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Contratos Públicos 2019/2020

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra Apontamentos de


Contratos Públicos
1º frequência

I)Noção de contrato público e âmbito de aplicação do Código dos Contratos


Públicos (CCP)
do CCP
1. Contrato da Administração Pública e contrato Público:

• o CONTRATO sempre foi um instrumento de atuação DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: basta


pensar nos «contratos compras» de bens e de serviços imprescindíveis ao funcionamento dos
organismos públicos («Estado comprador»).

• A partir de uma certa fase (ainda, porém, no século XIX), além dos negócios auxiliares e das
«compras», a ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA também se serviu do CONTRATO como processo para
enquadrar relações especiais de colaboração com entidades particulares às quais confiava a
construção e a gestão de infraestruturas públicas ou de serviços públicos.

Vai-se assistindo a uma progressiva afirmação do relevo prático do contrato na vida administrativa
e à sua utilização generalizada por toda a AP.

• A partir dos anos 80 do século XX, o CONTRATO surge como um motor do processo de
privatização, e converte-se numa ferramenta decisiva para enquadrar a transferência para
mãos privadas da gestão de serviços públicos e de estabelecimentos públicos, bem como do
encargo de financiamento de infraestruturas públicas

(ex: delegações de serviços públicos e parcerias público-privadas)

O CONTRATO passou a ser um instrumento fundamental e decisivo da ação da AP, e isso quer para a
satisfação das suas necessidades domésticas, quer para a realização, direta ou indiretamente, das suas
missões públicas.

2.Contratos da Administração Pública e Direito Administrativo


A circunstância de, na sua ação, a AP utilizar o contrato não tem de corresponder a uma espécie de
apropriação da figura pelo Direito Administrativo: o fenómeno poderia simplesmente traduzir o recurso
ao contrato na exata configuração em que o direito privado o apresenta.

➔ Ter-se-ia, em tal caso, uma conexão entre Administração Publica e contrato, mas não
uma associação entre contrato e Direito Admnistrativo.

➔ Mas não é assim: o contrato também pertence ao Direito Administrativo ; há, com
efeito, um CONTRATO DE DIREITO ADMINISTRATIVO.

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À consagração do contrato como categoria específica do Direito Administrativo pressupõe a subsistência


de normas jurídicas que regulem em termos particulares determinados contratos, pelo facto de serem
subscritos por uma entidade ou sujeito da Administração Publica ; normas que, exatamente por isso, se
ordenam como normas de Direito Administrativo .

Para que se atinja o nível de um contrato «de» Direito Administrativo , exigir-se-á uma regulamentação
jurídico-administrativa que afirme, de forma inequívoca, a sua primazia ou prioridade enquanto
regulamentação de uma espécie contratual.

➔ Fala-se, portanto, num contrato regulado em primeira linha ou nos seus momentos
primordiais por um regime jurídico de Direito Administrativo

E, com efeito, não há dúvidas quanto ao facto de o contrato pertencer também ao Direito
Administrativo, impondo-se como categoria específica deste ramo jurídico.
+
Assim, existe, de facto, um CONTRATO DE DIREITO ADMINISTRATIVO , regulado, a título principal, por
NORMAS DE DIREITO ADMINISTRATIVO ;

A lei designa-o «contrato administrativo» (1º/1 e Parte III CCP, e artigo 200º/2 CPA), e submete-o a um
regime jurídico delineado na sua inteireza pelo Direito Administrativo (artigo 280º CCP e 202º CPA).

Note-se, atendendo àqueles artigos, que o CONTRATO ADMINISTRATIVO surge, tendencialmente, como
uma CATEGORIA DE CONTRATO PÚBLICO.

i) Ora, o conceito de contrato público apresenta-se DELIMITADO EM FUNÇÃO DE UMA NOTA


ORGÂNICA OU SUBJETIVA: contrato de uma entidade adjudicante,

ii) Enquanto o contrato administrativo se delimita a partir da verificação de determinados FATORES


DE ADMINISTRATIVIDADE (280º/6 CCP).

E é a presença de um destes fatores num contrato que determina a respetiva sujeição a um regime
substantivo de direito público (1º/1 CCP).

Artigo 200º do Código do Procedimento Administrativo (CPA). “Espécies de contratos

1 — Os órgãos da Administração Pública podem celebrar contratos administrativos, sujeitos a um regime


substantivo de direito administrativo, ou contratos submetidos a um regime de direito privado .
2 — São contratos administrativos os que como tal são classificados no Código dos Contratos Públicos ou em
legislação especial ”.

Ou seja, segundo o CPA, temos:

2.1. Contratos administrativos (isto é, contratos submetidos a um regime de direito


administrativo quanto à sua formação e execução:

P. ex., o contrato de empreitada de obras públicas; o contrato de concessão de obras públicas; o contrato
de concessão de serviços públicos; o contrato de aquisição de serviços/prestação de serviços; e o contrato
de aquisição ou de locação de bens móveis

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2.2. E contratos de direito privado da Administração ou contratos sujeitos a um regime de


direito privado (artigo 202º, nº 2 do CPA): “No âmbito dos contratos sujeitos a um regime de direito
privado são aplicáveis aos órgãos da Administração Pública as disposições do presente Código que
concretizam preceitos constitucionais e os princípios gerais da atividade administrativa”.

3. Conceito de Contrato Público


1. A remissão do CPA para o Código dos Contratos Públicos e a noção de contrato público:

Artigo 201º do CPA “Procedimentos pré-contratuais”

1 — A formação dos contratos cujo objeto abranja prestações que estejam, ou sejam suscetíveis de estar,

submetidas à concorrência de mercado, encontra-se sujeita ao regime estabelecido no Código dos Contratos Públicos ou
em lei especial.
2 — À formação dos contratos a que se refere o número anterior são especialmente aplicáveis os princípios da
transparência, da igualdade e da concorrên cia”.

2. Remissão do CPA para a noção de contrato público no Código dos Contratos Públicos (CCP). A noção
compreende dois elementos essenciais:

2.1. O elemento “contrato” (acordo resultante de duas ou mais declarações de vontade que se
ajustam para a produção de certos efeitos jurídicos). O contrato Público deverá apresentar uma
dupla característica:

2.1.1. Traduzir um acordo ou uma união de vontades entre dois ou mais sujeitos (as «partes»);

2.1.2. Corresponder a um acordo dirigido à produção de efeitos jurídicos obrigatórios para uma
ou para todas as partes que o subscrevem.

2.2. O elemento “público”: os contratos da Administração Publica são uma categoria de contratos
públicos, não se devendo falar, assim, numa tendencial equivalência entre contrato da
Administração Publica e contrato público.

➔ Por conseguinte, tendo por base a referência legal ao conceito de contrato público
(1º/2 CCP), e a ligação intrínseca do mesmo à figura subjetiva da entidade adjudicante
(art.2º e 7º], pode considerar-se CONTRATO PÚBLICO «qualquer contrato celebrado
por uma entidade adjudicante».

➔ E é com base neste conceito que se constata não haver equivalência necessária entre
contrato público e contrato da Administração Publica , desde logo porque há
entidades adjudicantes (do 2º/2 ou 7º] que não integram a Administração Pública, pelo
menos na delimitação desta segundo um critério jurídico-administrativo

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Ex: associações de direito civil sem fins lucrativos trata-se de uma entidade privada que não integra
a AP mas que é uma entidade adjudicante – organismo de direito público - pelo que os contratos
que celebram podem qualificar-se como contratos públicos

Compreensão e delimitação deste elemento a partir do nº 2 do artigo 1º do CCP: “O regime


da contratação pública estabelecido na parte II é aplicável à formação dos contratos
públicos que, independentemente da sua designação e natureza, sejam celebrados pelas
entidades adjudicantes referidas no presente Código e não sejam excluídos do seu âmbito
de aplicação”.

2.2.1. Como resulta da norma citada, há um nexo entre:


a) Um elemento objetivo (contrato);
b) E um elemento subjetivo (entidade adjudicante).

2.2.2. Pelo que, para o CCP, a qualificação de um CONTRATO COMO CONTRATO PÚBLICO
resulta do facto de se tratar de um contrato celebrado por uma entidade que seja ela
própria qualificada como entidade adjudicante pelo mesmo Código, pois: “O regime da
contratação pública (isto é, o regime do CCP)...é aplicável (aos) contratos públicos
que...sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no presente Código...”

2.2.3. Consequentemente, para o CCP, um CONTRATO É QUALIFICADO COMO UM CONTRATO


PÚBLICO quando seja celebrado por uma ENTIDADE ADJUDICANTE, ou seja:

a) Celebrado por uma das entidades adjudicantes elencadas no artigo 2º,


nº1 (entidades integradas, em geral, na Administração Pública “clássica”);

b) Celebrado por uma das entidades adjudicantes a que se refere o artigo


2º, nº2 (os “organismos de direito público”);

c) Ou celebrado por uma das entidades adjudicantes abrangidas pelo


artigo 7º (“entidades dos sectores especiais”; entidades que exercem
atividades nos sectores da água, da energia, dos transportes e dos serviços
postais).

4. Regime Jurídico dos Contratos Públicos

4.3. À formação dos contratos (contratos públicos) celebrados por estas entidades (entidades
adjudicantes) aplica-se o regime da Parte II do CCP (artigos 16º a 277º), “independentemente da.…
designação e natureza” desses contratos (nº2 do artigo 1ºdo CCP).
Significa isto que, para o CCP:

4.3.1. Há contratos públicos que podem assumir a natureza de contratos


administrativos, aplicando-se a estes contratos:

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a) O REGIME DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS (isto é, o regime que disciplina o procedimento pré-
contratual) estabelecido na Parte II do CCP (artigos 16º a 277º);

b) Bem como A GLOBALIDADE DO REGIME da Parte III do CCP, que estabelece o regime substantivo
dos contratos públicos que revistam a natureza de contrato administrativo e cuja formação
esteja sujeita à disciplina da Parte II do CCP (nº 1 e 5 do artigo 1º e artigos 278º e segs.);

c) Enquadram-se neste âmbito os contratos celebrados pelas ENTIDADES ADJUDICANTES


ENUMERADAS no artigo 2º, nº1, do CCP: - o contrato de empreitada de obras públicas;
- o contrato de aquisição de serviços/prestação de serviços; - o contrato de aquisição
ou de locação de bens móveis;
- o contrato de concessão de obras públicas;

- e o contrato de concessão de serviços públicos.

4.3.2. E há contratos públicos que não revestem a natureza de contrato administrativo, aplicando-
se a estes contratos:

a) O REGIME DE FORMAÇÃO DOS CONTRATOS (isto é, o regime que disciplina o procedimento pré-
contratual) estabelecido na Parte II do CCP (artigos 16º a 277.º);

b) E apenas alguns aspetos do regime substantivo da Parte III do CCP, “em concreto as disposições
relativas aos regimes de invalidade, limites à modificação objetiva, cessão da posição
contratual e subcontratação são aplicáveis, com as devidas adaptações, aos contratos sujeitos à
parte II, ainda que estes não configurem relações jurídicas contratuais administrativas” (artigo
280º, nº3);

➔ Enquadram-se neste âmbito os contratos públicos celebrados por DETERMINADAS


ENTIDADES, mesmo que de natureza privada, que, em virtude de certos requisitos,
sejam qualificadas como “organismos de direito público” e, por isso, subsumíveis ao
artigo 2.º, n. º2, como entidades adjudicantes.

5.Fontes de regulamentação dos contratos Públicos:


a) Código dos Contratos Públicos – este código foi aprovado no contexto da transposição das
diretivas europeias da contratação pública [de 2004].

• Na Parte II, regulamenta os métodos de seleção dos contratantes que as entidades adjudicantes
deverão adotar.

➔ Trata-se, nessas normas, de disciplinar o procedimento de formação de contratos, ou


seja, o procedimento pré-contratual.

• Assim, sob a qualificação «contratação pública» (é essa a epígrafe da Parte II), regulamenta-se a
atuação pública que, em geral, se desenvolve entre os momentos da decisão de contratar e da
conclusão de um contrato.

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• Diferentemente, na Parte III, o CCP regula a relação contratual, ou seja, a relação jurídica que
emerge do designado contrato público com a natureza de contrato administrativo.

i) A regulação do ciclo de formação do contrato está fundamentalmente organizada para disciplinar o


«apelo ao mercado», em concretização dos princípios da transparência, da igualdade e da
concorrência;

j) ao passo que a regulação da execução do contrato (administrativo) tem o propósito de disciplinar a


«relação contratual», em concretização de um princípio de proteção qualificada do interesse de uma
das partes do contrato – interesse público.

k) E à bipartição essencial da regulação do CCP associa-se uma diferenciação da semântica utilizada


em cada um dos dois universos normativos: no âmbito da contratação pública (Parte II), o CCP
pretende disciplinar a atuação de «entidades adjudicantes» no «procedimento de adjudicação» de
contratos, bem como os vários contatos dessas entidades ou de órgãos seus («órgão competente
para a decisão de contratar», «júri do procedimento») com os «interessados», os «candidatos» e os
«concorrentes».

l) No domínio do regime substantivo, da execução do contrato (Parte III), o CCP disciplina a atuação de
«contraentes públicos» e de «cocontratantes», os quais são, precisamente, as partes do «contrato
administrativo».

