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1) Maria Helena Diniz (não muito indicado)

2) Tartuce

07/02

TEORIA GERAL DO DIREITO


CONTRATUAL
O CONTRATO
- Conceito: contrato é um acordo de vontades entre as partes, podendo ou
não ter conteúdo patrimonial, ainda que de forma indireta
- Porém, de acordo com o novo Código de Processo Civil, não há a
necessidade de um contrato tratar, de forma direta ou indireta, sobre
conteúdo patrimonial
- Exemplo: ex namorados realizam um contrato acerca as visitas do cachorro
que tinham em comum, observa-se que aqui não há conteúdo patrimonial
mas ainda sim o contrato é válido
- Conclui-se, dessa forma, que o contrato é a fonte principal do direito das
obrigações, possuindo caráter de instituto primordial ao Direito Privado
- Direito privado = prevalece a autonomia da vontade (exemplo: direito civil e
empresarial)
- Direito público = prevalece a vontade do Estado (exemplo: direito penal)
- O Estado percebeu que se as relações jurídicas ficarem sob o controle da
sociedade, sem a interferência do mesmo, haverá uma desarmonia, portanto
viu-se necessário que o Estado estabelecesse regras comuns a toda
sociedade, esse fenômeno recebeu o nome de dirigismo contratual

DIFERENÇAS ENTRE CÓDIGO CIVIL DE 2002 E 1916


● CC/1916:
- Possuía um caráter patrimonialista
- Sua característica predominante era o princípio “pacta sunt servanda”, ou
seja, o contrato faz lei entre as partes, preservando o acordado entre as
partes ainda que violasse valores constitucionais
- Na sua redação original, dava supremacia ao homem frente à mulher
- Fazia diferenciação entre filhos “legítimos” e filhos “ilegítimos” (adotados ou
fora do casamento) no direito sucessório, dando menos direitos ao último

● CC/2002:
- Era a exemplificação clara do dirigismo contratual do Estado
,
- Sua principal característica foi o fenômeno da constitucionalização do
direito: processo de analisar e aplicar os institutos de direito
infraconstitucional com base na Constituição Federal
- Exemplo: o sujeito era escocês, sendo um senhor de quase 80 anos de
idade, tendo trabalhado como engenheiro em uma multinacional no Brasil e
encontrou 3 moças, fazendo um contrato com elas - sendo que quando
estivesse no Brasil, elas iriam morar com ele, quando elas não estivessem
eles não se falariam. Nesse contrato, era fornecido remuneração e
pagamento da faculdade que elas quisessem fazer. Próximo do 6º ano da
moça da faculdade de medicina, essa moça quis rescindir o contrato e o
senhor responde que oo um art. do contrato estipulava uma multa. A moça
não pagou, foi ajuizada uma ação e isso cai no judiciário. Essa ação é válida?
Não vale (pela concepção do Tribunal), porque muito embora ele tenha
requisitos de existência, forma, objeto. Porém, ele não é lícito, pois ele
contraria valores constitucionais (dignidade da pessoa humana; da
preservação da autonomia da moça)
<

- Ou seja, a constitucionalização do Direito Civil possibilitou casos como este


de chegarem ao Judiciário

09/02
CONTRATOS PÓS-MODERNOS
- Conceito clássico: contrato é definido como “negócio jurídico bilateral ou
plurilateral que visa à criação, modificação ou extinção de direitos e deveres
com conteúdo patrimonial”
- Sob a ótica clássica, o contrato necessita estar ligado ao conteúdo
econômico e, a partir do momento em que era celebrado, gerava efeito
apenas entre as partes
- Conceito pós-moderno/contemporâneo: proposto pelo autor Paulo Nalin,
considera o contrato como “a relação jurídica subjetiva, nucleada na
solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos
existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos da relação,
como também perante terceiros”
- Sob a ótica contemporânea, o contrato pode estar alheio ao conteúdo
econômico, isso pois os contratos estão amparados em algumas premissas
da constitucionalização do Direito
- Ao contrário da visão clássica, a visão atual é de que o contrato não gera
efeito apenas entre as partes, podendo ter efeito erga omnes e, em
decorrência disso, devem ser analisados com base em valores sociais e
constitucionais
- Tese majoritária: contratos tem relação direta ou indireta com o conteúdo
econômico
- Contratos pós modernos possuem três características principais :
a) São amparados nos valores constitucionais = objetiva reduzir o alcance
da autonomia privada
b) Possuem conteúdo econômico e existencial = além de proteção do
patrimônio, existe a proteção de valores (direito à voz, imagem, etc.)
c) Gera efeito perante terceiros =

- Contrato entre atriz pornô e gravadora de conteúdos eróticos é válido?


R: Sim, a decisão de tal caso foi que referido contrato não infringe direitos
constitucionais, podendo ser válido se cumprir com os requisitos de um
contrato

PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES
- De acordo com a doutrina, existem três princípios basilares do Código Civil:
1) Eticidade = diz respeito ao reconhecimento de valores éticos, da boa-fé
2) Sociabilidade = o CC/2002 valoriza conteúdo coletivo em face de direitos
individuais, dá primazia em direitos coletivos (valores sociais) sobre
direitos individuais. Exemplo: usucapião
3) Operabilidade = o atual CC se torna operativo, ou seja, a técnica
legislativa utilizada na criação do Código foi pensada para ser acessível a
todos os seus intérpretes, linguagem do Código anterior era robusta e
pesada, esse vem com o objetivo de ser mais acessível (“leitura simples”)

DIRIGISMO ESTATAL
- Inicialmente, a primazia da vontade das partes era um elemento
predominante nos contratos
<

- Porém, com o passar do tempo, constatou-se que era necessário impor


limites à própria liberdade contratual, para evitar que valores sociais e
constitucionais fossem violados
- Dirigismo Estatal: é um fenômeno pelo qual ocorre a intervenção do Estado
nas relações privadas de forma a reduzir o alcance da autonomia privada
- Quando falamos de valores constitucionais estamos falando de uma conduta
dirigista
<,

- O estado passa a intervir nas relações privadas de modo a afastar preceitos


constitucionais
Art. 5°/CF, LXVII - “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável
pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel”
- Súmula n° 25/STF: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que
seja a modalidade de depósito.”
- Depositário infiel: de acordo com a CF, depositário infiel é aquele que, em
confiança, recebe a guarda de determinado bem e, injustificadamente, não o
restitui ao seu proprietário no momento devido, ficando inadimplente de forma
proposital
- O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (ONU, 1966), ao qual o
Brasil aderiu, impede a prisão civil do depositário infiel (art. 11),
encontrando-se dispositivo similar na Convenção Americana de Direitos
Humanos, igualmente assinada pelo governo brasileiro (art. 7º, § 7º)
- Antes do Brasil aderir ao Pacto era permitida a prisão civil do depositário
infiel, ou seja, tinham dua hipóteses de prisão civil, sendo essa e a por dívida
de pensão, entretanto o STF decidiu que o tratado tinha mais força do que o
convencionado na CF
- A súmula nº 25 do STF causa uma quebra à autonomia privada, já que
muitos contratantes costumavam colocar como cláusula no processo a
possibilidade de prisão do depositário infiel
- Exemplo: Maria tem plano de saúde que cobre tratamentos de até 30 mil
reais. Ela tem uma doença grave que necessita de tratamento urgente no
valor de 70 mil reais. Ela contata o plano para questionar se o mesmo cobre
o tratamento, mas eles informam que não. Sendo assim, ela ajuíza uma ação
a fim de requerer que o plano cubra seu tratamento, justificado pelo
tratamento de urgência (fator determinante). Feito isso, a instituição que
fornece o plano é condenada a cobrir seu tratamento, ou seja, a ação de
Maria foi julgada procedente visto que se trata de URGÊNCIA. Se fosse um
caso sem urgência, como inseminação artificial, a instituição não seria
obrigada a cobrir a diferença.

