Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Compropriedade
Por vezes, a intervenção e atuação plural de várias pessoas, em torno de interesses comuns, é
juridicamente configurada como comunhão.
A posição de várias pessoas em relação ao bem não é necessariamente igual, embora o seja
em princípio (art. 1403º e ss do CC). Pode divergir a nível quantitativo e qualitativo, mas tem
como polo dominante o aproveitamento comum da utilidade daquele bem de que são
contitulares.
1404º CC → compropriedade
Enquanto que nas estruturas contratuais as situações jurídicas se polarizam sobre as partes,
aqui é sobre o bom que é comum, com o qual todos os titulares se relacionam. A comunhão é
uma estrutura jurídica muito mais densa do que a contratual.
- o comproprietário tem direito a uma quota do bem, mas essa quota não corresponde a uma
parte determinada dele;
- podem transmitir as suas quotas, em princípio livremente, embora com preferência dos
outros na aquisição;
- divisibilidade pode ser limitada convencionalmente por períodos não superiores a 5 anos,
que podem ser renovados;
Comunhão germânica (mão comum) → o fim a prosseguir deixa de se centrar sobre o próprio
bem e sobre o simples aproveitamento de toda a utilidade que este permitir; fim separado do
bem e cuja prossecução o bem fica afeto
- os consortes não podem livremente alienar as suas quotas nem obter a divisão
Matilde Pinhol
Direito português tem semelhanças com esta comunhão na comunhão matrimonial e nos
baldios.
MC
CR
1406º
1407º
1498º
- sem acordo, qualquer das partes pode ainda denunciar um contrato duradouro em
que não tenha sido estipulado um termo final
- qualquer dos consortes pode obter a divisão, embora possa ser estipulada a indivisão
por períodos não superiores a 5 anos (art. 1412º CC)
Matilde Pinhol
A propriedade horizontal é mais sólida, não sendo admitida a divisão
-------------------- // -------------------------
Pessoas coletivas:
Ex: fundações (institucionalização de fins dos seus fundadores a cuja prossecução são
afetados os meios patrimoniais necessários)
Personalidade coletiva → estrutura jurídica própria das formas mais sofisticadas do agir plural
e da institucionalização de fins, que se traduz numa autonomização jurídica em relação às
pessoas humanas individuais que as constituem ou que as instituem como centros autónomos
de imputação jurídica, como sujeitos de direito
Esta visão é dualista: separa bem e com clareza a personalidade singular da coletiva como duas
realidades diferentes
Este modo de pensar nega a realidade da personalidade coletiva mas, diferentemente dele,
assenta a sua base, já não nas pessoas, mas nos bens que constituem o seu substrato. As
pessoas coletivas seriam patrimónios sem sujeito, afetos à prossecução de certos fins
Matilde Pinhol
como suporte de deveres jurídicos e direitos subjetivos, não é algo diferente dos deveres
jurídicos e dos direitos subjetivos dos quais ela se apresenta como portadora
As pessoas, coletivas e singulares, são a unidade personificada das normas jurídicas que
obrigam e conferem poderes, são construções jurídicas criadas pela ciência do direito
Segundo Kelsen, quando se diz que a ordem jurídica confere a uma corporação personalidade
jurídica, isso significa que a ordem jurídica estatui deveres e direitos que têm por conteúdo a
conduta dos indivíduos que são órgãos e membros da corporação constituída através de um
estatuto constitutivo da corporação
Monista
Realismo analógico (VON GIERKE) → entende as pessoas coletivas como entes realmente
existentes na vida social, dotados de um substrato próprio e que desempenham na sociedade
e na vida de relação papéis, e aí assumem uma individualidade e uma subjetividade nova,
diferente da dos seus membros, fundadores ou beneficiários
LARENZ → a pessoa coletiva é um “ente do mundo social” que permite a formação de uma
vontade comum, diferente das vontades de cada membro e a sua atuação através de órgãos,
como se de uma pessoa singular se tratasse.
PPV: a personalidade coletiva tem uma natureza jurídica análoga à da personalidade singular, à
da personalidade jurídica das pessoas humanas
As pessoas coletivas têm de comum com as pessoas humanas aquilo em que correspondem ao
exercício jurídico coletivo de pessoas humanas – associações e sociedades de pessoas – e à
autonomização de massas patrimoniais ou à institucionalização de fins de pessoas humanas –
sociedades de capitais e fundações.