A revisão 2017 definiu-se uma tendência no sentido de fazer coincidir o âmbito da aplicação dos
dois blocos normativos do CCP:

1) em 1º lugar, ao «restringir» a aplicação da Parte III a contratos administrativos sujeitos à


Parte II (art.280º/1);

2) em 2º lugar, ao «ampliar» a aplicação de uma parte da Parte III a contratos sujeitos à Parte
II que não configuram relações jurídicas administrativas (art.280º/3).

3) Contudo, note-se que, não obstante essa evolução, continua a haver âmbitos diferentes de
incidência entre as duas Partes do CCP: por um lado, os contratos que não configurem
relações jurídicas administrativas não estão sujeitos em bloco à Parte III, mas tão apenas a
uma parte dela; por outro lado, a Parte III pode aplicar-se – embora apenas a título
subsidiário – a contratos não sujeitos à Parte II.

No entanto, constate-se a incidência diferenciada/variável do CCP conhece ainda reflexos no facto


de o diploma, sobretudo na sua Parte II, não se aplicar nos mesmos termos a todas as entidades
abrangidas pelo âmbito subjetivo dessa Parte (entidades adjudicantes).
+
Com efeito, pode dizer-se que há dois níveis de incidência, consoante o TIPO DE ENTIDADE
ADJUDICANTE:

1. o CCP aplica-se de uma forma mais exigente e mais abrangente quanto às espécies de contratos
abrangidas – que inclui a alienações de móveis – e quanto à submissão ao regime da contratação
pública – nos setores especiais –, quando se trata de contratos das entidades do artigo 2º/1.

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2. o CCP aplica-se de forma menos exigente para as entidades dos artigos 2º/2 e 7º.

Já num outro sentido, o CCP consagra uma lógica dualista ao disciplinar, em termos distintos, em
geral, a «CONTRATAÇÃO PÚBLICA DO SETOR PÚBLICO» e a «CONTRATAÇÃO PÚBLICA DOS SETORES
ESPECIAIS».
➔ A este propósito, compreenda-se que o conceito de setores especiais se aplica às
entidades que desenvolvam atividades nos setores da água, da energia, dos transportes e dos
serviços postais (art.7º ss.)

➔ Pode dizer-se que a distinção se associa a uma aplicação menos exigente (em termos de
aplicação e escolha do procedimento de adjudicação) do CCP à adjudicação de contratos que
digam direta e principalmente respeito a uma ou várias daquelas atividades.

➔ Todavia, atente-se o seguinte: dessa aplicação menos exigente não beneficiam as


entidades adjudicantes do artigo 2º/1 quando contratem no âmbito dos setores especiais.

b) Legislação dispersa – não obstante a extensão e alargado âmbito de aplicação do CCP, certo
é que esse não esgota a regulamentação legislativa relativa aos contratos públicos. Aliás,
os próprios artigos 4º; 5º; 5º-A; 6º-A, procedem à expressa exclusão do âmbito de aplicação
do CCP de determinadas categorias contratuais, que ficam abrangidas por outras regras.

II)ÂMBITO DA INCIDÊNCIA DA PARTE II DO CCP: A CONTRATAÇÃO PÚBLICA


Âmbito da incidência subjetiva da Parte II
1.As entidades adjudicantes no CCP: a enumeração abrangente das entidades
adjudicantes
O CCP aplica-se a entidades adjudicantes.

• Esse conceito está associado à situação funcional em que, no âmbito de um procedimento de


adjudicação, se encontram as entidades indicadas na lei; trata-se das entidades a quem, através dos
órgãos competentes para o efeito, cabe tomar, no desfecho do referido procedimento, a decisão de
adjudicação – decisão que consiste em aceitar a única proposta apresentada, ou de escolher uma de
entre as propostas apresentadas (art.73º) – ou a decisão de não adjudicação (art.79).

- Neste sentido, o conceito de entidades adjudicantes aparece associado ao do EXERCÍCIO


DA COMPETÊNCIA DE ADJUDICAÇÃO.

• O conceito de entidade adjudicante não requer personalidade jurídica, embora, nos casos de
entidades adjudicantes sem personalidade, se revele indispensável enquadrar essa entidade na
pessoa coletiva a que pertence (art.10º/3 CPTA) e definir qual a pessoa coletiva, dotada de capacidade
para contratar, em nome de quem aquela entidade vai celebrar o contrato adjudicado.

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1. Primeiro grupo de entidades adjudicantes – nº 1 do artigo 2º do CCP:


> Define-se aqui como entidades adjudicantes todas aquelas que, em razão da sua tipificação ou
qualificação jurídica geral e originária, o CCP reconduz de forma imediata e automática à categoria de
entidades adjudicantes, independentemente do tipo de missões que desempenham e das condições em
que o façam.

> É justamente isso que ocorre com as entidades previstas no artigo 2º/1, com a ressalva, porém, das
associações da alínea i), cuja consideração como entidades adjudicantes não decorre da qualificação
ou do tipo legal de instituição, mas da verificação, caso a caso, de determinados elementos.

i. Estado (todos os órgãos e serviços do Estado: ministérios e seus serviços periféricos, Presidência
da República, Assembleia da República, etc.): O Estado é a 1ª entidade adjudicante referida,
tanto no CCP como nas diretivas europeias da contratação pública que o CCP transpõe para
o direito português.

➔ Por regra, em relação à generalidade dos contratos de compras públicas, o Estado


conduz os procedimentos de adjudicação e contrata através dos seus serviços de
administração direta integrados nos vários ministérios [serviços centrais e periféricos] e com
base em decisões dos órgãos que dirigem esses serviços.

➔ Integram a administração direta do Estado os serviços centrais e periféricos que, pela


natureza das suas competências e funções, devam estar sujeitos ao poder de direção do
respetivo membro do Governo.

➔ De acordo com a lei nº4/2004:


a. serviços centrais são os que exercem uma competência extensiva a todo o território
nacional, independentemente de possuírem ou não unidades orgânicas
geograficamente desconcentradas;

b. serviços periféricos são os que dispõem de competência limitada a uma área


territorial restrita, funcionando sob a direção do membro do Governo competente.

c. Além de todos esses, deverão ainda ser reconduzidos ao conceito de Estado todas
as entidades», estruturas, organismos, comissões, etc., instituídas por lei, pelo
Governo ou por outras instâncias do Estado, desprovidos de personalidade
jurídica, ainda que não se integrem formalmente na administração do Estado.

> Ora, além desses serviços, também contrata em nome do Estado o Governo,
através dos seus membros – ministros e secretários de Estado – e dos
respetivos gabinetes

ii. Regiões Autónomas: Enquanto pessoas coletivas públicas, que prosseguem, com
autonomia, os interesses das respetivas populações, as RA dos Açores e da Madeira são,
para efeitos de aplicação do CCP, entidades adjudicantes. Note-se que as respetivas
assembleias legislativas têm vindo a emitir decretos legislativos regionais que visam
acomodar as soluções inscritas na «legislação nacional» a diversas particularidades
regionais.

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iii. Autarquias locais (municípios e freguesias - Lei nº 75/2013, de 12 de Setembro): Enquanto


entidades adjudicantes, esses lançam e conduzem procedimentos de adjudicação através
dos respetivos serviços, com base em decisões dos órgãos competentes (presidente da
câmara, conselho de administração dos serviços municipalizados, câmara municipal e junta
de freguesia).

iv. Institutos públicos (Lei nº3/2004, de 15 de Janeiro, que aprova a lei-quadro dos institutos
públicos, republicada pelo Decreto-Lei nº 5/2012, de 17 de Janeiro): nos termos da Lei-
Quadro dos Institutos Públicos, consideram-se institutos públicos, independentemente da
sua designação, os serviços e fundos do Estado e das RA, quando dotados de personalidade
jurídica. Note-se que aqui se incluem também os institutos públicos de regime especial,
como as universidades e os institutos politécnicos.

v. Entidades administrativas independentes (os exemplos das entidades abrangidas pela Lei
nº 67/2013, de 28 de Agosto), mas também podem inserir- se neste grupo entidades sem
personalidade jurídica (p. ex., a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, a
Comissão Nacional de Proteção de Dados e a Comissão Nacional de Eleições).

Banco de Portugal (mas a Parte II do CCP só é aplicável aos contratos que abranjam
prestações típicas da empreitada de obras públicas, concessão de obras públicas,
concessão de serviços públicos, locação e aquisição de bens móveis ou aquisição de
serviços – nº 8 do artigo 5º)

vi. Fundações públicas:

- As fundações públicas de direito público, nos termos da Lei nº 24/2012, de 9 de Julho,


que aprova a lei-quadro das fundações, ou seja, as fundações criadas exclusivamente
por pessoas coletivas públicas (caso dos legalmente designados “fundos
personalizados” criados exclusivamente por pessoas coletivas públicas: trata-se de
institutos públicos com finalidades de natureza social, cultural, artística..., dotados de
um património cujos rendimentos constituam uma parte considerável das respetivas
receitas. Estas entidades são reconduzíveis ao conceito de fundação pública);

- e também as legalmente designadas fundações públicas de direito (regime) privado,


de que podem constituir exemplo as universidades que tenham assumido a forma de
“fundação pública com regime de direito privado”, nos termos do artigo 129º e segs.
da Lei nº62/2007, de 10-9, que aprova o regime jurídico das instituições de ensino
superior.

vii. Associações públicas (associações de direito público):

- as associações públicas de entidades privadas (as associações públicas profissionais - as


ordens profissionais e as câmaras profissionais -, nos termos da Lei nº 2/2013, de 10 de
Janeiro, lei-quadro das associações públicas profissionais.

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- as associações públicas de entidades públicas (p. ex., as entidades intermunicipais –


áreas metropolitanas e as comunidades intermunicipais Lei nº 75/2013, de 12 de
Setembro);
- e as associações de freguesia de direito público;

Não é discutível o facto de o conceito de associações públicas não abranger associações de direito
privado de que façam parte pessoas coletivas públicas.

 No CCP, estas podem entrar na categoria de ENTIDADES ADJUDICANTES por via da alínea i); não está
excluído que, em CASOS MUITO ESPECÍFICOS, as mesmas possam ser qualificadas como organismos
de direito público.

 Importante é constatar o seguinte, de acordo com Pedro Costa Gonçalves: pela conjugação das alíneas
h) e i) do nº1, todas as associações de direito público – sejam associações públicas profissionais,
associações interadministrativas ou outras – se qualificam seguramente como entidades adjudicantes,
nos termos do nº1 do artigo 2º.

 Na hipótese de adoção de um entendimento restrito do conceito de associação pública – a abranger


tão-só as associações públicas profissionais – as associações públicas interadministrativas, participadas
apenas por pessoas coletivas públicas (ex: associações de municípios, entidades intermunicipais), ou
as associações públicas que juntam pessoas coletivas públicas e pessoas coletivas privadas (ex:
entidades regionais de turismo), seriam certamente abrangidas na CONDIÇÃO DE ENTIDADES
ADJUDICANTES pela alínea i).

 Esclarece-se que o direito da UE não impõe a consideração como ENTIDADES ADJUDICANTES DAS
ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS PROFISSIONAIS (que são associações de particulares).

o Veja-se, o Acórdão do TJ de 12/09/2003, Proc. C-526/11, que decidiu não ser entidade
adjudicante a ordem dos médicos de um estado alemão, não a tendo considerado organismo
de direito público pelo facto de não preencher o critério relativo ao financiamento maioritário
pelos poderes públicos, nem o critério relativo ao controlo da gestão pelos poderes públicos.

o Essa poderia, pois, ter sido a opção da lei portuguesa. Isso não excluiria, naturalmente, o
cenário da qualificação de uma determinada associação pública como entidade adjudicante,
nos termos do nº2 do artigo 2º.

iv. As associações sujeitas a uma influência dominante das entidades anteriormente referidas:
“associações de que façam parte uma ou várias das pessoas coletivas referidas nas alíneas
anteriores, desde que sejam maioritariamente financiadas por estas, estejam sujeitas ao
seu controlo de gestão ou tenham um órgão de administração, de direção ou de
fiscalização cuja maioria dos titulares seja, direta ou indiretamente, designada pelas
mesmas” (associações, em princípio, de natureza privada, uma vez que as de natureza
pública já se encontrarão abrangidas pela categoria de associações públicas:

p. ex.: a Associação Nacional de Municípios; a Associação Nacional de Freguesias; associações sob a


designação genérica de “associações de desenvolvimento local”

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Ou seja, a inserção de uma concreta associação nesta alínea depende da verificação dos seguintes
requisitos:

i. Requisito da participação: financiamento maioritário de uma pessoa coletiva pública


das referidas;

ii. Requisito da dependência: sujeição ao controlo e gestão de uma pessoa coletiva


pública das acima referidas OU a maioria dos titulares do órgão de administração,
direção ou fiscalização designados por uma daquelas entidades.

