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INTRODUÇÃO
1.2- Boa fé
3.1- Caso fortuito ou forca maior e a sua incidência nos contratos durante a
pandemia
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
No que tange aos impactos jurídicos, o que mais afetou diretamente são as
relações jurídicas privadas, nas quais eram regidas por um contrato celebrado antes da
pandemia e que não previa em suas clausulas ou formas para extinção ou modificação
do objeto contratado.
A doutrina, uma das fontes do direito, buscando uma posição acerca das diversas
demandas jurídicas que surge em decorrência deste fato imprevisível, acerca do
adimplemento nas obrigações contratuais durante a pandemia, resgatam os princípios e
teorias contratuais que pode ser argüidas para fins de solução dos conflitos pertinentes a
contratos que foram diretamente atingidos em decorrência da pandemia.
Para Tartuce (2019), “princípios são abstraídos das normas, dos costumes, da
doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais.” (Tartuce
2019, p.90)
A “liberdade de contratar pode ser vista sob dois aspectos. Pelo prisma
da liberdade propriamente dita de contratar ou não, estabelecendo se o
conteúdo do contrato, ou pelo prisma da escolha da modalidade do
contrato. A liberdade contratual permite que as partes se valham dos
modelos contratuais constantes do ordenamento jurídico (contratos
típicos), ou criem uma modalidade de contrato de acordo com suas
necessidades (contratos atípicos). Em tese, a vontade contratual
somente sofre limitação perante uma norma de ordem pública.”
(Venosa, 2020, p. 51)
Dentro desta dicotomia pela qual se faz presente neste principio entre “liberdade
de contratar” e intervenção estatal limitando esta liberdade, neste sentido Pereira (2003):
1.2- BOA- FÉ
“A boa-fé objetiva pressupõe: (a) uma relação jurídica que Ligue duas
pessoas, impondo-Lhes especiais deveres mútuos de conduta; (b)
padrões de comportamento exigíveis do profissional competente,
naquilo que se traduz como bonus pater famiLias; (c) reunião de
condições suficiente para ensejar na outra parte um estado de
confiança no negócio celebrado.” (Rosenvald e Farias 2017, p. 174)
A boa fé objetiva esta ligada na conduta humana, ou seja, em uma ação positiva
esperada pela outra parte. A boa fé subjetiva esta muito ligada a condutas éticas e
morais previamente estabelecidas, como por exemplo, se um sujeito assume a obrigação
X, é esperado que ele cumpra com esta obrigação. Venosa (2020) elucida que na boa fé
objetiva:
A função social dos contratos estende o interesse contratual, para uma visão
ampla, na qual deverá atender esse limite contratual, conforme dispõe art 421 C.C./2002
“A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato” (Código civil brasileiro 2002), nesse sentido, Tartuce (2019) “o, a função
social dos contratos visa à proteção da parte vulnerável da relação contratual.” (Tartuce
2019, p.102).
“O contrato não "é" função social. Ele é dotado de função social. Não
existe uma hierarquia que submeta a autonomia privada aos desígnios
de uma coletividade, como se os contratantes fossem zeladores a
serviço da sociedade. Ao inverso, a coletividade pode ser
materializada no conjunto de pessoas que integram um mercado de
bens e serviços e aspiram pela conciliação entre uma eficiente
circulação de créditos e uma justa, previsível e segura regulamentação
dos dinâmicos interesses que alicerçam esse mercado. Pelo contrário,
a função social pode exercitar importante papel de fortalecimento da
ordem do mercado, tutelando instituições, princípios e regras que
promovam um saudável ambiente econômico concorrencial. Caberá à
doutrina, ao legislador e aos tribunais o mister de aclarar a função
social dos diversos modelos jurídicos negociais, elencando-se aí as
situações patrimoniais do contrato, a propriedade, o direito de , família
e as sucessões, bem como os negócios jurídicos não patrimoniais
ligados aos direitos da personalidade.”
Por tanto, a função social, esta muito mais ligada a uma limitação interna, pelas
partes, do que uma limitação externa, haja vista que o contrato cumpre a sua função
social quando visto de uma maneira ampla e social que não infrinja efeitos negativos a
terceiros e nem a coletividade, prezando o contrato em atender primordialmente a
dignidade da pessoa humana na relação privada, Pereira (2020) ressalta a finalidade
deste principio:
As arras ou sinal são os valores que visa garantir a solução obrigacional, este
valor ensejará na clausula de arrependimento para fins de indenização, caso ocorra o
adimplemento da clausula de arrependimento, possibilitando uma rescisão unilateral do
contrato por qualquer uma das partes.
