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Apontamentos n° 07

DAS PESSOAS JURÍDICAS

CONCEITO: São entidades a que a lei empresta personalidade, capacitando-


as a serem sujeitos de direitos e obrigações. Atuam na vida jurídica como
personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem. A pessoa jurídica é
a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à consecução de
certos fins, reconhecidos pela ordem jurídica como sujeito de direito e
obrigações.

Para Maria Helena Diniz são seus requisitos: organização de pessoas e bens,
liceidade de propósitos ou fins e, capacidade reconhecida por norma.

É instrumento a serviço da pessoa natural; é um agrupamento humano que


recebe personalidade jurídica por força de lei. Tem capacidade para praticar
atos da vida civil (atos com expressão patrimonial - titular de direitos de
conteúdo patrimonial).

Consiste num conjunto de pessoas ou de bens, dotado de personalidade


jurídica própria e constituído na forma da lei, para consecução de fins comuns.

NATUREZA JURÍDICA :

a) teoria da ficção: enquanto a pessoa natural é uma criação da natureza e


não do direito, personalidade jurídica existe somente por determinação da lei;
é obra do direito positivo restringindo seu âmbito de ação apenas as relações
patrimoniais. A pessoa jurídica constitui uma criação artificial da lei (Savigny)

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ou dos juristas. Não foi admitida pelo direito tendo em vista ser o Estado uma
pessoa jurídica de direito público (considera ficção o que é uma configuração
técnica, que possui realidade jurídica).

b) teoria da realidade: à vontade, pública ou privada, é capaz de criar e dar


vida a um organismo que passa a ter existência própria, distinta da de seus
membros, tornando-se um sujeito de direito com existência real e verdadeira.

c) teoria objetiva ou orgânica - Pontes de Miranda - a pessoa jurídica é uma


realidade sociológica, ser com vida própria (longe de ser mera ficção), que
nasce por imposição das forças sociais. Crítica: grupos sociais não têm vida
própria, personalidade, que é característica do ser humano.

d) teoria jurídica ou institucionalista: Pessoa jurídica é um instituto do


direito, é abstrato. Pessoa jurídica é organização social destinada a uma
serviço ou ofício, e por isso personificada. Crítica: nada esclarece sobre as
sociedades que se organizam sem a finalidade de prestar um serviço ou de
preencher um ofício.
Uma instituição preexiste ao momento em que a pessoa jurídica nasce –
quando a instituição alcança certo grau de concentração e de organização,
torna-se automaticamente Pessoa Jurídica.

e) teoria da realidade técnica : pessoas jurídicas são reais, porém dentro de


uma realidade que não se equipara à das pessoas naturais. Estas se reúnem e
o direito reconhece e protege os interesses e a atuação do grupo social. Para
ela só o homem é passível de direitos e obrigações e a personalidade jurídica
da Pessoa Jurídica deriva de uma criação técnica jurídica. A personalização
dos grupos sociais é expediente de ordem técnica, a forma encontrada pelo
direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos que se unem na
busca de fins determinados.

A personalidade jurídica é, portanto, um atributo que o Estado defere a certas


entidades havidas como merecedoras dessa benesse.

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O CC, art. 45, estabelece que o começo da existência legal da pessoa jurídica
ocorre com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro – teoria da
realidade técnica - porque a lei assim o diz. É a que melhor explica o fenômeno
pelo qual um grupo de pessoas, com objetivos comuns, pode ter personalidade
própria, que não se confunde com a de cada um de seus membros e, portanto,
a que melhor segurança oferece.

CAPACIDADE

Está ligada à realização de atos de conteúdo material. É distinta da pessoa


natural, tanto que a pessoa jurídica tem capacidade apenas para praticar atos
conforme sua finalidade. Só pratica habitualmente atos conforme sua finalidade
social, podendo até praticar outros, desde que sejam para viabilizar a
finalidade da Pessoa Jurídica.

A pessoa natural fala por si; já a pessoa jurídica como é ideal, moral em um
mecanismo de manifestação da vontade; fala por intermédio de seus
representantes, ou seja, quem seus próprios estatutos indiquem como órgão
técnico de representação.

A capacidade da pessoa jurídica decorre logicamente da personalidade que a


ordem jurídica lhe reconhece por ocasião de seu registro.

