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2.1 Evolução:
Apesar das dúvidas iniciais, surgidas no final do século XIX, sobre o cabimento
da figura no domínio do Direito Administrativo, o contrato sempre foi um
instrumento de atuação da Administração Pública. Esta ideia fundamentava-se
no facto de o Estado dever atuar por decisão unilateral (o ato administrativo) e
não pela via de acordo.
4.1 Contrato
O contrato é um acordo formado por duas (ou mais) declarações de vontade que se
ajustam para a produção de certos efeitos jurídicos.
4.2 Público
Tendo presente a referência legal ao conceito de contrato público (art. 1º/2 CCP) e a
ligação intrínseca do mesmo à figura subjetiva da entidade adjudicante (arts. 2º e 7º),
podemos considerar contrato público qualquer contrato celebrado por uma entidade
adjudicante.
Exceções:
Para além disso, este conceito delimita os contratos que se encontram expostos à
incidência eventual de um regime de direito público administrativo.
Desde logo, não abrange os contratos de concessão, aos quais se refere a Diretiva
2014/23/EU.
4.4.1 Contrato
Em regra, o contrato público é um contrato. No entanto, tendo em consideração o
carácter funcional do conceito, concebido em função de requisitos de substância e não
de forma, pode conduzir-se à qualificação como contrato, por exemplo, de atos
unilaterais das entidades adjudicantes (atos administrativos) que tenham como objeto
a aquisição de um produto ou serviço a um operador económico selecionado.
Autoridade adjudicente é, por sua vez, um conceito que inclui três categorias de
entidades: o Estado, as autoridades regionais ou locais, os organismos de direito
público, as associações formadas por uma ou mais daquelas autoridades ou
organismos de direito público.
de aplicação das diretivas, bastando que, para o efeito, optasse por dispensar a forma
escrita.
Precisamente, alguma doutrina entende que “por escrito” está presente nos contratos
que, embora não celebrados por escrito, sejam disciplinados pelo disposto em peças ou
documentos escritos (ex: cadernos de encargos).
4.4.5 Objeto
Apenas se qualificam como contratos públicos os que tiverem por objeto a execução de
obras, o fornecimento de produtos ou a prestação de serviços.
Por último, não existe contrato público nos sistemas de adesão, em que não é
necessária a escolha ou a seleção de operadores económicos interessados, dado que,
cumprindo requisitos objetivos, todos têm acesso ao contrato. Assim, a
impossibilidade de selecionar talvez pudesse explicar a conformidade europeia de um
caso de ajuste direto que o CCP contempla e que não tem correspondência nas
diretivas.
Como pode haver contratos não abrangidos por qualquer uma destas áreas de
regulamentação, também pode acontecer que um contrato esteja subordinado apenas a
uma das áreas.
Por força do direito da União Europeia, este setor da regulamentação dos contratos
públicos vem sendo designado “contratação pública”. Embora variável em função do
tipo de contrato, no que se refere aos contratos de compras públicas, a exigência de
regulamentação específica do respetivo procedimento de formação a que as entidades
adjudicantes ficam legalmente obrigadas a seguir explica-se por diversas razões:
Para compreensão destes regimes, temos de fazer a distinção temporal entre a fase de
formação do contrato e a fase de execução do contrato. O facto de um contrato público
ter a sua formação regulada por um regime procedimental de direito público não
implica a sua sujeição a um regime substantivo de direito público. A afirmação inversa
também é verdadeira.
2) Uma parte da Parte III, em relação aos contratos não administrativos sujeitos à
Parte II;
A Parte III pode aplicar-se, embora apenas a título subsidiário, a contratos não
não sujeitos à Parte II.
Num outro sentido, o CCP consagra uma lógica dualista, ao disciplinar em termos
distintos, em geral, a “contratação do setor público” e a “contratação pública dos
setores especiais”. O conceito de setores especiais aplica-se às entidades que
desenvolvam atividades nos setores da água, da energia, dos transportes e dos serviços
postais (arts. 7º e ss). A distinção associa-se a uma aplicação menos exigente do CCP à
adjudicação de contratos que digam direta e principalmente respeito a uma ou várias
daquelas atividades. Dessa aplicação menos exigente não beneficiam, contudo, as
entidades adjudicantes do art. 2º/1, quando contratem no âmbito dos setores
especiais.
