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POWER POINTS DESENVOLVIDOS – TOMÁS CUNHA – CONTRATOS PÚBLICOS

CONTRATOS SÍNTESE
Algumas notas preliminares:

PÚBLICOS – 1. Este documento não é um resumo do


manual.
2. Este documento é apenas uma versão
mais organizada e desenvolvida dos

1ªF power points fornecidos pelo regente da


cadeira, Licínio Lopes.

Power Points Desenvolvidos com base no Manual Abraço, bom estudo, Tomás Cunha
do Dr. Pedro Costa Gonçalves
POWER POINTS DESENVOLVIDOS – TOMÁS CUNHA – CONTRATOS PÚBLICOS

Contratos Públicos – 1º FREQUÊNCIA

INTRODUÇÃO:

Ao analisar o contrato na sua configuração especificamente jurídica enquanto


instrumento de produção de efeitos jurídicos, não sobram dúvidas quanto à
estreita ligação entre o contrato e o direito privado. Contudo e sem prejuízo
dessa “marca genética”, é incontestável que a figura contratual ultrapassou
em larga medida as fronteiras do direito privado e conhece uma aplicação
generalizada em todos os setores do ordenamento jurídico.

A verdade é que apesar das dúvidas e hesitações verificadas nos finais do


século XIX, o contrato sempre foi um instrumento de atuação da AP. Como
prova disso mesmo, basta pensar nos “contratos de compras” de bens e
serviços imprescindíveis ao funcionamento dos organismos públicos (figura do
“Estado Comprador”).

A partir de uma certa fase, mais concretamente, a partir do séc. XIX, a


administração pública também se serviu do contrato como processo para
enquadrar relações especiais de colaboração com entidades particulares, às
quais confiava a construção e a gestão de infraestruturas públicas ou de
serviços públicos.

Exemplo: Contrato de concessão e gestão do transporte ferroviário ou


a célebre construção e exploração da Torre Eiffel em Paris.

Com o passar do tempo, foi-se assistindo a uma progressiva afirmação do


relevo prático do contrato na vida administrativa e à sua utilização
generalizada por toda a AP. Em múltiplos setores, a ideia de “AP por contrato”
viu-se transformada em algo normal. Sobretudo a partir dos anos 80 do séc.
XX, o contrato surge como um motor do processo de privatização e converte-
se numa ferramenta decisiva para enquadrar a transferência para as mãos
privadas da gestão de serviços públicos e de estabelecimentos públicos, bem
como do encargo de financiamento de infraestruturas públicas.

Exemplos: Basta recordar a Ponte Vasco da Gama, em Lisboa ou o


Eurotúnel, que liga o RU a França.

O contrato foi assim, e continua a ser, instrumento essencial de estratégias de


privatização orgânica e funcional de tarefas públicas.

Mas, além disso, o próprio processo de privatização criou novas


oportunidades para o crescimento de aplicações do contrato na AP, em
resultado da generalização da ideologia de “comprar em vez de fazer”.
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O contrato impunha-se agora como um mecanismo jurídico alternativo ao


ato administrativo e, nos finais do séc. XX, o contrato tinha-se instalado na AP
e, um pouco por todo o lado, começava a falar-se de uma “AP por contrato”.

Este fenômeno foi acompanhado por um processo de privatização, que criou


novas oportunidades para o crescimento das aplicações do contrato na
Administração, levando a uma clara tendência de “downsizing do Estado
Administrativo”. Em suma, em finais do século do XX, a cultura do contrato
tinha-se instalado na Administração Pública e um pouco por todo o lado,
começava-se a falar de um Administração por Contrato”.

O contrato viu-se, por conseguinte, transformado num instrumento


fundamental e decisivo da ação da AP:

● quer para satisfazer as suas necessidades domésticas


● quer para realizar, direta ou indiretamente, as suas missões públicas.

Atualmente, não se concebe um sistema de ação da administração em que o


contrato não ocupe uma posição central ou, pelo menos, fundamental.

Noção de contrato público e âmbito de aplicação do Código dos


Contratos Públicos (CCP) Âmbito da incidência subjetiva da
Parte II do CCP

I. Notas prévias
1. O contrato na Acão pública:
a. o princípio da concorrência no Direito da União Europeia;
b. a relação de seleção concorrencial entre as Administrações
Públicas e os operadores económicos
c. e a noção de contrato público (a Diretiva 2004/18/CE e a Diretiva
2014/24/UE)
i. O conceito de contrato público pressuposto no art.1º/2
CCP afasta-se desde logo pela sua amplitude do conceito
europeu de contrato público. Basta recordar que a adoção
de uma noção muito ampla de contrato público foi alvo de
críticas no seio da doutrina, nomeadamente da Dra. Maria
João Estorninho. Ora, de acordo com o DUE:
Contrato público é o “contrato, a título oneroso, celebrado por escrito entre um
ou mais operadores económicos e uma ou mais autoridades adjudicantes, que
tenha por objeto a execução de obras, o fornecimento de produtos ou a
prestação de serviços” - art.2º/1 (5) Diretiva 2014/24/EU).
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d. Estamos perante um conceito funcional, delimitado em razão de


preocupações substanciais e que, portanto, não foi concebido
para corresponder à noção formal de contrato de cada Estado
Membro
2. Nota geral sobre os contratos celebrados pela Administração Pública:
artigo 200ºo do Código do Procedimento Administrativo (CPA)
“Espécies de contratos”
1 — Os órgãos da Administração Pública podem celebrar contratos
administrativos, sujeitos a um regime substantivo de direito administrativo, ou
contratos submetidos a um regime de direito privado.
2 — São contratos administrativos os que como tal são classificados no Código
dos Contratos Públicos ou em legislação especial”.
Ou seja, segundo o CPA, temos:
2.1. Contratos administrativos
Isto é, contratos submetidos a um regime de direito administrativo quanto à sua
formação e execução:
Exemplos: O contrato de empreitada de obras públicas; o contrato de
concessão de obras públicas; o contrato de concessão de serviços públicos; o
contrato de aquisição de serviços/prestação de serviços; e o contrato de
aquisição ou de locação de bens móveis)
2.2. E contratos de direito privado da Administração ou contratos sujeitos
a um regime de direito privado (artigo 202.º, n.º 2 do CPA):
“No âmbito dos contratos sujeitos a um regime de direito privado são
aplicáveis aos órgãos da Administração Pública as disposições do presente
Código que concretizam preceitos constitucionais e os princípios gerais da
atividade administrativa”.
Em suma: O facto de AP utilizar o contrato não tem, necessariamente, de se
traduzir no acolhimento pelo Direito Administrativo da figura do contrato

Vamos perceber porquê: Ora, a consagração do contrato como categoria


específica do DA pressupõe:

a) Não só a existência de normas jurídicas que regulem em termos


particulares determinados contratos
b) Como também reclama uma regulamentação jurídico-administrativa
que afirme, de forma inequívoca, a sua primazia enquanto
regulamentação de uma espécie contratual.

No direito português, tendo presente esta exigência, não subsistem


quaisquer dúvidas quanto ao facto de o contrato pertencer também ao direito
administrativo, impondo-se como categoria específica deste ramo jurídico.
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Entre nós, existe, de facto, um contrato de DA, regulado, a título principal, por
normas de DA.

Mas, se tivermos apenas em consideração os contratos cujo procedimento de


formação é regulado na Parte II do Código dos Contratos Públicos (doravante,
CCP), pode dizer-se que a lei persegue dois objetivos nucleares:

● a realização de uma contratação eficiente para o setor público;

● a proteção e promoção da concorrência entre operadores económicos.

Em síntese, a regulamentação jurídico-administrativa de contratos da AP pode


atingir a formação, a execução e o contencioso da formação e execução
do contrato.

Pode atingir estes três níveis, mas não tem que, necessariamente, atingir
sempre as suas três dimensões em todos e cada um dos contratos da AP.
3. A remissão do CPA para o Código dos Contratos Públicos e a noção de
contrato público:
Artigo 201º do CPA “Procedimentos pré-contratuais”
1 — A formação dos contratos cujo objeto abranja prestações que estejam, ou
sejam suscetíveis de estar, submetidas à concorrência de mercado, encontra-
se sujeita ao regime estabelecido no Código dos Contratos Públicos ou em lei
especial.
2 — À formação dos contratos a que se refere o número anterior são
especialmente aplicáveis os princípios da transparência, da igualdade e da
concorrência”.
4. Remissão do CPA para a noção de contrato público no Código dos
Contratos Públicos (CCP).
A noção compreende dois elementos essenciais:
4.1. O elemento “contrato
O contrato público é um contrato, logo, é um acordo formado por duas (ou
mais) declarações de vontade que têm em vista a produção de certos efeitos
jurídicos. O contrato público haverá, pois, de ostentar uma dupla característica:
1. Traduz um acordo ou uma união de vontades entre dois ou mais
sujeitos;
2. Corresponde a um acordo erigido com o intuito de produzir
determinados efeitos jurídicos obrigatórios para uma, ou para todas, as
partes que o subscrevem.

Em suma, o direito público aceita em linhas gerais, a compreensão largamente


convergente com a utilizada no direito privado.
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4.2. O elemento “público”


Compreensão e delimitação deste elemento a partir do nº 2 do artigo 1º do
CCP:
“O regime da contratação pública estabelecido na parte II é aplicável à
formação dos contratos públicos que, independentemente da sua designação e
natureza, sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no presente
Código e não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação”.

4.2.1. Como resulta da norma citada, há um nexo entre:


a) Um elemento objetivo (contrato);
b) E um elemento subjetivo (entidade adjudicante).
4.2.2. Pelo que, para o CCP, a qualificação de um contrato como contrato
público resulta do facto de se tratar de um contrato celebrado por uma
entidade que seja ela própria qualificada como entidade adjudicante pelo
mesmo Código, pois:
“O regime da contratação pública (isto é, o regime do CCP) ...é aplicável (aos)
contratos públicos que...sejam celebrados pelas entidades adjudicantes
referidas no presente Código...”
4.2.3. Consequentemente, para o CCP, um contrato é qualificado como um
contrato público quando seja celebrado por uma entidade adjudicante, ou
seja:
a) Celebrado por uma das entidades adjudicantes elencadas no artigo
2º, n.º 1
a. Entidades integradas, em geral, na Administração Pública
“clássica”.
b) Celebrado por uma das entidades adjudicantes a que se refere o artigo
2.º, n.-º2
a. os “organismos de direito público”.
c) Ou celebrado por uma das entidades adjudicantes abrangidas pelo
artigo 7.º
a. “Entidades dos sectores especiais”;
b. entidades que exercem atividades nos sectores da água, da
energia, dos transportes e dos serviços postais).
4.3. À formação dos contratos (contratos públicos) celebrados por estas
entidades (entidades adjudicantes) aplica-se o regime da Parte II do CCP
(artigos 16º a 277º), “independentemente da.… designação e natureza” desses
contratos (cf. o nº 2 do artigo 1º do CCP). Significa isto que, para o CCP:
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4.3.1. Há contratos públicos que podem assumir a natureza de contratos


administrativos, aplicando-se a estes contratos:
a) O regime de formação dos contratos
a. Isto é, o regime que disciplina o procedimento pré-contratual)
estabelecido na Parte II do CCP (artigos 16.º a 277.º);
b) Bem como a globalidade do regime da Parte III do CCP, que estabelece
o regime substantivo dos contratos públicos que revistam a natureza de
contrato administrativo e cuja formação esteja sujeita à disciplina da
Parte II do CCP (nº 1 e 5 do artigo 1º e artigos 278º e seguintes.);
c) Enquadram-se neste âmbito os contratos celebrados pelas
entidades adjudicantes enumeradas no artigo 2º, nº 1, do CCP:
a. - Contrato de empreitada de obras públicas;
b. - Contrato de aquisição de serviços/prestação de serviços;
c. – Contrato de aquisição ou de locação de bens móveis;
d. - Contrato de concessão de obras públicas;
e. – Contrato de concessão de serviços públicos.
4.3.2. E há contratos públicos que não revestem a natureza de contrato
administrativo, aplicando-se a estes contratos:
a) O regime de formação dos contratos
a. Isto é, o regime que disciplina o procedimento pré-contratual)
estabelecido na Parte II do CCP (artigos 16º a 277º
b) E apenas alguns aspetos do regime substantivo da Parte III do
CCP:
a. “em concreto as disposições relativas aos regimes de invalidade,
limites à modificação objetiva, cessão da posição contratual e
subcontratação são aplicáveis, com as devidas adaptações, aos
contratos sujeitos à parte II, ainda que estes não configurem
relações jurídicas contratuais administrativas” (artigo 280º, nº 3);
c) Enquadram-se neste âmbito os contratos públicos celebrados por
determinadas entidades, mesmo que de natureza privada, que, em
virtude de certos requisitos, sejam qualificadas como “organismos de
direito público” e, por isso, subsumíveis ao artigo 2º, n. º2, como
entidades adjudicantes.