Pessoas coletivas são sempre, de alguma forma, um prolongamento de pessoas humanas. Não
são meras construções jurídicas ou puras ficções.
Mas não se lhes pode reconhecer uma posição paritária à das pessoas humanas, porque têm
em relação a elas diferenças relevantíssimas. Desde logo, as pessoas coletivas não têm
qualidade humana, e não têm a sua posição fundante e central no Direito. Por isso, a
personalidade jurídica é constituída e é-lhes atribuída pelo Direito, e pode por ele ser extinta,
ao contrário da personalidade das pessoas humanas, que e suprajurídica, e que o Direito não
pode deixar de reconhecer e respeitar.
Matilde Pinhol
enorme poder económico. É então de rejeitar a construção da dicotomia perfeita entre
pessoas coletivas e individuais, porque se trata de realidades que não se situam no mesmo
plano.
Relevante ainda as diferenças impostas pela natureza das coisas. As pessoas coletivas não são
pessoas humanas de carne e osso, não nascem e não morrem. As pessoas coletivas necessitam
de pessoas humanas que, enquanto titulares dos seus órgãos, tenham a consciência e formem
e exprimam a sua vontade.
A personalidade coletiva é enormemente mais pobre do que a das pessoas humanas. Por isso
sofrem grandes limitações ao nível da capacidade de gozo de direitos e têm os seus direitos e
deveres limitados ao que seja compatível com a sua natureza (art. 12º CRP).
A lei exige a existência de um mínimo de substrato para a constituição e existência das pessoas
coletivas, que se extinguem quando esse substrato despareça. Mas a lei não é, salvo em casos
especiais, particularmente exigente quanto a esse substrato e à sua relevância social, limita-se,
em regra, a estabelecer requisitos mínimos.
a) Substrato
Os elementos do substrato não devem ser encarados separados uns dos outros, mas
antes integrados entre si.
Matilde Pinhol
comum são acessórios e fungíveis: são aqueles que forem necessários para financiar a
atividade social, normalmente dinheiro ou indústria.
b) Elemento pessoal
Fundações:
- não têm sócios nem associados e o papel dos fundadores resume-se ao ato de fundação
Associações e sociedades:
- o elemento pessoal assume uma importância mais marcada e integra as pessoas dos
fundadores e bem assim dos associados ou sócios que venham a ingressar na associação ou
sociedade posteriormente à sua constituição e que regem os destinos da pessoa coletiva
durante toda a sua vida
Art. 46 CRP → Exige que os membros das associações o sejam livre e voluntariamente, não
podendo ninguém ser coagido a ingressar ou a permanecer membro de qualquer associação.
c) Elemento patrimonial
Matilde Pinhol
As pessoas coletivas carecem de meios para a prossecução dos seus fins. Estes meios
são os bens com que os fundadores as dotam no ato da sua constituição, os que lhe
advenham posteriormente, ou por aumento de capital, ou pela entrada de novos
sócios e ainda aqueles que as próprias pessoas coletivas obtenham por si próprias.
Estes bens constituem o património da pessoa coletiva e desempenham um papel
instrumental à realização dos seus fins.
Fundações:
d) Elemento teleológico
e) Reconhecimento
Matilde Pinhol
Ex: fundações (158º/3 e 188º CC)
Este regime rege ainda as sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma comercial e
ainda outras pessoas coletivas de direito privado, como os agrupamentos complementares de
empresas e os agrupamentos europeus de interesse económico, que adquirem personalidade
jurídica pela constituição por escritura pública com respeito pela lei e pela matrícula no registo
civil.
Divergência doutrinária: não existe consenso na doutrina quanto a serem ou não dotadas de
personalidade jurídica (as sociedades civis simples), pois a sua personalidade não resulta de
expressa declaração legal nesse sentido, mas antes do regime jurídico efetivamente constante
da lei.
