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Resumo – Civil I (1º estágio)

PERSONALIDADE E PESSOA JURÍDICA (art. 40-52)

A pessoa jurídica é um ente, formado pela união de indivíduos ou não, a


que a lei empresta personalidade (pois não a possui de origem) e que
atuam na vida jurídica, com personalidade jurídica diversa da dos indivíduos
que as compõem. São, portanto, capazes de serem sujeitos de direitos e
obrigações na ordem civil.

Requisitos: organização de pessoas ou de bens; licitude dos propósitos ou


fins e capacidade jurídica reconhecida pela norma

Natureza jurídica → diversas teorias versam sobre a origem da natureza


jurídica desse tipo de pessoa, sendo algumas delas:

o Teoria da ficção legal (de Savigny) → teoria negativista → afirma que


a personalidade da PJ decorre de ficção da lei e tem uma existência
meramente intelectual, enquanto a personalidade da PN é real, pois
esta é criação da natureza, e por isso, na realidade, apenas a pessoa
humana seria capaz de direitos e obrigações
Crítica: se o Estado é uma ficção jurídica, também o é o direito que dele
emana
o Teoria da equiparação (Windscheid e Brinz) → coloca a PJ como um
patrimônio que tem seu tratamento jurídico equiparado ao das PN
Crítica: eleva os bens à categoria de sujeitos de direitos e reduz a PJ a
uma massa patrimonial
o Teoria da PJ como realidade objetiva (orgânica) (Gierke e Zitelmann) →
sustenta que, junto das pessoas naturais, há organismos sociais,
dotados de personalidade jurídica, que possuem uma existência e
vontade própria. Tratar-se-iam de realidades sociológicas.
Crítica: afirma que a PJ tem vontade própria, porém o fenômeno volitivo
é peculiar ao ser humano
o Teoria da PJ como realidade técnica1 → entende que a PJ é real, mas
dentro da realidade técnica, ou seja, por meio de uma realidade que é
diferente daquela das PN. A realidade técnica serviria para satisfazer
interesses humanos, e a sua existência real estaria provada por sua
titularidade de direitos
o Teoria institucionalista2 (Hariou) → tal teoria afirma que "uma instituição
preexiste ao momento em que a pessoa jurídica nasce". Para a Teoria
Institucionalista, a personalidade jurídica decorre do fato da PJ, a partir
do agrupamento de pessoas ou bens, se institucionalizar, como ente
organizado ao atendimento de fins sociais comuns. Assim, o

1
Reconhece-se a adoção desta teoria pelo novo Código Civil ao dispor sobre a tecnicidade
jurídica deste ente no art. 45
2
Para MHD, essa é a que melhor atende à essência da PJ
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ordenamento jurídico/o Estado confere personalidade à PJ em virtude


de seu caráter institucional, fundamentado no interesse social comum

Surgimento da pessoa jurídica → enquanto o surgimento da PN se dá por


um fato biológico, o da PJ acontece com um fato jurídico, revolução ou lei
(geralmente para as de Direito Público) ou com os atos de inscrição (Direito
Privado)

O registro – a inscrição do ato constitutivo ou do contrato social no registro


competente, seja na Junta Comercial, no caso de sociedade empresarial,
ou no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, para sociedades
civis, fundações e associações – é, geralmente, a condição principal para a
atribuição de personalidade à pessoa jurídica

A lei, porém, não ignora a pré-existência dessas pessoas, havendo, na


verdade, a distinção entre o plano de fato e o de direito. O próprio
ordenamento considera, por exemplo, as sociedades sem personalidade
jurídica (não personificadas)

O registro da PJ tem natureza constitutiva, por ser atributiva de sua


personalidade, e não apenas declaratória (como é o caso do registro civil de
nascimento da pessoa natural)

Classificação das PJ

Quanto à estrutura interna

- Universalidade de pessoas (universitas personarum) → compõem-se pela


união de pessoas; o elemento essencial é a pessoa humana. EX:
associações e sociedades

- Universalidade de bens (universitas bonorum) → constituem-se em torno


de um patrimônio, destinado a um fim; o elemento essencial é o patrimônio.
EX: fundação

Quanto à nacionalidade (diz respeito à ordem jurídica sob a qual foi


constituída, e não à origem dos seus integrantes ou do controle financeiro)

- Nacionais: organizadas conforme a lei brasileira, com sede e


administração aqui situadas. Podem ter capital estrangeiro.

