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A personalidade jurídica da sociedade tornou-se relevante à doutrina a partir do século

XVIII, e desde então, diversos doutrinadores passaram a elaborar teorias a seu respeito, com o
intuito de explicar e justificar a sua existência.
O Código Civil de 2002 adotou a teoria da realidade técnica, que, conforme ensina
Tartuce (2022, p. 143), “constitui uma somatória entre as outras duas teorias justificativas e
afirmativas da existência da pessoa jurídica: a teoria da ficção - de Savigny - e a teoria da
realidade orgânica ou objetiva - de Gierke e Zitelman”.
Para Savigny apud Santos (1963, p. 340), “a pessoa jurídica é um sujeito de direito
criado artificialmente”, pois somente o homem é titular de direitos, uma vez que apenas ele
possui existência real e psíquica, sendo a pessoa jurídica uma ficção, porque possui
capacidade limitada, criada a partir da vontade humana (VENOSA, 2013, p. 242).
De outro modo, para Gierke e Zitelman, as pessoas jurídicas nascem pela imposição
social e possuem vontades próprias, distintas das pessoas que lhe compõe, tendo como
objetivo, alcançar uma finalidade social (DINIZ, 2012, p. 254).
Nesse sentido, entende-se pela teoria da realidade técnica, que a pessoa jurídica carece
de corporalidade, mas jamais de realidade jurídica, até porque, é possuidora de direitos e
deveres.
Tem-se que a pessoa física pratica atos que alcançam interesses próprios, já a pessoa
jurídica, desempenha atividades de cunho social, recebendo da ordem jurídica direitos e
obrigações, bem como personalidade própria, distinta dos seus membros (BRASIL, 2002).
A legislação rege três tipos de pessoas jurídicas, as de direito público, interno ou
externo, e de direito privado (BRASIL, 2002), que, respectivamente, são pessoas jurídicas da
administração pública direta e indireta, pessoas regidas pelo direito internacional público, e,
por fim, as criadas por livre e espontânea vontade das pessoas naturais.
Quanto ao nascimento das pessoas jurídicas, podem ocorrer de duas maneiras, haja
vista que, a pessoa jurídica de direito público nasce exclusivamente em razão de fatos
históricos ou por meio da lei (DINIZ, 2012, p. 301).
De outro modo, a Pessoa Jurídica de Direito Privado é oriunda da vontade humana, e
deve, necessariamente, possuir fins lícitos, adquirindo personalidade jurídica a partir da
inscrição do ato constitutivo e seu posterior registro.
No que diz respeito ao ato constitutivo, deve-se observar se a Pessoa Jurídica de
Direito Privado terá ou não fins econômicos, pois, quando tiver, o ato constitutivo será o
Contrato Social, e quando não tiver, será o Estatuto Social.
Assim, salvo exceção, a Pessoa Jurídica de Direito Privado passará a existir quando
estiver registrada, sendo o Contrato Social na Junta de Comércio e o Estatuto Social no
Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas.
O artigo 49-A da Lei 13.874/2019 não trouxe nenhuma novidade, tão somente
reforçou que a pessoa jurídica, em regra, possui personalidade jurídica distinta da
personalidade dos seus membros, o que já era entendimento unânime na doutrina.
Para Schreiber, (2022, p. 49), “a alteração legislativa parece ter sido animada pelo
propósito de coibir o que seria um uso pouco criterioso da desconsideração da personalidade
jurídica pelos tribunais”.
Nesse caminho, o artigo 50 do Código Civil traz um gênero que se subdivide em duas
espécies de hipóteses da desconsideração da personalidade jurídica. O gênero que caracteriza
a possibilidade é o abuso de autoridade, e as espécies são o desvio de finalidade e/ou
confusão patrimonial.
Dessa forma, quando não estiver presente alguma das hipóteses acima mencionadas,
não há que se falar em aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, devendo,
portanto, ser mantida a sua autonomia, ainda que disso decorra prejuízos aos credores
(COELHO, 2019, p. 74).
Em relação ao término da personalidade jurídica da pessoa jurídica, sendo de Direito
Público, segundo Diniz (2012, p. 342), ocorre “pela ocorrência de fato histórico, por norma
constitucional, lei especial ou tratados internacionais”. Ou seja, acontece da mesma forma
como ocorre a sua criação.
Se tratando de pessoa jurídica de Direito Privado, o procedimento é diferente. A
dissolução da personalidade jurídica da sociedade empresária, subdivide-se em duas etapas, a
liquidação e partilha. Assim, a dissolução tem início com a vontade dos sócios, mas somente é
regular quando respeitadas as formalidades legais, que dizem respeito a liquidação e partilha.
Nesse sentido, segundo Coelho (2022, p. 432), “se os sócios não observaram as regras
estabelecidas para a regular terminação da pessoa jurídica, respondem pessoal e
ilimitadamente pelas obrigações sociais”.
Isso ocorre, pois, caso contrário, os empresários poderiam criar e extinguir as pessoas
jurídicas sem adimplir os seus débitos com facilidade, causando aos credores grande
insegurança jurídica.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 26 maio.
2023.

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: Direito de Empresa. 22. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019.

DINIZ, Maria Helema. Curso de Direito Brasileiro: 29.ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

TARCUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
SANTOS, João Manoel de Carvalho. Código Civil Brasileiro Interpretado: Introdução e Parte
Geral. 10. ed. São Paulo: Freitas Bastos, 1963.

SCHREIBER, Anderson et al. Código Civil Comentado: Doutrina e Jurisprudência. 4. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2022.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. 13. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2013.

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