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1 PERSONALIDADE JURÍDICA
2 CAPACIDADE JURÍDICA
É a medida da personalidade, pois, para alguns, ela é plena e, para outros, limitada. Ou seja, é
a maior ou menor extensão dos direitos de uma pessoa.
A capacidade admite graus, já a personalidade não admite graus. Pode-se ser mais ou menos
capaz, mas não pode ser mais ou menos pessoa.
Embora, personalidade e capacidade se interpenetrem, se completem, não se confundem, uma
vez que a capacidade pode sofrer limitações.
A que todos têm ao nascer com vida, é a capacidade de direito ou de gozo, também
denominada capacidade de aquisição de direitos. Essa espécie de capacidade é reconhecida a todo
ser humano, sem qualquer distinção. Não existe ser humano sem capacidade de direito.
Nem todas as pessoas têm, contudo, a capacidade de fato, também denominada capacidade
de exercício ou de ação, que é aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil, exigindo sempre a
participação de outra pessoa, que as represente ou assista.
Quem possui as duas capacidades (de direito e de fato) tem capacidade plena. Quem só
ostenta a de direito, tem capacidade limitada.
Relação jurídica é toda relação da vida social regulada pelo direito. Estabelece-se entre
pessoas (sujeito ativo e passivo).
A ordem jurídica reconhece duas espécies de pessoas:
a) a pessoa natural (o ser humano, também chamado de pessoa física);
b) a pessoa jurídica (agrupamento de pessoas naturais, visando alcançar fins de interesse comum,
também denominada de pessoa moral ou coletiva).
Os animais não são considerados sujeitos de direitos no Brasil, embora mereçam proteção, não
têm capacidade para adquirir direitos. Os animais se classificam, atualmente, de acordo com o CC
brasileiro, como coisas (semoventes). Em alguns países como Alemanha, França, Suíça, Portugal,
dentre outros são considerados seres vivos dotados de sensibilidade (sensientes).
Do mesmo modo estão excluídas do conceito de sujeitos de direito as entidades místicas,
como almas, santos, orixás, etc.
Art. 1º do CC
Pessoa natural é, portanto, o ser humano considerado como sujeito de direitos e deveres.
A personalidade civil começa a partir do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo desde a
concepção, os direitos do nascituro.
Nascituro é o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno.
Três grandes teorias procuram definir a situação jurídica do nascituro:
a) Natalista: O CC brasileiro adotou essa teoria, pois exige o nascimento com vida para ter
início a personalidade. Antes do nascimento não há personalidade. Ressalvam-se, contudo, os direitos
do nascituro, desde a concepção. Nascendo, com vida, a sua existência, no tocante aos seus interesses,
retroagem ao momento da concepção.
Crítica: se o nascituro não é uma pessoa é, então, uma coisa.
b) Da personalidade condicional: os adeptos dessa teoria entendem que os direitos
assegurados ao nascituro encontram-se em estado potencial, sob condição suspensiva, o nascimento
com vida. Assim, o nascituro é uma pessoa condicional.
Crítica: o nascituro não tem direitos efetivos, mas apenas expectativa de direitos.
c) Concepcionista: entende que o nascituro já tem personalidade jurídica desde a concepção,
pois não há direito sem sujeito, tendo assim personalidade jurídica formal no que concerne aos direitos
personalíssimos. A constatação de que a proteção de certos direitos do nascituro encontra, na
legislação atual, pronto atendimento antes mesmo do nascimento, leva-nos a aceitar a aquisição da
personalidade desde a concepção apenas para a titularidade de direitos da personalidade, sem conteúdo
patrimonial (herança, doação), a exemplo do direito à vida, uma vez que os direitos patrimoniais
estariam sujeitos ao nascimento com vida, ou seja, sob condição suspensiva.
Para Maria Helena Diniz pode-se afirmar que o nascituro enquanto embrião ou feto possui
personalidade jurídica apenas formal, que lhe permite proteção aos seus direitos personalíssimos,
atinentes à sua existência como ser humano em potencial; ao nascer com vida, adquire também a
personalidade jurídica material, com os respectivos direitos patrimoniais e obrigacionais.
Lei de Alimentos Gravídicos- Lei n.º 11.804/2008.
Precedentes do STJ tem reconhecido direitos aos ainda não nascidos. No REsp 1.415.727-SC,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014, a 4ª Turma do STJ assim decidiu:
4 DAS INCAPACIDADES
4.1 Conceito
É a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei somente aos que,
excepcionalmente, necessitam de proteção, pois a capacidade é a regra.
No Brasil não há incapacidade de direito, porque todos se tornam, ao nascer, capazes de
adquirir direitos. Há, portanto, somente incapacidade de fato ou de exercício.
Supre-se a incapacidade, que pode ser absoluta ou relativa, pelos institutos da representação e
da assistência.
A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício dos atos da vida civil (art. 3º,
CC). O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do incapaz sem a sua participação,
sob pena de nulidade (art. 166, I, CC).
