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DIREITO CIVIL

PERSONALIDADE JURÍDICA
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SUMÁRIO

1. CONCEITO....................................................................................................................................3
2. PESSOA FÍSICA OU NATURAL.......................................................................................................3
2.1 O NASCITURO............................................................................................................................4
2.1.1 Conceito..............................................................................................................................4
3. A CAPACIDADE E OS CONCEITOS CORRELATOS............................................................................9
3.1 INCAPACIDADE........................................................................................................................12
4. EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL...............................................................................18
5. EMANCIPAÇÃO..........................................................................................................................20
6. PESSOA JURÍDICA......................................................................................................................23
6.1 CONCEITO...............................................................................................................................23
6.2 TEORIAS EXPLICATIVAS E NATUREZA JURÍDICA........................................................................24
6.3. SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA (COMENTÁRIOS AO ART. 45 DO CC)...............................25
6.4 PRINCIPAIS ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO........................................26
7. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO..............................................................................37
8. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA..........................................................................................................37
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ATUALIZADO EM 04/03/2022

PERSONALIDADE JURÍDICA

1. CONCEITO

A personalidade jurídica é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na


órbita jurídica. Segundo Clóvis Beviláqua, em sua Teoria do Direito Civil, mais do que um processo psíquico é
um conceito jurídico fundamental. Tanto a pessoa física quanto a jurídica é dotada de personalidade. É atributo
e não qualidade de todo ser humano, já que as pessoas jurídicas também são dotadas de personalidade.

2. PESSOA FÍSICA OU NATURAL

Inicialmente, antes de aprofundarmos essa temática, uma pergunta se impõe: em que momento a
pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica? Essa resposta, aparentemente, encontra-se na primeira
parte do artigo 2º do Código Civil, que diz: “a personalidade civil da pessoa começa no nascimento com vida”.
Vale dizer, a partir do funcionamento do aparelho cardiorrespiratório. Nascendo, portanto, com vida,
considerar-se-ia adquirida a personalidade. Todavia, a segunda parte do artigo 2º torna a matéria mais
complexa, ao considerar que o nascituro (aquele ainda não nascido) teria direitos desde a concepção. Ora,
nesse contexto, não teria o nascituro também personalidade jurídica?

*#OUSESABER: O que se entende por estado civil da pessoa natural? Segundo Orlando Gomes, o estado da
pessoa natural é a noção técnica destinada a caracterizar as situações jurídicas dos indivíduos nos mais
diversos contextos sociais. Há três modalidades básicas de estados civis, são elas: (i) estado político: considera
a situação jurídica do indivíduo em face do Estado nacional, ou seja, se ele é nacional, estrangeiro ou apátrida;
(ii) estado individual: é definido de acordo com características físicas, psicológicas, etárias e comportamentais,
classificando-os  em: maiores e menores, do sexo feminino e masculino, capazes e incapazes; (iii) estado
familiar: analisa a posição ocupada pelo indivíduo em uma família, não somente sob a perspectiva do
matrimônio, mas também em relação ao parentesco. Cumpre destacar que essa modalidade de estado civil
deve ser definida sob a perspectiva de um conceito de família aberto e eudemonista.

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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2.1 O NASCITURO

2.1.1 Conceito

Lembrando a Doutrina de Limongi França, o nascituro é aquele que está por nascer, mas já concebido
no ventre materno (é o ente com vida intrauterina). O embrião congelado não. Só quando ele é colocado no
útero.

OBS.: Natimorto e concepturo. O nascituro não pode ser confundido com o natimorto, ou seja, o nascido morto,
assim como não pode ser confundido com o concepturo, ou seja, aquele que nem concebido foi ainda (prole
eventual). O enunciado diz que não se pode lançar no lixo o natimorto porque isso viola a sua imagem. Mesmo
nascido morto ele goza de proteção jurídica.

Art. 2º: a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da
personalidade, tais como nome, imagem e sepultura. (Enunciado nº 1 da 1ª Jornada de Direito Civil)

Afinal de contas, qual a natureza jurídica do nascituro? Ele tem ou não personalidade jurídica? Trata-se
de questionamento que desafia uma acesa polêmica. Fundamentalmente, três teorias tentam explicar a
natureza jurídica do nascituro:

a) Teoria Natalista (Vicente Ráo, Sílvio Rodrigues, Eduardo Espínola): a personalidade somente seria adquirida a
partir do nascimento com vida independentemente da forma humana e de um tempo mínimo de sobrevida, de
maneira que o nascituro, por não ser considerado pessoa, teria mera expectativa de direto.

OBS.: Ainda que se adote a primeira teoria, é importante frisar, à luz do princípio da dignidade da pessoa
humana e na perspectiva da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que a aquisição da personalidade
independe da forma humana e de um tempo mínimo de sobrevida (pela mesma razão, o art. 30 do Código Civil
da Espanha experimentou uma recente reforma para afastar esses requisitos violadores da dignidade humana).
O antigo artigo dizia que só teria vida se houvesse forma humana e 24 horas de vida.

b) Teoria da personalidade condicional (Serpa Lopes): o nascituro gozaria de uma personalidade material para
efeito de titularizar direitos personalíssimos (a exemplo do direito à vida), mas somente consolidaria direitos
materiais, econômicos ou patrimoniais sob a condição de nascer com vida. Em outras palavras, o nascituro
somente consolidaria a sua plena personalidade sob a condição de nascer com vida. O nascituro seria pessoa no
que tange o direito à vida (direitos personalíssimos), mas não seria para adquirir direitos materiais.
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*Maria Helena Diniz diz que o nascituro tem uma personalidade material (mantém relação com
direitos patrimoniais e o nascituro só a adquire com o nascimento com vida) e uma personalidade formal
(relacionada com os direitos da personalidade, o que o nascituro já tem desde a concepção).

Na prática, se o nascituro morre dentro do ventre não adquire direitos sucessórios. Ele tem direito à
vida, pré-natal. É mais aplicada na jurisprudência. Ela é confusa, pois considera o nascituro pessoa para certos
direitos e para outros não.

c) Teoria concepcionista (Clóvis Beviláqua, Silmara Chinelato): A terceira teoria, ao longo do tempo, vem
ganhando mais espaço no Brasil. É a mais corajosa. Considera o nascituro pessoa desde a concepção, inclusive
em face de direitos materiais 2. Essa teoria ganhou grande força a partir da aprovação da Lei n.º 11.804/08 – Lei
dos alimentos gravídicos – na medida em que o nascituro é, expressa e imediatamente, contemplado por um
importante direito material, mesmo não tendo ainda nascido com vida. Você pode fazer uma doação ao
nascituro, e quando ele nasce essa doação é consolidada. O nascimento apenas consolida direitos que já
existem. Nos últimos anos, a Teoria Concepcionista vem ganhando ainda mais força, conforme podemos notar
nas decisões do STJ que admitem em favor do nascituro o reconhecimento do dano moral (REsp 399028/SP).
Exemplo: perdeu o pai e não pode conhecê-lo. Recebe indenização no mesmo valor que os irmãos que
conheceram o pai (Nancy). Reforçando ainda mais a linha concepcionista, o STJ também tem admitido o
pagamento da indenização do seguro DPVAT (independente de culpa) em favor dos pais pela morte do
nascituro (noticiário de 15 de maio de 2011, REsp 1120676 de Santa Catarina).

OBS.: Qual Teoria foi adotada pelo CC? Trata-se de um questionamento ainda permeado por uma acesa
polêmica. A regra do Código Civil que trata do nascituro (art. 2º) é extremamente semelhante à regra do código
anterior (art. 4º). Clóvis Beviláqua, em seus comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil (Ed. Rio,
1975, pág. 178), afirmava que a Teoria Concepcionista teria os melhores argumentos, mas o CC teria adotado a
Natalista “por parecer mais prática”. Em nosso sentir, esta abalizada opinião ainda é atual: o código pretende
adotar a natalista, mas sofre inequívoca influência concepcionista.

*#ATENÇÃO: Em nosso sentir, mesmo após o julgamento da ADI 3.510 (Lei de Biossegurança – Lei n.º
11.105/2005), a polêmica quanto à natureza do nascituro e as suas teorias ainda continua. No âmbito da ADI em
questão, o Supremo Tribunal Federal julgou constitucional o art. 5º da lei de Biossegurança, o qual permite a
pesquisa com células-tronco embrionárias humanas (para fins de pesquisa e terapia), produzidas através da
fertilização in vitro, desde que inviáveis ou congeladas há três anos ou mais, sendo necessária a prévia
autorização dos genitores. O STF adotou a Teoria Natalista para justificar a constitucionalidade do art. 5º da Lei
de Biossegurança, pois com base nela o embrião fertilizado in vitro não é considerado nascituro e, portanto, não

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Há doutrinadores que entendem em sentido contrário.
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tem direitos e deveres, podendo ser manipulados (respeitados os termos da lei). O que infelizmente a lei não
tratou foi a natureza jurídica que esses embriões possuem.

c.1) A teoria Concepcionista e a jurisprudência brasileira

Especialmente nos últimos anos a Teoria Concepcionista (que considera o nascituro pessoa) vem
ganhando força no direito brasileiro:

1. O nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida, à proteção pré-natal, etc);
2. Pode receber doação;
3. Pode ser beneficiado por legado e herança;

#DEOLHONOEXEMPLO: Um rapaz vai para o carnaval de Salvador, se encanta por uma moça, tem relação sexual
com ela. Volta para o Paraná e 5 meses depois, descobre a gravidez. Ia visitá-la e no caminho para o aeroporto,
morre. O Rapaz era muito rico. Quem herdará a herança dele? O filho (o nascituro pode ser beneficiado por
herança). Acontece que no oitavo mês de gestação, ocorre um aborto espontâneo. Quem herda? No atual
estágio do nosso direito, é necessário nascer com vida para consolidar o direito à herança, eventualmente
transmitindo-o. Como foi dito, a Teoria Concepcionista AINDA está ganhando força. Assim, ainda não se admite
a transmissibilidade direta para a mãe do nascituro, de modo que ocorrendo o aborto, os pais do jovem
paranaense serão os herdeiros.

4. Pode-lhe ser nomeado curador para a defesa de seus interesses. É o que prevê o art. 1.779 do CC: “dar-
se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar ”. Esse tipo de
curatela visa garantir os direitos do nascituro assim como propõe o art. 2º do CC, porém não existe um motivo
claro para a nomeação de curador visto que o nascituro é menor incapaz e seria mais adequado nomear um
tutor. Apesar de o artigo não expressar com detalhes, não é necessário o pai falecer, bastando ser ele
desconhecido, ausente ou incapaz para caber nomeação, e, no caso da gestante se encontrar interditada, seu
curador será também o curador do nascituro (Art. 1.779, parágrafo único);
5. Código Penal tipifica o crime de aborto (tutela a vida do nascituro);
6. Nascituro tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição da paternidade;
7. Lei dos “alimentos gravídicos” (Lei n.º 11.804/2008) confere ao nascituro o direito aos alimentos, que
não é meramente personalíssimo, mas também tem seu condão econômico 3.

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Art. 2º. Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do
período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação especial,
assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. Parágrafo
único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à parte das despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai,
considerando-se a contribuição que também deverá ser dada pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos
[...]Art. 6º - Convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que perdurarão até o
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8. Reconhecimento do dano moral ao nascituro (REsp. 399028/SP, REsp. 931556/RS).
9. A possibilidade de indenização pelo seguro DPVAT em razão da morte do nascituro (REsp. 1120676/SC,
Info. STJ de 15/05/11).

Vale acrescentar ainda que no REsp. 1415727/SC, o relator Ministro Luiz Felipe Salomão salienta o
crescimento da importância e da influência da Teoria Concepcionista no Brasil (recomenda-se leitura).