- fundações
- cooperativas
O voto é, em princípio, por cabeça, as participações sociais não são transmissíveis (art. 995º
CC) e não há distribuição de dividendos
Matilde Pinhol
Fundações – pessoas coletivas de caráter institucional
São sociedades comerciais aquelas que tenham por objetivo a prática de atos de comércio e
adotem um dos tipos previstos no CSC
DOUTRINA: é discutido se as sociedades civis simples têm personalidade jurídica. Alguns tipos
de sociedades em nome coletivo não têm autonomia patrimonial perfeita, respondendo os
sócios pelas dívidas sociais, subsidiariamente em relação à sociedade, solidariamente entre si e
sem limitação de valor. Nas sociedades de pessoas – sociedades civis simples – e sociedades
em nome coletivo – o voto é por cabeça; nas sociedades por capitais – sociedades por quotas e
anónimas – e nas sociedades em comandita o voto é por capital. A sua constituição é livre e as
participações sociais são transmissíveis. Os lucros apurados no exercício são distribuídos pelos
sócios (dividendos).
ACEs – pessoas coletivas de cariz associativo formadas por pessoas singulares ou coletivas que
se agrupam com o “fim de melhorar as condições do exercício ou de resultado das suas
atividades económicas”.
Têm personalidade jurídica, mas sem autonomia patrimonial perfeita, sendo os membros em
princípio responsáveis pelas dívidas da ACE.
Em princípio, não têm fim lucrativo, mas podem ter por fim acessório a realização e partilha de
lucros apenas quando assim for autorizado expressamente pelo contrato constitutivo.
A transmissão, entre vivos ou por morte, da parte de cada agrupado só pode verificar-se
juntamente com a transmissão do respetivo estabelecimento ou empresa, mas a atribuição ao
transmissário da qualidade de novo membro depende do consentimento do agrupamento.
Constituição livre
Cooperativas – pessoas coletivas de caráter associativo e sem fim lucrativo formadas por uma
pluralidade de pessoas que se associam para a satisfação das necessidades e aspirações
económicas, sociais e culturais dos seus membros através da cooperação e entreajuda dos
seus membros e com obediência aos princípios cooperativos
Matilde Pinhol
Partes sociais não transmissíveis
Os tipos de pessoas coletivas têm alguma elasticidade. Significa isto que no seio de cada tipo é
ainda lícito estipular com alguma amplitude, nos respetivos estatutos ou no respetivo contrato
social, dentro da margem da liberdade que a lei deixa à autonomia privada.
- Existe autonomia no que respeita à decisão de criar a pessoa coletiva e de modelar os seus
estatutos, com respeito pelos preceitos da lei
- Com a limitação de que a constituição das fundações está sujeita à anuência da autoridade
administrativa no que respeita ao fim social e à suficiência dos meios
Mas a autonomia não abrange nem a criação de novos tipos de pessoas coletivas nem a
constituição de pessoas coletivas atípicas.
Exemplo: quando nos estatutos de uma sociedade anónima se estipula que a transmissão de
ações nominativas fica dependente da própria sociedade e sujeita a direito de preferência dos
demais sócios, ficando, porém, a sociedade obrigada a adquirir ou fazer adquirir essas ações e
pelos respetivos preços, em caso de recusa ou de transmissão projetada.
Nota:
1. Comandita simples
2. Comandita por ações
Na comandita simples, as participações dos sócios são configuradas como nas sociedades em
nome coletivo; nas comanditas por ações, são representadas por ações como nas sociedades
anónimas
---------------------- // ------------------------
Matilde Pinhol
As partes sociais das cooperativas são configuradas em títulos, à semelhança das sociedades
anónimas, mas a sua transmissão só é permitida com autorização da própria cooperativa.
AUTONOMIA
Autonomia clara → cooperativas e sociedades de capitais; contudo não tão intensa como nas
fundações
As primeiras têm por fim a prossecução de interesses sociais ou alheios (fundações e pessoas
coletivas de direito público)
2.1 Pessoas coletivas de fim interessado: Fins ideais (não económicos; interesses
desportivos, culturais, científicos ou artísticos) VS fins económicos (obtenção de
vantagens patrimoniais para os seus membros)
Matilde Pinhol
A capacidade de gozo das pessoas coletivas
O exercício jurídico por parte das pessoas coletivas tem limitações importantes decorrentes da
natureza das coisas (art. 12º CRP, 160º/2 CC e 2ª parte do art. 6 do CSC).