Âmbito da incidência da Parte II do CCP – a contratação pública

O procedimento de formação dos contratos abrangidos pela Parte II do CCP


(contratação pública) reclama uma atenção particular: trata-se de um
procedimento administrativo (em bom rigor, um subprocedimento) de
adjudicação, destinado à escolha e ou à seleção do adjudicatário.
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1. Âmbito de incidência subjetiva da Parte II do CCP

1.1 Entidades adjudicantes

O CCP aplica-se a “entidades adjudicantes”.

São entidades adjudicantes aquelas que, através de órgãos competentes para o


efeito, cabe tomar, no desfecho do procedimento de adjudicação, a decisão de
adjudicação: - decisão que consiste:

• em aceitar a única proposta apresentada ou de escolher uma de entre as


propostas apresentadas – art.73º CCP)
• ou a designada decisão de não adjudicação (art.79º CCP).

Se atentarmos ao elenco das entidades adjudicantes (art.2o/1 e 2 e art.7o


CCP), verificamos que quase todas elas dispõem de personalidade
jurídica. Porém, a revisão de 2017 acrescentou ao elenco inicial as “entidades
administrativas independentes” (Comissão de Acesso aos Documentos
Administrativos, Comissão Nacional de Proteção de Dados, Comissão
Nacional de Eleições, etc.) e, estas entidades, não têm, em todos os casos,
personalidade jurídica. Além disso, há uma categoria de entidades
adjudicantes que a lei admite poderem não ter personalidade jurídica: é o caso
das centrais de compras. Estamos perante decisões que não envolvem, nem
pressupõem a “capacidade de contratar”, essa sim, ligada à personalidade
jurídica.

Em síntese, o conceito de entidade adjudicante não requer a personalidade


jurídica, embora, nos casos de entidades adjudicantes sem personalidade
jurídica, seja necessário “enquadrar” essa entidade na pessoa coletiva a que
pertence e definir qual a pessoa coletiva, dotada de capacidade para contratar,
em nome de quem aquela entidade vai celebrar o contrato adjudicado.

É possível distinguir 4 categorias de entidades


adjudicantes:
1. Entidades adjudicantes institucionais;
2. Organismos de direito público;
3. Operadores de serviços de rede;
4. As centrais de compras.

II. As entidades adjudicantes no CCP: a enumeração abrangente das


entidades adjudicantes
1. Primeiro grupo de entidades adjudicantes – nº 1 do artigo 2º do CCP:
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1. Estado:
O Estado é a entidade adjudicante indicada em primeiro lugar. Em regra, o
Estado (Estado-Administração) conduz os procedimentos de adjudicação e
contrata através dos serviços de administração direta. Integram a
administração direta do Estado os serviços centrais e periféricos, que pela
natureza das suas competências e funções, devam estar sujeitos ao poder de
direção do respetivo membro do Governo.

Em qualquer caso, a entidade adjudicante será sempre e apenas o Estado:


os gabinetes e membros do Governo, as direções gerais ou autoridades
centrais não são entidades adjudicantes. Os serviços e organismos referidos,
contratam em nome do Estado.

O conceito de Estado não abrange apenas o Estado-Administração, isto é, os


órgãos e serviços da AP Estadual. Abrangidos estão ainda os órgãos
legislativos e os órgãos judiciais. Nesse mesmo sentido, o TJ já decidiu que o
conceito de Estado utilizado nas diretivas abrange necessariamente TODOS
os órgãos que exercem poderes legislativo, executivo e judicial.

2. Regiões Autónomas;
Enquanto pessoas coletivas públicas, que prosseguem, com autonomia, os
interesses das respetivas populações, as Regiões Autónomas dos Açores e
Madeiras são, para efeitos de aplicação do CCP, entidades adjudicantes.
3. Autarquias locais
Como estudámos em Direito Administrativo, as autarquias locais são
compostas pelos Municípios e pelas freguesias respetivas. - Lei nº 75/2013, de
12 de setembro);
Nesse sentido, os municípios e freguesias lançam e conduzam procedimentos
de adjudicação através dos serviços, com base na decisão dos seus órgãos
competentes

4. Institutos públicos
(Lei nº 3/2004, de 15 de janeiro, que aprova a lei-quadro dos institutos públicos,
republicada pelo Decreto-Lei nº 5/2012, de 17 de janeiro);
5. Entidades administrativas independentes
Temos como exemplo as entidades abrangidas pela Lei nº 67/2013, de 28 de
agosto), mas também podem inserir- se neste grupo entidades sem
personalidade jurídica, nomeadamente a Comissão de Acesso aos
Documentos Administrativos, a Comissão Nacional de Proteção de Dados e a
Comissão Nacional de Eleições.
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6. Banco de Portugal
Com a revisão de 2017, o Banco de Portugal passou a figurar de forma
autónoma como entidade adjudicante do nº1 do artigo 2º.
Contudo, a parte II do CCP só é aplicável aos contratos que abranjam
prestações típicas da empreitada de obras públicas, concessão de obras
públicas, concessão de serviços públicos, locação e aquisição de bens móveis
ou aquisição de serviços – nº 8 do artigo 5.º)
7. Fundações públicas: -
As fundações públicas de direito público, nos termos da Lei nº 24/2012, que
aprova a lei-quadro das fundações, prevê a seguinte divisão:
a) Fundações criadas exclusivamente por pessoas coletivas
públicas - DIREITO PÚBLICO
Neste âmbito incluímos o caso dos “fundos personalizados” criados
exclusivamente por pessoas coletivas públicas: Trata-se de institutos públicos
com finalidades de natureza social, cultural, artística dotados de um património
cujos rendimentos constituam uma parte considerável das respetivas receitas.
Estas entidades são reconduzíveis ao conceito de fundação pública.
b) Fundações públicas de direito (regime) privado,
Neste segundo grupo, podemos incluir as universidades que tenham assumido
a forma de “fundação pública com regime de direito privado”, nos termos do
artigo 129º e seguintes. da Lei nº 62/2007, de 10-9, que aprova o regime
jurídico das instituições de ensino superior.
8. Associações públicas (associações de direito público):
Nesta matéria é conhecida a polémica sobre a extensão da figura da
associação pública. Nesse sentido depois duas visões dissonantes:
a) Segundo Vital Moreira:
A figura abrange apenas as designadas associações públicas profissionais
(ordens profissionais como a Ordem dos Médicos ou a Ordem dos Advogados).
b) Segundo Freitas do Amaral
As associações públicas são também as associações de entidades públicas
como as entidades intermunicipais ou como certas associações de caráter
misto.
Contudo, em qualquer caso, fora de discussão está o facto de o conceito de
associações públicas não abranger associações de direito privado de que
façam parte pessoas coletivas públicas.
Ora, neste campo podemos novamente efetuar uma divisão entre:
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a) - As associações públicas de entidades privadas (as


associações públicas profissionais
Enquadramos aqui as ordens profissionais e as câmaras profissionais -, nos
termos da Lei nº 2/2013, de 10 de janeiro, lei-quadro das associações públicas
profissionais. Contudo, o Acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia
(TJUE), de 12-9-2013, Proc. C-526/11, sobre a Ordem Profissional dos
Médicos da Alemanha);
b) - As associações públicas de entidades públicas (p. ex., as
entidades intermunicipais –
Este abrange as áreas metropolitanas e as comunidades intermunicipais - Lei
nº 75/2013, de 12 de setembro);
c) - E as associações de freguesia de direito público;
9. As associações sujeitas a uma influência dominante das entidades
anteriormente referidas:
Nos termos da alínea i), do nº1 do artigo 2º são entidades adjudicantes as:
“Associações de que façam parte uma ou várias das pessoas coletivas
referidas nas alíneas anteriores, desde que sejam maioritariamente financiadas
por estas, estejam sujeitas ao seu controlo de gestão ou tenham um órgão de
administração, de direção ou de fiscalização cuja maioria dos titulares seja,
direta ou indiretamente, designada pelas mesmas”
Isto é associações, em princípio, de natureza privada, uma vez que as de
natureza pública já se encontrarão abrangidas pela categoria de associações
públicas:
Por exemplo: a Associação Nacional de Municípios; a Associação Nacional de
Freguesias; associações sob a designação genérica de “associações de
desenvolvimento local.
Ao abrigo do artigo 2º, alínea i), do CCP, assumem também condição de
entidade adjudicantes as associações constituídas nos termos da lei civil e sob
influencia determinante das pessoas coletivas nas alíneas a) a h) do artigo
supramencionado. Isto é, nos termos da lei, às pessoas coletivas que fazem
parte da associação. Será o caso de uma associação de desenvolvimento
regional.
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2. Segundo grupo de entidades adjudicantes: os “organismos


de direito público”.

Ideia geral: a relevância da qualificação de “organismo de direito público”


2.1.A condição de entidades adjudicantes advém imediatamente do
formato organizativo típico da entidade.
São também entidades adjudicantes quaisquer pessoas coletivas que,
independentemente da sua natureza pública ou privada – artigo 2.º, nº 2
Levanta-se a questão: O que são organismos de direito público? São
quaisquer pessoas coletivas que, independentemente da sua natureza pública
ou privada:
i) Tenham sido criadas especificamente para satisfazer
necessidades de interesse geral, sem caráter industrial ou
comercial, entendendo-se como tais aquelas cuja atividade económica
se não submeta à lógica concorrencial de mercado, designadamente
por não terem fins lucrativos ou por não assumirem os prejuízos
resultantes da sua atividade;
e
ii) Sejam:
1. maioritariamente financiadas por entidades referidas no número
anterior ou por outros organismos de direito público, ou:
a. a sua gestão esteja sujeita a controlo por
parte dessas entidades
b. Ou tenham órgãos de administração, direção
c. ou fiscalização cujos membros tenham, em
mais de metade do seu número, sido
designados por essas entidades.
2.2. Verificam-se a existência de três requisitos cumulativos para a
qualificação de uma entidade como organismo de direito público
O conceito jurídico de organismo de direito público (“body governed by public
law”) é uma construção do Direito da União Europeia, idealizada originariamente
para prevenir o fenómeno da fuga ao direito da contratação pública.
Importa por isso mesmo perceber os fatores que permitem e que exigem,
considerar uma determinada entidade como organismo de direito público e
sujeitá-la ao regime da contratação pública na adjudicação dos contratos:

2.2.1. Primeiro requisito: ter personalidade jurídica (de direito público ou


de direito privado)
Como as diretivas, o CCP determina que são organismos de direito público
“pessoas coletivas”. Afastadas do conceito ficam as pessoas singulares, bem
como as entidades sem personalidade jurídica.
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Contudo, fica fora do âmbito do conceito de organismo de direito público não


significa, que fiquem fora da aplicação do CCP. O que sucede é que tais
entidades são consideradas como elementos ou partes de uma determinada
pessoa coletiva, que será, ela mesma, considerada entidade adjudicante.
Exemplo: A adjudicação de contratos pelos serviços municipalizados faz-
se em nome do município em que eles se integram. Nesse caso, entidade
adjudicante é, pois, o município.
A condição de organismo de direito público não é fonte, nem critério de atribuição
da personalidade jurídica. Trata-se, antes, de uma qualificação que se aplica a
uma entidade que tem personalidade jurídica.

