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DIREITOS DAS PESSOAS E BENS

PESSOA NATURAL. INÍCIO DA


PERSONALIDADE JURÍDICA. NASCITURO
AULA 03

Prof. MsC João Gomes


1. PERSONALIDADE JURÍDICA: INTRODUÇÃO

Um dos temas mais importantes para a Teoria Geral do


Direito Civil é, indubitavelmente, a questão da
personalidade jurídica, pois a sua regular caracterização é
uma premissa de todo e qualquer debate no campo do
Direito Privado. Neste sentido, faz-se mister esclarecer, de
plano, que o instituto é muito mais abrangente, aplicando-
se, também, às pessoas jurídicas. Não há como deixar de
registrar que, sendo o ser humano o destinatário final de
toda norma, forçoso concluir que o estudo da
personalidade jurídica tome como parâmetro inicial a
pessoa natural.
2. CONCEITO DE PERSONALIDADE JURÍDICA, SEGUNDO A DOUTRINA

De acordo com o Mestre Pablo Stolze

“Personalidade jurídica, portanto, para a Teoria Geral do Direito Civil, é


a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou,
em outras palavras, é o atributo para ser sujeito de direito. Adquirida a
personalidade, o ente passa a atuar, na qualidade de sujeito
de direito (pessoa natural ou jurídica), praticando atos e negócios
jurídicos dos mais diferentes matizes”.
3. AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A pessoa natural, para o direito, é, portanto, o ser humano, enquanto


sujeito/destinatário de direitos e obrigações.
O seu surgimento, segundo a dicção legal, ocorre a partir do
nascimento com vida (art. 2.º do CC/2002).

No instante em que principia o funcionamento do aparelho


cardiorrespiratório, clinicamente aferível pelo exame de docimasia
hidrostática de Galeno, o recém-nascido adquire personalidade
jurídica, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer
minutos depois.
3.1 TIPOS DE PESSOAS

• PESSOA NATURAL: Para o Direito Civil, pessoa


natural é o próprio ser humano dotado de
capacidade. É o sujeito provido de direitos e
obrigações a partir de seu nascimento com
vida (Artigo 2º do Código Civil).

• PESSOA JURÍDICA: É uma entidade ou


organização formada por uma ou mais
Pessoas Físicas, com propósitos e finalidades
específicas, e direitos e deveres próprios e
característicos.
3.2 ENTES DESPERSONALIZADOS
A expressão “entes despersonalizados” é criação doutrinária, sendo a
mais usual e conhecida. Contudo, não é unânime, havendo ainda várias
outras terminologias. Dentre elas, entes atípicos, sujeitos de
personalidade reduzida, grupos de personificação anômala.
O artigo 75 do CPC conferiu ao condomínio, à massa falida, ao espólio,
à herança vacante e jacente e às sociedades irregulares a faculdade de
figurarem como partes na relação processual, tornando evidente o
problema dos entes despersonalizados no ordenamento brasileiro.
Isso porque, os entes, que anteriormente não eram enquadrados como
sujeitos de direitos, passaram a ter a faculdade de participarem da
relação processual.
A LETRA DA LEI....
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
(...)
V - a massa falida, pelo administrador judicial;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
VII - o espólio, pelo inventariante;
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou,
não havendo essa designação, por seus diretores;
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem
personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens;
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de
sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil;
XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico.
JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA
4. QUAL A NATUREZA JURÍDICA DOS ANIMAIS?
De acordo com o Art. 82 do CC/2002 os animais
são bens semovente. Tais bens se movem de um
lugar para outro, por movimento próprio, como
é o caso dos animais. Sua disciplina jurídica é a
mesma dos bens móveis por sua própria
natureza, sendo-lhes aplicáveis todas as suas
regras correspondentes.

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CC de 2002:
Seção II - Dos Bens Móveis
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de
movimento próprio, ou de remoção por força
alheia, sem alteração da substância ou da
destinação econômico-social.
4.1 OS ANIMAIS SÃO SUJEITOS DE DIREITO?

Há forte tendência a dar aos animais um status diferenciado, não


mais os identificando como “coisas”, embora não se lhes seja
firmemente reconhecida ainda a condição de sujeitos de direitos.

No julgamento do REsp 1713167/SP, decidiu a 4.ª Turma do


Superior Tribunal de Justiça, por maioria, seguindo o voto do
Ministro Relator Luis Felipe Salomão, garantir o direito de um
homem a visitar sua cadela, que ficou com a ex-companheira na
separação.

