nosso cotidiano e decorrem da colaboração, da confiança, da promessa e do crédito. Desde que observadas regras e determinados princípios, podemos concluir que são pactos que fazem “lei entre as partes”, vinculando-as. Portanto, para que possam existir, devem possuir requisitos que possam torná-los válidos. Não obstante, os contratos também têm um fim, havendo formas normais e anormais de sua extinção. O contrato, tal qual o entendemos hoje, é fruto do jusnaturalismo e do nascimento do capitalismo. Nos períodos anteriores o indivíduo era determinado pelo grupo em que estava inserido e pela função que exercia dentro deste grupo, com o nascimento do capitalismo, o indivíduo passa a ser determinado por sua vontade autônomo, sendo, o contrato o meio mais utilizado para fazer valer essa vontade. Atualmente os contratos são objetivados, massificados, standartizados, despersonalizados, em contraponto àquele modelo de contrato pessoalizado. Novas figuras contratuais surgem: contratos por adesão, contratos necessários, todos fenômenos, em que a teoria da autonomia da vontade, ponto neufrágico, da teoria contratual liberal, sofre grandes modificações. Outro fenômeno, o desenvolvimento dos meios de comunicação, em especial, da publicidade, interfere na ideologia da vontade livre. A publicidade hoje determina, em muito, à vontade e a necessidade de cada indivíduo em contratar, ou ter ou não ter algo. Já se tornou lugar comum afirmar que o Direito Contratual vive hoje novo paradigma, pautado pela superação do dogma da autonomia privada e do absolutismo do princípio de que os pactos, uma vez contratados, haveriam de ser cumpridos nos seus estritos termos. Não se trata, por óbvio, de afastar-se a observância obrigatória do pactuado, mas sim de compreender que o Poder Judiciário tem o poder (rectius, dever) de readequar as contratações que ofendam a princípios sensíveis da ordem jurídica. A constatação dialoga com o fato de que a liberdade e igualdade dos sujeitos não estão presentes em todos os contratos, pelo que o conteúdo contratual nem sempre é justo. Do outro lado da moeda, está a constatação de que o Direito das Obrigações, especialmente no campo dos contratos, tem rumado em direção à prevalência da conservação dos pactos em detrimento de sua invalidade. Sustenta- se que, em sendo possível a produção de efeitos, não seria crível impor-se a sanção de invalidade (seja nulidade, seja anulabilidade) por serem estas situações patológicas. Prefere-se, assim, a manutenção do pactuado, ainda que sob nova perspectiva. A força maior e o caso fortuito são institutos que se inserem no universo dos contratos, estes instrumentos de criação e circulação de riquezas patrimoniais mais frequentes e com maior variedade de tipos em qualquer economia orientada pelo princípio da livre iniciativa, como a brasileira. Eles se inserem tecnicamente na disciplina de direito das obrigações, e indicam um caminho possível para lidar com certas situações de descumprimento contratual, aquelas relacionadas a eventos necessários e que geram efeitos inevitáveis, que as partes contratantes não possam impedir. Patrimônio é o conjunto de relações jurídicas de natureza econômica, de titularidade de uma pessoa física, jurídica ou formal. Apurada e definida a responsabilidade civil, torna-se necessária a fixação da indenização devida ao ofendido em relação ao dano causado (aestimatio damni), o que é feito por meio da liquidação do dano, procedimento necessário para estabelecer o valor destinado a recompor o prejuízo causado ao patrimônio do ofendido. A obrigatoriedade dos contratos representa a força vinculante das convenções, como ninguém é obrigado a contratar pelo princípio da autonomia da vontade, os que o fizerem serão obrigados a cumprir o contrato que celebraram se este for válido e eficaz, pois foram as partes que escolheram e aceitaram os termos e cláusulas descritos sem interferência do juiz. A necessidade de segurança jurídica se explica como função social do contrato, uma vez que se os contratantes não tivessem a intenção de cumpri-lo, este instrumento deixaria de ser confiável, o que geraria tumulto e caos social. Em outras palavras, a imutabilidade do contrato decorre da convicção de que o contrato faz lei entre as partes. A instauração da função social do contrato foi a mais relevante inovação da reforma civil, no que tange o âmbito contratual. O contrato não pode mais ser totalmente individualista, assim como suas partes não podem mais ter plena autonomia. Suas cláusulas não podem ser mais estipuladas sem levar em consideração os danos ou sequelas que o seu cumprimento pode acarretar. O contrato está submetido e obrigado a preservar pelo bem estar da sociedade em que estão inseridos.
2- Os reflexos da Constituição de 1988 no Direito Contratual Os
contratos são os principais instrumentos de transferência de riquezas e de obrigações livremente convencionadas no Estado Brasileiro. Neste sentido, destaca-se a importância deste, para a economia brasileira e o bom convívio social dos indivíduos, desta nação.