PRINCÍPIOS CONSTITUTIVOS
1) Autonomia privada: quando a matéria é de direito contratual, a autonomia
privada e a função social devem coexistir harmonicamente, sobretudo
quando o assunto é a salvaguarda de direitos individuais ou coletivos
2) Função social: restringe a autonomia privada dos contratos, fazendo com
que os efeitos contratuais não se restrinjam apenas às partes. Para a
doutrina, ela possui dois desdobramentos
a) Eficácia interna = proteção aos vulneráveis, vedação da onerosidade
excesiva, nulidade das cláusulas abusivas (cláusulas leoninas)
b) Eficácia externa = proteção de direitos difusos coletivos e efeito perante
terceiros
- Súmula 381 STJ - “Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer,
de ofício, da abusividade das cláusulas.”
- Segundo a doutrina, a Súmula 381 retira do juiz o poder de
reconhecer/combater de ofício a abusividade de uma cláusula contratual,
indo contra o próprio princípio da função social
- O STJ argumentou que o motivo da criação desta súmula foi o fato de que os
contratos bancários mantêm uma relação íntima com o mercado financeiro.
Logo, dar ao juiz essa capacidade de combater de ofício uma nulidade
geraria insegurança jurídica para os bancos
- Quando o assunto é contrato bancário é vedado o juízo reconhecer de
ofício
14/02
3) Boa-fé:
- É tido como um princípio norteador dos negócios jurídicos do Direito civil (art.
103, CC)
- É também um desdobramento de um princípio estruturante, o princípio da
eticidade
- Boa-fé caracteriza a boa intenção, a honestidade que as partes manifestam
nas relações jurídicas
- Existem alguns desdobramentos do princípio da boa-fé, tais como:
a) Supressio = perda da faculdade de agir, pelo decurso do tempo
b) Surrectio = aquisição de um direito pelo não exercício da faculdade da
parte contrária
c) “Duty to mitigate the loss” = Dever de mitigar o dano - mesmo aquele
que foi prejudicado tem o dever de não agravar o seu próprio dano, sobre
pena de enriquecimento ilícito
d) “Venire contra factum proprium” = combate a conduta contraditória, ou
seja, proíbe o comportamento contraditório
- Supressio e Surrectio são como causa e consequência uma da outra, pois a
perda da faculdade de agir gera para a outra parte a aquisição de um direito
- Toda vez que houver supressio, haverá surrectio
- Enriquecimento ilícito é o contrário da boa-fé, exemplo: Marina bate no carro
do Igor, causando prejuízos ao mesmo devendo arcar com os custos,
entretanto, Igor vem por prejudicar seu próprio carro mais ainda com o uso de
um pedaço de ferro, dizendo a Marina que deve arcar com todos os custos,
mesmos os que não foram causados por ela
- Observação: supressio é diferente de prescrição e decadência
- Decadência = perda de um direito pelo seu não exercício em tempo hábil;
aniquila esse direito, ausência do direito
- Prescrição = perda (ausência) da pretensão de um direito de ação pelo
decurso do tempo; perde esse direito, mas ele não é aniquilado, como na
decadência
- Analogia: Imagine que existe uma árvore carregada de frutos, e ao seu lado
uma escada. Nesse caso, a ausência do fruto corresponde à decadência, e a
ausência da escada corresponde à prescrição
- Exemplo: Igor deve R$20.000 a Marina. Ao passarem 20 anos, Marina
resolve processar Igor pedindo que ele pague o valor, entretanto, o caso será
julgado improcedente pois prescreveu. Mas, se Igor quiser pagar o valor
mesmo depois desse tempo de boa-fé ainda é possível, pois o direito ainda
existe, o que não existe é a pretensão de um direito de ação pelo decurso do
tempo

CONTRATO DE COMPRA E VENDA


CONCEITO
Art. 481 - “Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a
transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em
dinheiro.”
- Na compra e venda existem dois sujeitos: um deles visa transferir o domínio
da coisa, e a outra parte, em retribuição à transferência, paga por isso

CARACTERÍSTICAS
1. Bilateralidade
- Necessário dois sujeitos, ambos com ônus
- Ônus para o vendedor = transferir o domínio
- Ônus para o comprador = pagar a coisa

2. Onerosidade
- É um contrato oneroso pois não tem gratuidade (como na doação)
- Não é necessário, porém, que o pagamento seja exclusivamente em dinheiro

3. Não personalíssimo
- As qualidades e atributos pessoais dos contratantes não são imprescindíveis
para a realização desse negócio jurídico

4. Consensualidade
- É consensual pois depende de uma convergência de vontades

5. Não solenidade
- A lei não traz ritualística (procedimento) própria para a realização do contrato
- Logo, é perfeitamente possível realizar uma compra e venda por instrumento
particular (“contrato de gaveta”)

6. Execução imediata
- A partir da celebração do contrato as partes estabelecem quando será
realizada a transmissão domínio e o pagamento
- Se não houver essa característica estamos diante de um contrato preliminar,
ou ainda, promessa de compra e venda
- A partir da celebração as partes já sabem ou estipulam prazo de quando será
exercida o ônus de cada um (ônus do comprador = pagar/ônus do devedor =
dar o bem)

7. Comutatividade
- As partes já sabem, desde o início, quais serão os elementos do contrato,
bem como suas obrigações

EFEITOS DA COMPRA E VENDA


1. Vício redibitório

- É o vício oculto - aquele vício que não é visível (art. 441 ao 445, CC)
- Ou seja, o objeto de compra e venda possui um defeito que torna impróprio o
uso ou gera diminuição do seu valor, podendo o comprador rejeitar a coisa,
exigir reparação ou abatimento do preço
- Esse vício, por mais oculto que seja, PRECISA gerar duas coisas: ou diminuir
o valor jurídico da coisa ou o torná-la imprópria para o uso
Art. 441 - “A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser
enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que
é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.
Art. 442 - “Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o
adquirente reclamar abatimento no preço.
Art. 443 - “Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que
recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o
valor recebido, mais as despesas do contrato.
Art. 444 - “A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça
em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da
tradição.”
Art. 445 - “O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento
no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for
imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se
da alienação, reduzido à metade.
§ 1 o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o
prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo
de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os
imóveis.
§ 2 o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios
ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos
locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver
regras disciplinando a matéria.”

- Prazo para exigir redibição:


<

a) Bem móvel = 30 dias


b) Bem imóvel = 1 ano
- Observação: Porém, se o sujeito já era possuidor da coisa, esse prazo cai
pela metade
- Prazo de redibição = é um prazo para que o sujeito reclame da existência
desse vício
- Teoria da actio in nata = o prazo decadencial é contado a partir do
aparecimento do vício
- Ônus da prova = quem deve provar o defeito é quem está pedindo o prazo
decadencial, quem está alegando o vício

● Vícios redibitórios no cdc


- CDC = Código de Defesa do Consumidor
- O CDC deu tratamento diverso aos títulos redibitórios comparado ao CC
<

- Para o CDC, vício redibitório não é necessariamente oculto, como dispõe o


Código Civil
- Considera que vício redibitório é aquele que faz perder o valor econômico ou
tornar impróprio para a utilização

16/02
2. Evicção
- Conceito:
- Obs 1: a evicção é um fenômeno típico dos contratos onerosos
- Com a evicção o alheio vai voltar ao seu dono
- Exemplo 1: Ana (3º evictor) é locatária de um imóvel, Bia (alienante) loca
esse imóvel e o vende para Maria (evicto, quem sofre a evicção), nesse caso,
a venda é ilegal
- Tem o evicto o direito à restituição integral da quantia paga com juros e
atualização monetária - alienante é quem paga
- Todos os frutos que a Maria (evicto) tiver que fornecer a Ana (3º evictor)
deverão ser pagos pela Bia (alienante)
- Eventuais despesas contratuais deverão ser pagas pelo alienante
- Caso haja uma ação judicial discutindo o caso o evicto tem o direito de ser
reembolsado pelas custas processuais e honorários advocatícios pelo
alienante
- Exemplo 2: caso esse imóvel seja um imóvel rural com plantações, e na
constância de Maria eles são melhorados. Com ação judicial Ana demonstra
que a fazenda é dela, todos os frutos percebidos ficam com Ana, Maria tem o
direito de exigir o reembolso dos frutos e custas processuais de Bia, mas não
fica com nada
- Exemplo 3: Bia falsifica a assinatura de Ana para que o imóvel fique em seu
nome, mas ela é devedora do banco, que tem uma ação de execução da
dívida e descobre a matrícula do bem em seu nome. Desse modo, o bem vai
para hasta pública e é leiloado para Maria. Ana comprova que o bem é seu, e
mesmo assim ainda houve evicção
- Existe evicção ainda que o adquirente adquira esse bem em hasta pública
- Pode o estado ser responsabilizado pela hasta pública?
a) Primeira corrente = Uma primeira corrente afirma haver responsabilidade
do estado no pagamento das verbas do art 450 justamente pq o bem foi
para leilão através de uma decisão judicial, ou seja, o estado juiz manda
uma decisão judicial para hasta pública (leilão). Além disso, o leiloeiro
exerce em tese uma função pública
b) Segunda corrente = o estado não pode ser responsabilizado pois o leilão
é apenas o mecanismo, ou seja, o intermediador desta venda, eventuais
vícios e irregularidades não podem ser de responsabilidade do estado
(pois não foi ele que causou)
- Na primeira corrente, mesmo que o estado seja vítima da atitude ilegal de
Bia, o mesmo foi negligente pois até chegar em hasta pública passou por
diversos agentes
- A segunda é a que em tese prevalece, dizendo que o estado não pode ser
responsável
- Lei 8.009/90 art. 3º = mesmo que o bem seja de família pode cair em hasta
pública, observando o art
“A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a
construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os
equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a
casa, desde que quitados.”
- (Todas essas hipóteses o adquirente estava de BOA FÉ)
- Art 457 - hipótese quando o adquirente não está de boa fé
<

