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VAMOS LÁ TURMA DE

FIBRA!!!
Disciplina: Direito Civil I - Teoria Geral do Direito Privado
Docente: Vicente Noronha Filho

PESSOAS JURÍDICAS1

São entidades diversas da pessoa natural, solenemente constituídas pela reunião de


pessoas naturais ou de patrimônios, independentes da pessoa jurídica, inclusive com
patrimônio e personalidade distintas das pessoas que a constituem, com determinado
objetivo ou finalidade prevista no seu ato constitutivo, cuja ordem jurídica reconhece como
sujeito de direitos e obrigações (Clarice M. Reis).

São grupos de pessoas (corporação) ou de bens (fundação) dotados de personalidade


jurídica própria e constituídos na forma da lei para consecução de fins comuns. Têm
individualidade própria com patrimônio e responsabilidade independente de seus
membros, pois a lei lhes confere capacidade de serem sujeitos a direitos e deveres na
esfera civil.

Finalidade: separação patrimonial, ou seja, o titular dos direitos e deveres da pessoa


jurídica não se confunde com a de seus membros, pois será dotada de personalidade e
patrimônio próprio.

Requisitos de formação

a) vontade humana criadora: agrupamento de pessoas ou de bens;


b) observância dos requisitos legais: ato constitutivo, registro e autorização (se o caso);
c) licitude do objeto social; e;
d) finalidade.

Natureza jurídica

São várias as teorias que buscam explicar a existência da pessoa jurídica. São elas:

1. Teoria da ficção legal: a pessoa jurídica é uma ficção, uma criação da lei.

1 III Jornada de Direito Civil - Enunciado 189 Na responsabilidade civil por dano moral causado à
pessoa jurídica, o fato lesivo, como dano eventual, deve ser devidamente demonstrado.
2. Teoria da equiparação: a pessoa jurídica é um patrimônio equiparado, no seu
tratamento, às pessoas naturais.
3. Teoria da realidade objetiva ou orgânica: a pessoa jurídica é uma realidade social que o
direito reconhece como organismo físico diverso das pessoas que a constituem.
4. Teoria da realidade das instituições jurídicas: a personalidade jurídica seria um atributo
conferido pelo Estado.
5. Teoria da realidade técnica: a personalidade jurídica seria um atributo conferida pela
vontade humana criadora, dada a finalidade social atribuída a nova pessoa. Nosso código
civil adotou uma teoria híbrida entre a realidade objetiva e da realidade técnica, pois
constitui pela vontade com determinada finalidade e a lei reconhece como organismo
distinto de seus membros.

Início da personalidade jurídica23

A personalidade jurídica da pessoa jurídica se dá com o registro do seu ato constitutivo no


órgão competente, ou seja, antes do efetivo registro a pessoa jurídica existe de fato, mas
não existe de direto e, logo, não gozará das prerrogativas da separação patrimonial que
permeia a distinção entre os titulares das obrigações da pessoa jurídica e natural.
Destarte, o registro tem efeito constitutivo (ex nunc) e não meramente declaratório como o
registro civil da pessoa natural (ex tunc). Início da existência legal da pessoa jurídica de
direito público: decorre de fatos históricos, de criação constitucional, de lei ou de tratados
internacionais.

Início da existência legal da pessoa jurídica de direito privado: para sua constituição
passa por duas etapas. A primeira fase (ato constitutivo) decorre de uma manifestação da
vontade de criar uma entidade diversa de seus membros. Esta 1ª fase compreende dois
elementos: o material e o formal.

Há pessoas jurídicas que necessitam de autorização especial do governo, como as


seguradoras e as administradoras de consórcio. A segunda fase é a do Registro Público.
O registro do contrato da sociedade comercial é feito da Junta Comercial. As outras

2 Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas
jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação
de sua inscrição no registro.

3 IV Jornada de Direito Civil - Enunciado 286 Os direitos da personalidade são direitos


inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as
pessoas jurídicas titulares de tais direitos.
pessoas jurídicas devem efetuar seus registros no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas.

Classificação

Podem ser classificadas quanto à nacionalidade, quanto à estrutura interna e quanto à


função e capacidade. Vejamos cada uma delas:

Quanto à nacionalidade: nacionais e estrangeiras 4

Quanto à estrutura interna: conjunto de pessoas ou corporação (universitas personarum,


as associações, sociedades) e conjunto de bens ou fundação (universitas bonorum, no
caso, as fundações);

Quanto à função e capacidade (art. 40 CC), dividem-se em pessoas jurídicas de direito


público e pessoas jurídicas de direito privado.

As pessoas jurídicas de direito público, por sua vez, subdividem-se em: pessoas jurídicas
de direito público externo (ONU, Nações Estrangeiras, Santa Sé), e pessoas jurídicas de
direito público interno de administração direta (União, Estados, Municípios e Distrito
Federal) e de administração indireta (autarquias e fundações públicas 5).

As pessoas jurídicas de direito privado compreendem (art. 44 CC) 6: Corporações:


agrupamento de pessoas com finalidade comum dos membros. São elas:

4 Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito
privado.

5 III Jornada de Direito Civil - Enunciado 141 A remissão do art. 41, parágrafo único, do
Código Civil às pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de
direito privado, diz respeito às fundações públicas e aos entes de fiscalização do exercício
profissional.

