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DIREITO CIVIL – PARTE

GERAL

PROFª EDMÁRIA VERÍSSIMO PAULO


1º SEMESTRE – MANHÃ
2023.1
1. Das pessoas naturais ou físicas

1.1 Conceito

Pessoa natural é o ser humano capaz de direitos e obrigações na esfera civil.

Todo ser humano, assim, recebe a denominação de pessoa - natural ou física - para
ser denominada como sujeito do direito, ente único, do qual e para o qual
decorrem normas.

1.2 Início da personalidade da pessoa natural

A personalidade é, em si mesma, a possibilidade, devidamente reconhecida pelo


ordenamento, que o sujeito do direito tem de ser titular de direitos e obrigações na
esfera civil.
A personalidade da pessoa natural tem início com o nascimento com vida. Mas a lei
resguarda os direitos do nascituro. (Art. 2º, do Código Civil Brasileiro, 2002)

A partir deste regramento devemos esclarecer alguns conceitos:

Concepturo é aquele ser que ainda não foi concebido, mas que, potencialmente,
pode vir a ser;

Nascituro é aquele já concebido, mas ainda não nascido, tem portanto,


expectativas de direitos, que se concretizará com o nascimento com vida.

Assim, de acordo com a norma brasileira, reconhece-se a personalidade desde que


se torne patente o nascimento com vida, não sendo suficiente apenas e tão somente
o nascimento, que é a expulsão do feto do ventre da genitora, que sem respirar é um
natimorto. Posição seguida pelo STF (Supremo Tribunal Federal), considerada como
"teoria natalista".

O exame utilizado para determinar se a criança sobreviveu ao parto chama-se


docimasia hidrostática de galeno.
1.3 Capacidade da pessoa natural

A capacidade é um atributo da personalidade, que consiste na aptidão


genérica para adquirir direitos e obrigações na esfera civil.

Teorias sobre o início da personalidade natural:

➢ Teoria natalista: A pessoa adquire direitos e deveres apenas quando


nascido com vida. (Posição descrita no Código Civil brasileiro de 2002,
Art 2º)

➢ Teoria concepcionista: A personalidade jurídica é adquirida com o


início da concepção. (Posição seguida pelo STF "Supremo Tribunal
Federal")

➢ Teoria da personalidade condicional: O nascituro a partir da


concepção tem direitos formais (proteção à vida) e ao nascer com
vida adquire os chamados "direitos materiais" (patrimoniais). - Não
adotada no Brasil.
Conceito de Pessoa Jurídica

Pessoa jurídica é” a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à


consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de
direitos e obrigações.” (Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro. V.1,
18 ed, Saraiva: São Paulo, 2002.p.206).

Em outras palavras, pessoa jurídica é o conjunto de pessoas (naturais ou


jurídicas) ou bens, dotado de personalidade jurídica própria, na forma da lei.
Assim, a pessoa jurídica possui capacidade para a prática de atos jurídicos ou
qualquer outro ato que não seja tido como proibido.

A personalidade jurídica da pessoa jurídica é uma ficção do “ordenamento”,


cuja existência decorre da lei.

As pessoas jurídicas não são “reais”, mas com o fim de facilitar a vida em
sociedade concede-se a capacidade para uma entidade puramente legal
subsistir e desenvolver-se no mundo jurídico. Sua realidade, dessa forma, é
social, concedendo-lhe direitos e obrigações.
Classificação das Pessoas Jurídicas

Conforme o artigo 40 do Código Civil brasileiro de 2002, as pessoas jurídicas são


de direito público (interno ou externo) e de direito privado. As primeiras
encontram-se na disciplina do direito público, e as últimas, no do direito privado.

Pessoas jurídicas de direito público interno (artigo 41 do Código Civil): “As


pessoas jurídicas de direito público interno se dividem em entes de
administração direta União, Estados, Distrito Federal e Territórios e Município, as
autarquias, inclusive as associações públicas e as demais entidades de caráter
público criadas por lei.”
Pessoas jurídicas de direito público externo (artigo 42 do Código Civil)
“São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros
e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.”