- Se ele sabia ou deveria saber que o bem era objeto de litígio, não pode
alegar evicção (desconfiar também enquadra)
- Exemplo 4 = Maria compra uma BMW com valor de 1M de Ana por 50.000,
mas Maria desconfia que essa transação seja ilícita, mas mesmo assim
compra o carro. Marina, dona do bem, ajuíza uma ação alegando que o carro
estava no paraguai e foi roubada. Nesse caso Maria NAO pode exigir os
direitos do art
- Lavagem de dinheiro = dar origem lícita a um bem que tem origem ilícita
- É possível cláusula de não evicção no contrato de compra e venda?
- Cláusula de não evicção tem o intuito de diminuir ou excluir a
responsabilidade do alienante em caso de evicção
- Algumas profissões implicam essa cláusula
- Exemplo 5 = para facilitar a venda do bem “da Bia” para Maria tem o
intermédio do Matheus, corretor de imóveis
- Buscar a nulidade da cláusula em caso de má-fé do Matheus
- Não há o que se falar em cláusula de não evicção tácita, TEM QUE SER
EXPRESSA
- Haverá evicção quando o bem sai da posse do alienante e vai para o
adquirente
- Para que haja evicção é necessário que o adquirente tenha que estar com a
posse do bem ou não?
- Segundo o STJ, no recurso especial 1713096/SP, a evicção pode ser
caracterizado pela inclusão de um gravame de modo a impedir a livre e
desembaraçada transferência do bem ou o exercício da posse/propriedade
plena
- Gravame = limitação de um exercício de posse de propriedade de um bem
por ocorrência de um determinado fato

23/02
ELEMENTOS DA COMPRA E VENDA
1. Vontade
- É a manifestação de uma intenção de celebrar o contrato
- Sendo um elemento subjetivo, é imprescindível que essa manifestação de
vontade não esteja viciada
- Se houver vício na vontade, automaticamente haverá vício no negócio
jurídico
2. Forma
- Sendo o contrato de compra e venda um …. , não existe nenhuma forma
determinada por lei
- Logo, é possível ser feito na modalidade verbal,
- Em regra ela não se submete a uma solenidade específica, mas em alguns
casos a lei pode exigir uma forma específica para celebrar
- Nesses casos, se a solenidade específica não for atendida, o contrato será
nulo
- Exemplo: contrato de compra e venda de imóveis acima de 30 salários
mínimos tem que ser público

3. Objeto
- Se divide em:
a) Lícito = aquele negócio jurídico instrumentalizado pelo contrato de compra
e venda deve ser lícito, se for ilícito estamos diante de uma nulidade
b) Corpóreo = deve ser corpóreo (tem forma, palpável) OU suscetível de
apropriação - os bens imateriais podem não ser corpóreos, mas devem ser
ao menos suscetíveis de apropriação
c) Apropriação =
d) Valor = o objeto da compra e venda precisa ter valor econômico, caso
contrário seria uma doação (valor econômico é um atributo do objeto)

4. Preço
- A existência do preço diferencia o contrato da doação
- O preço precisa ser sério e equivalente a coisa, sob pena de enriquecimento
ilícito ou qualquer vício nessa relação obrigacional
- Deve ser pactuado entre as partes, de modo que o árbitro unilateral do preço
gera a nulidade desse contrato
- Tem que ser pactuado entre as partes através de um consenso, pois, se o
árbitro for unilateral, haverá nulidade
- Art. 487, CC
“É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, desde
que suscetíveis de objetiva determinação.”

5. Sujeitos
- Teoria da imprevisão = situação jurídica na qual ocorre um fato
posteriormente ao contrato que impossibilita a existência do mesmo
- Comprador (credor) e devedor
- Precisam ser em regra capazes
- Excepcionalmente, se incapazes, precisam estar devidamente assistidos
- “Non domino” - venda de uma coisa que não é sua; vender sem ser dono
- Duas correntes discutiam sobre a necessidade de ser ou não dono da coisa
para ser possível vendê-la:
a) 1º corrente = para vender precisa ser dono, se não seria uma venda a non
domino
b) 2º corrente = não precisa ser dono, apenas ter domínio da coisa
- Estatuto da pessoa com deficiência: humanizou a forma de vê-los, fazendo
com que pessoas deficientes não fossem consideradas incapazes para fazer
contrato de compra e venda, ainda que a deficiência tivesse alto grau, nesse
caso devendo ser assistida por terceiros
- Nas hipóteses onde a pessoa com deficiência, de forma transitória ou
permanente, não puder exprimir a sua vontade, será essa pessoa
considerada relativamente incapaz, devendo existir obrigatoriamente o
instituto da curatela
- Exemplo: pessoa com deficiência pode se casar? Sim, antes do NCP não
podia
- O fato de o indivíduo ser relativamente incapaz (como no caso de deficiência)
não o torna incapaz para todos os atos da vida civil
- Podem ser nomeados dois curadores para uma pessoa? Se for adequado ao
caso concreto e o juiz entender que é necessário, sim

COMPRA E VENDA ENTRE CÔNJUGES


- Regime de bens é o regime jurídico que será aplicado ao casamento
- STF pacificou a decisão de que as partes podem estipular um regime de
bens diferente dos que são trazidos pela lei
- ART. ? - Isso pois esse rol não é taxativo, desde que haja manifestação
expressa dos requisitos e condições do pacto antenupcial
- Diferença de casamento e união estável (atualmente quase zero):
a) Casamento = é uma instituição formal, um vínculo formal. Há certidão,
documentação do estado civil da pessoa
b) União estável = união informal que não foi instituída segundo as leis do
Estado
- STF disse que o art. 1790 era inconstitucional, aplicando o Art 1729 tanto
para o casamento quanto para a união estável celebrados na comunhão
parcial de bens
- A única razão pela qual o casamento se sobrepõe à informalidade da união
estável é em relação aos direitos previdenciários caso algum dos cônjuges
venha a falecer
- Exemplo: autora tenta comprovar união estável pos mortem, entretanto o
falecido era casado civilmente com outra mulher em outro estado, mas que
não convivem mais

1. Comunhão universal

2. Comunhão parcial
- É o regime supletório

3. Separação total de bens


a) Legal
b) Convencional

4. Participação final dos aquestos

28/02
PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO REGIME DE BENS
1. Princípio da autonomia privada
Art. 1.639 - “É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular,
quanto aos seus bens, o que lhes aprouver.”
- Os nubentes têm autonomia para escolher o regime de bens que melhor se
encaixa à relação
- É possível que as partes combinem regimes (regime misto)

2. Princípio da indivisibilidade
- O regime de bens aplicado a um nubente também será, obrigatoriamente,
aplicado ao outro

3. Princípio da variedade do regime de bens


Art. 1639, § 1° - “O regime de bens entre os cônjuges começa a vigorar
desde a data do casamento.”
- A variedade é um desdobramento da autonomia privada
- A variedade de regime de bens trazida pelo legislador pode ser escolhida por
um dos nubentes ao celebrar o casamento

4. Princípio da mutabilidade justificada


- Em regra, uma vez escolhido o regime de bens, não se pode trocá-lo
- Excepcionalmente, é permitida a mudança do regime de bens durante o
casamento, desde que haja um justo motivo
- Apelação 644/416 - Para o STJ, em eventual ação de modificação de regime
de bens, os autores devem constituir provas de que essa modificação não
prejudicará interesse de terceiros. Essas provas seriam certidões de protesto,
comprovante que não existe crédito/dívidas, certidão de objeto e pé de
eventuais processos judiciais
- Se ficar evidente que tal ação prejudicará terceiros, será julgada
improcedente