Não têm sentimentos, vontade psicológica ou intencionalidade → não têm capacidade de gozo
para a titularidade de situações e posições jurídicas que pressuponham a qualidade humana
(caráter familiar, sucessão ativa; não podem casar, não morrem…).
No entanto, as pessoas coletivas têm capacidade sucessória passiva (art. 2033º/2, b) CC) e
podem, por isso, ser herdeiras ou legatárias, se forem contempladas em testamento.
CONCLUSÃO: pessoas coletivas têm capacidade específica de gozo → esta ideia não é correta,
na verdade, se as pessoas coletivas têm a sua capacidade de gozo limitada pela natureza das
coisas, o mesmo sucede também com as pessoas singulares
Em matérias que são próprias à sua natureza, as pessoas coletivas têm capacidades de gozo
que as pessoas singulares não têm: podem fundir-se, aumentar e reduzir capital, modificar o
seu fim social e dissolver-se. A lei reserva-lhes ainda, mais às sociedades comerciais, o
exercício de atividades económicas específicas.
Há ainda, previstos na lei, casos algo frequentes em que certas pessoas coletivas são proibidas
de ser titulares de certas posições jurídicas, e exercer certas atividades ou de praticar certos
atos, sem que tal decorra da natureza das coisas, mas antes de específicas razões de
racionalidade económica ou de utilidade social.
Estas limitações à atividade das pessoas coletivas suscitam um problema de qualificação que
não é neutro em relação ao regime e consequências jurídicas. Importa saber se devem ser
qualificadas como incapacidades de gozo e qual a consequência jurídica da sua violação.
1. Poder-se-ia partir de uma prévia qualificação para o regime jurídico ou, inversamente,
deste para aquela; procurar-se-ia qualificar estas limitações a partir da natureza da
personalidade coletiva; se fossem qualificadas como incapacidades de gozo, a
consequência seria a nulidade dos atos praticados com a sua violação
Matilde Pinhol
2. O caminho aqui seria o inverso: partir-se-ia da descoberta da consequência jurídica da
violação das limitações legais e, com base nela, proceder-se-ia à qualificação
Uma solução que parte do conceito para o regime é dum acabado concetualismo. Limitada a
uma dedução lógica, ignora as necessidades da vida, é muito vulnerável ao erro e conduz a
soluções frequentemente desrazoáveis e injustas. Vale mais ensaiar as soluções possíveis para
concluir pelas mais adequadas e justas.
Caso a lei estatua expressamente sobre a consequência da violação, será esse o regime
aplicável. A personalidade coletiva é uma criação da lei. Não tem o fundamento ético-
ontológico da personalidade singular. Por isso, não há, em princípio, impedimento a que a lei
estatua a consequência jurídica da sua própria violação.
Caso a lei não preveja uma concreta consequência, importa saber perante o seu regime
específico, colocação sistemática e demais elementos de interpretação, e ponderados ainda os
valores e interesses em presença, qual a razão determinante da proibição legal e quais os
valores que a determina, isto é, qual a ratio legis.
Importa saber se os atos praticados com violação dessas limitações são válidos ou inválidos. As
limitações legais nos casos em questão, não têm a ver com os atos em si, mas antes e apenas
com a sua ligação à sociedade que os pratica.
Fim – objetivo que desencadeia a ação do agente e que, por isso, está imanente nessa ação.
Implica intencionalidade e projeto
Fim social – aquele que orienta a vida das pessoas coletivas e que torna compreensíveis e
juridicamente valoráveis as suas ações
- Como o fim das pessoas coletivas está ligado ao seu objeto social
Objetivo social – âmbito social da atividade que a pessoa coletiva se propõe desenvolver a
título principal para prosseguir o seu fim; concretiza o sentido do fim social
A atividade que a pessoa coletiva vai exercer para a prossecução do seu fim determina esse
fim. O grau de amplitude do objetivo social pode ser maior ou menor e é determinado no ato
de constituição da pessoa coletiva, ficando expresso nos seus estatutos.
Matilde Pinhol
Art. 6 CSC
Em princípio, o fim e o objeto social das pessoas coletivas de direito civil e comercial estão ao
alcance da autonomia privada. São fixados pelos fundadores e podem ser modificados
posteriormente.
1. Fundações: o art. 188º do CC exige a prévia verificação do fim, que tem de ser
considerado “de interesse social pela entidade competente”.
