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CONTRATOS PÚBLICOS
CONTRATOS PÚBLICOS
Diana Esteves
3.º ANO 2.º Semestre
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Índice
Índice .............................................................................................................................................2
PARTE I – INTRODUÇÃO ................................................................................................................3
Contrato Público como contrato da Administração Pública........................................3
1. Contratos da Administração Pública e Direito Administrativo ............................3
2. Conceito de Contrato Público ..............................................................................4
3. Conceito de Contrato Público no Direito da União Europeia ............................7
PARTE II – REGIME DA CONTRATAÇÃO PÚBLICA NO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS .8
Introdução ..........................................................................................................................8
1. Procedimento de formação dos contratos públicos ..........................................8
2. Conceito e fases do procedimento de formação de contratos públicos ........9
3. Tipos de procedimento de formação de contratos públicos............................. 9
Capítulo I – Âmbito de incidência da Parte II do Código dos Contratos Públicos .... 12
1. Âmbito subjetivo de incidência da Parte II do CCP: as entidades
adjudicantes ........................................................................................................................ 12
2. Âmbito objetivo de incidência da Parte II do CCP ........................................... 19
3. Contratos excluídos e contratação excluída ..................................................... 22
4. Atos administrativos substitutivos de contratos públicos ................................... 25
Capítulo II – Princípios gerais da contratação pública ................................................ 26
1. Princípios gerais da contratação pública (considerações gerais) .................. 26
Capítulo III – Procedimentos de adjudicação de contratos públicos ........................ 31
1. Sujeitos do procedimento de adjudicação ....................................................... 31
2. Decisão de contratar e decisão de autorização da despesa ......................... 38
3. Decisão de escolha do procedimento de adjudicação.................................. 39
4. Peças do procedimento ...................................................................................... 54
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PARTE I – INTRODUÇÃO
Contrato Público como contrato da
Administração Pública
1. Contratos da Administração Pública e Direito
Administrativo
A circunstância de, na sua ação, a AP utilizar o contrato não tem de corresponder a
uma espécie de apropriação da figura pelo Direito Administrativo (DA): poderíamos estar
perante uma conexão entre AP e contrato, sem haver uma associação entre contrato e DA,
nem a afirmação da instituição contratual como uma categoria específica do DA. Mas não
é assim: o contrato também pertence ao DA – há, com efeito, um contrato de DA, o que
pressupõe a subsistência de normas jurídicas de DA que regulem em termos particulares
determinados contratos, pelo facto de serem subscritos por uma entidade ou sujeito da AP.
talvez se deva mesmo entender que, para o efeito de alcançar a apropriação do contrato pelo
Direito Administrativo, não se revela suficiente que as normas do Direito Administrativo regulem certos
aspetos, mais ou menos pontuais ou marginais de um tipo de contrato – cenário em que se poderia
referenciar um contrato “no” Direito Administrativo, mas não um contrato “de” Direito Administrativo.
Deste modo, para que se atinja o nível de um contrato “de” DA, exigir-se-á que este seja
regulado em primeira linha ou nos seus momentos primordiais por um regime jurídico de DA.
Entre nós, não há dúvidas quanto ao facto de o contrato pertencer também ao DA,
impondo-se como categoria específica deste ramo jurídico; existe, de facto, um contrato de
DA, regulado, a título principal, por normas de DA: a lei designa-o “contrato administrativo”
(vide, 1.º/1 e Parte III CCP, e artigo 200.º/2 CPA), e submete-o a um regime jurídico delineado
na sua inteireza pelo DA (vide artigo 280.º CCP e 202.º CPA).
Por fim, o DA ocupa-se ainda dos contratos da AP no campo das suas incidências
contenciosas, definindo uma disciplina específica para o contencioso da formação e da
execução de contratos públicos. Em suma, a regulamentação jurídico-administrativa de
contratos da AP pode atingir:
pode atingir esses três
▪ A fase de formação; níveis, mas não atingirá
▪ A execução; sempre, nas três
▪ O contencioso da formação e da execução do contrato dimensões, todos e cada
um dos contratos da AP.
→ Traduzir um acordo ou uma união de vontades entre dois ou mais sujeitos (as “partes”);
→ Corresponder a um acordo dirigido à produção de efeitos jurídicos obrigatórios
para uma ou para todas as partes que o subscrevem.
Note-se, porém, que, em geral, o direito público não cuida de construir um conceito
específico e privativo de contrato, aceitando, em linhas gerais, o significado geral desta
figura jurídica.
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2.2. Público
Em face da letra da lei, os contratos da AP são uma categoria de contratos públicos; não
há então uma equivalência entre contrato da AP e contrato público. Por conseguinte, tendo
por base a referência legal ao conceito de contrato público (artigo 1.º/2 CCP), e a ligação
intrínseca do mesmo à figura subjetiva da entidade adjudicante (vide, 2.º e 7.º), pode
considerar-se contrato público “qualquer contrato celebrado por uma entidade
adjudicante”. E é com base neste conceito que se constata não haver equivalência
necessária entre contrato público e contrato da AP, desde logo porque há entidades
adjudicantes (dos artigos 2.º/2 ou 7.º) que não integram a Administração Pública, pelo
menos na delimitação desta segundo um critério jurídico-administrativo (que, relembre-se,
agrega as entidades públicas e privadas que se ocupam da função administrativa).
É, por exemplo, aquilo que acontece com uma associação de direito civil sem fins lucrativos e
sem associados públicos, maioritariamente financiada por dinheiros municipais num certo ano
económico; ou com uma instituição particular de solidariedade social financiada pelo Estado.
Em ambas as situações estamos perante entidades privadas que não integram a AP, mas que,
não obstante, são entidades adjudicantes (organismo de direito público), pelo que os contratos
que celebram podem qualificar-se como contratos públicos, nos termos da lei.
Contudo, se é certo que pode haver entidades adjudicantes submetidas ao CCP que não
pertencem à AP, também pode acontecer o inverso, porquanto há sujeitos da AP (em sentido
funcional), que não surgem referenciados no elenco legal de entidades adjudicantes.
É o que acontece, por exemplo, com as empresas públicas ou com as empresas concessionárias
de obras públicas e de serviços públicos, que exercem funções materialmente administrativas,
devendo, por isso, considerar-se sujeitos da AP num sentido funcional.
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Desta forma, os contratos que essas entidades da AP celebram no âmbito do exercício
de funções materialmente administrativas (vide, artigo 3.º/2) não são contratos públicos.
Compreenda-se que, por não serem celebrados por entidades adjudicantes, não surgem
legalmente qualificados como contratos públicos os “contratos subsidiados” (artigo 275.º),
nem os “contratos de concessionários de obras públicas que não sejam entidades
adjudicantes” (artigo 276.º).
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de ser celebrado por um sujeito da AP; contudo, uma disciplina assim não existe no direito
português, onde o máximo que se encontra é a possibilidade de concluir que qualquer
contrato da AP se submete, pelo menos, às disposições do CPA que concretizam preceitos
constitucionais e princípios gerais da atividade administrativa (vide, 202.º/2 CPA).