REGIME EM ESPÉCIES
1. Comunhão Universal
- Os bens adquiridos antes e durante a constância do casamento será
partilhado igualmente entre os dois cônjuges em eventual divórcio (dividido
na metade)
- Patrimônio comum do casal: se um dos cônjuges tem uma dívida, para que
esta seja paga, pode se alcançar o patrimônio do outro, já que os patrimônios
se comunicam
- Até o CC de 1916, esse era o regime supletório, ou seja, se os cônjuges não
indicassem o regime de bens, aplicaria-se o regime de comunhão universal
- Nesse caso não importa o valor da contribuição de cada um, pois será
dividido em 50% igualmente, há, no mínimo, a presunção de um apoio de
cada cônjuge, mesmo que motivacional

2. Comunhão Parcial
- Os bens adquiridos na constância do casamento serão partilhados, e os bens
anteriores à constância do casamento não serão partilhados
- Código Civil de 2002 adotou como o regime supletório
- Art. 1659, CC traz as exceções à comunhão, isto é, mesmo que esses bens
tenham sido adquiridos na constância do casamento, não serão partilhados
pelo casal, porque o legislador entende que fazem parte de um patrimônio
próprio
Art. 1659, CC - “Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na
constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em
seu lugar;
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos
cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;
III - as obrigações anteriores ao casamento;
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito
do casal;
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.”

3. Separação Convencional
- Aqui, os cônjuges escolhem contrair o casamento com separação absoluta
de bens
- Não existe um patrimônio comum do casal, cada um tem o seu
- Parte da doutrina o chama de separação total de bens na modalidade
convencional
- Nesse caso, os cônjuges escolhem se casar dessa forma
- Caso o casal queira partilhar um bem deve-se pôr o bem no nome de
AMBOS

4. Separação Obrigatória/Legal
- Regime da separação total de bens na modalidade legal
- Assim como no regime anterior, os cônjuges se casam com separação total
de bens, mas nesse caso a separação total de bens não é convencionada
pelas partes, ou seja, as partes não escolhem, quem escolhe é a lei por meio
de uma imposição
- Separação obrigatória/legal = imposta pela lei
Art. 1.641, CC - “É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas
da celebração do casamento;
II - da pessoa maior de 70 (setenta) anos;
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.”
Súmula 377, STF - “No regime de separação legal de bens, comunicam-se
os adquiridos na constância do casamento.”
- A súmula 377 não se aplica à separação convencional
- Discussão doutrinária sobre a vigência ou não da súmula 377, por ter sido
escrita sob a égide do CC de 1916, dividindo-se em duas vertentes:
a) 1º corrente = Francisco Cahali diz que a súmula não pode ser aplicada
porque foi escrita sob a égide de um código que não está mais vigente
b) 2º corrente = Giselda Hironaka diz que a súmula continua em vigência,
pois não perdeu seu objeto de tutela - posição adotada pelo STJ

5. Participação final nos aquestos


- Neste regime, cada cônjuge possui um patrimônio próprio na constância do
casamento, e a administração desse patrimônio é exclusiva de um dos
cônjuges (primeira fase)
- Em eventual dissolução conjugal (segunda fase), os bens adquiridos de
forma onerosa na constância do casamento serão partilhados
- Existem duas regras aplicadas, uma para a constância do casamento
(primeira fase) e outra para a separação (segunda fase)

- Regra para a constância do casamento:


a) Os bens serão administrados por quem tem a “tutela” deles, ou seja, quem
tem os bens sob seu nome é que vai administrar
b) Cada cônjuge tem seu patrimônio próprio

- Regra para a separação:


a) Trata os cônjuges como sócios de uma sociedade, permitindo inclusive que
negociem porcentagens de partilha para um possível divórcio
b) Em uma separação, só será partilhado os bens que foram adquiridos de
forma onerosa, na porcentagem que as partes definiram ou contribuíram

- Bens excluídos da participação final nos aquestos:


a) Bens anteriores ao casamento e os subrogados em seu lugar
b) Bens oriundos de sucessão (herança)

- Esse regime de bens evita a formação de um condomínio entre os cônjuges


separados

02/03

CONTRATOS DE COMPRA E VENDA


CONCEITO: contrato de compra e venda é o contrato pelo qual alguém (o
vendedor) se obriga a transferir ao comprador o domínio de coisa móvel ou
imóvel mediante uma remuneração, denominada preço
- Em regra, existe uma diferenciação entre a propriedade móvel e a
propriedade imóvel:
a) Propriedade móvel = transfere-se pela tradição (entrega da coisa)
b) Propriedade imóvel = transfere-se pelo registro do contrato no Cartório de
Registro Imobiliário (CRI)
- Dessa forma, o contrato de compra e venda traz somente o compromisso do
vendedor em transmitir a propriedade
- A coisa transmitida deve ser corpórea: se for incorpórea não há contrato
de compra e venda, mas sim um contrato de cessão de direitos

ELEMENTOS DA COMPRA E VENDA


- Partes (comprador e vendedor): ficando implícita a vontade livre, ou seja,
presume-se o consenso entre as partes (sem vício)
- Coisa (res)
- Preço (pretium)

RESTRIÇÕES À COMPRA E VENDA

DA VENDA ENTRE CÔNJUGES - ART 499


Art. 499, CC - “É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens
excluídos da comunhão.”
- O dispositivo acima possibilita a compra e venda entre cônjuges, desde que o
contrato seja compatível com o regime de bens por eles adotados
- Ou seja, só é possível a venda de bens excluídos da comunhão
- Em regra, o art. 499 não se aplica à comunhão universal de bens, pois em
sua redação diz que não é possível
- Se o bem for livre da comunhão universal de bens, é lícita e possível a venda
dele, caso contrário não, pois ninguém compra algo que já é seu
- Exemplo: se João é casado com Maria e quer vender para ela um bem
conquistado durante o casamento sob o regime de comunhão universal de
bens, isso não será possível, porque o bem é de ambos, já que foi
conquistado durante o casamento, e Maria não vai pagar por algo que já é
dela

DA VENDA CONDICIONADA À OUTORGA MARITAL - ART 1.647


Art. 1.647 - “Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges
pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação
absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.”
- Outorga marital
- Nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime de
comunhão absoluta:
a) Prestar fiança e aval = modalidades de garantias fidejussórias
b) Alienar/gravar ônus de bens imóveis = alienar é vender/dispor, e gravar é
colocar o bem em garantia. Aplica-se apenas aos bens imóveis

- O legislador foi omisso a qual modalidade de separação total foi aplicado o


art. 1647, surgindo então uma discussão doutrinária acerca disso:
a) Primeira corrente: a regra do 1.647 não se aplica ao regime da separação
absoluta de bens na modalidade legal ou obrigatória. A própria súmula 377
do supremo relativizou a incidência do 1.641, logo, essa relativização
também se aplica ao 1.647. O supremo deu ares de comunhão parcial de
bens àqueles que se casam na separação absoluta de bens na
modalidade legal ou obrigatória - prevalece como corrente majoritária
b) Segunda corrente: entende que a regra do 1.647 se aplica a ambas
modalidades de separação absoluta, justamente pois o legislador não fez
questão de diferenciar as espécies, apenas tratou do gênero separação
absoluta. A súmula 377 foi escrita na égide do Código de 1916

DA VENDA DE ASCENDENTE A DESCENDENTE - ART 496


Art. 496, CC - “É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se
os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido.
Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do
cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória.”
- Ou seja, o cônjuge do alienante precisa dar consentimento, bem como os
descendentes, independente do regime de comunhão de bens
- “É anulável” (caput) = indica que existe um prazo para a anulação do negócio
jurídico, pois é um vício sanável. Logo, se não for arguido em tempo hábil, ele
irá convalescer
- O dispositivo fala que é anulável, não nulo = o anulável quer dizer que existe
um prazo de nulidade para entrar com essa anulação e se ela não for arguida
no tempo correto, irá convalescer/restabelecer-se
- Discussão quanto ao prazo para anulação: (sem corrente certa)
a) Súmula 152 STF - “A ação para anular venda de ascendente a
descendente, sem consentimento dos demais, prescreve em quatro anos a
contar da abertura da sucessão. (revogada)” - Revogada
b) Súmula 494 STF - “A ação para anular venda de ascendente a
descendente, sem consentimento dos demais, prescreve em vinte anos,
contados da data do ato, revogada a Súmula 152.”
c) Enunciado 368 IV JDC - “O prazo para anular venda de ascendente para
descendente é decadencial de dois anos (art. 179 do Código Civil).”
- Meramente doutrinário, mas refletem a posição do STJ, sendo uma
posição adotada por muitas turmas deste tribunal