Essa capacidade estende-se a todos os campos do direito. Tem direito a


identificação, sendo dotada de uma denominação, de um domicilio e de uma
nacionalidade.

Tem direito à personalidade ( nome, imagem, marca, privacidade, honra


objetiva, credibilidade social, segredo clientela, etc). Tem direito a norma
jurídica mesmo no campo patrimonial, em virtude de razões de segurança
pública. Portanto, a pessoa jurídica tem capacidade para exercer todos os
direitos compatíveis com a natureza especial de sua personalidade.

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REQUISITOS PARA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

As pessoas jurídicas de direito público iniciam-se em razão de fatos históricos,


de criação constitucional, de lei especial e de tratados internacionais, se se
tratar de pessoa jurídica de direito público externo.

As pessoas jurídicas de direito privado é diferente. Tem origem na vontade


humana, sem necessidade de qualquer ato administrativo de concessão ou
autorização, salvo nos casos especiais do CC. Depende de ato constitutivo
que deve ser escrito e registro público.

A formação da pessoa jurídica exige uma pluralidade de pessoas ou de bens e


uma finalidade específica ( elementos de ordem material), bem como um ato
constitutivo e respectivo registro no órgão competente ( elemento formal).
1- Vontade humana criadora ( affectio societatis)
2- Bens
3- Ato constitutivo ( contrato, contrato social, testamento)
4- Registro e,
5- Liceidade de seu objeto que é indispensável para a formação da pessoa
jurídica.

A declaração de vontade pode revestir-se de forma pública ou particular. Os


direitos e deveres das pessoas jurídicas decorrem dos atos de seus diretores
no âmbito dos poderes que lhes são concedidos no ato constitutivo ( art. 47
CC).

SOCIEDADE IRREGULAR OU DE FATO


Sem o registro de seu ato constitutivo a pessoa jurídica será considerada
irregular, mera associação ou sociedade de fato, sem personalidade jurídica,
ou seja, mera relação contratual disciplinada pelo estatuto ou contrato social.

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Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, apenas poderão provar a
existência da sociedade por escrito, mas aos terceiros será permitida a
utilização de qualquer meio de prova ( CC, art. 987).

É competente para a ação em que for ré sociedade ou associação sem


personalidade jurídica o foro do lugar onde exerce suas atividades (CPC, art
53, III, c).

GRUPOS DESPERSONALIZADOS

São entidades que se formam independentemente da vontade dos seus


membros ou em virtude de um ato jurídico que os vincule a determinados
bens, sem que haja a affectio societatis.

São eles:
1- A família- Cada componente da família, por não haver representação
processual, responde por suas dívidas e por seus atos ou por meio de
representante legal, se incapaz.
2- A massa falida – é uma instituição, criada por lei, para exercer os direitos do
falido e para agir contra ele.
3- As heranças jacente e vacante
4- O espólio - é o conjunto de direitos e obrigações do de cujus, ou seja, uma
simples massa patrimonial deixada pelo autor da herança, podendo
compreender bens imóveis, moveis e semoventes, dinheiro, joias, títulos da
dívida pública, direitos e ações.
5- As associações e sociedades sem personalidade jurídica ( sociedade de
fato ou irregular
6- O condomínio – propriedade comum ou compropriedade de qualquer bem.

CLASSIFICAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

a) quanto à nacionalidade: nacional ou estrangeira;

b) quanto à estrutura interna: corporações, associações, sociedades e


fundações.
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c) quanto às funções ou capacidade ou órbita de sua atuação, as pessoas
jurídicas dividem-se em: de Direito Público e de direito Privado .

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO

A pessoa jurídica de direito público divide-se em público interno e externo.


São Pessoas de Direito Público externo os Estados da Comunidade
Internacional (Nações, Santa Sé, UNESCO, ONU, OEA) .

