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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo a realização de uma análise acerca das alterações ao instituto
da Desconsideração da Personalidade Jurídica “Disregard Doctrine” constante do Código
Civil, Lei Federal n. 10.406/02, com a entrada em vigor, em 20 de setembro de 2019, da
norma intitulada Lei de Liberdade Econômica, Lei Federal n. 13.874/19, a qual trouxe
mudanças significativas ao mencionado instituto. O estudo levará em consideração o objeto
proposto pela alteração legislativa – trazer maior grau de segurança jurídica no aspecto da
separação do patrimônio incorporado ao ente criado e àquele pertencente ao próprio acervo
pessoal dos participantes do empreendimento – sob a perspectiva da doutrina, bem como os
posicionamentos da jurisprudência em suas mais recentes decisões. Ao final, avaliar-se-á
acerca do objetivo proposto e sua efetividade no plano concreto.
ABSTRACT
This work aims to carry out an analysis about the changes to the Institute of Disregard of
Legal Entity "Disregard Doctrine" contained in the Civil Code, Federal Law n. 10.406/02,
with the entry into force, on September 20, 2019, of the rule entitled Economic Freedom Law,
Federal Law n. 13.874/19, which brought significant changes to the aforementioned institute.
The study will take into account the object proposed by the legislative amendment – to bring a
greater degree of legal certainty in the aspect of the separation of the patrimony incorporated
to the created entity and that belonging to the own personal collection of the participants of
the enterprise – from the perspective of the doctrine, as well as the positions jurisprudence in
iI Acadêmica do curso de direito pelo Centro Universitário UNA Contagem, endereço eletrônico:
taisllabrunnela.tb@gmail.com
its most recent decisions. At the end, it will be evaluated about the proposed objective and its
effectiveness in the concrete plan.
INTRODUÇÃO
1.1 Conceituação
Registro é o ato que dá início a personalidade jurídica, pelo menos das pessoas
jurídicas de direito privado. Quanto às de Direito Público, como regra, são criadas
por lei. Assim, para que uma sociedade se torne pessoa jurídica, será necessário
inscrever seu contrato social no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas ou
na Junta Comercial, dependendo de se tratar de pessoa simples ou empresária. O
mesmo acontece com as associações e fundações privadas. Já as empresas públicas
são criadas conforme os procedimentos estabelecidos em lei especial. Que autorize
sua criação. Além disso, o registro servirá para dar segurança, autenticidade e
eficácia a todos os documentos das pessoas jurídicas (FIUZA, 1999, p. 43).
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as
alterações por que passar o ato constitutivo (BRASIL, 2002).
2 DA DESCONSIDERAÇÃO
2.1 Conceito
Atentemos a que não se trata de toda e qualquer situação a que o juiz estará
autorizado a aplicar o instituto, a não ser, em situações pontuais, onde se demonstra a conduta
dolosa dos membros fundadores ou detentores da pessoa jurídica, e prejuízos desencadeados.
Ainda assim, até as inovações legislativas as quais deram origem a modificação da
redação contida no Código Civil no que se refere às hipóteses de incidência, muitas incertezas
jurídicas pairavam acerca do mencionado mecanismo.
Desta forma, vemos que o artigo ensina que não se trata de considerar ou não
considerar nula a personificação e sim de torná-la ineficaz para determinados atos.
O primeiro diploma normativo a tratar o tema foi à Lei Federal n. 8.078 de 11 de
setembro de 1.990, intitulada Código de Defesa do Consumidor a qual dispõe em seu art. 28,
com relação ainda vigente:
Após tal previsão legal, passou-se a ser instituída em diversos ramos do direito com
seus respectivos diplomas normativos, tal como art. 18 da lei nº 8.884/94, revogada lei que
instituía o CADE, no direito Ambiental está prevista na lei nº 9.605/98, no Direito tributário
encontramos nos arts. 134 e 135 do Código Tributário nacional dentre outras, em âmbito Civil
em 2002, com a entrada em vigor da Lei nº 10.406/02, intitulada Código Civil, encontramos
presente em seu art. 50 com a seguinte redação originária:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica (BRASIL, 2002).