- Caso um consinta e o outro não, o beneficiado poderia propor uma ação de


suprimento, para que o juiz sucumba a não anuência do outro descendente e
o negócio seja realizado
- Ação de colação é o ato pelo qual o herdeiro informa, no inventário, o
recebimento de bens em vida, antecipado pelo autor da herança, desde que
extrapole os 50% que é de herança, pois caso não extrapolar, não caberá a
ação, a fim de equalizar os bens para ambos de maneira igual
- Se um deles não concordar, o negócio ainda poderá ser feito, desde que seja
feita antes uma ação de suprimento de consentimento, para suprimir
judicialmente o consentimento daquele que não autorizou
- Surge a discussão da possibilidade de aplicação do art. 496 à União
estável:
a) Primeira corrente (majoritária) = União Estável é equiparada ao
casamento, logo, aplica-se
b) Segunda corrente (Tartuce - minoritária) = diz que o art. 496 não se
aplica à união estável, por dois motivos: o legislador não coloca como
companheiro, mas sim cônjuge, além de que esse artigo é uma norma
restritiva, que deve ser interpretada restritivamente. Quando o STF
equipara casamento e união estável, essa comparação é apenas a direito
sucessório e direito de família, não tendo nada em relação ao direito
contratual. Logo, não é possível interpretar extensivamente uma norma
que é restritiva

- “Em ambos os casos” (parágrafo único) = em termos práticos de compra e


venda, a doutrina sempre foi unânime em dizer que esse parágrafo não fazia
sentido, porque …
- Então, para corrigir isso, foi feito o enunciado 177, da III jornada de DC:
“Por erro de tramitação, que retirou a segunda hipótese de anulação de
venda entre parentes (venda de descendente para ascendente), deve ser
desconsiderada a expressão "em ambos os casos", no parágrafo único do
art. 496.”
- Se o pai quer vender pro filho, ele precisa do consentimento da mãe e dos
outros filhos
- Se o filho quer vender para o pai, ele não precisa do consentimento dos
outros filhos

07/03
DA VENDA DE BENS SOB ADMINISTRAÇÃO - ART 497
Art. 497 - “Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em
hasta pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens
confiados à sua guarda ou administração
II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica
a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta;
III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros
serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar
em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender
a sua autoridade;
IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam
encarregados.”
- Regra de natureza objetiva = reflete uma incompatibilidade
- As incompatibilidades do art 497 são circunstanciais: o legislador quer
proteger a eticidade das relações, pois todos os indivíduos mencionados nos
incisos possuem domínio sobre o bem
- Essa regra revela uma incompatibilidade, ou seja, as pessoas descritas no
dispositivo estão impedidas de comprar e, caso o façam, o ato será nulo
● Inciso I
- Os tutores ou curadores não podem comprar os bens dos tutelados
- Isso porque lei receia que estas pessoas façam prevalecer sua posição
especial para obter vantagens, em detrimento dos titulares, sobre os bens
que guardam ou administram
● Inciso II
- Diz respeito aos funcionários públicos de maneira geral
- Visa proteger a moralidade pública
● Inciso III
- Diz respeito aos juízes e serventuários da justiça, mais especificamente
- Também visa proteger a moralidade e a estabilidade da ordem pública
● Inciso IV
- O motivo é também a moralidade, diante do munus que reveste tais
administradores temporários

REGRAS ESPECIAIS DA COMPRA E VENDA

CLÁUSULA DE COMPRA E VENDA A CONTENTO - ART 509


Art. 509 - “A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob
condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se
reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.”
- Também chamada de cláusula de experimentação
- É uma cláusula que traduz uma regra especial a compra e venda que
condiciona a consumação desse negócio jurídico à aprovação do comprador
- Ou seja, enquanto o comprador não se mostrar favorável a essa compra, não
demonstrar o aceite, o negócio não terá eficácia
- A venda não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu
agrado. Desse modo, a tradição não gerará a transferência da propriedade,
mas tão somente a da posse direta
- Exemplo: Ana vai a loja a fim de comprar um vestido, mas fica em dúvida se
que fazê-lo ou não, já que está caro. Então a loja permite que Ana leve o
vestido para casa, prove a roupa e lhe dá um prazo para manifestar seu
aceite, colocando uma cláusula dizendo que a venda só se consumará se a
Ana se mostrar favorável e adquirir o bem
- A cláusula a contento possibilitou a Ana estar em contato com o bem,
experimentá-lo, e só depois tomar a decisão do aceite

● Características desse negócio jurídico:


a) Potestativa = trata-se de uma condição potestativa do comprador, de
modo a ser uma faculdade, uma condição do comprador, ou seja, ele fica
com ela se quiser, é um direito subjetivo
b) Suspensiva = a compra e venda com a cláusula de venda a contento não
é imediata, os efeitos desse negócio jurídico não são imediatos
c) Condicional = ela depende das condições estabelecidas pelo comprador
d) Ato personalíssimo = significa que apenas a pessoa do comprador pode
manifestar essa vontade. O direito potestativo não passa aos herdeiros do
comprador (exemplo: se o comprador vem a falecer, não é possível passar
a vontade aos seus herdeiros, sendo assim, o negócio jurídico está extinto)

● Prazo na cláusula de compra e venda a contento


- É imprescindível que o vendedor coloque o prazo para a manifestação do
aceite do comprador
- Notificação: nos casos onde a venda a contento não tem prazo, o art. 512
determina que o vendedor deve notificar o comprador acerca dessa
manifestação de vontade
Art. 512 - “Não havendo prazo estipulado para a declaração do comprador, o
vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o
faça em prazo improrrogável.”
- A partir do momento em que se determina um prazo, o comprador está
vinculado a ele, ou seja, é obrigado a manifestar o aceite dentro desse
período estipulado
- Porém, quando o prazo não for determinado, a conduta do comprador pode
resultar em aceite tácito
- A manifestação de vontade do comprador pode ser expressa ou tácita:
a) Expressa = diz na cláusula que o comprador tem que manifestar sua
vontade de forma expressa dentro do prazo determinado
b) Tácita = hipóteses onde não há prazo ainda é possível a manifestação de
vontade tácita
- Vencendo o prazo, o vendedor deve interpelar o comprador a fim de saber se
o mesmo ficará ou não com o bem

VENDA SUJEITA À PROVA - ART 510


Art. 510 - “Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição
suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e
seja idônea para o fim a que se destina.”
- Venda sujeita à prova: dá ao comprador a oportunidade de “provar” o bem
que ele pretende adquirir
- Diferença entre venda a contento e venda sujeita a prova:
a) Venda a contento = comprador não conhece o bem que está comprando
b) Venda sujeita a prova = comprador conhece os atributos do bem que
está comprando (breve conhecimento)
- O conceito se difere da venda a contento, mas as consequências jurídicas
são as mesmas
- Na venda sujeita a prova, o comprador tem um breve conhecimento do bem
que está comprando, mas precisa de um prévio contato com o mesmo para
saber se corresponde às expectativas e se possui as qualidades que deseja
- Exemplo: cliente vai até uma concessionária e faz um teste drive, mas ainda
permanece em dúvida quanto a compra do automóvel. A gerente então
sugere que façam uma cláusula de venda sujeita a prova, permitindo que ele
fique com o carro por uma semana e, se gostar do carro, retorne para
concretizar a compra

VENDA POR AMOSTRA - ART 484


Art. 484 - “Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos,
entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas
correspondem.
Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver
contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no
contrato.”
- Amostra = é a reprodução perfeita, corpórea, de determinada coisa
]

- Protótipo = é o primeiro exemplar criado através de uma invenção


]

- Modelo = é a reprodução exemplificativa da coisa, por desenho ou por


imagem, acompanhada de descrição detalhada
- Antes da concretização do negócio jurídico, o vendedor disponibiliza uma
amostra, e o comprador é condicionado a comprar o produto através dessa
amostragem
- Ou seja, se a venda tiver como objeto bens móveis e se realizar por amostra,
protótipos ou modelos, há uma presunção de que os bens serão entregues
com a qualidade prometida
- Essa cláusula especial no contrato de compra e venda submete o produto
original àquilo que foi fornecido na amostra
- Se o produto original for diferente da amostragem, o comprador pode
executar o contrato e busca indenização
- Exemplo: negócios celebrados por viajantes que vendem tecidos, roupas e
outras mercadorias em lojas do interior do Brasil, sob a promessa de entregar
as peças conforme o mostruário (os antigos mascates)