Por fim, resta falar da resolução contratual, que se traduz em uma extinção
contratual por fato superveniente, motivada por uma disparidade contratual, por força
deste evento, o que trás ao contrato um desequilíbrio entre as partes e impossibilita o
cumprimento de forma estipulada.
O Código Civil, 2002, em seu art. 475, prevê que: "A parte lesada pelo
inadimplemento pedir a resolução do contrato. Se não preferir exigir-lhe cumprimento,
cabendo qualquer dos casos, indenização por perdas e danos". (código civil/2002, art
475). Farias e Rosenvald, (2017), cita três elementos que podem dar causa a esta
resolução:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO
DECLARATÓRIA DE NULIDADE CONTRATUAL
OU EQUILIBRIO
CONRATUAL - SOBRESTAMENTO - MATÉRIA
DIVERSA - PROSSEGUIMENTO DO FEITO.O tema 958 do STJ
representado pelos processos REsp 1578526/SP, REsp
1578553/SP e REsp 1578490/SP, discutem a validade da cobrança,
em contratos bancários, de despesas com serviços prestados por
terceiros, registro do contrato e/ou avaliação do bem. Todavia, o
presente processo não discute a validade da cobrança da tarifa
denominada serviços de terceiros, mas, sim,
o equilíbrio contratual e análise de juros e capitalização. Tratando
os autos de revisão de clausulas atinentes aos juros e capitalização,
não há que se falar em seu sobrestamento.( Processo AI
10000180755936001 MG Publicação 28/02/2019 Julgamento 27 de
Fevereiro de 2019 Relator Marcos Henrique Caldeira Brant)
Toda relação contratual, inicia com uma intenção positiva para o fim do
contrato, qual seja: o adimplemento contratual e as obrigações cumpridas conforme o
acordo pactuado. No entanto, há hipóteses em que o contrato se torna impossível
adimplir, seja decorrentes de situação superveniente do contrato.
O contrato, uma vez pactuado, ira possui efeito entre as partes, que não pode
deixar de cumpri a obrigação, uma vez que o brocardo diz: “o contrato faz lei entre as
partes”, por tanto, uma vez pactuado e assumido a obrigação mutua entre as partes, não
se admite desfazer clausulas presentes no instrumento contratual para atender a um
interesse particular.
A onerosidade excessiva torna uma causa justa para a extinção contratual, uma
vez que o contrato deve atender ao principio do equilíbrio contratual, conforme já
exposto anteriormente, e a onerosidade coloca uma das partes sobre vantagem em
relação à outra, o código civil no art 478, dispõe:
Com a chegada do sec XX, resgatou a clausula “rebus sic stantibus” na teoria
da imprevisão, a qual as partes poderiam alegar a impossibilidade de adimplir a
obrigação, desde que houvesse algum acontecimento imprevisível para a incidência
desta teoria.
Ressalta- se que o fato imprevisível, alegado por uma das partes, deve haver uma
interpretação ampla em relação ao fato imprevisível abarcando também as suas
conseqüências jurídicas para o efeito do inadimplemento contratual acerca deste fato.
O fato imprevissivel não pode esta implicitamente nos “riscos negociais” em que
as partes assume caso aconteça, mas deve estar além da vontade de ambas as partes,
sendo um fato externo a obrigação pactuada que torna a onerosidade excessiva e
possibilita um desequilíbrio contratual.
A partir deste enunciado, 439, se conclui que para revisão contratual deve
também observar a natureza do objeto contratado, ou seja, uma analise se o objeto
contratual através do fato imprevisível cooperou para a caracterização da onerosidade
excessiva dentro do negocio jurídico
Por fim, ressalta que os enunciados visam esclarecer o art 478 C.C./02, trazendo
o entendimento que o referido artigo pode propiciar a parte prejudicada
economicamente a buscar uma paridade contratual, através da resolução ou revisão do
contrato, atendendo ao principio da conservação dos negócios jurídicos, e sendo o
evento imprevisível aquele que não e assumido pelos riscos do contrato, devendo
observar a natureza do objeto contratual, sendo possível o evento ocorrer nos contratos
aleatórios.
