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DESCRIÇÃO

As noções de pessoa, bens, direitos obrigacionais, direitos reais, posse e propriedade.

PROPÓSITO
Estudar a temática das pessoas e dos bens é importante para a sua formação, pois são noções centrais do Direito Civil com repercussão
sobre os mais diversos ramos do Direito, assim como estudar a posse e a propriedade permite compreender melhor o objeto do Direito das
Coisas e as nuances do principal direito real. Além disso, compreender a contraposição entre direitos obrigacionais e reais tem relevância,
pois estão relacionados ao Direito Patrimonial.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo, tenha em mãos o Código Civil e os textos das Leis n. 13.146/2015 e n. 6.015/1973.

OBJETIVOS
MÓDULO 1

Identificar qual é o tratamento dado pela Parte Geral do Código Civil às pessoas e aos bens

MÓDULO 2

Reconhecer as principais diferenças entre os direitos obrigacionais e os direitos reais

MÓDULO 3

Categorizar quais são os aspectos principais da posse e do direito de propriedade

INTRODUÇÃO
O estudo das pessoas e dos bens nos permite aprender diversas noções centrais do Direito Civil, como as de personalidade, capacidade,
bens imóveis, bens móveis, bens fungíveis etc. Esses e outros temas foram disciplinados no Código Civil, que cuida da temática das pessoas
e dos bens nos Livros I e II de sua Parte Geral, respectivamente.

Como veremos, houve diversas modificações recentes no capítulo do Código Civil sobre a personalidade e a capacidade das pessoas físicas
e no capítulo acerca das pessoas jurídicas. Trata-se, assim, de tema relevante e atual.
Exemplo das modificações instituídas pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) é a redação atual do
artigo 3º do Código Civil, segundo o qual apenas os menores de dezesseis anos são considerados absolutamente incapazes de exercer os
atos da vida civil. Assim, as pessoas que não puderem exprimir a sua vontade, em razão de causa transitória ou permanente, passaram a ser
consideradas relativamente incapazes, e não mais absolutamente incapazes, como antes constava no inciso III do artigo 3º.

Em relação às pessoas jurídicas, a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica (Lei n. 13.874/2019) acrescentou o artigo 49-A no Código
Civil. Este artigo prevê que a pessoa jurídica não deve ser confundida com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores.

Para desenvolvermos o estudo das pessoas e dos bens, primeiro abordaremos as noções de personalidade e de capacidade, passando para
o início e o fim da personalidade. Na sequência, trataremos das incapacidades. Posteriormente, aprenderemos sobre a pessoa jurídica. Por
fim, distinguiremos as noções de objeto de direito, coisa e bem, abordando a classificação dos bens.

MÓDULO 1

 Identificar qual é o tratamento dado pela Parte Geral do Código Civil às pessoas e aos bens

AS NOÇÕES DE PESSOA, PERSONALIDADE E CAPACIDADE


De acordo com o artigo 1º do Código Civil (CC), toda pessoa “é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. A partir da leitura desse
enunciado, cabe distinguir as noções de pessoa e de personalidade jurídica, assim como as de sujeito de direito e de capacidade.

O termo pessoa engloba tanto o ser humano que nasce com vida quanto os entes que, uma vez registrados, adquirem esse reconhecimento
pelo Direito.
NESSE SENTIDO, PESSOA DENOTA UMA CRIAÇÃO DO DIRETO PARA IDENTIFICAR O SER
HUMANO EM SUAS RELAÇÕES INTERSUBJETIVAS (MELLO, 2019, § 29, 1, P. 165) OU, ENTÃO,
DETERMINADOS ENTES ASSIM CONSIDERADOS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO (COMO
OS ENTES ESTATAIS, AS SOCIEDADES SIMPLES E EMPRESARIAIS ETC.).
Como veremos adiante, existem duas espécies de pessoas:

A física ou natural (isto é, o ser humano)


A jurídica (isto é, entes como os referidos)

Na perspectiva do mundo jurídico, personalidade jurídica é o atributo conferido às pessoas pelo ordenamento. É o “valor jurídico que deriva
do fato de ser pessoa” (PONTES DE MIRANDA, 2012, § 50.B, p. 262).
Outra noção importante para o presente estudo é a de sujeito de direito. Trata-se de figurante, no polo ativo ou passivo, de uma relação ou
situação jurídica e, para a quase totalidade dos autores, apenas quem seja considerado pessoa pode ser sujeito de direito.

Existe, porém, quem entenda que a definição de sujeito de direito seja mais abrangente e não se restrinja às pessoas. Conforme Marcos
Bernardes de Mello, o ordenamento jurídico concede, excepcionalmente, a possibilidade a determinados entes de integrarem posições ativas
ou passivas em relações jurídicas sem serem considerados pessoas (MELLO, 2019, § 27, 3.1, p. 150).

 EXEMPLO

É o que ocorre com os condomínios, a massa falida e o espólio.

Se adotado o posicionamento minoritário, pode ser alcançada a seguinte conclusão: toda pessoa é sujeito de direito, mas isso não significa
que todo sujeito de direito seja pessoa.

E QUAL SERIA O SENTIDO DO TERMO CAPACIDADE?


O artigo 1º do Código Civil contempla o “princípio da capacidade total de direito” (PONTES DE MIRANDA, 2012, § 50.B, p. 259), pois prevê
que toda pessoa é capaz de direitos e deveres. Tendo isso em mente, capacidade pode ser definida como o atributo que permite adquirir
direitos e contrair deveres ou, mais amplamente, a qualidade para ser titular de uma situação jurídica. Essa é a denominada capacidade de
direito ou de gozo.


Distinta é a capacidade de fato (também chamada de capacidade de agir). Trata-se da possibilidade de a pessoa exercer, diretamente, os
seus direitos. Caso a pessoa precise exercer os seus direitos por meio de representante legal ou necessite da assistência dos pais, tutores
ou curadores, será reconhecida a sua capacidade de direito, mas não a de fato.

Resumindo

Pessoa O termo engloba o ser humano e os entes que o ordenamento reconhece como pessoa

Personalidade Jurídica Atributo conferido às pessoas pelo ordenamento

Sujeito de Direito Figurante de uma relação ou situação jurídica

Capacidade Atributo que permite adquirir direitos e contrair deveres

 Quadro: Definição de pessoa, personalidade jurídica, sujeito de direito e capacidade. Elaborado por: Giovana Valentiniano Benetti.
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Esclarecidas as distinções entre as noções de pessoa, de personalidade jurídica, de sujeito de direito e de capacidade, podemos estudar o
início e o término da personalidade.

COMEÇO E FIM DA PERSONALIDADE

A personalidade civil da pessoa, conforme o artigo 2º do Código Civil, “começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro”. A redação não parece deixar dúvidas que o termo inicial da personalidade jurídica da pessoa física
é o nascimento com vida, porém, há diferentes entendimentos doutrinários sobre o assunto.
Para alguns autores, a personalidade jurídica começa com a concepção.

Para outros, o nascituro é sujeito de direito e, na hipótese de nascer com vida, considera-se que a personalidade é adquirida desde a
concepção.
Finalmente, há os que entendem ser necessário o nascimento com vida para o início da personalidade. Esta última corrente é a que se
considera alinhada ao disposto no artigo 2º do Código Civil.

SE O NASCIMENTO COM VIDA É O TERMO INICIAL DA PERSONALIDADE, CABE


QUESTIONAR:
Como se justifica a proteção que a ordem jurídica concede ao nascituro, desde a concepção? A resposta não é unânime na doutrina.

Para Francisco Amaral, o nascituro, formalmente, tem personalidade jurídica, pois o nascimento seria a condição para que a personalidade
se consolidasse, mas não para o seu surgimento. Para alcançar tal conclusão, o autor invoca o direito à vida previsto no caput do artigo 5º da
Constituição Federal e os artigos 1.609, parágrafo único, 542 e 1.779 do Código Civil, que “consideram também o feto, desde a concepção”
como sujeito de direito (AMARAL, 2018, p. 325).