→Podem aqui integrar-se tanto associações de direito privado como


associações de direito público.

Integram-se aqui, por exemplo, as entidades intermunicipais (áreas metropolitanas), as


associações de desenvolvimento local ou regional, as entidades regionais de turismo,
etc.

2. Segundo grupo de entidades adjudicantes: os “organismos de direito público ”.


Ideia geral: a relevância da qualificação como “ORGANISMO DE DIREITO PÚBLICO”.

2.1. São também entidades adjudicantes quaisquer PESSOAS COLETIVAS que,


independentemente da sua natureza pública ou privada – artigo 2º, nº 2:

i Tenham sido criadas especificamente para satisfazer necessidades de


interesse geral, sem caráter industrial ou comercial, entendendo-se como tais
aquelas cuja atividade económica se não submeta à lógica concorrencial de
mercado, designadamente por não terem fins lucrativos ou por não
assumirem os prejuízos resultantes da sua atividade;

ii Sejam maioritariamente financiadas por entidades referidas no número


anterior ou por outros organismos de direito público, ou a sua gestão esteja
sujeita a controlo por parte dessas entidades, ou tenham órgãos de
administração, direção ou fiscalização cujos membros tenham, em mais de
metade do seu número, sido designados por essas entidades.

Deste modo, veja-se agora os fatores que permitem, e que exigem, considerar uma determinada entidade
como organismo de direito público, e sujeitá-la ao regime da contratação pública na adjudicação dos
contratos que pretenda celebrar.
+
Com efeito, o conceito indica entidades ou organismos que conjugam 3 elementos essenciais (de
verificação cumulativa):

2.1.1. Primeiro requisito: ter personalidade jurídica (de direito público ou de direito
privado): é irrelevante que se trate de pessoas coletivas de direito público ou de
direito privado; afastadas do conceito ficam, com efeito, as pessoas singulares, bem
como as entidades desprovidas de personalidade jurídica.

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i No entanto, dizer-se que as entidades sem personalidade jurídica ficam


fora do âmbito do conceito de organismo de direito público não significa que
fiquem fora da aplicação do CCP.

ii Aquilo que sucede é que tais entidades serão consideradas partes ou


elementos de uma determinada pessoa coletiva, que será, ela mesma,
considerada entidade adjudicante: eis o que se verifica, por exemplo com os
serviços municipalizados, que, por falta de personalidade jurídica, não são
organismos de direito público.

iii Dessa forma, a adjudicação de contratos por esses serviços faz-se em


nome do município em que eles se integram; neste caso, entidade adjudicante
é o município.

2.1.2. Segundo requisito: o fim (entidades criadas especificamente para satisfazer


necessidades de interesse geral, cuja atividade não tenha carácter industrial ou
comercial, “entendendo-se como tais aquelas cuja atividade económica se não
submeta à lógica concorrencial de mercado, designadamente por não terem fins
lucrativos ou por não assumirem os prejuízos resultantes da sua atividade”.

Este 2º requisito exige então, uma análise em relação a 3 pontos principais:

1) Sentido da referência à «criação específica» do organismo para satisfazer necessidades de


interesse geral: em relação a esta exigência, relevante não é o que se encontra inscrito nos
estatutos ou no ato constitutivo de uma entidade, mas antes as ‘’atividades que efetivamente
(aquela) exerce’’.

a Neste sentido, uma entidade que não foi criada para prosseguir atividades de interesse
geral sem caráter industrial ou comercial, mas que, em momento posterior, passou a
exercer efetivamente atividades desse tipo preenche o requisito.

2) Sentido do conceito de «necessidades de interesse geral»: Na génese da referência ao


elemento da prossecução de missões ou atividades que satisfazem necessidades de interesse
geral, encontra-se o objetivo de não deixar escapar da aplicação das regras da contratação
pública atividades que pertencem originariamente ao Estado Administrativo, e por cuja
execução este é responsável.

a Assim, seria relevante o facto de se tratar de atividades estreitamente


relacionadas com a ordem pública e com o funcionamento institucional do Estado, como
a saúde pública e a proteção do ambiente (recolha e tratamento de resíduos domésticos,
serviços mortuários e funerários), com a garantia da segurança interna e externa, ou,
em geral, com o fornecimento de serviços cuja titularidade é, nos termos da lei, assumida
pelo Estado ou por outros entes públicos.

b Enquanto requisito do conceito de organismo de direito público e, por isso,


elemento condicionador de aplicação das regras da contratação pública, a satisfação das
necessidades de interesse geral não faz sentido: todavia, certo é que a jurisprudência do

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Contratos Públicos 2019/2020

TJ insiste na verificação do preenchimento do requisito da satisfação de necessidades de


interesse geral;

c porém, em nenhum caso foi recusada a qualificação de organismo de direito


público por falta desse requisito.

3) Sentido do conceito de (necessidades de interesse geral) sem caráter industrial ou comercial:


aquilo que está agora em causa é a definição das condições de mercado em que um determinado
organismo exerce as suas missões para o efeito de o submeter, ou não, às regras da
adjudicação de contratos públicos.

a Assim, quando uma certa entidade exercer uma atividade em condições normais de
mercado concorrencial, com o objetivo de lucro e exposta ao risco de perdas, é natural
que oriente as suas compras por considerações económicas, como faz qualquer operador
económico, qualquer empresa (atividade com caracter industrial ou comercial).

b Dessa forma, não se exige, a aplicação das regras da contratação pública. Quando o
operador não atua em condições normais de mercado, e pode deixar-se orientar nas suas
compras por considerações não económicas (atividade sem caracter industrial ou
comercial).

Impõe-se, por isso, a aplicação das regras da contratação pública, que, em geral, vão
orientá-lo no sentido de adjudicar a proposta economicamente mais vantajosa, num
processo que, para esse efeito, deve ter a máxima abertura à concorrência e permitir o
acesso de todos os interessados, em CONDIÇÕES DE IGUALDADE.

A noção acolhe a jurisprudência do TJUE, em especial, a do Acórdão do TJUE, (Acórdão Agorá), de 10-5-
2001 (empresa de organização de feiras e exposições). A jurisprudência do TJUE delimitou os critérios
para avaliar se uma atividade desenvolvida por uma sociedade pública é desprovida de carácter
industrial ou comercial:

i. As circunstâncias que presidiram à constituição dessa sociedade; e

ii. As condições em que a mesma exerce a sua atividade, incluindo, nomeadamente, a ausência
de um fim lucrativo a título principal e a não assunção dos riscos associados à referida
atividade, bem como o eventual financiamento público da atividade em causa.

P. ex.: nos termos da Lei nº 50/2012, de 31-8, os municípios devem transferir para as empresas
municipais os meios necessários para a cobertura dos respetivos prejuízos e assegurar o seu
(re)equilíbrio financeiro. Pelo que estas empresas não assumem o risco económico-financeiro
que resulte das atividades desenvolvidas.

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Contratos Públicos 2019/2020

2.1.3. Terceiro requisito - estreita dependência em relação a uma entidade do


art.2º/1:
1 O CRITÉRIO DO FINANCIAMENTO PÚBLICO MAIORITÁRIO ou o CRITÉRIO
DO CONTROLO DE GESTÃO (entidades financiadas por uma entidade adjudicante,
mas sem a exigência de contraprestações específicas por conta do auxílio
financeiro concedido);

2 ou CONTROLADAS POR UMA ENTIDADE ADJUDICANTE, implicando o


controlo de gestão o exercício de um poder de orientação ou de supervisão que
determina as finalidades e os objetivos a prosseguir pela entidade controlada.

Por outras palavras: a situação de estreita dependência de uma entidade se verifica com a presença de 1
de 3 fatores:

• O financiamento maioritário das suas atividades: a lei fala de «financiamento», conceito que,
pelo menos quando reportado ao financiamento direto, se deve interpretar como referenciando,
em regra, um fluxo de recursos financeiros que tem origem no orçamento das entidades
adjudicantes do nº1 do artigo 2º ou em outros organismos de direito público, e que, também
em regra, se materializa na atribuição de subsídios ou subvenções e pressupõe, portanto, uma
prestação de auxílio financeiro, a concessão de um APOIO OU ATRIBUIÇÃO DE UMA VANTAGEM
ECONÓMICA à qual possa ser atribuído um valor monetário e a que não corresponde uma
contrapartida específica a realizar pelo beneficiário.

o No entendimento de Pedro Costa Gonçalves não parece que se possa qualificar como
ORGANISMO DE DIREITO PÚBLICO uma entidade financiada por fundos de origem
europeia pois o que determina a qualificação de uma entidade como organismo de direito
público não é receber um financiamento público, mas sim receber um financiamento das
entidades adjudicantes referidas no nº1 dos artigo 2º.

o Para este efeito, FINANCIAMENTO MAIORITÁRIO é o que corresponde a mais de metade


do valor total das receitas do organismo, aquela qualificação deve fazer-se com base
anual e o exercício orçamental em que o processo de concurso público for iniciado.

• O controlo da sua gestão: o critério assenta na ideia de que o controlo de gestão deve criar uma
situação de dependência do organismo em causa em relação aos poderes públicos equivalente à
que existe quando um dos outros 2 critérios alternativos está preenchido,
o ou seja, um financiamento proveniente maioritariamente dos poderes públicos ou a
nomeação por estes da maioria dos membros que compõem o órgão de administração,
de direção ou de fiscalização deste organismo.
o O controlo de gestão não equivale a um mero poder de fiscalizar a gestão, mas antes a
um poder de a influenciar. O controlo de gestão pode ter fundamento na lei ou no
contrato.

• Ou a designação de mais de metade dos seus dirigentes por uma qualquer entidade adjudicante
do artigo 2º/1, ou por outro organismo de direito público: o facto de mais de metade dos
membros do organismo terem sido designados por uma entidade adjudicante.

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Contratos Públicos 2019/2020

Considerando (10) da Diretiva 2014/24, de 26-2-2014 (nova Diretiva relativa aos contratos públicos): -
“...a condição relativa à origem do financiamento do organismo em causa foi igualmente objeto de
jurisprudência, que clarificou nomeadamente que por «financiado maioritariamente» se entende
financiado em mais de metade, e que este tipo de financiamento pode incluir pagamentos impostos,
calculados e cobrados aos utilizadores de acordo com as regras de direito público”;

- “...importa esclarecer que um organismo que opera em condições normais de mercado, que tem fins
lucrativos, e que assume os prejuízos resultantes do exercício da sua atividade, não deverá ser considerado
um «organismo de direito público» uma vez que as necessidades de interesse geral, para satisfação das
quais foi criado ou que foi encarregado de cumprir, podem ser consideradas como tendo caráter
industrial ou comercial”.

2.3. Os “ORGANISMOS DE DIREITO PÚBLICO” E PESSOAS COLETIVAS (privadas) DE UTILIDADE


PÚBLICA (p. ex., instituições particulares de solidariedade social, misericórdias e outras entidades
particulares de interesse público).

2.3.1. A “interpretação funcional” da jurisprudência do TJUE: estas entidades


prosseguem fins de interesses geral; caso o respetivo FINANCIAMENTO Seja, “em mais
de metade”, de proveniência pública, isto é, proveniente do orçamento das entidades
do n.º 1 do artigo 2º ou de (outros) ORGANISMOS DE DIREITO PÚBLICOS, serão
subsumíveis ao conceito de “organismos de direito público” e, consequentemente,
entidades adjudicantes.

O diferente âmbito de aplicação da Parte II do CCP quanto às ENTIDADES ADJUDICANTES do artigo 2º

1. Contratos a celebrar pelas entidades do n.º 1 do artigo 2º do CCP: para as entidades do nº 1 do


artigo 2º do CCP vale a cláusula geral do artigo 16º, n.º1, isto é, estas ENTIDADES SÃO ENTIDADES
ADJUDICANTES para todos os contratos cujas “prestações estão ou sejam suscetíveis de estar
submetidas à concorrência de mercado”, ficando, por isso, sujeitas à Parte II do CCP
relativamente à formação de todos os contratos que reúnam esta característica.

2. Para os “ORGANISMOS DE DIREITO PÚBLICO”, a Parte II do CCP só é aplicável aos contratos que
abranjam prestações típicas da (nº 8 do artigo 5º do CCP):
i da empreitada de obras públicas;
ii locação e aquisição de bens móveis;
iii aquisição de serviços;
iv concessão de obras públicas;
v concessão de serviços públicos.