VENDA AD MENSURAM - ART. 500


- É aquela modalidade de compra e venda onde o tamanho (dimensões) do
bem, são imprescindíveis para o negócio jurídico
Art. 500 - “Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de
extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em
qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir
o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a
resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço.
§ 1º Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente
enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da
área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em
tais circunstâncias, não teria realizado o negócio.
§ 2º Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha
motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador,
à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o
excesso.
§ 3º Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o
imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas
enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo
expresso, ter sido a venda ad corpus.”
- Exemplo: José compra uma fazenda de 500 alqueires, porém, quando pede
uma revisão das dimensões da mesma, descobre que na verdade a fazenda
tem 300 alqueires, o que causa uma diferenciação no próprio preço que José
pagou, já que ele pagou 200 alqueires a mais e não os recebeu
- Quando o produto comprado não corresponde às dimensões do que foi
estabelecido previamente no contrato e ao que foi pago, existem 3
possibilidades:
a) Pode exigir o complemento da área
b) Abatimento proporcional do preço
c) Resolução do contrato
- Se a diferença (defasagem) for de 5% e havendo consenso entre as
partes, o negócio poderá convalescer, pois o legislador entende que o
valor seria baixo (variação tolerável pelo comprador)

VENDA AD CORPUS - ART. 500


- Também se aplica o art. 500 descrito acima
- Apesar de serem regidas pelo mesmo artigo, a venda ad mensuram e a
venda ad corpus se diferenciam
- Na venda ad corpus, o que importa é a qualidade do bem, logo, as
dimensões do bem são meramente enunciativas
- Não exige que o vendedor complemente a área ou venha a abater o preço,
porque o comprador está comprando exatamente o que desejava, já que a
intenção era qualidade e não tamanho

VENDA DE COISAS CONJUNTAS - ART. 503


Art. 503 - “Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não
autoriza a rejeição de todas.”
- Regra especial na compra e venda onde tem-se um contrato com vários
objetos. Em regra, o vício de um desses objetos não prejudica os demais
- O defeito de um desses objetos não prejudica, não contamina os demais
objetos
- Exemplo: Ana vende para Maria um batom, um creme de rosto e uma toalha
de corpo. Porém, na toalha de corpo havia uma mancha. O fato de existir um
defeito nesse único produto não faz com que a venda dos outros dois
produtos deva ser anulada
- Porém, essa regra pode ser relativizada, ou seja, possui exceções
- Exceção = se uma pessoa compra uma carreta de porcos e um deles está
com gripe suína, o negócio jurídico pode ser desfeito, pois o defeito oculto
presente em um dos objetos contamina todos os outros

09/03

CLÁUSULAS ESPECIAIS
- Segundo Maria Helena Diniz: “O contrato de compra e venda, desde que as
partes o consintam, vem, muitas vezes, acompanhado de cláusulas
especiais, que embora não lhe retire os seus caracteres essenciais, alteram
sua fisionomia, exigindo a observância de normas particulares, visto que
esses pactos subordinam os efeitos de contrato a evento futuro e incerto,
tornando condicional o negócio” - (sucinta contextualização)
- Essas cláusulas especiais também são chamadas de pactos adjetos
- Diferença entre cláusulas especiais e regras especiais: as cláusulas
especiais, para valerem e terem eficácia, devem constar expressamente do
instrumento

CLÁUSULA DE RETROVENDA
Art. 505 - “O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de
recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço
recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que,
durante o período de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou
para a realização de benfeitorias necessárias.”
- Conceito: pacto inserido no contrato de compra e venda pelo qual o
vendedor reserva-se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado,
dentro de certo prazo, restituindo o preço e reembolsando todas as despesas
feitas pelo comprador no período de resgate, desde que previamente
ajustadas
- Essa cláusula confere ao vendedor o direito de desfazer a venda, reavendo
de volta o bem alienado dentro do prazo máximo de três anos (prazo
decadencial)
- Limitação: só se aplica à compra e venda de bens imóveis
- Prazo:
a) Pode ter o prazo máximo de 3 anos, sendo um prazo decadencial (não
pode passar de 3 anos)
b) É improrrogável
c) Conta-se o prazo a partir da data em que se conclui o contrato

- Exemplo: João vende um imóvel para Maria, com uma cláusula de


retrovenda. Se nessa venda, em um espaço de 3 anos, João se arrepender
de ter vendido o imóvel para maria, ele poderá exercer o direito de resgate e
desfazer o negócio jurídico
- Para que o vendedor possa restituir o bem, é necessário que entre com uma
ação de resgate e deposite o valor que foi pago pela compradora (devolva
seu dinheiro)
- Porém, se verificada a insuficiência do depósito judicial realizado, não será o
vendedor restituído no domínio da coisa, até e enquanto não for
integralmente pago o comprador. Ele terá uma última chance para quitar o
preço (boa-fé)
- Direito subjetivo do vendedor: o simples fato de se arrepender já é motivo
suficiente para exercer a retrovenda, não precisando buscar um justo motivo
- Segurança jurídica: é necessário que a cláusula seja gravada na matrícula
do imovel, pois isso impede que terceiro de boa fé venha e adquira o bem
- Exemplo: João vende o imóvel para Maria, com a cláusula de retrovenda.
Maria vende o imovel para Daniel. Se João se arrepender e quiser invocar a
cláusula de retrovenda, os mesmo que aconteceria à maria também
acontecerá à Daniel, ou seja, Jão pode pegar o imóvel de volta
- Oponível a terceiros: a cláusula de retrovenda, quando gravada na
matrícula, é oponível a terceiro que venha a adquirir o bem, ainda que o
mesmo esteja de boa fé
- Se não houver cláusula gravada na matrícula, a doutrina diverge quanto aos
efeitos:
a) Primeira corrente: Não é possível invocar a cláusula: o terceiro agiu de
boa-fé, logo está fora dessa relação, não tendo como saber, então deve
ficar com o bem
b) Segunda corrente: É possível invocar a cláusula: mesmo sendo de
boa-fé, o terceiro vai perder esse imovel (haverá evicção), e ele que
mova a ação contra o sujeito que vendeu a ele - posição mais adotada
- Benfeitorias: o vendedor só indenizará o comprador quanto às benfeitorias
necessárias e aquelas em que ele autorizou por escrito
- Benfeitoria necessária: são imprescindíveis à existência do bem
- Utilidade prática da cláusula: apesar de não ser muito comum no contrato de
compra e venda, possui algumas utilidades
1. Viés comercial = em compra e venda de propriedade comercial, é comum
as partes convencionarem por preço inferior ao que ele vale (barganha
econômica)
2. Garantia para o vendedor = se o comprador do negócio jurídico não
cumpre com o contrato, pode ser invocada a cláusula de retrovenda
● Transmissibilidade causa mortis ou cessão para herdeiros
- O direito de regresso se transfere aos herdeiros em caso de falecimento do
vendedor originário do negócio jurídico
- Se João vende o imóvel para Maria, com a cláusula de retrovenda no
contrato, e vem a falecer, seu direito de regresso é passado aos seus
herdeiros
● Cessão inter vivos
- Existem duas correntes:
1. Maria Helena Diniz - A cláusula de retrovenda não pode ser transferida
por cessão inter vivos, por ser uma cláusula personalíssima, um direito
subjetivo da pessoa, o que impossibilita sua cessão
2. Paulo Lobo - para ele é perfeitamente possível a cessão da cláusula de
retrovenda, pois se é possível fazer após a morte, também é possível fazer
inter vivos, já que não consta qualquer proibição expressa em lei
● Uso da cláusula para fins de fraude
- Muitas vezes, a cláusula de retrovenda é utilizada para simulação de negócio
jurídico
- Exemplo: João é eleito a prefeito mas começa a avacalhar e sofre uma ação
por improbidade administrativa, logo o valor da lesão que ele causou será
cobrado para cobrir o prejuízo causado ao erário. Na intenção de proteger
seu patrimônio, ele vende seus imóveis com cláusula de retrovenda, para
que, depois que essa situação passar, ele invoque o direito de regresso e
pegue seus bens de volta (simulação de um negócio jurídico)