Já Marcos Bernardes de Mello entende que o nascituro é sujeito de direito, mas não pode ser considerado pessoa. Isto é, o nascituro pode
integrar uma relação jurídica e ser titular de direitos, porém, não é considerado pessoa, pois, para tanto, é necessário o nascimento com vida
(MELLO, 2019, § 28, 6, p. 161).

Independentemente do posicionamento doutrinário adotado, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que deve ser reconhecida a titularidade
de direitos da personalidade ao nascituro, como o direito à vida (REsp n. 1.415.727/SC).

 ATENÇÃO

Os embriões não implantados no útero (excedentários), que não se confundem com os nascituros, não tem personalidade jurídica, sendo
considerados bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico (TEPEDINO; OLIVA, 2020, p. 121).

O término da personalidade da pessoa física ocorre com a sua morte, como está no artigo 6º do Código Civil. Para determinar quando
ocorre a morte, utiliza-se, atualmente, o momento em que se verifica a morte encefálica, isto é, quando há a cessação da atividade cerebral
(Lei n. 9.434/1997, artigo 3º; Decreto n. 9.175/2017, artigo 17). Existem situações, contudo, em que o ordenamento jurídico presume a
ocorrência da morte, como nos casos de ausência (artigo 6º CC); nas situações em que for extremamente provável a morte de quem estava
em perigo de vida; ou na hipótese de não ser localizado, passados dois anos do término da guerra, alguém que tenha desaparecido em
campanha ou sido feito prisioneiro (artigo 7º CC).
Tanto o nascimento quanto o óbito devem ser registrados no Registro Civil das Pessoas Naturais, conforme o disposto no artigo 9º, I do
Código Civil e no artigo 29, I e III, da Lei 6.015/1973). Assim também ocorre com as sentenças declaratórias de ausência e de morte
presumida (artigo 9º, IV do Código Civil e no artigo 29, VI, da Lei n. 6.015/1973).

INCAPACIDADES

Nem todas as pessoas têm a possibilidade de exercer, diretamente, os seus direitos, o que significa não deterem capacidade de fato, sendo
consideradas, portanto, incapazes.
O ordenamento jurídico distingue entre os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes.

ABSOLUTAMENTE INCAPAZES
Atualmente, apenas os menores de dezesseis anos são considerados absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil. Assim,
absolutamente incapazes são as pessoas cujos atos da vida civil devem ser exercidos por via de representantes, que agem em seu nome e
em seu interesse. O representante pode ser automaticamente constituído quando há poder familiar entre ele e o representado (artigo 1.634
do Código Civil) ou, então, pode ser nomeado ou designado pelos pais em conjunto ou pela autoridade judiciária (artigos 1.729; 1.732; 1.734;
1.747, I; 1.774 CC).

RELATIVAMENTE INCAPAZES
Os relativamente incapazes são aqueles cuja incapacidade atine a certos atos ou à maneiro de os exercer, conforme o artigo 4º do Código
Civil. No rol de relativamente incapazes constante do artigo 4º, estão os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; os ébrios
habituais (isto é, os que consomem bebida alcóolica imoderadamente) e os viciados em tóxico; os que, por causa transitória ou permanente,
não podem exprimir sua vontade; e os pródigos (isto é, os que gastam imoderadamente). O exercício dos direitos pelos relativamente
incapazes conta com a participação de assistentes (e não representantes). Na assistência, o assistente pratica o ato juntamente com o
assistido.

Cabe questionar o que acontece se a pessoa incapaz praticar atos jurídicos sem o intermédio de seu representante ou sem a devida
assistência. Na hipótese de o absolutamente incapaz manifestar a sua vontade sem o intermédio de seu representante, o ato será nulo
(artigo 166, I, CC). Já se o relativamente incapaz praticar atos jurídicos sem contar com o assistente, o ato será anulável (artigo 171, I, CC).

Cabe referir, ainda, que a incapacidade, para os menores, pode cessar quando, por exemplo, exercerem emprego público efetivo (artigo 5º
do Código Civil).

 ATENÇÃO

É importante notar que a disciplina das incapacidades sofreu alterações por meio do Estatuto da Pessoa com Deficiência. É considerada
plenamente capaz a pessoa com deficiência, isto é, aquela que apresenta impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial que pode obstruir a sua participação plena na sociedade (artigo 1º do Estatuto da Pessoa com Deficiência). Neste sentido, diz o
artigo 6º do Estatuto: “A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa [...]”.
Todavia, quando a pessoa com deficiência não apresentar aptidão cognitiva para praticar atos da vida civil, a Lei faculta-lhe a adoção do
processo de tomada de decisão apoiada (artigo 84, § 2º do Estatuto).
A capacidade dos indígenas é regulada pela Lei n. 6.001/1973, conforme determinado pelo artigo 4º, parágrafo único, do Código Civil.
Segundo a Lei n. 6.001/1973, os índios e as comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional sujeitam-se ao regime tutelar
nela estabelecido (artigo 7º).

DA PESSOA JURÍDICA

Pessoa jurídica é a entidade a que a lei atribui personalidade jurídica, como os entes estatais, as sociedades, as associações etc. O Código
Civil contém diversas regras sobre a pessoa jurídica, como pode ser visto nos artigos 40 a 69.
 ATENÇÃO

A pessoa jurídica não se confunde com as pessoas que as criam, as formam ou as integram, de acordo com o princípio da inconfundibilidade
das personalidades dos sócios e da sociedade (MELLO, 2019, § 31, 1, p. 178-179). É o que está no artigo 49-A do Código Civil.

Contudo, em determinadas hipóteses, a autonomia patrimonial cede diante de atos caracterizadores de abuso da personalidade jurídica.
Nessas situações, pode haver a desconsideração da personalidade jurídica pelo juiz a fim de que os efeitos de certas relações sejam
estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios que foram beneficiados com o abuso (artigo 50 do Código Civil).
 ATENÇÃO

É importante referir que, nas relações civis, devem ser interpretados restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade
jurídica, previstos no art. 50 (Enunciado n. 146 da III Jornada de Direito Civil).

A figura da desconsideração da personalidade jurídica também é prevista no artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor e, em relação ao
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente, no artigo 4º da Lei 9.605/1998. Além disso, o Código de Processo Civil
disciplinou o incidente de desconsideração da personalidade jurídica nos artigos 133 a 137, assim como a Consolidação das Leis do
Trabalho, no artigo 855-A.

Diferentes teorias buscam explicar a natureza da pessoa jurídica. Aqui mencionaremos, brevemente, a teoria da ficção, a teoria orgânica, a
teoria institucional e a teoria da realidade técnica:

A pessoa jurídica é considerada como mera criação artificial da Lei ou da doutrina, na medida em que apenas
Teoria da Ficção
a pessoa física seria figurante de uma relação jurídica.

A pessoa jurídica apresenta interesses próprios e distintos dos seus membros, manifestando a sua vontade
Teoria Orgânica
própria por meio dos seus órgãos.

Teoria Institucional A pessoa jurídica é uma organização social que se destina a atingir fins socialmente úteis.
Teoria Realidade A pessoa jurídica é uma realidade no mundo jurídico, resultando da atribuição da personalidade a ente titular
Técnica de seus próprios direitos e apto a exprimir a sua própria vontade.

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Os autores costumam apontar que o Código Civil acolheu a teoria da realidade técnica no artigo 45, ao prever, basicamente, que a
existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começa com a inscrição do ato constitutivo (isto é, contrato social ou estatuto) no
registro próprio.

O Código Civil também prevê que as pessoas jurídicas se classificam em de direito público e de direito privado (artigo 40).

Há pessoas jurídicas de direito público interno e externo.

DIREITO PÚBLICO INTERNO


São de direito público interno os entes integrantes da Administração Pública Direta (União, estados, municípios e Distrito Federal) e da
Administração Pública Indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas), nos termos do artigo 41
do Código Civil.