2.2.2. Segundo requisito: o fim


Entidades criadas especificamente para satisfazer necessidades de interesse
geral, cuja atividade não tenha carácter industrial ou comercial, “entendendo-se
como tais aquelas cuja atividade económica se não submeta à lógica
concorrencial de mercado, designadamente por não terem fins lucrativos ou por
não assumirem os prejuízos resultantes da sua atividade”
A noção acolhe a jurisprudência do TJUE, em especial, a do Acórdão do TJUE,
(Acórdão Agorá), de 10-5-2001 (empresa de organização de feiras e
exposições).
A jurisprudência do TJUE delimitou os critérios para avaliar se uma atividade
desenvolvida por uma sociedade pública é desprovida de carácter industrial ou
comercial:
i) As circunstâncias que presidiram à constituição dessa sociedade;
ii) As condições em que a mesma exerce a sua atividade, incluindo,
nomeadamente, a ausência de um fim lucrativo a título principal e a não
assunção dos riscos associados à referida atividade, bem como o
eventual financiamento público da atividade em causa.
a. Exemplo: Nos termos da Lei nº 50/2012, de 31-8, os municípios
devem transferir para as empresas municipais os meios necessários
para a cobertura dos respetivos prejuízos e assegurar o seu
(ré)equilíbrio financeiro. Pelo que estas empresas não assumem o
risco económico-financeiro que resulte das atividades desenvolvidas
.

2.2.3. Terceiro requisito: Influência determinante de entidades


adjudicantes do artigo 2º, nº1, ou de outros organismos de
direito público
Nos powerpoints o Licínio optou por outra designação. o critério do financiamento público maioritário ou o critério do
controlo de gestão

A qualificação de uma entidade como organismo de direito público depende da


verificação de que a mesma se encontra sob a influência determinante de uma
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ou mais entidades adjudicantes do artigo 2º, nº1 e, ou de outros organismos de


direito público.
Como é que definimos o conceito de influência? Ora, a situação de influência
determinante ou de estreita dependência verifica-se por força da presença de
um ou mais do que um de três fatores (não são, portanto, fatores cumulativos).
a) Critério do Financiamento maioritário
Se a entidade for maioritariamente financiada por uma entidade adjudicante do
artigo 2º, nº1, ou por outro organismo de direito público.
O financiamento pode ser:
• Direto:
o Fluxo de recursos financeiros que tem origem no orçamento das
entidades adjudicantes previstas no nº1 do artigo 2º.
• Indireto:
o No Acórdão Bayrischer Rundfunk – Proc. C. 337/06, o Tribunal de
Justiça considerou que preenche a condição de financiamento pelo
Estado, para efeitos da aplicação das regras em matéria de
adjudicação de contratos públicos, o financiamento que tem na sua
origem um ato do estado, nomeadamente quando o mesmo é
assegurado pelos meios de tributação e de cobrança de impostos.
Neste sentido, podemos também optar por outra categorização: Financiamento
positivo (atribuição de dinheiro) ou negativo (Conceção de benefícios fiscais).
Para terminar, a noção de financiamento indica a atribuição de uma vantagem
ou benefício económico à qual não corresponde uma contrapartida específica ou
prestação que o beneficiário deva efetuar no interesse económico direto da
entidade financiadora. Utiliza-se aqui o conceito de “interesse económico
direto”. Esse conceito surgiu no seio da jurisprudência do TJ para identificar a
nota de onerosidade do contrato público.
Para rematar:
Considerando (10) da Diretiva 2014/24, de 26-2-2014 (nova Diretiva relativa
aos contratos públicos):
1. - “...a condição relativa à origem do financiamento do organismo em causa
foi igualmente objeto de jurisprudência, que clarificou nomeadamente que
por «financiado maioritariamente»:
a. se entende financiado em mais de metade,
b. e que este tipo de financiamento pode incluir pagamentos
impostos, calculados e cobrados aos utilizadores de acordo com
as regras de direito público”;
2. - “...importa esclarecer que um organismo que opera em condições
normais de mercado, que tem fins lucrativos, e que assume os
prejuízos resultantes do exercício da sua atividade, não deverá ser
considerado um «organismo de direito público» uma vez que as
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necessidades de interesse geral, para satisfação das quais foi criado ou


que foi encarregado de cumprir, podem ser consideradas como tendo
caráter industrial ou comercial”

b) Critério do Controlo de Gestão


A consideração de uma entidade como organismo de direito público também
pode resultar de a sua gestão estar sujeita a controlo por parte de entidades
adjudicantes do artigo 2º, nº1, ou de outros organismos de direito público.
Não existem regras estritas para delimitar o âmbito do controlo de gestão e em
especial, para definir as competências m que ele teria de se concretizar. De
acordo com o Ac. Adolf Truley, o sentido geral do critério assenta:
• na ideia de que um financiamento proveniente maioritariamente dos
poderes públicos
• ou a nomeação por estes da maioria dos membros que compõem o órgão
da administração, de direção ou de fiscalização do organismo em causa.
Em termos genéricos o controlo de gestão reconduz-se a um poder de
orientação ou de influência para determinar as finalidades ou objetivos de um
organismo.
c) Critério da Designação de mais de metade dos membros de órgão de
administração, direção ou fiscalização.
Estamos perante um critério quantitativo, assente no direito de que dispõe uma
qualquer entidade adjudicante do nº1 do artigo 2º ou outro organismo de direito
público de designar mais de metade dos membros dos órgãos de administração,
direção ou fiscalização de uma entidade.
2.3. Os “organismos de direito público” e pessoas coletivas (privadas) de
utilidade pública
Nos powerspoints o Dr. Licínio dá o exemplo das instituições particulares de
solidariedade social, misericórdias e outras entidades particulares de interesse
público.
De acordo com a “interpretação funcional” da jurisprudência do TJUE, estas
entidades prosseguem fins de interesses geral; caso o respetivo
financiamento seja, “em mais de metade”, de proveniência pública, isto é,
proveniente do orçamento das entidades do nº 1 do artigo 2º ou de (outros)
organismos de direito públicos, serão subsumíveis ao conceito de “organismos
de direito público” e, consequentemente, entidades adjudicantes.
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III – O diferente âmbito de aplicação da Parte II do CCP quanto


às entidades adjudicantes do artigo 2.º

1. Contratos a celebrar pelas entidades do n.º 1 do artigo 2.º do CCP:


Para as entidades do n.º 1 do artigo 2º do CCP vale a cláusula geral do
artigo 16º, n.º 1, isto é, estas entidades são entidades adjudicantes para
todos os contratos cujas “prestações estão ou sejam suscetíveis de estar
submetidas à concorrência de mercado”, ficando, por isso, sujeitas à Parte
II do CCP relativamente à formação de todos os contratos que reúnam esta
característica
2. Para os “organismos de direito público”, a Parte II do CCP só é
aplicável aos contratos que abranjam prestações típicas da (nº 8 do artigo
5.º do CCP): - da empreitada de obras públicas; - locação e aquisição de
bens móveis; - aquisição de serviços; - concessão de obras públicas; -
concessão de serviços públicos.
2.1. Em todo o caso, o designado “efeito de contágio ou de contaminação”:
quaisquer contratos dos mencionados, mesmo que não estejam
relacionados com a atividade de interesse geral que justificou a
criação e/ou a qualificação da entidade com organismo de direito
público

IV - Terceiro grupo de entidades adjudicantes:

Entidades dos sectores especiais” /operadores de serviços de


rede (e que não sejam entidades adjudicantes do nº 1 do artigo
2.º ou “organismos de direito público”)

O artigo 7º ocupa-se das entidades adjudicantes que desenvolvam certas


atividades no âmbito dos designados setores especiais:
• Água
• Energia
• Transportes
• E serviços postais
• E em relação às quais qualquer das entidades adjudicantes referidas no
artigo 2º possa exercer, direta ou indiretamente, uma influência
dominante.
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1.1. Ou seja, são também entidades adjudicantes:


i) As pessoas coletivas que estejam sob a influência dominante de
entidades adjudicantes do artigo 2.º, números 1 e 2 (desde que aquelas
pessoas coletivas não constem como entidades adjudicantes no
mesmo artigo – nos números 1 e 2 do artigo 2.º);
ii) E, ainda que atuem em condições normais de mercado e em contexto
concorrencial (isto é, expostas à concorrência), tenham por objeito o
exercício de catividades nos sectores especiais (isto é, nos sectores da
água, da energia, dos transportes ou dos serviços postais).
Exemplo: abrangem-se neste âmbito empresas do Estado (empresas
públicas) ou empresas municipais que exerçam a despectiva atividade
naqueles sectores especiais (desde que não sejam organismos de direito
público)
1.1.1. O conceito de “influência dominante” (nº 2 do artigo 7º) Considera-se
que uma entidade adjudicante pode exercer influência dominante quando
detiver, nomeadamente:
• a maioria do capital social,
• a maioria dos direitos de voto,
• o controlo de gestão ou o direito de designar, direita ou indiretamente, a
maioria dos titulares de um órgão de administração, de direção ou de
fiscalização
Uma nota importante: Este conceito de influência dominante apesar de próximo
com a noção de influência determinante (falta o elemento relativo ao
financiamento).

1.2. Contratos a celebrar pelas entidades dos sectores especiais –


Ver artigo 11o, nº 1, e artigo 474º, nº 4
Os seguintes tipos de contratos e desde que o seu objeito esteja relacionado
com a atividade do sector especial que justificou a sujeição da entidade ao CCP:
empreitadas de valor igual ou superior a 5 548 000 € (alínea a) do nº 4 do artigo
474º);
• concessão de obras públicas;
• concessões de serviços públicos;
• locação ou aquisição de bens móveis e aquisição de serviços de valor
igual ou superior a 443 000 € (alínea b) do nº 4 do artigo 474º);
• e a aquisição de serviços sociais ou outros específicos enumerados no
anexo IX ao CCP, cujo valor seja igual ou superior a 1000.000 €.
2. Contratos a celebrar por “organismos de direito público” que operem (ou
também operem) nos sectores especiais:
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No que toca à formação dos contratos a celebrar pelas entidades adjudicantes


referidas no nº 2 do artigo 2º que exerçam uma ou várias atividades nos setores
da água, da energia, dos transportes e dos serviços postais são aplicáveis as
regras especiais relativas à formação dos contratos a celebrar pelas entidades
adjudicantes referidas no nº 1 do artigo 7º, desde que esses contratos digam
direta e principalmente respeito a uma ou a várias dessas atividades – artigo 12.º
POR EXEMPLO: Uma empresa do sector empresarial local que seja um
organismo de direito público que opere num dos sectores especiais é-lhe
extensivo, nesta parte (e só nesta parte), o âmbito da contratação nos sectores
especiais da água, energia, transportes e dos serviços postais

V – Outras entidades adjudicantes

1. Centrais de compras – artigo 260º do CCP, Decreto-Lei nº


200/2008, de 9- 10, e Decreto-Lei nº 37/2007, de 19-2

1.1. As centrais de compras são entidades, com ou sem personalidade


jurídica, constituídas pelas entidades adjudicantes do artigo 2º
Nos termos do artigo 260º, nº1 as “entidades adjudicantes referidas nos números
1 e 2 do artigo 2º podem constituir centrais de compras para centralizar a
contratação de empreitadas de obras públicas, de locação e de aquisição de
bens móveis e de aquisição de serviços”.
Exemplo: A Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I.P.
(ESPAP) e o Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, EPE; unidades
ministeriais de compras (UMC). As UMC não dispõem de personalidade jurídica.

1.2. As centrais de compras do Estado integram:


• entidades compradoras vinculadas
o (entidades que estão obrigados bens e serviços através da central
de compras, como sucede com os serviços da Administração
direta do Estado e os institutos públicos do Estado)
• e entidades compradoras voluntárias
o (entidades que, por vontade própria, poderão aderir àquelas
centrais, como sucede com os municípios e as entidades do sector
público empresarial)
Existem, além destas e fora do Sistema Nacional de Compras Públicas (SNCP),
centrais de compras constituídas por outras entidades adjudicantes, por exemplo
municípios, comunidades intermunicipais ou associações de municípios de fins
específicos:
Exemplo: A Lipor criou uma central de compras, a CC-LIPOR.
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1.3. Funções das centrais de compras do Estado – artigo 261º do CCP


Em termos gerais, as centrais de compras desenvolvem três tipos fundamentais
de missões ou atividades.
1. Realizam aquisições como “grossistas”:
Adquirem bens ou serviços para revenda às entidades adjudicantes previstas no
artigo 2.º. Desta maneira promovem o agrupamento de encomendas.
Exemplo: Aquisição de um grande número de computadores ou de bens de
consumo corrente das entidades adjudicantes – alínea b) do nº 1 do artigo 261º)
2. Funcionam como mandatárias/representantes
Trata-se da atuação das centrais de compra como mandatárias das entidades
adjudicantes na prática dos atos que integram o procedimento de adjudicação
desde o anúncio público e até à celebração do contrato.
As centrais de compras do Estado funcionam neste caso, como mandatárias,
por intermédio de um contrato de mandato administrativo), das entidades
adjudicante, na organização e condução dos procedimentos de adjudicação:
• para a celebração de contratos (– alínea a) do nº 1 do artigo 261º)
o de aquisição de serviços
o de aquisição bens móveis
o e de empreitadas de obras públicas

3. Organizam e conduzem procedimentos de adjudicação destinados à


celebração de acordos-quadro (designados por “contratos públicos de
aprovisionamento” - artigos 265º e 266º), para a posterior celebração,
pelas entidades adjudicantes do artigo 2.º (entidades vinculadas ou
voluntárias) e ao abrigo destes acordos-quadro:
o de contratos de aquisição de serviços, de aquisição de bens
móveis e de empreitadas de obras públicas – alínea c) do nº 1 do
artigo 261º artigos 257º a 259º,

VI – Extensão do âmbito de aplicação da Parte II do CCP 1.

