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Nos termos do artigo 190 da actual lei dos contratos púbicos, “diz-se por preço
global a empreitada cuja remuneração é fixada antecipadamente numa soma
certa, correspondente à realização de todos os trabalhos necessários para a
execução da obra ou parte da obra, objecto do contrato”. A aplicação dessa
modalidade de empreitada de obra pública sujeita-se as obras relativamente às quais seja
possível calcular, sobre o projecto, com pequena probabilidade de erro, a natureza e a
quantidade dos trabalhos a efectuar.
4
In Lei da Contratação Pública de Angola Comentada e Anotada, 2.º Edição, Almedina Editora, pág. 318.
Relativamente às empreitadas por série de preço, dispõe o artigo 200.º que, “A
empreitada é estipulada por série de preços, quando a remuneração do
empreiteiro resulta da aplicação dos preços unitários previstos no contrato para
cada espécie de trabalho a realizar, tendo em conta a quantidade da execução real
dos trabalhos”. O contrato terá sempre por base a previsão das espécies e das
quantidades dos trabalhos necessários para a execução da obra, obrigando-se o
empreiteiro a executar pelo respectivo preço unitário do contrato, todos os trabalhos de
cada espécie. Os trabalhos cuja espécie ou quantidade não tiverem sido incluídos na
previsão que serve de base ao contrato, serão executados pelo empreiteiro como
trabalhos a mais.
Quanto a empreitada por percentagem, dispõe o n.º 1 do artigo 222.º, que “Diz-se
empreitada por percentagem, o contrato pelo qual o empreiteiro assume a
obrigação de executar a obra por preço correspondente ao seu custo, acrescido de
uma percentagem destinada a cobrir os encargos de administração e a
remuneração normal da empresa”. O custo dos trabalhos é o que resultar da soma dos
dispêndios correspondentes a materiais, pessoal, direcção técnica, estaleiros,
transportes, seguros e encargos inerentes à depreciação de instalações, de utensílios e de
máquinas e a tudo o mais necessário para a execução dos trabalhos, desde que tais
dispêndios sejam feitos com o acordo do dono da obra, nos termos estabelecidos no
caderno de encargos. É lícito adoptar, na mesma empreitada, diversos modos de
retribuição para distintas partes da obra ou diferentes tipos de trabalho.
Diferente da Empreitada global e a por série, de acordo com o n.º 1 do artigo 225.º,
“O empreiteiro não é obrigado a executar trabalhos a mais que excedam 1/4 do
valor dos que foram objecto do contrato”.
Salvo estipulação em contrário, os pagamentos serão feitos mensalmente, com base
em factura apresentada pelo empreiteiro, correspondente ao custo dos trabalhos
executados durante o mês anterior.
1.2. Aplicação subsidiária do regime da empreitada de obras públicas às
empreitadas de obras particulares.
5
Neste sentido, José Manuel Costa Marças, in A Aplicação Do Regime Jurídico Das Empreitadas De
Obras Públicas Às Empreitadas Particulares, relatório de Mestrado apresentado em Outubro de 1993, na
faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, pág. 507.
6
Neste sentido, José Manuel Costa Marças, in A Aplicação Do Regime Jurídico Das Empreitadas De
Obras Públicas Às Empreitadas Particulares, relatório de Mestrado apresentado em Outubro de 1993, na
faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, pág. 507.
jurisprudência do Supremo Tribunal Administrativo, decisão de 15 de Março de 1963,
acolhe esta permissa ao afirmar que:
Feito o enquadramento jurídico, levanta-se agora uma das mais importantes questões
no que toca a correcta aplicação do Direito aos factos juridicamente relevantes, que é a
questão da Aplicação da lei no tempo.
Entre nós vigora o princípio geral da não retroactividade da Lei, consagrado no
artigo 12.º do Código Civil, nos termos do qual, a Lei só dispõe para o futuro, ou seja,
uma vez aprovada a Lei apenas visa a regulação de factos novos que venham a surgir
depois da sua entrada em vigor.
O conflito de aplicação da lei no tempo é primeiramente resolvido pelo Direito
intertemporal ou Direito transitório, podendo atribuir eficácia retroactiva a lei nova,
entretanto, ficando sempre ressalvados os efeitos jurídicos já produzidos.
