA, CUNHA GONÇALVES e o próprio CLÓVIS BEVILÁQUA). Tratava-se de uma teoria
sociológica, organicista.
3. Teoria Da Realidade Técnica – é um meio termo em relação às duas teorias acima. Para
ela, a pessoa jurídica existe sim, uma existência diferente da existência da pessoa física; ela
existe porque tem uma vontade própria distinta da vontade de seus sócios; também tem
patrimônio próprio distinto do de seus membros. O artigo 20 do CC/1916 incorporou essa teoria,
mas o CC/2002 não trouxe expressamente o dispositivo. Contudo, por exceção
(desconsideração da personalidade jurídica), confirmou a teoria, ou seja, não trata da regra,
mas somente da exceção (artigo 50). Continua vigendo essa teoria. A pessoa jurídica teria
existência real, não obstante a sua personalidade ser conferida pelo direito (SALEILLES, GENY, 5
MICHOUD, FERRARA).

 A Lei 13.874/19, ao incluir o art. 49-A no CC, incorporou, de fato, essa teoria ao dispor que:

“Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores
ou administradores.
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação
e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos, para
a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos.”

4. Teoria institucionalista – comungando com uma ideia de obra ou empreendimento, os


seus criadores institucionalizam-na através da referida pessoa. Para esta teoria, o que daria vida e
vontade à pessoa jurídica é a unificação das vontades dos criadores, criando a instituição. A crítica
à esta teoria é de que ela não explica muito bem a natureza da pessoa jurídica.
Não existe PJ, apenas a reunião de
TEORIA
Teoria do Patrimônio Coletivo vários patrimônios formando uma
NEGATÓRIA
universalidade.
(JHERING, Há um condomínio sem personalidade
Teoria do Condomínio
DUGUIT) jurídica.
Trata-se apenas de uma associação de
Teoria da associação pessoas físicas consideradas em
conjunto.
Teoria da Ficção (Savigny)
Defendida por Comte, Beviláqua etc.
Teoria da Realidade Objetiva, Existência da PJ é real, exatamente
Organicista ou Existência como dos indivíduos, não se tratando de
Social mera abstração
da lei.
PJ existe, mas como uma existência
jurídica, no mundo do Direito. É o Direito
que lhe confere personalidade, sendo
Teoria da Realidade Técnica
sua vontade e patrimônio diferentes dos
TEORIA
seus constituidores. (adotada pelo CC-
AFIRMATIVISTA
art. 48-A)
(ADOTADA NO
Maurice Hauriou. Defende que já existe 6
BRASIL)
uma instituição no momento em que
nasce uma pessoa jurídica,
considerando a existência de uma ideia
criadora do vínculo social, a união de
Teoria Institucionalista ou
pessoas com o mesmo objetivo e vários
Realidade Jurídica
meios destinados a criação de tal
instituição. Para ela, a PJ já tinha vida
interior, vindo a se exteriorizar, tornar-se
pessoa jurídica em razão de uma
atividade organizada de seus membros.

No Brasil, é adotada a teoria da realidade técnica (apesar de existir controvérsia),


conforme se pode observar também da análise do artigo 45, CC/02, porque a pessoa jurídica,
mesmo sem existência física ou tangível, EXISTE JURIDICAMENTE. Para fins de Direito,
somente com o registro a pessoa jurídica passa a ter existência legal.

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por
que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de
direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no
registro.

Há uma classificação das pessoas jurídicas que já foi cobrada em prova oral do TRF1, a respeito
de sua estrutura:
a) Universitas personarum: pessoas jurídicas que se formam pela reunião de pessoas que
possuem identidade de fins – sociedades, associações;
b) Universitas bonorum: pessoas jurídicas que se formam em torno de um patrimônio, que
possui um fim específico – fundações.

4. NASCIMENTO DAS PESSOAS JURÍDICAS

As pessoas jurídicas começam a nascer no instante em que pessoas naturais se reúnem


para formar uma pessoa jurídica (fato associativo). Mas A PESSOA JURÍDICA NASCE
EFETIVAMENTE SOMENTE COM O REGISTRO, que tem natureza constitutiva, pois é ele que 7
dá personalidade jurídica a elas.
O artigo 45 do CC prevê que o registro da pessoa jurídica é constitutivo (a personalidade só
surge com o registro), já que por ele se inicia a existência da pessoa jurídica. Registro nos órgãos
competentes, as autorizações administrativas são necessárias para o funcionamento da pessoa
jurídica. Enquanto a pessoa jurídica não for registrada, ela não tem existência legal, sendo uma
mera sociedade de fato ou sociedade irregular, que o Código Civil tratou como SOCIEDADE EM
COMUM (artigo 986 e seguintes). Somente com o registro é que a sociedade surge. Enquanto não
há registro, o próprio sócio responde pessoal e ilimitadamente pelas dívidas sociais.
Algumas pessoas jurídicas dependem também de autorização administrativa para funcionar,
p. ex., atividades bancárias, securitárias, exploradoras de minas; ficando expresso no CC/02 que
essa autorização deverá ser apresentada desde o registro.
Com a criação das pessoas jurídicas, passa a existir uma separação jurídico-
patrimonial entre a pessoa jurídica e os bens das pessoas naturais. O art. 46 do CC elenca os
requisitos necessários para constituir uma pessoa jurídica. O ato constitutivo da pessoa jurídica
deve revelar tudo o que importa para a constituição da pessoa jurídica: denominação, quadro social
(sócios) ou associativo (associados), sede, objetivo ou finalidade, quais as formas de alteração do
próprio ato constitutivo e outros.

Artigo 46. O registro declarará:


I – a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;
II – o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores;
III – o modo porque se administra e representa ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;
IV – se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo;
V – se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;
VI – as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso.

São atos constitutivos levados ao registro:


 Contrato social – nas sociedades de pessoas (dependendo do tipo societário).
 Estatuto – sociedades de capital, associações, partidos políticos, fundações, organizações
religiosas.
Questão:
CESPE, 2017: “Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito
privado.”
CERTO (art. 45 do CC)
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5. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Desconsideração da personalidade jurídica (DISREGARD DOCTRINE =


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA). Foi teoria desenvolvida por ROLF
SERECK1 e, nacionalmente, foi RUBENS REQUIÃO quem introduziu os estudos no Brasil.
O Professor Rubens Requião assumiu uma linha de vanguarda, ao propugnar a
compatibilização entre a teoria da desconsideração e o direito brasileiro, sem que houvesse, em
nossa ordem jurídica, dispositivo legal expresso a respeito.