“teoria menor”, que considera o simples prejuízo do credor motivo suficiente para a
desconsideração. Esta última não se preocupa em verificar se houve ou não
utilização fraudulenta do princípio da autonomia patrimonial, nem se houve ou não
abuso da personalidade. Se a sociedade não possui patrimônio, mas o sócio é
solvente, isso basta para responsabilizá-lo por obrigações daquela (GONÇALVES,
2012, p. 238)
No mesmo sentido, ainda temos a definição dada por Rogério Andrade Cavalcanti:
Tal norma viria de muito bom grado, em nosso sentir, pois a falta de critérios para a
concessão da medida supressória da personalidade — em nível episódico, como
vimos — não poderia decorrer apenas de uma situação de insolvência, mas sim do
atendimento dos seus pressupostos legais específicos. A desconsideração tem uma
evidente natureza punitiva, e, como toda sanção, deve ser aplicada com cautela e
responsabilidade. Assim, não se poderia presumir fraude, abuso ou desvio de
finalidade, devendo a matéria ser deduzida expressamente, com a indicação
necessária e objetiva de “quais os atos praticados e as pessoas deles beneficiadas”
(art. 2.º, caput), explicitando que o “juiz somente poderá declarar a desconsideração
da personalidade jurídica ouvido o Ministério Público e nos casos expressamente
previstos em lei, sendo vedada a sua aplicação por analogia ou interpretação
extensiva” (art. 5.º, caput) (GAGLIANO; FILHO, 2014, p..293 e 294).
Tamanha era a problemática trazida pela previsão legal que, com a entrada em vigor
da Lei de Liberdade Econômica, Lei Federal n. 13.874, de 20 de setembro de 2.019, nova
redação foi introduzida ao Código Civil. A principal novidade consiste na necessidade de se
identificar quais são os sócios ou administradores que foram beneficiados diretamente ou
indiretamente com a prática do abuso para que a desconsideração seja direcionada ao
patrimônio destas.
Nessa nova redação, tem-se por objetivo claro do legislador em que seja agora
identificado não somente a existência das condições estabelecidas na redação original do
Código Civil – prova do desvio de finalidade ou da confusão patrimonial de forma a
demonstrar a existência de abuso da personalidade jurídica – como inclusivo a identificação
do beneficiamento direto ou indireto dos sócios ou administradores superando o entendimento
prevalecente até então na jurisprudência.
Destaca-se também a introdução dos esclarecimentos acerca do que se constitui o
desvio de finalidade e o que é a confusão patrimonial, bem como a possibilidade de se atingir
também o patrimônio de grupo econômico.
Assim já bem tem se manifestado os tribunais em obediência ao novo dispositivo,
como se observa na decisão do Superior Tribunal de Justiça:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma, com o elaborar deste trabalho, podemos observar que longo foi o
desenvolvimento jurídico acerca do tema Pessoa Jurídica e a Desconsideração.
A função principal do instituto é assegurar a diferenciação entre patrimônios a fim de
dar uma maior segurança jurídica aos envolvidos e assim incentivar o desenvolvimento
econômico e social.
Apesar de claros serem os objetivos perseguidos pelo instituto da Pessoa Jurídica, o
direito é uma ciência constante e pessoas mal-intencionadas, usando de meios ardis, puseram-
se a utilizar da pessoa jurídica em prol de objetivos ilícitos para os fins de lesar credores.
Diante de tais condições foi instituído a Desconsideração da Personalidade Jurídica,
instrumento jurídico que excepciona a condição de separação patrimonial para os fins de
ressarcir credores prejudicados por prática ilícita desencadeada pelos responsáveis pela pessoa
jurídica.
Tal mecanismo de contenção aos mal-intencionados foi instituído na redação original
do Código Civil, mas de forma não especificada, o que acabou por gerar enormes incertezas e
problemas em relação ao patrimônio a ser atingido. Assim, fez-se necessário que o legislador
interviesse alterando a redação do dispositivo constante do Código Civil com precisas
indicações voltadas a orientar o judiciário quando da aplicação.
As alterações já estão sendo observadas pelos aplicadores do direito e, atualmente,
não mais a ocorrência da desconsideração necessariamente ocasiona a responsabilidade de
todos os sócios, mas tão somente aqueles que tiveram atuado e/ou se beneficiado direta ou
indiretamente das condutas maliciosas realizadas acobertadas pela pessoa jurídica, o que está
a trazer maior certeza às relações jurídicas e, consequentemente, maior benefício a toda a
sociedade.
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