▪ pode haver contratos públicos segundo o direito nacional que o não sejam para
efeitos das diretivas (ex: contratos de doação produtos; contratos de alienação bens
móveis pela AP)
▪ pode haver contratos públicos para efeitos de aplicação das diretivas que podem
não corresponder a contratos públicos em sentido formal segundo o direito
nacional dos estados-membros
Introdução
1. Procedimento de formação dos contratos públicos
Constitui a série ou sucessão ordenada de atos que concorrem para a formação, a
conclusão e a produção de uma plena eficácia jurídica de um contrato público. Trata-se,
em rigor, do “procedimento do contrato” ou do “procedimento contratual” (e não apenas
da formação do contrato). Em si mesmo, o contrato, o negócio que consubstancia o acordo
entre as partes, apresenta-se como o ato principal, central e decisivo desse mesmo
procedimento. Em volta do contrato (antes e depois da sua celebração) agregam-se e
sucedem-se atos preparatórios e complementares, marcados pelo seu caráter acessório,
sendo que todos contribuem para que o contrato de firme e produza os seus efeitos jurídicos
programados pelas partes.
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2. Conceito e fases do procedimento de formação de
contratos públicos
A lei institui princípios e regras que disciplinam a atuação dos contraentes públicos, fixando,
designadamente, uma ordem sequencial de atos e diligências que deve ser observada.
Como sucede com outros atos públicos (mormente, atos administrativos), os procedimentos
de formação de formação de contratos públicos desenvolvem-se em três grandes fases:
1) Fase preparatória: fase que inclui todos os atos jurídicos prévios ordenados à
conclusão do contrato público (fase longa e complexa). Esta fase desagrega-se,
em regra, em duas subfases:
a) Fase de iniciativa do procedimento: pode ser pública (se a iniciativa é da
Administração) ou particular (se “provocada” por um particular);
b) Fase de instrução, onde se incluem:
i. Fase das negociações;
ii. Fase de adjudicação (aplicável a certos contratos).
2) Fase principal ou conclusiva: fase em que o contrato público se conclui,
tornando-se perfeito. Em certos casos, a conclusão do contrato reclama a sua
outorga ou celebração através de uma forma determinada.
3) Fase integrativa de eficácia ou complementar: após a conclusão, o contrato nem
sempre fica em condições de produzir, imediatamente, os seus efeitos e de ser
objeto de execução, sendo exigível a prática de atos complementares (ex.: vistos,
aprovações, autorizações, etc.).
▪ Ajuste direto;
▪ Consulta prévia;
▪ Concurso público;
▪ Concurso limitado por prévia qualificação;
▪ Procedimento de negociação;
▪ Diálogo concorrencial;
▪ Parceria para a inovação.
Note-se ainda que o CCP não esgota a regulamentação dos procedimentos de seleção
concorrencial, sendo que estes procedimentos são também regulados em legislação
especial (assim sucede, por exemplo, com o procedimento de formação de contratos de concessão
de apoio financeiro e de concessão de incentivos às empresas no âmbito do programa Portugal 2020;
e do procedimento de formação de contratos de apoio financeiro no setor da cultura).
Note-se que pode haver desvios à associação entre procedimentos de iniciativa pública
e procura pública, e entre procedimentos de iniciativa particular e satisfação de interesses
privados. Pode até haver, por força da lei, um procedimento de iniciativa particular que
inclua depois uma fase de procura pública, por causa de razões de igualdade de
oportunidades no acesso a recursos escassos.
Uma outra situação que também pode reconduzir-se a este domínio é a do “regime
simplificado de ajuste direto” (art. 128.º+129.º CCP): nos contratos de aquisição ou locação
de bens móveis e de aquisição de serviços cujo preço contratual não seja superior a 5.000€,
a aquisição pode ser feita diretamente sobre a fatura emitida pela entidade convidada
(vendedora ou locadora), sem qualquer ato prévio ou formalidade posterior.
Contudo, apesar do procedimento não ser regulado por lei de direito publico, podem
existir normas regulamentares aplicáveis (ex: eventual regulamento municipal).
Neste ponto importa apontar o disposto no art. 201.º/3 CPA: “na ausência de lei própria,
aplica-se à formação dos contratos administrativos o regime geral do procedimento
administrativo estatuído no presente Código”.
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Capítulo I – Âmbito de incidência da Parte II do
Código dos Contratos Públicos
1. Âmbito subjetivo de incidência da Parte II do CCP: as
entidades adjudicantes
Se o conceito de “contrato público” assenta fundamentalmente na circunstância de um
dos contraentes ser uma entidade adjudicante (art. 1.º/2 CCP), então, naturalmente, o
Código de Contratos Públicos aplicar-se-á a entidades adjudicantes – em termos simplistas,
aquelas às quais incumbe tomar a decisão de adjudicação ou de não adjudicação (artigos
73.º e 79.º CCP).
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6) Banco de Portugal: embora a Parte II do CCP só seja aplicável aos contratos que
abranjam prestações típicas da empreitada de obras públicas, concessão de serviços
públicos, locação e aquisição de bens móveis ou aquisição de serviços (art. 5.º/8) – ou
seja, a sujeição do Banco ao CCP é em relação aos contratos abrangidos pelas diretivas.
Observe-se, contudo, a integração do Banco de Portugal no Sistema de Bancos Centrais
Europeus que lhe confere uma estrutura bipolar: instituição nacional + unidade funcional
do SBCE. Deste modo, os contratos por ele celebrados podem ter de seguir regras
instituídas pelo Banco Central Europeu (ex: contratos para a produção de notas de euro).
7) Fundações públicas: aqui se integram (L.24/2012):
➢ as fundações públicas de direito público nos termos da Lei n.º 24/2012, de 9 de
Julho, que aprova a lei-quadro das fundações, ou seja, as fundações criadas
exclusivamente por pessoas coletivas públicas (caso dos legalmente designados
“fundos personalizados” criados exclusivamente por pessoas coletivas públicas: trata-se de
institutos públicos com finalidades de natureza social, cultural, artística…, dotados de um
património cujos rendimentos constituam uma parte considerável das respetivas receitas.
Estas entidades são reconduzíveis ao conceito de fundação pública)
➢ as fundações públicas de direito privado, de que podem constituir exemplo as
universidades que tenham assumido a forma de “fundação pública com regime
de direito privado”. Não obstante a sua designação legal, considerando o regime
a que se encontram sujeitas podem reconduzir-se a pessoas coletivas públicas.
