Você está na página 1de 20

Acepção da palavra Sanção

É preciso entender bem os significados que a palavra 'coação' comporta. Coação é


um termo técnico, empregado pelos juristas, em duas acepções bastante
diferentes.

Em um primeiro sentido, coação significa apenas a violência física ou psíquica,


que pode ser feita contra uma pessoa ou um grupo de pessoas. A mera violência não
é uma figura jurídica, mas quando se contrapõe ao Direito, torna anuláveis os atos
jurídicos. Nesta acepção genérica, a palavra coação é, de certa maneira, sinônimo
de violência praticada contra alguém.

No código civil/2002 existe uma seção denominada 'Da coação', o que comporta
que nem todos os atos são lícitos juridicamente (art. 104 CC), tais como a existência
de agente capaz, de objeto lícito, de forma prescrita ou não defesa em lei.
Acepção da palavra Sanção
Ora, em muitos casos, existe o agente capaz, mas ele está sendo influenciado por
elementos extrínsecos que deturpam a autenticidade de sua maneira de decidir. O
agente decide, mas sendo vítima de erro, de fraude, ou então, sob a irresistível
pressão de determinadas circunstâncias.

Dizemos então que, entre os casos de anulabilidade dos atos jurídicos, está a
eventualidade de violência ou de coação. O ato jurídico, praticado sob coação, é
anulável; tem existência jurídica, mas de natureza provisória, até que o ofendido
prove que agiu compelido, sob ameaça física ou psíquica. Dizemos, então, que a
coação é um dos vícios possíveis dos atos jurídicos.

Existem atos jurídicos com nulidades de natureza absoluta e outras de caráter


relativo. As absolutas inquinam o ato desde o seu aparecimento e não produzem
feito válido. O ato anulável, ao contrário, produz efeitos até e enquanto não
declarada a sua nulidade.
Acepção da palavra Sanção

Ora, entre os atos anuláveis, estão aqueles que nasceram em virtude de


violência ou de coação. A coação pode ser de ordem física, desde a ameaça
de agressão caracterizada até ao emprego de todas as formas de sofrimento ou
tortura infligidas à vítima, ou a pessoa de sua estima. A violência pode ser
também de ordem psicológicas quem, muitas vezes, não é menos forte que a
outra. Ex.: ameaça de contar um segredo. Art. 151 CC.

Não é, entretanto, nesse sentido que empregamos a palavra coação, quando


dizemos que o Direito se distingue da Moral pela possibilidade de
interferência da coação. Neste caso, é esta entendida como força organizada
para fins do Direito.
Acepção da palavra Sanção
Não é, entretanto, nesse sentido que empregamos a palavra coação, quando
dizemos que o Direito se distingue da Moral pela possibilidade de interferência da
coação. Neste caso, é esta entendida como força organizada para fins do Direito.

As normas jurídicas visam a preservar o que há de essencial na convivência


humana, elas não podem ficar à mercê da simples boa vontade, da adesão
espontânea dos obrigados. É necessário prever-se a possibilidade do seu
cumprimento obrigatório. Quando a força se organiza em defesa do cumprimento
do Direito mesmo é que nós teimosa segunda acepção da palavra coação.

Coação, portanto, significa duas coisas: corresponde à violência (art. 151 CC), à
força que, interferindo, vicia o ato jurídico; em sua segunda acepção, não é o
contraposto do Direito, mas é, ao contrário, o próprio Direito enquanto se arma da
força para garantir o seu cumprimento. A astúcia do Direito consiste em valer-se do
veneno da força para impedir que ela triunfe.
Conceito de Sanção
Todas as regras, quaisquer que sejam, religiosas, morais, jurídicas ou de
etiqueta, são evidentemente emanadas ou formuladas, da ou pela sociedade,
PARA SEREM CUMPRIDAS. Não existe regra que não implique certa
obediência, certo respeito.

As regras éticas existem para serem executadas. Se a obediência e o


cumprimento são da essência da regra, é natural que todas elas se garantam,
de uma forma ou de outra, para que não fiquem no papel, como simples
expectativas ou promessas. As formas de garantias do cumprimento das regras
denonimam-se 'sanções'. Sanção é, pois, todo e qualquer processo de
garantia daquilo que se determina em uma regra.
Como pode ser as Sanções
Apresentam-se tantas formas de garantia quantas são as espécies dos distintos
preceitos. Examinem, por exemplo, o caso de uma regra moral. As regras
morais nós as cumprimos por motivação espontânea. Mas, quando as
deixamos de cumprir, a desobediência provoca determinadas consequências,
que valem como sanção.

