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1- Conceito de contrato e seus elementos.

Os contratos fazem parte do


nosso cotidiano e decorrem da colaboração, da confiança, da
promessa e do crédito. Desde que observadas regras e
determinados princípios, podemos concluir que são pactos que
fazem “lei entre as partes”, vinculando-as. Portanto, para que
possam existir, devem possuir requisitos que possam torná-los
válidos.
Não obstante, os contratos também têm um fim, havendo formas
normais e anormais de sua extinção. O contrato, tal qual o
entendemos hoje, é fruto do jusnaturalismo e do nascimento do
capitalismo. Nos períodos anteriores o indivíduo era determinado
pelo grupo em que estava inserido e pela função que exercia dentro
deste grupo, com o nascimento do capitalismo, o indivíduo passa a
ser determinado por sua vontade autônomo, sendo, o contrato o
meio mais utilizado para fazer valer essa vontade. Atualmente os
contratos são objetivados, massificados, standartizados,
despersonalizados, em contraponto àquele modelo de contrato
pessoalizado.
Novas figuras contratuais surgem: contratos por adesão, contratos
necessários, todos fenômenos, em que a teoria da autonomia da
vontade, ponto neufrágico, da teoria contratual liberal, sofre grandes
modificações. Outro fenômeno, o desenvolvimento dos meios de
comunicação, em especial, da publicidade, interfere na ideologia da
vontade livre. A publicidade hoje determina, em muito, à vontade e a
necessidade de cada indivíduo em contratar, ou ter ou não ter algo.
Já se tornou lugar comum afirmar que o Direito Contratual vive hoje
novo paradigma, pautado pela superação do dogma da autonomia
privada e do absolutismo do princípio de que os pactos, uma vez
contratados, haveriam de ser cumpridos nos seus estritos termos.
Não se trata, por óbvio, de afastar-se a observância obrigatória do
pactuado, mas sim de compreender que o Poder Judiciário tem o
poder (rectius, dever) de readequar as contratações que ofendam a
princípios sensíveis da ordem jurídica.
A constatação dialoga com o fato de que a liberdade e igualdade
dos sujeitos não estão presentes em todos os contratos, pelo que o
conteúdo contratual nem sempre é justo. Do outro lado da moeda,
está a constatação de que o Direito das Obrigações, especialmente
no campo dos contratos, tem rumado em direção à prevalência da
conservação dos pactos em detrimento de sua invalidade. Sustenta-
se que, em sendo possível a produção de efeitos, não seria crível
impor-se a sanção de invalidade (seja nulidade, seja anulabilidade)
por serem estas situações patológicas. Prefere-se, assim, a
manutenção do pactuado, ainda que sob nova perspectiva. A força
maior e o caso fortuito são institutos que se inserem no universo dos
contratos, estes instrumentos de criação e circulação de riquezas
patrimoniais mais frequentes e com maior variedade de tipos em
qualquer economia orientada pelo princípio da livre iniciativa, como a
brasileira. Eles se inserem tecnicamente na disciplina de direito das
obrigações, e indicam um caminho possível para lidar com certas
situações de descumprimento contratual, aquelas relacionadas a
eventos necessários e que geram efeitos inevitáveis, que as partes
contratantes não possam impedir. Patrimônio é o conjunto de
relações jurídicas de natureza econômica, de titularidade de uma
pessoa física, jurídica ou formal. Apurada e definida a
responsabilidade civil, torna-se necessária a fixação da indenização
devida ao ofendido em relação ao dano causado (aestimatio damni),
o que é feito por meio da liquidação do dano, procedimento
necessário para estabelecer o valor destinado a recompor o prejuízo
causado ao patrimônio do ofendido. A obrigatoriedade dos contratos
representa a força vinculante das convenções, como ninguém é
obrigado a contratar pelo princípio da autonomia da vontade, os que
o fizerem serão obrigados a cumprir o contrato que celebraram se
este for válido e eficaz, pois foram as partes que escolheram e
aceitaram os termos e cláusulas descritos sem interferência do juiz.
A necessidade de segurança jurídica se explica como função social
do contrato, uma vez que se os contratantes não tivessem a intenção
de cumpri-lo, este instrumento deixaria de ser confiável, o que
geraria tumulto e caos social. Em outras palavras, a imutabilidade do
contrato decorre da convicção de que o contrato faz lei entre as
partes. A instauração da função social do contrato foi a mais
relevante inovação da reforma civil, no que tange o âmbito contratual.
O contrato não pode mais ser totalmente individualista, assim como
suas partes não podem mais ter plena autonomia. Suas cláusulas
não podem ser mais estipuladas sem levar em consideração os
danos ou sequelas que o seu cumprimento pode acarretar. O
contrato está submetido e obrigado a preservar pelo bem estar da
sociedade em que estão inseridos.

2- Os reflexos da Constituição de 1988 no Direito Contratual Os


contratos são os principais instrumentos de transferência de riquezas
e de obrigações livremente convencionadas no Estado Brasileiro.
Neste sentido, destaca-se a importância deste, para a economia
brasileira e o bom convívio social dos indivíduos, desta nação.