*#AJUDAMARCINHO: DIZER O DIREITO – É cabível indenização do DPVAT por morte do feto em acidente de
trânsito: mais um passo rumo à teoria Concepcionista.

Em que consiste o DPVAT?

O DPVAT é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por
sua carga, a pessoas, transportadas ou não.

Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua
carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os
passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros.

Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. No carro
1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram.
O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de
DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de DPVAT
por invalidez.

Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os
herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente.

O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais.

Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei?

• no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima)


• no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima)

nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré. Parágrafo único. Após o
nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma
das partes solicite a sua revisão. Art. 7º - O réu será citado para apresentar resposta em 5 (cinco) dias.
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• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso a cada vítima.

Desse modo, a Lei n.º 6.194/74 (Lei do DPVAT) afirma que somente deverão ser pagas indenizações nas
situações de morte, invalidez permanente e despesas de assistência médica e suplementares.

Em se tratando de morte, quem receberá a indenização serão os herdeiros do falecido, na forma do art. 792 do
Código Civil: “Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não
prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o
restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária”.

Morte de nascituro

A Lei do DPVAT prevê que a indenização será paga aos herdeiros em caso de morte, não falando
expressamente em situações de morte de nascituro (feto). Isso sempre gerou intensas polêmicas: quando a lei
fala em morte, inclui o aborto, ou seja, o fim da existência do feto?

Imagine que Maria estava dirigindo seu carro quando se envolveu em um acidente que ocasionou o aborto do
feto de 4 meses que estava esperando. Maria terá direito de receber a indenização do DPVAT pela morte do
nascituro?
SIM. O STJ decidiu que a beneficiária legal de seguro DPVAT que teve a sua gestação interrompida em razão de
acidente de trânsito tem direito ao recebimento da indenização prevista no art. 3º, I, da Lei 6.194/1974, devida
no caso de morte.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.415.727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547).

OBS.: já havia outro precedente do STJ no mesmo sentido:

(...) 1 - Atropelamento de mulher grávida, quando trafegava de bicicleta por via pública, acarretando a morte do
feto quatro dias depois com trinta e cinco semanas de gestação. 2 - Reconhecimento do direito dos pais de
receberem a indenização por danos pessoais, prevista na legislação regulamentadora do seguro DPVAT, em face
da morte do feto. 3 - Proteção conferida pelo sistema jurídico à vida intrauterina, desde a concepção, com
fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana. 4 - Interpretação sistemático-teleológica do conceito
de danos pessoais previsto na Lei nº 6.194/74 (arts. 3º e 4º). (...) (STJ. 3ª Turma. REsp 1120676/SC, Rel. p/
Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 07/12/2010)

A resposta a essa indagação passa pela discussão sobre a natureza jurídica do nascituro.
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O art. 2º do CC/2002 estabelece o seguinte: “Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”.

Podemos destacar três teorias principais que tentam explicar esse dispositivo:

NATALISTA PERSONALIDADE CONDICIONAL CONCEPCIONISTA


A personalidade jurídica se inicia
com a concepção, muito embora
A personalidade jurídica só se inicia A personalidade civil começa com o alguns direitos só possam ser
com o nascimento. O nascituro não nascimento com vida, mas o plenamente exercitáveis com o
pode ser considerado pessoa. Só nascituro titulariza direitos nascimento.
será pessoa quando nascer com submetidos à condição suspensiva O nascituro é pessoa desde o
vida. (ou direitos eventuais). momento em que ele é concebido
(o nascituro é um sujeito de
direitos).
O nascituro tem apenas O nascituro possui direitos sob
O nascituro possui direitos.
expectativas de direitos. condição suspensiva.
Sílvio Rodrigues, Caio Mário, Sílvio Washington de Barros Monteiro, Silmara Chinellato e a grande
Venosa. Arnaldo Rizzardo. maioria da doutrina

*#NOVIDADELEGISLATIVA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 904, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2019 - Dispõe sobre a


extinção do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres -
DPVAT e do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou por suas Cargas - DPEM, de
que trata a alínea "l" do caput do art. 20 do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966.
Art. 1º Ficam extintos, a partir de 1º de janeiro de 2020, os seguintes seguros obrigatórios de que trata a alínea
"l" do caput do art. 20 do Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966:
I - o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres - DPVAT; e
II - o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou por sua Carga - DPEM.

*CUIDADO: A aludida Medida Provisória foi suspensa pelo STF. O relator da ação, o ministro Edson Fachin,
atendeu pedido do partido Rede Sustentabilidade, que argumentou que a extinção apenas poderia ser feita por
meio de projeto de lei complementar e não medida provisória.

No REsp 1.415.727-SC, o Min. Relator Luis Felipe Salomão (sempre genial) afirmou expressamente que, em sua
opinião, “o ordenamento jurídico como um todo – e não apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se mais à
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teoria concepcionista para a construção da situação jurídica do nascituro, conclusão enfaticamente sufragada
pela majoritária doutrina contemporânea”.

Para o Ministro, mesmo que se diga que a personalidade jurídica se inicia com o nascimento, ainda assim é forço
concluir que o nascituro já deve ser considerado como pessoa. Caso contrário, não se vislumbraria nenhum
sentido lógico na fórmula “a personalidade civil da pessoa começa” (art. 2º), se ambas – pessoa e personalidade
civil – tivessem como começo o mesmo acontecimento.

Portanto, o aborto causado pelo acidente de trânsito subsume-se ao comando normativo do art. 3º, I, da Lei
6.194/74, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida
intrauterina.

Trata-se de mais um passo rumo à plena adoção da teoria CONCEPCIONISTA pelos Tribunais brasileiros.

3. A CAPACIDADE E OS CONCEITOS CORRELATOS

Grande parte do que aprendemos na faculdade deve ser rasgado e jogado no lixo. A matéria foi
reescrita a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência, sendo algo ABSOLUTAMENTE NOVO.

Inicialmente, vale lembrar a distinção existente entre capacidade e legitimação.

A capacidade é conceito mais amplo, que nos conduz a uma aptidão geral reconhecida em lei para
atuar na vida jurídica. Tradicionalmente, subdivide-se em capacidade de direito/gozo e capacidade de fato/de
exercício. A capacidade de direito é a aptidão para titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, de
modo que toda pessoa (por ter personalidade jurídica) tem capacidade de direito. Ademais, se a pessoa tiver
capacidade para praticar pessoalmente os atos da vida civil, terá também a capacidade de fato, possuindo
capacidade plena.

CAPACIDADE DE DIREITO+ CAPACIDADE DE FATO= CAPACIDADE PLENA

Diferentemente, a legitimação é específica, traduzindo uma pertinência subjetiva (Calmon de Passos)


para a prática de certos e determinados atos. Exemplo: Uma pessoa pode ser CAPAZ, mas não ter LEGITIMAÇÃO
para a prática de certo ato. Seria o caso de dois irmãos que, a despeito de serem maiores e capazes, não podem
casar entre si.
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*#NÃOCONFUNDIR: Legitimação é capacidade especial para determinado ato ou negócio jurídico. Já a
legitimidade é capacidade processual, um dos pressupostos processuais, nos moldes do NCPC (art. 17, NCPC).

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146 de 06 de Julho de 2015) reconstruiu a teoria da
capacidade civil.

Até então, os arts. 3o e 4o do Código Civil brasileiro, dispondo sobre incapacidade absoluta e relativa,
respectivamente, inseriam a deficiência como causa de incapacidade civil.

Ainda que o título do Estatuto diga “da pessoa com deficiência”, ele diz respeito a todos nós. Antes, a
pessoa com deficiência era direcionada a uma presunção de incapacidade. O que o estatuto fez foi desconstruir
um paradigma, pois, a partir de sua entrada em vigor, as pessoas que eram rotuladas de incapazes, passam a
ser consideradas LEGALMENTE CAPAZES, independente do seu grau de deficiência e ainda que necessite de um
representante ou curador para praticar os atos da vida social.

O Estatuto desconstrói um paradigma!

A partir do Estatuto da pessoa com deficiência, operou-se uma verdadeira desconstrução ideológica: a
pessoa com deficiência (art. 2o do EPD) passa a ser considerada legalmente capaz, ainda que para atuar
necessite do auxílio de institutos protetivos/assistenciais, tais como a tomada de decisão apoiada e a curatela
(excepcional) (arts. 6º e 84 do EPD).

*IMPORTANTE: REFORÇANDO: NÃO SE CHAMA MAIS, NO BRASIL, PESSOA COM DEFICIÊNCIA DE INCAPAZ.

Para que se possa perceber a dimensão do Estatuto, confira-se o teor de seus artigos 2º, 6 º e 84, nos
quais a capacidade civil da pessoa com deficiência é expressamente reafirmada.

Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e
interdisciplinar e considerará:
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação.
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§ 2o O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre
reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas.

Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade
de condições com as demais pessoas.
§ 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.
§ 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada.
§ 3o A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às
necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.
§ 4o Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o
balanço do respectivo ano.

OBS.: O estatuto considera a curatela (art. 85) medida extraordinária, que só será aplicada quando
rigorosamente necessário. Além disso, a curatela é limitada à prática de atos patrimoniais ou negociais (ex.: a
venda de imóvel).

Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
§ 1o A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade,
à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
§ 2o A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua
definição, preservados os interesses do curatelado.
§ 3o No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a
pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STJ #OLHAOGANCHO: O art. 1.783 do CC prevê que se o curador for o cônjuge
do curatelado e eles forem casados sob o regime da comunhão universal, em regra, ele não será obrigado à
prestação de contas dos bens administrados durante a curatela, “salvo determinação judicial” que o obrigue a
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prestar. O STJ identificou duas situações nas quais o juiz poderá determinar a prestação de contas. Assim, o
magistrado poderá (deverá) decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse
prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando: a) houver qualquer indício ou dúvida de
malversação dos bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio de seu patrimônio, no caso de bens
comuns; e b) se tratarem de bens incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.515.701-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 637).

Outra novidade é a possibilidade de se nomear mais de um curador para a mesma pessoa (curatela
compartilhada), como, por exemplo, a nomeação de pai e mãe curadores de um filho maior com deficiência.

Diversos direitos foram reconhecidos, no âmbito da educação, da família, da vida política, garantias de
mobilidade e acessibilidade, enfim, uma verdadeira CONSOLIDAÇÃO das conquistas obtidas pela convenção
sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (Convenção de Nova York, a qual, junto com seu protocolo
facultativo, é a uma convenção com status constitucional, aprovada pelo rito do Art.5º, §3º, da CF 4).

3.1 INCAPACIDADE

Ora, com o reconhecimento da capacidade legal da pessoa com deficiência, os arts. 3 o e 4o do CC/2002
sofreram profunda modificação, uma vez que, como dito, a deficiência não é mais causa de incapacidade civil.

CC/2002 ANTES DO EPD/2015 CC/2002 DEPOIS DO EPD/2015


Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental,
pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
não tiverem o necessário discernimento para a
(dezesseis) anos [menores impúberes].
prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não
puderem exprimir sua vontade.

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos
ou à maneira de os exercer: ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
anos; anos [menores púberes];

4
*Importante lembrar que em 2015, o Brasil ratificou o Tratado de Marraquexe, tendo sido internalizado na forma do
art. 5, §3º, da CF e, portanto, é o segundo tratado com status de emenda constitucional do país.
14
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
que, por deficiência mental, tenham o
III - aqueles que, por causa transitória ou
discernimento reduzido;
permanente, não puderem exprimir sua vontade;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
completo;
IV - os pródigos.
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será
Parágrafo único. A capacidade dos índios será
regulada por legislação especial. (Redação dada
regulada por legislação especial.
pela Lei nº 13.146, de 2015)

A partir do EPD, a única hipótese de incapacidade civil absoluta é a do menor impúbere, abaixo dos 16
anos, e, além disso, as hipóteses de incapacidade relativa não contemplam mais a deficiência.