Os artigos 275º e 276º procedem a uma extensão do âmbito de aplicação da


Parte II do CCP. Fazem-no, contudo, em termos diferentes e específicos para
cada um dos casos.
Desde logo, nos termos do artigo 275º, nº1, a parte II do CCP aplica-se à
formação de determinados contratos de empreitadas de obras, bem como de
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contratos de aquisição de serviços associados a essas empreitadas, quando


celebrados por entidades não adjudicantes.
1. Entidades (não adjudicantes) com “contratos subsidiados” – artigo 275º
do CCP (“Contratos subsidiados”):
Nos termos da lei são abrangidos pelo regime dos contratos subsidiados:
a) Contratos de empreitada de obras subsidiados diretamente em mais de
50% do respetivo preço contratual por entidades adjudicantes, sendo o
referido preço contratual igual ou superior ao limiar previsto na alínea a) do nº 3
do artigo 474º (5 548 000 euros), caso envolvam uma das seguintes atividades:
i) Atividades de construção civil enumeradas no anexo XI do CCP;
ii) Obras de construção de hospitais, instalações desportivas, recreativas
e de ocupação de tempos livres, estabelecimentos escolares e
universitários e edifícios para uso administrativo;
b) Contratos de serviços subsidiados diretamente em mais de 50% do
respetivo preço contratual por entidades adjudicantes:
Sendo o referido preço igual ou superior ao limiar previsto na alínea c) do nº 3
do artigo 474º (ou seja, 221.000 euros), quando estejam associados a um
contrato de empreitada de obras da alínea anterior
1.1. Obrigação das entidades adjudicantes que concedam os subsídios:
De acordo com o artigo 275º, nº2: As entidades adjudicantes que concedem os
subsídios referidos no número anterior são responsáveis por assegurar o
cumprimento das normas do CCP, quando:
• não forem elas próprias a celebrar os contratos subsidiados
• ou quando celebrarem esses contratos em nome e por conta de outras
entidades
1.2. O conceito amplo de subsídio:
Adotamos neste âmbito um conceito de amplo de subsídio que consiste em
qualquer vantagem económica ou vantagem suscetível de avaliação
pecuniária, que seja atribuída ou concedida sem a exigência de uma
contraprestação específica ao beneficiário (p. ex., a concessão de benefícios
fiscais poderá ser qualificada como um subsídio – Acórdão do TJUE, de
26/9/2013, França/Comissão, Processo C-115/12)
1.3. No entanto, a ressalva dos subsídios sujeitos a reembolso integral:
quando os “contratos subsidiados” correspondam a empréstimos reembolsáveis:
“Fica excecionada do disposto no nº 1 a formação de contratos celebrados por
entidades não previstas no artigo 2º e no artigo 7º, que sejam financiados com
recurso a subsídios sujeitos a reembolso integral” - n.º 3 do artigo 275º
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2. Concessionários de obras públicas que não sejam entidades


adjudicantes:
2.1 O dever de publicitar no Diário da República e no Jornal Oficial da União
Europeia a intenção de celebrar contratos de empreitada de obras públicas cujo
preço contratual seja igual ou superior ao valor referido na alínea a) do nº 3 do
artigo 474º (5 548 000 euros) – números 1 e 2 do artigo 276º
Exemplo: Os concessionários de autoestradas.
3. Outras entidades submetidas ao regime da Parte II do CCP
Além das entidades referidas, encontrara-se ainda submetida à Parte II do CCP
outros organismos.
3.1. Entidades que contratam na qualidade de mandatários:
Embora não indicados no CCP, ficam sujeitas à incidência da Parte II do CCP,
as entidades que contratam em nome próprio, mas em benefício de uma
entidade adjudicante.
Exemplo: O exemplo dado nos powerspoints é o de uma fundação ou uma
associação de direito privado que se substitui a uma entidade adjudicante,
adquirindo propositadamente bens móveis para esta.
Importa perceber que a falta de um mandato expresso não obsta à aplicação da
Parte II do CCP.
Nota: Nada impede que os procedimentos sejam lançados, geridos e concluídos
por uma entidade (Município por exemplo) em representação da entidade
adjudicante (Estado).
3.2. Entidades sujeitas por “lei avulsa” ao CCP (artigo 23.º nº 1 e 2, do
Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social - Decreto-Lei nº
119/83, de 25-2, com a redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei nº 172-A/2014,
de 14-11):
Em geral as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), não se
encontram sujeitas ao CCP, pois, não preenchem os elementos do conceito de
organismo de Direito Público. Não obstante, nos termos do artigo 23º do Estatuto
da IPSS, a empreitada de obras de construção ou grande reparação
pertencentes às instituições, devem observar o estabelecido no CCP.
Levanta-se uma dúvida: Esta regra aplica-se em todos os casos? Não. A regra
supramencionada não se aplica em obras realizadas:
• por administração direta (i) até ao montante máximo de 25 mil euros.
Mas, por força do n. º2 aquele artigo, este regime não se aplica às instituições
que não recebam apoios financeiros públicos.
POWER POINTS DESENVOLVIDOS – TOMÁS CUNHA – CONTRATOS PÚBLICOS

Nota: estas entidades, quando o financiamento público seja maioritário, são


subsumíveis ao conceito de “organismo de direito público” (nº 2 do artigo 2º do
CCP)
3.3. Entidades que assumem perante a Administração Pública o
compromisso de cumprir a Parte II do CCP
Pode suceder, e sucede, que uma entidade assuma, perante um organismo de
Administração Pública, o compromisso de cumprir a Parte II do CCP num
determinado âmbito.
Exemplo: Empresa que aceita a condição ou que se compromete a contratar
segundo os procedimentos do CCP no contexto de um financiamento da Admin.
Pública.
3.3.1. A imposição administrativa, através de regulamento ou da aposição
de cláusula acessória (cláusula modal aposta a um ato administrativo, nos
termos do artigo 149º do Código do Procedimento Administrativo).
O exemplo do regime de contratação pública nos domínios da defesa e da
segurança (Decreto-Lei nº 104/2011, de 6-10): com base neste regime a
entidade adjudicante pode impor ao adjudicatário a escolha dos seus
subcontratados em conformidade com regras e princípios do direito dos
contratos públicos – artigo 59.º do Decreto-Leiº 104/2011
2º POWER POINT.
Âmbito de aplicação do Código dos Contratos Públicos (cont.) Âmbito da
incidência objetiva da Parte II do CCP (correspondente às 199 a 237 e 256
a 333 do Livro de Direitos dos Contratos Públicos, 3.a ed., Vol. I, Almedina,
Coimbra, 2018)

Âmbito da incidência objetiva da Parte II do CCP I

Chegando a este ponto, importa efetuar a delimitação do universo de contratos


que as entidades adjudicantes estão vinculadas a formar segundo o regime
procedimental estabelecido na Parte II do CCP ou segundo um dos tipos de
procedimentos disciplinados nesta Parte do CCP (artigos 16.º a 277.º)
1. Relembrando o artigo 1º, nº 2, do CCP:
“O regime da contratação pública estabelecido na parte II é aplicável à formação
dos contratos públicos que, independentemente da sua designação e natureza,
sejam celebrados pelas entidades adjudicantes referidas no presente Código e
não sejam excluídos do seu âmbito de aplicação”
POWER POINTS DESENVOLVIDOS – TOMÁS CUNHA – CONTRATOS PÚBLICOS

1.1. Pelo elemento literal do nº 1 do artigo 2.º do CCP extraem-se dois


segmentos essenciais:
a) Que há contratos públicos celebrados pelas entidades adjudicantes
enumeradas no CCP (entidades enumeradas nos artigos 2.º e 7.º) cujo
procedimento de formação decorre necessariamente nos termos
disciplinados na Parte II do CCP;
b) E que existem outros contratos públicos celebrados pelas mesmas
entidades adjudicantes cujo procedimento de formação se encontra
excluído dessa disciplina.
Em suma, os contratos de entidades adjudicantes não estão todos sujeitos à
parte II do CCP, não pelo facto de serem expressamente excluídos, mas
logicamente antes, porque nem todos se devem considerar incluídos no âmbito
objetivo de incidência da Parte II do CCP.
Devemos por isso mesmo, procurar definir o critério que permite considerar
determinados contratos das entidades adjudicantes sujeitos à Parte II do CCP.
1.2. Critérios doutrinais (e jurisprudenciais) delimitadores do universo de
contratos públicos cujo procedimento de formação se encontra sujeito à
Parte II do CCP
a) O critério da procura pública (contratos de procura pública):
Estamos perante contratos cuja celebração e execução visa a satisfação de
necessidades da entidade adjudicante. É o que sucede tipicamente com os
contratos enumerados no artigo 16.º, n. º2, do CCP:
i) Os designados contratos públicos na terminologia do Direito Europeu:
o Contrato de empreitada de obras públicas;
o Contrato de aquisição/locação de bens móveis;
o -Contrato de aquisição de serviços.
ii) E com os contratos de:
o concessão de obras públicas;
o contratos de concessão de serviços públicos;
o contratos de exploração de bens públicos;
o contratos de sociedade.

b) O interesse concorrencial e o benefício económico:


1. Interesse concorrencial
A parte II do CCP visa disciplinar a formação de contratos de procura pública.
Mas, nem todos os contratos de procura pública se devem considerar
abrangidos. Com efeito, submetidos à disciplina da contratação pública
encontraram-se os contratos de procura com interesse concorrência.
A previsão normativa deste critério encontra patente no artigo 16º, nº 1, do CCP:
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“Para a formação de contratos cujo objeto abranja prestações que estão ou


sejam suscetíveis de estar submetidas à concorrência de mercado, as entidades
adjudicantes devem adotar um dos seguintes tipos de procedimentos:”;
Este artigo traduz a ideia de contratos com interesse concorrencial. Ou seja,
contratos que, potencialmente, suscitem o interesse de uma pluralidade de
operadores económicos do mercado, na medida em que aos mesmos está
associada a possibilidade da obtenção de um benefício económico. Quando o
contrato público surge como um bem escasso e disputado, que disputa a
competição entre os vários interessados na obtenção das vantagens que dele
decorrem, estamos perante um contrato com interesse concorrencial.
2. O benefício económico e o conceito (amplo) de valor do contrato,
segundo o artigo 17º do CCP (conjugado com o artigo 97º, sobre o preço
contratual):
O contrato de procura pública é um objeto disputado, e tem interesse
concorrencial, pelo facto de produzir ou gerar uma vantagem, um benefício
económico para quem vier a celebrá-lo.
Esta vantagem ou benefício económico pode ser medida em função do respetivo
valor.
a) – Seja pelo preço a pagar pela execução das prestações objeto do
contrato
a. Ainda que o preço seja pago por terceiros.
i. Por exemplo, os utilizadores da obra pública ou do serviço
público).
b) -Seja o valor de quaisquer contraprestações a efetuar em favor do
adjudicatário
i. Por exemplo a transmissão do direito de utilizar bens da
entidade adjudicante);
c) – Seja o valor de vantagens decorrentes diretamente da execução do
contrato
i. Por exemplo, um contrato de restauração de um museu
público no qual o contraente privado adquire o direito de
inscrever o seu nome, de forma visível, na entrada principal
do mesmo. Neste sentido, o contrato poderá não pressupor
o pagamento de um preço pela entidade adjudicante, mas
envolve a obtenção de vantagens pelo co- contratante que
suscitam – ou podem suscitar - interesse concorrencial –
isto é, benefício económico – para os operadores
económicos).
É precisamente neste sentido que resulta do artigo 17º, números 1 e 2, do
CCP!
“1 — Para efeitos do presente Código, o valor do contrato a celebrar é o valor
máximo do benefício económico que, em função do procedimento adotado, pode
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ser obtido pelo adjudicatário com a execução de todas as prestações que