Entretanto, em momento anterior a Constituição Federal de 1988, os
contratos não carregavam finalidades essenciais, tendo relevância somente entre os particulares interessados, pois eram desprovidos de interesse por parte do Estado, independentemente do tipo de convenção realizada e o fim destinado. O direito civil passou por um processo de reconstrução de suas bases nas últimas três décadas, houve uma mudança de perspectiva em seu traço ideológico. Ao criar um novo código civil, o legislador procurou primeiramente atualizar o ordenamento jurídico diante dos inúmeros posicionamentos já adotados pela doutrina e pela jurisprudência, porém não amparados legalmente. Com essa postura, a sociedade tornar-se-ia mais segura de seus direitos e deveres civis, visto que matérias civis já incorporadas no cotidiano social adquiriram força de lei. Entretanto, a legislação civil ficou aquém das perspectivas da sociedade, que buscava no novo código civil um grande alicerce para as inusitadas relações sociais e jurídicas que estão a cada dia tornando-se realidade. Os principais pontos de alteração do código civil são verdadeiras atualizações do ordenamento jurídico, baseadas nas consolidações jurisprudenciais e doutrinárias. Para Norberto Bobbio, as normas jurídicas nunca nascem sozinhas, ou soltas, mas sim, dentro de um contexto, de forma que elas criam relações específicas entre si. É importante ressaltar que um conjunto, ou sistema, de normas é denominado de ordenamento jurídico; sendo que a palavra “direito”, para Bobbio (1995b, p. 19 - 20), também significa “ordenamento jurídico”.
Contudo, para se entender o que é o ordenamento jurídico, é preciso
compreender o contexto de criação das regras jurídicas e, por conseguinte, a sua sistematização. Com o desenvolvimento social e a crescente complexidade da sociedade, tornouse necessária a sistematização do direito (junto com sua codificação). Dessa forma, nasce o ordenamento jurídico que não é composto por uma ou algumas normas, mas sim por uma infinidade delas, sendo que são criadas mais a cada dia para satisfazer às necessidades da sociedade e de seu tempo, e para controlar a crescente complexidade social. A complexidade do ordenamento jurídico se dá a partir do momento em que a demanda por normas é tão grande que ele precisa buscá-las em diversas fontes. O “poder supremo” recorre, então, a alguns artifícios: a) busca normas em diversos ordenamentos (recepção) – podendo até ser de ordenamentos anteriores; e b) confere o poder de criar normas a órgãos ou poderes inferiores (delegação). É de fundamental importância conhecer e compreender alguns princípios constitucionais, base de toda legislação existente no território brasileiro, tais como, o Princípio da Supremacia Constitucional afirma que a Constituição Federal é a legislação suprema, sendo as demais legislações criadas com base na Constituição, sob pena de ser declarada inconstitucional, ou seja, não respeitam as normas e princípios estabelecidos pela Carta Magna. O Princípio da Unidade da Constituição, conforme Puccinelli, declara que “a Constituição deve ser interpretada de forma globalizada com vistas a harmonizar e superar aparentes antinomias entre as partes que a compõe”.
O Princípio da Interpretação Conforme a Constituição aplica-se às
normas que possuem mais de um significado, devendo-se adotar aquele que mais se aproxime do propósito constituinte. Princípio da Força Normativa da Constituição “determina que, perante problemas constitucionais, o intérprete confira ao conflito uma solução capaz de resultar na maior otimização possível das normas constitucionais” Puccinelli (2014, p.86). A ordem econômica se realiza mediante contratos. A atividade econômica é um complexo de atos contratuais direcionados a fins de produção e distribuição dos bens e serviços que atendem às necessidades humanas e sociais. É na ordem econômica que emerge o Estado social e se cristaliza a ideologia constitucionalmente estabelecida. Os princípios gerais da atividade econômica, contidos nos artigos 170 e seguintes da Constituição brasileira de 1988, estão a demonstrar que o paradigma de contrato neles contidos e o do Código Civil não são os mesmos. O Código contempla o contrato entre indivíduos autônomos e formalmente iguais, realizando uma função individual. A Constituição apenas admite o contrato que realiza a função social, a ela condicionando os interesses individuais, e que considera a desigualdade material das partes. Com efeito, a ordem econômica tem por finalidade “assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (art. 170). A justiça social importa “reduzir as desigualdades sociais e regionais” (art. 3º e inciso VII do art. 170).
São, portanto, incompatíveis com a Constituição as políticas
econômicas públicas e privadas denominadas neoliberais, pois pressupõem um Estado mínimo e total liberdade ao mercado, dispensando a regulamentação da ordem econômica, que só faz sentido por perseguir a função social e a tutela jurídica dos mais fracos e por supor a intervenção estatal permanente (legislativa, governamental e judicial).
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