8) Associações públicas (associações de direito público):
➢ As associações públicas de entidades privadas (as associações públicas
profissionais – as ordens profissionais e as câmaras profissionais – nos termos da Lei
n.º 2/2013, lei-quadro das associações públicas profissionais. Contudo, o Acórdão
do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), de 12-9-2013, Proc. C526/11, sobre
a Ordem Profissional dos Médicos da Alemanha)
➢ As associações públicas de entidades públicas (p. ex., as entidades intermunicipais –
áreas metropolitanas e as comunidades intermunicipais - Lei n.º 75/2013, de 12 de Setembro)
➢ As associações de freguesia de direito público
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9) Associações sujeitas a uma influência dominante das entidades
anteriormente referidas: a inserção de uma concreta associação nesta alínea
depende da verificação dos seguintes requisitos:
1. Requisito da participação: financiamento maioritário de uma pessoa coletiva
pública das referidas;
2. Requisito da dependência: sujeição ao controlo e gestão de uma pessoa coletiva
pública das acima referidas ou a maioria dos titulares do órgão de administração,
direção ou fiscalização designados por uma daquelas entidades.
Para a sua qualificação como entidades adjudicantes terão então de se verificar 3 requisitos:
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transportes ou dos serviços postais) Exemplo: abrangem-se neste âmbito empresas do
Estado (empresas públicas) ou empresas municipais que exerçam a respetiva atividade
naqueles sectores especiais (desde que não sejam organismos de direito público).
Os artigos 9.º e 10.º CCP especificam e delimitam o que se deve considerar atividades
nos setores especiais.
Contratos a celebrar pelas entidades dos sectores especiais – art. 11.º, n.º 1, e art. 474.º,
n.º 4 – os seguintes tipos de contratos e desde que o seu objeto esteja relacionado com a
atividade do sector especial que justificou a sujeição da entidade ao CCP:
Contratos a celebrar por “organismos de direito público” que operem (ou também
operem) nos sectores especiais: à formação dos contratos a celebrar pelas entidades
adjudicantes referidas no n.º 2 do artigo 2.º que exerçam uma ou várias atividades nos setores
da água, da energia, dos transportes e dos serviços postais são aplicáveis as regras especiais
relativas à formação dos contratos a celebrar pelas entidades adjudicantes referidas no n.º 1
do artigo 7.º, desde que esses contratos digam direta e principalmente respeito a uma ou a
várias dessas atividades – artigo 12.º. Por exemplo: uma empresa do sector empresarial local que
seja um organismo de direito público que opere num dos sectores especiais; é-lhe extensivo, nesta parte
(e só nesta parte) o âmbito da contratação nos sectores especiais da água, energia, transportes e dos
serviços postais
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complementares, dependentes ou se encontrem, por qualquer forma, relacionados com o
objeto de um contrato de empreitada a cuja formação seja aplicável o disposto no nº 1.
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2. Âmbito objetivo de incidência da Parte II do CCP
Neste âmbito, iremos ver quais contratos estão as entidades adjudicantes obrigadas a
formar nos termos definidos na Parte II do CCP ou segundo um dos tipos de procedimentos
disciplinados nesta Parte do CCP (art. 16.º a 278.º CCP).
Note-se que os contratos de entidades adjudicantes não estão todos sujeitos à Parte II do
CCP, não pelo facto de serem excluídos, mas porque não devem considerar-se incluídos no
âmbito objetivo de incidência da Parte II.
Pelo elemento literal do n.º 1 do artigo 2.º do CCP extraem-se dois segmentos essenciais:
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colaborador da entidade adjudicante. Na verdade, todo o dispositivo da Parte II está
baseado na idealização de um procedimento desencadeado pela entidade adjudicante e
ordenado para a adjudicação de um contrato em que o contraente privado se vê
convocado a executar, a desenvolver uma atividade (construir, prestar um serviço, entregar
um bem, gerir uma obra) em execução do contrato, neste sentido todo o contexto
normativo aponta para um tipo de “contratação de colaboração que atribui a execução
ao contraente privado; são as prestações do contraente, as prestações que este se a obriga
a efetuar em execução do contrato que correspondem à razão de ser do próprio contrato.
Nota: Ausência de interesse concorrencial (“contratos sem valor”) – art. 17.º/9: Esta
categoria abrange os contratos que não geram qualquer benefício económico,
qualquer vantagem direta que possa configurar como contrapartida das prestações
efetuadas pelos contratantes.
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ii. Concessão de obras públicas;
iii. Concessão de serviços públicos;
iv. Locação ou aquisição de bens móveis e aquisição de serviços cujo valor seja igual
ou superior ao limiar referido na alínea b) do n.º 4 do artigo 474.º (443 000 euros);
v. Aquisição de serviços sociais ou outros específicos enumerados no anexo IX
ao presente Código, cujo valor seja igual ou superior ao limiar referido na
alínea c) do n.º 4 do artigo 474.º (1 000 000 euros)”.
Nota: os organismos de direito público (art. 2.º/2) que exerçam uma ou várias atividades
nos setores da água, energia, transportes e serviços postais beneficiam deste regime da
contratação nos setores especiais em relação aos seus contratos que digam direta e
principalmente respeito a atividades por eles exercidas nos setores especiais. Em relação aos
contratos que não digam apenas respeito a uma dessas atividades e não seja possível
determinar qual a atividade a que dizem principalmente respeito, os organismos de direito
público não beneficiam deste regime da contratação dos setores especiais ficando sujeita
ao regime geral (art. 33.º/3).
A “contratação excluída” refere-se àqueles contratos a que não se aplica a Parte II, ou
seja, contratos cujo procedimento de formação/celebração não se encontra sujeito à Parte
II – art. 5.º.
Note-se então que, por força da lei, o contrato excluído da incidência da Parte II fica
também excluído da incidência da Parte III. A lei adota, deste modo, uma lógica de “dupla
exclusão” (art. 280.º/1), que vale para todos os contratos, incluindo os contratos
administrativos (contratos que configurem relações jurídicas administrativas).
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Contratação Excluída
1) Contratos desprovidos de interesse concorrencial – nº1 do artigo 5.º: “A parte
II não é aplicável à formação de contratos cujo objeto abranja prestações que não
estão nem sejam suscetíveis de estar submetidas à concorrência de mercado,
designadamente em razão da sua natureza ou das suas características, bem como da
posição relativa das partes no contrato ou do contexto da sua formação”.
2) Contratos no âmbito do sector público – artigo 5.º, nº 2, e artigo 5.º-A ~
2.1) Contratos de delegação entre entidades
adjudicantes: estão excluídos da Parte II do CCP Referência a alguns “precedentes
os acordos ou outros instrumentos jurídicos que jurisprudenciais” do Tribunal de
organizem a transferência ou delegação de Justiça da União Europeia (TJUE):
poderes e responsabilidades pela execução de
• Acórdão do TJUE, de 13 de junho de 2013, Proc.
missões públicas entre entidades adjudicantes ou C-386/11 – contrato celebrado entre duas
agrupamentos de entidades adjudicantes, e que coletividades territoriais, para limpeza de
não prevejam uma remuneração – n.º 2 do artigo instalações
5.º (por exemplo, os acordos de delegação entre • Acórdão do TJUE, de 19 de Dezembro de 2012 -
municípios e freguesias). contrato celebrado entre duas entidades
2.2) Contratos de cooperação entre entidades públicas (Agência Sanitária Local de Lecceuma
e a Università del Salento), para o “estudo e
adjudicantes: A Parte II do Código também não avaliação da vulnerabilidade sísmica de
é aplicável à formação dos contratos celebrados estruturas hospitalares”;
exclusivamente entre duas ou mais entidades • Acórdão do TJUE, de 9 de Junho de 2009, Proc.