1) Contratos no âmbito das relações de emprego (excluídos pelo art. 4º/2 e aos
quais se aplica a Lei nº 35/2014);
2) Contratos relativos a bens imóveis (excluídos pelo art. 4º/2-c, cuja disciplina
consta, em relação ao Estado e aos institutos públicos, do Regime Jurídico do
Património Imobiliário Público);
1 Entidades adjudicantes
O conceito de entidades adjudicantes está associado à situação funcional em que, no
âmbito de um procedimento de ajudicação, se encontram as entidades indicada s na lei.
Estas são as entidades a quem, através dos órgãos competentes para o efeito, cabe
tomar, no desfecho do referido procedimento, a decisão de adjudicação (decisão de
aceitar a única proposta apresentada ou de escolher uma das várias apresentadas - art.
73º) ou a decisão de não adjudicação (art. 79º).
Além disso, há uma categoria de entidades adjudicantes que a lei admite poderem não
ter personalidade jurídica: as centrais de compras.
4) As centras de compras.
Com exceção da alínea i), pode afirmar-se que o artigo referido inclui apenas pessoas
coletivas de direito público.
1.1.1 Estado
Quanto às entidades:
Salvo delegação (arts. 109º e 111º), a competência para a decisão de contratar, bem
como para celebrar o contrato em representação do Estado cabe ao órgão competente
para autorizar a despesa (art. 106º/1).
Cada vez com mais frequência, as compras públicas do Estado realizam-se num sistema
em que participam centrais de compras - Sistema Nacional de Compras Públicas
(SNCP). Este sistema integra a ESPAP, IP (uma central de compras do Estado e
entidade gestora do sistema), as unidades ministeriais de compras (UMC - centrais de
compras dos ministérios), bem como as entidades de compras vinculadas e as
entidades de compras voluntárias.
Ao contrário das restantes entidades adjudicantes do art. 2º, nº1, as associações da al.
i) não são entidades adjudicantes institucionais, no sentido em que essa condição não
decorre automaticamente do tipo legal de entidade, antes exige a verificação de uma
influência determinante das pessoas coletivas referidas nas alíneas a) a h) sobre uma
determinada associação de que façam parte.
Para quem entenda (onde não se inclui PEDRO COSTA GONÇALVES) que as associações
públicas são apenas as associações profissionais, a al. h), nº1, do art. 2º, abrangeria
unicamente estas, pelo que as associações públicas interadministrativas e as
associações públicas com participação público-privada seriam entidades adjudicantes
pela al. i).
Outra diferença entre as diretivas e o CCP - esta considerada uma infração às diretivas,
por PEDRO COSTA GONÇALVES - as associações participadas, mas sem a posição
dominante, pelas entidades adjudicantes das als. a) a h) não se enquadram na al. i), que
exige a participação dominante, mas são abrangidas como entidades adjudicantes nos
termos das diretivas.
Apesar de estes ser um conceito construído pelo direito da União Europeia, idealizado
originariamente para prevenir o fenómeno de “fuga ao direito da contratação pública”
pelas entidades adjudicantes institucionais do art. 2º/1, o CCP não se limita a
apresentar uma mera transcrição daquele direito, introduzindo pequenos desvios.
O que releva não é o que consta do ato constitutivo de uma entidade, mas a
atividade por esta efetivamente exercida.
O facto de uma entidade ter sido criada e dedicar-se a atividades sem interesse
geral ou com carácter industrial ou comercial não obsta à qualificação como
organismo de direito público. O TJ estabeleceu a teoria do contágio, segundo a
qual, para qualificar uma entidade como organismo de direito público, não é
necessário que a entidade se dedique de modo exclusivo, nem mesmo
predominante à satisfação de necessidades de interesse sem carácter industrial
ou comercial.
Portanto, uma entidade pode ser organismo de direito público num certo ano e
até apenas nesse mesmo ano, sobretudo no caso de a estreita dependência
assentar no fator de financiamento. Nestes casos, o que releva para a
qualificação da entidade como adjudicante ou não é a situação no ano em que
se dá início ao procedimento de contratação.