*ATENÇÃO: O inciso III, do art. 4 o foi mal posicionado (erro topográfico), uma vez que é errôneo considerar
como apenas “relativamente incapaz” aquele que não pode exprimir vontade alguma, a exemplo de quem está
em coma, o surdo-mudo que não consegue se expressar e o idoso com mal de Alzheimer.

Finalmente, observe-se que o parágrafo único do art. 4 o estabelece que a capacidade dos INDÍGENAS é
regulada por legislação especial (ver art. 8 o da Lei 6.001/1973).

Comentários ao art. 3º e 4º do Código Civil:

Como visto, todas as hipóteses de incapacidade por deficiência desapareceram. Salientamos, nos
termos do novo sistema normativo, a impropriedade do inciso III do art. 4º, na medida em que pessoas
impedidas de exprimir vontade, a exemplo de quem está em coma, não poderiam ser consideradas apenas
relativamente incapazes. Ainda tratando da incapacidade relativa, observamos que os pródigos continuam
contemplados na norma.

O que se entende por pródigo?

Segundo Clóvis Beviláqua, pródigo é aquele que desordenadamente gasta o seu patrimônio, podendo
reduzir-se à miséria. Em geral, decorre de transtorno de personalidade, uma compulsão (pessoa viciada em
jogatinas, por exemplo).

Nos termos do art. 1.782 do CC, por conta da sua relativa incapacidade, poderá ser nomeado um
curador ao pródigo, que irá assisti-lo apenas em atos de conteúdo patrimonial (emprestar dinheiro, transigir,
dar quitação, alienar bens, hipotecar ou agir em juízo). Vale acrescentar ainda que o pródigo tem liberdade para
15
casar ou manter união estável, de maneira que o seu curador apenas deverá se manifestar quanto ao regime de
bens escolhido. Assim, não pode o curador intervir em escolhas existenciais do pródigo.

OBS.:: Não é imposto ao pródigo que se casa o regime de separação total de bens de origem legal/obrigatória,
pois ele não consta no rol taxativo do art. 1.641 do CC. No entanto, Flávio Tartuce entende que para a realização
do Pacto Antenupcial o pródigo deverá ser assistido, por tratar-se de ato de disposição de seus bens, sob pena
de anulabilidade do ato (art. 171, I, do CC).

*#JÁCAIUEMPROVA: Prova MP/MG – O processo de constitucionalização do direito civil resultou no


reconhecimento de que a pessoa, e não o patrimônio, está no epicentro do sistema normativo brasileiro. Nessa
perspectiva, à luz do princípio da dignidade da pessoa humana, o professor Luiz Edson Faquin elaborou a tese
“Estatuto jurídico do Patrimônio Mínimo” (falou Fachin, falou patrimônio mínimo. Samba na cara do
examinador!!), segundo a qual as normas civis devem resguardar um mínimo patrimonial para que cada pessoa
tenha uma vida digna. Esse pensamento justifica as normas de proteção do pródigo e as normas referentes à
impenhorabilidade do bem de família.

Outro ponto digno de nota é no sentido de que a idade avançada, por si só, não é causa de
incapacidade civil. Além disso, a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência, se juntamente com a idade
avançada houver deficiência mental ou intelectual, como vimos, não será caso de incapacidade civil (a pessoa
continuará sendo legalmente capaz).

Assim, por exemplo, se o pai de João, o Sr. Joaquim, tem 93 anos e é portador de uma deficiência
mental, ainda assim é considerado legalmente capaz, embora possa ser nomeado um curador para representá-
lo quanto a atos negociais ou patrimoniais.

OBS.: “restitutio in integrum” ou benefício de restituição – segundo Clóvis Beviláqua esse instituto tem origem
romana e consiste no benefício concedido aos menores e às pessoas que se lhe equiparam, a fim de poderem
anular quaisquer atos válidos sob outros pontos de vista, nos quais tenham sido lesadas. Não veio no CC de
1916 nem no de 2002. A regra é a já exposta. Pablo: Essa expressão pode ser utilizada no sentido de restituição
integral de um dano no âmbito da responsabilidade civil. Todavia, em Theoria Geral, Clóvis Beviláqua, tratava-se
de um benefício, criado no Direito Romano, concedido a menores e incapazes, no sentido de se poder anular um
ato válido, sob a simples alegação de prejuízo. Esse benefício, em verdade, tratando-se de um negócio válido,
violaria a própria segurança jurídica. O CC/16 expressamente o proibia, e, embora o código de 2002 seja silente,
a doutrina entende que esta proibição continua mantida.
16
OBS.: o que se entende por “estado de pessoas”? Segundo Orlando Gomes, a noção de status coliga-
se a de capacidade. O status é uma qualidade jurídica decorrente da inserção de um sujeito numa categoria
social, da qual derivam, para este, direitos e deveres.

OBS.: Redução da maioridade civil: no âmbito do direito e família, não implica cancelamento
automático da pensão alimentícia (REsp 347010/SP, REsp 442502/SP, HC 55606/SP), na medida em que deve
acompanhar o alimentando, em regra, até a conclusão dos seus estudos. Ademais, a súmula 358 do STJ
estabelece que o cancelamento da pensão exige o contraditório, não podendo, portanto, ser automático.
Súmula 358, STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão
judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos. O STJ decidiu que pós- graduação não autoriza a
manutenção da pensão. Já no âmbito previdenciário, formou-se entendimento no sentido de que a redução da
maioridade civil não altera os limites etários para a percepção de benefício previdenciário previsto em norma
especial (ver nota SAJ 42/2003, e Enunciado 03 da 1ª Jornada de Direito Civil). Se a lei previdenciária manda
pagar até 21 anos, ela prevalece e a redução do CC não se aplica. Enunciado 3: Art. 5º: a redução do limite
etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que
regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de
proteção, previstas em legislação especial.

Suprimento da Incapacidade5

O suprimento da Incapacidade Absoluta se dá através do instituto da Representação, enquanto a


Incapacidade Relativa é suprida através da Assistência.

R I A = Representação para Incapacidade Absoluta

R I A = Assistência para Incapacidade Relativa

Efeitos da Redução da Maioridade Civil:

5
A seguinte assertiva foi considerada correta (TJPR/2017): Em algumas situações, o ato-fato jurídico praticado pelo menor
absolutamente incapaz produz efeitos.
17
O art. 5º do Código Civil estabelece que a maioridade é atingida aos 18 (dezoito) anos completos,
quando a pessoa fica habilitada para todos os atos da vida civil. Segundo Washington de Barros Monteiro, a
maioridade é alcançada no primeiro instante do dia do aniversário. O mesmo autor afirma que, ignorada a data
de nascimento, deverá ser feito exame médico para a verificação da maioridade, e, havendo dúvida, pender-se-
á pela capacidade (“in dubio pro capacitate”).

Redução da Maioridade Civil e Pensão Alimentícia:

A redução da maioridade civil (dos 21 para os 18 anos) causou a acentuada polêmica, especialmente
no âmbito dos alimentos. A jurisprudência do STJ já se consolidou (REsp 347.010 – SP, HC 55.606 – SP, Súmula
358) no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica o cancelamento automático da pensão
alimentícia. A título de complementação de pesquisa, vale lembrar que conforme o parâmetro geral da
jurisprudência, a pensão alimentícia é paga até a conclusão dos estudos.

Em suma: O STJ entende ser vedada a exoneração automática da obrigação alimentar quando o credor
da obrigação atinge a maioridade civil (18 anos), pois a simples maioridade não significa que o filho não irá mais
depender do pai. Deve ser dada a oportunidade de o alimentando se manifestar e comprovar, se for o caso, a
impossibilidade de prover sua subsistência.

*#SELIGANASÚMULA: Nesse sentido está o Enunciado da Súmula n.º 358 do STJ: “O cancelamento de pensão
alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que
nos próprios autos”.

OBS.: Para o STJ, nos termos do REsp 131.2706-AL, a obrigatoriedade de pagar pensão não alcança os estudos
de pós-graduação. Finalmente, o mesmo tribunal tem defendido a tese dos alimentos transitórios (REsp
1388955 – RS), segundo a qual os alimentos entre ex-cônjuges ou ex-companheiros, tendo o credor saúde e
aptidão para o trabalho, são temporários (o juiz fixa prazo para o pagamento da pensão alimentícia).

Redução da maioridade civil e Benefícios Previdenciários:

Segundo forte entendimento doutrinário, as normas previdenciárias são especiais, de maneira que um
eventual auxílio ou benefício deve ser pago até o limite previdenciário estabelecido (enunciado 3 da I Jornada
de Direito Civil). Assim, a redução da maioridade civil para 18 anos não influencia no âmbito previdenciário.

“Enunciado 3 da I Jornada de Direito Civil: Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade
civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de
18
dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em
legislação especial”.

“Art. 16, I, da Lei 8.213/91: São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de
dependentes do segurado: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer
condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou
deficiência grave”.

Redução da maioridade civil e ECA

De acordo com o art. 121, §5º, da Lei 8.069/90, “a internação constitui medida privativa da liberdade,
sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento [...] § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade”. Esse dispositivo não foi
revogado com a redução da maioridade civil.

*#IMPORTANTE: “A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio
do qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de
idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC. Para que a curatela seja instituída, é necessária a
instauração de um processo judicial por meio de uma ação de interdição. É necessário que o juiz nomeie
curador especial ao interditando?
• Se a ação de interdição for proposta pelo MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide (curador especial), nos
termos do art. 1.179 do CPC.
• Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado: NÃO é necessária a nomeação de curador à lide
porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando (art. 1.770 do CC)”.
STJ 4ª Turma. REsp 1.099.458 - PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Informativo 553, STJ –
2015).

*#CUIDADO #NCPC #ENTENDIMENTONÃOPREVALECE: Segundo comentários do Dizer o Direito no livro “Vade


Mecum de Jurisprudência”, tal entendimento não prevalece com o NCPC. Nos termos no NCPC, o interditando
poderá constituir advogado para defendê-lo no processo, e somente se ele não apresentar advogado, é que o
Juiz irá nomear curador especial (art. 752, §2º, NCPC). O papel de curador especial será exercido pela
Defensoria Pública (art. 72, par. único, NCPC e art. 4º, XVI, LC 80/94). Salienta-se que a atuação da Defensoria
Pública como curadora especial não exige que o réu seja hipossuficiente economicamente. Nesses casos do art.
72 do NCPC, entende-se que o réu ostenta hipossuficiência jurídica, sendo, portanto, necessária a atuação da
Defensoria Pública. Assim, novamente, questiona-se: É necessário que o juiz nomeie curador especial ao
interditando? O entendimento jurisprudencial exposto no REsp 1099-458/PR NÃO PREVALECE com o NCPC,
19
não importando, para fins de curador especial, se a ação foi proposta ou não pelo MP. è RESUMINDO: O
critério é a constituição ou não de advogado pelo interditando.

4. EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL

A extinção da pessoa natural se opera com a morte, nos termos do art. 6º do CC. Trata-se de um
assunto de alta complexidade, com implicações profundas de ordem filosófica ou científica, objeto, ainda, de
um especial ramo da medicina legal, a tanatologia. (ver Manual de Medicina Legal de Delton Croce e Delton
Croce Jr.). O critério que a comunidade científica mundial tem utilizado para a definição do óbito é a morte
encefálica (ver resoluções 1480/97 e 1826/2007 do Conselho Federal de Medicina 6).