adjudicantes quando se verifiquem, C-480/06 - cooperação entre autarquias locais -
cumulativamente, as seguintes condições (artigo adjudicação de serviços de tratamento de
5.º-A/5/6): resíduos.
i. O contrato estabelece uma cooperação • Nº6 do artigo 1.º da Diretiva 2014/24, de 26-2-
2014 (nova Diretiva relativa aos contratos
entre as entidades adjudicantes, no âmbito
públicos): os acordos, decisões ou outros
de tarefas públicas que lhes estão atribuídas
instrumentos jurídicos que organizem a
e que apresentam uma conexão relevante transferência de poderes e responsabilidades
entre si; pela execução de missões públicas entre
ii. A cooperação é regida exclusivamente por autoridades adjudicantes ou agrupamentos de
considerações de interesse público; autoridades adjudicantes, e que não prevejam
iii. As entidades adjudicantes não exercem no uma remuneração pela execução dos
mercado livre mais de 20% das atividades contratos, são considerados uma questão de
abrangidas pelo contrato de cooperação. organização interna dos Estado-Membro em
causa e, como tal, não são de forma alguma
afetados pela presente diretiva.
Nota 1: por exemplo, dois ou mais municípios podem, por contrato, criar serviços
intermunicipalizados para a gestão comum de interesses públicos municipais (nº 5 do artigo
8.º da Lei nº 50/2012, de 31 de Agosto, que aprova o regime jurídico da atividade empresarial
local e das participações locais).
Nota 2: para efeitos do apuramento da percentagem referida deve ser tido em conta o
volume médio total de negócios, ou uma medida alternativa adequada, baseada na
atividade, tais como os custos suportados pela pessoa coletiva em causa no que diz respeito
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a serviços, fornecimentos ou obras, nos três anos anteriores ou, quando não tenha três anos
de atividade concluídos, a projeção de atividades a desenvolver – n.º 6 do artigo 5.º-A.
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→ Contratos de serviços sociais, de saúde e de outros serviços específicos ou conexos –
artigo 6.º-A:
“1 — A parte II não é aplicável à formação dos contratos públicos que tenham por
objeto a aquisição de serviços sociais e de outros serviços específicos referidos no
anexo IX ao presente Código, que dele faz parte integrante, salvo quando o valor de
cada contrato for igual ou superior ao limiar previsto na alínea d) do nº3 do artigo
474.º (isto é, 750.000 euros), caso em que se aplica o disposto nos artigos 2500-A e
seguintes.
2 — À celebração dos contratos referidos no número anterior são aplicáveis, com as
devidas adaptações, os princípios gerais da contratação pública previstos no artigo
1.º-A”
4) Regime da contratação excluída
artigo 5.º- B do CCP
“1 - A celebração dos contratos a que se referem os artigos 5.º e 5.º-A fica sujeita aos princípios gerais da
atividade administrativa, bem como, com as devidas adaptações face à natureza do contrato, aos
princípios gerais da contratação pública previstos no n.º 1 do artigo 1.º-A, devendo sempre ser feita
menção à norma que fundamenta a não aplicação da parte II ao contrato em causa”.
É de notar que a identificação dos atos administrativos a que se pretende ver aplicada
a Parte II pressupõe a prévia delimitação do conceito de contrato público submetido a essa
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mesma Parte. A formação do ato administrativo que substitui um contrato público será
regulada pela Parte II, se e quando o contrato público que o mesmo substitui estivesse,
também ele, sujeito à Parte II. Ou seja, a celebração do contrato público (substituído pelo
ato administrativo) tem necessariamente de estar sujeita a algum dos procedimentos
disciplinados na Parte II.
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1.2. Prossecução do interesse público
A europeização do direito da contratação pública determinou a acentuação dos
valores da concorrência, da transparência, da igualdade e da não-discriminação e uma
relativa secundarização da prossecução do interesse público. Historicamente, a
regulamentação da contratação pública sempre esteve marcada por uma lógica de boa
utilização dos dinheiros públicos. E, embora outros valores assumam relevância crescente, a
realização de interesses públicos continua a orientar a contratação pública, sobretudo a
realização do interesse público financeiro. Daí a célebre expressão, “Best Value for Money”:
pretende-se obter o melhor “negócio” para o dinheiro público, de modo que este nunca
seja mal empregue.
Deste modo, o princípio da igualdade tem incidência quanto aos seguintes aspetos:
O que foi dito não obsta a que a nossa lei admita “contratos reservados” (artigos 20.º e
77.º CCP). Sucede, porém, que estas são hipóteses em que o desvio ao princípio da
igualdade é legítimo, pelo que a redução da concorrência não se afigura como “indevida”.
Aliás, nestes casos há um desvio à igualdade no acesso aos procedimentos, mas já não à
igualdade de tratamento dos concorrentes.
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1.4. Transparência
O princípio da transparência tem como finalidade garantir a ausência de qualquer risco
de favoritismo ou de arbítrio por parte da entidade adjudicante. De facto, este princípio
implica que todas as condições e modalidades do procedimento de adjudicação sejam
formuladas de forma clara, precisa e unívoca no anúncio ou nas peças do procedimento
(isto é, não ambíguas). Ademais, este princípio impõe ainda que todas as informações
técnicas necessárias à boa compreensão do anúncio e das peças do procedimento sejam
disponibilizadas a todos os participantes. Do que foi dito resulta um dado incontornável: o
princípio da transparência cumpre uma função importante na prevenção de conflitos de
interesse e de eventuais violações do princípio da imparcialidade (art. 1.º-A, n.º 3). O respeito
pelas exigências da transparência traduzir-se-á numa evidente redução da conflitualidade.
1.5. Imparcialidade
Encontra-se referenciado no art. 1.º-A, n.º 3 CCP (art. 9.º+ art. 69.º a 76.º do CPA) e no art.
1.º-A, nº4 CCP. Decorre deste princípio a obrigação, para a entidade adjudicante, de tratar
de forma imparcial todos os interessados, candidatos e concorrentes, devendo considerar
com objetividade todos e apenas os interesses relevantes no contexto decisório e adotando
as soluções organizatórias e procedimentais indispensáveis à preservação da isenção
administrativa e à confiança nessa isenção (art. 9.º CPA, aqui aplicável por ser assumir como
um princípio geral da atividade administrativa). Por força do princípio da imparcialidade
aplica-se aos procedimentos de formação de contratos (aos membros do júri e titulares do
órgão adjudicante) o sistema de impedimentos e de suspeições previsto no CPA – artigos
69.º a 76.º. Ou seja, há um grau máximo de vinculação para o júri dos procedimentos, para o
órgão decisor da entidade adjudicante e para os peritos que auxiliam o júri; antes do início
de funções, têm de subscrever uma declaração de inexistência de conflito de interesses (art.