Todas as pessoas coletivas de direito público (entre nós, apenas são abrangidas
no conceito de organismo de direito público as entidades públicas
empresariais);
mesmo pode deixar-se orientar, nas suas compras, por consideração não
económicas. Por isso, impõe-se a aplicação das regras da contratação pública,
que, em geral, orientarão aquele operador no sentido de adjudicar a proposta
economicamente mais vantajosa, num processo que, para esse efeito, deve ter a
máxima abertura à concorrência e permitir o acesso de todos os interessados,
em condições de igualdade.
A formulação do CCP não segue exatamente a ponderação destes três fatores e indica
antes um factor decisivo - submissão à lógica concorrencial - o qual, por sua vez, nos
termos da lei, se pode identificar através de dois elementos: fins lucrativos e assunção
dos prejuízos. Em termos práticos, isso redunda na indicação de apenas dois elementos
de identificação do conceito de necessidades sem carácter industrial ou comercial
(ausência de fins lucrativos e não assunção dos prejuízos).
No entanto, em inúmeras situações exige-se uma análise maus fina, que pondere o
valor de cada elemento.
Nos casos em que o organismo oferece bens ou presta serviços num mercado
aberto, de acesso livre, em que atuam ou podem entrar outros operadores
concorrentes, a qualificação como organismo de direito público não está
excluída, porquanto a esse resultado podem conduzir as condições específicas
em que a entidade exerce as suas atividades nesse mercado.
Com efeito, a atuação num mercado concorrencial com o objetivo de lucro representa a
conjugação de dois indícios no sentido de estar envolvida uma atividade com carácter
industrial ou comercial. Logo, a presença ou ausência do objetivo de lucro pode não ser
determinante.
2) O controlo da sua gestão, por uma entidade adjudicante do art. 2º/1, ou por
outro organismo de direito público;
3) Designação de mais de metade dos seus dirigentes por uma qualquer entidade
adjudicante do art. 2º/1, ou por outro organismo de direito público.
Como é claro, por outro lado, a União Europeia e as suas instituições e órgãos
não são entidades adjudicantes para efeitos e no âmbito de aplicação do CCP.
Por não estar aqui em causa um financiamento com origem em recursos das
entidades adjudicantes referidas no CCP, PEDRO COSTA GONÇALVES (como
2Ex: RTP é financiada com um imposto que é consignado para a mesma, mas que depende de
uma prorrogativa da Administração Tributária.
Exclusões
Apenas as prestações de financiamento ou de apoio, mediante auxílio financeiro sem
contraprestação específica, das atividades da entidade em causa poderão relevar para
este efeito. Não se incluem as receitas que um organismo aufere como contrapartida de
uma prestação específica.
Por outro lado, mesmo que tenham a designação de subsídios ou subvenções, também
não são abrangidas no conceito de financiamento para este efeito as indemnizações
compensatórias (compensações de serviço público), que se destinam a compensar
custos de exploração resultantes de prestação de serviços de interesse geral ou do
cumprimento de obrigações de serviço público (situação em que a entidade apenas é
remunerada por poderes públicos, não financiada).
Financiamento maioritário
Importa que o financiamento corresponde a mais de metade do valor total das receitas
do organismo. Por isso, também quanto a este critério a qualificação como organismo
de direito público pode variar. A mesma deve fazer-se com base anual e o exercício
orçamental em que o processo de concurso público for iniciado deverá considerar -se
como o período mais adequado para o cálculo de modo de financiamento deste
organismo, entendendo-se que aquele cálculo deve efectuar-se em números
disponíveis no início do exercício orçamental, ainda que com carácter de previsão.
Não se incluindo neste critério, o financiamento por entidades do art. 2º/1 ainda pode
relevar para aplicação das normas de contratação pública, por força e dentro dos
limites do regime dos contratos subsidiados.
No fundo, reconduz-se a definição para os outros dois requisitos. Por isso, este deverá
ser um requisito residual.
Ele pode ter o seu fundamento na lei, nos estatutos da entidade dependente ou em
contrato.