Quanto a questão principal, a de saber qual é a lei aplicável a um contrato de
Empreitada de obras Públicas celebrado em 2008, o artigo 362.º da Lei dos Contratos
Públicos de 2010, Lei n.º 20/10 de 7 de Setembro, cuja epígrafe é “aplicação no tempo”,
determina que esta lei aplica-se exclusivamente aos contratos celebrados após a data da
7
Nesse sentido, Leitão, Luís Menezes, in Direito das Obrigações, Vol. III, 14.º Edição, Almedina Editora,
pág. 506.
8
Nesse sentido, Martinez, Pedro Romano, in Direito das Obrigações (parte especial). Contratos, 2.º
Edição, Almedina Editora, pág. 319.
sua entrada em vigor, isto é, 90 dias após a sua publicação9. Excluindo-se todos os
contratos celebrados antes de 2010.
Art. 362.º: “A presente Lei é Aplicável aos procedimentos de Contratação
Pública iniciados após a data da sua entrada em vigor.”10
Logo, deve-se aplicar o regime consagrado no Decreto n.º 40/05 de 08 de Junho, que
estabelece o Regime de Empreitadas de Obras Públicas que vigorou no nosso
ordenamento jurídico até o ano de 2010.
9
Tendo entrado em vigor no dia 6 de Dezembro de 2010.
10
Diferente da Fórmula que nos é apresentada pelo artigo 413.º da Lei dos Contratos Públicos de 2016,
Lei n.º 9/16 de 16 de Junho, que revoga a Lei n.º 20/10, onde se procede nitidamente a divisão entre a
fase da celebração do contrato e a fase da sua execução, sendo que, esta lei aplicava-se aos contratos
públicos iniciados após a sua entrada em vigor, bem como aos contratos públicos iniciados antes da sua
entrada em vigor cuja sua execução ocorreria em momento posterior a sua entrada em vigor.
2. PROJECTO DE EXECUÇÃO. ERROS E OMISSÕES.
12
Que trata sobre os erros e omissões do projecto em procedimentos de formação de contratos de
empreitada ou de concessão de Obras públicas.
13
Que trata sobre o esclarecimento e rectificações das peças de procedimentos na fase concursal.
14
Neste sentido, Silva, Jorge Andrade, in Lei da Contratação Pública de Angola, 2.º Edição, Almedina
Editora, 2014, pág. 336.
3. RECEPÇÃO PROVISÓRIA E RECEPÇÃO DEFINITIVA.
3.1. Recepção Provisória
15
Neste sentido, Silva, Jorge Andrade, in Dicionário dos Contratos Públicos, 2.º Edição, Almedina
Editora, pág. 507.
16
Não constitui um imperativo legal a celebração de um contrato de prestação de serviço de fiscalização
da obra, tal como se verá infra no ponto 7. A fiscalização pode ser feita pelo próprio Dono da Obra ou por
um comissário, n.º 2 do artigo 1208.º CC. Inexistindo o fiscal da obra, a convocatória deve ser feita pelo
Dono da obra.
17
Sob pena de nulidade da convocatória.
18
É igualmente passivo o entendimento segundo o qual, há aceitação provisória tácita nos casos em que
o Dono da Obra toma definitivamente posse da Obra com intenção de a receber. Assim ocorre, por
exemplo, nos casos em que o Dono da Obra aloca o bem ao serviço do fim pelo qual foi concebido.
19
Nota explicativa do Decreto-Lei n.º 48 871, 33-1 pág.88 que, em Portugal aprovou a primeira versão do
RJEOP (Regime Jurídico das Empreitadas de Obras Públicas).
20
Neste sentido, Martinez, Pedro Romano, in Empreitada de Obras Públicas, Almedina editora, pág. 151.
realizada, se verificar estar a obra em condições de ser recebida, assim se declara
no auto, contando-se da data deste o prazo de garantia fixado no contrato.”
Entretanto, o n.º 1 do artigo 199.º do Decreto 40/05, cuja redação é idêntica ao do n.º
1 do artigo 307.º da LCP, determina que, se da vistoria realizada, o Dono da Obra
constatar deficiências, que tenham resultado de infração às obrigações contratuais e
legais do Empreiteiro, a obra não estiver, no todo ou em parte, em condições de ser
recebida, o representante do Dono da Obra deve especificar essas deficiências no auto
exarando ainda, neste, a declaração de não recepção, bem como as respectivas razões,
notificando o Empreiteiro e fixando o prazo para que este proceda às modificações ou
reparações necessárias. O Professor Pedro Romano Martinez21 entende que aqui só
podem ser enquadrados os erros ou deficiências que, segundo as regras da boa-fé e
razoabilidade, possam afectar a solidez, segurança, funcionalidade e estética da
construção, não se incluindo os que, pela sua insignificância, podem ser rápida e
facilmente reparados.