6 III Jornada de Direito Civil - Enunciado 144 A relação das pessoas jurídicas de direito
privado constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil não é exaustiva.
a) Associações78: não têm fim lucrativo, mas tão-somente religioso, moral, cultural ou
recreativo;

b) Sociedades Civis9: grupos de pessoas que visam o lucro com a atividade da pessoa
jurídica formada;

c) Sociedades Comerciais ou empresariais: como nas sociedades civis, também visam o


lucro, mas se diferenciam porque praticam atos de comércio;

d) Empresário individual: A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) 10 é


aquela constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social,
devidamente integralizado, que não poderá ser inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-
mínimo vigente no País. O titular não responderá com seus bens pessoais pelas dívidas
da empresa. (Fonte: Portal do empreendedor) Fundações: universalidade de bens
destinados a um determinado fim (moral, assistencial, religioso ou cultural), estipulado por
seu fundador, a que a ordem jurídica reconhece como pessoa jurídica;

No caso específico das Fundações11, a sua criação passa por quatro fases e não apenas
duas. A primeira consiste da reserva de bens com indicação dos fins a que se destinam
pelo seu titular/fundador, através de escritura pública ou testamento. A segunda fase é a
elaboração do seu estatuto social. A terceira é a aprovação do estatuto pelo Ministério
Público. E, a quarta, é a do registro público.

7 Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins
não econômicos.

Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.

8 III Jornada de Direito Civil - Enunciado 142 Os partidos políticos, os sindicatos e as


associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil.

9 Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a


contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha,
entre si, dos resultados.

Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios


determinados.

10 I Jornada de Direito Comercial - Enunciado 3 A Empresa Individual de Responsabilidade


Limitada -EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do
empresário e da sociedade empresária.

11 Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou
testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e
declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Desconsideração da personalidade jurídica 12 13141516171819202122

Como alhures mencionado, a pessoa jurídica é titular de direitos e deveres e possui


personalidade jurídica distinta de seus membros, logo, possui responsabilidade própria e
patrimônio próprio para responder por seus deveres civis. Assim, permeada pelo princípio
da separação patrimonial os bens das pessoas naturais que membros da pessoa jurídica
não se confundem com os da pessoa jurídica. Entretanto, nos casos de comprovada
confusão patrimonial entre o patrimônio dos sócios com os da pessoa jurídica ou em caso
de desvio de finalidade ocorrerá o abuso da personalidade jurídica e, logo, poderá o juiz a
requerimento de interessado aplicar a desconsideração da personalidade jurídica para
12 Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

13 I Jornada de Direito Civil - Enunciado 51 A teoria da desconsideração da personalidade


jurídica - disregard doctrine - fica positivada no novo Código Civil, mantidos os parâmetros
existentes nos microssistemas legais e na construção jurídica sobre o tema.

14 I Jornada de Direito Civil - Enunciado 7 Só se aplica a desconsideração da personalidade


jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou
sócios que nela hajam incorrido.

15 I Jornada de Direito Processual Civil - Enunciado 11 Aplica-se o disposto nos arts. 133 a 137
do CPC às hipóteses de desconsideração indireta e expansiva da personalidade jurídica.

16 II Jornada de Direito Processual Civil - Enunciado 110 A instauração do incidente de


desconsideração da personalidade jurídica não suspenderá a tramitação do processo de
execução e do cumprimento de sentença em face dos executados originários.

17 II Jornada de Direito Processual Civil - Enunciado 111 O incidente de desconsideração da


personalidade jurídica pode ser aplicado ao processo falimentar.

18 III Jornada de Direito Civil - Enunciado 146 Nas relações civis, interpretam-se
restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no
art. 50 (desvio de finalidade social ou confusão patrimonial).

19 IV Jornada de Direito Civil - Enunciado 281 A aplicação da teoria da desconsideração,


descrita no art. 50 do Código Civil, prescinde da demonstração de insolvência da pessoa
jurídica.
alcançar o patrimônio pessoal dos membros com a finalidade de responder por seus
deveres legais. Teoria do disregard (desconsiderar). Trata de ato meramente processual
que não desconstitui a personalidade jurídica da pessoa jurídica, mas a desconsidera a
fim de retirar a proteção patrimonial, naquele caso específico, para alcançar o patrimônio
de seus sócios e, assim, dar efetividade a uma obrigação ou um dever não cumprido.
(Enunciado 51 CJF)

Requisitos: requerimento (parte ou MP); intervenção judicial; desvio de finalidade ou


confusão patrimonial (abuso de direito, fraude a lei, excesso de poder, violação dos
estatutos, falência ou insolvência civil). Responsabilidade do autor do ato fraudulento:
somente quem tenha praticado o ato (Enunciado 7 CJF). Desconsideração inversa:
Enunciado 283 CJF: transferência de bens do patrimônio pessoal ao patrimônio da
pessoa jurídica para prejudicar terceiros. Aplica-se a teoria ao revés para garantir o
cumprimento das obrigações civis.

Entes despersonificados23

Alguns entes não possuem personalidade jurídica, mas dada a peculiaridade de seu
surgimento e sua natureza jurídica o ordenamento jurídico lhes atribui representação
processual e regras de administração. São eles: a) massa falida; b) espólio; c) herança; e
d) condomínio. Fim da personalidade jurídica da pessoa jurídica Por se tratar de pessoa
constituída por ato de vontade humana nada mais do que aceitável que da mesma forma
se extinga, pois bem a pessoa jurídica pode ser extinta de maneira convencional por
vontade de seus membros;

20 IV Jornada de Direito Civil - Enunciado 282 O encerramento irregular das atividades da


pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso da personalidade jurídica.

21 IV Jornada de Direito Civil - Enunciado 283 É cabível a desconsideração da personalidade


jurídica denominada "inversa" para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica
para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros.

22 IV Jornada de Direito Civil - Enunciado 285 A teoria da desconsideração, prevista no art.


50 do Código Civil, pode ser invocada pela pessoa jurídica, em seu favor.

23 II Jornada de Direito Processual Civil - Enunciado 114 Os entes despersonalizados podem


celebrar negócios jurídicos processuais.

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