2) Que exerçam atividades nos setores especiais, mesmo que atuem em condições
normais de mercado e expostas à concorrência.
Ex: a uma empresa do setor empresarial local que seja um organismo de direito
público e que opere num dos setores especiais é-lhe extensivo, nesta parte, o âmbito
da contratação nos setores especiais da água, energia, transporte e dos serviços
postais.
1.4.1 Noção
Estas são analisadas como entidades adjudicantes que se dirigem ao mercado com o
objetivo de efectuarem compras de bens e serviços, bem como para adjudicarem
contratos e acordos-quadro que as entidades adjudicantes vão utilizar.
Embora a lista das entidades adjudicantes do art. 2º não o indique, estas entidades
também são adjudicantes, segundo o art. 2º/3 do DL nº 200/2008, elas estão sujeitas
ao CCP (art. 261º/2).
O nº4 determina, não obstante a exclusão do nº3, a aplicação de dos princípios gerais
de contratação pública. No entanto, PEDRO COSTA GONÇALVES questiona o que deve fazer
para aplicar determinados princípios uma empresa privada ou uma associação de
direito civil que recebe um subsídio sujeito a reembolso integral, e que, nos termos do
art. 3º, não tem de aplicar a Parte II. Esta exigência onera entidades ajudicantes, às
quais é familiar a exigência de observância e respeito de princípios e de regras de
Direito Administrativo. Mas aqui, o dever de aplicação de princípios onera entidades
puramente privadas, sem qualquer ligação ao sistema de Direito Administrativo.
Por outro lado, a exigência da lei não faz qualquer sentido neste caso, em que não estão
envolvidos subsídios, mas antes recursos financeiros que a entidade privada tem de
devolver.
Na opinião do Autor, a exclusão justifica-se cabalmente, mas devia ter sido completa,
não fazendo qualquer sentido a convocação nesta sede dos princípios. Até a exigência
mínima de publicação genérica da intenção de celebrar contratos e o fornecimento de
respostas aos interessados que solicitem esclarecimentos é aqui demasiado oneroso.
A percentagem a que a lei se refere não tem de resultar do subsídio de apenas uma
entidade adjudicante, podendo representar a soma de subsídios de várias entidades.
2) Entidades sujeitas por lei avulsa ao CCP (art. 23º/1/2 do Estatuto das
Instituições Particulares de Solidariedade Social): a empreitada de obras de
construção ou grande reparação pertencentes às instituições, devem observar o
estabelecido no CCP, com exceção das obras realizadas por administração
direta até ao montante máximo de 25 mil euros. Mas, por força do nº2 daquele
artigo, este regime não se aplica às instituições que não recebam apoios
financeiros públicos.
Os arts. 5º/1 e 16º/1 não distinguem que tipo de prestações são ou podem ser
submetidas à concorrência. Assim, interpretamos a fórmula “contratos cujo objeto
abranja prestações que estão ou sejam suscetíveis de estar submetidas à concorrência
do mercado” no sentido de abranger apenas as prestações (submetidas à concorrência
do mercado) a efectuar pelo contratante privado. De resto, o art. 5º/1 acaba por
determinar uma inclinação neste sentido, ao excluir os contratos que não estão nem
sejam suscetíveis de estar submetidos à concorrência de mercado, designadamente em
razão da sua natureza ou das suas características, bem como da posição relativa das
partes no contrato ou do contexto da sua própria formação, apesar do interesse
concorrencial do contrato.
A lei segue, portanto, uma orientação que atende ao potencial interesse ou a eventual
aspiração, comum a vários operadores de mercado, em alcançar o benefício económico
resultante de um contrato público. Interesse e aspiração de facto que, por força do
princípio da igualdade de acesso à contratação, que vincula a entidade adjudicante,
Quando isso sucede, o contrato público surge como um bem escasso e disputado, que
suscita a competição entre vários interessados na obtenção das vantagens que dele
decorrem: portanto, estamos perante um contrato com interesse concorrencial, cujo
objeto abrange prestações que estão ou são suscetíveis de ser submetidas à
concorrência de mercado.