Todavia, a Lei permite a recepção provisória de parte da Obra que se encontre
conforme. É o que dispõe o n.º 2 das disposições mencionadas no parágrafo anterior:
“Pode, o Dono da Obra, fazer a recepção provisória da parte dos trabalhos que estiver
em condições de ser recebida.”
Segundo o Professor Jorge Andrade Silva22, constituem pressupostos da recepção
provisório:
• Estar a execução da obra concluída;
• Cumprimento, pelo empreiteiro de todas as suas obrigações contratuais e legais;
• Cumprimento do plano de prevenção e gestão de resíduos de construção e de
demolição;
• Correção pelo empreiteiro de todas as deficiências detectadas na vistoria
anterior.
A recepção provisória trata-se da manifestação de uma única vontade, a do dono da
obra (negócio unilateral recipiendo), que tem o poder de ajuizar sobre se o contrato foi
bem ou mal cumprido, sem prejuízo da possibilidade de impugnação, por parte do
empreiteiro, do juízo assim emitido.
Quanto aos efeitos, a recepção provisória da obra traduz:
• Fixa a data da conclusão da obra para efeitos de averiguação do cumpri mento
do respectivo prazo contratual;
• Determina a impossibilidade de aplicação de sanções contratuais por
incumprimentos até aí ocorridos;
• Estabelece o início do período de garantia da obra;
• Transtere para o dono da obra a propriedade desta e respectiva posse;
• Permite ao dono da obra colocá-la ao serviço do fim para que foi realizada;
• Transfere para o dono da obra o encargo de proceder à sua conservação e
guarda;
• Transfere para o dono da obra as consequências do seu uso;
• Transfere para o dono da obra o risco pelas deteriorações por facto de terceiro.
21
Neste sentido, Martinez, Pedro Romano, in Empreitada de Obras Públicas, Almedina editora, pág. 82
22
Neste sentido, Silva, Jorge Andrade, in Dicionário dos Contratos Públicos, 2.º Edição, Almedina
Editora, pág. 508.
3.2. Prazo De Garantia
Com a recepção provisória, não fica encerrada a relação jurídica nascida com a
celebração do contrato de empreitada de obras públicas entre o dono da obra e o
empreiteiro, pois, sugue-lhe o prazo de garantia, durante o qual a obra é posta à prova
no sentido de averiguar a existência de vícios de execução que se revelem após a
recepção provisória da obra.
Assinado o auto de recepção provisória inicia se o prazo de garantia, durante o qual o
empreiteiro está obrigado a corrigir todos os defeitos que venham a ser identificados na
obra.
De acordo com o n.º 1 do artigo 207.º do Decreto 40/07: “O Prazo de garantia deve
ser estabelecido no caderno de encargos, tendo em atenção a natureza dos
trabalhos.”
No silêncio das partes, o prazo de garantia será de 5 anos, neste sentido o n.º 2 do
mesmo artigo: “No silêncio do caderno de encargos, o prazo de garantia é de cinco
anos”.
Quanto ao prazo supletivo, a nova lei dos contratos públicos reduziu para três os anos
de garantia, n.º 2 do artigo 315.º da Lei 41/20.
O Empreiteiro tem a obrigação de corrigir, por conta própria, todos os defeitos da
obra e dos equipamentos nela integrados que sejam identificados até ao termo do prazo
de garantia, entendendo-se como tais, designadamente, quaisquer desconformidades
entre a obra executada, os equipamentos fornecidos ou integrados e o previsto no
contrato. deficiências de execução da obra que se revelem no decurso deste prazo.
Trata-se de proteger o dono da obra relativamente a defeitos de execução ou falta de
solidez da obra e assegurar a sua conformidade com as cláusulas do contrato,
designadamente do caderno de encargos, e das regras da arte.
Na empreitada de obra particular, os direitos do dono da obra resultantes de vícios de
execução desta, mesmo que desconhecidos do respetivo dono à data da sua aceitação,
caducam se não forem exercidos no prazo de 2 (dois) anos após a entrega da obra, n.º 2
do artigo 1224º do CC: “Se os defeitos eram desconhecidos do dono da obra e este a
aceitou, o prazo de caducidade conta-se a partir da denúncia; em nenhum caso,
porém, aqueles direitos podem ser exercidos depois de decorrerem dois anos sobre
a entrega da obra.”
