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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos.

4º ano 2023/2024

ATIVIDADE ADMINISTRATIVA E OS CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO

Administração Pública em sentido subjetivo desenvolve uma atividade de gestão


pública através de formas jurídicas de Direito Administrativo com recurso aos principais
atos jurídicos: ato administrativo; regulamento administrativo; contrato
administrativo.

Os contratos administrativos são a categoria central do direito público, sendo


constituídos por 2 elementos constitutivos: acordo de vontades entre 2 sujeitos de
direito; com vista à produção de um resultado jurídico comum.
Os contratos administrativos são atos bilaterais, traduzindo-se numa forma de
exercício do poder administrativo.

EVOLUÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

1. Fase da negação

• O Direito Administrativo estava moldado ao ato administrativo, enquanto


ato autoritário, unilateral, definitivo e executório, cuja exclusiva
preocupação é proteger o interesse público;

• A Administração Pública é marcada pela autoridade;

• Contrato era uma figura do Direito Civil, logo não era adaptável ao Direito
Administrativo;

• O interesse público vincula e obriga;

• O Estado não está ao nível dos particulares.

2. Fase da aceitação limitada

• No início do século XX, a França considerou o Contrato Administrativo para


determinadas obras públicas e Portugal imitou o exemplo;

• Eram contratos de colaboração subordinada, entendidos como contratos


transformados que podiam conter cláusulas leoninas para realizar o interesse
público: poderes de direção e poderes de modificação ou rescisão.

3. Fase da utilização em geral

• A evolução para o atual Estado prestador e de garantia não se compadeceu


com as resistências ao Contrato Administrativo.

• Por 3 ordens de razões (Vieira de Andrade):

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I. Alterações substanciais – proliferação de interesse público a cargo da


administração;
II. Alterações funcionais – novos conteúdos e prestação, controlo ,
infraestruturação, promoção, garantia e regulação;
III. Alterações estruturais – as novas formas jurídicas da atividade
administrativa que não se podiam ter perante as evoluções que eram
consoantes com o nosso tempo.

• A Europa do pós-guerra teve um crescimento económico, surgindo com isso


o problema da despesa pública (nível de receitas não compensa o nível de
despesa).

CONTRATO PRIVADO

O direito Administrativo europeu gerou a figura dos Contratos Públicos


O regime jurídico dos Contratos administrativos está previsto no Código de
Contratos Públicos (doravante designado por CCP) e no artigo 200º e 202º do Código de
Procedimento Administrativo (doravante designado por CPA).
Da Administração direta faz parte o Estado/Governo, o Estado enquanto pessoa
coletiva pública e todos os organismos que estão diretamente subordinados.

TUTELA Vs. PODER DE SUPERINTENDÊNCIA

Entidade superentendida: os seus fins são definidos pela entidade


superintendente.

Poder de tutela – poder que não comporta a definição de fins. O poder de tutela
subdivide-se em 2: poder de mérito; poder de legalidade, em que o Estado só pode
intervir naquela entidade. Então, essa entidade tutelada está na administração
autónoma.

Uma Universidade Privada faz parte da Administração?

Desempenha uma função paralela à do Estado, sendo um privado investido de


funções públicas, ao qual é confiado uma tutela pública.

AGENTES ECONÓMICOS

Pessoas ou empresas (particulares ou coletivas, independentemente, da função


que exercem, seja pública ou privada) que atuam num determinado mercado
económico, cujo objeto é: execução de obras públicas, fornecimento de produtos e
prestação de serviços.

ENTIDADES ADJUDICANTES

I. Pessoas Coletivas Públicas;


II. Organismos de Direito Privado;

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III. Setores Especiais.

Entidades que outorgam a possibilidade de contratar, isto é, é a parte que


oferece o contrato. Para que exista um Contrato Público uma parte tem de ser uma
entidade adjudicante.

Quanto às pessoas coletivas públicas:

Critério de O órgão das entidades administrativas


criação
Critérios para tem competência que decorrem de
demonstrar atribuições dadas por lei.
Critério do
regime jurídico

Quanto aos organismos de direito público:


Entidades criadas para satisfazer fins de
interesse geral, visam a satisfação de interesses de
Pessoas uma determinada comunidade.
Para poderem ser entidades adjudicantes têm de
preencher os requisitos (artigo 2º/2 CCP):
Elementos da 1. Não podem ter caráter comercial ou
organização Órgãos industrial ainda que tenham uma atividade
administrativa económica;
2. Não podem ter fins lucrativos;
Serviços Públicos Se estas entidades não tiverem fins lucrativos e
forem maioritariamente financiadas pelo Estado ou
por outras pessoas coletivas públicas, então serão
consideradas organismos de Direito Público, logo
têm proteção pelo CCP.

Quanto aos setores especiais:

Desenvolvidos pelo Estado ou entidades privadas, falamos de setores como a


água, transportes, energia e serviços postais.
Quaisquer entidades que detenham estes setores estão abrangidas pelo CCP.

CONTRATO PÚBLICO Vs. CONTRATO ADMINISTRATIVO

O CCP tem uma noção demasiado ampla de Contrato Público. Há Contratos


Públicos que não são Contratos Administrativos. Há Contratos Administrativos que não
são Contratos Públicos, na medida em que não se aplicam as regras da contratação

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pública estabelecidas no CCP, parte II, por não envolverem prestações sujeitas à
concorrência no mercado (artigo 5º).

Os Contratos Públicos e os Contatos Administrativos são duas figuras diferentes,


com regimes diferentes, tratados no mesmo código, mas em lugares diferentes.

Quanto aos Contratos Públicos

• Definem-se pelo regime que lhes é aplicável. Se a formação, execução ou


contencioso de um dado contrato da administração for objeto de uma
específica regulamentação do direito privado, tal contrato será público.

• Contratos onerosos celebrados entre agentes económicos e entidades


adjudicantes.

• Caracteriza-se, essencialmente, pelo seu objeto e a natureza das suas


prestações resultar um benefício económico e a natureza fungível das
prestações.

Quanto aos Contratos Públicos propriamente ditos

• Regime específico no Código;

• 2 vertentes cumulativas: caráter concorrencial da prestação (artigo 5º/1 e


16º/2 CCP) e pela lógica da essência para caracterizar o objeto do Contrato
Público.

Caráter concorrencial:

Decorre da cumulação de 2 requisitos: 1º Benefício económico que se retira


dessa prestação, 2º natureza fungível das prestações.

Nem sempre é de fácil identificação. Sempre que a intervenção administrativa


atribua vantagens relativamente a um recurso escasso gera a oportunidade de
competição entre privados o que colocará sempre uma questão de concorrência.

Tipos de contratos Públicos:

a) Contratos Privados celebrados por entes públicos (16º/1);


b) Contratos de Sociedade (2º alínea f));
c) Contratos entre entidades adjudicantes e privados com outros privados (7º/1).