As pessoas jurídicas de direito Público interno classificam em : da


administração direta ( União, Estados, Distrito Federal, Territórios e
Municípios) e da administração indireta ( autarquias, fundações públicas e
demais entidades de caráter público criados por lei. São órgãos
descentralizados, criados por lei, com personalidade própria para o exercício
de atividade de interesse público. Autarquias: INSS, INCRA. INPI, USP, CVM
JUCESP entre outros. Fundações Públicas: FUNARTE, FUNASA. Etc;
Agências reguladoras: ANATEL; ANVISA, ANS;

As agências executivas tem natureza especial e são autarquias ou fundações


públicas dotadas de regime especial, qualificadas como tais pelo Poder
Executivo, desde que cumpriam os seguintes requisitos: a) ter um plano
estratégico de restruturação e desenvolvimento institucional em andamento; b)
ter celebrado contrato de gestão com o respectivo Ministério superior.

Tem personalidade jurídica de direito privado os serviços sociais autônomos


que são entes de cooperação estatal, como, por ex., SESC E SESI.

“ Art. 41 do CC. São pessoas jurídicas de direito público interno:


I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada
pela Lei nº 11.107, de 2005)

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V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros
e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público (art. 42)

As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente


responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a
terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se
houver, por parte destes, culpa ou dolo art. 43)”.

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO

São Pessoas jurídicas de direito privado:

Art. 44. Do CC
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de
22.12.2003)
V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído
pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência)
§ 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público
negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao
seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se
subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial
deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o
disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)

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AS ASSOCIAÇÕES

São pessoas jurídicas de direito privado constituídas de pessoas que reúnem


os seus esforços para a realização de fins não econômicos (art. 53, CC) .
Constituem, uma universitas personarum, ou seja, um conjunto de pessoas
que colimam fins ou interesses não econômicos, que podem ser alterado, pois
seus membros deliberam livremente, já que seus órgãos são dirigentes. Tem-
se a associação quando não há fim lucrativo ou intenção de dividir o resultado,
embora tenha patrimônio, formado por contribuição de seus membros para a
obtenção de fins culturais, educacionais, esportivos, religiosos, beneficentes,
recreativos, morais, entre outros.

Não há, entre os membros da associação, direitos e obrigações recíprocas,


nem intenção de dividir resultado, sendo seus objetivos altruístico, científicos,
artísticos, beneficentes, religiosos, cultuarias, esportivos ou recreativos
(AFPESP, ADPESP, ABM). NÃO VISAM LUCRO.

É vedada a associação para:

1- Fins ilícitos

2- Societas criminis

3- Associação política paramilitar.

Nasce com o assento de seu estatuto, em forma pública ou particular, no


registro competente, desse que satisfeitos os requisitos legais, tendo ela
objetivo lícito e estatuto regularmente organizada.

Nas relações entre associação e associados há deveres e direitos, oriundos do


estatuto social, cuja natureza é a de ato coletivo. Há liame obrigacional entre
associação e terceiro em razão de atos negociais, como locação de prédio para
sua sede, aquisição de materiais, etc.

Alguns exemplos de associações:

1- Associações pias, beneficentes ou filantrópicas;

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2- Associações de assistência social

3- Associações de utilidade pública

4- Associações espiritualistas ou espíritas

5- Associações estudantis

6- Associações culturais

7- Associações de profissionais liberais

8- Associações desportivas

9- Associações recreativas ou sodalícias

10- Associações para garimpagem

11- Associações para amigos de bairro

12- Associações de agentes de saúde entre outras tantas

Criação da Associação:

1- Estruturação do grupo social baseada em norma estatutárias

2- Obtenção de um interesse especial de utilidade geral

3- Exigência de uma regulamentação uniforme e severa

4- Natureza ( bairro, lazer, cultura, etc)

5- Pagamento inicial de um quantum pelos associados

6- Inexistência entre os associais de direitos e deveres recíprocos

7- Abstenção de fins ilícitos

8- Invulnerabilidade de direitos individuais especiais

9- Funcionamento por meio de diretoria

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10- Manutenção de quota social à finalidade associativa

11- Ausência de repartição de lucros

12- Intransmissibilidade da qualidade, sem aquiescência da associação

13- Vinculação dos dissidentes as decisões tomadas pela maioria

14- Imposição de sanções disciplinares

15- Permissão do associado de se retirar a qualquer tempo

16- Continuidade da existência da associação, mesmo com grande retirada


de sócios

17- Impossibilidade de partilha de bens entre os sócios

18- Equiparação da associação que admitir trabalhador como empregados a


empregador as normas trabalhistas

19- Impetração de mandado de segurança coletivo em favor dos interesses


de seus membros

20- Legitimidade para mover ação de responsabilidade civil por dano


causado ao patrimônio artístico ou cultural.