A este respeito, veja-se o art. 17º/1 e a parte inicial do nº2, ao identificar o benefício
económico ao preço contratual. Ainda, o art. 97º/1 inclui também nesse conceito
qualquer contrapartida a realizar pela entidade adjudicante; que pode até ser negativa,
correspondente a permitir ou tolerar um certo resultado (ex: inscrição do nome de
uma empresa num edifício).
No entanto, não se confundem com o lucro, até porque o preço contratual pode limitar-
se a cobrir os custos incorridos na execução do contrato pelo contraente. Ainda assim,
há um interesse pela contraparte em obter o contrato e em alcançar o benefício
económico.
Não se exclui que, em contratos de procura pública como estes, recaia sobre o
contratante o dever de efectuar pagamentos à entidade adjudicante, ao contraente
público, porque o que recebe de terceiros excede o necessário para assegurar o
equilíbrio financeiro do contrato.
Com efeito, o art. 17º/2 inclui no benefício económico o valor das vantagens que
decorrem diretamente para o adjudicatário da execução do contrato e que possam ser
configuradas como contrapartidas das prestações que lhes incumbem (ex: fornecimento
de automóveis para um evento com cobertura mundial - auto-publicidade).
Deve observar-se, neste contexto, ser decisivo o facto de a entidade adjudicante não
assumir qualquer obrigação. Por outro lado, a consideração da existência de vantagens
que decorram diretamente da execução do contrato não pode ser desligada das
circunstâncias do caso concreto (ao interesse do próprio adjudicatário tem de
corresponder necessariamente um benefício económico).
Por isso, a lei acaba por ser indiferente à onerosidade do contrato para a entidade
adjudicante. Porque o interesse em alcançar este benefício económico é partilhado por
vários agentes, podemos falar de interesse concorrencial.
A substituição a que se refere o artigo, não é uma substituição formal de contrato por
ato, mas antes a que resulta de os efeitos práticos de um ato unilateral poderem
proporcionar à Administração um resultado que ela teria de obter por via da
celebração de um contrato público - substituição material, de resultado.
Por isso, poderá haver muitas vantagens e benefícios atribuídos por ato
administrativo, mas a aplicação da Parte II não se apresenta exigível se, atento o
respetivo conteúdo, o ato administrativo não substitui (em concreto) um contrato
público sujeito à Parte II.
O objetivo da lei não visa alargar a aplicação do CCP, mas antes evitar que as entidades
adjudicantes sigam a via do aproveitamento da forma do ato administrativo para fugir
aos procedimentos de contratação - evita-se a fuga para o ato administrativo.
Contratos excluídos: para indicar que se trata de contratos a que o CCP não se
aplica de todo (sobretudo a Parte II e a Parte III) - art. 4º;
Contratação excluída: para indicar os contratos a que não se aplica a sua Parte
II - art. 5º e 5º-A.
Sucede que a opção de restringir a aplicação da Parte III do CCP aos “contratos sujeitos
à Parte II que configurem relações jurídicas contratuais administrativas” (contratos
administrativos - art. 280º/1) teve o efeito prático de eliminar o sentido de distinção
entre contratos excluídos e contratação excluída.
Esta inovação coloca em causa a distinção inicialmente referida, embora subsista uma
diferença: o CCP ocupa-se da “contratação excluída” (arts. 5º, 5º-A e 6º-A/1) e chega
até a indicar o regime aplicável a essa contratação: arts. 5º-B e 6º-A/2. O que não se
verifica quanto aos contratos excluídos.
Segundo o art. 5º-B, a contratação excluída fica sujeita aos princípios gerais da
atividade administrativa, bem como aos princípios gerais da contratação pública,
previstos no art. 1º-A/1, devendo sempre ser feita menção à norma que fundamenta a
não aplicação da Parte II ao contrato em causa.
Além disso, e ainda por força do mesmo artigo, excluem-se do âmbito de aplicação da
Parte II os “contratos cujo objeto abrange prestações que não sejam suscetíveis de estar
submetidas à concorrência de mercado, designadamente em razão da sua natureza ou
das suas características, bem como da posição relativa das partes no contrato ou do
contexto da sua formação”. Do que se trata, neste caso, é de colocar fora da incidência
do CCP contratos com interesse concorrencial, mas que não são de procura pública
(“compras”) ou, tendo como objeto a realização de compras, não podem ser
submetidos à concorrência do mercado, em razão da sua natureza (i), das suas
características (ii), da posição relativa das partes (iii) ou do contexto da sua formação
(iv).