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67.º/5 CCP). A revisão de 2017 introduziu no CCP o tema dos conflitos de interesses e criou
obrigações específicas para os membros dos júris dos procedimentos.
1.6. Proporcionalidade
Este princípio determina que as entidades adjudicantes adotem comportamentos
adequados e proporcionados aos fins prosseguidos, comportando uma tripla exigência:
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1.7. Legalidade
A legalidade constitui um princípio geral da contratação pública, sendo que as entidades
adjudicantes estão vinculadas à legalidade e à juridicidade (art. 1.º-A CCP e 3.º CPA). Toda a
intervenção da Administração Pública, inclusivamente em matéria de contratação pública
(escolha do procedimento de adjudicação e estrutura da tramitação procedimental, por exemplo),
deve ser feita em obediência à lei, ou pelo menos com um padrão normativo estabelecido.
Não obstante, isto não significa que se retire à Administração toda e qualquer liberdade de
atuação. À entidade adjudicante reconhece-se, de facto, uma margem de discricionariedade
– uma discricionariedade de conformação normativa = liberdade de definir, dentro dos limites
impostos na lei, as regras do procedimento, a qual é patente, sobretudo, na escolha do
procedimento a seguir e no estabelecimento dos requisitos de participação e dos critérios de
adjudicação. Ou seja, opera especialmente na definição das regras do procedimento,
designadamente no programa do procedimento (art. 41.º CCP) e no estabelecimento das
cláusulas a incluir no contrato a celebrar através do caderno de encargos (art. 42.º/1 CCP); esta
discricionariedade não opera tanto no patamar das decisões concretas do procedimento, as
quais, em geral, têm de se conformar com regras (legais e regulamentares) preestabelecidas.
Com a revisão de 2017, verificou-se um aumento significativo das normas que definem
em termos vagos e imprecisos os pressupostos de decisões dos órgãos adjudicantes. Por
exemplo, ocorre com as decisões sobre a adjudicação de lotes e a verificação de casos de
impedimentos. Nestes casos, o CCP onera a entidade adjudicante com deveres específicos
de fundamentação. Ou seja, sem a exigência de fundamentação, tais decisões não teriam
sequer autonomia procedimental - casos da fundamentação das decisões de não
adjudicação por lotes (art. 46.º-A/2 ou da não fixação do preço base (art. 47.º/2).
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Capítulo III – Procedimentos de adjudicação de
contratos públicos
O início do procedimento: o procedimento de formação de qualquer contrato se inicia
com a decisão de contratar, a qual deve ser fundamentada e cabe ao órgão competente
para autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar, podendo essa decisão estar
implícita nesta última (nº1 do artigo 36.º do CCP).
Fora do seu domínio ficam de fora, num primeiro momento, apenas as competências
próprias do júri do procedimento.
31
1.1.2. Competências do órgão adjudicante
• Decisão de contratar (art. 36.º CCP), atribuída pela lei ou estatutos da entidade
adjudicante (e não pelo CCP);
• Decisão de escolha do procedimento (art. 38.º CCP);
• Prestação de esclarecimentos aos interessados sobre as peças do procedimento,
oficiosamente ou a pedido daqueles (art. 50.º, nº5/a), e o n.º 7 CCP);
• Pronúncia sobre os erros e omissões identificados pelos interessados e, quando os aceite,
a indicação dos respetivos termos de suprimento (art. 50.º, n.º 5/b), e o n.º 6 CCP);
• Retificação/alteração das peças do procedimento e suprimento de erros ou omissões
das peças do procedimento (art. 50.º, n.º 5/b), e n.ºs 6 e 7, e art. 64.º/ 1 CCP);
• Decisão sobre a prorrogação do prazo de apresentação de propostas (art. 64.º/4 CCP);
• Designação do júri do procedimento e de (eventuais) peritos ou consultores (art. 67.º/
1, e 68.º/6 CCP);
• Decisões de qualificação ou de exclusão de candidaturas, sob proposta do júri do
procedimento, constante do relatório final da fase de qualificação (art. 168.º/4 CCP);
• Decisões de ordenação ou de exclusão de propostas, sob proposta do júri do
procedimento, constante de relatório deste (art. 124.º/4, e 148.º/4);
• Decisão de não adjudicação (art. 79.º CCP);
• Decisão sobre a dispensa da redução do contrato a escrito (art. 95.º/2 CCP);
• Decisão de apresentação de ajustamentos ao conteúdo do contrato a celebrar (art.
99.º/1 CCP);
• Decisão sobre a aprovação da minuta do contrato (art. 98.º/1 CCP) e representação
da entidade adjudicante na outorga do contrato (artigo 106.º/1 CCP);
• Apreciação e decisão de impugnações administrativas (art. 274.º CCP)
Quando não exista júri ou este seja dispensado, deverá haver lugar à designação de um
responsável do procedimento, nos termos do art. 55.º CPA.
33
Composição e funcionamento do júri
O júri apresenta-se como órgão administrativo plural, com um mínimo de três membros
efetivos e dois suplentes, todos designados pelo órgão adjudicante (art. 67.º/1 CCP).
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adjudicação e a respetiva fundamentação. Consequentemente, as deliberações do júri
apenas produzem efeitos internos (isto é, efeitos dentro do procedimento a que digam
respeito); são meros atos preparatórios das decisões do órgão adjudicante.
1.3. Interessados
Os conceitos jurídicos mais comuns para referenciar os atores principais do procedimento
de adjudicação são os de candidatos e concorrentes. Estes constituem duas categorias de
interessados, que participam no procedimento de adjudicação mediante a apresentação
de uma candidatura e de uma proposta (art. 52.º e 53.º). Mas o CCP também recorre ao
conceito “interessados” para identificar quaisquer entidades que têm a pretensão de intervir
e que intervêm mesmo no procedimento de adjudicação. A Lei das plataformas eletrónicas
define “interessados” no art. 2.º/c. Contudo, são vários os preceitos que no CCP se referem a
interessados, indicando entidades que não são (ou ainda não são) candidatos ou
concorrentes: artigos 50.º/1; 64.º/3; 66.º/1; 138.º/3. Uma outra categoria particular de
interessados é constituída por aqueles que, em resposta/sequência de anúncios que
convidem à manifestação de interesse em participar num procedimento, tenham
apresentado à entidade adjudicante essa manifestação de interesse: artigos 250.º-B/1/b;
35.º, 167.º/3 a 6. Esta manifestação de interesse pelo operador económico é uma
declaração que corresponde à solicitação de um convite dirigida à entidade adjudicante –
36
art. 167.º - interessados tem o direito ao convite para apresentação de
candidatura/proposta.