constituem o seu objeto.
2 — O benefício económico referido no número anterior inclui, além do preço a
pagar pela entidade adjudicante ou por terceiros, o valor de quaisquer
contraprestações a efetuar em favor do adjudicatário e ainda o valor das
vantagens que decorram diretamente para este da execução do contrato e que
possam ser configuradas como contrapartidas das prestações que lhe incumbem
(...)”.
Ou seja: o interesse concorrencial ou o beneficio económico resultante de um
contrato não se limita, não tem de consistir num preço a pagar pela entidade
adjudicante, podendo haver (e há) contratos que não envolvem o pagamento de
um preço pelas entidades adjudicantes, como, aliás, também resulta
expressamente dos artigos:
• 36.º, n.º 2,
• 47.º, n.º 2,
• 88.º, n.º 1,
• 109.º, n.º 3,
• e, a contrario, da alínea d) do nº 1 do artigo 96º do CCP.
Delimitação dos contratos sujeitos à Parte II em função entidades
adjudicantes
O conceito de contratos públicos com interesse concorrencial delimita o âmbito
da incidência objetiva da Parte II do CCP. Contudo, a parte II do CCP acaba por
não atingir uma incidência efetiva em relação a todos os contratos abrangidos.
1.2.1. Entidades adjudicantes
É em relação às designadas entidades adjudicantes, indicadas no n.º 1 do
artigo 2.º, que o CCP se aplica com a sua intensidade máxima. Das entidades
tipificadas no artigo supramencionado, subtraímos o Banco de Portugal, que não
conta para este Totobola.
Para estas entidades adjudicantes vale em pleno a citada cláusula geral do nº
1 do artigo 16.º. conjugado com o nº 1 do artigo 5 do CCP)
“Para a formação de contratos cujo objeto abranja prestações que estão ou
sejam suscetíveis de estar submetidas à concorrência de mercado, as
entidades adjudicantes devem adotar um dos seguintes tipos de
procedimentos:”
Desta maneira, todos os contratos (ou atos unilaterais) dessas entidades que
correspondam a contratos (ou a atos unilaterais) de procura pública com
interesse concorrencial são abrangidos.
1.2.2. Organismos de Direito Público e o Banco de Portugal.
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Para os contratos celebrados pelos organismos de direito público (n.º 2 do artigo


2.º) e para o Banco de Portugal (alínea f) do nº 1 do artigo 2º) vale a regra
estabelecida no artigo 8º, nº5
“Nº8 — A parte II não é aplicável aos contratos celebrados pelas entidades
referidas no nº 2 do artigo 2.º, e pelo Banco de Portugal, que não abranjam
prestações típicas da empreitada de obras públicas, concessão de obras
públicas, concessão de serviços públicos, locação e aquisição de bens móveis
ou aquisição de serviços”.

1.2.3. Entidades Adjudicantes dos setores especiais e organismos de


direito público que exercem atividades dos setores especiais.
Em relação às entidades adjudicantes indicadas no artigo 7º, o CCP seguiu um
sistema de inclusão taxativa e identificou os contratos abrangidos.
Para os contratos celebrados pelas entidades adjudicantes dos “sectores
especiais” (sectores da água, da energia, dos transportes e dos serviços
postais”) e dos organismos de direito público que tenham por objeto estas
atividades (ou apenas na parte em que também tenham por objeto estas
atividades) vale a regra estabelecida no artigo 11.º “1
A parte II do presente Código só é aplicável à formação dos contratos a celebrar
pelas entidades adjudicantes referidas no nº 1 do artigo 7º desde que:
a) Esses contratos digam direta e principalmente respeito a uma ou a
várias das atividades por elas exercidas nos setores da água, da energia,
dos transportes e dos serviços postais;
b) O objeto desses contratos abranja prestações típicas dos seguintes
contratos:
a. Empreitada de obras públicas cujo valor seja igual ou superior ao
limiar referido na alínea a) do nº 4 do artigo 474º (5 548 mil euros)
b. Concessão de obras públicas;
c. Concessão de serviços públicos;
d. Locação ou aquisição de bens móveis e aquisição de serviços cujo
valor seja igual ou superior ao limiar referido na alínea b) do nº 4
do artigo 474º (443 000 euros);
e. Aquisição de serviços sociais ou outros específicos enumerados
no anexo IX ao presente Código, cujo valor seja igual ou superior
ao limiar referido na alínea c) do nº 4 do artigo 474º (1 000 000
euros)”
Como já vimos acima, nos termos do artigo 11º, a parte II do CCP “só é aplicável”
aos contratos que preencham de 7 os requisitos previstos.
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1.2.4. Atos administrativos substitutivos de contratos sujeitos à parte II do


CCP
O número 3º, do artigo 1º estabelece que:
“A parte II do presente Código é igualmente aplicável, com as necessárias
adaptações, aos procedimentos destinados à atribuição unilateral, pelas
entidades adjudicantes referidas no artigo seguinte, de quaisquer vantagens ou
benefícios, através de ato administrativo ou equiparado, em substituição da
celebração de um contrato público”.
Deste modo, a Parte II do CCP também se aplica a atos administrativos (ou
equiparados) praticados em “substituição da celebração do contrato público”
Levantam-se então duas questões:
1. Qual é o Pressuposto da aplicação deste regime (A):
2. Qual é a Finalidade deste regime (B)

a) PRESSUPOSTO
A identificação dos atos administrativos a que se pretende ver aplicada a parte
II do CCP pressupõe a prévia delimitação do conceito de contrato público
submetido a essa mesma parte II. A formação do ato administrativo que substitui
um contrato será regulada pela Parte II do CCP se e quando o contrato público
que o mesmo substitui estivesse, também ele, sujeito à parte II do CCP.
O critério decisivo para proceder a essa identificação reside, pois, na delimitação
do âmbito de aplicação da Parte II em relação ao contrato público.
Esta substituição não é, contudo, uma substituição formal de contrato por ato!
Sendo sim, uma substituição material ou de resultado e não de forma. Desta
maneira, submetem-se aos procedimentos da Parte II do CCP os atos
administrativos (ou atos equiparados) que, em termos práticos substituam
contratos de procura pública com interesse concorrencial.
NOTA: Nestes termos, está fora da discussão a questão de saber se a Parte II
do CCP se aplica aos atos administrativos de atribuição de licenças de táxia ou
de alvarás de farmácia.
b) Finalidade do regime:
O objetivo do regime em causa passa por evitar a “fuga” das entidades
adjudicantes às regras procedimentais estabelecidas na Parte II do CCP
Exemplo: Atribuição de uma autorização para a execução de obras de
reabilitação de edifícios particulares, mas acompanhada do encargo de restaurar
um museu municipal sito na mesma zona)
POWER POINTS DESENVOLVIDOS – TOMÁS CUNHA – CONTRATOS PÚBLICOS

II - Contratação excluída (isto é, contratos cujo procedimento de


formação/celebração não se encontra sujeito à Parte II do CCP)

Nem todos os contratos de procura pública com interesse concorrencial são


abrangidos pela Parte II do CCP: Nos termos do artigo 5º, nº1, há contratos
excluídos.
1. Contratos desprovidos de interesse concorrencial – nº 1 do artigo
5.º: “
“A parte II não é aplicável à formação de contratos cujo objeto abranja prestações
que não estão nem sejam suscetíveis de estar submetidas à concorrência de
mercado, designadamente em razão da sua natureza ou das suas
características, bem como da posição relativa das partes no contrato ou do
contexto da sua formação”
2. Contratos no âmbito do sector público – artigo 5.º, n.º 2, e artigo 5.º-
A
a) Referência a alguns “precedentes jurisprudenciais” do Tribunal de Justiça da
União Europeia (TJUE):
a. Acórdão do TJUE, de 13 de junho de 2013, Proc. C-386/11 – contrato
celebrado entre duas coletividades territoriais, para limpeza de
instalações;
b. Acórdão do TJUE, de 19 de dezembro de 2012 - contrato celebrado
entre duas entidades públicas (Agência Sanitária Local de Lecceuma
e a Università del Salento), para o “estudo e avaliação da
vulnerabilidade sísmica de estruturas hospitalares”;
c. Acórdão do TJUE, de 9 de junho de 2009, Proc. C-480/06 -
cooperação entre autarquias locais - adjudicação de serviços de
tratamento de resíduos.

b) Nº 6 do artigo 1º da Diretiva 2014/24, de 26-2-2014 (nova Diretiva relativa


aos contratos públicos):
Os acordos, decisões ou outros instrumentos jurídicos que organizem a
transferência de poderes e responsabilidades pela execução de missões
públicas entre autoridades adjudicantes ou agrupamentos de autoridades
adjudicantes, e que não prevejam uma remuneração pela execução dos
contratos, são considerados uma questão de organização interna dos
Estado-Membro em causa e, como tal, não são de forma alguma afetados pela
presente diretiva.
2.1. Contratos de delegação entre entidades adjudicantes:
Estão excluídos da Parte II do CCP os acordos ou outros instrumentos jurídicos
que organizem a transferência ou delegação de poderes e responsabilidades
pela execução de missões públicas entre entidades adjudicantes ou
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agrupamentos de entidades adjudicantes, e que não prevejam uma


remuneração – nº 2 do artigo 5.º
Exemplo: Os acordos de delegação entre municípios e freguesias)
2.2. Contratos de cooperação entre entidades adjudicantes
A Parte II do Código também não é aplicável à formação dos contratos
celebrados exclusivamente entre duas ou mais entidades adjudicantes quando
se verifiquem, cumulativamente, as seguintes condições (artigo 5.º-A, números
5 e 6):
i) O contrato estabelece uma cooperação entre as entidades
adjudicantes, no âmbito de tarefas públicas que lhes estão atribuídas
e que apresentam uma conexão relevante entre si;
ii) A cooperação é regida exclusivamente por considerações de interesse
público;
iii) As entidades adjudicantes não exercem no mercado livre mais de 20%
das atividades abrangidas pelo contrato de cooperação.
Nota 1: O Dr. Licínio dá o seguinte exemplo: Dois ou mais municípios podem,
por contrato, criar serviços intermunicipalizados para a gestão comum de
interesses públicos municipais com base no número 5ç do artigo 8º da Lei nº Lei
nº 50/2012, de 31 de Agosto, que aprova o regime jurídico da atividade
empresarial local e das participações locais.
Nota 2: De acordo com o artigo 5ºA, nº6:
“Para efeitos do apuramento da percentagem referida deve ser tido em conta o
volume médio total de negócios, ou uma medida alternativa adequada, baseada
na atividade, tais como os custos suportados pela pessoa coletiva em causa no
que diz respeito a serviços, fornecimentos ou obras, nos três anos anteriores ou,
quando não tenha três anos de atividade concluídos, a projeção de atividades a
desenvolver”
2.3. Contratos in house – artigo 5º-A, números 1, 2, 3 e 4, do CCP
2.3.1. Nota prévia e alguma jurisprudência do TJUE
i) Acórdão Coditel Brabant, de 13-11-2008, Proc. C-324/07, sobre o
controlo análogo conjunto sobre a Brutélé, uma sociedade cooperativa
intermunicipal (concessionária de serviços dos municípios membros)
ii) Acórdão SUCH, de 19 de Junho de 2014, Proc. C-574/12, sobre a
relação entre o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais e os
hospitais portugueses, na sequência de um pedido de reenvio
formulado pelo Supremo Tribunal Administrativo
iii) Acórdão Tragsa, de 19.04.2007 - Proc. C – 295/05: - Capital social da
Tragsa – 99% Estado Espanhol, 1% distribuído por 4 Comunidades
Autónomas; - Obrigação de realizar as obras encomendadas pelos
sócios, com prévia estipulação do preço (haveria contrato ou
determinação, isto é, “ordem-encomenda”?
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iv) Acórdão Sea, de 10 de Setembro de 2009, Proc. 573/07: a


participação, ainda que minoritária, de uma empresa privada no capital
de uma sociedade na qual também participa a entidade adjudicante em
causa excluiu que esta entidade adjudicante possa exercer sobre essa
sociedade um controlo análogo ao que exerce sobre os seus próprios
serviços. Isto abrange quer a possibilidade de a sociedade estar aberta
ao capital privado e, portanto, abertura a participações privadas
posteriores: tem de haver concurso porque há uma alteração
fundamental ao contrato.
O artigo 5º-A, nº1, estabelece que a parte II do CCP não é aplicável à formação
de contratos, independentemente do seu objeto, a celebrar por entidades
adjudicantes com uma outra entidade, quase se verificarem, cumulativamente as
seguintes condições:
2.3.2. Requisitos cumulativos da relação in house:
a) Tem de existir uma relação permanente;
a. Ideia de Estabilidade.
b) O Essencial da atividade é feito em benefício da entidade
adjudicante. Se que a pessoa coletiva controlada realize mais de 80 %
das suas atividades no cumprimento de funções que lhe tenham sido
confiadas pela autoridade adjudicante controladora ou por outras pessoas
coletivas controladas por essa autoridade adjudicante, a parte II não lhe
é aplicada.
a. É o chamado requisito do destino da atividade.
c) Existe um Controlo análogo ao exercido sobre os próprios serviços:
a. controlo análogo isolado ou controlo análogo conjunto – alínea a)
do n.º 1, n.º 3 e alíneas a), b) e c) do n.º 4 do artigo 5.º-A;
b. A doutrina dá o nome de requisito de controlo a esta condição.
d) Verifica-se a inexistência de participação direta de capital privado
na pessoa coletiva controlada
a. Admite-se excecionalmente essa participação, desde que
observados os requisitos da 2ªa parte da alínea c) do nº 1 do artigo
5.ºA).
b. É o designado requisito da “não participação direta de capital
privado.
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2.4. Outras contratações excluídas da Parte II do CCP