Quanto aos Contratos Administrativos

• Consagração no artigo 278º e 280º.

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• Têm limites legais e de natureza quanto à sua aplicação. Quanto aos limites
legais temos a exclusão do Contrato de Trabalho em funções públicas, no
âmbito dos Contratos Administrativos e a proibição da concessão pelas
entidades reguladoras, entidades públicas ou privadas, da prossecução de
quaisquer atribuições ou poderes regulatórios. Quanto aos limites de
natureza estes decorrem do sentido específico da atividade a desenvolver.

• Têm de prosseguir sempre o interesse público e o poder administrativo


exerce-se quer por atos, regulamentos ou contratos públicos.

• Caracteriza-se pela parte pública, uma vez que uma das partes/contraente é
sempre o Estado ou alguém que represente os seus interesses e a sua
autoridade (280º).

EM GERAL

Aos Contratos Públicos aplica-se o regime da parte II do CCP (artigo 16º a 277º)
e aos Contratos Administrativos aplica-se o regime da parte III do CCP (artigo 278º a
454º), também se aplicando a este último outras normas fora do código
(nomeadamente, do CPA).

Uma coisa comum a todos os contratos é a aplicação de todos os princípios:


princípios gerais da Atividade Administrativa, princípios de direito administrativo geral
da Constituição da República Portuguesa e princípios da concorrência do direito
europeu.

PRINCÍPIOS

- Artigo 1º-A

Os princípios são um pano de fundo lógico que informa toda a atividade pública,
são extremamente importantes porque a interpretação das normas tem de ser sempre
feita perante a lógica dos princípios.
Estão sujeitos aos princípios fundamentais da atividade administrativa, os que
constam da CRP e do CPA, depois os princípios gerais de direito europeu.
Os princípios da atividade administrativa dividem-se em constitucionais,
procedimentais e princípios fora da CRP.

1. PRINCÍPIO DA IGUALDADE – ARTIGO 6º CPA

• Princípio basilar do Estado de Direito;


• Dirigido às pessoas (artigo 13º/2 CRP);
• Em termos de direito europeu, ninguém pode ser discriminado em razão da
nacionalidade (europeia ou extraeuropeia). A lógica da não discriminação em
função da nacionalidade é uma lógica que corre no direito europeu, faz parte da

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essência, mas depois existem um conjunto de acordos entre Estados da UE, a


própria UE e outros países, que são, muitas vezes, absorvidos por essa lógica.
• Temos um princípio da igualdade em função da não discriminação da
nacionalidade, liberdade de circulação de pessoas, bens e serviços.
• Obviamente, que há outras lógicas da igualdade que são nitidamente pessoais e
que em matéria de contratação pública não poderão ser aferidas a não ser em
matéria de contratação de pessoas (em razão do sexo, etnia, religião, etc.).
• O princípio da igualdade é fundamental, no sentido em que se estamos nas
mesmas condições e plataforma, temos de ter exatamente as mesmas
oportunidades.
• A igualdade está ligada à proporcionalidade, à imparcialidade, à boa-fé e à
justiça.
• O princípio da igualdade de tratamento que impende sobre a AP, traduz-se na
sua autovinculação no âmbito do exercício do respetivo poder discricionário,
devendo ela utilizar critérios substancialmente idênticos para a resolução de
casos idênticos. É, por isso, a mudança de critérios, sem qualquer fundamento
material violadora do princípio da igualdade.

2. PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA

• Ligada ao Princípio da publicidade e da informação;


• Todas as lógicas de direito adjetivo mantêm-se perenes e aplicáveis durante a
pendência do processo, só excecionalmente é que vão ser modificadas.
• Se a obtenção de informação for difícil, tal significa que não é transparente,
sendo o grau de dificuldade de obtenção de informação medido, com recurso à
figura do homem médio (cidadão médio).
• O Princípio da transparência é o corolário da administração aberta, isto é, é uma
administração que não tem segredos, tudo o que se passa dentro, pode ser
conhecido.

3. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

• Tudo o que for importante para o negócio tem de estar em condições de ser
conhecido.

4. PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE

• De prova difícil.
• Quem vai decidir não pode ter tido participação em nenhum momento dos
contratos.
• Exceção à regra da impessoalidade da lógica da administração.
• A nossa administração é institucional, não interessa quem são as
pessoas/sujeitos, nem os cargos que ocupam. A exceção é a imparcialidade
porque há situações em que a impessoalidade pode colidir com a imparcialidade.
• Essas situações são condições objetivas (muito difíceis de definir, pois interessa
o contorno da própria situação) e condições subjetivas (circunstâncias pessoais

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do interveniente, como relações familiares, pessoais, profissionais, que podem


pôr em causa a decisão isenta) do titular do órgão.
• Artigo 69º e seguintes CPA.

Os conflitos de interesses podem ser de 4 formas:

I. Incompatibilidade: situação objetiva em que o exercício de uma função colide


com a possibilidade de exercício de uma outra.
II. Impedimentos: são conflitos de interesse estrutural para os quais a lei prevê
uma regra de não conciliação e que implica por parte do titular um dever de
abstenção e de não intervenção na decisão.
III. Escusa: requerimento de pedido de dispensa de intervenção do titular do órgão
que julga estar em situação de impedimento por razões objetivas ou subjetivas
que podem pôr em causa a sua imparcialidade.
IV. Suspeição: pedido do interessado para que o titular do órgão seja afastado de
intervenção na decisão por entender que se verificam razões idênticas às da
escusa.

5. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E DA JURIDICIDADE (artigo 3º CPA)

• A Administração Pública não tem apenas de se bastar com a “lei” enquanto fonte
de direito concreta, mas sim também com o bloco de juridicidade que compõe o
sistema jurídico: princípios fundamentais, decisões judiciais, praxes e costumes.
• Princípio da legalidade e da juridicidade não são 2 realidades distintas. Em
sentido estrito a Administração Pública já não tem de se basear apenas na lei,
em sentido lato, tem de se basear num bloco de juridicidade.
• O artigo 3º/2 do CPA prevê situações extraordinárias e excecionais, de direito da
normalidade e de anormalidade, sendo a prioridade prosseguir o interesse
público relevante.
• Nenhum sistema normativo jurídico pode prever todas as situações da vida. Isto
significa que temos de ter as cláusulas gerais onde podemos enquadrar as
situações que nunca ninguém pensou que pudessem acontecer.

Requisitos Estado de Necessidade:

I. Imprescindibilidade – só teremos presente o conceito de necessidade em direito


administrativo quando a atuação da Administração Pública for indispensável e
inadiável para a concreta implementação do fim de relevante interesse público
em causa.
II. Adequação teleológica – a conduta administrativa terá de ser feita em função do
fim legal e regulamentarmente prosseguido, de acordo com o conteúdo
finalístico dos poderes de Direito Administrativo dos órgãos competentes.
III. Proporcionalidade – resulta numa verdadeira proibição do excesso, que obriga a
Administração Pública, em cada momento, utilizar o meio que represente um
menor sacrifico para as posições jurídicas dos particulares.