1.5. Adjudicatário
O adjudicatário é o concorrente cuja proposta foi aceite ou escolhida pelo órgão
adjudicante. Em princípio, o adjudicatário será a contraparte no contrato a celebrar com a
entidade adjudicante (art. 104.º CCP). No entanto, este princípio pode sofrer desvios por
diversas causas, previstas na lei:
37
2. Decisão de contratar e decisão de autorização da
despesa
O procedimento de formação de qualquer contrato inicia-se com a decisão de
contratar, a qual deve ser fundamentada e cabe ao órgão competente para autorizar a
despesa inerente ao contrato a celebrar, podendo essa decisão estar implícita nesta última
(art. 36.º/1 CCP).
39
Os tipos de procedimentos de adjudicação previstos na nossa lei (art. 16º/1 CCP) são:
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inovadoras, independentemente da sua natureza e das áreas de atividade, tendo em vista a
sua aquisição posterior, desde que estes correspondam aos níveis de desempenho e preços
máximos previamente acordados entre aquela e os participantes na parceria – artigo 30.º-A
O ajuste direto pode ser escolhido em função do valor nos termos seguintes:
1. Contratos de empreitada de obras públicas – art. 19.º/d;
2. Contratos de locação ou de aquisição de bens móveis e de aquisição de
ajuste direto serviços – art. 20.º/1/d;
3. Contratos de concessão de obras públicas e de serviços públicos – art.
31.º/4
4. Outros contratos – art. 21º/1/c e /2;
A consulta prévia pode ser escolhida em função do valor nos termos seguintes:
1. Contratos de empreitada de obras públicas – art. 19.º/c;
2. Contratos de locação ou de aquisição de bens móveis e de aquisição de
consulta prévia serviços – art. 20.º/1/c;
3. Contratos de concessão de obras públicas e de serviços públicos – art.
31.º/4;
4. Outros contratos – art. 21º/1/b e /2;
41
concurso público Estes procedimentos podem sempre ser utilizados com publicação no JOUE,
qualquer que seja o valor do contrato. Contudo, em função do valor, a
ou concurso
entidade adjudicante pode adotar procedimentos de concurso sem
limitado por publicação no JOUE, quando se trate de contratos de empreitada de obras
prévia públicas, de locação ou aquisição de bens imóveis ou aquisição de serviços
qualificação sem abaixo dos limiares europeus (art. 19º/b e 20º/1/b) – o facto de os contratos a
celebrar terem valor inferior aos limiares europeus autoriza concursos nacionais.
publicação no JOUE
Nota: o valor do novo contrato que se pretenda celebrar por ajuste direto/consulta
prévia não é incluído no cálculo do preço contratual acumulado – teoria do facto passado
O art. 24º indica os pressupostos que permitem a adoção do ajuste direto para a
celebração de quaisquer contratos.
NOTA: a autorização para adotar o ajuste direto nesses preceitos é, de certo modo,
derrogada pelo art. 27º-A, que estabelece uma regra de preferência da consulta prévia
sobre o ajuste direto. Logo, o disposto no art. 24º a 27º, a possibilidade de ajuste direto tem
de se articular com esta regra de preferência.
RAZÕES PROCEDIMENTAIS
→ Situação em que um concurso fique deserto, por (artigo 24.º, n.º 1, alínea a)):
• Num concurso limitado por prévia qualificação nenhum candidato se tenha apresentado;
• Ou num concurso público nenhum concorrente tenha apresentado proposta;
• E ainda a hipótese prevista no n.º 6 do artigo 24.º, conjugado com o n.º 5 do
mesmo artigo, quando estejam em causa entidades dos setores especiais (ou
atividades dos sectores especiais), abrangendo-se também aqui o procedimento
de negociação.
Mas note-se que, para o ajuste direto ser possível nesta situação, a entidade
adjudicante não pode alterar substancialmente o caderno de encargos e,
quando for o caso, os requisitos mínimos de capacidade técnica e financeira
estabelecidos no procedimento primitivo » exigência de identidade substancial
entre o objeto do procedimento que ficou deserto (e que foi aberto à
concorrência) e o objeto do procedimento de acesso restrito que venha a lançar.
→ Situação em que, num concurso público, num concurso limitado por prévia
qualificação ou num procedimento de diálogo concorrencial, todas as propostas são
excluídas por razões formais – artigo 24.º, n.º 1, alínea b), conjugada com o artigo 146.º
Desde que o caderno de encargos não seja substancialmente alterado. Este é mais
um insucesso de um procedimento aberto de seleção concorrencial. Admite-se o
recurso a um procedimento de acesso restrito, porque o procedimento anterior já
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assegurou a publicidade e concorrência. Aplica-se, também neste caso, as condições
e limites na situação anterior: identidade substancial do caderno de encargos (24º/9)
e o limite temporal previsto no 24º/7 e 8.
→ Situação em que todas as propostas são excluídas por razões materiais – artigo 24.º,
n.º 1, alínea b), e n.º 2, conjugados com o artigo 70.º, nº 2 (na generalidade dos casos,
as razões de exclusão mencionadas neste n.º equivalem a razões materiais)
→ Inaplicabilidade dos limites de valor/financeiros referidos, desde que (n.º 2 do artigo 24.º):
• Tenha havido publicitação do anúncio do procedimento anterior no Jornal Oficial
da União Europeia
• E sejam convidados a apresentar proposta todos, e apenas, os concorrentes cujas
propostas tenham sido excluídas apenas com fundamento no n.º 2 do artigo 70.º
(na generalidade dos casos trata-se de razões materiais de exclusão) – Ajuste
direto com vários convidados
RAZÕES DE URGÊNCIA
Trata-se de casos de urgência imperiosa resultantes de acontecimentos imprevisíveis –
artigo 24.º, n.º 1, alínea c).
Mas note-se que há casos em que o órgão adjudicante tem o dever de explicar as
razões que determinam o convite de entidades que, em função das condições do contexto,
parecem não ter capacidade para responder à urgência devida.
Exemplo: o colapso de uma ponte autoriza um procedimento sem convite para a contratação
de um serviço de transporte fluvial por um período limitado de tempo, mas não autoriza a
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contratação de uma empreitada para a construção de uma nova ponte ou de um serviço de
transporte fluvial pelo prazo que durar a construção da nova ponte. Em ambos os casos, tratar-se-
ia de adotar procedimentos sem convite além do estritamente necessário para responder ao
motivo de urgência imperiosa.
NOTA: preferência legal da consulta prévia sobre o ajuste direto (art. 27º-A) – coloca a
consulta prévia ao nível dos procedimentos abertos e obriga à demonstração de que os
prazos mais longos deste procedimento (devido a uma tramitação procedimental mais
exigente) não podem ser cumpridos por incompatibilidade com a situação de urgência.
Além dos casos em que pode ser utilizado nos termos do art. 24º, o ajuste direto ainda pode
ser utilizado nos termos do art. 25º.
O ajuste direto também pode ser utilizado nos termos do art. 26º.
→ No entanto, o (novo) limite à escolha do ajuste direto ao abrigo dos critérios materiais
introduzido pelo artigo 27.º-A: “Nas situações previstas nos artigos 24.º a 27.º, deve
adotar-se o procedimento de consulta prévia sempre que o recurso a mais de uma
entidade seja possível e compatível com o fundamento invocado para a adoção
deste procedimento”.