2.1. Em todo o caso, o designado “efeito de contágio ou de contaminação”: quaisquer


contratos dos mencionados, mesmo que não estejam relacionados com a atividade de interesse
geral que justificou a criação e/ou a qualificação da entidade com organismo de direito público.

3. Terceiro grupo de entidades adjudicantes: “entidades dos sectores


especiais”/operadores de serviços de rede (e que não sejam entidades adjudicantes do nº 1 do
artigo 2º ou “organismos de direito público”) - “São ainda entidades adjudicantes” – artigo 7º,
nº 1, alínea a): Quaisquer pessoas coletivas não abrangidas pelo artigo 2º, ainda que criadas

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Contratos Públicos 2019/2020

especificamente para satisfazer necessidades de interesse geral, com carácter industrial ou


comercial, que exerçam uma atividade nos sectores da água, (incluindo a eliminação ou
tratamento de águas residuais), da energia, dos transportes ou dos serviços postais (nos termos
descritos nos artigos 9º, 10º e 13º) e em relação às quais qualquer das entidades adjudicantes
referidas no artigo 2º possa exercer, direta ou indiretamente, uma influência dominante.

3.1. Ou seja, são também entidades adjudicantes:

i. As PESSOAS COLETIVAS que estejam sob a influência dominante de entidades


adjudicantes do artigo 2º, nº 1 e 2 (desde que aquelas pessoas coletivas não
constem como entidades adjudicantes no mesmo artigo – nos nº 1 e 2 do
artigo 2º);

ii. E, ainda que atuem em condições normais de mercado e em contexto


concorrencial (isto é, expostas à concorrência), tenham por OBJETO O
EXERCÍCIO DE ATIVIDADES NOS SECTORES ESPECIAIS (isto é, nos sectores da
água, da energia, dos transportes ou dos serviços postais).

Exemplo: abrangem-se neste âmbito empresas do Estado (empresas públicas) ou


empresas municipais que exerçam a respetiva atividade naqueles sectores especiais
(desde que não sejam organismos de direito público).

3.1.1. O conceito de “INFLUÊNCIA DOMINANTE”: considera-se que uma entidade


adjudicante pode exercer influência dominante quando detiver, nomeadamente, :
i. a maioria do capital social,
ii. a maioria dos direitos de voto,
iii. o controlo de gestão
iv. ou o direito de designar, direta ou indiretamente a maioria dos titulares de um
órgão de administração, de direção ou de fiscalização – n.º2 do artigo 7º.

3.2. Contratos a celebrar pelas entidades dos sectores especiais – artigo 11º, nº1, e artigo 474º, n.º 4. Os
seguintes tipos de contratos e desde que o seu objeto esteja relacionado com a ATIVIDADE DO SECTOR
ESPECIAL que justificou a sujeição da entidade ao CCP:

i empreitadas de valor igual ou superior a 5 548 000 € (alínea a) do nº 4 do artigo 474º);


ii concessão de obras públicas;
iii concessões de serviços públicos;
iv locação ou aquisição de bens móveis
v e aquisição de serviços de valor igual ou superior a 443 000 € (alínea b) do n.º 4 do artigo 474º);
vi e a aquisição de serviços sociais ou outros específicos enumerados no anexo IX ao CCP, cujo valor
seja igual ou superior a 1000.000 €.

Contratos a celebrar por “organismos de direito público” que operem (ou também operem) nos
sectores especiais: à formação dos contratos a celebrar pelas entidades adjudicantes referidas no nº 2 do
artigo 2º que exerçam uma ou várias atividades nos setores da água, da energia, dos transportes e dos
serviços postais são aplicáveis as regras especiais relativas à formação dos contratos a celebrar pelas
entidades adjudicantes referidas no n.º 1 do artigo 7.º, desde que esses contratos digam direta e
principalmente respeito a uma ou a várias dessas atividades – artigo 12º

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Contratos Públicos 2019/2020

P. ex.: uma empresa do sector empresarial local que seja um organismo de direito público que opere num dos
sectores especiais é-lhe extensivo, nesta parte (e só nesta parte), o âmbito da contratação nos sectores especiais da
água, energia, transportes e dos serviços postais.

Outras entidades adjudicantes:


1. Centrais de compras – artigo 260º do CCP, Decreto-Lei nº 200/2008, de 9-10, e Decreto-Lei nº
37/2007, de 19-2:
- As centrais de compras são entidades, com ou sem personalidade jurídica, constituídas
pelas entidades adjudicantes do artigo 2º (as “entidades adjudicantes referidas nos nº 1
e 2 do artigo 2º podem constituir centrais de compras para centralizar a contratação de
empreitadas de obras públicas, de locação e de aquisição de bens móveis e de aquisição
de serviços” – nº1 do artigo 260º).

- O nº3 do mesmo artigo diz que a constituição, a estrutura orgânica e o funcionamento


das centrais de compras se regem por diploma próprio (DL nº200/2008).

- Resulta do art.2/3 do DL nº200/2008 a sua própria natureza enquanto entidade


adjudicante como tal no desenvolvimento de atuações enquanto entidades
adjudicantes, as centrais de compras estão sujeitas ao CCP (art.261º/2).

1. P. ex.: a Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I.P. (ESPAP) e


o Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), EPE; unidades ministeriais
de compras (UMC).

2. As UMC não dispõem de personalidade jurídica.


A condição de entidades adjudicantes aplica-se exclusivamente às centrais de compras constituídas
pelas entidades adjudicantes do artigo 2º CCP.

Há CENTRAIS DE COMPRAS PRIVADAS, instituídas no mercado por operadores económicos, que não são
entidades adjudicantes.

Além destas, também NÃO SÃO ENTIDADES ADJUDICANTES as centrais de compras constituídas por
entidades adjudicantes do artigo 7º.

- As centrais de compras do Estado integram entidades compradoras vinculadas (entidades


que estão obrigadas a comprar bens e serviços por intermédio da central de compras,
como sucede com os serviços da Administração direta do Estado e os institutos públicos
do Estado) e entidades compradoras voluntárias (entidades que, por vontade própria,
poderão aderir àquelas centrais, como sucede com os municípios e as entidades do
sector público empresarial).

Nota: no âmbito da vinculação, as entidades compradoras vinculadas (Estado e Institutos Públicos) não
podem celebrar acordos-quadro (263º/2), nem podem contratar fora dos acordos-quadro celebrados
pelas centrais de compras (256º-A), que, contudo, admite a possibilidade de contratação fora dos
acordos-quadro, desde que se demonstre que a compra se efetua por um preço mais vantajoso.

Neste sentido, são nulos os contratos que as entidades compradoras vinculadas celebrem fora dos
acordos-quadro do SNCP (serviço nacional de contratação pública).

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Contratos Públicos 2019/2020

2. Funções das centrais de compras do Estado – artigo 261º do CCP:

1)Realizam aquisições como “grossistas”: adquirem bens ou serviços no mercado em nome


próprio para revenda às entidades adjudicantes do artigo 2º, promovendo, assim, o
agrupamento de encomendas

P. ex., aquisição de um grande número de computadores ou de bens de consumo


corrente das entidades adjudicantes – alínea b) do n.º 1 do artigo 261º

2)Funcionam como mandatárias/representantes (contrato de mandato administrativo) das


entidades adjudicantes, na organização e condução dos procedimentos de adjudicação, para
a celebração de contratos de aquisição de serviços, de aquisição bens móveis e de
empreitadas de obras públicas – alínea a) do n.º 1 do artigo 261º.

3)Organizam e conduzem procedimentos de adjudicação destinados à celebração de acordos-


quadro (designados por “contratos públicos de aprovisionamento” - artigos 265º e 266º), para
a posterior celebração, pelas entidades adjudicantes do artigo 2º (entidades vinculadas ou
voluntárias) e ao abrigo destes acordos-quadro, de contratos de aquisição de serviços, de
aquisição de bens móveis e de empreitadas de obras públicas – alínea c) do nº 1 do artigo
261º, artigos 257º a 259º.

2.Extensão do âmbito de aplicação da Parte II do CCP (art.275º e 276º)


1. Entidades (não adjudicantes) com “contratos subsidiados” – artigo 275º do CCP (“Contratos
subsidiados”): “A Parte II do presente Código aplica-se igualmente à formação de contratos
celebrados por entidades não previstas no artigo 2º e no artigo 7º, nos seguintes termos:

a) Contratos de empreitada de obras subsidiados diretamente em mais de 50% do respetivo


preço contratual por entidades adjudicantes, sendo o referido preço contratual igual ou
superior ao limiar previsto na alínea a) do nº 3 do artigo 474º (5 548 000 euros), caso
envolvam uma das seguintes atividades:

i. Atividades de construção civil enumeradas no anexo XI do CCP;

ii. Obras de construção de hospitais, instalações desportivas,


recreativas e de ocupação de tempos livres, estabelecimentos
escolares e universitários e edifícios para uso administrativo;
b) Contratos de serviços subsidiados diretamente em mais de 50% do respetivo preço contratual
por entidades adjudicantes, sendo o referido preço igual ou superior ao limiar previsto na
alínea c) do nº 3 do artigo 474º (ou seja, 221.000 euros), quando estejam associados a um
contrato de empreitada de obras da alínea anterior.

Na delimitação do âmbito de aplicação do artigo 275º, é essencial ter PRESENTES OS SEGUINTES


ELEMENTOS:

i O regime ali previsto refere-SE À FORMAÇÃO DE CONTRATOS (SUBSIDIADOS) DE ENTIDADES


NÃO ADJUDICANTES; à formação dos contratos subsidiados de entidades adjudicantes
aplicam-se as regras gerais a que essas entidades se encontram sujeitas;

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Contratos Públicos 2019/2020

ii O CCP NÃO ESTABELECE UM REGIME GERAL DA ADJUDICAÇÃO DE CONTRATOS SUBSIDIADOS,


pelo que os contratos subsidiados de entidades não adjudicantes que não sejam de
empreitadas ou de serviços associados a empreitadas não são abrangidos pela extensão do
âmbito de aplicação do CCP.

Obrigação das entidades adjudicantes que concedam OS SUBSÍDIOS: as entidades


adjudicantes que concedem os subsídios referidos no número anterior são responsáveis por
assegurar o cumprimento das normas do CCP, quando :

i. não forem elas próprias a celebrar os contratos subsidiados

ii. ou quando celebrarem esses contratos em nome e por conta de outras entidades
– n º2 do artigo 275º.

O conceito amplo de subsídio: qualquer vantagem económica ou vantagem suscetível de


avaliação pecuniária, que seja atribuída ou concedida sem a exigência de uma
contraprestação específica ao beneficiário (p. ex., a concessão de benefícios fiscais poderá
ser qualificada como um subsídio – Acórdão do TJUE, de 26/9/2013, França/Comissão,
Processo C-115/12)

No entanto, a ressalva dos SUBSÍDIOS SUJEITOS A REEMBOLSO INTEGRAL: quando os “contratos


subsidiados” correspondam a empréstimos reembolsáveis “Fica excecionada do disposto no nº 1 a
formação de contratos celebrados por entidades não previstas no artigo 2º e no artigo 7º, que sejam
financiados com recurso a subsídios sujeitos a reembolso integral” – nº 3 do artigo 275º.

Subsidio “ é toda e qualquer vantagem financeira atribuída, direta ou indiretamente , a


partir de vernas do orçamento de uma entidade ajudicante, qualquer que seja a
designação ou modalidade adotada , a que não corresponde uma contrapartida especifica,
ou seja, uma prestação individualizada ou determinada, a efetuar pelo benfeciario no
interesse direto da entidade adjudicante ( 2º a 7º )

Nota 1: coloca-se a questão de saber se a concessão de subsídios através dos designados fundos
estruturais da EU releva para a sujeição do beneficiário às regras da contratação pública: não há
qualquer indicação no sentido de que o DUE considere forçosamente, para efeitos da definição de
contratos subsidiados, os subsídios com origem em fundos europeus.

Por isso, parece a Pedro Costa Gonçalves que as ENTIDADES NÃO ADJUDICANTES que recebam subsídios
com origem europeia não se encontram adstritas ao cumprimento do CCP, nos termos do artigo 275º.

Nota 2: o nº3 do artigo 275º exclui do âmbito de aplicação do nº1 os contratos que sejam financiados
com recurso a subsídios sujeitos a reembolso integral uma vez que esses subsídios não são, em termos
jurídicos e económicos, verdadeiros subsídios.

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Contratos Públicos 2019/2020

2. Concessionários de obras públicas que não sejam entidades adjudicantes: O dever de publicitar
no Diário da República e no Jornal Oficial da União Europeia a intenção de celebrar contratos
de empreitada de obras públicas cujo preço contratual seja igual ou superior ao valor referido
na alínea a) do nº 3 do artigo 474º (5 548 000 euros) – nº 1 e 2 do artigo 276º

(p. ex., os concessionários de autoestradas).