AS SOCIEDADES

Estão unificadas ( civis e comerciais ) no Livro II do CC (direito de empresa) .


Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, dos resultados.

AS FUNDAÇOES

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As fundações constituem um acervo de bens que recebe personalidade jurídica
para a realização de fins determinados, de interesse público, de modo
permanente e estável (art. 62, do CC) . As fundações podem ser públicas ou
particular. (FGV, PUCSP, UNIVEM, UNIFEB, FUNDAÇÃO AYRTON SENNA,
FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO, entre outras ).

As fundações particulares, que são universalidade de bens, personalizadas


pela ordem jurídica, em consideração a um estipulado pelo fundador, sendo
este objetivo imutável e seus órgãos servientes, pois todas as resoluções estão
delimitadas pelo instituidor ( ex., PUCSP).

A fundação compõe-se de dois elementos: o patrimônio e o fim. Este é


estabelecido pelo instituidor e não pode ter lucrativo, mas social de interesse
público. Para que a fundação adquira personalidade jurídica é preciso:
dotação, elaboração e aprovação dos estatutos e registros.

O órgão legítimo para velar pela fundação, impedindo que se desvirtue a


finalidade específica a que se destina, é o Ministério Público do Estado onde
estiver situada, que deverá aprovar seus estatutos e suas eventuais alterações
ou reformas, zelando pela boa administração da entidade jurídica e de seus
bens.

O direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por


defeito do ato, pode ser exercido dentro do prazo decadencial de 3 anos,
contado da publicação e sua inscrição no registro, ou a partir do registro, nas
hipóteses em que a publicação não for exigida.

Verifica-se que da conjugação das duas fases, volitiva e administrativa, é que


resulta a aquisição da personalidade da pessoa jurídica.

A constituição da fundação se desdobra em quatro fases:

1- Do ato de dotação ( inter vivos ou causa mortis);

2- Elaboração do estatuto que pode ser direta ou própria ( próprio


instituidor) ou fiduciária ( testamento)

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3- Aprovação do Estatuto ( participação do MP que é encarregado de zelar
pelas fundações )

4- Do registro que se faz no Registro Civil das Pessoas Jurídicas ( CC, art.
1150; LRP, art. 114, I)

Sua extinção se dá com base no art. 62 do CC.

ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS

Aplicam-se as organizações religiosas, como pessoas jurídicas de direito


privado, as normas referentes às associações, mas apenas naquilo em que
houver compatibilidade.

PARTIDOS POLÍTICOS

Quanto aos partidos políticos, têm eles natureza própria. Seus fins são
políticos, não se caracterizando pelo fim econômico ou não. Não podem ser
associações ou sociedades, nem fundações, porque não tem fim cultural,
assistencial, moral ou religioso.

EMPRESAS INDIVIDUAIS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA (EIRELI)

Constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social,


devidamente integralizado, não inferior a 100 vezes o maior salário mínimo
vigente no Brasil, com isso os credores ficarão resguardados, pois terão maior
segurança, já que esse capital responderá pelas atividades empresarias. São
regidas no que couber pelas normas atinentes à sociedade limitada. O seu
nome empresarial deverá ser formado pela inclusão do termo EIRELI após a
firma ou denominação social.

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RESPONSABILIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS

No tocante à responsabilidade contratual, as Pessoas Jurídicas em geral,


desde que se tornem inadimplentes, respondem por perdas e danos (CC, art.
389). No extracontratual, as pessoas jurídicas de direito privado respondem
pelos atos de seus prepostos e empregados, tenha ou não fins lucrativos (CC,
art, 186 e 932, III).

Ainda, no campo da responsabilidade extracontratual é princípio assente que


as pessoas jurídicas de direito privado devem reparar o dano causado pelo seu
representante que procedeu contra o direito, alargando-se assim, o conceito de
responsabilidade indireta.

RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO:

1ª fase: Irresponsabilidade do Estado — Idade Média – The King do not


wrong – dano causado por funcionário público, só ele respondia (no Brasil
terminou com o CC 1916).
2ª fase: civilista – art. 15 do CC/16 — responsabilidade do Estado passou a
ser subjetiva – vítima deveria provar dolo ou culpa do funcionário e o Estado
tinha ação regressiva.
3ª fase: publicista – CF de 1946—responsabilidade foi tratada pela CF e
passou a ser objetiva, na modalidade do risco administrativo - não do risco
integral - (muito rígida mas para alguns autores é adotada pelo ordenamento
para fins de responsabilização do Estado, decorrente de atividades nucleares
por este praticado em razão de notória periculosidade) em que o Estado
responde em qualquer circunstância - mesmo em caso de caso fortuito ou força
maior, onde o Estado pode afastar totalmente sua responsabilidade se provar
culpa exclusiva da vítima ou ocorrência de caso fortuito ou força maior
( presunção relativa de culpa mas cabe ao Estado provar o contrário).

A CF/88, art. 37 § § 6º e 7º , trouxe algumas inovações:

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)

[...]
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocupante de cargo ou


emprego da administração direta e indireta que possibilite o acesso a
informações privilegiadas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)

a) substituiu a palavra funcionário por agente (mais amplo);

b) estendeu a responsabilidade objetiva às Pessoas Jurídicas de Direito


Privado Prestadoras de Serviço Público (concessionárias e permissionárias).

O par. 7º do art. 37 permite que o Estado mova ação regressiva contra o


funcionário se houver culpa deste e neste caso a responsabilidade do
funcionário é subjetiva (depende de prova, pelo Estado, de culpa na atuação do
funcionário).

Embora alguns autores entendessem que a ação só pode ser movida contra a
Pessoa Jurídica e não contra o funcionário, o STF já decidiu que as ações
fundadas na responsabilidade objetiva só podem ser ajuizadas contra a Pessoa
Jurídica, mas se o autor se dispõe a provar a culpa ou dolo do servidor, poderá
movê-la diretamente contra este. Agora se preferir mover contra ambos terá
que arcar com o ônus de descrever a modalidade de culpa do servidor e provar
a sua existência.

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“ O Superior Tribunal de Justiça tem proclamado se possível, por expressa
disposição legal e constitucional, a denunciação da lide ao funcionário, mesmo
que o Estado, na contestação, alegue culpa exclusiva da vítima, sendo defeso
ao juiz condicioná-la à confissão de culpa do denunciante”.

Cabe ação contra o Estado mesmo quando não se identifique o funcionário


causador do dano (omissão administrativa — enchentes em SP) embora
Bandeira de Mello entenda que o Estado responde de forma objetiva nos casos
de ação (mas a jurisprudência não faz distinção). Essa responsabilidade
também é chamada de “ culpa anônima”.

Na verdade, três são as correntes que fundamentam a responsabilidade civil do


estado:
1- Culpa administrativa
2- Do acidente administrativo ou da falta impessoal do serviço público e,
3- Risco integral, pela qual cabe indenização estatal de todos os danos
causados, por comportamentos comissivos dos funcionários, a direitos
de particulares. Trata-se da responsabilidade objetiva do Estado,
bastando a comprovação da existência do prejuízo.

O CC (art.43) e o texto constitucional adotam a responsabilidade objetiva, sob


a modalidade do risco administrativo, segundo a qual basta, para que o Estado
responda civilmente, que haja dano, nexo causal com o ato comissivo do
funcionário e que este se ache em serviço no momento do evento prejudicial ao
direito de particular.

As pessoas jurídicas poderão responder ainda administrativa e penalmente, no


caso em que a atividade lesiva ao meio ambiente sejam cometidas por meio de
seus representante legais ou contratuais.

O art. 50 do CC e os arts. 133 a 137 do CPC também possibilitam a


desconsideração da personalidade jurídica para confisco de bens de sócios
que utilizarem para praticar fraudes, promover desvios de patrimônio e de
finalidade social .

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Erro Judiciário:
Art. 5º LXXV da CF/88: o Estado indenizará o condenado por erro judiciário,
assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

Impondo o Estado a obrigação de indenizar aquele que fica preso além do


tempo fixado na sentença, estará implicitamente também assegurado ao
sentenciado o direito de ser indenizado em virtude de prisão sem sentença
condenatória.

EXTINÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS

As pessoas jurídicas nascem, desenvolvem-se, modificam-se e


extinguem-se.
O começo se dá com o registro, mas o termino pode ocorrer por várias causas
ou razões:
a) Convencional ou deliberação de seus membros - por deliberação de
seus membros, conforme quorum previsto nos estatutos ou na lei;
b) Pelo decurso do prazo de sua duração;
c) Legal — em razão de motivo determinante na lei ou quando se der
qualquer uma das extintivas previstas normativamente
d) Administrativa — Pessoas Jurídicas dependem de aprovação ou
autorização do Poder Público e praticam atos nocivos ou contrários aos seus
fins. Pode haver provocação de qualquer do provo ou do MP;
e) Natural — resulta da morte de seus membros, se não ficou estabelecido
que prosseguisse com os herdeiros;
f) Judicial — quando se configura algum dos casos de dissolução
previstos em lei ou no estatuto e a sociedade continua a existir, obrigando um
dos sócios a ingressar em juízo.
g) Pela dissolução judicial – (anulação da constituição ou exaurido o seu
fim)

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h) Por ato governamental – que lhe casse a autorização de
funcionamento, por motivos de desobediência a ordem pública, por erem
inconveniente ao interesse geral, pela ilicitude, entre outros motivos.

DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

Origem no direito anglo-saxão, como disregard of the legal entily como forma
de coibir abusos praticados em nome da pessoa jurídica.

Permite tal teoria que o juiz, em casos de fraude e de má-fé, desconsidere o


principio de que as pessoas jurídicas tem existência distinta da dos seus
membros e os efeitos dessa autonomia, para atingir e vincular os bens
particulares dos sócios à satisfação das dívidas da sociedade, erguendo-se o
véu da personalidade jurídica.

A doutrina da desconsideração da personalidade jurídica visa impedir a


fraude contra credores, levantando o véu corporativo, desconsiderando a
personalidade jurídica num dado caso concreto, ou seja, declarando a
ineficácia especial da personalidade jurídica para determinados efeitos,
portanto, para outros fins permanecerá incólume.

A disregard doctrine visa atingir o detentor do comando efetivo da empresa, ou


seja, o acionista controlador e não os diretores assalariados ou empregados,
não participantes do controle acionário.

Cabimento:

1- Coibir o abuso da pessoa jurídica;

2- Coibir o abuso que o sócio pratica em nome da pessoa jurídica;

3- Afastar a separação patrimonial entre pessoa jurídica e pessoa natural do


sócio, quando este abusa da pessoa jurídica em proveito próprio.

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O Código Civil tratou desta matéria no art. 50 – abuso da personalidade jurídica
caracterizado pelo desvio de finalidade (desvio do objeto a que foi criada) ou
pela confusão patrimonial (sócios querem esconder que são seus através da
pessoa jurídica - atrás do biombo que separa a personalidade jurídica dele da
personalidade da Pessoa Jurídica. Cria-se dificuldade de saber de quem é o
bem).

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores
ou sócios da pessoa jurídica”.

Duas Teorias a respeito da desconsideração da personalidade jurídica :


a) Teoria maior: que prestigia a contribuição doutrinária e em que a
comprovação da fraude e dos abusos por parte dos sócios constituiu requisito
para que o juiz possa ignorar a autônoma patrimonial das pessoas jurídicas;
b) Teoria menor: que considera o simples prejuízo do credor motivo suficiente
para desconsideração.

Tem os tribunais determinado a desconsideração da personalidade jurídica


nos casos em que a promiscuidade patrimonial é demonstrada, autorizando a
penhora de bens dos sócios, pois se trata de eloquente indicativo de fraude.

Efetivamente, a desconsideração da pessoa jurídica exige comprovação de


fraude, abuso de direito, desvio de finalidade ou confusão patrimonial para que
se aplique a mencionada teoria, não podendo aceitar como tal a mera
insolvência da pessoa jurídica ou dissolução irregular da empresa. Nas
relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de

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desconsideração da personalidade jurídica previstos no aet. 50 ( Enunciados
146 da II Jornada de Direito Civil do CNJ).

Obs importante: o Novo Código de Processo Civil ( arts. 134 e 135 )


dispõe:

DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
intervir no processo.

§ 1o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os


pressupostos previstos em lei.