O art. 3º do CC estabelece: “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da
vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos” (BRASIL, 2002).
OBS: A Lei n.º 13146/2015, denominada Estatuto da Pessoa com Deficiência, promoveu uma
profunda mudança no sistema de incapacidades, tendo em vista os princípios da igualdade e da
dignidade da pessoa humana, pois para ela os deficientes têm uma qualidade que os difere dos demais,
mas não uma doença. Por essa razão são considerados plenamente capazes (art.6º, da Lei n.º
13146/15).
Sobre o assunto já decidiu o STJ, REsp 1927423/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Terceira Turma, julgado em 27/04/2021, DJe 04/05/2021:
A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique os atos da vida civil desde que
assistido, sob pena de anulabilidade (art. 171, I, CC). O ato é praticado pelo próprio incapaz, mas na
presença de seu assistente.
Certos atos, porém, podem ser praticados sem a assistência de seu representante legal como:
ser testemunha, aceitar mandato, fazer testamento, casar, ser eleitor, celebrar contrato de trabalho, etc.
De acordo com o art. 4º do CC, são relativamente incapazes:
I- Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
São os menores púberes. Podem praticar determinados atos sem a assistência de seus
representantes. Ex.: testemunhar, aceitar mandato, votar, fazer testamento, etc.
II- Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos,
Somente os alcoólatras ou dipsômanos (os que têm impulsão irresistível para beber) e os
toxicômanos (viciados no uso e dependentes de substâncias alcoólicas e entorpecentes). Aplicam-lhes
também as regra da interdição.
III- Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade.
(Ex.: arteriosclerose, paralisia, embriaguez não habitual, uso eventual de entorpecentes,
hipnose, etc., desde que não permanentes). Curatela: art. 1772, CC.
IV- os pródigos
Pródigo é o indivíduo que dissipa seu patrimônio desvairadamente. É aquele que gasta
imoderadamente, dissipando seu patrimônio com risco de reduzir-se à miséria. Trata-se de um desvio
de personalidade. O pródigo só passará à condição de relativamente incapaz depois de declarado como
tal em sentença de interdição. A interdição do pródigo só interfere em atos de disposição e oneração
do seu patrimônio (emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado,
art.1782, CC). Não há limitações concernentes à pessoa do pródigo (pode votar, ser jurado,
testemunha, fixar domicílio, exercer profissão que não seja de comerciante, casar).
OBS: A declaração de nulidade ou anulação dos atos praticados anteriormente à interdição
pelo interdito só pode ser obtida em ação autônoma, uma vez que o processo de interdição tem
procedimento especial e se destina unicamente à decretação da interdição com efeito ex nunc (não
retrooperante).
Parágrafo único do art. 4º, CC: “A capacidade dos indígenas será regulada por legislação
especial”. (BRASIL, 2002).
O diploma legal que regula atualmente a situação do índio no Brasil é a Lei n.º 6001/73, que
dispõe sobre o Estatuto do Índio. Referida lei considera nulos os negócios celebrados entre um índio e
uma pessoa estranha à comunidade indígena sem a participação da FUNAI, enquadrando-o como
absolutamente incapaz. Entretanto, declara que se considerará válido tal ato se o índio revelar
consciência e conhecimento deste ato e ao mesmo tempo, tal ato não o prejudicar.
Os índios que vivem nas comunidades não integradas à civilização já nascem sob a tutela
estatal até que preencham os requisitos exigidos pelo art. 9º da Lei 6001/73.
4.4.1Emancipação
A emancipação legal também ocorre no caso de prestação de serviço militar, que fará com que
cesse para o menor de 17 anos a incapacidade civil (art. 73 da Lei n.º 4375/64).
A emancipação legal independe de registro e produzirá efeito desde logo.
A voluntária e judicial devem ser registradas em livro próprio do 1º Ofício do Registro Civil
da comarca do domicílio do menor, anotando-se também no registro de nascimento. Antes do registro
não produzirá efeito.
A emancipação, em qualquer de suas formas, é irrevogável. Irrevogabilidade não se confunde
com invalidade do ato.
Na emancipação voluntária, segundo a jurisprudência, inclusive do STF, não se aplica o efeito
de isentar os pais da obrigação de indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor
emancipado, para evitar emancipações maliciosas. Essa afirmação somente se aplica às emancipações
voluntárias e não às demais espécies.
O STJ, aliás, já firmou entendimento no sentido de que a redução da maioridade civil não
implica cancelamento automático da pensão alimentícia.
Art. 6º do CC
Doutrinariamente fala-se em: morte real, morte simultânea ou comoriência, morte civil e
morte presumida.
Espécies de morte:
5.2 A comoriência
É prevista no art. 8º do CC. Dispõe que se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma
ocasião (não precisa ser no mesmo lugar), não se podendo averiguar qual deles morreu primeiro,
presumir-se-ão simultaneamente mortos.