Urgência Vs. Necessidade

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o A urgência tem a ver com a necessidade que obriga a atuar, preterindo um bem
jurídico e, função de outro que quero impor, tendo a ver com o fator temporal,
traduzindo-se num acrescento de poderes da administração (é um “plus”).

6. PRINCÍPIO DA PROSSECUÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO (artigo 4º CPA)

• O Princípio da prossecução do interesse público é a par do Princípio da


legalidade, o mais importante princípio geral de Direito Administrativo e
apresenta uma relevante projeção na disciplina da contratação pública.
• É um Princípio de conciliação entre o Direito das pessoas e o interesse público. É
inadmissível que uma entidade celebre um contrato com um fim particular.

7. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

• Princípio fundamental, mas de difícil arguição, salvo situações extremas de erro


grosseiro e flagrante.
• Vigora nos nossos Tribunais, a Teoria da Defensabilidade, isto é, a decisão
administrativa de adjudicar está certa, desde que não viole a lei e em situações
de igualdade entre 2 propostas eu escolhi determinada, por um conjunto de
razões.
• A Teoria da Defensabilidade deverá ser adequada (a lesão de posições jurídicas
da administração tem de revelar-se adequada), necessária (a lesão tem de se
mostrar necessária ou exigível) e proporcional (deve verificar-se uma relação de
proporção entre o benefício alcançado e o sacrifício imposto).

8. PRINCÍPIO DA JUSTIÇA E DA RAZOABILIDADE

• Princípio que engloba todos os outros.


• A justiça é a perpétua e constante vontade de dar a cada um o que é seu e
engloba todos os restantes princípios.
• Responsabilidade: contratual e extracontratual, administrativa e contencioso
administrativo.

9. PRINCÍPIO DA COLABORAÇÃO

• Um contrato não é um ato administrativo, não é uma decisão unilateral, para ser
feito necessita de partes – a entidade adjudicante e o adjudicatário. Se é um
processo onde a negociação é fundamental não basta o “sim”, no modelo de
formação do contrato, para além daquilo que a lei exija às partes devem
colaborar através de um processo de negociação.

10. PRINCÍPIO DA PREFERÊNCIA PELOS MEIOS ELETRÓNICOS E PRINCÍPIO DA


ADMINISTRAÇÃO ELETRÓNICA E DIGITAL

• Os contratos devem ser realizados através de plataformas eletrónicas.

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• A partir de 31 de Dezembro (2023) vai ser obrigatória a inscrição numa


plataforma, onde tudo o que se passa dentro do contrato, qualquer comunicação
entre as partes é feta dentro dessa plataforma (envio de documentos, certidões
e toda a burocracia, tem de ser feita dentro da plataforma).
• O princípio da administração eletrónica está ligado ao princípio da administração
digital.
• Todos os documentos quando constam no procedimento concursal são enviados
através de meios eletrónicos.
• Essa plataforma existe para que todas as comunicações entre a entidade
adjudicante e adjudicatário fiquem lá gravados, ou seja, há transparência
absoluta.

Ö Administração eletrónica – email


Ö Administração digital – plataforma

11. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO DOS INTERESSADOS

• Algo importante nos contratos. Sem negociação/participação o procedimento


contratual não existe.

12. PRINCÍPIO DA BOA ADMINISTRAÇÃO

• A entidade adjudicante ao desenvolver uma função materialmente


administrativa tem de o fazer através dos meios e modos que melhor respeitem
o interesse público.
• Na matéria da contratação pública é por demais relevante o Princípio da boa
administração, nas suas 4 vertentes: eficácia, economia, eficiência e celeridade.

13. PRINCÍPIO DA DECISÃO (artigo 13º CPA)

• Se a entidade adjudicante vai iniciar um procedimento contratual, é porque há


uma necessidade. Então, o procedimento tem de ser levado até ao fim, porque
há uma razão de interesse público.

14. PRINCÍPIO DA ADMINISTRAÇÃO ABERTA (artigo 17º CPA)

• Aquilo que se passa num procedimento contratual não é segredo. Se eu sou um


interessado potencial em determinado procedimento, tenho de ter meio de
acesso.
• Artigo 2º LADA – Lei de Acesso à Documentação Administrativa.
• Na administração portuguesa, temos órgãos que tratam do acesso (LADA –
comissão de acesso à documentação administrativa) e órgãos que tratam do
conteúdo.

Direito de acesso (artigo 5º):

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• A informação pública é relevante pois garante a transparência da atividade


administrativa, designadamente, relacionada com o funcionamento e controlo
da Atividade Pública, divulgada ativamente de forma periódica e atualizada pelos
órgãos e entidades, num portal de acesso livre (Base.gov).
• Ao abrigo do Princípio da Administração Aberta e da LADA, os órgãos e entidades
administrativas têm de publicar tudo.
• Na divulgação e disponibilização de informação deve assegurar-se a sua
compreensibilidade, acesso livre e universal, acessibilidade, interoperabilidade
(sistemas comunicam entre si), qualidade, integridade e autenticidade dos dados
publicados e ainda a sua identificação e localização – artigo 2º/3).

Restrições (artigo 6º):

• Quando um documento administrativo que temos acesso tem dados pessoais,


têm na mesma de ser conhecidos, mas expurgados os dados pessoais, ou seja, a
entidade administrativa é obrigada a fornecer os documentos administrativos,
mas de modo que os dados nominativos sejam expurgados.

15. PRINCÍPIO DA GRATUITIDADE

• Artigo 15º CPA

16. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DE DADOS

• Artigo 18º CPA


17. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO LEAL COM A UNIÃO EUROPEIA

• Artigo 19º CPA

18. PRINCÍPIO DA INTERDIÇÃO DO ARBÍTRIO

• Corolário do Princípio da igualdade.


• Nos Contratos Públicos, em princípio, só é lícito aquilo que é permitido, porque
o Direito Público está ao serviço dos interesses gerais da coletividade e não se
pode motivar pela prossecução de interesses privados.
• Estão proibidos os contratos públicos, que serão anuláveis, em que o fim
favoreça o interesse de pessoas ou grupos particulares.

19. PRINCÍPIO DA COMPETÊNCIA

• Princípio muito estrito, uma vez que a competência não se presume.


• Numa forma que confere competência, não se pode fazer integração analógica.

20. PRINCÍPIO DA CONCORRÊNCIA EFETIVA

• Base de direito económico europeu.