Por outro lado, tratando-se de construção, modificação ou reparação de edifícios ou
outros imóveis destinados por sua natureza a longa duração e no decurso de cinco anos
a contar da entrega, ou no decurso do prazo de garantia convencionado, a obra, por vício
do solo ou da construção, modificação ou reparação, ruir total ou parcialmente, ou
apresentar defeitos graves ou perigo de ruína, o empreiteiro é responsável pelo prejuízo
para com o dono da obra, tal como consta do artigo 1225º CC.
A não eliminação dos vícios por parte do empreiteiro confere ao dono da obra o
direito de redução do preço e/ou resolução do contrato, nos termos do n.º 1 do artigo
1222.º “Não sendo eliminados os defeitos ou construída de novo a obra, o dono
pode exigir a redução do preço ou a resolução do contrato, se os defeitos tornarem
a obra inadequada ao fim a que se destina”. Sendo igualmente aplicável as
empreitadas de obras públicas.
A redução do preço opera-se nos termos do artigo 882.º CC: “1 - Se a venda ficar
limitada a parte do seu objecto, nos termos do artigo 292.º ou por força de outros
preceitos legais, o preço respeitante à parte válida do contrato é o que neste
figurar, se houver sido discriminado como parcela do preço global. 2 - Na falta de
discriminação, a redução é feita por meio de avaliação.”
3.3. Recepção Definitiva
A recepção definitiva é o acto pelo qual o dono da obra, decorrido que seja o prazo
de garantia e mediante prévia vistoria, considera, definitivamente, cumprido o contrato
de empreitada de obras públicas23.
Nos termos do n.º 1 do artigo 208.º do Decreto 40/05: “Findo o prazo de garantia e
por iniciativa do dono da obra ou a pedido do empreiteiro, proceder-se-á à nova vistoria
das obras de toda a empreitada.” A mesma redação é nos apresentada o n.º 1 do artigo
316.º da actual Lei dos contratos públicos.
Se da vistoria realizada se verificar que as obras não apresentam deficiências,
deteriorações, indícios de ruínas ou falta de solidez, pelos quais deva responsabilizar-se
o Empreiteiro, proceder-se-á à recepção definitiva.
Segundo o professor Jorge Andrade da Silva24, a recepção definitiva depende da
verificação cumulativa dos seguintes pressupostos:
1- Funcionalidade regular, no termo do período de garantia, em condições normais de
exploração, operação ou utilização, da obra e respetivos equipamentos, de forma
que cumpram todas as exigências contratualmente previstas;
2- Cumprimento, pelo empreiteiro, de todas as obrigações decorrentes do período de
garantia relativamente à totalidade ou à parte da obra a receber.
Tal como a recepção provisória, a recepção definitiva pode ser total ou parcial, visto
que o n.º 1 do artigo 209.º do Decreto 40/05 determina que: “Se, em consequência da
vistoria se verificar que existem deficiências, deteriorações, indícios de ruína ou de
falta de solidez, de responsabilidade do empreiteiro, somente se receberão os
trabalhos que se encontram em bom estado e que sejam susceptíveis de recepção
parcial”. No mesmo sentido o n.º 1 do artigo 317.º da actual Lei dos contratos públicos.
São aplicáveis à vistoria e ao auto de recepção definitiva, bem como à falta de
agendamento ou realização da vistoria pelo dono da obra, os preceitos que regulam a
recepção provisória quanto as mesmas matérias.
O empreiteiro fica exonerado da responsabilidade pelos defeitos da obra que sejam
verificados após a recepção definitiva, salvo quando o dono da obra prove que os
defeitos lhe são culposamente imputáveis. A responsabilidade do empreiteiro não se
estende a toda e qualquer deficiência ou deterioração que a obra apresente no fim do
prazo de garantia, mas apenas aquelas que se devam a facto seu, isto é, ao processo de
execução da obra e não sejam aparentes aquando da vistoria da recepção provisória.
23
Neste sentido, Silva, Jorge Andrade, in Dicionário dos Contratos Públicos, 2.º Edição, Almedina
Editora, pág. 505.
24
In Código dos Contratos Públicos. Anotado e comentado, 8.º Edição, Almedina Editora, pág. 846.