A lei deve esclarecer quais os contratos que se devem considerar excluídos do âmbito
de aplicação do CCP. Há conveniência em demarcar as possibilidades de “cooperação
público-pública”, que se processam no interior do sistema administrativo e sem que as
entidades públicas se vejam constrangidas a fazerem apelos ao mercado. Ou seja,
importa definir em que condições podem as entidades do setor público estabelecer
formas de cooperação entre si, dentro do setor público, sem terem de abrir concursos
para o mercado.
1) Os contratos in house;
Delegação de poderes prevista e regulada no art. 44º CPA: trata-se, neste caso,
de uma delegação para a prática de atos administrativos que pode ocorrer
entre órgãos da mesma pessoa coletiva ou de diferentes pessoas coletivas.
Estas delegações estão excluídas inequivocamente da aplicação do CCP por
aplicação do critério geral do art. 5º/1, já que nenhum operador económico
pode invocar a titularidade de um interesse a disputar a delegação de poderes
de um órgão de uma entidade pública fez em outro órgão de outra entidade
pública. Uma delegação com esse objeto é uma providência ligada ao exercício
da autoridade pública e diz respeito a prestações que estão fora do mercado.
Delegação que tem por objeto não a competência isolada para a prática de atos
jurídicos (decisões administrativas), mas antes a execução de operações
materiais, de natureza técnica ou outra associada, ou não, à delegação de
competências sobre os termos de execução daquelas operações: o ato de
“delegação” entre entidades públicas já tem um objeto com interesse
concorrencial, refere-se a um bem transacionável, e, por isso mesmo, suscita-se
a questão de saber se, quando uma entidade adjudicante promove uma
“delegação” ou uma “transferência de responsabilidades com um objeto desses
em outra entidade adjudicante e, porventura, paga uma remuneração por isso,
não está afinal a “comprar um serviço dentro do setor público, em vez de o
comprar em ambiente de mercado.
No art. 5º-A/5 dispõe-se que a parte II também não é aplicável à formação dos
contratos celebrados exclusivamente entre duas ou mais entidades adjudicantes quando
se verifiquem, cumulativamente, as seguintes condições:
Desde logo, importa demonstrar tratar-se de uma cooperação entre entidades e não de
um cenário em que uma entidade colabora com outra, na realização dos interesses
exclusivos desta. Portanto, aqui não importa a matriz de delegação (dos contratos in
house), mas sim de partilha.
Alguma jurisprudência:
Ac. Comissão/Alemanha (Hambugo): em que o Tribunal veio considerar não
estar em causa uma contratação in house, mas sim um contrato de cooperação.
Alguma jurisprudência:
Ac. Coditel Brabant: sobre o controlo análogo conjunto sobre a sociedade
coopertiva intermunicipal (concessionária de serviços dos municípios
membros).
Ac. SUCH: sobre a relação entre o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais e
os hospitais portugueses, na sequência de um pedido de reenvio formulado
pelo STJ.
Inclui-se aqui a designada contratação interna (dita in house) que se refere a contratos
celebrados entre entidades formalmente autónomas (com uma personalidade jurídica
própria), mas, em regra, ligadas entre si por laços de dependência jurídica ou
organizativa (controlo análogo) e de dependência económica (destino da atividade).
Estes conceito de contratação interna pretende identificar uma realidade jurídica cuja
descrição se concretiza em: contratação que se processa no interior de uma
determinada entidade. Podem estar em causa duas entidades distintas, mas
dependentes uma da outra.
Exceções admitidas
3) Controlo análogo conjunto: nos termos do art. 5º-A/4, entende-se que existe um
controlo análogo conjunto quando estiverem preenchidas, cumulativamente, as
seguintes condições:
1 Princípio da concorrência
O princípio da concorrência constitui um princípio que confere unidade de sentido ao
CCP. A concorrência constitui um valor comum, central e prioritário para o direito da
contratação pública, mas também para o direito da concorrência.