Entretanto, em momento anterior a Constituição Federal de 1988, os


contratos não carregavam finalidades essenciais, tendo relevância
somente entre os particulares interessados, pois eram desprovidos
de interesse por parte do Estado, independentemente do tipo de
convenção realizada e o fim destinado. O direito civil passou por um
processo de reconstrução de suas bases nas últimas três décadas,
houve uma mudança de perspectiva em seu traço ideológico. Ao
criar um novo código civil, o legislador procurou primeiramente
atualizar o ordenamento jurídico diante dos inúmeros
posicionamentos já adotados pela doutrina e pela jurisprudência,
porém não amparados legalmente. Com essa postura, a sociedade
tornar-se-ia mais segura de seus direitos e deveres civis, visto que
matérias civis já incorporadas no cotidiano social adquiriram força de
lei. Entretanto, a legislação civil ficou aquém das perspectivas da
sociedade, que buscava no novo código civil um grande alicerce para
as inusitadas relações sociais e jurídicas que estão a cada dia
tornando-se realidade. Os principais pontos de alteração do código
civil são verdadeiras atualizações do ordenamento jurídico, baseadas
nas consolidações jurisprudenciais e doutrinárias. Para Norberto
Bobbio, as normas jurídicas nunca nascem sozinhas, ou soltas, mas
sim, dentro de um contexto, de forma que elas criam relações
específicas entre si. É importante ressaltar que um conjunto, ou
sistema, de normas é denominado de ordenamento jurídico; sendo
que a palavra “direito”, para Bobbio (1995b, p. 19 - 20), também
significa “ordenamento jurídico”.

Contudo, para se entender o que é o ordenamento jurídico, é preciso


compreender o contexto de criação das regras jurídicas e, por
conseguinte, a sua sistematização. Com o desenvolvimento social e
a crescente complexidade da sociedade, tornouse necessária a
sistematização do direito (junto com sua codificação). Dessa forma,
nasce o ordenamento jurídico que não é composto por uma ou
algumas normas, mas sim por uma infinidade delas, sendo que são
criadas mais a cada dia para satisfazer às necessidades da
sociedade e de seu tempo, e para controlar a crescente
complexidade social. A complexidade do ordenamento jurídico se dá
a partir do momento em que a demanda por normas é tão grande
que ele precisa buscá-las em diversas fontes. O “poder supremo”
recorre, então, a alguns artifícios: a) busca normas em diversos
ordenamentos (recepção) – podendo até ser de ordenamentos
anteriores; e b) confere o poder de criar normas a órgãos ou poderes
inferiores (delegação). É de fundamental importância conhecer e
compreender alguns princípios constitucionais, base de toda
legislação existente no território brasileiro, tais como, o Princípio da
Supremacia Constitucional afirma que a Constituição Federal é a
legislação suprema, sendo as demais legislações criadas com base
na Constituição, sob pena de ser declarada inconstitucional, ou seja,
não respeitam as normas e princípios estabelecidos pela Carta
Magna. O Princípio da Unidade da Constituição, conforme Puccinelli,
declara que “a Constituição deve ser interpretada de forma
globalizada com vistas a harmonizar e superar aparentes antinomias
entre as partes que a compõe”.

O Princípio da Interpretação Conforme a Constituição aplica-se às


normas que possuem mais de um significado, devendo-se adotar
aquele que mais se aproxime do propósito constituinte. Princípio da
Força Normativa da Constituição “determina que, perante problemas
constitucionais, o intérprete confira ao conflito uma solução capaz de
resultar na maior otimização possível das normas constitucionais”
Puccinelli (2014, p.86). A ordem econômica se realiza mediante
contratos. A atividade econômica é um complexo de atos contratuais
direcionados a fins de produção e distribuição dos bens e serviços
que atendem às necessidades humanas e sociais. É na ordem
econômica que emerge o Estado social e se cristaliza a ideologia
constitucionalmente estabelecida. Os princípios gerais da atividade
econômica, contidos nos artigos 170 e seguintes da Constituição
brasileira de 1988, estão a demonstrar que o paradigma de contrato
neles contidos e o do Código Civil não são os mesmos. O Código
contempla o contrato entre indivíduos autônomos e formalmente
iguais, realizando uma função individual. A Constituição apenas
admite o contrato que realiza a função social, a ela condicionando os
interesses individuais, e que considera a desigualdade material das
partes. Com efeito, a ordem econômica tem por finalidade “assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social” (art.
170). A justiça social importa “reduzir as desigualdades sociais e
regionais” (art. 3º e inciso VII do art. 170).

São, portanto, incompatíveis com a Constituição as políticas


econômicas públicas e privadas denominadas neoliberais, pois
pressupõem um Estado mínimo e total liberdade ao mercado,
dispensando a regulamentação da ordem econômica, que só faz
sentido por perseguir a função social e a tutela jurídica dos mais
fracos e por supor a intervenção estatal permanente (legislativa,
governamental e judicial).

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