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• Visa salvaguardar o equilíbrio do mercado, os interesses dos agentes


económicos, os interesses dos consumidores e da Administração Pública.
• Pedro Gonçalves diz que é um Princípio cardinal e Pacheco Amorim diz que é um
macro princípio e direito europeu privado.
• É o concurso público que faz a lógica da concorrência pura. As adjudicações
diretas fazem dificultar a lógica da concorrência.
• É a base regra do concurso público e existe para proteger a concorrência. Assim,
a entidade adjudicante, tem de ser norteada pelo Princípio da concorrência na
lógica da igualdade de oportunidades, independentemente, das diferenças
factuais que possam existir.

O Princípio da concorrência visa salvaguardar:

I. O equilíbrio da concorrência – dando oportunidade para todos os que estejam


em condições e preencham os requisitos mínimos.
II. Os interesses dos agentes económicos – interesse de quem opera naquele
mercado.
III. Os interesses dos consumidores – se o mercado funcionar de forma equilibrada
os consumidores saem beneficiados.
IV. O interesse da AP – obtém vantagem de livre concorrência entre operadores.

21. PRINCÍPIO DA ESTABILIDADE

• Decorre do Princípio da concorrência.

22. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ (artigo 10º CPA)


• É muito difícil de definir a boa-fé.
• A boa-fé liga-se à lógica do princípio da informação e relaciona-se com o princípio
da confiança no sentido de que a informação que é dada corresponde à
realidade.
• A boa-fé está ligada à confiança, mas quando nós não estamos a falar do
conteúdo da relação, mas sim na divulgação pública de informação, a boa-fé está
ligada à credibilidade da informação.

23. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO

• Sem informação não há transparência.

PROCEDIMENTOS DE FORMAÇÃO

Artigo 16º CCP – elenca os procedimentos contratuais que estão presentes no


CCP. Esta não é uma enumeração taxativa.

AJUSTE DIRETO

Artigo 24º, 25º, 26º.


Passível de utilização genérica em todos os contratos.

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GERAL/COMUM (ARTIGO
24º, 25º,26º)
AJUSTE DIRETO
REGRAS
PROCEDIMENTAIS
SIMPLIFICADO/URGENTE
(128º, 129º)

Critérios para Ajuste Direto:

• Critério regra – valor (artigo 20º/1 alínea d), 19º/1 d) e 21º/1 c)).
• Critérios materiais (artigo 24º a 27º) – situações que permitem a adoção do
ajuste direto para além do valor do contrato. Necessita de fundamentação.

CONSULTA PRÉVIA

• Artigo 27º-A revogado.


• Implica a entrega de 3 propostas (aparência de concorrência).
• Trata-se de uma consulta que a entidade adjudicante faz antes do contrato e
depois escolhe de entre as propostas que estiverem em causa.
• Artigo 112º/1 e 115º/2.
• Critério do valor – artigo 20º/1 alínea c), 19º alínea c) e 21º/1 alínea b).

CONCURSO PÚBLICO

É o procedimento regra, que obedece ao Princípio da Concorrência. Não é o


procedimento sempre utilizado, há matérias que não necessitam de concurso público.
Os contratos públicos estão sujeitos ao procedimento regra que é o concurso
público. Todavia, há exceções, caso caiam sobre a alçada de outro procedimento de
formação.

O concurso público pode ser normal e vem previsto no artigo 130º e 131º do
CCP, ou pode ser urgente, mediante a verificação de 2 elementos: circunstâncias
excecionais e a questão temporal. Os concursos urgentes têm de ser devidamente
fundamentados pela entidade adjudicante, nos termos do artigo 155º e 474º (tendo de
ser de valor inferior ao aí previsto).

Em regra, todos os concursos públicos têm de ser publicados no Diário da


República, mas há concursos públicos que têm de ser publicados no Jornal Oficial da
União Europeia. Estabeleceram-se limites a partir dos quais, os concursos públicos, têm
de ser publicados no JOUE, que são estabelecidos no artigo 474º.

O edital fecha nos concursos, obedecendo ao Princípio da estabilidade, que é


extremamente importante nos contratos, pois assim sei o que posso exigir e o que devo
esperar.

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CONCURSO LIMITADO POR PRÉVIA QUALIFICAÇÃO

Situações especiais em que os procedimentos concursais são feitos para os


contratos jurídicos mais complexos.

PROCEDIMENTO NEGOCIAL

Há um verdadeiro diálogo entre entidades adjudicantes e eventuais


adjudicatários, sendo certo que o procedimento negocial pode ser inserido por concurso
público (as 2 formas não se excluem).

DIÁLOGO CONCORRENCIAL

Procedimento prévio ao contrato.


Discussão prévia ao contrato dos termos exatos das prestações contratuais, da
qualidade, da execução, do tempo necessária, daquilo que a entidade adjudicante não
sabe, mas que o adjudicatário sabe.

PARCERIA PARA A INOVAÇÃO

Forma contratual moldada para a lógica da investigação e desenvolvimento


com universidades, laboratórios, centros científicos e também algumas parcerias
privadas.

ESCOLHA DO PROCEDIMENTO DO CONTRATO

A escolha do procedimento depende do valor e natureza do contrato.

• Regra – valor (artigo 17º e 18º) – critério objetivo


• Critérios especiais – todos os outros critérios que não tenham a ver com o valor
do contrato (elementos materiais, nos quais se incluem exigências legais).

Para que um contrato, que em princípio poderia ser por concurso público, se faça
por ajuste direto, através do critério material, tem de haver fundamentação nos termos
do CCP com justificação e motivação.

Fundamentação:

- Justificação: conjunto de factos e de pressupostos jurídicos em que uma decisão


administrativa assenta. A decisão é formada por toda a factualidade e também as regras
jurídicas aplicadas. A justificação é dizer qual é o quadro factual e jurídico.

- Motivação: itinerário cognoscitivo baseado na justificação, que fez com que a


decisão administrativa fosse aquela. A motivação traduz-se na explicação do porque
tomei determinada decisão e o que me levou a fazê-lo.

MONOFATOR

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Elemento do contrato, considerado o fator primordial, ou seja, é aquilo que


caracteriza e identifica o contrato e a razão de contratar. Todos os contratos públicos
têm uma pluralidade de fatores identificativos, mas um desses fatores sobrepõe-se aos
restantes. Quando isso acontece, fala-se em contrato na modalidade monofator.

Atenção – artigo 17º e 18º em especial

Artigo 17º/9 “contrato sem valor”. O contrato público é sempre oneroso. Um


contrato sem valor não está sujeito a um preço, independentemente, de existir
onerosidade nas prestações contratuais.

Nota: pode haver contratos públicos sem valor, mas que são onerosos nas
prestações contratuais.

Artigo 24º

Quando os procedimentos escolhidos não funcionam, quando se abre concurso


público e não há nenhuma proposta ou caso exista tenha sido por fundamentação legal,
pode fazer-se um contrato público com o procedimento de ajuste direto. Isto tem de ser
fiscalizado pelo Tribunal de Contas.