- Estrangeiras: possuem sede em outro país. Só podem funcionar no


território nacional com autorização do Poder Executivo.

Quanto à órbita de atuação

- Direito Público externo: os Estados estrangeiros e todas as pessoas que


forem regidas pelo Direito Internacional Público (organizações
internacionais, a Santa Sé, etc.) (art. 42)
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- Direito Público interno: a União, os estados, o Distrito Federal, os


territórios, os municípios, as autarquias (inclusive as associações públicas e
demais entendidas de caráter público criadas por lei (art. 41)

As entidades de Direito Público interno têm sua disciplina normativa e


controle funcional previstos por normas de Direito Administrativo

- Direito Privado (art. 44): originalmente eram as associações, sociedades e


fundações. Posteriormente, acrescentou-se as organizações religiosas e os
partidos políticos3 e a empresa individual de responsabilidade limitada
(EIRELI)

As pessoas jurídicas de Direito Privado

Associações

- São entidades de Direito Privado, formadas pela união de indivíduos com


o propósito de realizar fins não econômicos

- O traço característica dessas associações civis é, então, sua finalidade


não econômica → podem realizar negócios e atividades que gerem lucro
para aumentar o seu patrimônio, manter suas atividades e pagar seu
quadro funcional, mas esse lucro não pode ser distribuído entre os
associados, deve ser revertido em benefício da própria associação

- O seu ato constitutivo (estatuto), então, não deve impor, entre os


associados, direitos e obrigações recíprocos

Sociedades

- São uma espécie de corporação, dotada de personalidade jurídica própria,


e instituída por meio de um contrato social (que é o ato constitutivo da
sociedade), com o intuito de exercer atividade economicamente organizada
que gere lucro

- As sociedades podem ser civis (simples) ou mercantis (empresárias): as


civis, apesar de procurarem proveito econômico, não praticam atividade
econômica organizada, com elemento de empresa/empresarialidade, coisa
que as sociedades empresárias sim fazem

- A sociedade empresária vem a ser a pessoa jurídica que exerça atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços, com registro na Junta Comercial e sujeita à legislação falimentar

- Já na sociedade simples, cujo registro deve ser feito no CRPJ (Cartório de


Registro de Pessoas Jurídicas), acentua-se a marca da pessoalidade
3
Pablo Stolze considera isso um erro conceitual, pelo fato desses dois poderem ser
perfeitamente enquadrados no conceito jurídico de associação; o acréscimo não tem
qualquer fundamento técnico-jurídico
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(ausente na sociedade empresária), na medida em que a atuação pessoal


de cada sócio importa para o exercício da própria atividade desenvolvida,
como se dá em uma sociedade de médicos ou de advogados. Por isso, em
geral, as sociedades simples são prestadoras de serviços

Fundações

- São as entidades de Direito Privado que resultam não da união de


indivíduos, mas da afetação de um patrimônio, por testamento ou escritura
pública, que faz o seu instituidor, especificando o fim para o qual se destina

- Possíveis fins de uma fundação → art. 62 → não compreende a entidade


supostamente fundacional que pratica atividade econômica com intuito
lucrativo

- Para a criação de uma fundação, o instituidor deve necessariamente


destacar uma parcela de seu patrimônio e atribuir-lhes determinada
finalidade não econômica (bem como a maneira de administra-los) →
realiza-se uma dotação → a dotação patrimonial realiza-se por escritura
pública ou testamento

- Instituição da fundação pode se dar de forma direta, quando o próprio


instituidor o faz, pessoalmente, cuidando até da elaboração dos estatutos,
ou fiduciária, quando confia a organização da entidade a um terceiro

- A extinção da fundação ocorrerá se ela for ilícita, impossível, inútil ou tiver


o prazo de sua existência decorrido

Organizações religiosas

- Juridicamente, podem ser consideradas organizações religiosas todas as


entidades de Direito Privado, formadas pela união de indivíduos com o
propósito de culto a determinada força ou forças sobrenaturais, por meio de
doutrina e ritual próprios, envolvendo, em geral, preceitos éticos