A introdução desta limitação, designadamente quando esteja em causa a adoção
do ajuste direto por razões de urgência, e o (novo) regime do contencioso pré-
contratual urgente. Razões que poderão ser invocadas para fundamentar o recurso
ao ajuste direto: o confronto entre a razão da urgência e o “risco” procedimental e
o “risco” processual (contencioso).
→ O critério do interesse público (apenas) para contratos de sociedade: “Quando razões
de interesse público relevante o justifiquem, pode adotar-se o ajuste direto para a
formação de contratos de sociedade” – n.º 3 do artigo 31.º
→ A faculdade de adotar o ajuste direto na sequência do “concurso de ideias”, nos
termos dos n.º 2 e 8 do artigo 219.º-J
O art. 112º/2 CCP define o ajuste direto. Mas há a situações em que podem ser
convidadas várias entidades para o ajuste direto: arts. 24º/3; 114º/2; 219º-J/8. Note-se a lei
dispensa, neste caso, a instituição do júri do procedimento (67.º/1), sendo que a prática dos
atos de instrução pode ser assegurada diretamente pelo órgão adjudicante ou pelos serviços
que dele dependem. Em traços gerais, a tramitação deste procedimento consiste no seguinte:
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3) Apresentação de propostas: as entidades convidadas apresentam as suas propostas
através de meios eletrónicos, não sendo obrigatória (para a entidade adjudicante) a
utilização de plataforma eletrónica (115º/4);
Note-se que não há um prazo mínimo legal e imperativamente fixado, ou seja, o prazo
para a apresentação das propostas é o que for fixado no convite – art. 115º/1/f,
podendo ser um prazo inferior ou superior a 9 dias. Logo, a fixação do prazo está na
discricionariedade da entidade adjudicante, mas tem de ser um prazo
adequado/proporcionado.
Caso de apresentação de propostas por agrupamentos – art. 117º: em regra, um
agrupamento de pessoas singulares ou coletivas pode apresentar uma proposta, desde
que um dos seus membros tenha sido convidado para o efeito (117º/1). Contudo, há
uma exceção – se o procedimento for escolhido em função do valor (117º/2)
4) Os serviços da entidade adjudicante podem pedir esclarecimentos sobre a proposta
apresentada e convidar o concorrente a introduzir melhorias na sua proposta (não
havendo, contudo, lugar às fases de negociação e de audiência prévia, nem à
elaboração dos relatórios preliminar e final - art. 125º);
5) Na sequência, os serviços da entidade adjudicante submetem o projeto da decisão de
adjudicação ao órgão competente para a decisão de contratar.
6) O órgão adjudicante profere o ato de adjudicação.
7) Celebração do respetivo contrato: que deve ser objeto de publicidade, pela entidade
adjudicante, no portal dos CP’s. De acordo com o art. 127º/3, a publicitação da
celebração do contrato é a condição de eficácia do contrato, nomeadamente para
efeitos de pagamentos, independentemente de o contrato ter sido ou não reduzido a
escrito (art. 94º e ss.).
No caso de estarmos perante um ajuste direto simplificado, previsto no art. 128º e 129º: A
adjudicação pode ser feita pelo órgão adjudicante diretamente sobre uma fatura ou um
documento equivalente apresentado pela entidade convidada, sendo pressuposto da
decisão de adjudicação a decisão de contratar e a decisão de escolha do ajuste direto, nos
termos do art. 19º/d + 20º/1/d. Encontram-se, assim, dispensadas todas as demais
formalidades, designadamente o recurso a meios eletrónicos, a celebração de contrato e a
obrigação de publicitação.
Este regime aplica-se nas “compras presenciais” e nas compras de serviços e produtos
através de plataformas de intermediação online. Conta para efeitos do limite trienal (113º/2).
Consulta prévia
O art. 112º/1 define a consulta prévia. Assume um caráter mais complexo, desde logo
atendendo ao número de entidades a convidar para efeito de apresentação de propostas.
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2) Convite enviado às entidades convidadas deve conter, além das menções
obrigatórias, previstas no art. 115º/1, também aquelas que constam no n.º 2, ou seja, o
convite deverá indicar se as propostas apresentadas serão (ou não) objeto de
negociação e, em caso afirmativo:
• Quais os aspetos da execução do contrato a celebrar que a entidade
adjudicante não está disposta a negociar; e
• Se a negociação decorrerá parcial ou totalmente, por via eletrónica e os respetivos
termos e qual o critério de adjudicação e os eventuais fatores e subfatores que o
densificam, não sendo, porém, necessário um modelo de avaliação das propostas.
3) O convite é acompanhado do caderno de encargos, sendo enviado, tal como a
proposta, através de meios eletrónicos (entidade adjudicante não está obrigada a usar
a plataforma eletrónica) e deve ser formulado por escrito – 115º/4. O programa do
procedimento é substituído por um convite, acompanhado de um caderno de encargos.
4) Solicitação e prestação de esclarecimentos das peças do procedimento (+) retificação
de erros e omissões: no prazo constante no art. 116.º; em regra, aplicar-se-á o art. 50.º,
podendo os esclarecimentos sobre as peças ser prestados e as retificações ser efetuadas
até ao termo do 2º terço do prazo de apresentação de propostas.
5) Apresentação de propostas: as entidades convidadas apresentam as suas propostas
através de meios eletrónicos, não sendo obrigatória (para a entidade adjudicante) a
utilização de plataforma eletrónica (115º/4). Após a apresentação das propostas, o
desenvolvimento da tramitação varia, conforme haja lugar a negociação ou não:
• Não havendo negociação: o júri procede à análise e à avaliação das propostas
apresentadas e elabora o relatório preliminar (ver ponto 7).
Note-se que não há um prazo mínimo legal e imperativamente fixado, ou seja, o prazo
para a apresentação das propostas é o que for fixado no convite – art. 115º/1/f),
podendo ser um prazo inferior ou superior a 9 dias. Logo, a fixação do prazo está na
discricionariedade da entidade adjudicante, mas tem de ser um prazo
adequado/proporcionado.
Caso de apresentação de propostas por agrupamentos – art. 117º: em regra, um
agrupamento de pessoas singulares ou coletivas pode apresentar uma proposta, desde
que um dos seus membros tenha sido convidada para o efeito (117º/1). Contudo, há
uma exceção – se o procedimento for escolhido em função do valor (117º/2)
6)
6.A. O júri, após a análise das propostas apresentadas, conduz uma negociação que
incidirá apenas sobre os atributos dessas propostas (aspetos da execução do contrato a
celebrar submetidos à concorrência pelo caderno de encargos) e não sobre os termos e
condições – Objeto das negociações: art. 118º/1, conjugado com o art. 115º/2.
Não há lugar à negociação de propostas que devam ser excluídas, aplicando-se, para
o efeito, os fundamentos de exclusão do art. 146º/2. Esta fase de negociação só existe
no caso de consulta prévia e se estiver previsto no convite (art. 118º). Os concorrentes
têm o direito e o dever de negociar.