São exemplos de pessoas jurídicas de direito público externo as nações


estrangeiras, Santa Sé e organismos internacionais, ONU, etc.

Pessoas jurídicas de direito privado (artigo 44 do Código Civil): “são


pessoas jurídicas de direito privado: as associações, as sociedades, as
fundações, as organizações religiosas, os partidos políticos e as
empresas individuais de responsabilidade limitada.”

As pessoas jurídicas de direito privado são instituídas por iniciativa de


particulares e dividem-se em duas categorias:

a) Estatais: aquelas para cujo capital houve contribuição do Poder


Público (sociedades de economia mista, empresas públicas)

b) Particulares: as constituídas apenas com recursos particulares. A


pessoa jurídica de direito privado particular pode revestir seis formas
diferentes: a fundação, a associação, a cooperativa, a sociedade, a
organização religiosa, os partidos políticos e as empresas individuais de
responsabilidade limitada
Incidente da Desconsideração da Personalidade Jurídica
A concessão de personalidade jurídica leva, muitas vezes, a determinados abusos por
parte do titular da empresa e dos sócios das sociedades, atingindo e ferindo direitos
de terceiros que podem ser prejudicados.

Nesse caso, vem-se admitindo o superamento da personalidade jurídica com o fim


exclusivo de atingir o patrimônio do titular da empresa ou dos sócios da sociedade
empresária envolvidos na administração dos negócios.

Há duas teorias acerca da desconsideração da personalidade jurídica: a Teoria Maior


e a Teoria Menor.

Teoria maior: regra de desconsideração. O mero esgotamento do patrimônio da


sociedade não permite que o patrimônio dos sócios seja atingido pela dívida (art. 50).
Para que ocorra desconsideração da personalidade jurídica, é necessário que
aconteça um abuso:

➢ Desvio de finalidade;
ou
➢ Confusão patrimonial.
O artigo 50 do Código Civil prevê que “Em caso de abuso da personalidade
jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial,
pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando
lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.”

Para que ocorra a desconsideração da personalidade jurídica e necessário


que o juiz perceba um abuso da pessoa jurídica, e se esse abuso se deu por
desvio de finalidade ou confusão patrimonial.

Teoria menor: caráter excepcional. Diz que esgotado o patrimônio da


sociedade já se pode atacar o patrimônio dos sócios.
Extinção da Pessoa Jurídica
Tal como a pessoa natural, a pessoa jurídica também se extingue. São formas de extinção da:

pelo encerramento da liquidação; e


pela incorporação, fusão ou cisão com transferência de todo o patrimônio em outras sociedades.
Doutrina
Manual de Direito Civil, Pablo Stolze

Personalidade jurídica é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou, em
outras palavras, é o atributo para ser sujeito de direito.

Adquirida a personalidade, o ente passa a atuar, na qualidade de sujeito de direito (pessoa natural
ou
jurídica), praticando atos e negócios jurídicos dos mais diferentes matizes.

No que tange à pessoa natural ou física, objeto deste Capítulo, o Código Civil de 2002, substituindo
a
expressão “homem” por “pessoa”, em evidente atualização para uma linguagem politicamente
correta e
compatível com a nova ordem constitucional, dispõe, em seu art. 1º, que: “Toda pessoa é capaz
de
direitos e deveres na ordem civil”.

Essa disposição, como já se infere, permite a ilação de que a personalidade é atributo de toda e
qualquer pessoa, seja natural ou jurídica, uma vez que a própria norma civil não faz tal distinção de
acepções.
Legislação

O tema “Pessoa Natural e Pessoa Jurídica” possui previsão legal no Código


Civil de 2002. Os principais artigos que tratam sobre o tema são:

Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida;


mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se


esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva.

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da


personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária.

(…)
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito
privado.

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:

I – a União;

II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III – os Municípios;

IV – as autarquias, inclusive as associações públicas;

V – as demais entidades de caráter público criadas por lei.

Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito


público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que
couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e
todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros,
ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte
destes, culpa ou dolo.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I – as associações;

II – as sociedades;

III – as fundações.

IV – as organizações religiosas;

V – os partidos políticos.

VI – as empresas individuais de responsabilidade limitada


DO DOMICÍLIO E DA RESIDÊNCIA

O conceito de domicílio e de residência são distintos.

Para Maria Helena Diniz o domicílio é definido como “a sede jurídica da


pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde
exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos”. Já a
residência é o local onde a pessoa mora. A residência exige o intuito de
permanência.

Por regra, pelo que consta do art. 70, do CC o domicílio é o lugar onde a
pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
Ocasionalmente, a pessoa pode possuir dois ou mais locais de residência
onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas
(art. 71, do CC).

O local em que a pessoa exerce a sua profissão também deve ser levado
em conta para ser definido o local do domicílio da pessoa (Art. 72, CC).

Art. 70, CC. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a
sua residência com ânimo definitivo.
Art. 71, CC. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

Art. 72, CC. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações


concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.

Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um


deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

Domicílio: Lugar onde a pessoa pode ser encontrada para efeitos jurídicos.

Residência: Mero lugar físico onde a pessoa reside.

Princípio da cogência domiciliar


Estabelece que toda pessoa necessariamente tem que ter um domicílio.
Exemplo: Competência Jurisdicional (CPC) – regra geral: domicílio do réu.
ESPÉCIES

Domicílio Voluntário
É aquele que decorre da vontade da pessoa.

A) Geral ou comum:
Se aplica aos efeitos jurídicos em geral.

Art. 70, CC.

Domicílio = Residência + ânimo definitivo.

B) Especial:
Para alguns fatos ou atos jurídicos.

Foro de eleição ou domicílio contratual.

Art. 78, CC + Arts 25 e 63, CPC.

Art. 78, CC. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar


domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles
resultantes.
Domicílio necessário, publicístico ou legal.
É aquele que decorre de Lei.

Imposição normativa, Art. 76, CC:

➢ O domicílio do incapaz – do seu representante ou assistente.


➢ O domicílio o servidor público – lugar em que exercer permanentemente suas funções.
➢ O domicílio do militar – onde servir.
➢ O domicílio do marítimo – onde o navio estiver matriculado.
➢ O domicílio do preso – onde cumpri a sentença.
➢ O domicilio necessário não exclui o voluntário.

Art. 76, CC. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o
preso.

Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor


público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e,
sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso,
o lugar em que cumprir a sentença.

Obs.: Cuidado para não confundir o domicílio profissional (atr. 72, CC) com o domicílio de
servidor público. O lugar da profissão é considerado seu domicilio para atos profissionais. Para
Domicílio da Pessoa Jurídica

A Pessoa Jurídica, por ser sujeito de direitos e deveres na ordem civil, uma vez que ostenta
personalidade, também possui domicílio. Neste caso, a sua averiguação obedece critério objetivo.

Normalmente, o domicílio da pessoa jurídica afere-se pela análise do seu ato constitutivo, pois neste
documento, está determinado a sua sede – seu domicílio.

O art. 75 do Código Civil, trata sobre o tema:

Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:

I – da União, o Distrito Federal;

II – dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;

III – do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;

IV – das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações,
ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.

§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados.

§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa


jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
Os incisos I, II e III do art. 75, acima citados, tratam especificamente do
domicílio dos entes federativos, pessoas jurídicas de direito público interno.

Já o inciso IV trata acerca das demais pessoas jurídicas, esclarecendo


questões referentes à determinação do domicílio.