4. OS AUTOS DE MEDIAÇÃO.
A medição dos trabalhos é uma operação que visa fins vários, sendo através dela que
se verifica a situação dos trabalhos, portanto se em que medida a execução corresponde
ao previsto no plano de trabalhos e é também através das medições que se calculam os
montantes a pagar ao empreiteiro25.
Os autos de medição dos trabalhos executados constituem um dos mais relevantes
instrumentos de controlo físico e financeiro da obra, na medida em que permitem
detectar desvios aos planos de trabalhos em vigor (através do confronto entre os
trabalhos previstos e os efetivamente executados) e confirmar as quantidades dos
trabalhos e correlativos montantes para efeitos de pagamento das verbas constantes nas
faturas posteriormente apresentadas pelo empreiteiro.
Segundo o n.º 1 do artigo 182.º do Decreto 40/05, a medição deve realizar-se
mensalmente, salvo se as partes acordarem em contrário. No mesmo sentido o n.º 1 do
artigo 292.º da actual Lei dos Contrato Público.
As medições devem ser feitas no local da obra com a assistência do Empreiteiro ou
seu representante e delas se lavrará auto (Auto de Medição), assinado pelos
intervenientes, no qual os interessados podem fazer exarar tudo o que reputarem
conveniente, bem como a colheita de amostras de quaisquer materiais ou produtos de
escavação.
O Auto de medição desempenha um papel fundamental:
1- Para efeitos de pagamentos;
2- Para averiguação dos desvios verificados entre as previsões e a realidade no que se
refere à natureza e volume de trabalhos necessários à realização da obra;
3- Para a fixação da situação de facto a considerar quando se introduzem alterações no
projeto.
Segundo o disposto no n.º 3 dos mesmos artigos, “Os métodos ou critérios a
adoptar para a realização das medições são obrigatoriamente estabelecidos no
caderno de encargos e, em caso de alterações, os novos critérios de medição que,
porventura, se tornem necessários, devem ser logo definidos”
Quanto ao objecto da medição, estabelece o artigo 183.º do Decreto 40/05: “Far-se-á
medição dos trabalhos executados, ainda quando não se considerem previstos no
projecto nem devidamente ordenados e independentemente da questão de saber se
devem ou não ser pagos ao empreiteiro”. No mesmo sentido o artigo 293.º da actual
Lei dos Contratos Públicos.
Como ficou visível, no silencio das partes as medições devem ser realizadas todos os
meses, entretanto, caso o dono da obra não proceder à medição dos trabalhos
efectuados, em tempo oportuno, deverá o empreiteiro apresentará até ao fim do mês
seguinte o mapa de trabalhos efectuados no mês anterior com os documentos
respectivos. O mesmo acontece quando, por questão da distância, o difícil acesso ou
multiplicidade das frentes, a própria natureza dos trabalhos ou outras circunstâncias
impossibilitarem a realização da medição mensal e bem assim quando a fiscalização por
qualquer motivo a deixe de fazer, tal como o disposto no n.º 1 do artigo 188.º do c e n.º
1 do artigo 298.º da actual Lei dos contratos públicos. Apresentado o mapa e visado
25
Neste sentido, Silva, Jorge Andrade, in Código dos Contratação Pública, 8.º Edição, Almedina
Editora, pág. 827.
pela fiscalização, só para o efeito de comprovar a verificação de alguma das condições
que justifiquem o procedimento, será considerado como situação provisória de trabalhos
e proceder-se-á como se de situação de trabalho se tratasse. A exactidão das quantidades
escritas nos mapas será verificada no primeiro auto de medição que se efectuar com
base no qual se procederá às rectificações a que houver lugar.
E se o empreiteiro dolosamente inscrever no seu mapa trabalhos não efectuados?