Comoriência é a morte simultânea de pessoas que são reciprocamente herdeiras ou
beneficiárias.
Somente interessa saber qual morreu primeiro se um for herdeiro ou beneficiário do outro,
pois, não há transferência de bens entre comorientes, um não herda do outro. Ex.: Morre em um
acidente um casal que não deixou descendentes e nem ascendentes, sem saber qual morreu primeiro
um não herda do outro. Assim, os colaterais da mulher e do marido é quem serão chamados a receber
a herança.
O diagnóstico científico do momento exato da morte só pode ser feito por médico legista. Se,
este não puder esclarecer o exato momento da morte, presumir-se-á a morte simultânea.
Existiu na idade média para os condenados à prisão perpétua e os que abraçavam profissão
religiosa, permanecendo recolhidos. Essas pessoas eram consideradas mortas para o mundo.
Atualmente, não existe mais, há apenas resquícios. Ex.: art. 1816, CC (somente para efeitos de herança
na exclusão por indignidade).
5.4.1 Morte presumida com declaração de ausência (art.6, 2ª parte e art. 22 a 39 do CC).
Presume-se a morte, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da
sucessão definitiva (CC., art. 6º, 2ª parte).
Da ausência: Ausente, portanto, é a pessoa que deixa seu domicílio sem dar notícias de seu
paradeiro, sem deixar representante ou procurador para administra-lhe os bens, devendo por isso ser
declarado ausente pelo juiz. Não se pretende que se declare a morte do ausente, mas que se encontra
desaparecido e não deixou representante para cuidar de seus negócios.
A situação do ausente passa por três fases:
A) Da curadoria do ausente (art. 22 a 25, CC): desaparecido o indivíduo sem que tenha deixado
procurador com poderes para administra-lhe os seus bens, o juiz nomear-lhe-á um curador, após a
declaração de sua ausência e arrecadação dos bens do ausente (art. 22, CC).
A curadoria fica restrita aos bens, não produzindo efeitos de ordem pessoal, e prolonga-se por
um ano, durante o qual serão publicados editais, de dois em dois meses, convocando o ausente a
reaparecer.
Tendo deixado procurador ou representante, em se passando três anos sem que dê sinal de
vida, poderá ser requerida a sucessão provisória.
Cessa a curadoria: pelo comparecimento do ausente; pela certeza da morte do ausente e pela
sucessão provisória.
B) Da sucessão provisória (art. 26 a 36, CC): tem início cento e oitenta dias após a publicação
da sentença que a determinar, dando início ao processo de inventário ou abertura do testamento,
ocasião em que a ausência do desaparecido passa a ser considerada presumida.
Legitimam-se para requerer a sucessão provisória as pessoas elencadas no art. 27, CC.
Os bens serão entregues aos herdeiros, como se o ausente fosse falecido, porém em caráter
provisório. Os colaterais terão que prestar garantia da restituição deles para serem imitidos na posse.
Essa fase cessa pelo comparecimento do ausente.
Converte-se em definitiva declarando-se a morte presumida: a) quando houver certeza da
morte do ausente; b) 10 anos depois de passada em julgado a sentença de abertura da sucessão
provisória, e c) quando o ausente contar com oitenta anos de idade e houverem decorrido cinco anos
das últimas notícias suas.
Segundo o STJ, 3ª Turma, Rel Min. Nancy Andrighi, REsp 1.924.451-SP, j.19.10.2021 :
“No caso de ausente com 80 anos de idade e desaparecido há mais de 5 anos, é dispensável a
C) Da sucessão definitiva (art. 37 a 39): ocorre com a declaração da morte presumida. Sua
abertura e levantamento das cauções prestadas poderão ser requeridos pelos interessados dez anos
depois de passada em julgado a sentença que concedeu a abertura da sucessão provisória ou provando-
se que o ausente conta com oitenta anos de idade e decorreram cinco anos das últimas notícias suas.
Constitui causa de dissolução conjugal (art. 1571,§ 1º, CC).
Retorno do ausente: aberta a sucessão definitiva, os sucessores deixam de ser provisórios,
adquirindo o domínio dos bens, mas de modo resolúvel, porque, se o ausente regressar até 10 anos
depois da abertura da sucessão definitiva, receberá os bens existentes, no estado em que se acharem os
sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido pelos bens alienados.
Porém, se regressar após esse prazo, não terá direito a nada.
Nestes casos, pretende-se que se declare a morte que se supõe ter ocorrido, sem decretação de
ausência, para viabilizar o registro do óbito e regular a sucessão causa mortis, depois de esgotadas
todas as buscas, devendo a sentença fixar a data provável do óbito.
Ex.: pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra
catástrofe, provada a presença no local do desastre e não sendo possível encontrar o cadáver.
Desaparecimento em razão de participação em atividades políticas ou em campanha (ação militar), etc.
A declaração de morte presumida é judicial e o procedimento a ser seguido é o da justificação
(art. 88, LRP).