Segundo Gonçalves (2017, pág. 192):

A rigor, a pessoa jurídica de direito privado não tem residência, mas sede ou
estabelecimento, que se prende a um determinado lugar. Trata-se de
domicílio especial, que pode ser livremente escolhido “no seu estatuto ou
atos constitutivos”. Não o sendo, o seu domicílio será “o lugar onde
funcionarem as respectivas diretorias e administrações ” (CC, art. 75, IV). Este
será o local de suas atividades habituais, onde os credores poderão
demandar o cumprimento das obrigações.
DOS BENS:

Ainda que exista bastante divergência doutrinária sobre o conceito de


“bem”, se seria ou não sinônimo de “coisa”, podemos definir bem de
forma genérica como um objeto que pertencem a uma pessoa natural
ou jurídica e que este bem pode ser objeto de relações jurídicas, nesse
sentido poderíamos ter objetos materiais ou intangíveis, inclusive essa
distinção é apresentada na doutrina:

Corpóreos X Incorpóreos

▪ Bens materiais (Corpóreos): Aqueles com existência física. Ex: casa


▪ Bens intangíveis (Incorpóreos): Aqueles sem existência física. Ex:
patente
Dos Bens Considerados em Si Mesmos

O Código Civil nos apresenta um capítulo sobre os bens


considerado em si mesmos, esses não dependem da relação com
outros, pois há uma individualidade do próprio bem, nesse sentido
existem as seguintes classificações no CC:

Bens Imóveis X Móveis


Bens Fungíveis X Infungíveis
Bens Consumíveis X Inconsumíveis
Bens Divisíveis X Indivisíveis
Bens Singulares X Coletivos
Bens Imóveis X Móveis
Comecemos pela definição de bens imóveis. Podemos dizer que são bens
imóveis aqueles que não podem ser transportados sem ser destruídos ou
danificados, também conhecidos como bens de raiz, assim o CC nos diz que:

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

Também temos bens imóveis por mera definição legal.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

I – os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;

II – o direito à sucessão aberta.

Da análise desses artigos podemos classificar o bem imóvel da seguinte forma:

➢ Por natureza (essência): Ex: Solo


➢ Por acessão: Por acréscimo
➢ Natural: Acréscimo sem a intervenção humana Ex: ilha

➢ Artificial (industrial): Ex: prédio


Por Determinação Legal Ex: direito à sucessão aberta

Em contrassenso ao bem imóvel, os bens móveis são aqueles que podem ser
transportados sem que haja alteração substancial.

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por
força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

Assim como os imóveis, existem bens móveis por mera definição legal.

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:

I – as energias que tenham valor econômico;

II – os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;

III – os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

Logo podemos classificar o bem móvel da seguinte forma:

➢ Por natureza (essência) Ex: Cavalo


➢ Por antecipação: remoção por força alheiam, há finalidade econômica Ex: fruto
de uma árvore
➢ Por Determinação Legal Ex: direito à sucessão aberta
Bens de construção

É necessário cuidado especial em relação aos bens de


construção, pois a depender da destinação eles poderão ser
bens móveis ou imóveis.

De forma esquematizada temos que:

➢ Bem móvel (Art. 84): Materiais novos ou usados destinado em


obra diversa, enquanto não forem empregados.
➢ Bem imóvel (Art. 81, II): Materiais provisoriamente separados
de um prédio, para nele se reempregarem.
Bens Fungíveis X Infungíveis

A fungibilidade é a característica que diz se o bem pode ou não ser


substituído por outro, assim temos no CC que:

Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros
da mesma espécie, qualidade e quantidade.

Podemos classificar quanto a fungibilidade do bem da seguinte


forma:

Infungíveis: Não podem ser substituídos, pois são distintos dos


demais. Ex: Carro, imóveis
Fungíveis: Podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade. Ex: Dinheiro, alimento
Bens Consumíveis X Inconsumíveis

Temos que os bens consumíveis são aqueles que exaurem no


primeiro uso.

Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa


destruição imediata da própria substância, sendo também
considerados tais os destinados à alienação.