3. Outras entidades submetidas ao regime da Parte II do CCP:


a. Entidades que contratam na qualidade de mandatários: entidades que contratam em
nome próprio, mas em benefício de uma entidade adjudicante

i (p. ex., uma fundação ou uma associação de direito privado substitui-se a uma
entidade adjudicante, adquirindo propositadamente bens móveis para esta. A
falta de um mandato expresso – mandato sem representação - não obsta à
aplicação da Parte II do CCP).

Nota: importa não confundir a situação dos mandatários e a dos prestadores de serviços que preparam
e gerem os procedimentos de contratação em nome e por conta de uma entidade adjudicante, e de acordo
com as suas instruções (1º-A/4 CCP).

b. Entidades sujeitas por “lei avulsa” ao CCP (artigo 23º/1/2 do Estatuto das Instituições
Particulares de Solidariedade Social - Decreto-Lei n.º119/83, de 25-2, com a redação
que lhe foi dada pelo Decreto-Lei nº 172-A/2014, de 14-11):
i a empreitada de obras de construção ou grande reparação pertencentes às
instituições, devem observar o estabelecido no CCP, COM EXCEÇÃO das obras
realizadas por administração direta até ao montante máximo de 25 mil euros.

ii Mas, por força do nº 2 aquele artigo, este regime não se aplica às instituições
que não recebam apoios financeiros públicos.

Nota: estas entidades, quando o financiamento público seja maioritário, são subsumíveis ao CONCEITO
DE “ORGANISMO DE DIREITO PÚBLICO” (nº 2 do artigo 2º do CCP).

Por outras palavras: a sujeição ao CCP só não se verifica, excecionalmente, quando se verifiquem 2
requisitos cumulativos:

1) as obras serem realizadas por administração direta, pelo pessoal da própria IPSS, ou
seja, sem contratação de terceiros;

2) serem de valor inferior a 25.000€.

c. Entidades que assumem perante a Administração Pública o compromisso de cumprir


a Parte II do CCP: A imposição administrativa (¹ dos casos anteriores em que a extensão
de aplicação da parte II era por força de uma indicação legal), através de regulamento
ou da aposição de cláusula acessória (cláusula modal aposta a um ato administrativo,
nos termos do artigo 149º do Código do Procedimento Administrativo).

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Contratos Públicos 2019/2020

i O exemplo do regime de contratação pública nos domínios da defesa e da


segurança (Decreto-Lei nº 104/2011, de 6-10): com base neste regime a entidade
adjudicante pode impor ao adjudicatário a escolha dos seus subcontratados em
conformidade com REGRAS E PRINCÍPIOS DO DIREITO DOS CONTRATOS
PÚBLICOS – artigo 59º do Decreto-Lei nº 104/2011.

III)Âmbito da incidência objetiva da parte II do CCP


(Esta secção é dividida em duas subsecções: 1º os contratos abrangidos ou incluídos; 2º os contratos excluídos).

Delimitação do universo de contratos que as entidades adjudicantes estão vinculadas a formar segundo
o regime procedimental estabelecido na Parte II do CCP ou segundo um dos tipos de procedimentos
disciplinados nesta Parte do CCP (artigos 16º a 277º)

1. Relembrando o artigo 1º, nº 2, do CCP: “O regime da contratação pública estabelecido na parte II é aplicável
à formação dos contratos públicos que, independentemente da sua designação e natureza, sejam
celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no presente Código e não sejam excluídos do seu
âmbito de aplicação”.

1.1. Pelo ELEMENTO LITERAL do nº 1 do artigo 2º do CCP extraem-se dois segmentos essenciais:

a) Que há contratos públicos celebrados pelas entidades adjudicantes enumeradas no CCP


(entidades enumeradas nos artigos 2º e 7º) cujo procedimento de formação decorre
necessariamente nos termos disciplinados na Parte II do CCP;

b) E que existem outros contratos públicos celebrados pelas mesmas entidades adjudicantes cujo
procedimento de formação se encontra excluído dessa disciplina.

1.2. Na exposição que se segue vamos definir os CRITÉRIOS que permite considerar determinados
contratos das entidades adjudicantes sujeitos à parte II do CCP: Critérios doutrinais (e
jurisprudenciais) delimitadores do universo de contratos públicos cujo procedimento de formação
se encontra sujeito à Parte II do CCP:

a) O critério da procura pública (contratos de procura pública): O CCP só se aplica a contratos de


procura pública (com interesse concorrencial) pela insistência do art.1º/2, ou seja, aqueles
contratos cuja execução corresponde à satisfação de um interesse e de uma necessidade da
entidade adjudicante. É o que sucede tipicamente com os contratos do art.16º/2.

i. Os designados contratos públicos na terminologia do Direito Europeu:


- Contrato de empreitada de obras públicas;
- Contrato de aquisição/locação de bens móveis;
- Contrato de aquisição de serviços.

ii. E com os contratos de:

- concessão de obras públicas;


- contratos de concessão de serviços públicos;

21
Contratos Públicos 2019/2020

- contratos de exploração de bens públicos;


- contratos de sociedade

Este conceito identifica as várias categorias de contratos que as entidades adjudicantes


celebram em vista da satisfação de necessidades próprias e, por isso, no âmbito e na sequência de
procedimentos desencadeados por um ato da sua própria iniciativa, sendo que este ato representa o
início de um processo que levará a entidade adjudicante a obter os bens ou os serviços de que carece.
+
O conceito abrange os:
1. CONTRATOS PÚBLICOS DE COMPRA
2. e UTILIZAÇÃO DE BENS MÓVEIS
3. e os CONTRATOS PÚBLICOS DE COLABORAÇÃO (pelos quais o contraente assume o encargo
de colaborar com o contraente publico mediante a execução de uma certa atividade).

O contrato surge como o resultado de um procedimento que se inicia com uma decisão de
contratar da entidade adjudicante. Sendo que o contrato é um instrumento de satisfação de uma
necessidade própria da entidade adjudicante e permite uma compreensão geral do contratante
selecionado como um colaborador da entidade adjudicante.

Na verdade todo o dispositivo da Parte II está baseado na idealização de um procedimento


desencadeado pela entidade adjudicante e ordenado para a adjudicação de um contrato em que o
contraente privado se vê convocado a executar, a desenvolver uma atividade (construir, prestar um
serviço, entregar um bem, gerir uma obra) em execução do contrato, neste sentido todo o contexto
normativo aponta para um tipo de “contratação de colaboração que atribui a execução ao contraente
privado; são as prestações do contraente, as prestações que este se a obriga a efetuar em execução do
contrato que correspondem à razão de ser do próprio contrato.

b) Critério do interesse concorrencial e o benefício económico:

i. A previsão normativa deste critério no artigo 16º, nº 1, do CCP: “Para a formação de


contratos cujo objeto abranja prestações que estão ou sejam suscetíveis de estar submetidas
à concorrência de mercado, as entidades adjudicantes devem adotar um dos seguintes tipos
de procedimentos...”;

ii. Esta inerente a ideia de que estarão submetidos à Parte II do CCP os CONTRATOS COM
INTERESSE CONCORRENCIAL, ou seja, contratos que, potencialmente, suscitam o interesse
de uma pluralidade de operadores económicos do mercado, na medida em que aos mesmos
está associada a possibilidade da OBTENÇÃO DE UM BENEFÍCIO ECONÓMICO;

iii. O contrato de procura pública é um objeto disputado e tem INTERESSE CONCORRENCIAL


quando TEM UM VALOR e, portanto, está em condições de produzir UM BENEFÍCIO
ECONÓMICO para quem venha a celebrá-lo (art.17º, conjugado com o art.97º, sobre o preço
contratual). Este benefício pode consistir em:

1. o preço a pagar pela execução das prestações objeto do contrato (ainda que o preço
seja pago por terceiros – p. ex., pelos utilizadores da obra pública ou do serviço público);

22
Contratos Públicos 2019/2020

2. o valor de quaisquer contraprestações a efetuar em favor do adjudicatário (p. ex.,


transmissão do direito de utilizar bens da entidade adjudicante);

3. o valor de vantagens decorrentes diretamente da execução do contrato (p. ex., um


contrato de restauração de um museu público no qual o contraente privado adquire o direito
de inscrever o seu nome, de forma visível, na entrada principal do mesmo. Neste sentido, o
contrato poderá não pressupor o pagamento de um preço pela entidade adjudicante, mas
envolve a obtenção de vantagens pelo co- contratante que suscitam – ou podem suscitar -
interesse concorrencial – isto é, benefício económico – para os operadores económicos).

Assim resulta do artigo 17º/1/2, do CCP:


“1 — Para efeitos do presente Código, o valor do contrato a celebrar é o valor máximo do benefício económico que, em função
do procedimento adotado, pode ser obtido pelo adjudicatário com a execução de todas as prestações que constituem o seu
objeto.
2 — O benefício económico referido no número anterior inclui, além do preço a pagar pela entidade adjudicante ou por
terceiros, o valor de quaisquer contraprestações a efetuar em favor do adjudicatário e ainda o valor das vantagens que decorram
diretamente para este da execução do contrato e que possam ser configuradas como contrapartidas das prestações que lhe
incumbem (...)”.

Ou seja, o interesse concorrencial ou o beneficio económico resultante de um contrato não se limita,


não tem de consistir num preço a pagar pela entidade adjudicante, podendo haver (e há) contratos
que não envolvem o pagamento de um preço pelas entidades adjudicantes, como, aliás, também
resulta expressamente dos artigos 36º, n.º2, 47º, nº 2, 88º, nº1, 109º, nº 3, e, a contrario, da alínea
d) do nº 1 do artigo 96º do CCP.

Nota: Ausência de interesse concorrencial (“contratos sem valor”) – art.17º/9: Esta categoria abrange os
contratos que não geram qualquer benefício económico, qualquer vantagem direta que possa configurar
como contrapartida das prestações efetuadas pelos contratantes.

1.2.1. O alcance máximo dos critérios referidos para os contratos celebrados pelas
entidades adjudicantes institucionais (as enumeradas no nº1 do artigo 2º, exceto o Banco de
Portugal): para estas entidades adjudicantes vale em PLENO A CITADA CLÁUSULA GERAL do nº1
do artigo 16º (conjugado com o nº1 do artigo 5º do CCP).

i Logo, todos os contratos (ou atos unilaterais) dessas entidades que


correspondam a contratos de procura pública com interesse concorrencial são
abrangidos, desde que não sejam expressamente excluídos.

1.2.2. Para os contratos celebrados pelos organismos de direito público (nº 2 do artigo
2º) e para o Banco de Portugal (alínea f) do nº1 do artigo 2º vale A REGRA estabelecida no nº8 do
artigo 5º.

ii Ou seja, estão apenas abrangidos pela Parte II os contratos destas


entidades e Banco de Portugal que abranjam prestações típicas da empreitada
de obras públicas e concessão de obras públicas, por exemplo.

Efeito imediato desta opção: os contratos excluídos do âmbito de aplicação da Parte II ficam sujeitos ao
REGIME DA CONTRATAÇÃO EXCLUÍDA, nos termos no art.5º-A.

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Contratos Públicos 2019/2020

1.2.3. Para os contratos celebrados pelas entidades adjudicantes dos “sectores


especiais” (sectores da água, da energia, dos transportes e dos serviços postais”) e dos organismos
de direito público que tenham por objeto estas atividades (ou apenas na parte em que também
tenham por objeto estas atividades) vale a REGRA ESTABELECIDA no artigo 11º: “1 — A parte II do
presente Código só é aplicável à formação dos contratos a celebrar pelas entidades adjudicantes
referidas no nº 1 do artigo 7º desde que:

a) Esses contratos digam direta e principalmente respeito a uma ou a várias das atividades
por elas exercidas nos setores da água, da energia, dos transportes e dos serviços
postais; e

b) O objeto desses contratos abranja prestações típicas dos seguintes contratos:


i) Empreitada de obras públicas cujo valor seja igual ou superior ao limiar
referido na alínea a) do nº 4 do artigo 474º (5 548 mil euros);
ii) Concessão de obras públicas;
iii) Concessão de serviços públicos;
iv) Locação ou aquisição de bens móveis e aquisição de serviços cujo valor
seja igual ou superior ao limiar referido na alínea b) do nº 4 do artigo 474º
(443 000 euros);
v) Aquisição de serviços sociais ou outros específicos enumerados no anexo
IX ao presente Código, cujo valor seja igual ou superior ao limiar referido
na alínea c) do nº 4 do artigo 474º (1 000 000 euros)”.