1Segundo Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica
ganhou força a partir da década de 50, com a publicação do trabalho de ROLF SERICK, professor da Faculdade de Direito
de Heidelberg, na Alemanha. Com fulcro em sua teoria, pretendeu-se justificar a superação da personalidade jurídica da
sociedade em caso de abuso, permitindo-se o reconhecimento da responsabilidade ilimitada dos sócios.
Dois casos foram paradigmáticos para o início da teoria:
a) Bank of United States vs. Deveaux (CORTE AMERICANA);
b) Caso julgado em 1.896 (Salomon Vs Salomon Co) (INGLATERRA). Salomon quis
constituir uma Cia. e elaborou um contrato social no qual ele tinha 99% das ações. Essa sociedade
começou a atuar no mercado, angariando dívidas. Para tentar se salvar, Salomon começou a emitir
títulos no mercado, que foram comprados por ele mesmo, passando a ser o primeiro da fila no
recebimento dos créditos. Os demais credores alegaram que Salomon usou da pessoa jurídica para
fins de fraude.
Essa teoria sustenta o afastamento temporário da personalidade da pessoa jurídica,
em caso de abuso ou fraude, para permitir que os credores lesados satisfaçam os seus créditos no
patrimônio pessoal dos sócios ou administradores. Lamentavelmente, no Brasil, a teoria não tem
sido bem aplicada, tendo como um dos problemas a confusão que o juiz faz entre desconsideração
e despersonificação.
DESCONSIDERAÇÃO DESPERSONIFICAÇÃO
Para desconsiderar é preciso apontar o Aniquila a pessoa jurídica, em alguns casos ela
cumprimento dos requisitos. A desconsideração pode ser aplicada, é como se fosse a aplicação
é um ato de força, é uma sanção. em último grau da desconsideração.
Continua a existência da pessoa jurídica. Aniquila a pessoa jurídica. 9
EXEMPLO: ativo maior que o passivo não EXEMPLO: despersonificação das torcidas
significa a aplicação da desconsideração. organizadas em SP.

A desconsideração pauta-se no entendimento de que a própria personalidade jurídica é um


atributo estabelecido pelo Direito, para que sejam realizadas atividades econômicas e alcançados
determinados resultados, viabilizando-se a segregação funcional do patrimônio dos sócios em
relação ao patrimônio afeto à atividade. Para a doutrina norte-americana, o privilégio de utilizar a
personalidade jurídica cessa quando essa é utilizada para que os seus sócios possam furtar-se ao
cumprimento de contratos ou, ainda, para justificar o erro, a fraude ou praticar o crime.
A teoria não consiste nem em destruir e nem em questionar o princípio da autonomia
da pessoa jurídica, mas, sim, reforçá-lo, buscando compatibilizar a importância da pessoa
jurídica para o sistema econômico vigente, ao mesmo tempo em que coíbe FRAUDE E
ABUSOS praticados por seu intermédio.
A primeira lei a prever o assunto foi o CDC (artigo 28 – abuso, § 5o. obstáculo ou óbice para
a defesa do consumidor, ou seja, dissociada da ideia de abuso – Lei 8.078) e já vinha sendo aplicada
pela jurisprudência. Sempre está associada a um abuso cometido pelo sócio, usando a pessoa
jurídica para o seu próprio interesse.
A desconsideração prevista no CDC pode ser decorrente das seguintes situações:
a) Decorrente da Teoria Ultra Vires: violação do estatuto social ou atuação dos
administradores fora dos poderes que possuem legalmente;
b) Responsabilização por atos de gestão ordinária: falência, gestão temerária, crime falimentar;
c) Fraude creditoris;
d) Qualquer situação que possa dificultar a reparação dos danos ao consumidor.
Essa desconsideração tem como fundamento lógico-jurídico a vedação do abuso de direito,
já que o direito de propriedade tem função social.
Veja que o item 4 consagra a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica,
hipótese em que ela será permitida pelo simples fato da impossibilidade de se arcar com os danos
ao consumidor por meio do patrimônio social. Logo, não se trata de responsabilidade por qualquer
tipo de ilícito, mas, sim, de responsabilidade patrimonial subsidiária.
O Código Civil, por sua vez, prevê o seguinte:

Art. 50 - Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade


ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público
quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
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determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores
ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada
pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica
com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído
pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios,
caracterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor
proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações
de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput
deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da
atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

 Alterado e ampliado pela Lei da Liberdade Econômica, o dispositivo traz agora critérios
objetivos para a desconsideração da personalidade jurídica. Importante lembrar que a norma não
se aplica à desconsideração em outros sistemas jurídicos, como no CDC, na legislação ambiental
ou na lei anticorrupção.
A mudança promovida pela Lei nº 13.874/2019 no caput do art. 50 foi a seguinte: só se pode atingir
o patrimônio particular do administrador ou do sócio se ficar demonstrado que eles se beneficiaram,
direta ou indiretamente, do abuso da personalidade jurídica.
Assim, é acrescido um novo requisito para que se atinja o patrimônio do administrador ou sócio:
deve ser provado que essa pessoa foi beneficiada com o abuso da personalidade jurídica.

Esses requisitos do art. 50 do CC, mais rígidos do que os demais diplomas pátrios, se
inserem no que se convencionou chamar de teoria maior da desconsideração. Maior porque os
requisitos são mais severos, devem ser demonstrados claramente. Uma vez ausentes, não poderá 11
o juiz superar a separação patrimonial existente entre a entidade e seu membro.
Teoria MAIOR Teoria MENOR
O Direito Civil brasileiro adotou a No Direito do Consumidor e no Direito Ambiental,
chamada teoria maior da adotou-se a teoria menor da desconsideração. Isso
desconsideração. Isso porque o art. 50 porque, para que haja a desconsideração da
exige que se prove o desvio de finalidade personalidade jurídica nas relações jurídicas
(teoria maior subjetiva) ou a confusão envolvendo consumo ou responsabilidade civil
patrimonial (teoria maior objetiva). ambiental, basta provar a insolvência da pessoa
jurídica.
Deve-se provar: De acordo com a Teoria Menor, a
1) Abuso da personalidade (desvio de incidência da desconsideração se justifica:
finalidade ou confusão patrimonial) a) pela
2) Que os administradores ou comprovação da insolvência da pessoa jurídica para
sócios da pessoa jurídica foram o pagamento de suas obrigações, somada à má
beneficiados direta ou indiretamente pelo administração da empresa (art. 28, caput, do CDC);
ou
abuso (novo requisito trazido pela Lei nº b) pelo mero fato de
13.874/2019). a personalidade jurídica representar um obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos
consumidores, nos termos do § 5º do art. 28 do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1735004/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 26/06/2018.

Adotada pelo art. 50 do CC. Art. 4º da Lei n. 9.605/98 (Lei Ambiental).


Art. 28, § 5º do CDC.
A teoria maior se subdivide em duas vertentes:
a) Concepção subjetivista da teoria maior: tradicionalmente, o abuso da personalidade
jurídica que admite sua desconsideração só se caracterizava quando houvesse a prova efetiva da
fraude, ou seja, da atuação dolosa, maliciosa dos sócios em detrimento dos credores da sociedade.
b) Concepção objetivista da teoria maior: surgiu em razão da dificuldade da prova da fraude.
Para essa concepção, o abuso pode ser comprovado através da análise de dados objetivos, como
o desvio de finalidade e a confusão patrimonial. O Código Civil de 2002 adota essa concepção,
sendo desnecessário comprovar o dolo específico do sócio ou administrador que cometera o ato
abusivo. 12
O STF tem julgados nos quais entende que as hipóteses de desconsideração do CC seriam
classificadas em objetiva (confusão patrimonial) e subjetiva (desvio de finalidade). Parte da doutrina
critica a admissibilidade da confusão patrimonial e, mais ainda, da mera insolvência da sociedade
como pressupostos autorizadores da desconsideração, como Daniela Storry Lins, defendendo que
o abuso de direito deveria ser apontado como o pressuposto básico ensejador da aplicação
da teoria, de forma que a mistura patrimonial somente ensejaria a desconsideração se
implicasse o emprego inadequado e antijurídico da pessoa jurídica, explicitando, desse
modo, um verdadeiro abuso de direito. Nesse sentido, o elemento subjetivo se faria necessário
tanto na confusão patrimonial quanto no desvio de finalidade, tornando inaplicável a distinção citada.
Predomina o entendimento de que não se exige o requisito da insolvência para a
desconsideração da personalidade do art. 50 do CC/2002. Nesse sentido: Enunciado 281 CJF: “A
aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do Código Civil, prescinde da
demonstração de insolvência da pessoa jurídica”.
Em que pese a prática se revelar bastante diferente, fato é que a desconsideração da
personalidade deveria ser algo de caráter excepcional (salvo nas situações exceptivas previstas na
legislação), que somente poderia ser decretada, no caso do Direito Civil ou Empresarial, mediante
a efetiva demonstração de vícios que configurem abuso de direito, desvio de finalidade ou confusão
patrimonial. No sentido da excepcionalidade:

 AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL.


ADMISSIBILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. TRANSCRIÇÃO DE EMENTAS. AUSÊNCIA
DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA Nº 282/STF. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. DISSOLUÇÃO IRREGULAR. OCORRÊNCIA. REVISÃO. SÚMULA Nº 7/STJ.

 [...]
 5. A desconsideração da personalidade jurídica, com a consequente invasão no patrimônio
dos sócios para fins de satisfação de débitos da empresa, é medida de caráter excepcional sendo
apenas admitida em caso de evidente caracterização de desvio de finalidade, confusão patrimonial
ou, ainda, conforme reconhecido por esta Corte Superior, nas hipóteses de dissolução irregular sem
a devida baixa na junta comercial (Precedentes: REsp 1.169.175/DF, Rel. Ministro Massami Uyeda,
Terceira Turma, julgado em 17/2/2011, DJe 4/4/2011; AgRg no Ag 867.798/DF, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 21/10/2010, DJe 3/11/2010) 6. Evidenciada a dissolução
irregular da empresa, matéria cuja revisão revela-se inviável em sede de recurso especial tendo em
vista o óbice da Súmula nº 7/STJ, merece ser mantido o redirecionamento. 13
 7. Agravo regimental não provido.
(AgRg no Ag 668.190/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 13/09/2011, DJe 16/09/2011)

LEI ANTITRUSTE 12.529/11

Art. 34. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser
desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei,
fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. P. único: A desconsideração também
será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da
pessoa jurídica provocados por má administração.

LEI AMBIENTAL 9.605/98


Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

O parâmetro para a aplicação está ligado à administração, com desvio de finalidade ou


confusão patrimonial. Com ela, o patrimônio dos sócios passa a responder. Não se exige um prazo
processual específico para aplicação.
Também está relacionada à ideia de abuso. O bem jurídico protegido por essa medida é a
boa-fé dos indivíduos que mantenham relações jurídicas com as pessoas jurídicas.
Os requisitos devem ser comprovados pelo requerente ou MP. A CONCESSÃO DA
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA PODE SER DADA EM QUALQUER
TIPO DE PROCESSO, INCLUSIVE EM SEDE DE MS.
De acordo com entendimento prevalente na jurisprudência, capitaneado no STJ pela
Ministra Nancy Andrighi, a DESCONSIDERAÇÃO PODE SER PEDIDA, INCLUSIVE, DE FORMA
INCIDENTAL NO PROCESSO. O principal argumento que se utiliza é o poder dado ao MP pelo art.
50 do CC para requerê-la em processos em que atua apenas como custos juris. Além disso, não
fica prejudicado o princípio da ampla defesa, à medida que o interessado pode manejar embargos
de terceiros. Em sentido contrário, Fábio Ulhoa Coelho sustenta que é necessário ajuizar uma ação
autônoma em face de quem se pretende atingir.
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A desconsideração pode ser feita liminarmente, mas sempre por meio de decisão
fundamentada.
DESCONSIDERAÇÃO INVERSA: trata-se da situação em que o juiz deverá inversamente
atingir o patrimônio social da pessoa jurídica, que, em verdade, pertence à pessoa física fraudadora.
EXEMPLO: sociedade rica e sócio pobre; o sujeito com receio da partilha de bens com a esposa, vai
colocando os bens pessoais para a sociedade, adquirindo ações. O juiz terá que atingir o patrimônio da
sociedade para “pegar” o sócio. Na desconsideração normal, a sociedade está pobre e o sócio rico.
Para Tartuce, o § 3º do art. 50 acolheu a desconsideração inversa, mas teria sido “mais interessante
adaptá-lo ao art. 133, § 2º, do Código de Processo Civil de 2015, que, ao tratar do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, estabelece que ‘aplica-se o disposto neste Capítulo à
hipótese de desconsideração inversa da personalidade jurídica”.3

DIREITO CIVIL. LEGITIMIDADE ATIVA PARA REQUERER DESCONSIDERAÇÃO.


INVERSA DE PERSONALIDADE JURÍDICA.
Se o sócio controlador de sociedade empresária transferir parte de seus bens à pessoa jurídica

3Disponível em https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI311604,91041-
A+lei+da+liberdade+economica+lei+1387419+e+os+seus+principais. Acesso em 01/10/19.
controlada com o intuito de fraudar partilha em dissolução de união estável, a companheira
prejudicada, ainda que integre a sociedade empresária na condição de sócia minoritária, terá
legitimidade para requerer a desconsideração inversa da personalidade jurídica de modo a
resguardar sua meação. Inicialmente, ressalte-se que a Terceira Turma do STJ já decidiu pela
possibilidade de desconsideração inversa da personalidade jurídica – que se caracteriza pelo
afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na
desconsideração da personalidade jurídica propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu
patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do sócio –, em razão
de uma interpretação teleológica do art. 50 do CC/2002 (REsp 948.117-MS, DJe 3/8/2010). Quanto
à legitimidade para atuar como parte no processo, por possuir, em regra, vinculação com o direito
material, é conferida, na maioria das vezes, somente aos titulares da relação de direito material.
Dessa forma, a legitimidade para requerer a desconsideração é atribuída, em regra, ao familiar que
tenha sido lesado, titular do direito material perseguido, consoante a regra segundo a qual “Ninguém
poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei” (art. 6º do CPC).
Nota-se, nesse contexto, que a legitimidade para requerer a desconsideração inversa da
personalidade jurídica da sociedade não decorre da condição de sócia, mas sim da condição de
companheira do sócio controlador acusado de cometer abuso de direito com o intuito de fraudar a
partilha. Além do mais, embora a companheira que se considera lesada também seja sócia, seria 15
muito difícil a ela, quando não impossível, investigar os bens da empresa e garantir que eles não
seriam indevidamente dissipados antes da conclusão da partilha, haja vista a condição de sócia
minoritária. REsp 1.236.916-RS, 3T, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2013.

DESCONSIDERAÇÃO. PERSONALIDADE JURÍDICA. PROCESSO FALIMENTAR.