FASES COMUNS PRINCIPAIS

Todos os procedimentos concursais tem o seu próprio caminho, tendo cada um


as suas próprias especificidades, mas um tronco comum.:

1. Fase da iniciativa

Tomada de decisão por parte de uma entidade adjudicante com competência.

I. Decisão de contratar e a decisão de escolha do procedimento


II. Aviso de abertura
III. Peças procedimentais típicas

Todas as entidades públicas ao tomarem uma decisão ou de contratar ou de


elaborar uma qualquer iniciativa que envolva despesa pública e, obviamente, um ato
administrativo, tem de assumir um compromisso.

Requisitos decisão:

• A entidade tem de ter competência;


• Têm de ser feitos compromissos de natureza financeira para fazer o eventual
gasto público

PEÇAS PROCEDIMENTAIS TÍPICAS

I. PROGRAMA

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Artigo 41º CCP.


• Regulamento administrativo, contendo as regras específicas daquele procedimento.
No fundo diz o que tem de acontecer, desde o início até à celebração do contrato,
ou seja, tudo o que está previsto naquele específico contrato tem de estar no
programa.

II. CADERNO DE ENCARGOS

Artigo 42º CCP.


• É a minuta do contrato, contém as cláusulas a incluir no contrato a celebrar. É aquilo
que vai reger a relação jurídica administrativa e que se vai estabelecer entre a
entidade adjudicante e o adjudicatário.

• Podemos considera-o um “documento conformador” do conteúdo das propostas a


apresentar pelos concorrentes e do contrato a celebrar, sob pena de nulidade, o
contrato não pode alterar os elementos essenciais dos encargos (artigo 284º/2
alínea a)).

• Esta peça define os termos em que a entidade adjudicante pretende contratar,


devendo considerar-se um regulamento administrativo e s suas disposições normas
administrativas.

III. ANÚNCIO DE PRÉ-INFORMAÇÃO

Artigo 34º do CCP.


• Anúncios voluntários indicando os procedimentos que a entidade adjudicante
estima lançar no decurso de determinado lapso temporal.
• Fase eventual, pré-procedimental que não é obrigatória. Consiste num aviso ao
mercado, de forma que aqueles que estão, potencialmente, interessados se
preparem.

IV. ANÚNCIO PERIÓDICO INDICATIVO

Artigo 35º do CCP.


• Possibilidade de fazer um anúncio periódico indicativo em relação aos setores
essenciais.
• O CCP continua a dizer que estes setores são os essenciais para a manutenção da
qualidade de vida dos Estados Europeus e, portanto, é possível fazer uma espécie de
aviso, antes de iniciar o procedimento que vai aparecer um concurso nestes setores.

DECISÃO DE CONTRATAR

Artigo 36º CCP.

É o ato inicial, mas também final, de um procedimento em que a entidade


adjudicante atesta ou verifica a existência de uma determinada necessidade que tem de

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

satisfazer, assegura-se de que não dispõe de recursos internos para o efeito e decide
satisfazê-la através do recurso ao mercado.
A decisão de contratar tem de ser fundamentada, isto é, uma especificidade do
procedimento contratual.

Para muitas entidades adjudicantes, previamente à decisão de contratar, exige-


se a verificação de cabimentação da despesa, que é o registo da verba orçamental
própria de uma determinada dotação visando a realização da despesa, dotação essa
constante da Lei do Orçamento do Estado (doravante designada por LOE. O CCP, a LOE
e a LCPA (Lei dos Compromissos e pagamentos em atraso) formam a tríade legislativa
que é necessário observar antes de enviar a intenção de contratar ao Ministério das
Finanças. Cabe a este autorizar a realização da despesa. Para contratos de determinado
valor, há ainda lugar a obtenção de visto por parte do Tribunal de Contas.

Nota:

Lei dos Compromissos diz que toda e qualquer decisão de contratar, tem de
estar devidamente cabimentada no orçamento da pessoa coletiva que vai
sofrer a alteração dessa despesa.

Atenção ao artigo 36º/2 CCP.

- DECISÃO DE CONTRATAR NAS PPP

Nas PPP (parcerias público privadas), associa-se um privado (consórcio) ao


desenvolvimento dentro de importantes tarefas públicas, desonerando as finanças
públicas das despesas dessa tarefa e ficando obrigado o entre público a pagar uma
renda, quase como uma prestação ao ente privado.
Nas PPP, a decisão de contratar compete conjuntamente ao Ministro do Governo
da República ou Membro do Governo Regional, sendo, normalmente, feito por Portaria.

ESCOLHA DA DECISÃO E ESCOLHA DO PROCEDIMENTO

A escolha de decisão e do procedimento deve ser fundamentada e cabe ao órgão


competente que tem o poder de contratar (artigo 38º CCP).
No procedimento podem intervir muitos órgãos, sendo o mais importante o júri,
mas há sempre um órgão que tem o poder final de decidir, sendo este competente
porque a lei lhe outorgou a competência, sendo este que vai decidir qual o
procedimento a adotar.

TIPOS DE PEÇAS PROCEDIMENTAIS DE ACORDO COM CADA TIPO DE PROCEDIMENTO

Artigo 40º CCP.

- ASPETOS DO CONTRATO

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Alguns aspetos específicos, podem ser especificados no caderno de encargos


(artigo 42º/6 CCP).
Preço base (artigo 47º): não é o valor do contrato, mas sim tem a ver com o valor
do benefício económico que o adjudicatário vai retirar.
Artigo 50º - esclarecimentos, retificações e alterações das peças procedimentais.

REGRAS DE PARTICIPAÇÃO

- Diferença entre candidatos e concorrentes

Artigo 52º e 53º, consagra a diferença.

- Contratos Reservados

Artigo 54º-A CCP.


Contratos reservados são aqueles que por especificidades previstas na lei, se
retira a concorrência em geral. Nestes contratos, as prestações contratuais e o
procedimento não é aberto a toda a concorrência, porque nem todos podem concorrer
naquele contrato porque tem especificidades muito peculiares.

2. Fase da aceitação e apresentação formal das propostas

A proposta é a declaração pela qual o concorrente manifesta à entidade adjudicante


a sua vontade de contratar e o modo pelo qual se dispõe a fazê-lo (artigo 56º). A
proposta é constituída por um conjunto de documentos elencados no artigo 57º.
Revelam estes os atributos e os termos ou condições da proposta.

A proposta é apresentada, quanto ao modo e formalidades, conforme o disposto no


convite ou no programa de procedimento, quanto à sua substância conforme o disposto
no Caderno de Encargos.

Os atributos da proposta podem ser gerais ou alternativos, desde que estes sejam
admitidos pelo Caderno de Encargos, quando uma proposta contém atributos
alternativos, designam-se por propostas variantes (artigo 59º).

PRAZO DA OBRIGAÇÃO E MANUTENÇÃO DAS PROPOSTAS

Terminado o prazo para apresentação de propostas quem as apresentou fica


obrigado a celebrar o contrato nos termos que dela constam se a sua proposta vier a ser
adjudicada, sob pena de ter de indemnizar a entidade adjudicante além de se expor a
sanções previstas no artigo 456º e 457º.