Vale lembrar, nos termos do art. 77 da Lei de Registros Públicos, que a morte deve ser declarada por
um médico e, onde não houver, por duas testemunhas. Essa declaração é registrada no Livro de Óbitos do
Cartório de Registro Civil.

OBS.: no contexto do tema “extinção da pessoa natural”, vale indagar: o que se entende por testamento vital
ou obstinação terapêutica ou morte digna (living will ou declaração de vontade antecipada)? Em linhas gerais,
podemos conceituar o testamento vital como o ato jurídico por meio do qual o paciente manifesta, prévia e
expressamente, o desejo de querer ou não receber determinado tratamento médico no momento em que
estiver incapacitado para manifestar livremente a sua vontade. (ver resolução 1995/2012 do CFM). Na opinião
de Stolze, ele salvaguarda a dignidade da pessoa humana.

Morte presumida (#DICA: BASTA A LEITURA DO CÓDIGO):

a) Com decretação de Ausência: a primeira hipótese de morte presumida é a ausência, regulada na segunda
parte do art. 6º e a partir do art. 22 do CC. Ocorre quando a pessoa desaparece do seu domicilio sem deixar
notícia ou representante que administre seus bens. Vale registar que é no momento da abertura da sucessão
definitiva dos bens do ausente que ele é considerado presumidamente morto. A sentença de ausência é
registrada em Livro próprio, e não no livro de óbitos, no Cartório do domicílio anterior do ausente, a teor do
art. 94 da Lei de Registros Públicos. Não é causa de incapacidade.

Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos
em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

6
http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1997/1480_1997.htmhttp://www.portalmedico.org.br/resolucoes/
cfm/2007/1826_2007.htm
20
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado
representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer
interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.

b) Sem decretação de ausência (há indícios de morte): O art. 7º do CC estabelece hipóteses de presunção de
morte, que não se confundem com a ausência, na medida em que, não há um simples desaparecimento, mas
também fundados elementos da morte, a despeito do corpo não haver sido encontrado. Vale acrescentar que
tais hipóteses de morte são analisadas em um procedimento de justificação, em que o juiz deve empreender
todas as buscas, fixando a data provável do falecimento. Há 2 hipóteses: extrema probabilidade de morte e 2
anos após guerra. Aqui se registra do Livro de óbito. Se ele aparecer, tem que entrar com um processo novo.

Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:


I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término
da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de
esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

#EXCEÇÃO #CUIDADO #OUSESABER: As hipóteses de morte presumida sem declaração de ausência estão
previstas apenas no cc? NÃO, as hipóteses de morte presumida independentemente de declaração de ausência
estão previstas no art. 7º do Código Civil. Segundo a lei, as hipóteses são as seguintes:

- Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;


- Se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término
da guerra.

Porém, outra hipótese menos conhecida está prevista no art. 1º da Lei 9.140/95, que assim prevê: "são
reconhecidos como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas que tenham participado, ou tenham sido
acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988,
e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, desde então, desaparecidas, sem
delas haja notícias".
21
Assim, as hipóteses não estão apenas previstas no Código Civil, pois a Lei 9.140/95 também prevê situação de
morte presumida sem declaração de ausência, como afirma Flávio Tartuce em seu livro de Manual de Direito
Civil.

Comoriência:

Inicialmente, não podemos confundir a comoriência com a premoriência. A premoriência significa


precedência da morte. A comoriência, por sua vez, traduz uma situação de morte simultânea, ou seja, se duas
ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa averiguar qual dos comorientes precedeu aos
outros, presumem-se simultaneamente mortos (art. 8º, CC).

*#IMPORTANTE: a presunção da comoriência somente é aplicada se não se puder indicar a ordem cronológica
das mortes. Só há interesse se forem da mesma família, inserindo-se numa questão sucessória. A morte tem
que ocorrer no mesmo lugar? Não. Apenas na mesma ocasião. Ex.: se um morreu primeiro, ele passa todo o
patrimônio para o que morreu depois. Havendo morte simultânea, no entanto, abrem-se cadeias sucessórias
autônomas e distintas, de modo que um comoriente nada herda do outro.

5. EMANCIPAÇÃO

Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os
atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público,
independentemente de homologação judicial (VOLUNTÁRIA), ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o
menor tiver dezesseis anos completos (JUDICIAL).
II - pelo casamento; (16 anos)
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

É instituto também previsto em diversos sistemas jurídicos do mundo, inclusive o alemão, o português
e o suíço. A emancipação, que poderá ser voluntária, judicial ou legal (art5º, parágrafo único, CC), é instituto
jurídico por meio do qual se antecipam os efeitos da capacidade civil plena.
22
OBS.: segundo Washington de Barros Monteiro, a maioridade é atingida no primeiro instante do dia em que se
completa aniversário.

a) Voluntária (art. 5º, Parágrafo único, inciso I, primeira parte): é aquela concedida pelo ato de ambos os pais ou
de um deles, na falta do outro, em caráter irrevogável, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, desde que o menor tenha, pelo menos, 16 anos completos.

OBS.: mesmo no caso em que apenas um detenha a guarda do filho, exige-se a autorização de ambos os pais,
salvo no caso de falta de um deles. Até porque, a guarda não exclui o poder familiar daquele que não a tem.

*#ATENÇÃO: embora o CC seja silente, a doutrina (Venosa), bem como a própria jurisprudência (REsp
122573/PR, AgRg AG 123957/RJ), apontam no sentido de que na emancipação voluntária, diversamente da
legal, os pais permanecem solidariamente responsáveis pelos ilícitos cometidos pelo filho emancipado até
que complete 18 anos de idade.

b) Judicial (art. 5º, Parágrafo único, inciso I, segunda parte): trata-se da emancipação concedida pelo juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver 16 anos completos (art. 91 LRP - o juiz deve comunicar a emancipação
concedida ao oficial de registro no prazo de oito dias; a partir desse registro cartorário o ato produzirá efeitos).

*#ATENÇÃO: Quem emancipa o menor sob tutela não é o tutor, é o juiz. Na voluntária, se houver
discordância o juiz também decide, mas nesse caso Pablo entende que não é judicial propriamente dita. Aqui é
conseguida pela sentença. Na outra, mesmo com a participação do juiz, é a mãe que vai levar no cartório.

*Enunciado 397 Jornada de Direito Civil: “A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está
sujeita à desconstituição por vício de vontade”.

c) Legal ( art. 5º, Parágrafo único, incisos II a V):

c.1) Casamento: emancipa por força de lei. As pessoas podem casar, com autorização, a partir dos 16 anos.

Art. 1520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art.
1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.

*#NOVIDADELEGISLATIVA: Lei nº 13.811, de 12.3.2019 7 - Confere nova redação ao art. 1.520 da Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para suprimir as exceções legais permissivas do casamento infantil. 

7
Para mais informações, vide: https://www.dizerodireito.com.br/2019/03/lei-138112019-altera-o-codigo-civil.html
23
Art. 1º: O art. 1.520 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), passa a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não atingiu a idade núbil, observado o
disposto no art. 1.517 deste Código.” (NR).

OBS.: Mesmo que haja divórcio ou separação, o emancipado não retorna à situação de incapacidade, na
medida em que tais atos projetam os seus efeitos para o futuro. Por outro lado, se o casamento for invalidado,
o emancipado retorna à situação de incapaz? A invalidação ataca o casamento na origem. Segundo a melhor
doutrina (Tartuce, Simão, Zeno Veloso), a sentença que invalida o casamento o atinge ab initio, de maneira
que, por consequência, a emancipação perderá a eficácia, ressalvada a hipótese de o juiz considerar o
casamento putativo.

c.2) Emprego público efetivo: por lógica, o cargo público também emancipa.

*#ATENÇÃO8: importante ressaltar a controvérsia em torno deste inciso, exposta de forma clara por
Anderson Almeida, em publicação no Jus Brasil:
No que diz respeito à emancipação por força do exercício de emprego público efetivo, nos termos do
artigo 5º, parágrafo único, III, do Código Civil de 2002, esse é bastante controverso em dias atuais, pois
apesar de haver essa possibilidade devidamente expressa em lei de um menor emancipado poder assumir
um cargo público, atendidos os devidos dizeres constitucionais, os concursos públicos atuais em seus
respectivos editais exigem a idade mínima para a posse de candidato , devidamente aprovado em seu
certame público, em tese, contar com idade mínima não inferior a 18 anos. Logo, mesmo que devidamente
emancipado, seja por qualquer das possibilidades previstas no artigo  5ª do Código Civil de 2002, o menor
seria ainda considerado incapaz para o exercício de emprego público efetivo, levando em consideração as
responsabilidades civis que acarretam o respectivo cargo.

Mas como observamos na jurisprudência pátria, o tema comporta suas controvérsias, pois vejamos:
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. PRELIMINAR. LEGITIMIDADE. CONCURSO PÚBLICO. EXIGÊNCIA
DE IDADE MÍNIMA DE DEZOITO ANOS PARA A POSSE. MENOR ANTECIPADO. SUPERVENIÊNCIA DAQUELA
IDADE. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. SEGURANÇA CONCEDIDA. Investindo a segurança contra exigência
feita no edital, a autoridade que o subscreve é legitimada passivamente para a causa. A emancipação de
menor, aprovado em concurso público, atende o requisito de idade mínima de 18 anos para posse em cargo
público, incidindo o princípio da razoabilidade. Ademais, o impetrante, posteriormente à impetração,
completou 18 anos de idade. Segurança concedida para, afastada exigência do edital quanto à idade,
assegurar ao impetrante o direito à posse. (MSG n. 2010.00.2.002136-5. Conselho Especial. Rel. Des. MARIO
MACHADO. DJU de 14/07/2010. p. 58).
8
https://andersonmaiaalmeida.jusbrasil.com.br/artigos/111757461/emancipacao-as-duvidas-de-uma-juventude-transviada
24
Podemos destacas ainda mais:

CONSTITUCIONAL – ADMINISTRATIVO – AÇÕES CAUTELAR E DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - CONCURSO PÚBLICO


– TÉCNICO LEGISLATIVO – CANDIDATO MENOR DE DEZOITO ANOS – POSSE – POSSIBILIDADE – EMANCIPAÇÃO
- EXCEPCIONALIDADE. 1. Muito embora seja assente o entendimento de que é razoável a fixação da idade
mínima de 18 (dezoito) anos para a investidura em cargo público, tratando-se de candidato emancipado e,
portanto, apto ao exercício de todos os atos da vida civil, mostra-se indevida a recusa em dar-lhe posse no
cargo para o qual foi aprovado, sobretudo quando este, por força de antecipação de tutela, vem exercendo
suas funções há mais de 2 (dois) anos, tendo atingido a maioridade civil exigida. 2. In casu, a exoneração do
autor implicaria mais desvantagens do que vantagens para a coletividade, se considerados especialmente os
custos para a sua formação e aperfeiçoamento, somados aos gastos para capacitação de outro servidor. 3.
Apelações conhecidas e não providas (APC n. 006.01.1.056287-0. 3ª Turma Cível. Rel. Desa. NÍDEA CORRÊA
LIMA. DJU de 31/10/2008. p. 65).

c.3) Colação de grau em curso de ensino superior

c.4) Estabelecimento civil ou comercial ou relação de emprego + no mínimo 16 anos + economia própria: em
regra, o estabelecimento civil é aquele para a prestação de um serviço, geralmente artístico, técnico ex.:
professor de violão. Estabelecimento comercial está no campo da atividade do empresário ex.: feirante. A
capacidade para o emprego começa aos 16. Mesmo que ele perca o emprego, ele não perde e emancipação,
em razão da segurança jurídica.