Nota: os organismos de direito público (art.2/2) que exerçam uma ou várias atividades nos setores da
água, energia, transportes e serviços postais beneficiam deste REGIME DA CONTRATAÇÃO NOS SETORES
ESPECIAIS em relação aos seus contratos que digam direta e principalmente respeito a atividades por eles
exercidas nos setores especiais.

Em relação aos contratos que não digam apenas respeito a uma dessas atividades e não seja possível
determinar qual a atividade a que dizem principalmente respeito, os organismos de direito público não
beneficiam deste regime da contratação dos setores especiais ficando SUJEITA AO REGIME GERAL
(ART.33º/3).
1.2.4. Atos administrativos substitutivos de contratos sujeitos à Parte II do CCP: Artigo
1º, nº 3, do CCP “O presente Código é igualmente aplicável, com as necessárias adaptações, aos
procedimentos destinados à atribuição unilateral, pelas entidades adjudicantes referidas no
artigo seguinte, de quaisquer vantagens ou benefícios, através de ato administrativo ou
equiparado, em substituição da celebração de um contrato público”.

a) Pressuposto da aplicação deste regime: que a celebração do contrato público (substituído


pelo ato administrativo) esteja (ou estivesse) necessariamente sujeita a algum dos
PROCEDIMENTOS DISCIPLINADOS NA PARTE II DO CCP

b) Finalidade do regime: evitar a “fuga” das entidades adjudicantes ÀS REGRAS


PROCEDIMENTAIS estabelecidas na Parte II do CCP.

(p ex.: atribuição de uma autorização para a execução de obras de reabilitação de edifícios


particulares, mas acompanhada do encargo de restaurar um museu municipal sito na mesma
zona).

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Contratos Públicos 2019/2020

CONTRATAÇÃO EXCLUÍDA

Nota: Os “CONTRATOS EXCLUÍDOS” são aqueles contratos a que o CCP não se aplica de todo (sobretudo
a Parte II e III) – art.4º.

Já a “CONTRATAÇÃO EXCLUÍDA” são aqueles contratos a que não se aplica a Parte II, ou seja, são
contratos cujo procedimento de formação/celebração não se encontra sujeito à Parte II - art.5º.

O CCO dedica-se especialmente à CONTRATAÇÃO EXCLUÍDA. O CONTRATO EXCLUÍDO da incidência da


Parte II fica também excluído da incidência da Parte III (art.280º/1).

1. Contratos desprovidos de interesse concorrencial – nº1 do artigo 5º: “A parte II não é aplicável à
formação de contratos cujo objeto abranja prestações que não estão nem sejam suscetíveis de estar
submetidas à concorrência de mercado, designadamente em razão da sua natureza ou das suas
características, bem como da posição relativa das partes no contrato ou do contexto da sua
formação”.
2. Contratos no âmbito do sector público – artigo 5º, nº 2, e artigo 5º-A
a) Referência a alguns “precedentes jurisprudenciais” do Tribunal de Justiça da União
Europeia (TJUE):

• Acórdão do TJUE, de 13 de Junho de 2013, Proc. C -386/11 – contrato celebrado entre duas coletividades
territoriais, para limpeza de instalações;

• Acórdão do TJUE, de 19 de Dezembro de 2012 - contrato celebrado entre duas entidades públicas (Agência Sanitária
Local de Lecceuma e a Università del Salento), para o “estudo e avaliação da vulnerabilidade sísmica de estruturas
hospitalares”;
• Acór dão do TJUE, de 9 de Junho de 2009, Proc. C-480/06 - cooperação entre autarquias locais - adjudicação de serviços
de tratamento de resíduos.
• Nº6 do artigo 1º da Diretiva 2014/24, de 26 -2-2014 (nova Diretiva relativa aos contratos públicos): os acordos, decisões
ou outros instrumentos jurídicos que organizem a transferência de poderes e responsabilidades pela execução de
missões públicas entre autoridades adjudicantes ou agrupamentos de autoridades adjudicantes, e que não prevejam
uma remuneração pela execuç ão dos contratos, são considerados uma questão de organização interna dos Estado-
Membro em causa e, como tal, não são de forma alguma afetados pela presente diretiva.

2.1 Contratos de delegação entre entidades adjudicantes: estão excluídos da Parte II do CCP os
acordos ou outros instrumentos jurídicos que organizem a transferência ou delegação de poderes
e responsabilidades pela execução de missões públicas entre entidades adjudicantes ou
agrupamentos de entidades adjudicantes, e que não prevejam uma remuneração – nº 2 do artigo 5º

(p. ex., os acordos de delegação entre municípios e freguesias).

2.2. Contratos de cooperação entre entidades adjudicantes: A Parte II do Código também não é
aplicável à formação dos contratos celebrados exclusivamente entre duas ou mais entidades
adjudicantes quando se verifiquem, cumulativamente, as seguintes condições (artigo 5º-
A/5/6):

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Contratos Públicos 2019/2020

1) O contrato estabelece uma cooperação entre as entidades adjudicantes, no âmbito de


tarefas públicas que lhes estão atribuídas e que apresentam uma conexão relevante entre
si;

2) A cooperação é regida exclusivamente por considerações de interesse público;

3) As entidades adjudicantes não exercem no mercado livre mais de 20% das atividades
abrangidas pelo contrato de cooperação.

Nota 1: p. ex., dois ou mais municípios podem, por contrato, criar serviços intermunicipalizados para a gestão comum
de interesses públicos municipais (nº 5 do artigo 8º da Lei nº 50/2012, de 31 de Agosto, que aprova o regime
jurídico da atividade empresarial local e das participações locais).

Nota 2: para efeitos do apuramento da percentagem referida deve ser tido em conta o volume médio
total de negócios, ou uma medida alternativa adequada, baseada na ATIVIDADE, tais como os custos
suportados pela pessoa coletiva em causa no que diz respeito a serviços, fornecimentos ou obras, nos três
anos anteriores ou, quando não tenha três anos de atividade concluídos, a projeção de atividades a
desenvolver -» n.º6 do artigo 5º-A.

2.3. Contratos in house – artigo 5º-A/ 1, 2, 3 e 4, do CCP. Nota prévia e alguma jurisprudência do
TJUE:
Acórdão Coditel Brabant, de 13-11-2008, Proc. C-324/07, sobre o controlo análogo conjunto sobre a Brutélé,
uma sociedade cooperativa intermunicipal (concessionária de serviços dos municípios membros).

Acórdão SUCH, de 19 de Junho de 2014, Proc. C-574/12, sobre a relação entre o Serviço de Utilização Comum
dos Hospitais e os hospitais portugueses, na sequência de um pedido de reenvio formulado pelo Supremo
Tribunal Administrativo

Acórdão Tragsa, de 19.04.2007 - Proc. C – 295/05:

- Capital social da Tragsa – 99% Estado Espanhol, 1% distribuído por 4 Comunidades


Autónomas;
- Obrigação de realizar as obras encomendadas pelos sócios, com prévia estipulação
do preço (haveria contrato ou determinação, isto é, “ordemencomenda”?)

.Acórdão Sea, de 10 de Setembro de 2009, Proc. 573/07: a participação, ainda que minoritária, de uma
empresa privada no capital de uma sociedade na qual também participa a entidade adjudicante em causa
excluiu que esta entidade adjudicante possa exercer sobre essa sociedade um controlo análogo ao que exerce
sobre os seus próprios serviços. Isto abrange quer a possibilidade de a sociedade estar aberta ao capital
privado e, portanto, abertura a participações privadas posteriores: tem de haver concurso porque há uma
alteração fundamental ao contrato.

Requisitos cumulativos da relação in house:


a) Relação permanente (estável);
b) Essencial da atividade em benefício da entidade adjudicante (desde que a pessoa coletiva
controlada realize mais de 80 % das suas atividades no cumprimento de funções que lhe tenham
sido confiadas pela autoridade adjudicante controladora ou por outras pessoas coletivas
controladas por essa autoridade adjudicante);

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Contratos Públicos 2019/2020

c) Controlo análogo ao exercido sobre os próprios serviços: controlo análogo isolado ou controlo
análogo conjunto – alínea a) do nº 1, nº 3 e alíneas a), b) e c) do nº4 do artigo 5º-A;

d) A inexistência de participação direta de capital privado na pessoa coletiva controlada (admite-se


excecionalmente essa participação, desde que observados os requisitos da 2ª parte da alínea c)
do nº 1 do artigo 5º-A).

Outra contratação excluída da Parte II do CCP:

1. Contratos de atribuição de subsídios ou subvenções pelas entidades adjudicantes do nº1 do artigo 2º,
a que não corresponda, como contrapartida, a prestação de um serviço específico por parte do
beneficiário – alínea c) do n. º4 do artigo 5º

(p. ex., um subsídio concedido para apoio a atividades culturais, artísticas e outras atividades similares).

2. Contratos no domínio da defesa e da segurança – alínea h) do nº 4 do artigo 5º (a formação destes


contratos é disciplinada pelo Decreto-Lei nº104/2011, de 6-10, que transpôs a Diretiva 2009/81/CE)

3. Contratos que, nos termos da lei, sejam declarados secretos ou cuja execução deva ser acompanhada
de medidas especiais de segurança, bem como quando os interesses essenciais de defesa e segurança
do Estado o exigirem – alínea i) do nº4 do artigo 5º

(p. ex., os contratos celebrados no âmbito da Lei Orgânica nº 2/2014, de 6-8, com a alteração que lhe foi
introduzida pela Lei nº 1/2015, de 8-1, relativa ao Segredo de Estado).

4. Contratos de serviços sociais, de saúde e de outros serviços específicos ou conexos - artigo 6º-A: “

1 — A parte II não é aplicável à formação dos contratos públicos que tenham por objeto a aquisição
de serviços sociais e de outros serviços específicos referidos no anexo IX ao presente Código, que dele
faz parte integrante, salvo quando o valor de cada contrato for igual ou superior ao limiar previsto
na alínea d) do nº3 do artigo 474º (isto é, 750.000 euros), caso em que se aplica o disposto nos artigos
2500-A e seguintes.

2 — À celebração dos contratos referidos no número anterior são aplicáveis, com as devidas
adaptações, os princípios gerais da contratação pública previstos no artigo 1º-A”

Regime da contratação excluída - artigo 5º-B: “1 - A celebração dos contratos a que se referem os artigos
5º e 5º- A fica sujeita aos princípios gerais da atividade administrativa, bem como, com as devidas
adaptações face à natureza do contrato, aos princípios gerais da contratação pública previstos no nº1 do
artigo 1º-A, devendo sempre ser feita menção à norma que fundamenta a não aplicação da parte II ao
contrato em causa”.

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Contratos Públicos 2019/2020

Contratos excluídos do âmbito do CCP, da Parte II e da Parte III do CCP (mera enumeração):

1. Contratos celebrados ao abrigo de regras internacionais - artigo 4º, nº1, do CCP (trata-se, em
geral, de contratos disciplinados por convenções ou acordos internacionais)

2. Contratos de trabalhos em funções públicas e contratos individuais de trabalho – alínea a) do nº2


do artigo 4º (os primeiros são disciplinados pela Lei nº 35/2014, de 20-6, Lei Geral do Trabalho
em Funções Públicas, e aos segundos é aplicável o Código do Trabalho)

3. Contratos de doação de bens móveis a favor de qualquer entidade adjudicante (liberalidade) –


alínea b) do nº 2 do artigo 4º.

4. Contratos de compra e venda, de doação, de permuta e de arrendamento de bens imóveis ou


contratos similares – alínea c) do n.º 2 do artigo 4º;

5. Contratos de prestadores de serviços de comunicação social – alínea d) do nº 2 do artigo 4º

6. Contratos sujeitos a um regime aplicável nos termos gerais do direito internacional – alínea e) do
nº 2 do artigo 4º.

IV)Princípios gerais da contratação pública

TIPOS DE PROCEDIMENTOS para a formação de contratos públicos:

Artigo 16º/1, do CCP Procedimentos para a formação de contratos

1 – Para a formação de contratos cujo objeto abranja prestações que estão ou sejam suscetíveis de estar
submetidas à concorrência de mercado, as entidades adjudicantes devem adotar um dos seguintes tipos
de procedimentos:
a) Ajuste direto;
b) Consulta prévia;
c) Concurso público;
d) Concurso limitado por prévia qualificação; e) Procedimento de negociação;
e) Diálogo concorrencial;
f) Parceria para a inovação.

1. Início dos procedimentos de formação de contratos públicos – artigo 36º do CCP


1.1. Início do procedimento: o procedimento de formação de qualquer contrato se inicia com a
decisão de contratar, a qual deve ser fundamentada e cabe ao órgão competente para
autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar, podendo essa decisão estar implícita nesta
última (nº1 do artigo 36º do CCP).