Trata-se de REsp em que o recorrente, entre outras alegações, pretende a declaração da
decadência do direito de requerer a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade
empresária falida, bem como da necessidade de ação própria para a responsabilização dos seus
ex-sócios. A Turma conheceu parcialmente do recurso, mas lhe negou provimento, consignando,
entre outros fundamentos, que, no caso, a desconsideração da personalidade jurídica é apenas
mais uma hipótese em que não há prazo – decadencial, se existisse – para o exercício desse direito
potestativo. À míngua de previsão legal, O PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA, QUANDO PREENCHIDOS OS REQUISITOS DA MEDIDA,
PODERÁ SER REALIZADO A QUALQUER MOMENTO. Ressaltou-se que o próprio projeto do novo
CPC, que, de forma inédita, disciplina um incidente para a medida, parece ter mantido a mesma
lógica e não prevê prazo para o exercício do pedido. Ao contrário, enuncia que a medida é cabível
em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e também na
execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 77, parágrafo único, II, do PL n. 166/2010).
Ademais, INEXISTE A ALEGADA EXIGÊNCIA DE AÇÃO PRÓPRIA PARA A
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA, VISTO QUE A SUPERAÇÃO DA
PESSOA JURÍDICA AFIRMA-SE COMO INCIDENTE PROCESSUAL, E NÃO COMO PROCESSO
INCIDENTE, razão pela qual pode ser deferida nos próprios autos da falência. Registrou-se ainda
que, na espécie, a decisão que desconsiderou a personalidade jurídica atinge os bens daqueles ex-
sócios indicados, não podendo, por óbvio, prejudicar terceiros de boa fé. Precedentes citados: REsp
881.330-SP, DJe 10/11/2008; REsp 418.385-SP, DJ 3/9/2007, e REsp 1.036.398-RS, DJe
3/2/2009. REsp 1.180.191-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/4/2011.
A desconsideração da personalidade jurídica de sociedade limitada para se atingir o patrimônio do
quotista NÃO SE LIMITE AO VALOR DE SUAS QUOTAS. Admitir que a execução esteja limitada
às quotas sociais seria temerário, indevido e resultaria na desestabilização do instituto da
desconsideração da personalidade jurídica. Isso se encontra positivado em nosso ordenamento
jurídico no art. 50 do CC/2002 e, nesse dispositivo, não há qualquer restrição acerca de a execução
contra os sócios ser limitada às suas respectivas quotas sociais. Ademais, a desconsideração da 16
personalidade jurídica já havia sido regulamentada no âmbito das relações de consumo no art. 28,
§ 5º, do CDC e há muito é reconhecida pela jurisprudência e pela doutrina por influência da teoria
do disregard of legal entity, oriunda do direito norte-americano. A DESCONSIDERAÇÃO NÃO
IMPORTA DISSOLUÇÃO DA PESSOA JURÍDICA, constitui apenas um ato de efeito provisório
decretado para determinado caso concreto e objetivo, dispondo, ainda, os sócios incluídos no polo
passivo da demanda de meios processuais para impugná-la. O art. 591 do CPC estabelece que os
devedores respondem com todos os bens presentes e futuros no cumprimento de suas obrigações.
(STJ, 3T, REsp 1.169.175-DF, 17/02/2011)

PROCESSO CIVIL. FALÊNCIA. EXTENSÃO DE EFEITOS. SOCIEDADES COLIGADAS.


POSSIBILIDADE. AÇÃO AUTÔNOMA. DESNECESSIDADE. DECISÃO INAUDITA ALTERA
PARTE. VIABILIDADE. RECURSO IMPROVIDO.
1. Em situação na qual dois grupos econômicos, unidos em torno de um propósito comum,
promovem uma cadeia de negócios formalmente lícitos mas com intuito substancial de desviar
patrimônio de empresa em situação pré-falimentar, é necessário que o Poder Judiciário também
inove sua atuação, no intuito de encontrar meios eficazes de reverter as manobras lesivas, punindo
e responsabilizando os envolvidos.
2. É possível ao juízo antecipar a decisão de estender os efeitos de sociedade falida a empresas
coligadas na hipótese em que, verificando claro conluio para prejudicar credores, há transferência
de bens para desvio patrimonial. Inexiste nulidade no exercício diferido do direito de defesa nessas
hipóteses.
3. A extensão da falência a sociedades coligadas pode ser feita independentemente da instauração
de processo autônomo. A verificação da existência de coligação entre sociedades pode ser feita
com base em elementos fáticos que demonstrem a efetiva influência de um grupo societário nas
decisões do outro, independentemente de se constatar a existência de participação no capital social.
4. NA HIPÓTESE DE FRAUDE PARA DESVIO DE PATRIMÔNIO DE SOCIEDADE FALIDA, EM
PREJUÍZO DA MASSA DE CREDORES, PERPETRADA MEDIANTE A UTILIZAÇÃO DE
COMPLEXAS FORMAS SOCIETÁRIAS, É POSSÍVEL UTILIZAR A TÉCNICA DA
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA COM NOVA ROUPAGEM, DE MODO A
ATINGIR O PATRIMÔNIO DE TODOS OS ENVOLVIDOS.
5. Recurso especial não provido.
REsp 1.259.018/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/08/2011,
DJe 25/08/2011) 17
E, por fim, enunciado da IV Jornada de Direito Civil:
Enunciado 283-CJF: É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa”
para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais,
com prejuízo a terceiros.

DESCONSIDERAÇÃO ECONÔMICA, INDIRETA OU SUCESSÃO ENTRE EMPRESAS: é o uso


da desconsideração da personalidade jurídica para atingir outra pessoa jurídica. Esta hipótese foi
prevista § 4º do art. 50 que dispõe: “a mera existência de grupo econômico sem a presença dos
requisitos de que trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa
jurídica”.

 IMPORTANTE: A PESSOA JURÍDICA PODE SUSCITAR SUA PRÓPRIA


DESCONSIDERAÇÃO, A FIM DE QUE SEJAM ATINGIDOS OS PATRIMÔNIOS DE SÓCIOS. Isso
confirma a autonomia existente entre a personalidade da pessoa jurídica e da pessoa dos sócios.
Seria o caso, por exemplo, de uma pessoa jurídica que esteja sendo executada por uma dívida,
mas seu administrador verifica que determinado sócio foi responsável, ilicitamente, pelo surgimento
desta. Assim, o administrador, presentando a pessoa jurídica, pedirá que seja, no caso,
desconsiderada sua personalidade, a fim de atingir patrimônio do sócio.

Isso caiu na prova objetiva do XI concurso para juiz federal do TRF5.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE DE PESSOA JURÍDICA PARA IMPUGNAR


DECISÃO QUE DESCONSIDERE A SUA PERSONALIDADE.
A pessoa jurídica tem legitimidade para impugnar decisão interlocutória que desconsidera sua
personalidade para alcançar o patrimônio de seus sócios ou administradores, desde que o faça com
o intuito de defender a sua regular administração e autonomia – isto é, a proteção da sua
personalidade –, sem se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou administradores
incluídos no polo passivo por força da desconsideração. Segundo o art. 50 do CC, verificado “abuso
da personalidade jurídica”, poderá o juiz decidir que os efeitos de certas e determinadas relações
obrigacionais sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa
jurídica. O referido abuso, segundo a lei, caracteriza-se pelo desvio de finalidade da pessoa jurídica
ou pela confusão patrimonial entre os bens dos sócios/administradores com os da pessoa moral. A
desconsideração da personalidade jurídica, em essência, está adstrita à concepção de moralidade,
probidade, boa-fé a que submetem os sócios e administradores na gestão e administração da
pessoa jurídica. Vale também destacar que, ainda que a concepção de abuso nem sempre esteja 18
relacionada a fraude, a sua figura está, segundo a doutrina, eminentemente ligada a prejuízo,
desconforto, intranquilidade ou dissabor que tenha sido acarretado a terceiro, em decorrência de
um uso desmesurado de um determinado direito. A rigor, portanto, a desconsideração da
personalidade da pessoa jurídica resguarda interesses de credores e também da própria sociedade
indevidamente manipulada. Por isso, inclusive, segundo o enunciado 285 da IV Jornada de Direito
Civil, “a teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela
pessoa jurídica em seu favor”. Nesse compasso, tanto o interesse na desconsideração ou na
manutenção do véu protetor, podem partir da própria pessoa jurídica, desde que, à luz dos requisitos
autorizadores da medida excepcional, esta seja capaz de demonstrar a pertinência de seu intuito,
o qual deve sempre estar relacionado à afirmação de sua autonomia, vale dizer, à proteção de
sua personalidade. REsp 1.421.464-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2014.