2. Sociedades: a sua constituição está sujeita a licenciamento prévio como sucede, entre
outros, com as instituições de crédito e as companhias de seguros
A lei estatui um regime em que há um prévio e específico juízo de mérito. Se a constituição das
pessoas coletivas, nos casos como os referidos, é controlada, também a modificação posterior
do fim e do objeto social não ser alcançada livremente e sem prévio controlo. Estes casos são,
porém, excecionais e só vigoram quando previstos na lei. A regra geral é a da liberdade.
Pela sua semelhança com o regime de representação legal dos menores e dos maiores
acompanhados, a “representação” das pessoas coletivas pelos titulares dos seus órgãos foi
assimilada à tutela.
Em rigor, esta equiparação não se justifica. A ratio legis da incapacidade de exercício das
pessoas singulares não se verifica nas pessoas coletivas. As definições de experiência,
discernimento e de autodomínio de menores não existe nunca nas pessoas coletivas.
É próprio da natureza das pessoas coletivas terem órgãos. As pessoas coletivas não podem
deixar de ter uma organização cuja sofisticação é variável com o respetivo tipo.
A organicidade é esta característica das pessoas coletivas de terem sempre, e não poderem
deixar de ter órgãos e funcionar por seu intermédio. Não é, pois, correto, falar de incapacidade
genérica de exercício a propósito das pessoas coletivas.
Tem sido criticada a qualificação como representação orgânica, da relação entre as pessoas
coletivas e os titulares dos seus órgãos.
Esta relação é muitas vezes qualificada como mandato e a própria lei remete por vezes a sua
disciplina jurídica para as regras do mandato (art. 164º/1 CC), assim como refere a atuação dos
órgãos externos das pessoas coletivas como representação (art. 163º CC).
Objeta-se que o conceito de representação exige que haja uma dualidade de pessoas e, em
rigor, tal não se verifica neste caso, porque os órgãos fazem parte da pessoa coletiva e não lhe
são alheios. Mas esta crítica é apenas concetual.
Matilde Pinhol
Representação → imputação à autoria de uma pessoa de atos ou omissões de autoria de
outrem
Na representação orgânica, é imputado à pessoa coletiva o agir, em seu nome, dos titulares
dos seus órgãos. Trata-se de uma modalidade de representação que é típica da organicidade.
Órgão de uma pessoa coletiva → centro institucionalizado de poderes funcionais a exercer por
um indivíduo ou colégio de indivíduos que nele sejam providos, com o objetivo de exprimir a
vontade juridicamente imputável à pessoa coletiva (MARCELLO CAETANO)
1156º CC
Quando os titulares dos órgãos são membros da respetiva pessoa coletiva, o estatuto dos
titulares dos órgãos pode ser extraído do contrato social.
Quando os titulares dos órgãos sociais não forem sócios, torna-se mais clara a autonomia
entre o contrato de administração e os estatutos da pessoa coletiva a cuja estrutura esses
órgãos pertencem.
Previamente à sua designação como titulares de órgãos da pessoa coletiva, podem ser
celebrados contratos formais entre a pessoa coletiva e o órgão, em que sejam estipuladas as
pertinentes matérias quanto ao exercício profissional, remunerações, duração do mandato,
incompatibilidades, e outras que as partes, em autonomia privada, acordem entre si.
Na generalidade dos casos, porém, esta estipulação é oral, não ficando a constar de qualquer
escrito, ou mesmo simplesmente tácita.
1. Órgãos deliberativos
2. Órgãos executivos
3. Órgãos de fiscalização
Matilde Pinhol
Nas SA está hoje prevista uma estrutura orgânica mais complexa:
Nas sociedades que tenham emitido obrigações deve ainda haver um órgão
representativos dos titulares das obrigações.
Os atos ultravires
São legítimos os atos e atividades da pessoa coletiva que são dirigidos à prossecução do
seu fim, no âmbito do seu objeto social. Estão viciados por ilegitimidade os atos e
atividades das pessoas coletivas que sejam alheios ao seu fim e ou que estejam fora do seu
objeto. São atos e atividades ultravires.