DIREITO PÚBLICO EXTERNO


Diferentemente, são consideradas pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e as pessoas que forem regidas por
nomas de direito público internacional (como a Organização das Nações Unidas – ONU), conforme o artigo 42.

Segundo Marcos Bernardes de Mello, a personalidade jurídica de direito público é resultado “de atos de soberania ou de autonomia
praticados conforme as regras e os princípios de cada âmbito de poder” (MELLO, 2019, § 31, 3.1, p. 182). No plano internacional, a
personalidade jurídica do Estado resulta de seu reconhecimento pela comunidade internacional; no plano do direito público interno, os
Estados-membros e o Distrito Federal são criações da Constituição Federal, os Municípios, as autarquias e fundações públicas são criados
por lei (MELLO, 2019, § 31, 3.1, p. 183-184).

Já as pessoas jurídicas de direito privado previstas no artigo 44 do Código Civil são as associações (artigos 53 a 61), as sociedades
(artigo 981 e seguintes), as fundações (artigos 62 a 69), as organizações religiosas (artigo 44, § 1º), os partidos políticos (artigo 44, § 3º) e as
empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI) (artigo 980-A).

O registro das pessoas jurídicas de direito privado, imprescindível para o começo da existência da pessoa jurídica, deve ser feito em local
próprio.

Nos termos do artigo 1.150 do Código Civil, “O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas
Mercantis a cargo das Juntas Comerciais”.

Já a sociedade simples vincula-se ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, assim como as associações civis, religiosas, científicas ou
literárias, bem como as fundações e associações de utilidade pública (artigo 114 da Lei 6.015/1973).

Exceção: As sociedades simples de prestação de serviços de advocacia ou sociedade unipessoal de advocacia devem ser registradas na
Ordem dos Advogados do Brasil (artigos 15 e 16, § 3º da Lei n. 8.906/1994).

Quanto ao término da personalidade da pessoa jurídica, pode-se dizer que:

Para as pessoas de direito público interno, a sua extinção se dá pela previsão em norma de mesma hierarquia que as criou ou por ato
administrativo (MELLO, 2019, § 31, 3.1, p. 184).


Já para as pessoas jurídicas de direito privado, considerando que a sua existência começa, como antes mencionado, com a inscrição do ato
constitutivo no registro próprio, o término de sua existência está, necessariamente, atrelado à desconstituição de seu registro.

Vencido o exame do tópico relativo às pessoas, passaremos ao estudo dos bens.

COISA, BEM E OBJETO DE DIREITO


O Código Civil de 2002, diferentemente do anterior, utiliza apenas o termo bem no Livro II da Parte Geral, e não emprega o termo coisa. José
Carlos Moreira Alves, relator da Parte Geral do Anteprojeto do Código Civil, afirma que se deve evitar o vocábulo coisa por ser mais amplo do
que o conceito de bem (MOREIRA ALVES, 2003, p. 80 e 143).

QUAL É, ENTÃO, O SIGNIFICADO DE CADA PALAVRA?


''

Para alguns autores, coisa é aquilo que existe materialmente (como um carro); para outros, seriam todas as entidades existentes e não
apenas as corpóreas.

Quanto ao termo bem jurídico, para alguns, seria, em sentido amplo, tudo o que pode ser objeto de relação jurídica e, em sentido estrito,
seria algo imaterial (como o direito de invenção).

É preciso esclarecer que o objeto de uma relação jurídica não se confunde com o objeto de direito. Objeto de uma relação jurídica significa
o objeto de direito sobre o qual recaem os direitos e deveres que são o conteúdo da relação jurídica.
 EXEMPLO

Em uma relação jurídica de direito de propriedade, os direitos podem recair sobre um apartamento, sobre um terreno, que são o seu objeto
(MELLO, 2019(b), § 37, 3, p. 213).

Já objeto de direito significa o bem da vida que integra, concretamente, a esfera jurídica de alguém (MELLO, 2019, § 36, 1, p. 203). Podem
ser considerados como objeto de direito, por exemplo, bens materiais (como um bem móvel ou imóvel) e bens imateriais (como direitos
autorais).

De qualquer forma, como mencionado no início deste tópico, o Código Civil de 2002 emprega apenas o vocábulo bem no Livro II da Parte
Geral, ao tratar de diferentes espécies de bens.

A doutrina controverte sobre o sentido das expressões “coisa”, “bem” e “objeto de direito”.


Dependendo do entendimento adotado, os sentidos de “coisa” e “bem” são mais ou menos amplos.


O Código Civil de 2002, diferentemente do anterior, utiliza apenas o termo “bem” no Livro II da Parte Geral.

CLASSIFICAÇÕES DOS BENS


O Código Civil, no Livro II, apresenta três capítulos, compreendendo:

Os bens considerados em si mesmos

Os bens reciprocamente considerados

Os bens públicos

Dentre os bens considerados em si mesmos, estão os bens imóveis; móveis; fungíveis; consumíveis; divisíveis; singulares e coletivos.

BENS IMÓVEIS

Os bens imóveis são aqueles que, para serem transportados ou removidos, seriam substancialmente afetados ou destruídos ou, então, são
assim considerados por determinação legal. Segundo o artigo 79 do Código do Civil, o solo e tudo o que nele se incorporar, natural ou
artificialmente, são considerados imóveis, como uma árvore. Por determinação legal (artigo 80), são considerados bens imóveis os direitos
reais sobre imóveis (por exemplo, propriedade, uso etc., conforme o artigo 1.225) e as ações que os asseguram, assim como o direito à
sucessão aberta.

BENS MÓVEIS

Diversamente, os bens móveis são os suscetíveis de movimento próprio (semoventes), como os animais, ou de remoção por força alheia,
sem alteração da substância ou da destinação econômico-social, como um computador (artigo 82 CC). São considerados móveis para os
efeitos legais: energias que tenham valor econômico; direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; direitos pessoais de
caráter patrimonial e respectivas ações (artigo 83).
BENS FUNGÍVEIS

Os bens fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (artigo 85 CC), como o
dinheiro.
BENS INFUNGÍVEIS

Já os bens infungíveis são insubstituíveis por apresentarem características que os tornam singulares, como uma moeda rara pertencente a
um colecionador. Exemplo de aplicação dessa distinção é a identificação do contrato como comodato (empréstimo de bens infungíveis) ou
como mútuo (empréstimo de bens fungíveis).
BENS CONSUMÍVEIS

Os bens consumíveis são os bens cujo uso ordinário acarreta a destruição imediata da própria substância, como os alimentos. Também
assim são considerados os bens destinados à alienação (artigo 86 CC), o que se denomina de “consumo jurídico”. Vamos pensar em uma
revista: temos um bem, naturalmente, inconsumível, mas, quando é colocado à venda, torna-se, juridicamente, um bem consumível.
BENS DIVISÍVEIS

Os bens divisíveis podem ser fracionados sem implicar alteração em sua substância, redução considerável em seu valor ou prejuízo do uso
a que são destinados (artigo 87 CC). Por exemplo, um terreno com características homogêneas, que pode ser dividido sem afetá-las, é um
bem divisível. Já um celular não é passível de divisão sem acarretar a modificação de suas características essenciais. Nem sempre os bens
naturalmente divisíveis são, necessariamente, divisíveis em perspectiva jurídica, pois podem tornar-se indivisíveis por determinação legal ou
pela vontade das partes (artigo 88).
BENS SINGULARES

Já os bens singulares são os que se consideram em sua individualidade, independentemente de estarem reunidos com outros (artigo 89
CC).
BENS COLETIVOS

Os coletivos são bens singulares tomados em conjunto, como um todo unitário (artigo 90). Podemos pensar em um livro como bem singular
e em uma biblioteca como bem coletivo.

No capítulo dos bens reciprocamente considerados, o Código Civil trata dos bens principais e assessórios, além das pertenças.

Os bens principais existem de modo independente, enquanto os assessórios têm a sua existência atrelada à do principal e, assim, são
considerados os produtos (utilidades que são retiradas do bem e diminuem a sua quantidade, como as pedras em uma pedreira), frutos
(utilidades periodicamente originadas pelo bem, como os frutos das árvores) e benfeitorias (obras ou despesas realizadas para conservar,
melhorar ou embelezar o bem principal, como um jardim) (artigos 92, 95, 96).