O menor que ganha um salário mínimo é emancipado? Depende. Como sabemos, o novo Direito Civil
inaugurou, especialmente a partir do CC 2002, um sistema aberto de normas compreensivo de inúmeros
conceitos abertos e indeterminados, a exemplo da expressão “economia própria” e cláusulas gerais como “a
função social e a boa-fé objetiva”, à luz do princípio da operabilidade. Nessa perspectiva, somente as
circunstâncias do caso concreto, à luz do referido princípio da operabilidade, poderão orientar o juiz, de forma
justa, o vago conceito de economia própria.

*#IMPORTANTE: Questões especiais envolvendo o menor emancipado.

EMANCIPAÇÃO E FALÊNCIA

O menor emancipado que exerça atividade empresarial, na forma da Lei de Falências, poderá falir. Eventual
ilícito penal praticado deve ser tratado como ato infracional, na forma do ECA (ver Paulo Henrique Sumariva – A
25
lei de falência e a imputabilidade penal). Vale lembrar que a emancipação não antecipa a capacidade penal.
Exatamente por isso o crime falimentar, nesse caso, será tratado como ato infracional.

EMANCIPAÇÃO E ALIMENTOS

O Emancipado, assim como se dá com o maior de 18 anos, pode não perder o direito aos alimentos, de acordo
com as circunstancias do caso concreto (Apelação Cível 70011429321 - TJRS).

EMANCIPAÇÃO E UNIÃO ESTÁVEL

Segundo a letra da lei, o casamento emancipa e não a união estável. Mas a questão comporta discussão na
doutrina (ver Thiago Simões – “a emancipação decorrente da união estável: uma possibilidade jurídica”). Não é
questão pacífica.

EMANCIPAÇÃO E CÓDIGO DE TRÂNSITO

O menor antecipado pode dirigir? O emancipado não pode obter a Carteira Nacional de Habilitação, uma vez
que o inciso I, do art. 140, do Código de Trânsito, exige que a pessoa seja penalmente imputável, e o
emancipado não é (aplica-se o ECA, pois a emancipação não antecipa a capacidade penal).

EMANCIPAÇÃO E PRISÃO CIVIL

Já se viu que o emancipado não pode ser penalmente preso. Mas embora não tenha capacidade penal, admite-
se a prisão civil do menor emancipado por débito alimentar. Isso porque não se trata de uma prisão criminal,
mas de um meio coercitivo de cumprimento da obrigação. Nessa linha, Otávio de Oliveira Pinto sustenta a
possibilidade de prisão civil temperada por um regime diferenciado, a exemplo da prisão domiciliar (“A prisão
civil do menor antecipado devedor de alimentos”, editora Virtual Books). Por conta da pouca idade e pela
principiologia do ECA, apesar de poder ser preso civilmente, o autor sustenta que o emancipado não vá para a
cadeia.

*#CUIDADO #VAICAIR #OUSESABER: a emancipação antecipa a maioridade civil?

A emancipação é uma das causas de cessação da incapacidade civil, mas NÃO antecipa a maioridade.
26
Tal afirmação, numa prova, pode vir a confundir o candidato. Com efeito, o art. 5º do Código Civil prevê que a
"menoridade cessa aos dezoito anos completos", não havendo, portanto, influência da emancipação. Assim, a
menoridade somente finda aos 18 anos, independentemente da emancipação, cujo efeito é somente cessar a
incapacidade civil.

Sobre o assunto, vale citar o Enunciado 530 da VI Jornada de Direito Civil: "A emancipação, por si só, não elide a
incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente". Isso porque, como dito, a emancipação não antecipa a
maioridade.

6. PESSOA JURÍDICA

6.1 CONCEITO

Não nasce da dogmática jurídica, mas sim do fato associativo, da tendência humana ao agrupamento.
A noção de pessoa jurídica, em verdade, conforme lembra a doutrina do sociólogo Machado Neto, encontra a
sua raiz no fato associativo, ou seja, na natural tendência humana de se agrupar para o alcance de determinadas
finalidades (Caio Mário em Instituições de Direito Civil). Sucede que, conforme observação de Orlando Gomes
(Introdução ao Direito Civil), o Direito em determinado momento da história sentiu a necessidade de
personificar esses grupos sociais, dotando-lhes de autonomia, surgindo, assim, a pessoa jurídica.

OBS.: a denominação pessoa jurídica é a mais moderna e consagrada, embora outras expressões hajam sido
utilizadas como pessoas morais, fictícias, místicas, universalidades e, no dizer de Teixeira de Freitas, que muito
influenciou o direito argentino, entes de existência ideal.

Diante do exposto, é forçoso convir que, em um conceito básico e inicial, podemos definir a pessoa
jurídica como um grupo humano, dotado de personalidade jurídica própria constituído na forma da lei para a
realização de fins comuns. Vale acrescer, todavia, que as necessidades da sociedade contemporânea exigiram a
criação de pessoas jurídicas peculiares, que escapam desse conceito básico a exemplo da fundação e da EIRELI.
*(Atualizado em 04/03/2022): (A EIRELI deixou de existir no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Lei
14.195/2021.)

6.2 TEORIAS EXPLICATIVAS E NATUREZA JURÍDICA

a) Corrente negativista (Brinz, Bekker, Ihering): Negava a existência da pessoa jurídica, alegando que ela não
seria nada mais que um grupo de pessoas físicas reunidas ou que seria um patrimônio reunido.
27
b) Corrente afirmativista: aceita a existência. Várias teorias se inserem nessa corrente. As três principais teorias
dentro da corrente afirmativista são a da ficção, a da realidade objetiva e a da realidade técnica. Todavia, outras
teorias de menor repercussão podem ser lembradas, como a Teoria lógico-formal de Kelsen e a Teoria
institucionalista de Hauriou. Vejamos as principais:

b.1) Teoria da ficção (Windscheid, Savigny): a pessoa jurídica teria uma existência meramente abstrata ou
ideal fruto da técnica do direito. Pecava por não reconhecer a existência objetiva e social da pessoa jurídica.

b.2) Teoria da realidade objetiva ou organicista (Cunha Goncalves, Clóvis Beviláqua): oriunda especialmente
do cientificismo sociológico reverenciado pelos positivistas como Beviláqua, avançava ao reconhecer que a
pessoa jurídica teria uma existência objetiva e uma dimensão social, mas incorria no exagero oposto de
negar-lhe a influência da técnica do direito. Reduzia a pessoa jurídica a um fenômeno meramente
sociológico.

b.3) Teoria da realidade técnica (Saleilles): consegue conjugar o que há de melhor nas duas teorias anteriores.
Para essa teoria a pessoa jurídica teria uma existência objetiva e dimensão social, mas a sua personificação
seria fruto da técnica do direito. Foi a teoria adotada pelo art. 45, do CC.

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo
no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo,
averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado,
por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.

6.3. SURGIMENTO DA PESSOA JURÍDICA (COMENTÁRIOS AO ART. 45 DO CC)

O registro de uma pessoa física ou natural é meramente declaratório da sua personalidade, adquirida
pelo nascimento com vida (art. 2º, do CC). Diferentemente, nos termos do art. 45, do CC/02, o registro de uma
pessoa jurídica é constitutivo de sua personalidade, adquirindo personalidade com o registro de seu ato
constitutivo – contrato social ou estatuto. Deve ser registrado na Junta Comercial ou no CRPJ (Cartório de
registro de PJ). Excepcionalmente, algumas pessoas jurídicas, para se constituírem e terem existência legal
demandam uma autorização específica do poder executivo, a exemplo dos bancos e das seguradoras. A regra
geral é que toda pessoa jurídica tenha CNPJ, mas o fato de ter CNPJ não implica, que à luz da Teoria do Direito
Civil e do CC em vigor, necessariamente, o ente tratado seja uma pessoa jurídica.

Nos termos do CC, não havendo registro estamos diante de um ente despersonificado, regulado a
partir do art. 986 do CC e que a respeitável doutrina clássica de direito comercial denominava de sociedade
28
irregular ou de fato (Waldmar Ferreira). Vale acrescentar que nas sociedades irregulares ou de fato, a
responsabilidade pelas dívidas sociais recai sobre o próprio patrimônio pessoal dos sócios os administradores.

Condomínio, massa falida, herança jacente, espólio (art. 12 CPC/1973 – art. 75 CPC/2015), à luz da
Teoria Geral do Direito Civil, não são pessoas jurídicas, são entes despersonificados com capacidade
processual (Maria Helena Diniz fala em personificação anômala).

*Todavia, com relação ao condomínio, não há consenso na doutrina. Nesse ponto, cita-se as
esclarecedoras lições de Flávio Tartuce9:

"Condomínio – é o conjunto de bens em copropriedade, com tratamento específico no livro que trata do
Direito das Coisas. Para muitos doutrinadores, constitui uma pessoa jurídica o condomínio edilício, o
que justifica a sua inscrição no CNPJ (Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas). Essa a conclusão a que
chegaram os juristas participantes da I e III Jornada de Direito Civil, promovida pelo CJF e pelo STJ, com
grande atuação dos professores Gustavo Tepedino, da UERJ, e Frederico Viegas de Lima, da UNB
(Enunciados doutrinários 90 e 246). Entretanto, a questão não é pacífica. Na opinião deste autor, o
condomínio edilício deve ser considerado pessoa jurídica, pois o rol do art. 44 do CC, que elenca as
pessoas jurídicas de Direito Privado, é exemplificativo (numerus apertus), e não taxativo (numerus
clausus). Na verdade, como o atual Código Civil adota um sistema aberto, baseado em cláusulas gerais e
inspirado na teoria de Miguel Reale, não há como defender que essa relação é fechada. De qualquer
modo, a questão é por demais controvertida, implicando, por exemplo, a possibilidade de o condomínio
edilício adjudicar unidades nos casos de não pagamento das cotas devidas. Anote-se que alguns
preferem definir o condomínio edilício como sendo uma quase pessoa jurídica, uma quase fundação ou
uma pessoa jurídica especial."

*Quanto ao condomínio, tramitou no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 80/2011 (Foi arquivado
pela MESA em 31/01/2015), que pretendia, alterar o CC, permitindo os condomínios edilícios se constituírem
como pessoas jurídicas.

Art. 75.  Serão representados em juízo, ativa e passivamente:


I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado;
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;
IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar;
V - a massa falida, pelo administrador judicial;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
9
Manual de Direito Civil, 2018.
29
VII - o espólio, pelo inventariante;
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação,
por seus diretores;
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a
quem couber a administração de seus bens;
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal
aberta ou instalada no Brasil;
XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico.
§ 1o Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o espólio
seja parte.
§ 2o A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a irregularidade de sua constituição
quando demandada.
§ 3o O gerente de filial ou agência presume-se autorizado pela pessoa jurídica estrangeira a receber citação para
qualquer processo.
§ 4o Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromisso recíproco para prática de ato processual por
seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas respectivas
procuradorias.

OBS.: Pessoa jurídica pode sofrer dano moral? De acordo com o nosso direito positivo, é assentado
firmemente que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula 227, STJ). Ademais, o próprio CC, em seu
artigo 52, admite que a pessoa jurídica possa ser titular de certos direitos da personalidade compatíveis com a
sua estrutura, a exemplo da imagem e da honra objetiva. Todavia, é digno de nota que uma parcela da doutrina
critica a tese do dano moral à pessoa jurídica (Wilson Melo da Silva e Arruda Alvim), o que aparentemente
ganhou reforço teórico a partir do Enunciado 286 da IV Jornada de Direito Civil. Art. 52: Os direitos da
personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as
pessoas jurídicas titulares de tais direitos.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: o STJ entende que apenas pessoas jurídicas de direto privado podem sofrer
dano moral (empresas). Pessoa jurídica de direito público não (Informativo 534).