Também implica a aceitação implícita do Caderno de Encargos, embora tal


aceitação já esteja pressuposta com a apresentação da declaração a que o artigo 57º/1
faz referência. O concorrente fica obrigado a manter a proposta pelo prazo de 66 dias
(artigo 65º), prazo durante o qual vigora o Princípio da Estabilidade, mas também a
entidade adjudicante fica vinculada, constituindo-se no dever de apreciar a proposta,

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

podendo inclusive eliminar nos termos ou condições que não considere estritamente
necessários ou que considere desproporcionados (artigo 96º/4).

JÚRI

Artigo 67º.
Órgão administrativo colegial, de caráter consultivo, ad hoc, designado pelo
órgão administrativo a quem cabe a condução do procedimento.
Instrui o procedimento praticando atos com efeitos internos, preparando as
decisões finais e externas que cabem ao órgão competente tomar.
O júri é formado por 3 ou mais elementos, normalmente, em número ímpar, cujo
objeto é analisar uma factualidade concreta e imitir uma decisão (proposta) ao órgão
competente para decidir. O órgão decisor não tem de decidir, de acordo com a proposta
do júri, mas se não o fizer tem de fundamentar.

O júri inexiste nos casos de ajuste direto e não é de constituição obrigatória nos
procedimentos de consulta prévia ou de concurso público urgente, onde se permite que
as competências que usualmente lhe caibam possam ser concretizadas pelos serviços
da entidade adjudicante (artigo 67º/3), podendo também ser dispensado nos casos em
que só é apresentada uma proposta (nº4).

Compete ao júri apreciar as candidaturas, as propostas, proceder há apreciação


de soluções de projetos, elaborar os relatórios de análise das candidaturas, das
propostas e das decisões dos projetos. (artigo 69º).

3. Fase da Análise das Propostas

A preparação da adjudicação por parte do júri, divide-se em:

Þ Relatório preliminar;
Þ Relatório final (contém a decisão provisória, porque não é o júri que, em
regra, toma a decisão).

O júri elabora um relatório (preliminar e final), contendo nesse relatório tudo


aquilo que é importante para a decisão final, que será enviado ao órgão competente
para decidir contendo aí uma proposta de decisão.

RELATÓRIO PRELIMINAR

Súmula da decisão sobre todas as questões procedimentais, podendo o júri


propor a exclusão de propostas e devendo propor a ordenação das propostas excluídas.

RELATÓRIO FINAL

Relatório ulterior à audiência dos interessados (audiência prévia). Aplica-se aqui


também o CPA como regra supletiva, isto é, o interessado antes de ter a decisão deve

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

ouvir o sentido provável da decisão e deve-lhe ser apresentado todo o procedimento


(Princípio dos Interessados).

4. Fase da Preparação da Adjudicação

Artigo 73º (noção de adjudicação): escolha de quem contratar.

Nota:

Þ Reclamação – para o superior hierárquico;


Þ Recurso – para um terceiro que não teve intervenção no procedimento.

CRITÉRIO DE ADJUDICAÇÃO

Artigo 74º CCP


Em regra, escolhe-se a proposta economicamente mais vantajosa, determinada
através de uma das seguintes modalidades:

Þ Multifator – critério principal, inclui enunciativamente outros critérios.


Þ Monofator – quando o critério escolhido tem uma espécie de sinalagma, ou
seja, tem um correspondente de um lado da execução do contrato.

Em critérios mais complexos ou até mais simples, muitas vezes, as propostas tÊm
valor equivalentes, pelo que é necessário recorrer a critérios de desempate, tendo estes
critérios de obedecer ao artigo 74º/5.

O critério tem de estar no programa, sendo este realizado no momento do


anúncio. Quando os critérios de desempate não o consigam fazer pode recorrer-se ao
sorteio (artigo 74º/5 c)).

DEVER DE ADJUDICAÇÃO

Artigo 78º CCP


A decisão é um ato administrativo unilateral imperativo. Estamos numa relação
contratual pública e, por isso, devem ser tratados como atos administrativos devidos: à
reclamação, Princípio da tutela jurisdicional efetiva, recurso em tribunal.

Em regra, tudo isso começa com um aviso/anúncio no edital e termina com um


anúncio de publicação ou no Diário da República ou no JOUE.

CAUSAS DE NÃO ADJUDICAÇÃO

Artigo 79º CCP.


A decisão de não adjudicação, de não celebrar o contrato, é uma decisão que
tem de ser devidamente fundamentada e pode decorrer para a entidade adjudicante o
dever de indemnizar. A decisão de não adjudicação implica a revogação da decisão de
contratar (artigo 80º).

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

5. Fase Decisória

Temos 3 momentos:

I. Habilitação (artigo 81º e seguintes)

O adjudicatário terá de apresentar os documentos de habilitação (artigo 81º) que


comprovem que sobre ele não recai qualquer impedimento. A sua não apresentação
resulta em caducidade da adjudicação (artigo 86º), resultando na adjudicação da
proposta ordenada em 2º lugar (artigo 86º/4).
O artigo 87º-A revela outras causas de caducidade da adjudicação.

II. Prestação de Caução (artigo 88º a 91º)

A caução é uma forma de garantia do cumprimento do contrato.


A caução é devida nos termos do artigo 88º/1, sendo dispensada nos casos
referidos no nº2. O valor máximo da caução é calculado atendendo aos critérios
expostos no artigo 89º. A não prestação da caução é causa da não adjudicação
(artigo 91º).

III. Confirmação de compromissos pelo adjudicatário (artigo 92º e 93º)

Termo de compromisso adicional, normal nos contratos públicos.

FIXAÇÃO NEGOCIAL DA MINUTA DO CONTRATO E OUTORGA DO CONTRATO

Há dispensa de redução a escrito nos casos expressos no artigo 95º. A minuta é


aprovada com a decisão de adjudicação (artigo 98º), podendo ainda haver lugar a
ajustamentos (artigo 99º). Segue-se a notificação (artigo 100º) endereçada ao
adjudicatário. Qualquer ajustamento, por razões de transparência tem de ser notificado
a todos os concorrentes (artigo 103º).

A outorga do contrato ocorre nos termos do artigo 104º, caducando nos termos
do artigo 105º.

REGRAS ESPECIAIS DE TRAMITAÇÃO

Há procedimentos especiais, com regras especiais de tramitação.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

- O objeto do contrato não está logo definido, é


Sistema de emoldurado numa cláusula geral.
aquisição - Tem um objeto principal, uma obrigação de
dinâmico desempenho aquisitivo, mas este objeto é versátil,
adaptando-se à medida que a relação vai evoluindo.