O caráter não autônomo do bem acessório faz com que o seu tratamento pelo ordenamento jurídico se dê de modo subordinado à finalidade
econômica e ao destino do bem principal (TEPEDINO; OLIVA, 2020, p. 200). Podemos exemplificar essa relação entre os bens, recorrendo
ao disposto no artigo 822, segundo o qual a fiança abrange todos os acessórios da dívida principal, exceto se for limitada.

Já as pertenças são os bens destinados ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro (artigo 92), como o piano na sala de um
conservatório musical (bem principal). Não são partes constitutivas do bem principal, de modo que o negócio jurídico que envolver o bem
principal não abrange as pertenças, salvo se o contrário resultar do disposto na lei, da manifestação das partes ou das circunstâncias do caso
(artigo 94).

Por fim, os bens públicos são de titularidade das pessoas jurídicas de direito público interno (Administração Pública Direta e Indireta), sendo
particulares todos os demais (artigo 98). Os bens públicos são classificados como de uso comum do povo (como rios, mares, estradas, ruas
e praças), de uso especial (edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da Administração Pública Direta e Indireta), e os
dominicais (que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público).
 ATENÇÃO

Vale ressaltar que os bens públicos não podem ser alienados, ressalvando-se os dominicais, que podem ser alienados se houver autorização
legislativa (artigos 100 e 101).

Vejamos três esquemas sobre a classificações dos bens:

Bens imóveis

Bens móveis

Bens fungíveis

Bens consumíveis
Bens considerados em si mesmo
Bens divisíveis

Bens divisíveis

Bens singulares

Bens coletivos
Bens principais

Bens reciprocamente considerados Bens acessórios

Pertenças

Bens de uso comum do povo

Bens públicos Bens de uso especial

Bens dominicais

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CLASSIFICAÇÕES DOS BENS

Vamos analisar no vídeo como a classificação dos bens ocorre.


VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 2

 Reconhecer as principais diferenças entre os direitos obrigacionais e os direitos reais

DIREITOS OBRIGACIONAIS E DIREITOS REAIS


O Código Civil trata do Direito das Obrigações e do Direito das Coisas em sua Parte Especial, nos Livros I e III, respectivamente.

LIVRO I
Para que se tenha uma ideia da amplitude e da importância da matéria, no Livro atinente ao Direito das Obrigações são tratadas as
modalidades das obrigações e as formas de sua transmissão, o pagamento, o adimplemento e o inadimplemento das obrigações, além da
disciplina dos contratos em geral e dos contratos em espécie.

LIVRO III
Já no Livro do Direito das Coisas são abordados a posse, os direitos reais (propriedade, superfície, servidões, usufruto, uso, habitação,
direito do promitente comprador do imóvel, penhor, hipoteca, anticrese, concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de direito
real de uso e laje, conforme o rol do artigo 1.225), os direitos de vizinhança e o condomínio.

Os direitos reais são classificados em:

Direitos de gozo sobre a coisa própria (isto é, o direito de propriedade).

Direitos de gozo sobre a coisa alheia ou limitados (isto é, superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, concessão de uso especial para fins
de moradia, concessão de uso real, laje).

Direitos reais de aquisição (direito do promitente comprador).

Direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese).

Considerando a vastidão desses assuntos, o presente módulo terá como foco conceituar os direitos obrigacionais e os direitos reais,
apresentando os seus pontos de distinção. Também será abordada a figura da obrigação propter rem, que apresenta especial ponto de
contato entre esses tipos de direitos. No módulo 3, trataremos da posse e do direito de propriedade, sendo este último considerado o “direito
real por excelência”, por ser principal e mais completo direito real (AVAAD, 2014, p. 209).

NOÇÕES GERAIS DE DIREITOS OBRIGACIONAIS E DE DIREITOS REAIS


O Direito das Obrigações versa sobre os chamados direitos de crédito (isto é, o direito à prestação a ser realizada pelo devedor)


O Direito das Coisas cuida da posse e dos direitos reais (cujo rol consta no artigo 1.225 do Código Civil).

 ATENÇÃO

É importante saber que, apesar do objeto distinto, tanto o Direito das Coisas quanto o Direito das Obrigações compõem a esfera do Direito
Patrimonial, isto é, o complexo de direitos e de obrigações suscetíveis de avaliação econômica.

O Direito das Obrigações compreende as relações jurídicas por meio das quais é realizada a circulação de bens e de valores, enquanto o
Direito das Coisas regula a utilização dos bens (CHALHUB, 2003, p. 2) e a sua apropriação. Por vezes, controverte-se se a denominação
deveria ser Direito das Coisas ou Direitos Reais, de modo que é importante esclarecer a diferença entre essas noções.

Os direitos reais são os direitos elencados no artigo 1.225 do Código Civil e, como veremos adiante, a posse não está contemplada nesse rol,
embora seja tratada no Livro do Direito das Coisas. Assim, o Direito das Coisas não cuida apenas dos direitos reais, pois regula tanto o
exercício de poder de fato (a posse) quanto direitos (PENTEADO, 2012, p. 83). Podemos concluir, então, que a noção de direitos reais é
menos abrangente do que a de Direito das Coisas.
Outra distinção que merece ser esclarecida é a que contrapõe direitos pessoais (ou de crédito) e direitos reais. O mais adequado, na
verdade, é distinguir as relações jurídicas pessoais e as relações jurídicas reais, pois “os direitos serão reais ou pessoais conforme
nasçam em relações jurídicas dessas espécies” (MELLO, 2019, § 41, 1, p. 226).

Dentre os tipos de relação jurídica de direito pessoal, está a de natureza obrigacional.

Em uma noção estrita, a relação obrigacional é o vínculo entre o credor e o devedor, por meio do qual o primeiro pode exigir uma prestação
que deve ser realizada pelo segundo. A relação obrigacional compreende o conjunto de direitos, deveres, poderes, faculdades e ônus que
unem as partes, as quais devem cooperar para atingir a satisfação dos interesses envolvidos.


A relação jurídica real, por sua vez, é a que tem por objeto um bem sobre o qual recaem direitos, pretensões e ações, de modo pleno ou
limitado, e cujo exercício se dá diretamente pelo titular, sem dependência de um terceiro, com efeitos perante todos (erga omnes) (MELLO,
2019, § 41, 2, p. 227).

Em outras palavras, o direito real exercido por seu titular não necessita da cooperação de outro sujeito da relação, como se verifica na
relação obrigacional.

No próximo tópico, aprofundaremos essas distinções.

DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS OBRIGACIONAIS

Para começarmos a entender as diferenças entre os direitos reais e obrigacionais, vamos recorrer a um exemplo:

Maria é proprietária de uma fazenda voltada à produção de suco de uva e percebe que alguém invadiu a sua fazenda para colher uvas. Maria
não conhece o invasor e o expulsa da fazenda. Como pode ser explicado o direito de Maria expulsar o invasor?
Nós podemos alcançar três respostas distintas, a depender da teoria adotada. Vejamos:

TEORIA REALISTA
O direito real vincula o sujeito à coisa, de modo que essa se submete, diretamente, ao poder daquele. O vínculo seria tão intenso a ponto de
se considerar que a relação é constituída por um sujeito ativo (o titular) e o bem.

Resposta: Maria exerce poder imediato sobre a fazenda e, por isso, pode expulsar o invasor.
TEORIA PERSONALISTA
Critica o entendimento de que existe relação jurídica entre pessoa e bem. Todas as relações jurídicas são estabelecidas entre sujeitos, ainda
que indeterminados. Haveria, assim, um sujeito passivo indeterminado a quem competiria um dever geral de abster-se de interferir no
exercício do direito real por seu titular.