Desconsideração da Personalidade Jurídica e NCPC:

DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA


Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da
parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo.
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos
em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da personalidade
jurídica.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de


conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1º A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações
devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for
requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do § 2o.
§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para
desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se
e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão
19
interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida


em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.

Principais pontos sobre a desconsideração da personalidade jurídica:


1. Tem origem no direito anglo-saxônico, tendo sido introduzida no Brasil por Rubens Requião.
2. A desconsideração não fulmina a personalidade da pessoa jurídica; apenas a afasta, de
modo a se atingir o patrimônio dos sócios ou dos administradores.
3. É medida de caráter excepcional.
4. Nas relações civis e empresariais, somente pode ocorrer a pedido das partes ou do MP,
quando oficia no processo, e deve se fundar numa das hipóteses da teoria maior (deve ser
demonstrada a confusão patrimonial ou o desvio de finalidade).
5. Na justiça do trabalho, em causa atinente ao consumo e ao meio ambiente, nas quais
adota-se a teoria menor da consideração, tem se admitido que esta seja declarada ex oficio pelo
juiz da causa.
6. No CDC e em leis ambientais aplica-se a teoria menor, ou seja, pode-se desconsiderar
sempre que for obstáculo à reparação do dano, após exaurido o patrimônio social. No CPC a
desconsideração também pode ocorrer pelo mero fato de a personalidade jurídica representar
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, nos termos do § 5º do art.
28 do CDC. Ainda na legislação esparsa, a Lei Antitruste (nº12.529/2011) também prevê em seu
art. 34 caput e p. único, a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica, contudo,
nesta última se adota a teoria maior (seria da teoria menor caso houvesse, na norma, alguma
menção sobre a caracterização de efeitos danosos a terceiros).
7. A própria pessoa jurídica pode pedir sua desconsideração para atingir patrimônio de sócio
(em decorrência da autonomia de sua personalidade jurídica).
8. Ela pode ocorrer por simples petição incidental, em qualquer tipo de processo, até mesmo
em mandado de segurança. Pode ser pedida liminarmente.
9. Pode-se fazer a desconsideração inversa, atingindo-se o patrimônio social que era do
sócio, mas transferiu indevidamente para a pessoa jurídica como forma de lesar seus credores.
10. Descabe, por ampliação ou analogia, sem qualquer previsão legal, trazer para a
desconsideração da personalidade jurídica os prazos decadenciais para o ajuizamento das ações
revocatória falencial e pauliana. Não há prazo decadencial.
11. É possível desconsiderar a personalidade jurídica da empresa controladora para poder 20
penhorar bens, de forma a quitar débito da sua controlada (Resp 1.141.447, 3ª Turma).
12. No mesmo sentido, a extensão dos efeitos da falência à empresa coligada para reparar
credores, haja vista o conluio fraudulento entre as empresas com a transferência de bens, de modo
a frustrar a execução concursal, promovendo o encerramento da empresa endividada (Resp
1.259.018).
13. É possível desconsiderar a personalidade jurídica para se atingir o patrimônio de outras
pessoas jurídicas, já que podem ser sócias (Resp 1.259.018).
14. A execução contra sócio da empresa que teve sua personalidade jurídica
desconsiderada não se limita ao valor de sua cota social.
15. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e
requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias (art. 135 do CPC).
16. A desconsideração da personalidade jurídica é medida cabível em sede de
execução, ainda que não tenha sido discutida no processo de conhecimento (STJ, Resp
920602/DF).
17. A desconsideração da personalidade não atinge indiscriminadamente todos os sócios,
mas apenas aquele que se beneficiou do ato abusivo (Enunciado n. 07 das JDC).
18. A aplicação da teoria da desconsideração do art. 50 CC dispensa a demonstração de
insolvência da pessoa jurídica? 1º Corrente: SIM (enunciado 281 CJF). O STJ alterou a sua
jurisprudência e já pacificou que a inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não
é condição para a instauração do procedimento que objetiva a desconsideração:

RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.


CPC/2015. PROCEDIMENTO PARA DECLARAÇÃO. REQUISITOS PARA A INSTAURAÇÃO.
OBSERVÂNCIA DAS REGRAS DE DIREITO MATERIAL.
DESCONSIDERAÇÃO COM BASE NO ART. 50 DO CC/2002. ABUSO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. DESVIO DE FINALIDADE. CONFUSÃO PATRIMONIAL.
INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR. DESNECESSIDADE DE SUA COMPROVAÇÃO. 1. A
desconsideração da personalidade jurídica não visa à sua anulação, mas somente objetiva
desconsiderar, no caso concreto, dentro de seus limites, a pessoa jurídica, em relação às pessoas
ou bens que atrás dela se escondem, com a declaração de sua ineficácia para determinados efeitos,
prosseguindo, todavia, incólume para seus outros fins legítimos.
2. O CPC/2015 inovou no assunto prevendo e regulamentando procedimento próprio para a
operacionalização do instituto de inquestionável relevância social e instrumental, que colabora com
a recuperação de crédito, combate à fraude, fortalecendo a segurança do mercado, em razão do
acréscimo de garantias aos credores, apresentando como modalidade de intervenção de terceiros
21
(arts. 133 a 137)
3. Nos termos do novo regramento, o pedido de desconsideração não inaugura ação autônoma,
mas se instaura incidentalmente, podendo ter início nas fases de conhecimento, cumprimento de
sentença e executiva, opção, inclusive, há muito admitida pela jurisprudência, tendo a normatização
empreendida pelo novo diploma o mérito de revestir de segurança jurídica a questão.
4. Os pressupostos da desconsideração da personalidade jurídica continuam a ser estabelecidos
por normas de direito material, cuidando o diploma processual tão somente da disciplina do
procedimento. Assim, os requisitos da desconsideração variarão de acordo com a natureza da
causa, seguindo-se, entretanto, em todos os casos, o rito procedimental proposto pelo diploma
processual.
6. Nas causas em que a relação jurídica subjacente ao processo for cível-empresarial, a
desconsideração da personalidade da pessoa jurídica será regulada pelo art. 50 do Código Civil,
nos casos de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela
confusão patrimonial.
7. A inexistência ou não localização de bens da pessoa jurídica não é condição para a instauração
do procedimento que objetiva a desconsideração, por não ser sequer requisito para aquela
declaração, já que imprescindível a demonstração específica da prática objetiva de desvio de
finalidade ou de confusão patrimonial. 8. Recurso especial provido.
(REsp 1729554/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
08/05/2018, DJe 06/06/2018)

19. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins não econômicos
estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica (Enunciado 284 da CJF).
20. A desconsideração da pessoa jurídica é matéria sob reserva de jurisdição ou a
administração pública pode desconsiderar de ofício? Em regra, a desconsideração é matéria
jurisdicional, salvo em situações excepcionalíssimas admitidas pela doutrina (Gustavo Tepedino) e
pela jurisprudência (STJ, RMS n 15.166/BA) em caso grave de fraude4.