Filho (2020) sugere com base na legislação, a apreciação do caso, segundo uma
analise especifica do contrato e das partes para possíveis alternativas de resolução
contratual, observando os requisitos para cabimento de caso fortuito ou força maior
segundo o dispositivo do código civil, para ele, o julgador do caso contratual deve se
atentar a outras formas de resolução contratual, como por exemplo, mudar a forma do
cumprimento da obrigação pela parte devedora, atentando para não haver prejuízo para
as partes e a possibilidade desse cumprimento.
Gonçalves (2020) ainda ressalta que para haver uma incidência dessas possíveis
formas de soluções contratuais, o julgador deve fazer uma analise especifica em cada
contrato, para avaliar se a pandemia realmente trouxe efeito que impossibilite o
cumprimento contratual da prestação obrigacional, objetivando em evitar o
descumprimento contratual em situações que a pandemia não interferiu de uma forma a
causar prejuízo. Expondo a autora de forma a coibir que todos os contratos serão
impedidos o seu cumprimento em razão da pandemia do COVID-19, por isso se faz
necessário uma analise detalhada para averiguar a real impossibilidade objetiva no
cumprimento obrigacional, se há de fato uma onerosidade excessiva que gerou um
desequilíbrio contratual em cada caso.
Diante destes argumentos conclui que a doutrina tenta avaliar nos institutos
jurídicos existentes, princípios ou teorias que possam ajudar na fundamentação para a
revisão ou resolução contratual dentro do arcabouço jurídico, para tanto é necessário
discorrer sobre as circunstancias de força maior e caso fortuito.
A referida lei, trás em seu corpo normativo, diversas regulamentação que visa,
sobretudo, impedir qualquer modalidade de despejo no momento de pandemia, haja
vista que neste momento atípico, a falta de pagamento de aluguel pode ser devido a
redução de salário ou desemprego, alem de outros fatores (saúde ou alimentação) que
possam incidir a fim de prejudicar o cumprimento contratual.
O legislador não faz distinção de caso fortuito ou força maior, neste sentido,
Andrade (2020), aponta as diferenças entre esses institutos:
“Caso fortuito abrange circunstancias naturais, estranhas a ação do
homem, enquanto força maior é identificada ao fato de terceiro, pelo
qual o devedor não pode ser considerado responsável.” (Andrade,
2020, p.428)
A pandemia do COVID 19, foi um fato atípico para o mundo inteiro, o vírus
requer muito cuidado e medidas preventivas tiveram que ser tomadas para a contenção
do vírus, que ocasionou grandes perdas na sociedade, dentre as medidas para a
contenção do vírus, foi instaurada o isolamento social, em que as pessoas não podiam
aglomerar, desencadeando em um enfraquecimento de diversos setores que geram a
economia local, estadual ou federal, por tanto para Tepedino (2020),:
Percebemos que a doutrina traz teorias que podem ser fundamentos importantes
para a parte revisar ou extinguir os efeitos do contrato, a depender das circunstâncias
fáticas. Porém conforme já demonstrado no capitulo 1, os princípios devem ser
analisados também dentro deste contexto, uma vez que o Estado possibilita para as
partes a autonomia da vontade, e esta deve ser zelada desde que não fira um principio
que descaracteriza o equilíbrio contratual e a boa Fe contratual.
Andrade (2020):
Neste caso percebemos claramente que surge para a parte uma dicotomia na
relação contratual entre o cumprimento da obrigação pactuada ou, por motivos de
redução ou sem a remuneração trabalhista, através do encerramento da relação de
emprego, impossibilita o pagamento do aluguel sem que isso afete o sustento próprio ou
de seus dependentes.
A pandemia com todos os efeitos em que trouxe para o cenário jurídico, social,
político e econômico, por si só, não incide o direito de requerer em juízo uma revisão ou
rescisão contratual, haja vista que uma vez requerida as partes deverão comprovar em
juízo o fato alegado e o nexo de causalidade com o contrato que foi atingido.
Por fim, destaca se também que o juiz deve estritamente analisar o caso concreto
para verificar se houve a incidência de caso fortuito ou força maior e com base nas
teorias apresentadas, que tornou o negocio jurídico impossível de concretizar da forma e
modo contratado, uma vez que as partes possuem autonomia da vontade. Porém caso
seja identificado alguma hipótese em que firam os princípios enaltecidos pelo código
civil, em especial: boa Fe, função social, equilíbrio contratual, deve o magistrado coibir
de forma incisiva para que não prevaleça à vontade pactuada, ou possibilitar através da
revisão ou rescisão contratual, analisando de forma cautelosa, sem que prejudique a
relação contratual e as partes.