De acordo com o n. 4 do artigo 188.º do Decreto 40/05, “o Empreiteiro sujeita-se a
pena de Burla aplicadas em função do valor dos trabalhos dolosamente inscritos e
o facto será comunicado à Comissão Nacional de Registo e Classificação dos
Empreiteiros de Obras Públicas”. A actal lei dos contratos públicos concebe uma
solução ligeiramente diferente, o n.º 4 do artigo 298.º, determina que nessas situações,
“o Dono da obra poderá resolver o contrato e informar tal facto ao órgão
responsável pela regulação da contratação civil de Obras Públicas, para efeito de
averbamento e redução para a categoria imediatamente inferior da classe do
respectivo alvará, e para o órgão responsável pela regulação e supervisão da
contratação pública para efeito de inclusão na lista de empresas incumpridoras,
nos termos do n.º 1 do artigo 57.º”
Feita a medição, elaborar-se-á a respectiva conta corrente, especificação das
quantidades de trabalho apuradas, dos preços unitários, do total creditado, dos descontos
a efectuar, dos adiantamentos concedidos ao empreiteiro e do saldo a pagar a este. A
violação destas disposições é susceptível de gerar pagamentos indevidos. Nesse sentido
o acordão n.º 42/2020 do Tribunal de Contas de Portugal26, afirmando
peremptoriamente:
26
Disponível em: https://www.tcontas.pt/pt-pt/ProdutosTC/acordaos/3s/Documents/2020/ac042-2020-
3s.pdf
5. REGRAS DE BOA-FÉ E DE CONFIANÇA VS BOAS PRÁTICAS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL.
27
Sendo possivel falar de responsabilidade civil pós-contratual, por violação de certas regras impostas
pela boa-fé, mesmo depois de cessar o contrato.
28
In Código Civil Anotado", volume II, 3ª edição, pág. 3.
29
Disponível em:
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/cbc04f4ec128fdae8025697d00458318?
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“Os deveres acessórios de esclarecimento obrigam as partes a,
na vigência do contrato que as une, informarem-se mutuamente
de todos os aspectos atinentes ao vínculo, de ocorrências que,
com ele, tenham certa relação e, ainda, de todos os efeitos que,
da execução contratual, possam advir. Por fim, os deveres
acessórios de lealdade obrigam as partes a, na pendência
contratual, absterem-se de comportamentos que possam falsear
o objectivo do negócio ou desequilibrar o jogo das prestações
por elas consignado.”
6. DEFEITTO DE CONSTRUÇÃO.
33
Nos contratos de empreitadas é comum deparar-se com defeitos de fundação do prédio ou fendas nas
paredes dos imóveis que em regra, só são perceptíveis passados muitos anos.
34
Neste sentido, Martinez, Pedro Romano, in Cumprimento defeituoso, em especial na compra e venda e
na empreitada. Coleção teses, Almedina Editora, pág. 182.
35
in Resolução por Incumprimento, Estudos de Homenagem ao Professor Doutor J.J. Teixeira Ribeiro, 2º,
pág. 386
Nos contratos de empreitada vigora uma presunção iuris tamtum no sentido de os
defeitos aparentes serem do conhecimento do dono da obra, nesse sentido o n.º 2 do
artigo 1219.º CC,
“presume-se conhecidos os defeitos aparentes, tenha ou não havido verificação da
obra”.
Sobre esses defeitos, o empreiteiro só responde se o dono da obra tiver aceitado a obra
com reserva de correção dos defeitos. Nos termos do n.º 1 do artigo 1219.º CC, in fine,
“O empreiteiro não responde pelos defeitos da obra, se o dono aceitou sem reserva, com
conhecimento deles”.
No mesmo sentido, o Acordão do Tribunal supremo, datado de 24 de Maio de 2018,
decidido em sede do Processo N.º 2092/1436, alegando:
“A Decisão do é praxe nas lides da construção civil, que uma
obra de empreitada, tão logo esteja concluída a sua entrega ao
Dono, deverá ser feita mediante alguma formalidade a ser
observada pelo Empreiteiro. O formalismo ora referido não é,
nada mais, nada menos, que, o Termo de Entrega da obra”
36
Disponível em: https://tribunalsupremo.ao/tsccafa-acordao-proc-n-o2092-2014-de-24-de-maio-de-
2018-accao-declarativa-de-condenacao-recurso-de-apelacao-contrato-de-empreitada-entrega-de-obra-
cumprimento-defeituoso-da-obrigacao/
37
Assim por exemplo, no caso do mal funcionamento de certas lâmpadas instaladas no edifício passados
alguns anos de uso.
designado, remediar os defeitos da obra”38. No mesmo sentido o disposto no n.º 1 do
artigo 290.º da actual lei dos contratos públicos.
Se o dono da obra presumir a existência dos referidos defeitos, mas não poderem ser
comprovados por simples observação, pode, quer durante a execução dos trabalhos,
quer depois da conclusão dos mesmos, mas dentro do prazo de garantia, ordenar as
demolições necessárias, a fim de apurar se ocorrem ou não tais deficiências lavrando-se
em seguida auto. “Serão da conta do empreiteiro os encargos de demolição e
reconstrução se se apurar existirem os presumidos defeitos, serão da conta do dono da
obra no caso contrário”, assim dispõe o n.º 3 do 180.º do Decreto 40/05 e n.º 3 do artigo
290.º da actual lei dos contratos públicos.