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Contratos Públicos 2019/2020

1.1.1. A decisão de contratar, a competência para autorizar a realização da


despesa e o preço base do contrato – artigo 36º e artigo 47º, sobre o “Preço
base”: o preço base, que deve ser definido pela entidade adjudicante no
caderno de encargos, é o montante máximo que esta entidade se dispõe a pagar
pela execução de todas as prestações que constituem o objeto do contrato,
incluindo eventuais renovações do contrato – nº1 do artigo 47º

1.1.2. A decisão de contratar e a decisão de escolha do procedimento de


adjudicação (artigo 38º do CCP): a decisão de escolha do procedimento de
formação de contratos deve ser fundamentada e cabe ao órgão competente
para a decisão de contratar.

Referência a alguns princípios gerais da contratação pública – artigo 1º- A do CCP

1. Princípio da concorrência: algumas projeções normativas/subprincípios


concretizadores

1.1. Prevalência de procedimentos de adjudicação de contratos públicos abertos à participação de


todos os interessados (caso do concurso público) sobre os procedimentos de acesso limitado
ou restritivo (caso do procedimento de ajuste direto e também do procedimento de consulta
prévia)

1.2. A liberdade de concorrer/participar em procedimentos de adjudicação de contratos públicos e a


igualdade de (ou no) acesso a estes procedimentos

1.3. A igualdade de tratamento de todos os participantes nos procedimentos de adjudicação de


contratos públicos (na qualidade de candidatos ou na qualidade de concorrentes)

1.4. Princípio da estabilidade/imodificabilidade das peças do procedimento (convite à apresentação


de proposta, anúncio do procedimento, programa do procedimento, caderno de encargos).

1.5. Princípio da estabilidade/imodificabilidade das propostas

2. Princípio da prossecução do interesse público


2.1. O interesse público financeiro
2.2. Os “novos valores” da contratação pública: a utilização estratégica da contratação pública na
implementação de políticas públicas (políticas sociais, políticas ambientais, promoção e
incentivo da inovação tecnológica, apoio às pequenas e médias empresas).

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Contratos Públicos 2019/2020

3. Princípio da não-discriminação: constitui uma projeção específica do princípio da igualdade de


tratamento e tem por dimensão nuclear a ideia de não-discriminação em razão da nacionalidade:
• Acesso aos procedimentos de adjudicação: os concorrentes devem ser tratados de igual
forma na apresentação, comparação e avaliação das propostas, devendo ser-lhes aplicáveis
as mesmas regras e condições – relevância no domínio dos procedimentos pré-contratuais;

• Tratamento dos concorrentes nos procedimentos de adjudicação: os concursos não podem


ser organizados no intuito de reduzir artificialmente a concorrência, isto é, de favorecer
indevidamente um ou outro operador económico (art.18º/1,2ªparte), ou seja, proíbe-se o
favorecimento ou desfavorecimento indevido – relevância no domínio dos procedimentos
de formação de contratos públicos.

4. Princípio da transparência: algumas projeções normativas:


4.1. As regras do procedimento e as informações técnicas disponibilizadas devem ser claras e
precisas (isto é, não ambíguas), de forma a possibilitar uma compreensão razoável e uniforme
entre todos os interessados/operadores económicos, ficando estes em igualdade de condições
para apresentar candidaturas ou propostas em conformidade com essas regras.

4.2. Publicitação das peças do procedimento (anúncio do procedimento, programa do


procedimento, caderno de encargos).

4.2.1. Publicitação do anúncio do procedimento no Diário da República e, quando se imponha


em função do valor do contrato a celebrar, no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE).

4.2.2. Publicitação das peças do procedimento na plataforma eletrónica da entidade


adjudicante.

4.3. Dever de fundamentação das decisões, desde o início do procedimento (artigos 36º e 38ºdo
CCP) até à decisão de adjudicação (artigo 73º do CCP), incluindo a decisão de não adjudicação
(artigo 79º do CCP) e a revogação da decisão de contratar (artigo 80º do CCP).

5. Princípio da imparcialidade (grau máximo de vinculação para o júri dos procedimentos, para o órgão
decisor da entidade adjudicante e para os peritos que auxiliem o júri). Algumas projeções normativas:

Artigo 1º-A, nº3, do CCP: “Sem prejuízo da aplicação das garantias de imparcialidade previstas no Código do
Procedimento Administrativo (artigo 9º, e artigos 69º a 76º, as entidades adjudicantes devem adotar as medidas
adequadas para impedir, identificar e resolver eficazmente os conflitos de interesses que surjam na condução dos
procedimentos de formação de contratos públicos, de modo a evitar qualquer distorção da concorrência e garantir a
igualdade de tratamento dos operadores económicos”.
Artigo 1º -A, nº4, do CCP: “Para efeitos do disposto no número anterior, considera-se conflito de interesses qualquer
situação em que o dirigente ou o trabalhador de uma entidade adjudicante ou de um prestador de serviços que age em
nome da entidade adjudicante, que participe na preparação e na condução do procedimento de formação de contrato
público ou que possa influenciar os resultados do mesmo, tem direta ou indiretamente um interesse financeiro,
económico ou outro interesse pessoal suscetível de comprometer a sua imparcialidade e independência no contexto do
referido procedimento”.
5.1.1. Declaração de inexistência de conflitos de interesses para os membros do júri dos
procedimentos, consultores e peritos que auxiliem o júri (artigo 67º, nº 5, do CCP).

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Contratos Públicos 2019/2020

6. Princípio da proporcionalidade (adequação, exigibilidade e proporcionalidade em sentido estrito) e


o “abuso de posição adjudicante”.

6.1. Proporcionalidade na fixação dos requisitos de acesso aos procedimentos de adjudicação de


contratos públicos, p. ex.:

- na definição dos requisitos mínimos de capacidade técnica no concurso limitado por


prévia qualificação, os quais “devem ser adequados à natureza das prestações objeto do
contrato a celebrar” – artigo 165º, nº1, do CCP

- e na definição dos requisitos mínimos de capacidade financeira também no concurso


limitado por prévia qualificação , que “não podem exceder o dobro do valor do contrato, salvo
em casos devidamente justificados, designadamente quando se prenda com os riscos especiais
associados à natureza do contrato, e devem reportar-se à aptidão estimada dos candidatos para
mobilizar os meios financeiros previsivelmente necessários para o integral cumprimento das
obrigações resultantes do contrato a celebrar” – artigo 165º nº3, do CCP.

6.2. Proporcionalidade em matéria de impedimentos, de forma a evitar a exclusão


(desproporcionada) dos concorrentes

(p. ex., só deverão ser excluídas entidades – singulares ou coletivas – que “Estejam abrangidas por
conflitos de interesses que não possam ser eficazmente corrigidos por outras medidas menos gravosas que
a exclusão” – alínea k) do nº1 do artigo 55º do CCP, conjugado com o nº2 do mesmo artigo).

7. Legalidade e discricionariedade
7.1. Vinculação das entidades adjudicantes à legalidade e à juridicidade (artigo 1º-A do CCP e artigo
3º do Código do Procedimento Administrativo)

7.2. Discricionariedade de conformação normativa (em especial, na definição das regras dos
procedimentos, designadamente no programa do procedimento – artigo 41º do CCP, e no
estabelecimento das cláusulas a incluir no contrato a celebrar, através do caderno de encargos
– artigo 42º, nº1, do CCP)

7.3. Discricionariedade estratégica das entidades adjudicantes (projetada, em especial, na decisão


de contratar: decidir se devem ser incluídas externalidades ambientais ou sociais no fator de
adjudicação ou o custo do ciclo de vida do produto ou serviço, adjudicar por lotes, etc.)

7.4. Discricionariedade, dever de fundamentação das (concretas) decisões que concretizem a lei
ou as regras adotadas pela entidade adjudicante e controlo jurisdicional destas decisões
(relação com o contencioso pré-contratual urgente).

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Contratos Públicos 2019/2020

V)PROCEDIMENTO DE ADJUDICAÇÃO DE CONTRATOS


PÚBLICOS
Sujeitos do procedimento de adjudicação de contratos públicos
1. Entidades adjudicantes (as entidades enumeradas nos artigos 2º e 7º do CCP). Todas têm
personalidade jurídica. Só não é assim no caso das centrais de compras.

2. Agrupamento de entidades adjudicantes (agrupamento de entidades nacionais ou de entidades


nacionais e de entidades de outro ou outros Estados-Membros da EU – artigo 39º do CCP).

3. Órgão adjudicante: órgão competente para a decisão de contratar (artigo 36º, nº 1 e 2, do CCP:
remissão para a – respetiva – lei orgânica ou para os estatutos da entidade adjudicante).

Quando o contrato envolve o pagamento de um preço, o CCP esclarece que essa competência
cabe então ao órgão competente para autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar (36º/1) – REGRA
GERAL, podem, porém, os estatutos da entidade adjudicante dispor em sentido diverso e nesse sentido já
não vale esta regra.
+
O órgão adjudicante é o órgão decisor; órgão da entidade adjudicante competente para tomar
as decisões principais/fundamentais do procedimento de adjudicação (desde a decisão de contratar –
para satisfazer uma certa necessidade – até à decisão de adjudicação), ou seja, compete-lhe, em geral, a
tomada de todas as decisões que tenham ou possam ter efeitos externos no procedimento.
+
Fora do seu domínio ficam de fora, num primeiro momento, apenas as competências próprias do
júri do procedimento.

3.1. Competências do órgão adjudicante


3.1.1. O ÓRGÃO ADJUDICANTE é o órgão principal de todo o procedimento, desde o início deste,
com a decisão de contratar, até à decisão de adjudicação (incluindo as fases pós-
adjudicatórias, como a aprovação da minuta do contrato e outorga deste), competindo-
lhe, em geral, a tomada de todas as decisões que tenham ou possam ter efeitos externos
no procedimento, designadamente as seguintes competências:

1. Decisão de contratar (artigo 36º do CCP) atribuída pela lei ou estatutos da entidade
adjudicante (e não pelo CCP);

2. Decisão de escolha do procedimento (artigo 38º do CCP);

3. Elaboração e aprovação das peças do procedimento, conformando, através


destas, todas as regras e fases do procedimento (artigo 40º do CCP);

4. Prestação de esclarecimentos aos interessados sobre as peças do procedimento,


oficiosamente ou a pedido daqueles (artigo 50º, nº 5, alínea a), e o nº 7, do CCP);

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Contratos Públicos 2019/2020

5. Pronúncia sobre os erros e omissões identificados pelos interessados e, quando


os aceite, a indicação dos respetivos termos de suprimento (artigo 50º, nº 5, alínea
b), e o nº6, do CCP);

6. Retificação/alteração das peças do procedimento e suprimento de erros ou


omissões das peças do procedimento (artigo 50º, nº5, alínea b), e nº 6 e 7, e artigo
64º, nº1, do CCP);

7. Decisão sobre a prorrogação do prazo de apresentação de propostas (artigo 64º,


nº4, do CCP);

8. Designação do júri do procedimento e de (eventuais) peritos ou consultores


(artigos 67º, nº1, e 68º, nº 6, do CCP);

9. Decisões de qualificação ou de exclusão de candidaturas, sob proposta do júri do


procedimento, constante do relatório final da fase de qualificação (artigo 168º,
nº4, do CCP);

10. Decisões de ordenação ou de exclusão de propostas, sob proposta do júri do


procedimento, constante de relatório deste (artigos 124º, nº4, e 148º, nº4);

11. Decisão de não adjudicação (artigo 79º do CCP);

12. Decisão sobre a dispensa da redução do contrato a escrito (artigo 95º, nº2, do
CCP);

13. Decisão de apresentação de ajustamentos ao conteúdo do contrato a celebrar


(artigo 99º, nº1, do CCP);

14. Decisão sobre a aprovação da minuta do contrato (artigo 98º, nº1, do CCP) e
representação da entidade adjudicante na outorga do contrato (artigo 106º, nº1,
do CCP).

15. Apreciação e decisão de impugnações administrativas (artigo 274º do CCP).

3.1.2. DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIAS pelo órgão adjudicante:

a) Artigo 109º, nº1 do CCP: “Todas as competências atribuídas pelo presente Código
ao órgão competente para a decisão de contratar podem ser delegadas, sem prejuízo do
disposto na parte final no nº 2 do artigo 69º”

b) Na relação entre o órgão adjudicante e o júri do procedimento, da conjugação


do nº1 do artigo 109º com o nº2 do artigo 69º resulta que aquele pode delegar no júri
todas as competências que lhe são atribuídas pelo CCP,

1 com EXCEÇÃO DAS LEGALMENTE INDELEGÁVEIS (nº2 do artigo 69º),


2 bem como daquelas que o ÓRGÃO ADJUDICANTE EXERCE
PREVIAMENTE À CONSTITUIÇÃO DO JÚRI, como a decisão de contratar, a
decisão de escolha do procedimento e a aprovação das peças do
procedimento.