*(Atualizado em 27/05/21)
Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os
demais jurisdicionados em geral for evidente. Imagine que um particular profere palavras ofensivas contra a
administração pública. A pessoa jurídica de direito público terá direito à indenização por danos morais sob a
alegação de que sofreu violação da sua honra ou imagem? NÃO. Em regra, pessoa jurídica de direito público
30
não pode pleitear, contra particular, indenização por dano moral relacionado à violação da honra ou da
imagem. Nesse sentido: REsp 1.258.389/PB, REsp 1.505.923/PR e AgInt no REsp 1.653.783/SP. Suponha,
contudo, que uma autarquia foi vítima de grande esquema criminoso que desviou vultosa quantia e gerou
grande repercussão na imprensa, acarretando descrédito em sua credibilidade institucional. Neste caso, os
particulares envolvidos poderiam ser condenados a pagar indenização por danos morais à autarquia? SIM.
Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os
demais jurisdicionados em geral for evidente. Nos três julgados acima mencionados nos quais o STJ negou
direito à indenização, o que estava em jogo era a livre manifestação do pensamento, a liberdade de crítica dos
cidadãos ou o uso indevido de bem imaterial do ente público. No caso concreto é diferente. A indenização está
sendo pleiteada em razão da violação à credibilidade institucional da autarquia que foi fortemente agredida em
razão de crimes praticados contra ela. STJ. 2ª Turma. REsp 1722423-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
24/11/2020 (Info 684).

*#OUSESABER: As pessoas jurídicas são titulares dos direitos descritos na Convenção Americana de Direitos
Humanos? Através de uma Opinião Consultiva (OC-22/16), a Corte Interamericana de Direitos Humanos,
respondendo a uma solicitação realizada em 2014 pelo Panamá, concluiu que as pessoas Jurídicas não são
titulares dos direitos humanos contidos na Convenção Americana de Direitos Humanos. A Corte interpretou o
art. 1.2 da Convenção (“Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano”) para concluir que as pessoas
jurídicas não são titulares de direitos convencionais, não podendo ser consideradas possíveis vítimas nos
processos contenciosos do sistema interamericano. A Corte aduziu que o Direito Internacional dos Direitos
Humanos desenvolveu-se para assegurar proteção às pessoas físicas e somente reconhecem, por dispositivos
expressos e excepcionais, direitos a pessoas jurídicas a (i) Convenção Europeia de Direitos Humanos e (ii) a
Convenção das Nações Unidas pela Eliminação de Toda Forma de Discriminação Racial. Mesmo diante da
tradição constitucional de vários países da região (inclusive o Brasil) de reconhecer a titularidade de direitos
essenciais por pessoas jurídicas, a Corte entendeu que a ausência de disposição expressa da Convenção a
impedia de reconhecer tal titularidade às pessoas jurídicas.

6.4 PRINCIPAIS ESPÉCIES DE PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO

O rol do art. 44 do CC/02 não é exaustivo.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
31
IV - as organizações religiosas;          
V - os partidos políticos.         
VI - (Revogado Pela Medida Provisória nº 1.085, de 2021)    

Dois grandes grupos: corporações (associações e sociedades) e fundações.

a) Associações: são formadas pela união de indivíduos com propósito de realizar uma finalidade ideal ou não
econômica (art. 53). Não podem ter finalidade lucrativa. Algumas sociedades desportivas que geravam lucro
para os seus conselheiros tiveram que se adaptar às regras do novo CC. Associações anteriores que geravam
lucro viraram sociedades empresárias.

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.

O ato constitutivo é o estatuto (art. 54), devendo seu registro ser feito no CRPJ.

*Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens
especiais.

#DOUTRINA: Corroborando o preceito legal, como bem observado por Flávio Tartuce 10, foi aprovado o
Enunciado 577 do CJF/STJ: A possibilidade de instituição de categorias de associados com vantagens especiais
admite a atribuição de pesos diferenciados ao direito de voto, desde que isso não acarrete a sua supressão em
relação a matérias previstas no art. 59 do CC.

Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:


I - a denominação, os fins e a sede da associação; II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos
associados;
III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manutenção; V – o modo de
constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; VI - as condições para a alteração das disposições
estatutárias e para a dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. 

O órgão máximo de uma associação é a assembleia geral, cujas atribuições estão descritas no art. 59
do cc.

10
(Manual de direito civil: volume único. São Paulo: Método, 2018, p. 172)
32
Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral: 
I – destituir os administradores; 
II – alterar o estatuto.
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da
assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo quórum será o estabelecido no estatuto, bem como os
critérios de eleição dos administradores.

*(Atualizado em 21/06/2020) #NOVIDADELEGISLATIVA


LEI Nº 14.010, DE 10 DE JUNHO DE 2020 - Dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das
relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no período da pandemia do coronavírus (Covid-19).

CAPÍTULO III
DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO
Art. 4º As pessoas jurídicas de direito privado referidas nos incisos I a III do art. 44 do Código Civil deverão
observar as restrições à realização de reuniões e assembleias presenciais até 30 de outubro de 2020, durante a
vigência desta Lei, observadas as determinações sanitárias das autoridades locais.
Art. 5º A assembleia geral, inclusive para os fins do art. 59 do Código Civil, até 30 de outubro de 2020, poderá
ser realizada por meios eletrônicos, independentemente de previsão nos atos constitutivos da pessoa jurídica.
Parágrafo único. A manifestação dos participantes poderá ocorrer por qualquer meio eletrônico indicado pelo
administrador, que assegure a identificação do participante e a segurança do voto, e produzirá todos os efeitos
legais de uma assinatura presencial. 

*(Atualizado em 11/09/2021): #NOVIDADELEGISLATIVA A Lei 14.195/2021 alterou dispositivos relacionados ao


Direito Empresarial:

ASSEMBLEIA GERAL POR MEIOS ELETRÔNICOS


O art. 59 do Código Civil trata sobre a assembleia geral das associações:

Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral:


I – destituir os administradores;
II – alterar o estatuto.
 
Em razão do isolamento social adotado durante a pandemia da Covid-19, a Lei 14.010/2020 autorizou que as
assembleias gerais pudessem ser realizadas por meios eletrônicos, mesmo que o estatuto social não previsse:

Art. 5º A assembleia geral, inclusive para os fins do art. 59 do Código Civil, até 30 de outubro de 2020, poderá
ser realizada por meios eletrônicos, independentemente de previsão nos atos constitutivos da pessoa jurídica.
33
Parágrafo único. A manifestação dos participantes poderá ocorrer por qualquer meio eletrônico indicado pelo
administrador, que assegure a identificação do participante e a segurança do voto, e produzirá todos os efeitos
legais de uma assinatura presencial.
 
Vale ressaltar que não havia uma proibição expressa no ordenamento jurídico para a realização dessa
assembleia por meios eletrônicos. O que a Lei fez foi apenas deixar isso expresso, gerando mais segurança
jurídica.
 
Como a experiência foi produtiva, a Lei nº 14.195/2021 acrescentou o art. 48-A ao Código Civil tornando essa
previsão definitiva:

Art. 48-A. As pessoas jurídicas de direito privado, sem prejuízo do previsto em legislação especial e em seus atos
constitutivos, poderão realizar suas assembleias gerais por meios eletrônicos, inclusive para os fins do art. 59
deste Código, respeitados os direitos previstos de participação e de manifestação.
 
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Autonomia das entidades desportivas: a autonomia das entidades desportivas
não é absoluta. O art. 59 do CC é compatível com a autonomia constitucional conferida aos clubes pelo art. 217,
I, da CF/88. STF. 1ª Turma. ARE 935482/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 07/02/2017 (Info 853).

Regra geral, nos termos do art. 61, dissolvida a associação, o seu patrimônio será atribuído a
entidades de fins não econômicos designadas no estatuto ou, omisso este, à instituição municipal, federal ou
estadual, de fins iguais ou semelhantes.

Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso,
as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não
econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal,
estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
§ 1º Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da
destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as
contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação.
§ 2º Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede,
instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do
Estado, do Distrito Federal ou da União.

Nos termos do art. 55 do CC, é possível haver categorias de associados com vantagens especiais, o que
não se permite é a discriminação dentro de uma mesma categoria.
34

Finalmente, é digno de nota o cc ter admitido em seu art. 57, desde que haja justa causa, a expulsão
de um associado, garantida a ampla defesa11.

Esse art. 57 não deve ser aplicado em face de condomínios, na medida em que, refere-se a
associações. Todavia, existe forte corrente de doutrina (Enunciado 508 da V Jornada), bem como já há posição
em jurisprudência (Apelação cível 957743-1/TJPR), no sentido de, à luz do princípio da função social, admitir a
expulsão do condômino nocivo, quando as multas aplicadas se mostrarem insuficientes (art. 1337, parágrafo
único). Vale acrescentar ainda que essa exclusão pressupõe o respeito à garantia da ampla defesa e a
propositura de uma ação judicial com essa finalidade. A assembleia autoriza o síndico, representando a
coletividade, a ajuizar uma ação e quem concretiza a expulsão é o juiz (obrigação de não fazer).

Enunciado 508: Verificando-se que a sanção pecuniária mostrou-se ineficaz, a garantia fundamental da função
social da propriedade (arts. 5º, XXIII, da CRFB e 1.228, § 1º, do CC) e a vedação ao abuso do direito (arts. 187 e
1.228, § 2º, do CC) justificam a exclusão do condômino antissocial, desde que a ulterior assembleia prevista na
parte final do parágrafo único do art. 1.337 do Código Civil delibere a propositura de ação judicial com esse fim,
asseguradas todas as garantias inerentes ao devido processo legal.

Art. 1337. O condômino, ou possuidor, que não cumpre reiteradamente com os seus deveres perante o
condomínio poderá, por deliberação de três quartos dos condôminos restantes, ser constrangido a pagar multa
correspondente até ao quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme a
gravidade das faltas e a reiteração, independentemente das perdas e danos que se apurem.
Parágrafo único. O condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento antissocial, gerar
incompatibilidade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar
multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior
deliberação da assembleia.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: APELAÇÃO CÍVEL. CONDOMÍNIO EDILÍCIO VERTICAL. PRELIMINAR.