A nova lei dos contratos públicos traz uma novidade no n.º 5 do mesmo artigo,
consagrando a responsabilidade solidária do fiscal da obra em caso de omissão dos
defeitos na execução da obra. Solução que se apresenta bastante justa pela omissão do
exercício das suas funções.
No cumprimento defeituoso a culpa está sujeita ao mesmo critério vigente em
matéria de responsabilidade contratual39, assim, vigora o regime da presunção de culpa
do devedor nos termos do n.º 1 do artigo 799.º CC. Neste caso, opera-se a inversão do
ónus da prova, cabendo ao empreiteiro demostrar a execução perfeita da obra e que
aquele defeito resultou de uma causa estranha e alheia a sua actuação 40. No mesmo
sentido o acordão do Tribunal da Relação do Porto, de 10 de Fevereiro de 2014,
proferida em sede do processo n.º 362730/10.8YIPRT.P141:
“Convém acrescentar que tratando-se de uma relação
contratual a culpa da autora nesse cumprimento defeituoso se
presume e essa presunção não se mostra afastada, e que a ré
não apenas denunciou os defeitos como exigiu a sua reparação,
sendo, pois, credora das prestações previstas no regime jurídico
dos defeitos da obra realizada pelo empreiteiro.”
No mesmo sentido, o acordão do Supremo Tribunal de Justiça, datado de 25 de
Outubro de 2005, proferido em sede do processo n.º 05A308342:
“Existindo defeitos, provando-se a sua existência, presume-se a
culpa do empreiteiro, ainda que, na execução da obra, este
tenha sido fiel ao projecto da obra ou ao caderno de encargos -
é que além desse respeito se lhe exige a conformidade com as
38
Esse direito é naturalmente extensivo ao dono da Obra.
39
Neste sentido, Martinez, Pedro Romano, in Cumprimento defeituoso, em especial na compra e venda e
na empreitada. Coleção teses, Almedina Editora, pág. 273.
40
Em sede do Direito Comparado, esta parece ter sido a solução comummente adoptada, assim o fez o
código civil francês, no artigo 1792.º in fine, A responsabilidade do empreiteiro só pode ser afastada se
ele provar que os danos advêm de uma causa estranha. No código Civil Brasileiro, o mesmo regime é
consagrado nos artigos 1102.º e 1103.º, a responsabilidade do devedor (empreiteiro) em caso de
cumprimento defeituoso é independente de culpa. No mesmo sentido o artigo 79.º da convenção de
Viena.
41
Disponível em: http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/-/F00EFF9EA61E791880257D700046F114
42
Disponível em:
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/1983f8de70ae73c8802570c8006001ae?
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regras da arte e as normas técnicas exigidas em matéria de
construção.”
Todavia via, visando afastar essa presunção de culpa, o empreiteiro poderá invocar três
causas: força maior, atitude negligente do dono da obra e o facto de terceiro.
A causa de força maior não abrange os efeitos próprios do risco profissional. Na atitude
negligente do dono da obra, como por exemplo o caso do já citado n.º 1 do artigo
1219.º, conhecendo o dono da obra dos defeitos da obra, o tiver aceitado sem reserva.
Quanto ao facto de terceiro, assim, na hipótese de uma co-empreitada, em que vários
empreiteiros se obrigam, em conjunto, a exercer parte do mesmo trabalho, estando cada
um deles ligado a obra, pelo que, qualquer dos empreiteiros pode afastar a sua
responsabilidade invocando de o defeito se ter ficado a dever a falhas nos trabalhos
efectuados pelos demais empreiteiros. A culpa do empreiteiro só será excluída por facto
de terceiro se este for imprevisível e incontrolável43.
43
Assim por exemplo, o empreiteiro não poderá afastar a sua responsabilidade invocando ser o vício
imputável ao fabricante do produto.
7. FISCALIZAÇÃO PELO DONO DA OBRA.
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Nesse Sentido, Leitão, Luís Menezes, in Direito das Obrigações, Vol. III, 14.º Edição, Almedina
Editora, pág. 519; Pires de Lima e Antunes Varela, in Código Civil anotado, pág. 870.
da obra, naturalmente que ele pode deixar de exerce-la, sem incorrer em
responsabilidade.