Resposta: Maria pode expulsar João (sujeito passivo), pois ele violou o dever de abstenção oponível a todos.
TEORIA ECLÉTICA
Reconhece, de um lado, o poder jurídico assegurado ao titular do direito real, exercido diretamente sobre o bem e, de outro, a existência de
uma relação jurídica com sujeito passivo universal (CHALHUB, 2003, p. 3).

Resposta: o direito de Maria expulsar João de sua fazenda encontra fundamento tanto no poder imediato sobre o bem quanto no dever geral
de abstenção a ser observado por todos.
As teorias acima examinadas revelam duas características dos direitos reais:
A chamada aderência, que se expressa pelo poder exercido diretamente sobre o bem.

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E o seu caráter absoluto, pois são exercidos perante a coletividade (TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 4 e 9).

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Nas relações obrigacionais, não se verifica a aderência nem o caráter absoluto do direito. O direito do sujeito ativo (credor) dirige-se contra
um sujeito passivo determinado (devedor), o qual deve prestar o que prometeu (dar alguma coisa, fazer algo ou abster-se de fazer algo)
(MELLO, 2019, § 41, 3.1, p. 234-235).

 EXEMPLO
Assim, se Pedro e Ivo celebraram contrato de compra e venda de um livro, Pedro, na posição de credor, tem o direito de exigir que Ivo
entregue o livro, diante do pagamento do preço ajustado.

Diferentemente das relações jurídicas de direito real, o sujeito passivo é determinado nas relações obrigacionais, sendo o direito do credor
exercido em relação ao devedor e, por isso, os direitos de crédito são considerados direitos relativos, e não absolutos.


Além disso, nas relações obrigacionais, tanto o credor quanto o devedor cooperam para a satisfação dos interesses envolvidos, ou seja, é
necessária a intermediação do devedor (TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 4).

Os direitos reais também apresentam outros atributos que os diferenciam dos direitos obrigacionais, como a ambulatoriedade, a sequela, a
publicidade, a especialidade, a preferência e a tipicidade.

AMBULATORIEDADE
Por ambulatoriedade, entende-se a característica pela qual o “dever jurídico correspondente ao direito real caminha com a relação jurídica”
(TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 9).

Por isso, se diz que ambulante ou ambulatório, como o gravame da hipoteca que será transmitido aos novos proprietários em caso de venda
do imóvel.

SEQUELA
O direito de sequela permite que o titular do direito real persiga a coisa, independentemente de quem a detenha, mesmo que tenha sido
alienada. Já o titular do direito de crédito pode exigir o cumprimento da prestação apenas em relação ao próprio devedor.

Em virtude do direito de sequela, o credor hipotecário, por exemplo, poderá promover a execução da dívida e a excussão do imóvel (isto é,
levar o bem a leilão judicial), mesmo que o imóvel tenha sido transferido para pessoa distinta do devedor. É importante ter em mente a
Súmula 308 do Superior Tribunal de Justiça, a qual conferiu interpretação protetiva aos compradores e limitou o direito de sequela na
seguinte hipótese:
A HIPOTECA FIRMADA ENTRE A CONSTRUTORA E O AGENTE FINANCEIRO,
ANTERIOR OU POSTERIOR À CELEBRAÇÃO DA PROMESSA DE COMPRA E
VENDA, NÃO TEM EFICÁCIA PERANTE OS ADQUIRENTES DO IMÓVEL.

(STJ, 2005)

ESPECIALIDADE
A especialidade é traduzida pela necessidade de que o bem esteja identificado, ou seja, deve-se especificar com exatidão os bens que são
objeto de direitos reais. Em se tratando de bem imóvel, é preciso descrevê-lo com exatidão, bem como as suas dimensões, confrontações e
outros elementos necessários à sua identificação.

PREFERÊNCIA
A preferência relaciona-se com os direitos reais de garantia e consiste no privilégio de que o titular do direito possa promover a excussão do
bem e receber, de modo preferencial, o seu crédito a partir do quanto for arrecadado com a alienação do bem.

TIPICIDADE
Por fim, a tipicidade, também denominada taxatividade normativa, significa que somente podem ser considerados como direitos reais aqueles
que a lei assim qualifica. Conforme Melhim Chalhub, a taxatividade dos direitos reais é justificada porque a imposição a todos do dever geral
de abstenção conecta-se à possibilidade de que a coletividade tenha conhecimento dos tipos de direitos reais existentes no ordenamento
(CHALHUB, 2003, p. 6), daí a importância do rol constante do artigo 1.225 do Código Civil.
Essa é uma diferença importante em relação aos direitos obrigacionais, pois estes últimos estão conectados com o princípio da autonomia
privada, que confere liberdade às partes para criarem relações obrigacionais com o conteúdo que desejarem. Ou seja, os direitos de crédito,
diferentemente dos direitos reais, não estão limitados a um rol previsto em lei.

Resumindo:

Relação obrigacional

Direito relativo

Sujeito passivo determinado


Direitos Obrigacionais
Oponibilidade entre as partes da relação de cooperação

O titular do direito de crédito apenas pode exigir do devedor o cumprimento da prestação

Princípio da autonomia privada

Direitos Reais
Relação jurídica real

Caráter absoluto
Eficácia erga omnes

Características: aderência, ambulatoridade, a sequela, a publicidade, a especialidade, a preferência

Tipicidade

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DIREITOS OBRIGACIONAIS E DIREITOS REAIS

Vamos entender melhor quais são as principais características e diferenças desses direitos.

OBRIGAÇÃO PROPTER REM


As obrigações propter rem são aquelas em que há pontos de contato entre os direitos reais e os direitos obrigacionais, pois decorrem da
relação do devedor com o bem e impõem o dever de prestação em favor de um credor determinado. Essas obrigações aderem ao bem e,
quando houver modificação na titularidade deste, são transmitidas ao novo titular.

 EXEMPLO

Exemplo desse tipo de obrigação é a constante do artigo 1.315 do Código Civil, que prevê estar o condômino obrigado, na proporção de sua
parte, a concorrer para as despesas de conservação da coisa.

A doutrina diverge quanto à natureza da obrigação propter rem (TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 26). Para alguns
autores, prevalece o caráter real; para outros, o obrigacional; e, para um terceiro grupo, a sua natureza seria híbrida por ser um misto de
obrigação e direito real (CHALHUB, 2003, p. 7).

O IMPORTANTE É COMPREENDER AS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA OBRIGAÇÃO


PROPTER REM E DIFERENCIÁ-LA DE OUTRA FIGURA QUE COM ELA SE ASSEMELHA, MAS
NÃO SE CONFUNDE – OS ÔNUS REAIS.
As características principais da obrigação propter rem são: a peculiaridade de serem obrigações que decorrem da relação do devedor com
o bem; e a ambulatoriedade, o que justifica a sua vinculação ao bem e à transmissão para novos titulares.

Por fim, os ônus reais assemelham-se às obrigações propter rem, mas são figuras diferentes.

Os ônus reais são devidos pelo proprietário do bem e são representados por prestações periódicas que restringem o uso e o gozo da
propriedade (PEREIRA, 2020, p. 41).
 EXEMPLO

Exemplo de ônus real é o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU) ou Rural (ITR).

Diante de ônus reais, se o montante devido for superior ao valor do bem, o devedor pode promover o abandono liberatório do bem, o que
equivalerá à remissão (perdão) da dívida. Diversamente, se isso ocorrer com as obrigações propter rem, o devedor pode ser obrigado a
realizar o pagamento da totalidade da dívida. Ou seja, a responsabilidade do devedor está limitada, no caso dos ônus reais, ao valor do bem
onerado, mas subsiste pelo montante total da dívida diante de obrigações propter rem.

Estabelecidas as distinções principais entre direitos obrigacionais e direitos reais, podemos passar ao estudo da posse e da propriedade no
módulo 3.
A HIPOTECA FIRMADA ENTRE A CONSTRUTORA E O AGENTE FINANCEIRO,
ANTERIOR OU POSTERIOR À CELEBRAÇÃO DA PROMESSA DE COMPRA E
VENDA, NÃO TEM EFICÁCIA PERANTE OS ADQUIRENTES DO IMÓVEL.