Registre-se, ainda, tramitar no Congresso Nacional o Projeto de Lei


do Senado Nº 3.670/2015, dispondo expressamente que os
animais não são coisas, o que vai ao encontro de anseios também
manifestados em outros países ( Direito Comparado)
5. O NASCITURO

Nascituro é o ser humano concebido, mas ainda não


nascido. O conceito de nascituro inclui os seres humanos
concebidos “in vitro”, os produzidos através de clonagem
ou por outro meio científica e eticamente aceito. O
nascituro adquire personalidade jurídica ao nascer com
vida, mas sua natureza humana é reconhecida desde a
concepção, conferindo-lhe proteção jurídica através de
todo panorama jurídico

LIMONGI FRANÇA, define-o como sendo:

“o que está por nascer, mas já concebido no ventre


materno”.

A Lei Civil trata do nascituro na 2ª Parte do art. 2.º do


CC/2002.
5.1 A LETRA DA LEI...

CÓDIGO CIVIL/2002
Art. 2 o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro. (GRIFEI)
=========
QUAL SERIA O PRINCIPAL DIREITO DO NASCITURO?
Art. 124 a 126 do CP.
DIREITO À VIDA

CÓDIGO PENAL
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é
maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência
5.2 TEORIAS DOUTRINÁRIAS SOBRE O NASCITURO

5.2.1 TEORIA NATURALISTA.


Ora, adotada a tradicional teoria natalista, Segundo tal teoria a
aquisição da personalidade opera-se a partir do nascimento com vida,
conclui-se que não sendo pessoa, o nascituro possuiria mera
expectativa de direito.
5.2.2 TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL

Os adeptos desta teoria sufragam o entendimento no sentido de que o


nascituro possui direitos sob condição suspensiva (OERTMANN). Nesse
sentido, preleciona ARNOLDO WALD: “A proteção do nascituro explica-
se, pois há nele uma personalidade condicional que surge, na sua
plenitude, com o nascimento com vida e se extingue no caso de não
chegar o feto a viver”. Também essa é a linha de pensamento de
MIGUEL MARIA DE SERPA LOPES. Essa corrente, em geral, não é tão
incisiva ao ponto de reconhecer a personalidade do nascituro (inclusive
para efeitos patrimoniais).
5.2.3 TEORIA CONCEPCIONISTA

Tal teoria, por sua vez, influenciada pelo Direito francês, contou com
diversos adeptos. Segundo essa vertente de pensamento, o nascituro
adquiriria personalidade jurídica desde a concepção, sendo, assim,
considerado pessoa. É a posição de TEIXEIRA DE FREITAS, seguido por
BEVILÁQUA, LIMONGI FRANÇA e FRANCISCO AMARAL SANTOS. Essa
linha doutrinária rende ensejo inclusive a se admitirem efeitos
econômicos e materiais, como o direito aos alimentos, decorrentes da
personificação do nascituro.
5.2.3.1 JULGADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL

“Investigação de paternidade. Alimentos provisórios em favor do nascituro.


Possibilidade. Adequação do quantum. 1. Não pairando dúvida acerca do
envolvimento sexual entretido pela gestante com o investigado, nem sobre
exclusividade desse relacionamento, e havendo necessidade da gestante,
justifica-se a concessão de alimentos em favor do nascituro. 2. Sendo o
investigado casado e estando também sua esposa grávida, a pensão
alimentícia deve ser fixada tendo em vista as necessidades do alimentando,
mas dentro da capacidade econômica do alimentante, isto é, focalizando
tanto os seus ganhos como também os encargos que possui. Recurso provido
em parte (Agravo de Instrumento n. 70006429096, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves,
julgado em 13/08/2003)”
EXERCÍCIO

1. Disserte sobre, as pessoas naturais, pessoas jurídicas e os entes


despersonalizados.

2. Ticio deseja doar um imóvel ao seu sobrinho nascituro. “Mevio”, que


se encontra no ventre da Mãe, nascerá em aproximadamente 06 (seis)
meses. Tendo em vista ao que prevê o Código Civil/2002. Disserte
sobre a possibilidade Legal de Ticio proceder com a doação?
QUESTÃO 03

Em uma festa da faculdade, Bráulio, 19 anos, estudante de direito,


engravidou Rita, 18 anos, também estudante de direito. Ocorre que
Bráulio e Rita só ficaram juntos uma vez e ambos possuem namorados.
Bráulio não reconhece que é pai do nascituro que cresce na barriga de
Rita, mas Rita, por sua vez, tem certeza que Mévio é o pai, já que foi a
única pessoa com quem fez sexo na vida.
Tendo em vista os fatos apresentados pergunta-se: O nascituro que se
desenvolve no ventre de Rita, possui direito à pensão alimentícia?
Explique e apresente a base legal.
QUESTÃO 04
No julgamento do REsp 1713167/SP, decidiu a 4.ª Turma do Superior
Tribunal de Justiça, que um homem poderia visitar sua cadela, que ficou
com a ex-companheira, na separação. Como base neste julgado pode-se
afirmar que os animais são dotados de diretos subjetivos? Disserte e
apresente a base legal.

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