INTEMPESTIVIDADE. INOCORRÊNCIA. APELO INTERPOSTO ANTES DA DECISÃO DOS EMBARGOS. RATIFICAÇÃO.
DESNECESSIDADE. EXCLUSÃO DE CONDÔMINO NOCIVO. LIMITAÇÃO DO DIREITO DE USO/HABITAÇÃO, TÃO-
SOMENTE. POSSIBILIDADE, APÓS ESGOTADA A VIA ADMINISTRATIVA. ASSEMBLÉIA GERAL REALIZADA.
NOTIFICAÇÕES COM OPORTUNIZAÇÃO DO CONTRADITÓRIO. QUORUM MÍNIMO RESPETITADO (3/4 DOS
CONDÔMINOS). MULTA REFERENTE AO DÉCUPLO DO VALOR DO CONDOMÍNIO. MEDIDA INSUFICIENTE.
CONDUTA ANTISSOCIAL CONTUMAZ REITERADA. GRAVES INDÍCIOS DE CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL,

11
Tal temática foi objeto de questionamento da prova do TRF3/2016 em que se considerou correta a seguinte alternativa:
“É obrigatória a inclusão de norma estatutária nas associações que preveja o direito de recorrer dos associados na
hipótese de sua exclusão.”
35
REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA A DE ESCRAVO. CONDÔMINO QUE ALICIAVA CANDIDATAS A EMPREGO DE
DOMÉSTICAS COM SALÁRIOS ACIMA DO MERCADO, MANTENDO-AS PRESAS E INCOMUNICÁVEIS NA UNIDADE
CONDOMINIAL. ALTA ROTATIVIDADE DE FUNCIONÁRIAS QUE, INVARIAVELMENTE SAIAM DO EMPREGO
NOTICIANDO MAUS TRATOS, AGRESSÕES FÍSICAS E VERBAIS, ALÉM DE ASSEDIOS SEXUAIS ENTRE OUTRAS
ACUSAÇÕES. RETENÇÃO DE DOCUMENTOS. ESCÂNDALOS REITERADOS DENTRO E FORA DO CONDOMÍNIO.
PRÁTICAS QUE EVOLUIRAM PARA INVESTIDA EM MORADORA MENOR DO CONDOMÍNIO, CONDUTA
ANTISSOCIAL INADMISSÍVEL QUE IMPÕE PROVIMENTO JURISDICIONAL EFETIVO. CABIMENTO. CLÁUSULA
GERAL. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. MITIGAÇÃO DO DIREITO DE USO/HABITAÇÃO. DANO MORAL. NÃO
CONHECIMENTO. MATÉRIA NÃO DEDUZIDA E TAMPOUCO APRECIADA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS FIXADOS
EM R$ 6.000,00 (SEIS MIL REAIS). MANTENÇA. PECULIRIDADES DO CASO CONCRETO. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 10ª C.Cível - AC - 957743-1 - Foro Central da Comarca da Região Metropolitana
de Curitiba - Rel.: Arquelau Araujo Ribas - Unânime - - J. 13.12.2012)

*#CUIDADO #EXCEÇÃO: as organizações religiosas e os partidos políticos, embora tenham natureza


associativa, foram disciplinados de forma autônoma pelo legislador, com especial propósito de excluí-los do
prazo legal de adaptação ao CC de 2002. Qual é a consequência da não adaptação ao CC? Não existe um artigo
específico estabelecendo uma sanção única. As consequências derivam da própria interpretação do sistema.
Nessa linha, observamos que a ausência de adaptação ao CC, poderá resultar em: impossibilidade de abertura
de conta bancária, de obtenção e crédito ou financiamento, de participação em licitação, e, ademais, o ente
passa a atuar de forma irregular, o que poderá resultar na responsabilidade pessoal dos seus sócios ou
administradores. Pode até haver a desconsideração da personalidade jurídica.

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O Código Civil, ao tratar sobre a responsabilidade das sociedades simples,


estabelece o seguinte: Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios
pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.
Esse dispositivo NÃO se aplica às associações civis. As associações civis são caracterizadas pela união de pessoas
que se organizam para a execução de atividades sem fins lucrativos. Sociedades simples são formas de execução
de atividade empresária, com finalidade lucrativa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.398.438-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 4/4/2017 (Info 602).

b) Fundações (atenção para as alterações feitas pela Lei nº 13.151/2015)

Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de
bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de
assistência.
36
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: (Redação dada pela Lei nº 13.151, de
2015)
I – assistência social; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
III – educação; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
IV – saúde; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
V – segurança alimentar e nutricional; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável; (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão,
produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; (Incluído pela Lei nº 13.151, de
2015)
VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; (Incluído pela Lei nº 13.151, de
2015)
IX – atividades religiosas; e (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)
X – (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.151, de 2015)

Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não
dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante.

Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a
propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela,
por mandado judicial.

Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo,
formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em
seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em
cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.

Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público
Federal.       (Vide ADIN nº 2.794-8)
§ 1º Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios. (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo
Ministério Público.
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Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a
requerimento do interessado.
III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual
ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. (Redação
dada pela Lei nº 13.151, de 2015)

Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação,
ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para
impugná-la, se quiser, em dez dias.

Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua
existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o
seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação,
designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.

Fases:

(1) Dotação/instituição;
(2) Elaboração do estatuto e aprovação pelo MP; e
(3) Registro do CRPJ.

Diferentemente das associações e das sociedades, as fundações resultam não da união de indivíduos,
mas da afetação de patrimônio que o seu instituidor faz para a realização de uma finalidade ideal (cultural,
educacional, de assistência). Não nasce do fato associativo. Resulta de um patrimônio que se personifica. O
instituidor pode ser pessoa física ou jurídica. Art. 62 CC. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por
escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e
declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Nos termos do parágrafo único do art. 62, uma fundação não
pode ter finalidade lucrativa (pode até gerar receita a ser reinvestida na própria atividade). Art. 63: Quando
insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o
instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante. MP aponta a entidade.
Em não havendo, não há regra. Caio Mário diz que deve ser destinado ao Estado, semelhante ao que ocorre na
herança vacante.
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Requisitos de uma fundação privada:

(1) Afetação ou dotação de bens livres do instituidor.

#OBS.: Caio Mário observa (Instituições de Direito Privado) que a dotação não se confunde com a doação, pois
essa envolve a transferência de bens de uma pessoa a outra, enquanto na fundação a dotação patrimonial é o
elemento genético da própria pessoal jurídica.

(2) Instituição por escritura pública ou testamento.

(3) A elaboração do seu estatuto. É o corpo normativo e organizacional da fundação. O estatuto da fundação
poderá ser elaborado diretamente pelo seu próprio instituidor, como também, fiduciariamente, por um
terceiro, ou, até mesmo, em caráter subsidiário pelo MP.

Art. 65 CC Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo,
formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em
seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz. Parágrafo único. Se o estatuto não for
elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência
caberá ao Ministério Público.

(4) Aprovação do estatuto pelo MP. Sabemos que cabe ao MP a aprovação do estatuto, mas se o próprio órgão
ministerial o elaborar quem o aprova é o Juiz. Isso é muito criticado, pois o juiz estaria vinculado ao estatuto,
não podendo mais julgar causas decorrentes dele.

#SELIGA: Novo CPC:

Seção XI
Da Organização e da Fiscalização das Fundações
Art. 764.  O juiz decidirá sobre a aprovação do estatuto das fundações e de suas alterações sempre que o
requeira o interessado, quando:
I - ela for negada previamente pelo Ministério Público ou por este forem exigidas modificações com as quais o
interessado não concorde;
II - o interessado discordar do estatuto elaborado pelo Ministério Público.
§ 1o O estatuto das fundações deve observar o disposto na Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
§ 2o Antes de suprir a aprovação, o juiz poderá mandar fazer no estatuto modificações a fim de adaptá-lo ao
objetivo do instituidor.
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Art. 765.  Qualquer interessado ou o Ministério Público promoverá em juízo a extinção da fundação quando:
I - se tornar ilícito o seu objeto;
II - for impossível a sua manutenção;
III - vencer o prazo de sua existência.

(5) Registro do estatuto no CRPJ. Não é na Junta.

OBS.: A função fiscalizatória do MP. Além de aprovar o estatuto, o MP tem, por força de lei, função
fiscalizatória das fundações de Direito Privado.

Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1º Se funcionarem no Distrito Federal ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios. (Redação dada pela Lei nº 13.151, de 2015)
§ 2º Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo
Ministério Público.

Pela letra da lei, se for em mais de um Estado, ambos MPs serão competentes pra fiscalização.

A ADI n.º 2.794, já julgada, reconheceu a impropriedade constitucional da norma contida no §1 do art.
66, na medida em que a fundação sediada no Distrito Federal deve ser primordialmente fiscalizada pelo MP do
próprio DF. Havendo fundamento, nada impede que o MPF possa eventualmente atuar em conjunto com outros
órgãos do MP. (Enunciado 147 da 3ª Jornada de Direito Civil).

A expressão “por mais de um Estado”, contida no § 2º do art. 66, não exclui o Distrito Federal e os
Territórios. A atribuição de velar pelas fundações, prevista no art. 66 e seus parágrafos, ao MP local – isto é, dos
Estados, DF e Territórios onde situadas – não exclui a necessidade de fiscalização de tais pessoas jurídicas pelo
MPF, quando se tratar de fundações instituídas ou mantidas pela União, autarquia ou empresa pública federal,
ou que destas recebam verbas, nos termos da Constituição, da LC n. 75/93 e da Lei de Improbidade.

#DICA: Ler com atenção os artigos: 67 e 68 (alteração de estatuto) e 69 (destino do patrimônio da fundação que
acaba).

c) Sociedade: é pessoa jurídica de direito privado, instituída por meio de contrato social, com o objetivo de
exercer atividade econômica e partilhar lucro.
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Art. 981, CC. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.

No direito anterior, especialmente, influenciado pelo sistema francês da Teoria dos atos de comércio,
as sociedades eram divididas em civis e mercantis. A diferença é que essas últimas, na busca do lucro,
realizariam atos de comércio. As sociedades civis geralmente eram prestadoras de serviço. Ao longo do século
XX, por especial influência da Teoria da Empresa e do CC Italiano de 1942, o Direito comercial experimentaria
uma profunda metamorfose – não apenas de forma, mas também de fundo – o que resultaria mudança do seu
próprio objeto de investigação científica: do comércio à empresa, do comerciante ao empresário.

Sob essa influência, o CC brasileiro que revogou grande parte do Comercial, não mais trataria de
sociedade civil e mercantil, preferindo as tipologias mais amplas das sociedades simples e empresárias. As
antigas sociedades civis foram substituídas por sociedades simples e as mercantis por sociedades empresárias.
Não chamar de sociedade empresarial. Empresarial é a atividade que ela exerce.

Art. 982 Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de
atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples,
a cooperativa.
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ Se um cooperado pede para sair ou é expulso da cooperativa ele não
terá direito de receber uma quota-parte do FATES, que é um fundo indivisível Não se partilha a verba do Fundo
de Reserva e Assistência Técnica Educacional e Social - FATES - com o associado excluído ou que se retira do
quadro social da cooperativa. O percentual obrigatoriamente pago ao FATES, no percentual mínimo de 5% das
sobras líquidas apuradas ao final do exercício social não é disponível e seu destino independe da vontade dos
cooperados. STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.184-RS,Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/11/2019 (Info
661).
*(Atualizado em 31/01/2021) #DEOLHONAJURIS Ficam suspensas as ações judiciais propostas contra
cooperativa que esteja em liquidação extrajudicial; esta suspensão, contudo, não pode ser superior a 1 ano,
prorrogável por mais 1 ano Quando a assembleia-geral aprova a liquidação extrajudicial da cooperativa, isso
acarreta a sustação de qualquer ação judicial contra a entidade, pelo prazo de 1 ano (art. 76 da Lei nº 5.764/71).
Esse prazo pode ser prorrogado por mais 1 ano. Não é possível ampliar essa suspensão para além do limite legal
de 2 anos, não sendo possível aplicar, por analogia, a regra de prorrogação do stay period da recuperação
judicial (art. 6º, § 4º, da Lei nº 11.101/2005). O art. 76 da Lei nº 5.764/71 possui caráter excepcional porque
atribui atribuir a uma deliberação privada o condão de suspender a prestação da atividade jurisdicional. Em
suma: não é cabível a suspensão do cumprimento de sentença contra cooperativa em regime de liquidação
41
extrajudicial para além do prazo de 1 ano, prorrogável por mais 1 ano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.613-DF, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/11/2020 (Info 683).

c.1) sociedade empresária

(1) Requisito material: atividade típica de empresário (art. 966 - Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária
ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa).

O que seria essa atividade? As sociedades empresárias, sujeitas à legislação falimentar e com registro
na junta comercial, são marcadas pela impessoalidade: a figura do sócio não é indispensável para a realização
da sua atividade. Vale dizer, os sócios, de forma impessoal, atuam como articuladores de fatores de produção
(capital, trabalho, tecnologia e matéria-prima), a exemplo de uma concessionária ou de um banco.
Diferentemente, as sociedades simples, com registro, em regra, no CRPJ, são marcadas pela pessoalidade, ou
seja, a figura do sócio é indispensável para a realização da sua atividade não empresarial. Em regra, são
prestadoras de serviços técnico científicos, como a sociedade de médicos e advogados.