Enunciado 7, CJF: Somente se aplica a desconsideração em relação aos sócios e/ou


administradores que hajam incorrido na prática da conduta abusiva.

Enunciado 284, CJF: As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins
não econômicos estão abrangidas no conceito de abuso de personalidade.

Enunciado 248-FPPC: Quando a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na


petição inicial, incumbe ao sócio ou a pessoa jurídica, na contestação, impugnar não somente a 22
própria desconsideração, mas também os demais pontos da causa.

Enunciado 390 FPPC: Resolvida a desconsideração da personalidade jurídica na sentença,


caberá apelação.

Enunciado 247 FPPC: Aplica-se o incidente de desconsideração da personalidade jurídica no


processo falimentar.

4 ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. LICITAÇÃO. SANÇÃO DE


INIDONEIDADE PARA LICITAR. EXTENSÃO DE EFEITOS À SOCIEDADE COM O MESMO OBJETO SOCIAL,
MESMOS SÓCIOS E MESMO ENDEREÇO. FRAUDE À LEI E ABUSO DE FORMA. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA NA ESFERA ADMINISTRATIVA. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA MORALIDADE
ADMINISTRATIVA E DA INDISPONIBILIDADE DOS INTERESSES PÚBLICOS.
- A constituição de nova sociedade, com o mesmo objeto social, com os mesmos sócios e com o mesmo endereço, em
substituição a outra declarada inidônea para licitar com a Administração Pública Estadual, com o objetivo de burlar à
aplicação da sanção administrativa, constitui abuso de forma e fraude à Lei de Licitações Lei n.º 8.666/93, de modo a
possibilitar a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica para estenderem-se os efeitos da sanção
administrativa à nova sociedade constituída. A Administração Pública pode, em observância ao princípio da
moralidade administrativa e da indisponibilidade dos interesses públicos tutelados, desconsiderar a
personalidade jurídica de sociedade constituída com abuso de forma e fraude à lei, desde que facultado ao
administrado o contraditório e a ampla defesa em processo administrativo regular. Recurso a que se nega
provimento.
(RMS 15166/BA, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2003, DJ 08/09/2003, p. 262)
CESPE, 2018: “Situação hipotética: João e José são sócios da empresa J&J Comércio de
Produtos Eletrônicos Ltda. — J&J —, sendo o primeiro sócio administrador. Afetados pela crise
econômica que se instaurou no Brasil no ano de 2016, eles encerraram, de forma irregular, as
atividades da pessoa jurídica e, em seguida, abriram a empresa C&M Eletrônica Ltda., em outro
ponto da cidade, tendo sido integralizado o capital desta com os bens da empresa J&J. Os credores
da empresa J&J são exclusivamente fornecedores. Assertiva: Nessa situação, segundo o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o encerramento, de forma irregular, das atividades
da sociedade J&J é, por si só, causa para que os credores indiquem como caracterizada a
desconsideração da personalidade jurídica, na forma do Código Civil.”
ERRADO

 CUIDADO: Enunciado 282 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: Art. 50: O encerramento
irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso da
personalidade jurídica.

O Direito Civil brasileiro adotou a chamada teoria maior da desconsideração. Isso porque o
art. 50 exige, além da insolvência, que se prove o desvio de finalidade (teoria maior subjetiva) ou a
confusão patrimonial (teoria maior objetiva). 23
CESPE, 2018: “A desconsideração inversa é caracterizada pelo afastamento da autonomia
patrimonial da sociedade, resultando na execução de bens da sociedade por obrigações pessoais
de um de seus sócios.”
CERTO

6. ENTES DESPERSONALIZADOS

Entes despersonalizados são universalidades que têm quase tudo de uma pessoa jurídica,
mas lhes falta a personalidade jurídica. Exemplos: espólio, massa falida e condomínio. Espólio e
massa falida são universalidades de bens, o primeiro já se transmitiu aos herdeiros, mas de maneira
indivisa (inventário e arrolamento servem para viabilizar a divisão). O condomínio é uma agregação
de pessoas, que são os condôminos, mas que não ganha personalidade jurídica.
Esses entes despersonalizados podem praticar vários atos: podem estar em juízo (CPC),
podem praticar ato de alienação, mas não têm personalidade jurídica (parte da doutrina diz que têm
uma personalidade jurídica parcial ou restrita).
A falta de personalidade não é causa, evidentemente, de desobrigação da reparação de
ilícitos porventura perpetrados. Nunca será possível aos gestores do ente despersonalizado
invocar essa situação jurídica para se esquivar dos deveres legais.

7. CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS

A Classificação das Pessoas Jurídicas visa a estabelecer uma sistemática para facilitar o estudo do
assunto:
a) Pessoas jurídicas de direito público (artigos 41 e 43): Externo – Estados, organismos
internacionais; Interno – entes políticos, autarquias e demais pessoas de caráter público criadas por lei.

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:


I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se
tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, 24
pelas normas deste Código.

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as
pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos
dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo
contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Note que o CC/02 não prevê expressamente a fundação pública como pessoa jurídica de
direito público interno; quem o faz é a Constituição, e isso por entendimento doutrinário.
b) Pessoas jurídicas de direito privado (artigo 44) – o CC/02 fez uma distinção entre
sociedades e associações. Esse artigo já foi alterado para a inclusão das organizações religiosas e
dos partidos políticos (Lei 10.825/03), bem como para a inclusão da EIRELI (Lei 12.441/11).
 Sociedades (teoria da empresa, atividade econômica organizada);
 Associações (sem finalidade lucrativa);
 Fundações;
 Organizações religiosas;
 Partidos políticos;
 EIRELI.

7.1. ASSOCIAÇÕES

As associações são pessoas jurídicas que reúnem pessoas para fins não econômicos, mas as
suas finalidades não são altruísticas. Sempre se discutiu se no quadro de associados poderia ou
não haver pessoas jurídicas. Classicamente, estava restrita a pessoas naturais; o CC/02 não
estabelece essa restrição, mas os doutrinadores estão defendendo que, pelo regramento
exposto, não é possível a participação de pessoas jurídicas. Podem até gerar renda, mas é
revertida para a própria associação. Exemplo: associações de bairro, terceiro setor. Associação
não tem sócio.

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não
econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.

Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário.


Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a
25
transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao
adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto.

Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha
sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto.

Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5
(um quinto) dos associados o direito de promovê-la.

A associação já nasce com um quadro associativo, mas é possível aos associados dispor
em seus atos constitutivos: se, como e quando será admitida a participação de novos associados.
Aqui cabe uma importante ressalva feita pela CR/88 (o CC não faz): as exigências de associação
não podem ser discriminatórias injustificadamente.
O associado pode ser obrigado a deixar a associação, ou seja, ser excluído/expulso na forma
que o estatuto deliberar – quais os motivos e condições, razões de sua expulsão etc. Note-se que
deve haver também uma razoabilidade no estabelecimento desses motivos.
A exclusão de associado só é possível se houver respeito ao princípio do contraditório e
da ampla defesa. Nesse sentido, aliás, o art. 57 do CC.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.