Logo, temos que a classificação quanto à consuntibilidade:

➢ Consumíveis: uso importa na destruição, ou no caso de venda


Ex: Dinheiro, alimentos

➢ Inconsumíveis: É possível reiterados usos. Ex: Carro, roupas;

➢ Atente-se que um livro, por exemplo, pode ser tanto consumível


quanto inconsumível a depender da finalidade. Para uma
livraria, ao vendê-lo, o livro é consumível; porém para quem
compra, o bem é inconsumível, afinal permitirá várias leituras.
Bens Divisíveis X Indivisíveis

A divisibilidade diz respeito à possibilidade de fracionamento do bem sem


alteração na sua substância, diminuição do valor ou prejuízo do uso.

Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se
destinam.

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por


determinação da lei ou por vontade das partes.

Assim, quanto à divisibilidade podemos classificar os bens em:

Divisíveis: podem ser fracionados sem prejuízos Ex: Jogo de caneta, pois
cada caneta continuaria com seu valor inalterado.
Indivisíveis: Não podem ser fracionados
Por natureza: Ex: Diamante

Por determinação legal: Apesar da possibilidade de fracionar, a lei não


permite. Ex: Herança antes da partilha.

Por vontade das partes: Apesar da possibilidade de fracionar, o contrato


não permite. Ex: Entrega de mercadoria acordada em sua totalidade.
Bens Singulares X Coletivos
Vejamos agora a classificação quanto à individualidade. Iniciemos pelos bens singulares:

Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,
independentemente dos demais.

Já os bens coletivos, podendo ser universalidade de fato ou de direito.

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes
à mesma pessoa, tenham destinação unitária.

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma


pessoa, dotadas de valor econômico.

De forma esquematiza, temos que:

Bens quanto à individualidade

➢ Singulares: embora possam ser reunidos, são considerados de forma individual. Ex:
Livro
➢ Coletivos: pluralidade de bens que formam um todo.
➢ Universalidade de Fato: pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma
pessoa, tenham destinação unitária, ou seja, são ligados pela vontade humana. Ex:
biblioteca

➢ Universalidade de Direito: complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de


valor econômico, ou seja, são ligados pela norma. Ex: herança
Dos Bens Reciprocamente Considerados

Dissemos que os Bens Considerados em Si Mesmos independiam da


relação com outro bem, não podemos dizer o mesmo dos Bens
Reciprocamente Considerados, pois esses são considerados uns em
relação aos outros.

Assim, temos o bem principal que existe por si e o bem acessório que
depende da existência do principal.

Ex: O fruto (acessório) em relação à árvore (principal).

Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;
acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.

Ainda existem subclassificações dos bens acessórios, nesse sentido o


Professor Paulo Sousa nos apresenta:

Bens no Código Civil


Benfeitorias

Falando especificamente sobre as benfeitorias, elas podem ser de


três tipos:

➢ Necessárias: têm por fim conservar o bem ou evitar que se


deteriore
➢ Úteis: aumentam ou facilitam o uso do bem
➢ Voluptuárias: mero embelezamento ou recreio

Obs. Não se considera como benfeitoria eventos naturais, pois não


se originam pela intervenção do proprietário, possuidor ou detentor
(Art. 97).
Dos Bens Públicos
Os bens públicos, conforme o artigo 98, são os bens do domínio
nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
interno, sendo todos os demais bens particulares. Apesar da
literalidade, devemos entender que existem exceções, como por
exemplo, os bens pertencentes à pessoa jurídica de direito
privado que esteja afetado à prestação de serviços públicos,
esse são considerados também como bens públicos (Enunciado
287 da IV Jornada de Direito Civil do CJF).

Os bens públicos possuem algumas características ímpares se


comparado aos bens privados, tais como:

➢ Inalienabilidade (Art. 100): Não podem ser vendidos, exceto os


bens dominicais (Art. 101).
➢ Impenhorabilidade: O bem público é impenhorável, afinal os
créditos públicos são satisfeitos por precatório (CF, Art. 100,
§6º)
➢ Imprescritibilidade (Art. 102): Os bens públicos não estão
sujeitos a usucapião.
Talvez a questão mais abordada sobre o tema é a classificação dos
bens públicos quanto à destinação, assim:

➢ Uso comum (Art. 99, I): Uso comum de todos, sem beneficiar um
grupo em específico. Ex: mar, ruas e praças e etc.