Quantas são as sanções específicas da ordem moral?. Em primeiro lugar,


temos o remorso, o arrependimento, o amargo exame de consciência. O
homem bem formado, que faltou a um ditame ético, encontra em si mesmo
uma censura, uma força psíquica que o coloca na situação de réu diante de si
próprio. É o exame de consciência uma forma imediata de sanção dos ditames
morais. É a sanção do foro íntimo. Existe, porém, também uma sanção
extrínseca ou externa que se reflete na sociedade, pelo mérito ou demérito que
o indivíduo granjeia, em razão ou em função dos atos praticados.
Como pode ser as Sanções
A sanção de natureza social tem força bem maior do que se supõe. Nós não vivemos
apenas voltamos para nós mesmos, mas também em função do meio, da sociedade
em que agimos. A sanção na moral obedece a essa dimensão individual-social do
homem, porquanto, opera tanto no plano da consciência quanto no plano da
chamada consciência coletiva. Há uma reação por parte da sociedade, quando o
homem age de modo contrário à tábua de valores vigentes. É o que se denomina
mérito ou demérito social, como formas de sanção das regras sociais.

Essas formas de sanção das regras morais não estão, entretanto, organizadas. De
certa maneira, acham-se difusas no espaço social: é a crítica e a condenação, que a
infração suscita; é a opinião pública que se forma sobre a conduta reprovada; são
todos os sistemas de autodefesa da sociedade, que, aos poucos, eliminam da
convivência o indivíduo que não obedece aos preceitos de ordem moral. Um
ostracismo espontâneo é aplicado pela sociedade quando o indivíduo viola as suas
obrigações de natureza ética. Pode-se dizer que a grande maioria dos homens cede
diante da pressão dessa força difusa do meio social.
E a sanção jurídica?
Há, entretanto, aqueles que nem sequer se arreceiam do exame de sua própria
consciência, por estarem tão embrutecidos que nela é impossível o fenômeno
psíquico do remorso. Nem faltam os que nenhuma importância dão à reação social,
por se considerarem, às vezes, superiores ao meio em que vivem, como seres acima
do bem ou do mal; ou, então, porque na própria "psique" não haverá repulsa àqueles
motivos de conduta imoral, que atuam, poderosamente, sobre o homem normal. É
nesse momento que se torna necessário organizar as sanções. O fenômeno
jurídico representa, assim, uma forma de organização da sanção.

Na passagem da sanção difusa para a sanção predeterminadamente organizada,


poderíamos ver a passagem paulatina do mundo ético em geral para o mundo
jurídico. Das regras religiosas e morais, que abrangiam primitivamente todo mundo
jurídico, este foi se DESPREGANDO, até adquirir contornos próprios e formando
um todo homogêneo pela organização progressiva da própria sanção.
A SANÇÃO, PORTANTO, É GÊNERO DE QUE A SANÇÃO
JURÍDICA É ESPÉCIE. Existem sanções morais e jurídicas,
correspondentes, respectivamente, às regras de natureza moral e
jurídica. Há também sanções próprias das normas religiosas, que
dizem respeito à crença e à fé, fundadas na esperança ou certeza de
uma vida ultraterrena, na qual cada homem receberá a retribuição de
sua conduta, a paga ética, ideal, de seu comportamento.
E a sanção jurídica?
A ideia fundamental da religião é a de que vivemos uma vida transitória, que
não tem em si a medida de seu valor, mas que se mede, segundo valores
externos, à luz da ideia de uma vida ultraterrena, na qual os homens serão
julgados segundo o valor ético de sua própria existência. O remorso é
também, para o crente, uma força de sanção imediata e imperiosa. Todas as
regras possuem, em suma, sua forma de sanção.

O que caracteriza a sanção jurídica é a sua predeterminação e organização.


Matar alguém é um ato que fere tanto um mandamento ético-religioso como
um dispositivo penal. A diferença está em que, no plano jurídico, a sociedade
se organiza contra o homicida, através do aparelhamento policial e do Poder
Judiciário. Condena, eis novamente a ação dos órgãos administrativos para
aplicar a pena.
E a sanção jurídica?

Tudo no Direito obedece a esse princípio da sanção organizada de forma


PRETERMINADA. A existência mesma do Poder Judiciário, como um
dos três poderes fundamentais do Estado, dá-se em razão da
predeterminação da sanção jurídica. Um homem lesado em seus direitos
sabe de antemão que pode recorrer à Justiça, a fim de que as relações
sejam objetivamente apreciadas e o equilíbrio restabelecido.
O Estado como ordenação objetiva
e unitária da sanção