O que se agora é uma lista não exaustiva:
A. Contratos de atribuição de subsídios ou subvenções pelas entidades
adjudicantes do n. º1 do artigo 2.º, a que não corresponda, como
contrapartida, a prestação de um serviço específico por parte do
beneficiário – Tal como a alínea c) do nº 4 do artigo 5.º prevê.
Exemplo: Um subsídio concedido para apoio a atividades culturais, artísticas e
outras atividades similares)
B. Contratos no domínio da defesa e da segurança.
Por força da alínea h) do n. º4 do artigo 5.º, o CCP não se aplica a contratos no
domínio da defesa e da segurança. Por seu turno, a formação destes contratos
é disciplinada pelo Decreto-Lei nº 104/2011, de 6-10, que transpôs a Diretiva
2009/81/CE)
Conforme resulta do preambulo do diploma supramencionado, sempre que não
se encontrem nele previstas normas específicas, aplica-se o regime geral do
CCP.
Nota para o Providência (Chamem o Nuno Rogeiro): A contratação pública no setor da defesa está tradicionalmente
associada aos contratos de contrapartida, os contratos offset. A Comissão Europeia já se mostrou desfavorável aos
offsets, por considerar que estes contratos são incompatíveis com a Diretiva 2009/81/CE.

C. Contratos que, nos termos da lei, sejam declarados secretos ou cuja


execução deva ser acompanhada de medidas especiais de segurança,
bem como quando os interesses essenciais de defesa e segurança do
Estado o exigirem
Por força da Alínea i) do nº 4 do artigo 5º, o CCP não é aplicável aos contratos
que, nos termos da lei, sejam declarados secretos ou cuja execução deva ser
acompanhada de medidas especiais de segurança, bem como quando os
interesses essenciais de defesa e segurança do Estado o exigirem.
No seu primeiro segmento, a norma alude aos contratos que sejam declarados
secretos, referência que abrange, desde logo, os contratos outorgados ao abrigo
de classificação nos termos da Lei Orgânica nº2/2014, sobre o Segredo de
Estado.
Exemplo: Acórdão do Tribunal de Contas nº4/2015, de 03/02/2015.
D. Contratos de serviços sociais, de saúde e de outros serviços
específicos ou conexos.
Por força do disposto no artigo 6ºA:
“1 — A parte II não é aplicável à formação dos contratos públicos que tenham
por objeto a aquisição de serviços sociais e de outros serviços específicos
referidos no anexo IX ao presente Código, que dele faz parte integrante, salvo
quando o valor de cada contrato for igual ou superior ao limiar previsto na alínea
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d) do nº 3 do artigo 474º (isto é, 750.000 euros), caso em que se aplica o disposto


nos artigos 250º -A e seguintes.
2 — À celebração dos contratos referidos no número anterior são aplicáveis, com
as devidas adaptações, os princípios gerais da contratação pública previstos no
artigo 1º-A”
3. O Regime da Contratação Excluída:
O artigo 5.º-B estabelece o seguinte:
“1 - A celebração dos contratos a que se referem os artigos 5.º e 5.º- A fica
sujeita:
• aos princípios gerais da atividade administrativa
• bem como, com as devidas adaptações face à natureza do contrato
• aos princípios gerais da contratação pública previstos no nº 1 do artigo 1º-
A
Devendo sempre ser feita menção à norma que fundamenta a não aplicação da
parte II ao contrato em causa”

III – Contratos excluídos do âmbito do CCP, da Parte II e da


Parte III do CCP (mera enumeração)

1) Contratos celebrados ao abrigo de regras internacionais - artigo 4.º,


n.º 1, do CCP
a. Trata-se, em geral, de contratos disciplinados por convenções ou
acordos internacionais.
2) Contratos de trabalhos em funções públicas– alínea a) do n.º 2 do
artigo 4.º
a. Estes contratos são por seu turno, disciplinados pela Lei n.º
35/2014, de 20-6 - Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas,
3) Contratos individuais de trabalho
a. É aplicável o Código do Trabalho)
4) Contratos de doação de bens móveis a favor de qualquer entidade
adjudicante (liberalidade) –
a. alínea b) do nº 2 do artigo 4º
5) Contratos de compra e venda, de doação, de permuta e de
arrendamento de bens imóveis ou contratos similares –
a. alínea c) do n. º2 do artigo 4.º;
6) Contratos de prestadores de serviços de comunicação social
a. – Alínea d) do nº 2 do artigo 4º
7) Contratos sujeitos a um regime aplicável nos termos gerais do
direito internacional
a. – Alínea e) do nº 2 do artigo 4º
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Nota final: Na medida em que, por força do nº 1 do artigo 280º, a Partes Parte
III apenas se aplica aos contratos sujeitos à Parte II, a distinção entre “contratos
excluídos” e “contratação excluída” torna-se praticamente (isto é, em termos de
regime) irrelevante.

Procedimentos de adjudicação de contratos públicos


Princípios gerais da contratação pública

I - Tipos de procedimentos para a formação de contratos públicos


O Artigo 16.º n. º1, do CCP relativamente aos procedimentos para a formação
de contratos prevê o seguinte
1 – Para a formação de contratos cujo objeto abranja prestações que estão
ou sejam suscetíveis de estar submetidas à concorrência de mercado, as
entidades adjudicantes devem adotar um dos seguintes tipos de
procedimentos:
a) Ajuste direto;
b) Consulta prévia;
c) Concurso público;
d) Concurso limitado por prévia qualificação;
e) Procedimento de negociação;
f) Diálogo concorrencial;
g) Parceria para a inovação.
1. Início dos procedimentos de formação de contratos públicos – artigo 36º
do CCP
1.1. Início do procedimento:
O procedimento de formação de qualquer contrato é iniciado com a decisão de
contratar. Esta decisão deve ser por seu turno, fundamentada, cabendo ao
órgão competente autorizar (ou não) a despesa inerente ao contrato a celebrar,
podendo essa decisão estar implícita nesta última (n.º 1 do artigo 36.ºdo CCP).
1.1.1. A decisão de contratar, a competência para autorizar a realização da
despesa e o preço base do contrato – artigo 36º e artigo 47.º, sobre o
“Preço base”:
O preço base, que deve ser definido pela entidade adjudicante no caderno de
encargos, é o montante máximo que esta entidade se dispõe a pagar pela
execução de todas as prestações que constituem o objeto do contrato, incluindo
eventuais renovações do contrato, tal como se encontra previsto no n.º 1 do
artigo 47º
1.1.2. A decisão de contratar e a decisão de escolha do procedimento de
adjudicação (artigo 38º do CCP):
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A decisão de escolha do procedimento de formação de contratos deve ser


fundamentada e cabe ao órgão competente para a decisão de contratar.

II – Referência a alguns princípios gerais da contratação pública


– consagrados no artigo 1.º- A do CCP

Os princípios gerais da contratação pública constituem normas jurídicas que


condensam ou refletem os valores fundamentais da ordem jurídica neste setor
específico. A atividade pré-contratual, mesmo quando se manifesta através da
realização de compras no mercado, constitui uma “atividade pública”, regulada
por normas de direito público administrativo. Os princípios gerais da Atividade
Administrativa encontram aqui o seu campo normal de incidência.
1. Princípio da concorrência:
O princípio da concorrência constitui um “princípio-tronco da contratação
pública”, que confere unidade de sentido ao CCP.
Importa destacar algumas projeções normativas/subprincípios concretizadores
No direito da contratação pública, o princípio da concorrência surge, desde logo,
como expressão concretizada da primazia da igualdade, em concreto, como
exigência, reclamada à Administração Pública, de um tratamento igualitário de
todos os operadores económicos impondo:
1.1. Em primeiro lugar: a liberdade de concorrer/participar em procedimentos
de adjudicação de contratos públicos e a igualdade de (ou no) acesso a
estes procedimentos
1.2. A igualdade de tratamento de todos os participantes nos
procedimentos de adjudicação de contratos públicos (na qualidade
de candidatos ou na qualidade de concorrentes)
Neste sentido, em relação a estas duas primeiras notas é preciso destacar que
o objetivo igualitário do princípio da concorrência não consiste em igualizar os
concorrentes ou os seus poderes de oferta, mas apenas igualizar as respetivas
condições de participação. Podemos dizer que o cânone da igualdade,
enquanto dimensão do princípio da concorrência é orientado para o plano
procedimental e não para o plano material ou do resultado.
Vamos avançar para o terceiro ponto: Por via da sua associação ao princípio
constitucional da igualdade e aos direitos dos operadores económicos
resultantes da ideia de igualdade de tratamento e de igualdade de acesso, o
princípio da concorrência impõe um determinado tipo de configuração
legislativa de toda a contratação pública.
1.3. Nesse contexto, verifica-se a existência a Prevalência de
procedimentos de adjudicação de contratos públicos abertos à
participação de todos os interessados (caso do concurso público)
sobre os procedimentos de acesso limitado ou restritivo (caso do
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procedimento de ajuste direto e também do procedimento de consulta


prévia)
O princípio da concorrência é concretizado por seu turno, por uma rede de
subprincípios de direito adjudicatório, designadamente no âmbito dos concursos:
1.4. Princípio da estabilidade/imodificabilidade das peças do
procedimento (convite à apresentação de proposta, anúncio do
procedimento, programa do procedimento, caderno de encargos)
1.5. Princípio da estabilidade/imodificabilidade das propostas
Para terminar, o princípio da concorrência pode ser mobilizado para justificar
certas decisões da entidade adjudicante com vista a proteção da concorrência.
2. Princípio da prossecução do interesse público
A europeização do direito da contratação pública determinou a acentuação dos
valores da concorrência, da transparência, da igualdade e da não discriminação.
Desta maneira, verificou-se uma relativa secundarização da prossecução do
interesse público. Contudo e apesar do aparecimento dos chamados “novos
valores” da contratação pública, não devemos desvalorizar este princípio. Nesse
sentido a contratação pública deve continuar a estar ao serviço da prossecução
do interesse público, nomeadamente o interesse público financeiro, através
da fórmula “best value for Money”.
Coloca-se então uma questão: Quais são os “novos valores” da contratação
pública?
Esta nova vertente passa pela utilização estratégica da contratação pública na
implementação de políticas públicas, nomeadamente através:
• De:
o Políticas sociais,
o Políticas ambientais,
o Políticas de promoção e incentivo da inovação tecnológica,
o Políticas de apoio às pequenas e médias empresas.

3. Princípio da não-discriminação:
Constitui uma projeção específica do princípio da igualdade de tratamento e tem
por dimensão nuclear a ideia de não-discriminação em razão da nacionalidade.
O princípio da igualdade tem incidência quanto:
• Ao acesso aos procedimentos de adjudicação
• Bem como quanto ao tratamento dos particulares nesses mesmos
procedimentos.