➢ Uso especial (Art. 99, II): Bens destinados à necessidade pública. Ex:
Edifícios ou terrenos destinados a serviço da administração pública;

➢ Dominicais (Art. 99, III): O patrimônio não afetado, ou seja,


patrimônio disponível. Ex: prédio desativado

*A mera cobrança de entrada em um parque público, por exemplo,


não descaracteriza o bem como de uso comum, conforme o artigo
103.
Negócio Jurídico

 Classificação  Referente ao ato licito, ainda


podemos dividi-lo em:
 Podemos dividir os fatos jurídicos em
natural (fato jurídico em sentido
estrito), aqueles por acontecimento
 Ato lícito em sentido estrito: São os
natural; e em humanos (ato), aqueles
atos não-negociais, há participação
que tem participação humana.
humana, entretanto os efeitos são
determinados pela lei. Ex.:
Reconhecimento de filho
 Quanto ao fato jurídico humano, ele
se subdivide em atos lícitos e atos  Negócio jurídico: Os efeitos são
ilícitos. desejados pela parte, há autonomia
de vontade. Ex.: contrato.
Elementos essenciais à validade do
negócio jurídico.
 Agente capaz;
 Objeto lícito, possível, determinado ou
 Se o agente for absolutamente incapaz determinável;
o negócio jurídico será nulo, entretanto
se o agente for relativamente incapaz o  Atente-se que o objeto pode ser
negócio jurídico será anulável. determinável, ou seja, a
impossibilidade inicial do objeto não
 Assim, o CC aponta que incapacidade invalida o negócio jurídico se for
relativa não pode ser invocada pela relativa, ou se cessar antes de
outra parte em benefício próprio (Art. realizada a condição (Art. 106).
105).
Elementos

 Forma prescrita ou não defesa em lei.  Vontade das partes


 Assim, a regra é não depender de forma  -Reserva mental (Art. 110) Há divergência entre a
especial, senão quando a lei expressamente a vontade real e a vontade declarada. Logo:
exigir (Art. 107)

 Destinatário não tinha conhecimento (3º de boa-


 Escritura pública para imóveis (Art. 108): é de-fé) -> Subsiste o negócio jurídico
essencial à validade dos negócios jurídicos de
imóveis de valor superior a 30 vezes o salário  Destinatário tinha conhecimento da reserva
mínimo, salvo lei em sentido contrário. mental (conluio) -> Não existe Negócio jurídico
 -Intenção X sentido literal (Art. 112); Nas
declarações de vontade se atenderá mais à
 Forma solene por vontade das partes (Art. 109): É intenção do que sentido literal. Nesse sentido
plenamente possível, conforme o CC “No até mesmo o silêncio pode importância em
negócio jurídico celebrado com a cláusula de anuência, a depender das circunstâncias (Art.
não valer sem instrumento público, este é da 111).
substância do ato.”
Interpretação do negócio jurídico

O Código Civil nos diz que o negócio jurídico deve ser interpretado
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (Art. 113).

Obs. As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação e


integração diversas daquelas previstas em lei (Art. 113, §2º)

Atente-se também as hipóteses de interpretação estrita, ou seja, não


extensiva/ampliativa (Art. 114):

Negócios jurídicos benéficos (atos gratuitos); e


Renúncia.
Da Representação

A representação basicamente ocorre quando uma pessoa celebra negócio jurídico em


nome de outrem, assim os poderes de representação conferem-se (Art. 115):

por lei (representação legal). Ex. Pais, ou


pelo interessado (representação voluntária) Ex. Procuração
Importante relembrar que o representante é obrigado a provar às pessoas sua qualidade
e a extensão de seus poderes, sob pena de responder pelos atos (Art. 118).

Vejamos um importante artigo.

Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes,
produz efeitos em relação ao representado.
Aqui temos duas informações importantes:

A ato do representante vincula o representado


Os atos de vontade do representante são limitados aos poderes
conferidos
Hipóteses em que o NJ é anulável:

Autocontrato (contrato celebrado consigo mesmo), salvo se o permitir a


lei ou o representado (Art. 117).
Conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser
do conhecimento de quem com aquele tratou (terceiro de má-fé),
conforme o artigo 119.
Da Condição, do Termo e do Encargo
Agora vamos adentrar em um assunto muito cobrado em prova, os
elementos acidentais de um negócio jurídico. Assim, temos a condição, o
termo e o encargo.

Veremos as principais regras e a distinção desses.

Condição

Condição (Art. 121): cláusula que, derivando exclusivamente da vontade


das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

Há liberdade de estipulação de condições, assim são licitas, em geral, todas


as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes,
entretanto é proibida a condição que prive de todo efeito o negócio jurídico
ou sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.
Tipos de condição – quanto ao modo de atuação:

Condição suspensiva: Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico (Art. 125) Ex. Darei
um carro a você, se você passar no concurso.
Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer
quanto àquelas novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com
ela forem incompatíveis. -> sob condição suspensiva é possível realizar novas disposições,
desde que compatíveis com a condição original.

Condição resolutiva: enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico (Art. 127)
Ex. Darei dinheiro pra você estudar, até você ser aprovado.
Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a
que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a
sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já
praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme
aos ditames de boa-fé. -> a condição resolutiva resolve (extingue) o direito, mas se deve
respeitar os atos já praticados nos negócios de execução continuada.

Atente-se que ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou


resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo (Art. 130)
Invalidades – Negócio jurídico x Condição
Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados (Art. 123):

I – as condições impossíveis, quando suspensivas; -> Afinal, faria com que


o negócio nunca acontecesse
II – as condições ilícitas
III – as condições incompreensíveis ou contraditórias.
Invalidam a condição (Art. 124):

Condições impossíveis, quando resolutivas -> Se é resolutiva e impossível,


ela nunca ocorrerá, logo é como se a condição nunca existisse.
Condições de não fazer coisa impossível
Termo

Termo (Art. 131): suspende o exercício, mas não a aquisição do direito,


ou seja, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e certo.
Ex. Te darei um carro daqui 1 ano.

Tipos de termo:

Termo inicial: fixa a eficácia no negócio jurídico para um momento


posterior
Termo final: fixa o término dos efeitos
Obs. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições
relativas à condição suspensiva e resolutiva (Art. 135)
Regras dos prazos:

➢ Contagem do prazo (Art. 132, caput): exclui o dia do começo, e incluído o do


vencimento.
➢ Meado (Art. 132, §2º): 15º dia do mês
➢ Prazos de meses e anos (Art. 132, §3º): expiram no dia de igual número do de
início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. Ex. 31/01 e 28/02
➢ Prazos fixados em hora (Art. 132, §4º): contado minuto a minuto

Encargo

Encargo: impõe ao beneficiário de um direito uma determinada obrigação/ônus.


Ex. Município isenta o IPTU de uma empresa por 5 anos, desde que ela contrate
1.000 funcionários no período.

Assim, o CC dispõe que o encargo não suspende a aquisição nem o exercício do


direito (Art. 136).

E que se considera não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o


motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico
(Art. 137)
Condição X Termo X Encargo

Para finalizar o artigo Resumo Negócio Jurídico no Código, vejamos um


esquema final.

Saber identificar qual dos três elementos está representando em uma


situação garantem pontos nesse tipo de assunto, assim não confunda.

➢ Condição: evento futuro e incerto


➢ Termo: evento futuro e certo
➢ Encargo: impõe um ônus
REFERÊNCIAS

Diniz, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, 2002, Ed. Saraiva

FARIAS, Cristiano Chaves de. et. al. Código Civil para concursos:
doutrina, jurisprudência e questões de concursos – 5. ed. Salvador:
Juspodivm, 2017.

https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/bens-no-codigo-civil-
classificacoes-dos-bens-resumo/

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