(STJ, 2005)

VERIFICANDO O APRENDIZADO

MÓDULO 3

 Identificar quais são os aspectos principais da posse e do direito de propriedade.

POSSE E PROPRIEDADE
O Código Civil trata da posse e da propriedade no Livro III, atinente ao Direito das Coisas. A disciplina da posse consta nos artigos 1.196 a
1.224, já a da propriedade, nos artigos 1.228 a 1.368-F.

Costuma-se dizer que a posse é considerada como um dos temas mais difíceis para estudo, pois as controvérsias giram em torno de sua
natureza e de seu objeto. Além disso, diversas questões sociais são conectadas à temática da posse, como a reforma agrária e os
movimentos sociais de ocupação para moradia.

O estudo da propriedade é, igualmente, desafiador, tendo em vista a vastidão da matéria. A complexidade também resulta da necessidade de
se compreender o direito de propriedade pela “interação entre sua estrutura e função, aspectos indissociáveis” (TEPEDINO; MONTEIRO
FILHO; RENTERIA, 2021, p. 91). Nesse contexto, ressalta a função social da propriedade, consagrada pela Constituição Federal como direito
fundamental (artigo 5º, inciso XXIII) e como princípio a ser guardado pela ordem econômica (artigo 170, inciso III).

O ordenamento oferece tratamento diferenciado conforme a espécie de bem, de modo que o foco será a propriedade de bens imóveis,
considerando que o Direito Imobiliário é central a este conteúdo.

Considerando a relevância da temática da posse e da propriedade, assim como a sua complexidade, neste módulo o estudo será dirigido
para os seguintes tópicos:

As teorias da posse e o seu conceito

Aquisição e perda da posse

Classificação da posse

Conceito do direito de propriedade

Objeto e limites elementares do direito de propriedade


Função social da propriedade

Finalmente, aquisição e perda da propriedade de bens imóveis

POSSE: TEORIAS E CONCEITO


Dentre as teorias acerca da natureza da posse, destacam-se as desenvolvidas por dois dos principais juristas alemães:

Friedrich Carl von Savigny

Desenvolvedor da teoria subjetiva


Rudolf von Ihering

Desenvolvedor da teoria objetiva

De acordo com a teoria subjetiva, a posse tem dois elementos em sua composição. O elemento objetivo (corpus) corresponde ao poder da
pessoa sobre a coisa, podendo dispor fisicamente desta. Já o elemento subjetivo, considerado o mais importante para essa teoria,
corresponde à intenção do possuidor de ter a coisa como sua (animus domini), o que não se confunde com a convicção de ser proprietário.
Na hipótese de não estar presente o elemento subjetivo, estaria configurada a figura da detenção, e não a posse, pois a pessoa conservaria
a coisa em seu poder sem animus domini.


Diferentemente, para a teoria objetiva, a posse é caracterizada pelo elemento objetivo (corpus), consistente no contato físico, direto ou
indireto, com o bem, o que pode ser identificado por sinais exteriores que levam o possuidor a apresentar-se socialmente como proprietário.
Essa teoria enfoca a utilização econômica da coisa, sendo indispensável que o proprietário tenha a posse da coisa (CHALHUB, 2003, p. 18).

Ihering critica a perspectiva desenvolvida por Savigny a respeito do animus domini, pois o possuidor que sofre a perturbação em sua posse
deve comprovar que detinha a coisa, mas não se exige a prova do animus (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 23),
especialmente se este for entendido como intenção qualificada, conforme defendido por Savigny. Isso não significa que Ihering ignore o
elemento subjetivo da posse. Na verdade, basta, em seu modo de ver, que o possuidor apresente o animus tenendi, isto, é querer a coisa
para si.

A partir da teoria objetiva, a distinção estabelecida entre a vontade de quem detém a coisa é a mesma de quem a possui. A diferença entre
detenção e posse acaba sendo uma opção legislativa, por meio da qual o legislador identifica situações em que se nega a proteção
possessória e, por isso, são consideradas como detenção. Mais adiante retornaremos à noção de detenção.

EXPOSTAS AS DUAS TEORIAS FUNDAMENTAIS SOBRE A POSSE, CUMPRE QUESTIONAR


QUAL SERIA A ADOTADA PELO DIREITO BRASILEIRO.
Entende-se que o Código Civil recebeu a influência da teoria objetiva de Ihering ao considerar a posse como exercício de poder de fato, isto
é, o exercício de poderes inerentes ao domínio. Neste sentido, veja-se o teor do artigo 1.196: “Considera-se possuidor todo aquele que tem
de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
O artigo 1.198 também serve de reforço à adoção da teoria objetiva. Ao tratar da detenção, diz que se considera detentor quem, figurando
em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. O enunciado
se refere à relação de dependência como elemento necessário à caracterização da detenção, e não a falta de animus domini.

 EXEMPLO

Como exemplo de detentor, tem-se o caseiro que cuida da casa do proprietário localizada no campo.

Quanto à natureza da posse, para Savigny, a posse é simultaneamente um fato e um direito, pois, em sua origem, equivale a um simples
fato, mas, ao analisar as consequências conferidas pelo ordenamento jurídico, parece um direito. Para Ihering, a posse é considerada um
direito, mais especificamente, um direito real. Isso porque se traduziria em uma relação imediata da pessoa com a coisa, justificando a sua
proteção jurídica.

Há doutrinadores brasileiros que defendem a sua caracterização como direito real sob a justificativa de que o seu exercício se dá diretamente
pelo possuidor, sem a colaboração de intermediários. Haveria, assim, a relação imediata entre o possuidor e a coisa. Todavia, como referido
no módulo 2, a posse não figura no rol dos direitos reais, contido no artigo 1.225 do Código Civil. Além disso, os efeitos decorrentes da posse
são produzidos desde o momento em que essa pode ser exercida, não sendo necessário o registro para a sua eficácia perante terceiros.

 COMENTÁRIO

Assim, conforme mencionado acima, a posse deve ser considerada como exercício de poder de fato, em linha com o artigo 1.196, e não um
direito real.

Por fim, vale referir que o objeto da posse é a coisa ou bem corpóreo, mas se reconhece a tutela possessória sobre bem incorpóreo, como a
usucapião de linha telefônica (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 30).

AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE

A aquisição da posse é disciplinada nos artigos 1.204 a 1.209 do Código Civil, enquanto a perda da posse é endereçada nos artigos 1.223 e
1.224.

Conforme o artigo 1.204, a posse é adquirida desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos
poderes inerentes à propriedade.
Diferentemente, atos de mera permissão ou tolerância (como a autorização concedida por um vizinho ao outro para ingressar em seu terreno
para facilitar o acesso deste à praia) não permitem a aquisição da posse, assim como atos violentos ou clandestinos enquanto perdurar a
violência ou a clandestinidade (artigo 1.208).

A posse pode ser adquirida pela própria pessoa que pretende a aquisição ou, então, por seu representante.

Também pode ser adquirida por terceiro sem mandato, desde que haja a ratificação posterior (artigo 1.205).

A posse pode ser transmitida por meio de sucessão inter vivos (no momento vivo) ou em decorrência da morte (causa mortis).
Se a sucessão for a título universal (que engloba a totalidade ou fração ideal do patrimônio), o sucessor prossegue a posse do seu
antecessor.

Se for a título singular (como uma compra e venda), o sucessor tem a faculdade de unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais
(artigo 1.207).

Na hipótese de o possuidor falecer, a posse transmite-se aos seus herdeiros ou legatários com todos os caracteres que apresentava quando
exercida pelo de cujus (o falecido), nos termos do artigo 1.206.

Por ser uma questão fática, o Código Civil de 2002, ao contrário do anterior, não elenca os modos de aquisição da posse, já que esta pode se
dar por qualquer dos modos de aquisição em geral (como a apreensão da coisa ou a celebração de negócio jurídico, por exemplo). Pela
mesma razão, não faria sentido detalhar as situações em que se perde a posse.