No regime das empreitadas de obras públicas, há uma expressa obrigação legal de
realização da fiscalização da obra, que deve ser realizado pelos agentes designados pelo
dono da obra, tal como o disposto no n.º 1 do artigo 159.º do Decreto 40/05, no mesmo
sentido o n.º 1 do artigo 269.º da actual lei dos contratos públicos.
Nos termos do artigo 160.º do Decreto 40/05, “À fiscalização incumbe vigiar e
verificar o exacto cumprimento do projecto e as suas alterações, do contrato, do caderno
de encargos e do plano de trabalhos em vigor, designadamente:
a) Verificar a implantação da obra, de acordo com as referências necessárias
fornecidas ao empreiteiro;
b) Verificar a exactidão ou o erro eventual das previsões do projecto, em especial, e
com a colaboração do empreiteiro, no que respeita às condições do terreno;
c) Aprovar os materiais a aplicar;
d) Vigiar os processos de execução;
e) Verificar as características dimensionais da obra;
f) Verificar, em geral, o modo como são executados os trabalhos;
g) Verificar a observância dos prazos estabelecidos;
h) Proceder às medições necessárias e verificar o estado de adiantamento dos
trabalhos;
i) Averiguar se foram infringidas quaisquer disposições do contrato e das leis e
regulamentos aplicáveis;
j) Verificar se os trabalhos são executados pela ordem e com os meios
estabelecidos no respectivo plano;
k) Comunicar ao empreiteiro as alterações introduzidas no plano de trabalhos pelo
dono da obra e a aprovação das propostas pelo empreiteiro;
l) Informar da necessidade ou conveniência do estabelecimento de novas
serventias ou da modificação das previstas e da realização de quaisquer aquisições ou
expropriações, pronunciar-se sobre todas as circunstâncias que, não havendo sido
previstas no projecto, confiram a terceiro direito a indemnização e informar das
consequências contratuais e legais desses factos;
m) Resolver, quando forem da sua competência, ou submeter, com a sua
informação, no caso contrário, à decisão do dono da obra todas as questões que surjam
ou lhe sejam postas pelo empreiteiro e providenciar no que seja necessário para o bom
andamento dos trabalhos, para a perfeita execução, segurança e qualidade da obra e
facilidade das medições;
n) Transmitir ao empreiteiro as ordens do dono da obra e verificar o seu correcto
cumprimento;
o) Praticar todos os demais actos previstos em outros.
Nos termos do artigo 161.º do Decreto 40/05, “quando se trata de trabalhos realizado
s por percentagem, a fiscalização, além de promover o necessário para que a obra se exe
cute com perfeição e dentro da maior economia possível, deve:
a) acompanhar todos os processos de aquisição de materiais, sugerindo ou impondo,
se for necessário, a consulta e a aquisição à empresas que possam oferecer melhores
condições de fornecimento, quer em qualidade, quer em preço;
b) vigiar todos os processos de execução, sugerindo ou impondo, se for necessário, a
adopção dos que conduzam à maior perfeição ou economia;
c) visar todos os documentos e despesas, quer de materiais, quer de salários;
d) velar pelo conveniente acondicionamento dos materiais e pela sua guarda e
aplicação;
e) verificar toda a contabilidade da obra, impondo a efectivação dos registos que
considere necessários”.
Tal como na empreitada de obra particular, aqui também a fiscalização deve
processar-se sempre de modo a não perturbar o andamento normal dos trabalhos e sem
anular a iniciativa e com relativa responsabilidade do empreiteiro, tal como dispõe o n.º
3 do artigo 162.º do Decreto 40/05 e n.º 3 do artigo 272.º da actual lei dos contratos
públicos.
O empreiteiro deve sempre obediência ao fiscal da obra. Neste sentido estatui os n.ºS
1 e 2 do artigo 164.º do Decreto 40/05 e 274.º da actual Lei dos contratos públicos “Se o
empreiteiro não cumprir ordem legal demandada do fiscal da obra, dada por
escrito sobre matéria relativa à execução da empreitada, nos termos contratuais e
não houver sido absolutamente impedido de o fazer por caso de força maior,
assiste ao dono da obra o direito de, se assim o entender, rescindir o contrato por
culpa do empreiteiro. Se o dono da obra não rescindir o contrato, fica o
empreiteiro responsável pelos danos emergentes da desobediência”.