Sobre o art. 160º CC → a doutrina tem levado socialmente a concluir que é a capacidade
de gozo da pessoa coletiva que aí está a ser limitada ao que for necessário ou conveniente
à prossecução do seu fim. Esta interpretação conduz à conclusão de que os atos praticados
pelas pessoas coletivas fora deste âmbito são nulos por falta de capacidade de gozo, por
aplicação conjunta dos arts. 160º e 294º CC.
Divergência doutrinária
Oliveira Ascenção: As pessoas coletivas têm capacidade de gozo genérica, limitada apenas
pela sua natureza não humana, o que as priva dos direitos exclusivos da personalidade
humana, como são os direitos de personalidade que se fundem na personalidade
ontológica. É isso que resulta do art. 12 da CRP. O regime do 160º “não tem praticamente
nada a ver com a capacidade de direito”. “A limitação pelo fim não significa uma limitação
da capacidade: ou só significará em hipóteses extremas, quando a prossecução do fim for
incompatível com a titularidade de certas situações jurídicas. A eventual anomalia residirá
no desvio em relação ao fim, e não na incapacidade. Pois a pessoa coletiva pode praticar
atos daquela categoria e ser titular dos direitos dela derivados. O que não pode é praticá-
los de maneira a afastar-se dos seus fins. Assim, diremos que também a pessoa coletiva
tem capacidade genérica, e não específica, não obstante a vastidão das limitações
constantes do art. 160º/2 CC.
Marcello Caetano: (acerca das fundações) “Mais que uma limitação de capacidade, o
princípio da especialidade é um condicionamento funcional do exercício dos direitos, de
que a pessoa coletiva é capaz. Deverão, assim, ser nulos os atos praticados com desvio dos
fins estatuários? Se tais atos interessaram a outras pessoas, e estas estiverem de boa fé,
não parece conveniente à segurança das relações jurídicas e ao próprio crédito da pessoa
Matilde Pinhol
coletiva adotar uma regra tão severa. Salvo o conluio doloso das partes, em que a nulidade
pleno jure se impõe, os negócios jurídicos em que intervenha uma pessoa coletiva com
violação do princípio da especialidade devem ser apenas anuláveis em ação judicial a
requerimento do Ministério Público ou de qualquer das partes.”
O fim concretizado pelo objeto social não tem a ver com o âmbito da capacidade de gozo
das pessoas coletivas, mas antes com a legitimidade que sejam alheias a esse mesmo fim.
A questão que suscita é antes de ilegitimidade
Art. 6º CSC → tem bastante elasticidade por não se restringir aos atos e atividades que
sejam rigorosamente necessários à prossecução do fim social e alarga-se também aos que
sejam simplesmente convenientes, que sejam coadjuvantes, auxiliares e ou que, para tal,
possam contribuir numa maior ou menor medida.
Art. 160º CC → não explícita as consequências jurídicas dos atos praticados; aplica-se
diretamente a associações, fundações e as sociedades civis simples, quando tenham
personalidade jurídica
O artigo 6º CSC deve ser interpretado de acordo com o artigo 9º da 1ª Diretiva sobre
Sociedades e deve ser concretizado sem desvios em relação ao seu sentido. Os atos
“alheios ao objeto social” vinculam perante terceiros, salvo apenas “quando esses atos
excedam os poderes que a lei atribui ou permite atribuir a esses órgãos.”
Esta regra está refletida na redação do número 4 do artigo 6º do CSC, naquilo em que
restringe a referência a “cláusulas contratuais e deliberações sociais”, excluindo assim, os
casos de contrariedade à lei.
Art. 188º CC
Deve admitir-se que sejam cominados com a sanção da nulidade os atos praticados pelos
órgãos da pessoa coletiva em seu nome quando se conclua que a sua prática esteja fora da sua
disponibilidade, seja fixado por lei ou autorizado ou aprovado pelo Estado, com sentido de
Ordem Pública, de tal modo que a prática de ato ultra vires se traduza numa ofensa para a
ordem pública subjacente à fixação (ou aprovação ou autorização) do objeto social.
Matilde Pinhol
Também a sanção de nulidade será de admitir quando a prática do ato seja especialmente
vedada pela lei. Nestes casos, porém, a nulidade não é consequente de falta de capacidade de
gozo da pessoa coletiva, mas antes de contrariedade a lei injuntiva ou à ordem pública, do ato
praticado (art. 280º CC).