 ATENÇÃO

Como está no artigo 1.223, perde-se a posse quando cessa o poder sobre o bem, ainda que isso ocorra contra a vontade do possuidor. Ou
seja, quando o exercício do poder fático não é mais viável, perde-se a posse.

O artigo 1.224 contém regra específica para a hipótese de esbulho, ou seja, a perda injusta da posse. O possuidor que não presenciou o
esbulho só perderá a posse se, tendo notícia do esbulho, absteve-se de retomar a coisa, ou, tentando recuperá-la, foi violentamente repelido.

CLASSIFICAÇÃO DA POSSE
A posse é classificada em diferentes espécies, a depender das circunstâncias em que é adquirida ou exercida, o que gera um tratamento
diferenciado no plano de seus efeitos. A classificação da posse é regulada pelos artigos 1.197 e 1.199 a 1.202 do Código Civil.

A posse direta é aquela exercida por quem exerce o contato direto com o bem.


A posse pode desdobrar-se em posse indireta, que será exercida por quem não tem o contato direto com o bem.

 EXEMPLO

Pense-se no proprietário que firma contrato de locação de seu apartamento. O proprietário detém a posse indireta (denominado nu-
proprietário), enquanto o locatário é quem possui diretamente o apartamento. A respeito desta distinção, o artigo 1.197 do Código Civil
esclarece que o desdobramento da posse é temporário, podendo, nesse período, o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

A posse justa é aquela não contaminada pelos vícios da violência, clandestinidade ou precariedade, conforme o artigo 1.200 do Código Civil.


A posse que for contaminada por esses vícios é considerada injusta.

Posse violenta é a que se obtém mediante o uso de força


A clandestina, por sua vez, verifica-se quando a posse se obtém de forma oculta

A precária é a obtida mediante o abuso de confiança de quem recebe a coisa e descumpre a obrigação de restitui-la no tempo ou nas
condições pactuadas.

A classificação da posse como de boa-fé ou de má-fé leva em conta o estado psicológico do possuidor:

Se ignorar o vício ou o obstáculo que impedem a aquisição do bem, está de boa-fé.


Se, porém, tiver conhecimento do vício, está de má-fé.

A boa-fé aqui referida é de cunho subjetivo, pois está ligada à crença do possuidor de que não há vício ou óbice para a aquisição do bem.

 ATENÇÃO

Esta qualificação é importante, especialmente em vista das regras atinentes à percepção dos frutos e às benfeitorias realizadas na coisa
possuída.

POSSUIDOR DE BOA-FÉ

Conforme o artigo 1.214, o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto durar este estado psicológico, aos frutos percebidos.

Já os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé precisam ser restituídos, após serem deduzidas as despesas da produção e
custeio, e os frutos colhidos com antecipação também devem ser restituídos (artigo 1.214, parágrafo único).
Ademais, não responde pela perda ou pela deterioração da coisa, a que não tiver dado causa (artigo 1.217).

Vale ressaltar, ainda, que o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo exercer o
direito de retenção pelo valor dessas benfeitorias.

Quanto às benfeitorias voluptuárias, se não lhe forem pagas, pode ficar com elas quando o puder sem ensejar o detrimento da coisa
(artigo 1.219).


POSSUIDOR DE MÁ-FÉ

Diversamente, o possuidor de má-fé deve restituir todos os frutos colhidos e percebidos, respondendo também pelos que, por culpa
sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé.

Se não for possível a restituição dos frutos, deverá devolver o valor correspondente.

De qualquer forma, tem direito ao reembolso das despesas com a produção e o custeio (artigo 1.216).

Além disso, o possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, exceto se provar que o dano
teria ocorrido de igual modo, estando ela na posse do legítimo possuidor (artigo 1.218).

Por fim, o possuidor de má-fé apenas tem direito ao ressarcimento das benfeitorias necessárias; não lhe assistindo o direito de retenção
pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias (artigo 1.220).
A posse exclusiva é aquela exercida por apenas um possuidor, enquanto a composse significa o exercício simultâneo da posse por mais de
uma pessoa em relação à coisa indivisa (isto é, em estado de indivisão). Conforme o artigo 1.199, se duas ou mais pessoas possuírem coisa
indivisa, cada uma poderá exercer sobre ela atos possessórios, desde que não excluam os dos outros compossuidores.

 EXEMPLO

Como exemplo de composse, pode-se pensar no exercício simultâneo da posse por herdeiros antes da realização da partilha.

A posse com justo título é aquela revestida com aparente legitimidade, tendo em vista que o justo título é o “ato jurídico, em tese, hábil a
transferir o domínio ou a posse, mas que, em concreto, não produz esse efeito, em razão de algum vício na sua constituição” (TEPEDINO;
MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 51).
 EXEMPLO

A escritura pública ou o formal de partilha que apresentem algum vício ou irregularidade são considerados justo título.

O possuidor com justo título, em razão da aparência de legitimidade por este suscitada, é beneficiado com a presunção de boa-fé, a qual
cederá se houver prova em contrário ou a lei não admitir a presunção, conforme prevê o parágrafo único do artigo 1.201.

Finalmente, a posse pode ser ad interdicta e ad usucapionem.

A posse ad interdicta é a que reúne os elementos necessários para a sua defesa por meio das ações possessórias, diante de sua turbação
(ou seja, a prática de um ato que interfira no gozo habitual da coisa, sem, contudo, ocorrer a perda da posse). Por exemplo, há turbação
quando terceiros depositam detritos em uma parte do imóvel.


Já a posse ad usucapionem é aquela revestida dos requisitos para que o possuidor adquira a propriedade por meio da usucapião (artigos
1.238 a 1.243 CC). Por exemplo, aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire a
propriedade, independentemente de título e boa-fé (artigo 1.238).

Resumindo:

Classificação da posse
posse direta x posse indireta

posse justa x posse injusta

posse de boa-fé x posse de má-fé

posse exclusiva x composse

posse com justo título x posse sem justo título


posse ad interdicta x posse ad usucapionem

 Quadro: Classificação da posse Elaborado por: Giovana Valentiniano Benetti

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Examinados os aspectos principais da temática da posse, passaremos, a seguir, a abordar o direito de propriedade.

DIREITO DE PROPRIEDADE
O Código Civil não ofereceu definição sobre o direito de propriedade, tendo apenas enunciado quais são as faculdades do proprietário no
artigo 1.228.

ENTENDE-SE QUE PROPRIEDADE É O DIREITO DE USAR, GOZAR E DISPOR DE BENS, EM


OBSERVÂNCIA AOS LIMITES LEGAIS ESTABELECIDOS.
O direito de propriedade apresenta uma face interna e outra externa.

A face interna compreende os atributos inerentes ao direito de propriedade, isto é, as faculdades de uso, gozo e disposição do bem


Enquanto a face externa diz respeito ao direito de o proprietário afastar quem desrespeitar os limites em que se assegura a senhoria sobre a
coisa (CHALHUB, 2003, p. 43).
Como está no artigo 1.231, presume-se que a propriedade é plena e exclusiva, até prova em contrário. Ou seja, a propriedade é excludente
de outra relação de senhoria em relação à mesma coisa (PEREIRA, 2019, p. 77).

VAMOS ANALISAR OS ATRIBUTOS INERENTES AO DIREITO DE PROPRIEDADE.

A faculdade de usar (ius utendi) consiste no aproveitamento de benefícios propiciados pelo bem decorrentes de sua própria natureza, isto é,
a partir da destinação econômica própria, sem alterar a sua substância. Por exemplo, o proprietário usa o automóvel quando o dirige.
O poder de gozar (ius fruendi) envolve a possibilidade de explorar economicamente o bem, impulsionando a atividade de percepção de
frutos. Por exemplo, o proprietário de uma fazenda exerce o poder de gozo ao colher maçãs em seu pomar. O artigo 1.232 reforça
pertencerem ao proprietário os frutos e produtos da coisa.