O princípio suscita a questão de saber qual o valor jurídico, a sua força normativa.
- Mais, o princípio em causa vai ainda conhecer uma concretização numa rede de
subprincípios de direito adjudicatório, designadamente no âmbito dos
concursos (exemplos: princípios da estabilidade das regras, das propostas e dos
concorrentes; princípio da comparabilidade das propostas).
4 Princípio da transparência
O princípio da transparência tem essencialmente a finalidade de garantir a ausência de
qualquer risco de favoritismo ou de arbítrio da parte da entidade adjudicante. Isto
implica:
Nos últimos anos, surge uma atenção crescente pela definição de soluções
organizativas destinadas as prevenir práticas de corrupção e a promover os valores da
transparência da integridade e de ética na contratação. Está na origem de medidas
regulamentares que impõem a adoção de mecanismos de “transparência ativa” (da
iniciativa dos poderes públicos), bem como a estipulação de regras sobre conflitos de
interesses e soluções sobre impedimentos ou causas de exclusão da participação em
procedimentos de contratação pública de operadores económicos, identificados pela
prática de condutas que infringem a lei. Fala-se de um princípio de integridade na
contratação pública, assente na promoção da transparência e da boa gestão pública, na
prevenção de conflitos de interesses e na luta contra a corrupção e outros crimes
associados à contratação pública.
5 Princípio da imparcialidade
O procedimento administrativo é um dos momentos fundamentais da afirmação do
princípio da imparcialidade administrativa. Assim também sucede nos procedimentos
de formação dos contratos públicos, aos quais se aplica o art. 9º CPA, de onde resulta
que a Administração Pública adjudicante deve tratar de forma imparcial todos os
interessados, candidatos e concorrentes, designadamente, considerando com
objetividade todos e apenas os interesses relevantes no contexto decisório e adotando
as soluções organizatórias e procedimentais indispensáveis à preservação da isenção
administrativa e à confiança nessa isenção.
Estas aplicações de artigos do CPA decorre do próprio CCP, do art. 1º-A/3. Considera-
se conflitos de interesses qualquer situação em que o dirigente ou o trabalhador de uma
entidade adjudicante ou de um prestador de serviços que age em nome da entidade
6 Princípio da proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade determina que as entidades adjudicantes adotem os
comportamentos adequados e proporcionados aos fins prosseguidos. O princípio
implica uma tripa exigência: adequação, exigibilidade e proporcionalidade em sentido
estrito (relação proporcionada entre custos e benefícios).
PEDRO COSTA GONÇALVES sugere mesmo a inclusão no CCP de um artigo com a epígrafe
“abuso da posição dominante”, segundo o qual o estabelecimento de regras ou a
prática de atos que representem aquele abuso redundaria na invalidade dos mesmos,
considerando que a aplicação de sanções não constitui uma via pertinente neste
contexto.
7 Legalidade e discricionariedade
A legalidade constitui um princípio geral da contratação pública: desde a escolha do
procedimento de adjudicação, à estrutura da tramitação procedimental ou às decisões
Por último, com a revisão de 2017, verificou-se um aumento significativo das normas
que definem em termos vagos e imprecisos os pressupostos de decisões dos órgãos
adjudicantes. Nestes casos, o CCP onera a entidade adjudicante com deveres
específicos de fundamentação, que tem, em alguns casos, o efeito de autonomizar as
decisões respetivas em termos procedimentais. Assim, não se poderá dizer que as suas
decisões são discricionárias, designadamente quando esteja em causa uma apreciação
que deve efectuar-se segundo critérios jurídicos.
1 Sujeitos do procedimento
3Ex: contrato de empreitada de duas freguesias para pavimentação de um troço de estrada que
pertence, em parte, a uma e, noutra parte, a outra.
O CCP não esclarece se o agrupamento pode ser criado para a realização apenas de
parte do procedimento de adjudicação, hipótese que parece admitida pela Diretiva.
Não vemos obstáculo para essa possibilidade.
Fora da esfera própria e exclusiva do órgão adjudicante ficam, num primeiro momento,
apenas as competências do júri do procedimento.