(2) Requisito formal: registro público da empresa na Junta Comercial, independentemente do objeto. Nos
termos do parágrafo único do art. 982, independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade
por ações; e, simples, a cooperativa. Ex.: toda sociedade anônima é empresária e toda cooperativa é simples. No
tocante à cooperativa, tradicionalmente o seu registro sempre foi feito na junta comercial (ver Leis n.ºs 8934/94
e 55764/71). Essa posição ainda é muito forte (Enunciado 69 da I jornada – as sociedades cooperativas são
sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas comerciais). No entanto, vale registrar a opinião de alguns
autores (Julieta Lunz, Paulo de Carvalho), no sentido de que, a partir do CC de 2002, por ser considerada
sociedade simples, a cooperativa deveria ser registrada no CRPJ.

OBS¹.: sociedade de advogados – registro na OAB; sociedades anônimas na Comissão de valores mobiliários;

OBS².: é possível haver sociedade entre cônjuges? O art. 977 do CC admite que cônjuges possam contratar
entre si ou com terceiro sociedade, desde que não sejam casados com regimes de comunhão universal de bens
ou separação obrigatória de bens. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde
que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. Antes do
CC/02 podia. E quem já tinha a sociedade? Nos termos do Parecer Jurídico nº 125/03 do DNRC, em respeito à
42
garantia constitucional do ato jurídico perfeito, sociedades anteriores ao código de 2002 não são atingidas pela
proibição.

*(Atualizado em 04/03/2022): A EIRELI deixou de existir no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Lei
14.195/2021.

#NOVIDADELEGISLATIVA A Lei 14.195/2021 alterou dispositivos relacionados ao Direito Empresarial:

EXTINÇÃO DAS EIRELI´S

EIRELI
A EIRELI era uma forma de pessoa jurídica composta por uma só pessoa física.

Tratava-se de uma espécie de pessoa jurídica unipessoal autônoma e que apresentava, portanto, personalidade
jurídica e patrimônio distintos daquele titularizado pela pessoa física que explora a atividade em questão.

Consistia em uma técnica de limitação dos riscos empresariais em benefício dos empreendedores individuais.

A EIRELI foi criada pela Lei nº 12.441/2011, que acrescentou o art. 980-A ao Código Civil.

Requisitos
Os requisitos para a constituição da EIRELI eram os seguintes:

a) Uma única pessoa natural, que é o titular da totalidade do capital social;

b) O capital social deve estar devidamente integralizado;

c) O capital social não pode ser inferior a 100 (cem) vezes o salário-mínimo;

d) A pessoa natural que constituir EIRELI somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.
Assim, para evitar fraudes, ninguém pode ser titular de duas empresas individuais de responsabilidade limitada.

Veja a redação do dispositivo legal:


Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da
totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-
mínimo vigente no País.
 

Qual foi a grande vantagem da EIRELI no momento de sua criação no ordenamento jurídico brasileiro (em
2011)?
Antes da EIRELI, se um indivíduo quisesse abrir uma loja no centro da cidade para vender vestuário, ele teria
duas opções:

1ª) explorar essa atividade econômica como empresário individual;

2ª) encontrar um outro indivíduo para ser seu sócio e constituir uma sociedade empresária.

A desvantagem de explorar como empresário individual era o fato de que esse indivíduo iria responder com
seus bens pessoais e de forma ilimitada por todas as dívidas que contraísse na atividade econômica.
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Tal situação fazia com que muitas pessoas arranjassem um “laranja” para figurar como sócio em uma sociedade
limitada, normalmente com capital social de 1%. Obviamente que tal realidade não era simples nem correta,
servindo como desestímulo à livre iniciativa.

Com a criação da EIRELI no art. 980-A, esse indivíduo passou a conseguir, sozinho, constituir uma pessoa jurídica
para desempenhar sua atividade empresarial, com a vantagem de que, na EIRELI, a responsabilidade pelas
dívidas era limitada ao valor do capital social.

Criação da sociedade unipessoal e esvaziamento da função da EIRELI


Sociedade unipessoal é aquela formada por um só sócio que detém a totalidade do capital social.

A figura da sociedade unipessoal é admitida em alguns países do mundo.

É possível a existência de sociedade unipessoal no Brasil?


Antes da Lei nº 13.874/2019: NÃO Depois da Lei nº 13.874/2019: SIM

Como regra, havia a necessidade de dois ou A Lei nº 13.874/2019 acrescentou dois


mais sócios. parágrafos ao art. 1.052 do CC prevendo a
possibilidade de a sociedade limitada ser
A doutrina apontava a existência de três composta por um único sócio:
exceções muito peculiares:
Art. 1.052. (...)
1) sociedade subsidiária integral (art. 251, §
2º, da Lei nº 6.404/76); § 1º A sociedade limitada pode ser
constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.
2) empresa pública unipessoal.
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao
3) sociedade limitada que ficou com apenas documento de constituição do sócio único,
um sócio, situação que podia durar por, no no que couber, as disposições sobre o
máximo, 180 dias (art. 1.033, IV, do CC – contrato social.
atualmente revogado).

Assim, a Lei nº 13.874/2019 previu a possibilidade de ser, livremente, criada a sociedade limitada unipessoal.

Vale ressaltar que, com a criação da sociedade limitada unipessoal, a EIRELI perdeu praticamente toda a sua
importância e, na prática, passou a não mais ser adotada.

 Transformação das EIRELIs em sociedades unipessoais

Diante do modelo que caiu em desuso, o legislador resolveu simplificar o panorama e decidiu transformar todas
EIRELIs ainda existentes em sociedades unipessoais. Confira o art. 41 da Lei nº 14.195/2021:

Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na data da entrada em vigor desta Lei
serão transformadas em sociedades limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu
ato constitutivo.

Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste artigo.

Revogação do inciso IV do art. 1.033 do Código Civil


O inciso IV do art. 1.033 do Código Civil previa que se uma sociedade – que originalmente tivesse pluralidade de
sócios – ficasse com apenas um sócio (ex: os demais morreram), esta sociedade deveria se regularizar – com a
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entrada de novos sócios – em um prazo de até 180 dias. Caso não fizesse isso, tal sociedade deveria ser
dissolvida, salvo se fosse transformada em uma EIRELI. Veja:
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:

(...)

IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;

(...)

Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de
concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas
Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de
responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

 Essa regra existia porque no Brasil não se admitia sociedade unipessoal.

Ocorre que, com a autorização dada pela Lei nº 13.874/2019 para que exista sociedade unipessoal, essa regra
previsão do inciso IV deixou de ter sentido. Ora, se uma sociedade, que era composta por pluralidade de sócios,
passou a contar com apenas um único sócio, ela deve se tornar uma sociedade unipessoal, não havendo motivo
para que seja dissolvida.

Assim, a Lei nº 14.195/2021 – corretamente – decidiu revogar o inciso IV e o parágrafo único do art. 1.033 do
Código Civil.

*(Atualizado em 04/03/2021): A Medida Provisória 1.085/2021 revogou o art. 980-A do Código Civil.

OBS³.: Noções gerais da EIRELI – empresa individual de responsabilidade limitada. A Lei n.º 12441/11,
consagrando o novo artigo 980-A do CC, regulou uma peculiar pessoa jurídica unipessoal, denominada EIRELI.
Trata-se não de uma sociedade, mas de uma pessoa jurídica autônoma, constituída por um único indivíduo.
Daí porque, frise-se, a EIRELI é uma pessoa jurídica unipessoal com responsabilidade limitada ao capital social
integralizado de no mínimo 100 salários mínimos (leva em conta o salário nacional). O brasileiro ama a
sociedade limitada!!!! No empresário individual o patrimônio é um só. Sociedade pressupõe mais de uma
pessoa. Isso é uma anomalia – pessoa jurídica de uma pessoa só.
*(Atualizado em 26/01/2020) #DEOLHONAJURIS É constitucional a exigência de que o capital social da EIRELI
não seja inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo vigente no País (art. 980-A do Código Civil). A exigência de
integralização do capital social por empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI), no montante
previsto no art. 980-A do Código Civil, com redação dada pelo art. 2º da Lei nº 12.441/2011, não viola a regra
constitucional que veda a vinculação do salário-mínimo para qualquer fim e também não configura
impedimento ao livre exercício da atividade empresarial. O art. 980-A do Código Civil exige que o capital social
da empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não seja inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo
vigente no País. Essa previsão é constitucional. Não há violação ao art. 7º, IV, da CF/88 porque não existe, no
art. 980-A, qualquer forma de vinculação que possa interferir ou prejudicar os reajustes periódicos do salário
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mínimo. Não há afronta ao art. 170 da CF/88 (livre iniciativa) porque essa exigência de capital social mínimo tem
por objetivo proteger os interesses de eventuais credores, além do que não impede que a pessoa exerça a livre
iniciativa, sendo apenas um requisito para a constituição de EIRELI. STF. Plenário. ADI 4637/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 4/12/2020 (Info 1001).

O art. 980-A estabelece um limite mínimo de capital para a criação da EIRELI, aspecto cuja
constitucionalidade foi reconhecida por meio da ADI n.º 4637/DF. A instrução normativa 117/2011 do DNRC
estabelece que só a pessoa física poderá constituir a EIRELI, uma única vez. Isso é muito criticado.

* #ATUALIZAÇÃO #NOVIDADENOAR #VAICAIR: Recentemente, o Departamento de Registro Empresarial e


Integração – DREI, órgão integrante da estrutura do Ministério da Indústria e Comércio, editou a Instrução
Normativa nº 38/2017, prevendo expressamente a possibilidade de criação de EIRELI por pessoa jurídica,
inclusive por pessoa jurídica estrangeira. O entendimento contraria a posição da doutrina majoritária.

Item 1.2.5 do Anexo V da Instrução Normativa 38/2017 do DREI trouxe a possibilidade de pessoa jurídica
nacional ou estrangeira ter capacidade para ser titular de EIRELI.

Ela ainda não pegou no Brasil, em razão da limitação de capital para sua instituição e da restrição a
atividades empresariais excluindo algumas atividades. Só que o cartório de registros de pessoas jurídicas tem
aceitado o registro da EIRELI simples, constituída para o desempenho de uma atividade não empresarial, a
exemplo da EIRELI constituída por um médico e a Receita Federal tem conferido CNPJ. A doutrina diverge acerca
dessa possibilidade. A tributação seria de pessoa simples, o que afasta o interesse em sua constituição. O
professor entende que a lei determina que ela é pessoa jurídica, não podendo a Receita Federal mudar esse
tratamento. A despeito da polêmica, não se deve aplicar a EIRELI, mesmo simples, o regramento do IR de pessoa
física, na medida em que se trata de uma pessoa jurídica unipessoal.

Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da
totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-
mínimo vigente no País. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)
§ 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a
denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. 
§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar
em uma única empresa dessa modalidade. 
§ 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de
outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração.
46
 § 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de
serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de
imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade
profissional.
§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as
sociedades limitadas. 

*#OUSESABER: Pessoa jurídica não pode apadrinhar criança e adolescente.


✖ ERRADO! O programa de apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao
adolescente, que se encontra em programa de acolhimento institucional, vínculos externos à instituição para
fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, moral,
físico, cognitivo, educacional e financeiro.

7. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVOS
Código Civil Art. 1º ao art. 69

8. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Anotações de aula.

Anotações pessoais.

Manual de Direito Civil do Tartuce.

Jurisprudência do Dizer o Direito

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