4. Princípio da transparência:
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O princípio da transparência é considerado por muitos como um dos princípios


mais importantes da contratação pública, funcionado como “ignição” da
regulamentação desta matéria.
O TJ no acórdão de 16/04/2015 (SC Enterprise Focused Solutions SRL, proc.c-278/14) definiu a
finalidade como finalidade deste princípio:
• A eliminação:
o de qualquer risco de favoritismo
o Ou de arbítrio da parte da entidade adjudicante
Importa perceber algumas projeções normativas decorrentes do princípio
supramencionado.
4.1 As regras do procedimento e as informações técnicas disponibilizadas
devem ser claras e precisas (isto é, não ambíguas), de forma a possibilitar
uma compreensão razoável e uniforme entre todos os
interessados/operadores económicos, ficando estes em igualdade de
condições para apresentar candidaturas ou propostas em conformidade com
essas regras.
a. Exemplo: Neste sentido, Acórdão do TJ, 29/04/2004,
Comissão/CAS Succhi di Frutta, Proc. C-496/99).

4.2 Deve ser efetuada a publicitação das peças do procedimento mediante


o anúncio do procedimento, programa do procedimento, caderno de
encargos.
4.2.1 Nesse sentido deve ser efetuada a publicitação do anúncio do
procedimento:
4.2.1.1 no Diário da República
4.2.1.2 e, quando se imponha em função do valor do contrato a
celebrar, no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE)
4.2.2 É preciso igualmente publicar as peças do procedimento na
plataforma eletrónica da entidade adjudicante

4.3 Por fim, existe ainda um Dever de fundamentação das decisões, desde o
início do procedimento (artigos 36.º e 38.º do CCP) até à decisão de
adjudicação (artigo 73º do CCP), incluindo:
• a decisão de não adjudicação (artigo 79º do CCP)
• e a revogação da decisão de contratar (artigo 80º do CCP)
5. Princípio da imparcialidade
O procedimento administrativo é um dos momentos fundamentais do princípio
da imparcialidade administrativa. Assim também sucede nos procedimentos de
formação dos contratos públicos. Neste âmbito devemos aplicar o disposto no
artigo 9º do CPA.
Ou seja, a Administração Pública adjudicante deve tratar de forma imparcial
todos os candidatos e concorrentes, considerando com objetividade apenas os
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interesses relevantes no contexto decisório, adotando no processo as melhores


soluções à preservação da isenção administrativa e à confiança nessa isenção.
Isto traduz-se no grau máximo de vinculação para o júri dos procedimentos, para
o órgão decisor da entidade adjudicante e para os peritos que auxiliem o júri.
5.1. Algumas projeções normativas:
De acordo com Artigo 1.ºA, n. º3, do CCP:
“Sem prejuízo da aplicação das garantias de imparcialidade previstas no Código
do Procedimento Administrativo (artigo 9.º, e artigos 69.º a 76.º), as entidades
adjudicantes devem adotar as medidas adequadas para impedir, identificar e
resolver eficazmente os conflitos de interesses que surjam na condução dos
procedimentos de formação de contratos públicos, de modo a evitar qualquer
distorção da concorrência e garantir a igualdade de tratamento dos
operadores económicos”.
Ou seja, deste preceito extraímos duas ideias:
1. As entidades adjudicantes devem adotar as medidas adequadas para:
a. Impedir
b. Identificar
c. E resolver
i. Os conflitos de interesses.
2. Este exercício efetuado pelas entidades adjudicantes tem dois objetivos:
a. Em primeiro lugar: Evitar a distorção da concorrência
b. Em segundo lugar: Garantir a igualdade de tratamento dos
operadores económicos.
Avancemos agora para o artigo 1.º-A, n.º 4, do CCP:
“Para efeitos do disposto no número anterior, considera-se conflito de
interesses qualquer situação em que o dirigente (i) ou o trabalhador de uma
entidade adjudicante (ii) ou de um prestador de serviços (iii) que age em
nome da entidade adjudicante, que participe na preparação e na condução do
procedimento de formação de contrato público ou que possa influenciar os
resultados do mesmo, tem direta ou indiretamente um interesse financeiro,
económico ou outro interesse pessoal suscetível de comprometer a sua
imparcialidade e independência no contexto do referido procedimento”.
Se no artigo 1ºA, nº3, do CCP, o legislador consagra uma obrigação de controlo
e resolução de possíveis conflitos de interesse, no artigo 1º-A, nº4, o legislador
prevê o próprio conceito de conflito de interesse:
5.1.1. Declaração de inexistência de conflitos de interesses para os membros do
júri dos procedimentos, consultores e peritos que auxiliem o júri (artigo 67.º n.º
5, do CCP)
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6. Princípio da proporcionalidade e o “abuso de posição adjudicante”


O princípio da proporcionalidade traduz-se:
• Adequação
• Exigibilidade e proporcionalidade em sentido estrito
6.1. Deve se verificar proporcionalidade na fixação dos requisitos de acesso
aos procedimentos de adjudicação de contratos públicos nomeadamente:
• na definição dos requisitos mínimos de capacidade técnica no
concurso limitado por prévia qualificação, os quais “devem ser
adequados à natureza das prestações objeto do contrato a celebrar” –
artigo 165.º, n.º 1, do CCP –
• e na definição dos requisitos mínimos de capacidade financeira
também no concurso limitado por prévia qualificação , que “não
podem exceder o dobro do valor do contrato, salvo em casos devidamente
justificados, designadamente quando se prenda com os riscos especiais
associados à natureza do contrato, e devem reportar-se à aptidão
estimada dos candidatos para mobilizar os meios financeiros
previsivelmente necessários para o integral cumprimento das obrigações
resultantes do contrato a celebrar” – artigo 165.º, n.º3, do CCP
6.2. Importa também perceber a ideia de proporcionalidade em matéria de
impedimentos de forma a evitar a exclusão (desproporcionada) dos concorrentes
Por exemplo, com base na alínea k) do nº 1 do artigo 55º do CCP, conjugado
com o nº 2 do mesmo artigo) chegamos à conclusão de que: só deverão ser
excluídas entidades, sejam singulares ou coletivas, entidades que “estejam
abrangidas por conflitos de interesses que não possam ser eficazmente
corrigidos por outras medidas menos gravosas que a exclusão” -
7. Legalidade e discricionariedade
A legalidade constitui um princípio geral da contratação pública: Desde a escolha
do procedimento de adjudicação, à estrutura da tramitação procedimental ou às
decisões fundamentais adotadas no desenvolvimento do procedimento, toda a
intervenção da Administração Pública Adjudicante se faz necessariamente em
obediência e por regra, em conformidade com a lei, ou, pelo menos, com um
padrão normativo preestabelecido.
7.1. Temos então com base no artigo 1ºA, do CCP e no artigo 3º do CPA, uma
Vinculação das entidades adjudicantes:
• à legalidade
• e à juridicidade.
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Contudo, o princípio da legalidade não elimina, todavia, uma relativa liberdade


de conformação das regras do procedimento de adjudicação, de que a entidade
adjudicante impõe.
7.2. Trata-se, contudo, de uma Discricionariedade de conformação normativa
Em especial, na definição:
• das regras dos procedimentos, designadamente no programa do
procedimento – artigo 41.º do CCP,
• e no estabelecimento das cláusulas a incluir no contrato a celebrar,
através do caderno de encargos – artigo 42.º, nº 1, do CCP
7.3. Uma outra dimensão de discricionariedade é a chamada
Discricionariedade estratégica
Esta dimensão apresenta especificidades no âmbito da contratação públicas
exprime-se em muitas decisões estratégias das entidades adjudicante, a
começar pela decisão de contratar.
• decidir se devem ser incluídas externalidades ambientais ou sociais no
factor de adjudicação
• ou o custo do ciclo de vida do produto ou serviço, adjudicar por lotes, etc.)
7.4. Discricionariedade, dever de fundamentação das (concretas) decisões que
concretizem a lei ou as regras adotadas pela entidade adjudicante e controlo
jurisdicional destas decisões (relação com o contencioso pré-contratual urgente).
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4º POWER POINT.

Procedimentos de adjudicação de contratos públicos


Apreciação geral Sujeitos do procedimento de adjudicação de
contratos públicos

I - Tipos de procedimentos para a formação de contratos


públicos

1. Apreciação geral –
Como já vimos de acordo com o Artigo 16.º, n.º 1, do CCP:
1 – Para a formação de contratos cujo objeto abranja prestações que estão ou
sejam suscetíveis de estar submetidas à concorrência de mercado, as
entidades adjudicantes devem adotar um dos seguintes tipos de
procedimentos:
a) Ajuste direto;
b) Consulta prévia;
c) Concurso público;
d) Concurso limitado por prévia qualificação;
e) Procedimento de negociação;
f) Diálogo concorrencial;
g) Parceria para a inovação.
2. Início dos procedimentos de formação de contratos públicos – artigo
36º do CCP
2.1. Início do procedimento:
O procedimento de formação de qualquer contrato se inicia com a decisão de
contratar, a qual deve ser fundamentada e cabe ao órgão competente para
autorizar a despesa inerente ao contrato a celebrar, podendo essa decisão estar
implícita nesta última (nº 1 do artigo 36º do CCP).
2.1.1. A decisão de contratar, a competência para autorizar a realização da
despesa e o preço base do contrato – artigo 36º e artigo 47º, sobre o “Preço
base”:
• O preço base, que deve ser definido pela entidade adjudicante no caderno
de encargos, é o montante máximo que esta entidade se dispõe a pagar
pela execução de todas as prestações que constituem o objeto do
contrato, incluindo eventuais renovações do contrato – nº 1 do artigo 47º
2.1.2. A decisão de contratar e a decisão de escolha do procedimento de
adjudicação (artigo 38.º do CCP): a decisão de escolha do procedimento de
formação de contratos deve ser fundamentada e cabe ao órgão competente para
a decisão de contratar.
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II - Sujeitos do procedimento de adjudicação de contratos


públicos

1. Entidades adjudicantes
Entidades enumeradas nos artigos 2º e 7.ºdo CCP.
2. Agrupamento de entidades adjudicantes
Para adquirir os bens e serviços de que carecem para o desenvolvimento das
respetivas missões, as entidades adjudicantes dispõem de várias possibilidades.
Interessa-nos especialmente neste âmbito a associação informal (agrupamento)
com outras entidades adjudicantes.
O artigo 39º, nº1 prevê as formas de agrupamento das entidades adjudicantes:
1. Formação de contratos cuja execução seja de todos
2. Formação de um acordo-quadro de que todas possam beneficiar
3. Gestão conjunta de sistemas de aquisição dinâmicos
4. Aquisição conjunta utilizando catálogos eletrónicos.
O agrupamento de entidades adjudicantes representa, o conjunto ou
agregação das entidades que se agrupam, ao qual não corresponde qualquer
exigência de formalização. O agrupamento não tem órgãos, nem estruturas
próprias, limitando-se o CCP, a exigir, de entre as entidades agrupadas, a
designação de uma delas como representante do agrupamento.
5. Órgão adjudicante:
O órgão competente para a decisão de contratar é o órgão da entidade
adjudicante ao qual o CPP atribui a responsabilidade de proferir todas as
decisões fundamentais e a maior parte das decisões do procedimento de
adjudicação.
O orgão competente para a decisão de contratar, de acordo com artigo 36.º,
números 1 e 2, do CCP, é o órgão indicado pela respetiva lei orgânica ou pelos
estatutos da entidade adjudicante
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3.1. Competências do órgão adjudicante