6.B. Os termos a adotar na fase de negociação serão fixados pelo júri e transmitidos aos
concorrentes na notificação que lhes é enviada para efeitos de agendamento da
1ªsessão de negociações (art. 120º). Formalidades a observar:
• Convocatória – art. 120.º/1: o local pode ser um endereço eletrónico;
• Formato adotado para as negociações – art. 120.º/2;
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• Elaboração de atas – art. 120.º/3;
• Dever de sigilo durante a fase de negociação – art. 120.º/4
• Modo de realização das negociações – art. 120.º/2: trata-se de um critério
discricionário da entidade adjudicante (podem decorrer em separado, ou em
conjunto com os diversos concorrentes)
• O princípio da alterabilidade das propostas: os concorrentes devem ter idênticas
oportunidades de propor, de aceitar e de contrapor modificações das respectivas
propostas durante as sessões de negociação – art. 120.º/4
• Modo de representação dos concorrentes nas negociações – art. 119.º: os
concorrentes podem fazer-se representar, bem como fazer-se acompanhar de
técnicos nas sessões de negociação
6.C. Encerrada a negociação, o júri fixa o prazo para a apresentação de versões finais
integrais das propostas (propostas finais) – art. 121º. Existência de um duplo limite:
• As propostas não podem conter atributos diferentes dos constantes das respetivas
versões iniciais no que respeita aos aspetos da execução do contrato a celebrar
que a entidade adjudicante tenha indicado não estar disposta a negociar (causa
de exclusão – art. 122.º/2)
• Depois de entregues as versões finais das propostas, não podem as mesmas ser
objeto de quaisquer alterações: passa a valer inteiramente o princípio da
inalterabilidade/intangibilidade das propostas.
6.D. Após a apresentação das propostas finais, o júri analisa as propostas (iniciais e finais)
e procede à respetiva avaliação.
Note-se que o órgão competente para a decisão de contratar poderá dispensar a
existência de júri (artigo 67.º/3). Nesse caso, os procedimentos são conduzidos pelos
serviços da entidade adjudicante: os serviços assumem a função de júri. E quando não
exista júri ou este seja dispensado, deverá haver lugar à designação de um responsável
do procedimento, nos termos do artigo 55.º do CPA.
7) Após a análise e avaliação das propostas, passa-se à “preparação da adjudicação”,
começando o júri por elaborar um relatório preliminar, no prazo de 3 dias, propondo ao
órgão adjudicante a ordenação das propostas e, se for o caso, a exclusão de algumas
delas, constando, igualmente, deste documento a referencia aos esclarecimentos
prestados pelos concorrentes (art. 122º, conjugado com o art. 146º/2 e 3).
8) Este relatório preliminar é enviado a todos os concorrentes, sendo-lhes concedido um
prazo, não inferior a 3dias, para se pronunciarem ao abrigo do seu direito de audiência
prévia (art. 123º).
9) Findo o prazo fixado para este efeito, o júri elabora um relatório final, no qual,
ponderando as observações dos concorrentes, essencialmente decide manter ou
modificar as conclusões constantes do relatório preliminar (art. 124º/1). Caso altere essas
conclusões, terá de ouvir novamente os concorrentes interessados (nova audiência
prévia) e, seguidamente, produzir um segundo relatório final (art. 124º/2). Envio do
relatório final ao órgão competente para a decisão de contratar – art. 124º/3 e 4.
10) Perante as conclusões finais do júri, o órgão adjudicante emite o ato de adjudicação,
escolhendo uma de entre as várias ofertas.
11) A celebração do contrato, que se segue à adjudicação, é objeto de publicitação pela
entidade adjudicante, no portal dos CP’s, sendo a publicitação da celebração do
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contrato condição de eficácia do mesmo, incluindo para efeitos de pagamentos,
independentemente de o contrato ter sido (ou não) reduzido a escrito (art. 127º/3).
Concurso público
É um procedimento unifásico (contemplando apenas uma fase de adjudicação), e
apresenta uma tramitação mais complexa.
Regime geral:
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que o prazo decorra integralmente em dias úteis; não há lugar a audiência prévia;
não há lugar a relatórios (preliminar e final); dispensa de júri.
→ Remissão, na parte não prevista, para a aplicação das regras relativas ao concurso
público, desde não sejam incompatíveis com a natureza urgente deste tipo
procedimental (o concurso público urgente)
A qualificação dos candidatos pode ser realizada de acordo com dois modelos (arts.
179º e 181º CCP):
→ Modelo simples de qualificação (art. 179º): são qualificados todos os candidatos que
preencham os requisitos mínimos de capacidade técnica e financeira;
→ Modelo complexo de qualificação (art. 181º): a qualificação é efetuada segundo o
critério da maior capacidade técnica e financeira (segundo um modelo de avaliação
sujeito ao disposto no art. 139º CCP); só serão qualificados os candidatos que,
preenchendo os requisitos mínimos, se encontram nos lugares cimeiros de uma
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listagem que os ordena segundo a sua maior capacidade técnica e financeira (de
acordo com o disposto no art. 164º/1/m) CCP) + art. 165º.
Procedimento de negociação
Artigos 193.º a 203.ºdo CCP:
a) Identificar a necessidade de bens, serviços ou obras inovadores que não possam ser
obtidos mediante a aquisição de bens, serviços ou obras já disponíveis no mercado,
indicando ainda os requisitos mínimos que concretizam a necessidade;
b) Definir as disposições aplicáveis aos direitos de propriedade intelectual;
c) Incluir os requisitos inerentes às capacidades que os concorrentes devem possuir no
domínio da investigação e desenvolvimento, bem como no desenvolvimento e
implementação de soluções inovadoras.
A parceria para a inovação não pode ser utilizada com o intuito de restringir ou falsear a
concorrência.
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4. Peças do procedimento
O art. 40º/1 CCP enuncia as peças do procedimento consoante o tipo de procedimento
em causa. Fundamentalmente, são peças do procedimento:
O art. 40º não inclui o convite à participação em leilão eletrónico (art. 142º).
NOTA: caso particular do diálogo concorrencial que inclui, além do mais, o convite à
apresentação das soluções (art. 209º) e a memória descritiva (art. 207º).
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Os conteúdos das cláusulas (e dos anexos) do caderno de encargos cumprem, em
geral, as seguintes funções principais:
4.3. Convite
O convite pode surgir em momentos diferentes consoante o procedimento:
4.4. Anúncio
O catálogo legal das peças do procedimento inclui, desde a revisão de 2017, o anúncio,
que assinala o início do procedimento, a que se referem o art. 130º, 131º, 157º, 167º, 197º, 208º
e 218º-A/2.
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4.5. Princípios relativos às peças do procedimento
Princípio da estabilidade (imodificabilidade) das peças do procedimento
A previsão de um dever geral: o artigo 50.º do CCP atribui aos interessados um dever
geral de apresentação de uma lista com a identificação de erros e omissões constantes do
caderno de encargos.
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