Os atos praticados pelos titulares dos órgãos e representantes das pessoas coletivas que
estejam fora do seu objeto social e não possam ser considerados nem sequer convenientes
ainda que indireta e remotamente, à sua prossecução, vinculam a pessoa coletiva e podem ser
tidos como da sua autoria?
O CC não contém regras específicas sobre a vinculação das pessoas coletivas. De acordo com a
nova legislação, as SA e sociedades por quotas ficam vinculadas, perante terceiros, pelos atos
em seu nome praticados pelos seus administradores e gerentes, dentro dos poderes que a lei
lhe confere, não obstante as limitações constantes do contrato de sociedade ou resultantes de
deliberações dos seus sócios.
As sociedades só podem opor a 3os as limitações resultantes do seu objeto social se provarem
que esses 3os sabiam ou não podiam ignorar que os atos praticados não respeitavam o objeto
social. Isto tem de ser concreto e real, e não pode ser simplesmente inferido da publicidade
que legalmente deve ser dada ao contrato da sociedade.
Quando se prove que os 3os sabiam que os atos foram praticados para além do objeto social,
ainda assim esses mesmos atos são válidos e vinculam a sociedade se, entretanto, esta os tiver
assumido por deliberação expressa ou tácita dos seus sócios (206º/2 e 409 CSC)
A doutrina do direito civil tem-se debruçado sobre o tema da responsabilidade das pessoas
coletivas a propósito da velha querela da sua capacidade de exercício.
O regime da responsabilidade das pessoas coletivas tem sido utilizado como argumento para a
conclusão sobre sobre se as pessoas coletivas sofrem de uma genérica de incapacidade de
exercício, sendo então, necessariamente, representados por titulares dos seus órgãos, ou se,
ao invés organicidade que as caracteriza, dispensa recurso ao regime da incapacidade de agir.
A última alternativa é cada vez mais dominante.
Matilde Pinhol
A lei diferencia responsabilidade civil:
- contratual
- aquiliana
Art. 800º/1 CC
Assume ainda caráter relevante a importância do regime jurídico da responsabilidade civil dos
titulares dos órgãos das pessoas coletivas, perantes as próprias pessoas coletivas a que
pertencem, perante os seus credores e perante 3os.
Pessoas coletivas:
- atos e sit. Jurídicas imputadas às pessoas coletivas não podem ser imputadas aos seus
instituidores ou membros e vice-versa
O mau uso da personalidade coletiva, para fins ilícitos, tem suscitado um movimento
jurisprudencial e doutrinário, com reflexo já na própria letra da lei, no sentido da
“desconsideração da personalidade coletiva”.
Disregard of legal entity – desconsideração, pelo juíz no caso concreto, quando a forma da
pessoa coletiva é utilizada abusivamente para fins desonestos
Matilde Pinhol
A desconsideração da personalidade coletiva ocorre quando não obstante a separação entre
as esferas jurídicas da pessoa coletiva e dos respetivos sócios, inerentes à personalidade
coletiva, o direito imputa ao sócio a autoria ou a responsabilidade de atos da pessoa coletiva,
como se, no caso concreto, personalidade coletiva não houvesse, sem que por isso, a
existência e a personalidade da pessoa coletiva em causa sejam denegadas.
Atua em 2 campos:
Será então justificada a desconsideração desde que o regime jurídico de separação pessoal e
patrimonial inerente à personalidade permita contornar a intencionalidade normativa da
ordem pública, ainda que sem consciência nem intencionalidade subjetiva, ou apenas sem a
sua prova.
Matilde Pinhol
Pensa-se, pois, que é no quadro da fraude à lei que deve ser operada a desconsideração
extralegal da personalidade jurídica. Mas a mesma pode ainda operar nos quadros de
operadores jurídicos como abuso de direito, abuso do instituto, responsabilidade orgânica ou
responsabilidade por atuação sobre bens alheios. Porém, sem suporte legal ou de outros
operadores, a desconsideração, só por si, é inábil para o afastamento da separação pessoal e
patrimonial inerente à pessoa coletiva. No entanto, encontra autonomia enquanto operador
que permite desatender a separação pessoal e patrimonial inerente à personalidade jurídica,
no caso concreto, sem atingir a validade nem a personalidade da pessoa coletiva em questão.
Matilde Pinhol