CLÁUSULA DE PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA


Art. 513 - “A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de
oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento,
para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto.
Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá
exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se
imóvel.”
- Conceito: é aquela pela qual o comprador de um bem terá a obrigação de
oferecê-lo a quem lhe vendeu, por meio de notificação judicial ou
extrajudicial, para que este use do seu direito de prelação em igualdade de
condições (“tanto por tanto”) no caso de alienação futura
- Ou seja, dá ao vendedor do bem uma preferência para que, caso o
comprador venha a vendê-lo, ele possa exercer esse direito de preferência
- Vendedor = preemptor - antigo proprietário da coisa, detentor da preferência
- Atenção: não confundir PEREMPÇÃO CIVIL com PREEMPÇÃO
- Ausência de limitação: pode ser feita para bens móveis e bens imóveis
- Podem ser de duas modalidades:
a) Legal = a lei determina a estipulação do contrato
b) Convencional = as partes estipulam o contrato de forma convencional, à
sua vontade
- Exemplo: Maria vende uma moto para Ana. Porém, Maria faz um contrato
dizendo que, quando Ana resolver vender a moto, ela quer ter preferência na
compra, por ser a antiga dona da moto
- Art. 33 das leis de locação: a própria lei de locações impõe ao locatário a
preferência ao acesso desse bem (preferência legal)
- Outra modalidade legal, é aquela estipulada em condômino; condôminos tem
preferência na aquisição condominial vendida pelo outro condômino
- STJ: mesmo que seja em hasta pública, o direito de preferência dos
condôminos ainda tem que ser respeitado
- Cláusula de preferência convencional: pode ser convencionada por questão
<<
- Prazo de renovação convencional:
<

a) Bem móvel: 180 dias, contados a partir da tradição


b) Bem imóvel: 2 anos, contados a partir do registro da venda
- É possível renovação sucessiva desta cláusula
- Preferência convencional: assim que o prazo se vence, a cláusula deve ser
renovada
- Previsão legal: a renovação da cláusula não é obrigatória, pois a própria lei
está impondo a preferência
Art. 516 - “Inexistindo prazo estipulado, o direito de preempção caducará, se
a coisa for móvel, não se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não se
exercendo nos sessenta dias subseqüentes à data em que o comprador tiver
notificado o vendedor.”
- O prazo do art. 516 não se confunde com o prazo do art. 513:
a) Art. 513 = prazo de vigência da preferência, extensão da preferência
b) Art. 516 = prazo para manifestação do vendedor, após notificação, dentro
do período de extensão da preferência
- A preferência da o direito de, aquele que a tem, primeiro ter acesso ao bem,
mas não garante que ele terá o bem só porque a cláusula existe
Art. 518 - “Responderá por perdas e danos o comprador, se alienar a coisa
sem ter dado ao vendedor ciência do preço e das vantagens que por ela lhe
oferecem. Responderá solidariamente o adquirente, se tiver procedido de
má-fé.”
- Oponível a terceiros: é preciso que essa cláusula esteja prevista na
matricula do bem imovel para que possa ser oponível a terceiro de boa fé
- Se for bem móvel, pode-se colocar no documento dele
Art. 520 - “O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos
herdeiros.”
- Direito personalíssimo: não pode ser transferido por ato inter vivos e nem
por causa mortis
Art. 519 - “Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou,
ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado
direito de preferência, pelo preço atual da coisa.”
- Doutrina critica que o legislador não foi técnico quando usou o termo
“expropriar”, pois a CF permite a expropriação apenas de propriedade onde
há plantação de drogas ou lugares de trabalho escravos. O ato de expropriar
leva em consideração o bem estar da sociedade. Logo, para esse artigo,
desapropriar seria mais adequado
- Desapropriação: retirada compulsória do imóvel por interesse público

14/03
VENDA SOBRE DOCUMENTOS
Art. 529 - “Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída
pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos
pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.
Parágrafo único. Achando-se a documentação em ordem, não pode o
comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do
estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido comprovado.”
- Conceito: é uma cláusula em que a tradição, ou entrega da coisa, é
substituída pela entrega do documento correspondente à propriedade,
geralmente o título representativo do domínio
- Objeto: bens móveis
- Sendo prevista a cláusula e estando a documentação em ordem, não pode o
comprador recusar o pagamento, nem o vendedor recusar a entrega, a
pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o
defeito houver sido comprovado
<

- Exemplo: Maria é pecuarista e planta soja em sua fazenda. querendo


comprar um maquinário que só vende na Inglaterra, contrata uma empresa
terceirizada que vai buscar o produto no país extrangeiro. A partir do
momento em que Maria entrega os documentos à empresa é que a compra
se consuma
- Esses documentos envolvem: apólice de seguros, autorização alfandegária
do país comprador e do país vendedor, autorização dos órgãos reguladores,
se pertinente for, comprovante de pagamento desse bem (quitação)
<<,,,

- Toda a documentação estará relacionada ao objeto do contrato


- Em regra, o vendedor, que é quem está entregando o bem, é quem se
responsabiliza pelo bem até a entrega efetiva do bem ao comprador
- Porém, se dentre os documentos entregues houver uma apólice de seguros
assinada pelo comprador, a responsabilidade será do comprador e da
seguradora
Art. 531 - “Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice
de seguro que cubra os riscos do transporte, correm estes à conta do
comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato, tivesse o vendedor ciência
da perda ou avaria da coisa.”
- Ou seja, havendo apólice de seguro, visando a cobrir os riscos de transporte,
o prêmio deverá ser pago pelo comprador, salvo se houver má-fé do
vendedor, que tinha ciência da perda ou avaria da coisa
- A parte final do art. 531 valoriza o princípio da boa-fé objetiva

CLÁUSULA DE RESERVA DE DOMÍNIO


Art. 521 - “Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a
propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.”
- Conceito: por meio dessa cláusula, inserida na venda de coisa móvel
infungível, o vendedor mantém o domínio da coisa (exercício da propriedade)
até que o preço seja pago de forma integral pelo comprador
- O comprador recebe a mera posse direta do bem, mas a propriedade do
vendedor é resolúvel, eis que o primeiro poderá adquirir a propriedade com o
pagamento integral do preço
- Diferença entre posse e propriedade:
a) Posse = um locatário de uma casa, por exemplo, pode usufruir do bem,
mas não pode vendê-lo, pois ele não é o proprietário do bem, apenas o
possuidor indireto
b) Propriedade = o dono da casa alugada é o proprietário direto, podendo
não só usufruir do bem, como também vendê-lo, se for de sua vontade
- Sujeitos:
a) Comprador = faz a compra em parcelas
b) Vendedor = de imediato transfere a posse, mas só vai transferir a
propriedade quando quitar o valor total
- É uma cláusula que envolve compra e venda em prestação, ou seja, uma
compra e venda a crédito
- Bem: é uma coisa móvel infungível, ou seja, é um bem que não pode ser
substituído em espécie, qualidade, etc
- Será transferida a posse de domínio, mas a propriedade só será efetivamente
transferida quando houver a total quitação desse bem
- Em eventual prejuízo dessa posse, os legitimados para proteger a posse
desse bem móvel são tanto o comprador quanto o vendedor, pois ambos
saem em prejuízo. Porém, a compradora não é proprietária, tendo somente a
posse do bem, ela somente será proprietária quando quitar o pagamento do
bem
Art. 522 - “A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e
depende de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros.”