Durante a permanência do associado na associação, o artigo 55 do CC garante que aos


associados se assegurem iguais direitos, embora possam os estatutos instituir categorias com
vantagens especiais. Ou seja, determinados direitos são básicos a todos os associados; o que o
estatuto da associação pode fazer é estabelecer categorias de sócios (remido).
O órgão máximo da associação é a Assembleia Geral, que tem sua competência definida no
artigo 59 do CC.

Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral:


I – destituir os administradores;
II – alterar o estatuto.
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido
deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o
estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores.

A dissolução da associação será feita na forma que o estatuto estabelecer e por questões legais.
O problema reside na existência de patrimônio (artigo 61 do CC). O patrimônio líquido
26
(ou seja, primeiro serão pagas as dívidas, de modo que o direito de retirada, pelos associados,
dos valores que contribuíram para formação do patrimônio, depende de previsão no ato
constitutivo) será destinado:
1o. Para uma entidade de fins não econômicos, como determinado no estatuto;
2o. Para uma entidade pública municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou
semelhantes, na omissão do estatuto;
3o. Arrecadados como bens vagos (Fazenda Pública do Estado, do Distrito Federal ou da
União), caso não haja entidade pública nos termos do item anterior.
No caso de morte de associado, O LEGISLADOR DISTINGUE A QUALIDADE DE
PROPRIETÁRIO, DE FORMA QUE O PATRIMÔNIO PODE SER TRANSFERIDO AO SUCESSOR
sem, com isso, atribuir a qualidade de associado a quem se transmite.
Ex.: falece uma pessoa e o estatuto não prevê a possibilidade de transmissão, de forma que
o filho não será associado, mas se tornará proprietário da fração patrimonial do seu pai; se NÃO
FOSSE ISSO, O CÓDIGO SERIA INCONSTITUCIONAL, POR VIOLAR O DIREITO INDIVIDUAL
E FUNDAMENTAL À HERANÇA. O Código não poderia dizer que o patrimônio do associado não
vai ser transmitido aos herdeiros.
Então ele separou: a qualidade de associado é personalíssima, se o contrário não for
previsto; a qualidade de proprietário não – essa é transmissível.
Então, em síntese, eu teria um filho condômino, mas não associado; um filho que é
proprietário, mas não é associado.
Caberá à associação ou comprar o patrimônio dele, ou autorizar que ele transmita o
patrimônio junto com a qualidade de associado para um terceiro, ou, então, extinguir o condomínio.
Veja, quando esse associado tem, vamos supor, 1% do patrimônio de uma associação que,
em muitos casos, significa muito dinheiro, ele não é associado, mas ele é condômino, posso não
ser associado, mas parte desse patrimônio é minha. E aí um direito potestativo que se atribui a
condômino é o direito de extinguir o condomínio, relativamente às suas quotas.

7.2. FUNDAÇÕES

As fundações previstas no artigo 62 do CC são as de direito privado (a de direito público é


estudada no Direito Administrativo). As fundações resultam da afetação de um patrimônio, por
testamento ou escritura pública, feita pelo seu instituidor, especificando a sua finalidade. As
fundações nascem de uma afetação patrimonial; começam a nascer quando uma pessoa separa
de seu patrimônio um ou alguns bens para destiná-lo à fundação (ato de instituição). Ou seja, é o
patrimônio que irá adquirir personalidade jurídica.
27
São, portanto, três os elementos nucleares de uma fundação: patrimônio, finalidade e
afetação do patrimônio a uma finalidade específica.
As fundações não têm sócios ou associados. Terão um instituidor e administradores.
A constituição é feita por escritura pública ou testamento, com indicação de bens que
serão transferidos.
Se houver a recusa do instituidor, os interessados poderão ajuizar demanda objetivando
uma sentença substitutiva da vontade.

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento,
dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a
maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: (Redação dada pela
Lei nº 13.151, de 2015)
I – assistência social;
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III – educação;
IV – saúde;
V – segurança alimentar e nutricional;
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável;
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas
de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos;

VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos;


IX – atividades religiosas;

 IMPORTANTE: há dois enunciados da Jornada I de Direito Civil, promovida pelo Centro de


Estudos Judiciários do CJF a respeito do citado dispositivo: Enunciado 8: “A constituição de
fundação para fins científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida
no Código Civil, art. 62, parágrafo único.”. Enunciado 9: “O CC 62 par.ún., deve ser interpretado de
modo a excluir apenas as fundações de fins lucrativos”. Tais enunciados evidenciam o caráter
meramente exemplificativo do rol contemplado no citado dispositivo legal.

Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a 28
transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão
registrados, em nome dela, por mandado judicial.

Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
(REQUISITOS CUMULATIVOS)
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias,
findo o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do
interessado. (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)

Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os
administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão
que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias.

As fundações somente podem ser constituídas para fins ideais, não podendo ter finalidade
lucrativa; é claro que podem produzir renda, mas esta deve ser reinvestida na própria fundação.
Não pode haver pro labore ou divisão de lucros (artigo 62, parágrafo único, CC).
A fundação é feita pela afetação de um patrimônio, ou seja, o patrimônio é deslocado para
a formação da fundação, é uma parcela de patrimônio que se personifica. Pode ser instituída por
pessoa física ou jurídica.
Fases de constituição da fundação:
a) Afetação de bens livres;
b) Instituição por escritura pública ou testamento;
c) Elaboração do ato normativo constitutivo = estatuto;
d) Aprovação pela autoridade competente;
e) Registro civil do estatuto da fundação.
Os bens devem ser livres e desembaraçados, bem como suficientes ao objetivo da fundação.
Se os bens forem insuficientes para dar nascimento à fundação, serão entregues a outra
fundação que se proponha a fim igual ou semelhante, salvo se o instituidor não dispuser de
outra forma (artigo 63).
Praticado o ato de instituição, ainda não nasceu a fundação, depende-se de um estatuto que
deve ser levado a registro. O estatuto pode ser elaborado: pelo instituidor no ato de instituição
(elaboração direta); pelo instituidor em ato posterior (elaboração direta); por terceiro incumbido pelo
instituidor (elaboração fiduciária); pelo MP, no prazo de 180 dias, se não for elaborado no prazo
estabelecido pelo instituidor ou se não houver prazo (parágrafo único do artigo 65). 29
A aprovação será feita pelo MP, ficando dispensada caso o próprio “parquet” tenha sido o
responsável pela elaboração. O MP é o órgão de fiscalização por excelência nas fundações.

Artigo 66. Velará pelas fundações o MP do Estado onde situadas.


§ 1º Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios. (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)
§ 2o. Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo em cada um deles, ao
respectivo MP.

As fundações não têm quadro responsável pelas deliberações de gestão, p. ex. não podem vender
seus bens sem a fiscalização do MP e com autorização judicial.
Em qualquer caso, exceto quando ele elabore, os estatutos devem ser submetidos ao MP.
A extinção das fundações (artigo 69) poderá ocorrer nos seguintes casos:
a) Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação;
b) Vencido o prazo de sua existência;
A promoção de extinção pode ser feita pelo MP ou por qualquer interessado, incorporando-
se seu patrimônio em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou
semelhante, se outra não for a previsão no ato constitutivo ou no estatuto.
É CABÍVEL A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DE
FUNDAÇÕES? SIM, ASSIM COMO A DE QUALQUER ESPÉCIE DE PESSOA JURÍDICA, POIS
O ART. 50 DO CC APLICA-SE ÀS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO EM GERAL,
NÃO SE LIMITANDO ÀS SOCIEDADES.