- Acontece em alguns sistemas contratuais,


Sistema de nomeadamente, de investigação e desenvolvimento.
qualificação - Estes contratos podem não ter a obrigação de
resultados.
Regras de
tramitação
Acordos- - Contratos de adesão, em que não há negociação. são
realizados em contratos de fornecimento de bens
quadro essenciais (há um modelo único de contratação).

- Grande parte das aquisições do Estado, para todos os


Centrais de serviços, quer da Administração direta, quer da indireta,
compras são feitos por uma única entidade. - Agência Nacional de
Compras.

ESPÉCIES DE CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

- Os contratos administrativos podem ser:

a) Contratos de solicitação de bens e serviços de mercado;


b) Contratos de delegação de funções ou serviços (concessões translativas e gestão
pública);
c) Contratos de concessão constitutiva ou de atribuição de direitos;
d) Contratos sobre o exercício de poderes públicos (contratos possíveis de atos
administrativos ou que envolvam poderes públicos (artigo 337º/1).

Estes não podem estar sujeitos ao mercado porque as prestações não são concorrenciais
(artigo 16º/2). Os contratos administrativos não estão sujeitos à concorrência.

Concessão translativa ou constitutiva

Uma concessão administrativa é responsável por tarefas públicas, mas não é


titular nem fixa os termos do desempenha da sua atividade, quem o faz é o Estado. O
Estado é sempre titular do bem e da tarefa, mas confia essa a uma entidade privada.
A concessão constitutiva é aquela que constitui o direito, a concessão translativa
é aquela que é mudada para outra concessão.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRAIVOS QUANTO AO FIM

I. Contratos de Colaboração

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

O co-contratante privado associa-se ao desempenho de atividades


materialmente administrativas (públicas) mediante remuneração.
Exemplo: empreitada, concessão de obras públicas, ou de serviços públicos,
gestão de estabelecimentos públicos, prestação de serviços ou fornecimento de
bens.

O contraente público é quem representa o interesse público e não a entidade


adjudicante no contrato. Neste contrato, o privado vai desenvolver tarefas
materialmente administrativas, que em princípio deveriam caber à Administração.

II. Contratos de Atribuição

Contrato que visa conferir ao co-contratante privado uma situação de vantagem


própria, mediante contrapartida.
Exemplos: concessão de uso privativo do domínio público, concessão de jogo.
O contrato de atribuição vai atribuir uma vantagem ao subcontratante.

III. Contratos de Cooperação

Dois entes públicos acordam na realização de tarefas públicas de interesse


comum, em função da identidade ou da complementaridade das respetivas
atribuições.
As entidades públicas que têm fins comuns e paralelos celebram um acordo, em
que vão juntar esforços para determinado fim.

Contratos públicos propriamente ditos – entidade adjudicante


Contratos administrativos – contraente público.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS QUANTO À LÓGICA DA RELAÇÃO


CONTRATUAL

I. CONTRATOS DE SUBORDINAÇÃO

Aqueles em cuja execução se verifica um ascendente funcional da administração


sobre o contraente (subordinação de uma parte em relação à outra).

a) Contratos de colaboração subordinada

Sejam contratos de solicitação de bens e serviços no mercado, sejam


contratos de concessão translativa, que visam associar um particular ao exercício
de funções especificamente administrativas, destacando-se os “contratos
relacionais”, que implicam uma relação duradoura (concessões de obras ou
serviço público, gestão de estabelecimentos públicos).

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

É o Estado que impõe as regras, ou melhor, é o contraente público que impõe


as regras e o privado explora aquela atividade por sua conta e risco. Se tiver
prejuízo é o privado que o tem.

b) Contratos de cooperação subordinada

Celebrados entre entes públicos, mas em que um deles se sujeita ao exercício


de poderes de autoridade do outro (artigo 338º/2 do CCP). A cooperação é
sempre entre 2 entes públicos.

II. Contratos de não celebração

Não há ascendente de uma parte sobre a outra

a) Contratos de cooperação inter-administrativa paritária

Dois entes públicos contratam num plano de igualdade jurídica.


Exemplos: contratos de parceria entre o Estado e as Autarquias locais para a
exploração e gestão de sistemas municipais de abastecimento público de água, de
saneamento, de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos urbanos).

b) Contratos de colaboração não subordinada

Contratos de associação com escolas privadas, contratos com IPSS, contratos


de arrendamento ao Estado, em que o co-contratante privado colabora no
desempenho de uma tarefa pública, mas no exercício de uma liberdade ou
autonomia constitucionalmente consagrada.
Desenvolvem um conjunto de tarefas na lógica de apoio de áreas de especial
vulnerabilidade.

c) Contratos de atribuição de direitos

Contratos-programa, contratos de investimento, contratos de desenvolvimento,


“contratos de licenciamento”, contratos de bolsa em que se conferem posições não
precárias ou não subordinadas, desenvolvendo o co-contratante particular uma
atividade própria dos privados cujo desempenho interessa ao contraente público.

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS QUANTO AO OBJETO

I. Contratos com objeto passível de ato administrativo.


II. Contratos com objeto passível de um contrato de direito privado (aquisição
de bens ou serviços).
III. Contrato com objeto próprio (ou exclusivo) de Contratos Administrativos
(concessão de obra pública, concessão exploração de jogos de fortuna ou
azar).

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS QUANTO AO ALCANCE DOS EFEITOS

I. Contratos com efeitos principais, inter partes, restritos às partes (a


generalidade dos contratos).
II. Contratos com eficácia normativa externa erga omnes (em especial, os
contratos de concessão de serviços públicos e de obras públicas ou de gestão
de estabelecimentos públicos, relativamente aos utentes e, sendo caso disso,
às empresas prestadoras concorrentes).

Os efeitos podem ser inter partes, isto é, só as partes dos contratos é que
recebem os efeitos na sua esfera jurídica ou podem ter eficácia externa,
normalmente, de cariz normativo, isto é, podem constituir regulamento em sentido
material, efeitos erga omnes.
Estes segundos contratos podem ser regulamentos em sentido material. Tem de
ser devidamente publicitados e qualquer cidadão pode ter acesso.

PPP – DL nº 111/2012 de 23 de Maio

Modelo contratual surgido na Alemanha, em que o privado se obriga, de forma


duradoura, a assegurar o desenvolvimento de uma atividade tendente à satisfação de
uma tarefa pública.
O investimento pelos privados, implica o pagamento de uma renda pelo Estado
de forma a compensar pelo investimento.

Normalmente, é aplicado em grandes infraestruturas ou projetos de


desenvolvimento de grande dimensão.
A responsabilidade pelo financiamento e pelo investimento ou, pelo menos, pelo
risco da exploração inerente à execução do contrato cabe ao adjudicatário, implicando
ainda uma despesa elevada para a entidade adjudicante.

Transferem-se os riscos para o setor privado, mas leva à desormentação pública.