Partidos Políticos

- Segundo MHD, os partidos políticos são:

“Entidades integradas por pessoas com ideias comuns, tendo por


finalidade conquistar o poder para a consecução de um programa.
São associações civis, que visam assegurar, no interesse do regime
democrático, a autenticidade do sistema representativo e defender os
direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. Adquirem
personalidade jurídica com o registro de seus estatutos mediante
requerimento ao cartório competente do Registro Civil das pessoas
jurídicas da capital federal e ao Tribunal Superior Eleitoral. ”

EIRELI
Resumo – Civil I (1º estágio)

Desconsideração da personalidade jurídica

Contexto histórico → A doutrina da desconsideração (disregard doctrine) é


fruto de construção jurisprudencial, notadamente a jurisprudência inglesa e
norte-americana. Com efeito, a doutrina comercialista aponta que o caso
pioneiro acerca da teoria da desconsideração da personalidade jurídica
ocorreu na Inglaterra, em 1897. Trata-se do caso Salomon versus Salomon
& Co. Ltd.

No caso em referência, a sentença de 1.º grau entendeu pela possibilidade


de desconsideração da personalidade jurídica da Salomon & Co. Ltd., após
reconhecer que Mr. Salomon tinha, na verdade, o total controle societário
sobre a sociedade, não se justificando a separação patrimonial entre ele e a
pessoa jurídica. Essa decisão é considerada, pois, a grande precursora
da teoria da desconsideração, não obstante tenha sido posteriormente
reformada pela Casa dos Lords, a qual entendeu pela impossibilidade de
desconsideração, fazendo prevalecer a separação entre os patrimônios de
Mr. Salomon e de sua sociedade e, consequentemente, a sua
irresponsabilidade pessoal pelas dívidas sociais

Extinção da pessoa jurídica

A dissolução da pessoa jurídica de Direito Privado pode se dar de três


modos:

1) Convencional: quando é deliberada pelos próprios integrantes da PJ,


respeitando o estatuto ou o contrato social
2) Administrativa4: quando a autorização de funcionamento da PJ, exigida
para determinadas sociedades se constituírem e funcionarem, é
cassada
3) Judicial: o juiz, a partir da iniciativa de qualquer um dos sócios,
determina a extinção da PJ, observada alguma das hipóteses de
dissolução previstas em lei

Art. 1033 → causas de dissolução das sociedades

FASES: dissolução e liquidação; após a liquidação, promove-se o


cancelamento da inscrição da PJ

Entes despersonalizados

- São entes que se formam independentemente da vontade dos seus


membros ou em virtude um ato jurídico que vincula as pessoas naturais em
torno de bens que lhe suscitam interesses, sem lhes traduzir affectio
societatis

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Art. 51 → a PJ subsiste para fins de liquidação, até que esta se conclua
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- Exemplos

1) Família
2) Massa falida: o acervo de bens do falido. Surge após a sentença
declaratória de falência, acarretando para o devedor a perda do direito à
administração e à disposição dos bens
3) Espólio: é o conjunto de direitos e obrigações da pessoa falecida
4) Herança jacente: é quando, não havendo testamento, o falecido não tiver
deixado herdeiros sucessíveis ou estes renunciarem à herança. É
representada pelo curador
5) Herança vacante: são declarados vacantes os bens da herança jacente
se, praticados todos os rituais legais, não aparecerem herdeiros 1 ano após
a primeira publicação dos editais
6) Sociedades não personificadas (irregulares ou de fato)

7) Condomínio: é a titularidade coletiva acerca de um bem; pode ser geral


(quando é acerca de todo o bem) ou edilício (há partes que são de
propriedade exclusiva e partes de propriedade comum)

Existe divergência doutrinária quanto a se o condomínio constitui pessoa


jurídica ou ente despersonalizado; de modo geral, o condomínio é tratado
como ente despersonalizado, apesar de possuir CNPJ, poder contratar
empregados, etc.
→ para MHD, o condomínio é sim PJ, pois, além de existir affectio
societatis, pode contrair bens, etc.
→ por outro lado, Sílvio Venosa aponta que “quem adquire um apartamento
não está buscando algum relacionamento com os coproprietários. Esse
relacionamento decorre de situação fática e não de uma situação jurídica”.

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