3.1.1. O órgão adjudicante é o órgão principal de todo o procedimento, desde o
início deste, com a decisão de contratar, até à decisão de adjudicação (incluindo
as fases pós-adjudicatórias, como a aprovação da minuta do contrato e outorga
deste), competindo-lhe, em geral, a tomada de todas as decisões que tenham
ou possam ter efeitos externos no procedimento, designadamente as seguintes
competências:
a) Decisão de contratar (artigo 36.º do CCP);
b) Decisão de escolha do procedimento (artigo 38º do CCP);
c) Elaboração e aprovação das peças do procedimento, conformando,
através destas, todas as regras e fases do procedimento (artigo 40º do
CCP);
d) Prestação de esclarecimentos aos interessados sobre as peças do
procedimento, oficiosamente ou a pedido daqueles (artigo 50º, nº 5, alínea
a), e o nº 7, do CCP);
e) Pronúncia sobre os erros e omissões identificados pelos interessados e,
quando os aceite, a indicação dos respetivos termos de suprimento (artigo
50º, nº 5, alínea b), e o nº 6, do CCP);
f) Retificação/alteração das peças do procedimento e suprimento de erros
ou omissões das peças do procedimento (artigo 50º, n.º 5, alínea b), e
números 6 e 7, e artigo 64º, nº 1, do CCP);
g) Decisão sobre a prorrogação do prazo de apresentação de propostas
(artigo 64º, nº 4, do CCP);
h) Designação do júri do procedimento e de (eventuais) peritos ou
consultores (artigos 67º, nº 1, e 68º, nº 6, do CCP);
i) Decisões de qualificação ou de exclusão de candidaturas, sob proposta
do júri do procedimento, constante do relatório final da fase de
qualificação (artigo 168º, nº 4, do CCP);
j) Decisões de ordenação ou de exclusão de propostas, sob proposta do júri
do procedimento, constante de relatório deste (artigos 124º, nº 4, e 148º,
nº 4);
k) Decisão de não adjudicação (artigo 79º do CCP);
l) Decisão sobre a dispensa da redução do contrato a escrito (artigo 95º, nº
2, do CCP);
m) Decisão de apresentação de ajustamentos ao conteúdo do contrato a
celebrar (artigo 99º, nº 1, do CCP);
n) Decisão sobre a aprovação da minuta do contrato (artigo 98º, nº 1, do
CCP) e representação da entidade adjudicante na outorga do contrato
(artigo 106º, nº 1, do CCP);
o) Apreciação e decisão de impugnações administrativas (artigo 274º do
CCP).
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3.1.2. Delegação de competências pelo órgão adjudicante:


a) Artigo 109º, nº 1 do CCP:
“Todas as competências atribuídas pelo presente Código ao órgão competente
para a decisão de contratar podem ser delegadas, sem prejuízo do disposto na
parte final no nº 2 do artigo 69º”
b) Na relação entre o órgão adjudicante e o júri do procedimento, da conjugação
do nº 1 do artigo 109º com o nº 2 do artigo 69º resulta que aquele pode delegar
no júri todas as competências que lhe são atribuídas pelo CCP, com exceção
das legalmente indelegáveis (nº 2 do artigo 69º), bem como daquelas que o
órgão adjudicante exerce previamente à constituição do júri, como a decisão de
contratar, a decisão de escolha do procedimento e a aprovação das peças do
procedimento
4. Júri do procedimento
4.1 O júri do procedimento é um órgão administrativo temporário, tal como se
encontra previsto no artigo 20º, nº2 do CPA. Trata-se de um órgão de
constituição ad hoc, sendo lhe confiada a incumbência de conduzir o
procedimento nos termos do artigo 67º, nº1 do CCP.
Ou seja, o júri pode considerar-se o órgão instrutor do procedimento, cabendo-
lhe, por conseguinte: A direção da instrução do procedimento. Enquanto
órgão responsável pela instrução, o júri é, em regra (fora uma exceção), um
mero órgão interno, que não exerce uma função decisória final, não lhe
cabendo, no quadro das suas competências próprias, adotar decisões com
efeitos jurídicos externos.
4.2. Estamos perante um órgão funcionalmente independente. Isto é, não se
integra em qualquer ordenação hierárquica da entidade adjudicante e, no
exercício das suas competências próprias, não deve obediência a ordens,
instruções ou diretivas de órgão adjudicante ou de outros órgãos.
4.3. Os titulares do órgão adjudicante podem ser membros do júri (artigo 67º, nº
2, do CCP), mas com a consequência prevista no artigo 69º, n. º1, alínea d), do
CPA, ficando impedidos de participar, naquela qualidade, na tomada das
decisões propostas pelo júri
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4.4. Regra da existência obrigatório de um júri nos procedimentos de


adjudicação e exceções à regra (artigo 67.º, do CCP):
O júri surge configurado, em regra, como órgão de existência obrigatória em
todos os procedimentos de adjudicação. Contudo, essa regra conhece
exceções.
“1 — Com exceção do ajuste direto e dos casos previstos no nº 3, os
procedimentos para a formação de contratos são conduzidos por um júri,
designado pelo órgão competente para a decisão de contratar, composto, em
número ímpar, por um mínimo de três membros efetivos, um dos quais preside,
e dois suplentes.
A explicação para essa exceção encontra-se no facto de o ajuste direito
ser um procedimento em que apenas uma entidade é convidada. Logo,
há lugar apenas à apresentação de uma só proposta.
2 — Os titulares do órgão competente para a decisão de contratar podem ser
designados membros do júri.
3 — Tratando-se de consulta prévia ou de concurso público urgente, o órgão
competente para a decisão de contratar pode decidir que os procedimentos
sejam conduzidos pelos serviços da entidade adjudicante, considerando-se
feitas a estes as referências feitas, no presente Código, ao júri.
A explicação para esta exceção parece residir em aligeirar a exigência
formal de instituição de um órgão específico para a condução do
procedimento.
4 — O júri pode ser dispensado nos procedimentos em que seja apresentada
apenas uma proposta”.
4.4.1. Quando não exista júri ou este seja dispensado, deverá haver lugar à
designação de um responsável do procedimento, nos termos do artigo 55º do
CPA
4.5. Composição e Funcionamento do júri (artigo 68º do CCP):
Tal como o artigo 67, nº1 prevê: O júri apresenta-se como um órgão plural,
composto, sempre em número ímpar, por um mínimo de três membros efetivos,
um dos quais preside, e dois suplentes, todos designados pelo órgão
adjudicante.
“1 — O júri do procedimento inicia o exercício das suas funções no dia útil
subsequente ao do envio do anúncio para publicação ou do convite.
2 — O júri só pode funcionar quando o número de membros presentes na reunião
corresponda ao número de membros efetivos.
3 — As deliberações do júri, que devem ser sempre fundamentadas, são
tomadas por maioria de votos, não sendo admitida a abstenção.
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4 — Nas deliberações em que haja voto de vencido de algum membro do júri,


devem constar da ata as razões da sua discordância”.
4.5.1. Faculdade de indicar peritos ou consultores (artigo 68º, nº 6)
4.6. Competências próprias do júri
A existência do júri do procedimento, como um órgão autónomo fica a dever-se
ao propósito legal de separar, por instâncias diferentes:
• A instrução do procedimento de adjudicação
o Enquanto Tarefa de natureza técnica e instrumental
• E a tomada de decisões finais
o Que definem a situação jurídica dos intervenientes no
procedimento.
O júri tem competências próprias, que lhe são conferidas por lei, bem como
competências delegadas pelo órgão adjudicante.
Em geral, trata-se de competências para a prática de atos instrumentais, que
preparam as decisões a tomar pelo órgão adjudicante)
As competências identificadas no artigo 69º, nº 1, do CCP (“Compete
nomeadamente ao júri”)
a) Proceder à apreciação das candidaturas;
b) Proceder à apreciação das propostas;
c) Proceder à apreciação de soluções (no procedimento de diálogo
concorrencial) e projetos (no procedimento de parceria para a inovação);
d) Elaborar os relatórios (preliminares e finais) de análise das candidaturas,
das propostas e das soluções e projetos.
Outras competências
a) Proceder à publicitação da lista de candidatos ou de concorrentes (artigos
177º, nº 1, e 138º, nº 1, do CCP)
b) Solicitar esclarecimentos aos candidatos ou aos concorrentes sobre as
respetivas candidaturas ou propostas (artigos 183º, nº 1, e 72º, nº 1, do CCP)
c) Solicitar o suprimento de irregularidades das candidaturas e das propostas
e proceder oficiosamente à retificação de erros de escrita ou de cálculo que
as mesmas contenham (artigo 72º, nºs 3 e 4, do CCP)
d) Realizar as audiências prévias dos candidatos ou concorrentes;
e) Apreciar e decidir as reclamações de candidatos ou de concorrentes não
incluídos nas respetivas listas e fixar novos prazos de apresentação de
candidaturas ou propostas. Neste caso (aliás, o único caso previsto no CCP),
o júri, ao decidir as reclamações, toma uma decisão com eficácia externa,
que podem ser objeto de reclamação facultativa para o próprio júri ou de
recurso administrativo para o órgão adjudicante (artigos 177º, nºs 3 e 4, 138º,
nºs 3 e 4, 269º, e 271º, nº 2, do CCP)
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4.7. Competências indelegáveis e competências delegáveis pelo órgão


adjudicante no júri (artigo 69º, nº 2, do CCP:
“Cabe ainda ao júri exercer a competência que lhe seja delegada pelo órgão
competente para a decisão de contratar, não lhe podendo este, porém, delegar
a competência para a retificação das peças do procedimento, a decisão sobre
erros ou omissões identificados pelos interessados, a decisão de qualificação
dos candidatos ou a decisão de adjudicação”.
4.8. Natureza jurídica das deliberações do júri:
Em geral, o júri apenas é titular de competências para a prática de atos
instrutórios, destinados à preparação das decisões do órgão adjudicante,
destacando-se, entre estes, o relatório final do procedimento, que contém o
resumo final do procedimento, a proposta de adjudicação e a respetiva
fundamentação. Consequentemente, as deliberações do júri apenas produzem
efeitos internos (isto é, efeitos dentro do procedimento a que digam respeito);
são meros atos preparatórios das decisões do órgão adjudicante.
4.9. Impugnação das deliberações do júri:
Todas as deliberações do júri são suscetíveis de impugnação para o próprio júri
ou de recurso administrativo para o órgão adjudicante (artigo 271º, nº 2, do CCP).
O recurso administrativo pode ter por objeto deliberações tomadas pelo júri no
exercício de competências próprias. Todavia, tais deliberações correspondem a
atos internos e preparatórios, com efeitos jurídicos que se esgotam dentro do
procedimento. Não são, por isso suscetíveis de impugnação.
Cenário distinto ocorre nos casos das deliberações do júri sobre a não inclusão
de interessados nas listas dos candidatos ou interessados. Porquê? Porque
essas decisões representam decisões externas, com efeitos diretos e
imediatos e, portanto, são suscetíveis de impugnação nos termos do artigo 51º
do CPTA.
4.10. Garantias de imparcialidade na atuação do júri
É fundamental compreender neste âmbito o artigo 68º, nº 6, do CCP, sobre a
“declaração de inexistência de conflitos de interesses”, e artigos 69º e segs. do
CPA, sobre as garantias de imparcialidade)
A revisão de 2017 veio exigir que, antes do início de funções, os membros do
júri e todos os demais intervenientes no processo de avaliação de propostas
subscrevam uma declaração de inexistência de conflitos de interesses, conforme
o modelo previsto no anexo XIII do CCP. Dessa maneira, os membros do júri
estão abrangidos pelo sistema de impedimentos do artigo 69º do CPA.
4.11. Caso especial do júri dos concursos de conceção e de ideias:
excecionalmente, nestes procedimentos as deliberações do júri têm carácter
vinculativo para a entidade adjudicante (artigo 219º-E, nº 3)
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5. Candidatos e concorrentes; agrupamentos de candidatos ou


concorrentes
5.1. Candidatos (artigo 52º do CCP):
É candidato a entidade, pessoa singular ou coletiva, que participa na fase de
qualificação de um concurso limitado por prévia qualificação, de um
procedimento de negociação, de um diálogo concorrencial ou de uma parceria
para a inovação, mediante a apresentação de uma candidatura.
Trata-se de procedimentos bifásicos, que compreendem dois subprocedimentos:
• um subprocedimento destinado à apresentação de candidaturas, para
efeitos de qualificação dos candidatos;
• e um subprocedimento destinado à apresentação de propostas e
adjudicação de uma proposta, de entre as que sejam apresentadas pelos
concorrentes
5.2. Concorrentes (artigo 53º do CCP):
É concorrente a entidade, pessoa singular ou coletiva, que participa em qualquer
procedimento de formação de um contrato mediante a apresentação de uma
proposta.
5.3. Agrupamentos (artigo 54º do CCP):
Podem ser candidatos ou concorrentes agrupamentos de pessoas singulares ou
coletivas, qualquer que seja a atividade por elas exercida, sem que entre as
mesmas exista qualquer modalidade jurídica de associação.
6. Adjudicatário (artigo 73º do CCP):
A adjudicação é o ato pelo qual o órgão competente para a decisão de contratar
aceita a única proposta apresentada ou escolhe uma de entre as propostas
apresentadas. O concorrente, pessoa singular ou coletiva ou agrupamento de
entidades, que apresentou a proposta adjudicada designa-se por adjudicatário.

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