- Não há cláusula de reserva de domínio tácita: deve ser expressa


- Ou seja, o art. 522 estipula como formalidade a sua estipulação por escrito e
o registro no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do comprador,
como condição de validade perante terceiros de boa-fé (eficácia erga
omnes)
- Não sendo levada a registro, a referida cláusula não produzirá efeitos perante
terceiros, mas apenas efeitos inter partes
- Observação: a propriedade do bem é transferida através da quitação, ou
seja, quitou, transferiu
Art. 524 - “A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento
em que o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa
responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue.”
- Pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando a posse do
bem lhe é entregue
- Exceção à regra de que a coisa perece para o dono (princípio res perit
domino), adotando o princípio “res perit emptoris” (a coisa perece para o
comprador)
- Elementos:
<

a) Compra a crédito
b) Objeto infungível
c) Existência de prestações
d) Transferência da propriedade após quitação
Art. 526 - “Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor mover contra
ele a competente ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o
mais que lhe for devido; ou poderá recuperar a posse da coisa vendida.”
- No caso de mora do comprador, o vendedor tem duas opções previstas no
art. 526, do atual Código Civil:
a) Promover a competente ação de cobrança das parcelas vencidas e
vincendas e o mais que lhe for devido
b) Recuperar a posse da coisa vendida
- Porém, uma ação de cobrança não resolveria o problema, pois o que o
vendedor quer não é apenas cobrar aquilo que não foi pago, mas também
recuperar a posse plena do bem novamente
- Dessa discussão doutrinária, surgem duas correntes:
1. Primeira = o mecanismo que o vendedor teria para recuperar a posse
desse bem seria através da instauração uma ação de busca e apreensão -
Fredie Didier Jr, Daniel Amorim Assumpção Neves, escrita no CC de 73
2. Segunda = a ação cabível é a ação de reintegração de posse, porque o
dono já tem a propriedade, então ele só precisa tomar posse novamente -
posição majoritária do STJ, defendida por Flávio Tartuce

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
- É um contrato autônomo que não se confunde com a cláusula de reserva
de domínio
- A dívida é garantida pelo próprio bem
- A diferença se encontra nos sujeitos: na alienação fiduciária existem 3
contratos, com 3 sujeitos, ao contrário da cláusula de reserva de domínio,
que tem somente um contrato
- Observação 1 = requer 3 sujeitos, sendo o comprador, o vendedor e a
instituição financeira (alienante)
- Observação 2 = são necessários 3 contratos, sendo:
a) Compra e venda entre comprador e vendedor
b) Empréstimo (mútuo financeiro) entre comprador e banco
c) Venda do banco para o comprador após a quitação
- Na compra e venda com cláusula de reserva de domínio há apenas um
contrato, já na alienação fiduciária são necessários três

16/03
VENDA EM CONSIGNAÇÃO (CONTRATO ESTIMATÓRIO)
,

Art. 531 - “Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice


de seguro que cubra os riscos do transporte, correm estes à conta do
comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato, tivesse o vendedor ciência
da perda ou avaria da coisa.”
- Conceito: é um contrato em que o consignante transfere ao consignatário
bens móveis, para que o último os venda, pagando um preço de estima; ou
devolva os bens findo o contrato, dentro do prazo ajustado
- Ocorre com bens imóveis
- Na venda em consignação existem 2 personagens:
a) Consignante = consegue a posse do bem para o consignatário
b) Consignatário = vende o bem e resarce o consignante
- É uma excelente alternativa no meio comercial, pq nao força o consignatário
a investir um valor que não sabe se vai ter retorno
- Exemplo: Ambev transfere o bem à medida que A vende as garrafas. Se
sobrar, ele (A) devolve para a Ambev
- Sendo assim, o consignante apenas transfere a posse para o consignatário,
ou seja, continua sendo proprietário do bem

Art. 534 - “Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao


consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço
ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa
consignada.”
Art. 536 - “A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro
pelos credores do consignatário, enquanto não pago integralmente o preço.”
- O proprietário da coisa é o consignante, tendo o consignatário apenas a sua
posse direta
- Ou seja, o consignatário é só possuidor do bem, e não proprietário
- A propriedade do consignante é resolúvel, sendo extinta se a outra parte
pagar o preço de estima. Eventualmente, se a coisa consignada foi
apreendida ou sequestrada, poderá o consignante opor embargos de terceiro
em eventual ação de execução promovida contra o consignatário.
- Em uma eventual execução entre um terceiro e o consignatário, o
consignante, para conseguir provas de que o bem é dele, usa um mecanismo
jurídico chamado embargos de terceiros, que visa constituir prova para
mostrar que o bem consignado não é do consignatário, logo, não pode ser
penhorado

Art. 537 - “O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída
ou de lhe ser comunicada a restituição.”
- O art. limita o direito de propriedade do consignante, sendo o bem inalienável
em relação a ele, na vigência do contrato estimatório
- Ou seja, se o consignante deixa o bem na posse do consignatário, não pode
o consignante vender ou dispor deste bem em consignação enquanto durar o
contrato estimatório
- O consignante só poderá vender o bem para terceiros se:
a) Houver rescisão do contrato antes do tempo
b) Encerrar-se o contrato

● Consignante pode estipular multa?


- É possível, quando o consignatário não conseguir vender o bem após o
prazo, quando assumir responsabilidade sobre elas
- Naqueles bens consignados não pode ser estipulado multa, porque
desnaturaria o contrato
- Se a multa tiver o condão de coagir e desnaturar o contrato, não será
possível estipular

● Em casos de deterioração
a) Se for causada pelo consignatário: é responsabilidade dele
b) Se for caso fortuito ou causa maior: em tese, poderá ser eximido dessa
responsabilidade
- Vários julgados do STJ equipara essa responsabilidade com a
responsabilidade de depósito

● Obrigação do consignatário: alternativa ou facultativa?


- O Superior Tribunal de Justiça já entendeu que a obrigação do consignatário
é alternativa:
“Direito comercial. Falência. Pedido de restituição de dinheiro. Alienação de
mercadorias recebidas em consignação antes da quebra. Contabilização
indevida pela falida do valor equivalente às mercadorias. Dever da massa
restituir ou as mercadorias ou o equivalente em dinheiro. Súmula 417 do
STF. O que caracteriza o contrato de venda em consignação, também
denominado pela doutrina e pelo atual Código Civil (arts. 534 a 537) de
contrato estimatório, é que (i) a propriedade da coisa entregue para venda
não é transferida ao consignatário e que, após recebida a coisa, o
consignatário assume uma obrigação alternativa de restituir a coisa ou
pagar o preço dela ao consignante. Os riscos são do consignatário, que
suporta a perda ou deterioração da coisa, não se exonerando da
obrigação de pagar o preço, ainda que a restituição se impossibilite sem
culpa sua. Se o consignatário vendeu as mercadorias entregues antes da
decretação da sua falência e recebeu o dinheiro da venda, inclusive
contabilizando-o indevidamente, deve devolver o valor devidamente corrigido
ao consignante. Incidência da Súmula 417 do STF. A arrecadação da coisa
não é fator de obstaculização do pedido de restituição em dinheiro quando a
alienação da mercadoria é feita pelo comerciante anteriormente à decretação
da sua quebra. Recurso especial ao qual se nega provimento” (STJ, REsp
710.658/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 06.09.2005, DJ
26.09.2005, p. 373).”

CONTRATO DE TROCA

CONCEITO
Art. 533 - “Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda,
com as seguintes modificações:
I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por
metade as despesas com o instrumento da troca;
II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e
descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do
alienante.”
- É aquele pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não
seja dinheiro. Operam-se, ao mesmo tempo, duas vendas, servindo as coisas
trocadas para uma compensação recíproca. Isso justifica a aplicação residual
das regras previstas para a compra e venda
- Ou seja, é uma espécie de concessão mútua entre os contratantes

OBJETO
- O objeto da permuta há de ser dois bens
- Se um dos contraentes der dinheiro ou prestar serviços, não haverá troca,
mas compra e venda
- Podem ser trocados todos os bens que puderem ser vendidos, ou seja, os
bens alienáveis, mesmo sendo de espécies diversas e valores diferentes

● Trocas de valores desiguais


- É possível que o objeto das trocas seja de valores desiguais, não há limite
para essa diferença entre os valores
- Entretanto, a parte “privilegiada” em relação a valores tem o dever de
ressarcimento
- Regra = o simples fato do bem ser desigual não anula a troca, desde que
haja o acordo entre as partes, o ressarcimento, evitando o negócio jurídico
simulado
- Exceção = quando houver trocas entre ascendentes e descendentes e essa
troca envolver valores desiguais

CARACTERÍSTICAS
- Aplicam-se as disposições do contrato de compra e venda nos contratos de
troca, de forma análoga
<

- Bilateral ou sinalagmático: traz direitos e deveres proporcionais


- Oneroso: pela presença de sacrifício de vontade para as partes
- Compradores: cada um deles se torna responsável por cada uma das
despesas oriundas dessa troca
- Contratantes: cada um deles se torna responsável pelo bem que adquirem
- As partes do contrato são denominadas permutantes ou tradentes (tradens)
- Exemplo: Maria tem uma moto e Vitória um carro, elas desejam trocar, onde
Maria quer o carro e Vitória quer a moto. Ocorre que cada uma é responsável
pela metade das despesas de cada uma

● É possível uma troca entre descendentes e ascendentes?


R: Sim, mas se essa troca envolver valores desiguais é necessária anuência
do ascendente e dos outros herdeiros

DOAÇÃO MODAL GRATUITA

BILATERAL

UNILATERAL IMPERFEITA

ACEITE

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