O poder de dispor (ius abutendi) assegura ao proprietário a faculdade de alienar o bem, de emprestá-lo gratuitamente, de constituir
gravames sobre ele e, até mesmo, de destruí-lo quando não violar o interesse social.
O poder de reaver a coisa (rei vindicatio) compreende a possibilidade de o proprietário defender o seu direito de propriedade sobre o bem,
exercendo os meios processuais adequados para reavê-lo de quem quer que injustamente o possua. A ação reivindicatória é privativa do
proprietário e não se confunde com as ações que podem ser intentadas para proteger a posse se houver perda ou obstáculo ao seu
exercício.

OBJETO E LIMITES DO DIREITO DE PROPRIEDADE

O direito de propriedade refere-se a bens móveis e imóveis.


A delimitação do direito de propriedade sobre bem móvel leva em conta a identificação visual do domínio (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO;
RENTERIA, 2021, p. 92). A sua projeção física abrange a coisa.
Quanto aos bens imóveis, os limites elementares estão traçados no artigo 1.229, segundo o qual a propriedade do solo abrange a do espaço
aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício. Assim, o proprietário não pode se opor à realização de
atividades, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.

 ATENÇÃO

A propriedade do solo não se estende às jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais (artigo 1.230).
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

Como já referido na introdução a este módulo, a função social da propriedade é consagrada pela Constituição Federal como direito
fundamental (artigo 5º, inciso XXIII) e como princípio a ser guardado pela ordem econômica (artigo 170, inciso III). A função social enseja
novos contornos ao direito de propriedade, estabelecendo que o seu exercício deve respeitar e promover o fim social tutelado, afastando-se,
assim, de uma visão excessivamente individualista por meio da qual o proprietário exerce o seu direito apenas de acordo com interesses
individuais.

Mais do que não poder exercer o direito de propriedade em prejuízo de outrem, o proprietário tem o dever de exercê-lo em observância à
necessidade de distribuição de terras, de proteção do meio ambiente e de proteção ao patrimônio histórico e cultural.
A necessidade de se observar a função social da propriedade está prevista em diferentes regras, além de ser a fonte inspiradora de outros
dispositivos.

 EXEMPLO

A título de exemplo, a Constituição Federal endereça a função social da propriedade urbana em seus artigos 182 e 183, além de estabelecer
parâmetros para que se atenda a função social do imóvel rural no artigo 186.

Além disso, o Código Civil prevê no parágrafo único do artigo 1.228 que o “direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a
fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”.
AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE DE BENS IMÓVEIS

O Código Civil trata da aquisição da propriedade imóvel nos artigos 1.227, 1.238 a 1.259 e de sua perda nos artigos 1.275 e 1.276.

No tocante à aquisição da propriedade imóvel, é importante referir a sua classificação conforme a sua procedência e elencar os modos de
aquisição.

A aquisição pode ser originária ou derivada.

A aquisição originária é a que ocorre mediante relação direta do adquirente e o bem, sem que ter havido relação jurídica de transmissão da
propriedade de uma pessoa ao adquirente. É o que ocorre com a usucapião, por exemplo.

Na aquisição derivada, há a transmissão do bem do antigo proprietário para o adquirente, como ocorre na compra e venda de um
apartamento.

Os modos de aquisição do direito de propriedade sobre bens imóveis são o registro do título translativo no Registro de Imóveis, a acessão, a
usucapião e a sucessão.

Conforme dispõem o artigo 1.227 e 1.245 do Código Civil, o direito de propriedade sobre imóveis, constituído, ou transmitido por atos entre
vivos, só é adquirido com o registro no Cartório de Registro de Imóveis do referido título (arts. 1.245 a 1.247), ressalvados casos
expressos no Código. Em outras palavras, o registro do título translativo no Registro de Imóveis é indispensável para a transferência da
propriedade e, enquanto não for realizado, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel (artigo 1.245, § 1º).
A acessão verifica-se quando há a união de duas coisas, uma aderindo e se incorporando à outra.

A acessão pode ser natural quando decorre de um acontecimento natural.

ou

Artificial (também denominada industrial), se resultante do trabalho humano.

A acessão natural é a que:

Resulta da formação de ilhas (artigo 1.249)

Da aluvião, isto é, os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das
correntes, ou pelo desvio das águas destas (artigo 1.250)


Da avulsão, isto é, a porção de terra que, por força natural violenta, destaca-se de um imóvel e se junta a outro (artigo 1.251)

E do álveo abandonado, isto é, o leito do rio que se desvia e acarreta a aquisição da propriedade do acréscimo pelos proprietários marginais
(artigo 1.252).

Já a acessão artificial é a construção ou a plantação (artigos 1.253 a 1.259), que adere ao imóvel.

Na usucapião, adquire-se o direito de propriedade por meio da posse prolongada de um bem imóvel após o transcurso dos prazos previstos
no Código Civil e o preenchimento dos requisitos estampados em lei (artigos 1238 a 1.244 e 1.260 a 1.262)

A propriedade também se adquire por meio da sucessão hereditária. Conforme o artigo 1.784 do Código Civil, a partir da abertura da
sucessão, a herança transmite-se aos herdeiros legítimos e testamentários. Posteriormente, o formal de partilha deve ser apresentado no
Registro de Imóveis para que se efetue o registro em nome do herdeiro a quem coube o bem.
Além de outras causas previstas no Código Civil, perde-se a propriedade por alienação; renúncia; abandono do bem; perecimento do bem;
ou desapropriação, de acordo com o artigo 1.275. Em se tratando de bem imóvel, os efeitos da perda da propriedade por alienação ou
renúncia se darão apenas com o registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis.

FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE

Analisemos agora as formas de aquisição da propriedade.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, o presente conteúdo contemplou o estudo de noções centrais do Direito Civil.

Pessoa é o ser humano que nasce com vida, assim como os entes que, uma vez registrados, passam a ter esse reconhecimento pelo
ordenamento jurídico. Ao estudar essa temática, vimos que é importante atentar que o termo “pessoa” não se confunde com personalidade
jurídica, sujeito de direito ou capacidade.

Também aprendemos que os termos “coisa” e “bem” têm sentidos diferentes, e o Código Civil, ao tratar da classificação dos bens na Parte
Geral, optou por utilizar apenas o termo “bem”. Esse diploma distingue os bens considerados em si mesmos; os bens reciprocamente
considerados; e os bens públicos.

Quanto aos direitos obrigacionais e reais, vimos, em linhas gerais, que os primeiros dizem respeito à relação obrigacional; são direito
relativos com sujeito passivo determinado; são dotados de oponibilidade entre as partes. Já os direitos reais estão ligados à relação de direito
real, têm caráter absoluto e eficácia erga omnes, além de apresentarem diversas peculiaridades.

Os últimos assuntos abordados foram a posse e a propriedade. Como vimos, a posse não figura no rol dos direitos reais, contido no artigo
1.225 do Código Civil, devendo ser considerada como exercício de poder de fato, em linha com o artigo 1.196. Quanto ao direito de
propriedade, estudamos os seus atributos e destacamos que o seu exercício deve respeitar e promover o fim social tutelado, afastando-se,
assim, de uma visão excessivamente individualista.
 PODCAST
Agora, Julia Cartier nos traz uma didática conversa com a especialista Giovana Beneti acerca dos assuntos abordados neste conteúdo.

AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciado n. 146 da III Jornada de Direito Civil. Consultado na internet em: abril 2021.

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EXPLORE+
Para aprofundar seu conhecimento, leia:

RODRIGUES Jr., Otávio Luiz. Pessoa, personalidade, conceito filosófico e conceito jurídico de pessoa: espécies de pessoas no direito em
geral. In: Revista de Direito do Consumidor, v. 118, jul.-ago. / 2018, p. 281-291.

DIDIER JÚNIOR, Fredie. A função social da propriedade e a tutela processual da posse. In: Revista de Processo, v. 161, jul. 2008, p. 9-
20.

NOTAS
Direito de uso de imagem:

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CONTEUDISTA
Giovana Valentiniano Benetti

 CURRÍCULO LATTES

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