§ 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração


inversa da personalidade jurídica.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do


processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução
fundada em título executivo extrajudicial.

§ 1o A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao


distribuidor para as anotações devidas.

§ 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da


personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será
citado o sócio ou a pessoa jurídica.

§ 3o A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese


do § 2o.

§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos


legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado


para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido


por decisão interlocutória.

Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo


interno.

Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a


oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao
requerente.

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CONSEQUÊNCIAS

“A desconsideração da personalidade jurídica alcança os grupos de sociedade


quando presentes os pressupostos do art. 50 do CC e houver prejuízo para os
credores até o limite transferido entre as sociedades”. Enunciado nº 408 do
CJF, aprovado na V Jornada de Direito Civil.

Os efeitos de determinadas relações de obrigações são estendidos aos bens


particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Trata-se da ineficácia relativa da personalidade jurídica da pessoa jurídica, uma


vez que o juiz aplica a desconsideração no caso concreto (apenas naquele
caso concreto atinge os bens dos sócios desconsiderando a personalidade
jurídica) e não haverá extinção da pessoa jurídica ou interferência na sua
administração. Não tem por finalidade retirar a personalidade jurídica, mas tão
somente desconsiderá-la.

A aplicação da teoria da desconsideração não importa dissolução ou anulação


da sociedade.

No Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) a teoria da


desconsideração foi tratava pela primeira vez no artigo 28 e seus parágrafos e
cabe desconsideração sempre que houver:
1- Abuso de direito, desvio ou excesso de poder, lesando consumidor;
2- Infração legal ou estatutária, por ação ou omissão, em detrimento do
consumidor;
3- Falência, insolvência, encerramento ou inatividade, em razão de má
administração;
4- Obstáculo ao ressarcimento dos danos que causar aos consumidores
pelo simples fato de ser pessoa jurídica, desde que a sanção qe lhe for

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aplicável não seja de cunho pecuniário ( suspensão temporária de
atividade).

DESCONSIDERAÇÃO INVERSA

Art. 133, § 2 do CPC: Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de


desconsideração inversa da personalidade jurídica.
Caracteriza-se a desconsideração inversa quando é afastado o princípio
da autônoma patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade
por obrigação do sócio, como, por exemplo, na hipótese de um dos cônjuges,
ao adquirir bens de maior valor, registrá-los em nome de pessoa jurídica sob
seu controle, para livrá-los da partilha a ser realizada nos autos de divórcio. Ao
se desconsiderar a autonomia patrimonial, será possível responsabilizar a
pessoa jurídica pelo devido ao ex cônjuge do sócio. Exemplos também
acontecem , quando o pai quer beneficiar um filho em detrimento do outro,
escondendo bens em pessoa jurídica, bem como pagamento de pensão
alimentícia devido ao filho. Desconsiderar inversamente é colocar um freio às
fraudes e abusos promovidos sob o véu protetivo da pessoa jurídica.

A desconsideração e o novo CPC/2015.

Com o CPC/2015 há a processualização da desconsideração, que passou a


ser tida como uma nova modalidade de intervenção forçada de terceiro, pois
pessoa alheia ao processo ( sócio ou sociedade) será citada e fará parte dele,
até que o incidente seja resolvido. É uma espécie de incidente do processo,
sendo, portanto, um processo novo, que surge de um já existente, nele se
incorporando. Se não for instaurado durante o processo de conhecimento,
poderá ser postulada na fase de cumprimento da sentença. Pode ser pedido
pela parte ou pelo MP.

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O Código de Processo Civil, no art. 133, §§ 1º e 2º diz que o pedido pode ser
feito pela parte ou pelo MP, onde couber intervir. Em qualquer fase do
processo e provoca sua suspensão ( art. 134 e 134, § 4º do CPC).

Aplica-se também, ao processo de competência dos juizados especiais, se


valor da causa for pequeno. ( CPC, art. 1602).

Em caso de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução


verifica-se a partir da citação da parte cuja personalidade se desconsiderou
(CPC, art. 792, § 3º).

A tutela provisória de urgência poderá ser aplicada ao incidente se presentes


os requisitos dos arts. 300 a 311 do CPC/2015 para que sejam concedidos os
efeitos da antecipação da desconsideração.

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