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Contratos Públicos 2019/2020

4. Júri do procedimento
4.1. O júri como órgão interno (da entidade adjudicante) e temporário (artigo 20º, nº2, do Código
do Procedimento Administrativo-CPA), ao júri que cabe a direção da instrução do
procedimento (competência própria do júri), ainda que não lhe seja atribuída qualquer
função decisória final.

4.1.1. Não cabe ao júri adotar decisões com efeitos externos, mas antes uma tarefa
procedimental – a tarefa de preparar as decisões finais e externas que outro órgão irá
tomar (salvo a EXISTÊNCIA DE DELEGAÇÃO de competências deste no júri) – artigo 67º,
nº, do CCP.

4.2. Um órgão funcionalmente independente (não se integra em qualquer ordenação hierárquica


da entidade adjudicante e, no exercício das suas competências próprias, não deve
obediência a ordens, instruções ou diretivas de órgão adjudicante ou de outros órgãos).

4.3. Os titulares do órgão adjudicante podem ser membros do júri (artigo 67º, nº2, do CCP), mas
com a consequência prevista no artigo 69º, nº1, alínea d), do CPA, ficando impedidos de
participar, naquela qualidade, na tomada das decisões propostas pelo júri.

4.4. Regra da existência obrigatório de um júri nos procedimentos de adjudicação e exceções


à regra (artigo 67º, do CCP): “1 — Com exceção do ajuste direto e dos casos previstos no nº3,
os procedimentos para a formação de contratos são conduzidos por um júri, designado pelo
órgão competente para a decisão de contratar, composto, em número ímpar, por um mínimo
de três membros efetivos, um dos quais preside, e dois suplentes.
2 — Os titulares do órgão competente para a decisão de contratar podem ser designados
membros do júri.
3 — Tratando-se de consulta prévia ou de concurso público urgente, o órgão competente para
a decisão de contratar pode decidir que os procedimentos sejam conduzidos pelos serviços da
entidade adjudicante, considerando-se feitas a estes as referências feitas, no presente Código,
ao júri.
4 — O júri pode ser dispensado nos procedimentos em que seja apresentada apenas uma
proposta”.
4.4.1. Quando não exista júri ou este seja dispensado, deverá haver lugar à designação de um
responsável do procedimento, nos termos do artigo 55º do CPA.

4.5. Funcionamento do júri (artigo 68º do CCP): “1 — O júri do procedimento inicia o exercício das
suas funções no dia útil subsequente ao do envio do anúncio para publicação ou do convite.
2 — O júri só pode funcionar quando o número de membros presentes na reunião corresponda
ao número de membros efetivos.
3 — As deliberações do júri, que devem ser sempre fundamentadas, são tomadas por maioria
de votos, não sendo admitida a abstenção.
4 — Nas deliberações em que haja voto de vencido de algum membro do júri, devem constar
da ata as razões da sua discordância”.

4.5.1. Faculdade de indicar peritos ou consultores (artigo 68º, nº 6).

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Contratos Públicos 2019/2020

4.6. Competências próprias do júri (em geral, trata-se de competências para a prática de atos
instrumentais, que preparam as decisões a tomar pelo órgão adjudicante)

4.6.1. As competências identificadas no artigo 69º, nº 1, do CCP (“Compete nomeadamente ao


júri”):
a) Proceder à apreciação das candidaturas;
b) Proceder à apreciação das propostas;
c) Proceder à apreciação de soluções (no procedimento de diálogo
concorrencial) e projetos (no procedimento de parceria para a inovação);

d) Elaborar os relatórios (preliminares e finais) de análise das candidaturas,


das propostas e das soluções e projetos.
4.6.2. Outras competências:

a) Proceder à publicitação da lista de candidatos ou de concorrentes (artigos


177º, nº1, e 138º, nº 1, do CCP)

b) Solicitar esclarecimentos aos candidatos ou aos concorrentes sobre as


respetivas candidaturas ou propostas (artigos 183º, nº1, e 72º, nº1, do
CCP)

c) Solicitar o suprimento de irregularidades das candidaturas e das propostas


e proceder oficiosamente à retificação de erros de escrita ou de cálculo que
as mesmas contenham (artigo 72º, nº 3 e 4, do CCP)

d) Realizar as audiências prévias dos candidatos ou concorrentes;


e) Apreciar e decidir as reclamações de candidatos ou de concorrentes não
incluídos nas respetivas listas e fixar novos prazos de apresentação de
candidaturas ou propostas. Neste caso (aliás, o único caso previsto no
CCP), o júri, ao decidir as reclamações, toma uma decisão com eficácia
externa, que podem ser objeto de reclamação facultativa para o próprio
júri ou de recurso administrativo para o órgão adjudicante (artigos 177º,
nº3 e 4, 138º, nº3 e 4, 269º, e 271º, nº2, do CCP).

4.7. Competências indelegáveis e competências delegáveis pelo órgão adjudicante no júri: O júri
do procedimento tem competências próprias, mas, além destas, podem ser-lhe delegadas
competências do órgão adjudicante – art.69º/2 + art.109º/1.

Competências do órgão adjudicante que são indelegáveis no júri do procedimento:

1. Retificação das peças do procedimento, ou seja, retificação, alteração e suprimento de erros ou


omissões detetados pelos interessados e aceites pelo órgão adjudicante ou detetados e
retificados oficiosamente por este (art.50º, nº5/b; nº6 e nº7);

2. Decisões sobre erros ou omissões identificados pelos interessados: estes podem dar origem à
retificação das peças do procedimento OU podem ser rejeitados expressa ou tacitamente, nos
termos do art.50º/5/b – para que o órgão adjudicante assuma sempre a responsabilidade sobre

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Contratos Públicos 2019/2020

as decisões relacionadas com erros e omissões das peças do procedimento, quer para as corrigir,
quer para manter o que nelas se estabelece;

3. Decisão de qualificação dos candidatos (art.187º e 188º);

4. Decisão de adjudicação – decisão de aprovação de todas as propostas que constam no relatório


final do júri para efeitos de adjudicação (art.124º/4 e 148º/4), o que inclui a decisão sobre a
ordenação e sobre a exclusão das propostas;

5. Decisão de seleção das propostas ou dos concorrentes para a fase de negociação (art.148º/4 e
149º/2)

6. Competências para a tomada de decisões antes da entrada em funções do júri ou após a cessação
das suas funções (competências indelegáveis por impossibilidade).

4.8. Natureza jurídica das deliberações do júri: em geral, o júri apenas é titular de competências
para a prática de atos instrutórios, destinados à preparação das decisões do órgão
adjudicante, destacando-se, entre estes, o relatório final do procedimento, que contém o
resumo final do procedimento, a proposta de adjudicação e a respetiva fundamentação.

4.8.1. Consequentemente, as deliberações do júri apenas produzem EFEITOS


INTERNOS (isto é, efeitos dentro do procedimento a que digam respeito);

4.8.2. São meros ATOS PREPARATÓRIOS DAS DECISÕES DO ÓRGÃO ADJUDICANTE.

4.9. Impugnação das deliberações do júri: todas as deliberações do júri são suscetíveis de
impugnação para o próprio júri ou de recurso administrativo para o órgão adjudicante
(artigo 271º, n º2, do CCP).

4.10. Garantias de imparcialidade na atuação do júri (artigo 68º, nº6, do CCP, sobre a “declaração
de inexistência de conflitos de interesses”, e artigos 69º e segs.

4.10.1. Do CPA, sobre as garantias de imparcialidade): A revisão de 2017 veio exigir que,
antes do inicio de funções, os membros do júri e todos os demais intervenientes no
processo de avaliação de propostas (designados no art.68º/6), têm de subscrever
declaração de inexistência de conflito de interesses, conforme modelo previsto no anexo
XIII ao CCP.

4.10.2. Os membros do júri estão, nesta sua condição sujeitos ao REGIME DE


IMPEDIMENTOS do art.69º CPA. Tratando-se de um órgão ad hoc, a verificação de uma
situação de impedimento deve conduzir à substituição do referido membro do júri.

4.11. Caso especial do júri dos concursos de conceção e de ideias: excecionalmente,


nestes procedimentos as deliberações do júri TÊM CARÁCTER VINCULATIVO PARA A ENTIDADE
ADJUDICANTE (artigo 219º-E, nº3).

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Contratos Públicos 2019/2020

5. Candidatos e concorrentes; agrupamentos de candidatos ou concorrentes:


Os candidatos e concorrentes são “interessados com estatuto específico” nos procedimentos de
adjudicação. A destrinça entre as duas figuras reconduz-se à distinção entre procedimentos unifásicos e
bifásicos:
• Procedimentos unifásicos: não compreendem uma fase de qualificação prévia
(apresentação de candidaturas);

• Procedimentos bifásicos: compreendem uma fase de candidatura e de qualificação


prévia, anterior à fase de proposta e adjudicação (apresentação de propostas de
adjudicação de uma proposta), na qual participam os operadores económicos que
tenham sido qualificados na 1ªfase. Assim, nestes procedimentos, os interessados
apresentam a candidatura e são, portanto, candidatos.

5.1. Candidatos (artigo 52º do CCP): é candidato a entidade, pessoa singular ou coletiva, que
participa na fase de qualificação de um concurso limitado por prévia qualificação, de um
procedimento de negociação, de um diálogo concorrencial ou de uma parceria para a
inovação, mediante a apresentação de uma candidatura.

5.1.1. (Trata-se de procedimentos bifásicos, que compreendem dois subprocedimentos: um


subprocedimento destinado à apresentação de candidaturas, para efeitos de qualificação
dos candidatos; e um subprocedimento destinado à apresentação de propostas e
adjudicação de uma proposta, de entre as que sejam apresentadas pelos concorrentes).

5.2. Concorrentes (artigo 53º do CCP): é concorrente a entidade, pessoa singular ou coletiva, que
participa em qualquer procedimento de formação de um contrato mediante a apresentação
de uma proposta.

5.3. Agrupamentos (artigo 54º do CCP): podem ser candidatos ou concorrentes agrupamentos de
pessoas singulares ou coletivas, qualquer que seja a atividade por elas exercida, sem que
entre as mesmas exista qualquer modalidade jurídica de associação.

6. Adjudicatário (artigo 73º do CCP): a adjudicação é o ato pelo qual o órgão competente para a decisão
de contratar aceita a única proposta apresentada ou escolhe uma de entre as propostas apresentadas.

o O CONCORRENTE, pessoa singular ou coletiva ou agrupamento de entidades, que


apresentou a proposta adjudicada DESIGNA-SE POR ADJUDICATÁRIO.

o Em princípio, o adjudicatário será a contraparte no contrato a celebrar com a entidade


adjudicante (art.104º CCP).

▪ PORÉM HÁ DESVIOS: O adjudicatário não comparece à outorga do contrato;

o A adjudicação caduca (arts.86º, 87º, 91º, 93º e 105º CCP);

o O AGRUPAMENTO CONCORRENTE passa a constituir uma ASSOCIAÇÃO NOVA (art.54º/4


CCP).

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RESUMO DAS ENTIDADES ADJUDICANTES:

1º GRUPO: 2º GRUPO: 3º GRUPO:


OUTRAS ENTIDADES:
Entidades adjudicantes Organismos de direito Entidades dos setores Centrais de compras
institucionais (art.2º/1) público (art.2º/2) especiais (art.7º)

Desenvolvam certas
Verificação de 3 atividades no âmbito
elementos essenciais dos designados
de verificação setores especiais:
cumulativa: atividades nos setores
da água, da energia,
dos transportes e dos
- Estado; serviços postais.
- Regiões Autónomas; - Ter personalidade
jurídica Segundo o art.260º as
- Autarquias Locais;
- Criadas “entidades
- Institutos Públicos; Quaisquer pessoas adjudicantes referidas
especificamente para
- Entidades satisfazer coletivas não nos nº 1 e 2 do artigo
administrativas necessidades de abrangidas pelo artigo 2º podem constituir
independentes; 2º, que exerçam uma centrais de compras
interesse geral, cuja
ou várias atividades nos para centralizar a
- Banco de Portugal atividade não tenha setores da água, da
carácter industrial ou contratação de
- Fundações Públicas; energia, dos empreitadas de obras
comercial; transportes e dos
- Associações públicas, de locação e
- Sob a estreita serviços postais e em de aquisição de bens
Públicas; dependência em relação às quais móveis e de aquisição
- Associações Públicas relação a uma qualquer das entidades de serviços".
com participação entidade do art.2º/1: adjudicantes referidas
dominante de financiamento no artigo 2º possa
entidade pública maioritário; controlo exercer, direta ou
da gestão e indiretamente, uma
influência dominante.
designação de + de
metade dos membros - Atuem em condições
de órgãos de normais de mercado e
administração, em contexto
direção ou fiscalização concorrencial

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