CESPE, 2019: “A modificação de regra prevista em estatuto de fundação privada deve ser
aprovada pela maioria absoluta das pessoas responsáveis pela gerência da fundação e somente
produzirá efeitos após decisão homologatória do Poder Judiciário.”
ERRADO

 CUIDADO: De acordo com o art. 67 do CC, a modificação de regra prevista em estatuto de


fundação privada deve ser aprovada por dois terços dos competentes para gerir e representar a
fundação, e, além disso, o Código Civil não fala em homologação pelo juiz, mas em aprovação pelo
órgão do Ministério Público.
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7.2.1. UNIVERSITAS BONORUM E UNIVERSITAS PERSONARUM

Segundo Rosenvald e Farias, quanto à estrutura interna, as pessoas jurídicas classificam-se em:
a) Universitas bonorum: cuja estrutura interna é composta de um patrimônio destinado,
afetado, a uma finalidade específica que lhe dá unidade, como são as fundações;
b) Universitas personarum: compostas, em sua teia orgânica estrutural, por um conjunto de
pessoas que se unem ao derredor de uma finalidade comum, como nas corporações.
Daí ser lícito afirmar que as pessoas jurídicas podem ser corporações ou fundações. As corporações
englobam as sociedades e as associações. A ideia de corporação se opõe à ideia de fundação.
As corporações são formadas por grupamento de pessoas, ligadas por um sentimento comum
(affecio societatis), tendendo a um desiderato único. São pessoas que, percebendo as vantagens
do associativismo, buscam alcançar mais facilmente determinado resultado. As fundações são fruto
da destinação patrimonial, almejando um fim lícito, consubstanciando a vontade do titular de vê-lo
funcionalizado a uma finalidade.

7.3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS


As organizações religiosas podem se estruturar como bem entenderem, porque o CC/02
afirma que a sua organização administrativa não sofre limitações (deve estar respeitada a liberdade
de credo e de culto religioso). O conceito de organizações religiosas deve ser restritivo.
Somente as associações (sociedades civis sem fins lucrativos) e fundações são tratadas na
Parte Geral, e as sociedades são tratadas no capítulo de Direito da Empresa, que trata também
da sociedade irregular (de fato). Subsidiariamente, aplicam-se à Parte Geral as regras do Direito
de Empresa.

CESPE, 2018: “O ordenamento assegura a liberdade de criação e funcionamento das


organizações religiosas, mas isso não impede que o Poder Judiciário analise a compatibilidade dos
atos praticados por essas instituições com a lei e com seus respectivos estatutos.”
CERTO

8. RESPONSABILIDADE CIVIL

Responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público (art. 43, CC/02 e art. 37,
par. 6º, CR/88) – fundada na teoria do Risco Administrativo (objetiva), retirando os elementos
subjetivos (dolo e culpa), bastando o nexo de causalidade entre o dano e a conduta. Note-se que a
CR equipara, para responsabilidade, as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço
31
público. Em caso de dolo ou culpa do agente causador do dano, a pessoa jurídica de direito público
terá direito ao regresso.
A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado é regulada pelas regras gerais
da teoria da responsabilidade civil. Em regra, ela será subjetiva, salvo no exercício de atividades
de alto risco.
Responsabilidade dos administradores (artigos 47 a 49) – aqui se trata de regras genéricas
– as específicas estão no Direito de Empresa. Os atos do administrador praticados em
conformidade com estatutos ou contrato social dão ensejo à responsabilidade da pessoa
jurídica; se for em desconformidade, a sua responsabilidade é pessoal (art. 47), aplicando-se a teoria
ultra vires.
 Administração coletiva (art. 48) – pode ser deliberada pela maioria dos presentes, salvo
se for estipulado o contrário no estatuto ou no contrato social.
 Administração provisória (art. 49) – impedimento momentâneo; pode ser estabelecida
pelo juiz.
Teoria da aparência: pessoas que negociam em nome da pessoa jurídica, tendo aparente
legitimidade para tal, obrigam esta a cumprir os atos assumidos perante terceiros, com fundamento
na teoria da aparência. Assim, a pessoa jurídica terá direito de regresso contra quem praticou o ato.
Essa teoria, no que se refere à alienação de direitos reais, encontra previsão expressa no CC/02:

Art. 1.268 - Feita por quem não seja proprietário, a tradição não aliena a propriedade, exceto
se a coisa (...) for transferida em circunstancias tais que, ao adquirente de boa fé, como a qualquer
pessoa, o alienante se afigurar dono.

9. DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA

As pessoas jurídicas de direito privado terão seu domicílio no local previsto no estatuto ou no
contrato social, sendo o local de sua sede. Se for o ato constitutivo omisso, observa-se o inciso IV
do art. 75.

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:


I - da União, o Distrito Federal;

II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;


III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e
administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. 32
§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados.

Súmula 363, STF: “A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio
da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato”. Trata-se do princípio da autonomia
do estabelecimento.

§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da


pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.

O artigo 53 do CPC trata dessa questão, afirmando que será competente o foro do local no
qual a pessoa jurídica tenha estabelecido relações jurídicas que tenham sido entabuladas (no local)
com autonomia. EXEMPLO: Bradesco tem sede em Osasco/SP. As relações jurídicas que se
estabelecerem com autonomia em Manaus poderão lá ser resolvidas, mas se se tratar de uma
dissolução de sociedade, evidentemente, a competência será do local da sede, porque não há
subsidiária ou sucursal com essa autonomia.
10. EXTINÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS

Formas de dissolução da pessoa jurídica – as previstas na doutrina vão continuar


existindo, mas o CC/2002 não se preocupou em listar o rol (natural, judicial, administrativa, legal,
consensual). O CC/2002 fala da necessidade de liquidação da pessoa jurídica (art. 51).
a) Convencional – é aquela deliberada entre os próprios sócios, respeitado o estatuto ou o
contrato social;
b) Administrativa – resulta da cassação da autorização de funcionamento, exigida para
determinadas sociedades se constituírem e funcionarem;
c) Judicial – nesse caso, observada uma das hipóteses de dissolução previstas em lei ou no
estatuto, o juiz, por iniciativa de qualquer dos sócios, poderá, por sentença, determinar a sua extinção.

Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu
funcionamento, ELA SUBSISTIRÁ PARA OS FINS DE LIQUIDAÇÃO, ATÉ QUE ESTA SE
CONCLUA.
§ 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.
§ 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais

33
pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.

São hipóteses de dissolução da pessoa jurídica (art. 1.033):


a) Decurso do prazo, se constituída por prazo determinado, salvo se, vencido este e sem
oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo
indeterminado;
b) Deliberação unânime dos sócios, se antes de findo o prazo nas sociedades por tempo
determinado (art. 1.033, II);
c) Deliberação da maioria absoluta dos sócios, nas sociedades por prazo indeterminado (art.
1.033, III);
d) Falta de pluralidade de sócios, caso não seja reconstituída no prazo de 180 dias (art.
1.033, IV) (resguardado o direito de se transformar em EIRELI);
e) Perda de autorização para funcionar (art. 1.033, V);
f) Falecimento do sócio na sociedade individual ou na empresa individual de
responsabilidade limitada.
Encontrou algum equívoco ou desatualização neste material? Por favor, informe-nos
enviando um e-mail para materiais@themas.com.br. Não esqueça de indicar o curso em que você
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ANOTAÇÕES
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