É a organização da Nação em um unidade de poder, a fim de que a


aplicação das sanções se verifique segundo uma proporção objetiva e
transpessoal. PARA TAL FIM O ESTADO DETÉM O MONOPÓLIO
DA COAÇÃO no que se refere à distribuição da justiça. É por isto que
alguns constitucionalistas definem o Estado como a instituição detentora
da coação incondicionada. Como, porém, a coação é exercida pelos órgãos
do Estado, em virtude da competência que lhes é atribuída, mais certo será
dizer que o Estado, no seu todo, consoante ensinamento de Laband, tem
"A COMPETÊNCIA DA COMPETÊNCIA".
O Estado como ordenação objetiva
e unitária da sanção
O Estado, como ordenação do poder, disciplina as formas e os processos
de execução coercitiva do Direito. Esta pode consistir na penhora, como
quando o juiz determina que certo bem seja retirado do patrimônio do
indivíduo, para garantia de um débito, se as circunstâncias legais o
autorizarem. COAÇÃO pode ser a própria prisão, ou seja, a perda de
liberdade infligida ao infrator de uma lei penal. COAÇÃO pode ser a
perda da própria vida, como acontece nos países que consagram a pena de
morte. Pode chegar-se ao extremo de tirar o bem supremo, que é a vida, a
fim de preservar-se a ordem jurídica, o que não nos parece harmonizável
com a natureza do Direito.
O Estado como ordenação objetiva
e unitária da sanção
Podemos afirmar que, em nossos dias, o Estado continua sendo a entidade
detentora por excelência da sanção organizada e garantida, muito embora
não faltem outros entes, na órbita internacional, que aplicam sanções com
maior ou menor êxito, como é o caso, por exemplo, da ONU. Cresce,
porém, dia a dia, a importância de entidades supranacionais, que dispõem
de recursos eficazes para lograr a obediência de seus preceitos.
Instituições, como o mercado comum europeu e o Mercosul, cada vez
mais se convertem em unidades jurídico-econômicas integradas, marcando,
sem dúvida, uma segunda fase no processo objetivo de atualização das
sanções. Seria, todavia, exagero concluir, à luz desses exemplos, pela
evanescência do Estado ou seu progressivo desaparecimento, quando, na
realidade, o poder estatal cresce, concomitantemente, como aqueles
organismos internacionais.
As ordenações jurídicas não estatais
SE O ESTADO É O DETENTOR DA COAÇÃO INCONDICIONADA, NÃO
HAVERÁ OUTROS ORGANISMOS INTERNOS COM ANÁLOGO
PODER?. O Estado é o detentor da coação em última instância. Mas, na
realidade, existe Direito também em outros grupos, em outras instituições, que
não o Estado. Existe, por exemplo, um Direito no seio da Igreja. A igreja é uma
instituição e, dentro do corpo institucional da Igreja, há um complexo de normas
suscetíveis de sanção organizada. É o Direito canônico, que não se confunde com
o Direito do Estado.

Mas não é só. Como contestar a juridicidade das organizações esportivas? Não
possuem elas uma série de normas, e até mesmo de tribunais, impondo a um
número imenso de indivíduos determinadas formas de conduta sob sanções
organizadas? O mesmo acontece com crescente número de entidades
representativas dos mais diversos interesses coletivos, sendo inegável o poder de
determinadas organizações não governamentais (ONGs). Parece-nos, pois,
As ordenações jurídicas não estatais
Há, em suma, todo um Direito 'GRUPALISTA' que surge ao lado ou dentro do
Estado. É preciso, porém, reconhecer também que existe uma graduação no
Direito, segundo o índice de organização e de generalidade da coação. O Estado
caracteriza-se por ser a instituição, cuja sanção possui caráter de universalidade.
Nenhum de nós pode fugir à coação do Estado. O Estado circunda-nos de tal
maneira que até mesmo quando saímos do território nacional, continuamos
sujeitos a uma série de regras que são do Direito brasileiro, do Estado brasileiro.

Há um meio de escaparmos à coação grupalistas, que é o abandono do grupo,


mas ninguém pode abandonar do Estado. O Estado é a instituição de que não se
abdica. Os indivíduos que deixam o território nacional carregam consigo o Direito
brasileiro, que vai proteger a sua vida, assim como exercer influência sobre sua
pessoa e seus bens. De certa forma, podemos dizer que o Estado, com seu Direito,
nos acompanha até mesmo após a morte, porquanto determina a maneira pela
qual os nossos bens devem ser divididos entre os herdeiros, preserva nosso nome
As ordenações jurídicas não estatais

Pois bem, em nenhuma das entidades internas ou internacionais, com


competência para aplicar sanções a fim de garantir as suas normas, em
nenhuma delas encontramos a universalidade da sanção, nem a força
impositiva eficaz que se observa no Estado. Daí dizemos que, se num país
são múltiplos os entes que possuem ordem jurídica própria (teoria da
pluralidade dos ordenamentos jurídicos externos), só o Estado representa o
ordenamento jurídico soberano, ao qual todos recorrem para dirimir os
conflitos recíprocos.
As ordenações jurídicas não estatais

Donde dizer-se com razão que o Estado é, ao mesmo tempo e


complementarmente, UM MEIO E UM FIM. É um meio na medida em que
sua estrutura e sua força originam-se historicamente, através de mil
vicissitudes, para possibilitar aos indivíduos uma vida condigna no seio de
uma comunidade fundada nos valores da paz e do desenvolvimento.

Por outro lado, o Estado se põe como fim, enquanto representa, e tão-
somente enquanto representa, concomitantemente, uma ordem jurídica e
uma ordem econômica, cujos valores devem ser respeitados por todos como
condição de coexistência social harmônica, onde os direitos de cada um
pressupõem iguais direitos dos demais, assegurando-se cada vez mais a
plena realização desse ideal ético.

Você também pode gostar