Modelo teve aplicações com resultados distintos consoante o setor económico e a
ordem jurídica onde foram aplicados.

Artigo 339º - dever de informação.


Artigo 341º - partilha de benefícios.

PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO À PROSSECUÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO

Os poderes do contraente público estão previstos no artigo 302º do CCP.


Num contrato administrativo um dos contraentes é o Estado ou representa o
Estado (contraente público). Para se poder celebrar o contrato, tem de se adequar o fim
ao que a entendida pretende desenvolver, para o contraente público tem uma série de
poderes.

IUS VARIANDI

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Em contratos públicos e no direito privado são proibidas as cláusulas que


permitam à entidade que celebra o contrato mudar o conteúdo das prestações por
vontade solidária e unilateralmente. Já nos contratos administrativos é permitido, de
acordo com determinadas regras.
É permitido nos contratos administrativos, nomeadamente: fiscalizar, mudar o
conteúdo do contrato, aplicar sanções pelo não cumprimento, resolver ou ordenar a
cessação da posição contratual.

PODERES DO CONTRAENTE PÚBLICO

Artigo 302º CCP.

Artigo 303º - poderes de direção e fiscalização.

Artigo 307º/2 – dentro dos contratos administrativos, quando o contraente


público, emana determinadas diretrizes essas são equivalentes a atos administrativos.

Ordem – comando ou execução imediata.


Diretivas ou instruções – preceito vinculativo geral e abstrato.

Nota:

Þ São equivalentes a atos administrativos, pois assim é possível a sua impugnação.

Artigo 309º - atos administrativos são executivos, são executados por si mesmo
e só podem ser ilididos por ato jurídico com força bastante (sentença judicial).

Artigo 310º - há, dentro do contrato, um contrato administrativo entre um


contraente público e uma entidade privada substituindo os atos administrativos
que o contraente público quer celebrar.

DIFERENÇA DE REFIME ENTRE CONTRATOS ADMINISTRATIVOS E ATOS


ADMINSTRATIVOS

a. Quanto à obrigatoriedade da decisão, ainda que anulável, quanto à força


executiva ou executória (artigo 309º CCP).

b. Quanto ao ónus de impugnação dos interessados (no prazo curto de 3 meses –


artigo 58º CPTA).

c. Quanto ao poder de declaração da nulidade ou de anulação unilateral (artigo


162º/2 e 163º/4 CPA) que são características dos atos administrativos – como
decorre do artigo 307º/1, em caso de declaração negocial na falta de acordo do
co-contratante, o contraente público tem de recorrer ao tribunal para obter os
efeitos pretendidos com a declaração.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

MODIFICAÇÕES OBJETIVAS DO CONTRATO

Artigo 311º (fonte).


Artigo 312º (fundamentos);
Artigo 313º (limites). – não se pode, através do ius variandi, mudar a essência do
contrato.

Como limites temos:

a. Está vedada a mudança de natureza ou de identidade contratual – este limite


é absoluto, embora vise sobretudo, proteger o co-contratante contra o poder
de modificação unilateral do contraente público. – Artigo 313º/1

b. Também não se pode reconfigurar o contrato para impedir, restringir ou


falsear a concorrência, relativamente, à fase prévia da contratação. – Artigo
313º/2.

c. Proíbe-se a alteração dos atributos da proposta que tenham sido


determinantes para adjudicação. Visa evitar o prejuízo aos co-concorrentes
preteridos.

Ou seja,

No fundo, o ius variandi, a modificação unilateral do contrato, acaba por só se


efetivar através de sentença judicial ou arbitral. Basta que o contraente diga que não
concorda para que o contraente público tenha de ir a Tribunal.

Artigo 312º/2 alínea a).

A modificação efetiva-se, mediante uma decisão judicial ou arbitral, já que a


modificação por decisão unilateral só é possível ou só é qualificada como ato
administrativo, quando o fundamento único ou decisivo seja o interesse público (artigo
311º/1 e nº2, artigo 302º c) e artigo 307º/2 b)).

Nesse caso, a parte lesada tem direito à modificação do contrato, segundo juízos
de equidade ou então uma compensação financeira (artigo 314º/2).

Consequências – artigo 314º


Cessação da posição contratual – artigo 316º e 317º

DIREITOS STEP IN E STEP OUT

Artigo 322º.
Possibilidade de uma terceira entidade (totalmente) estranha ao contrato,
intervir no mesmo.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Não é uma verdadeira cessação da posição contratual, pois a terceira entidade


só vai assegurar a continuidade do contrato, não passa a ser parte (normalmente, são
entidades financiadoras).

EXTINÇÃO DO CONTRATO

Artigo 330º - aplica-se aos contratos administrativos e aos contratos públicos.

O contrato extingue-se quando:

Ö É cumprido.
Ö Há uma impossibilidade definitiva (isto é, o fim contratualmente pretendido
tornou-se impossível): física ou juridicamente.
Ö Revogação.
Ö Resolução.

RESOLUÇÃO POR INICIATIVA DO CO-CONTRATANTE – artigo 332º/1

RESOLUÇÃO POR INICIATIVA PÚBLICA

a. Por imperativo de interesse público

Fundamentado pelo contraente público, com respeito pelos princípios


(designadamente da proporcionalidade, na sua tripla dimensão de adequação,
necessidade e equilíbrio), por se tratar de um ato ablativo, que extingue direitos
do co-contratante (artigo 334º).

b. Por resolução sancionatória

Pode ser decretada quando se verifiquem as situações , expressamente


enumeradas na lei de incumprimento ou violação grave das obrigações
assumidas pelo co-contratante para além de eventuais situações que estejam
previstas no contrato como causas de resolução do contrato (artigo 333º).

c. Por alteração imprevisível das circunstâncias

Artigo 335º/1.

d. Por alteração anormal e imprevisível das circunstâncias imputável a uma


decisão do contraente público, no exercício de poderes extracontratuais

Artigo 335º/2.

PODERES DO CO-CONTRATANTE

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Dever de indemnização integral do co-contratante, quer pelos danos


emergentes, quer pelos lucros cessantes (artigo 334º/2).
Há indemnização, nos termos gerais, da parte lesada (pelo incumprimento da
outra) em caso de resolução “sancionatória”, promovida por qualquer das partes (artigo
332º/1 alínea b) e artigo 333º/1 alínea a)).

ALTERAÇÃO ANORMAL OU IMPREVISÍVEL DAS CIRCUNSTÂNCIAS

Quando a resolução do contrato seja admissível pela verificação da alteração


anormal ou imprevisível das circunstâncias que estiveram na base da celebração do
contrato, a regra é a que não haverá lugar a indemnização de qualquer das partes, na
medida em que a exigência do cumprimento das obrigações assumidas pela parte lesada
afete gravemente os princípios da boa-fé e não esteja coberta pelos riscos próprios do
contrato.

Quando a alteração de circunstâncias for imputável ao Contraente Público, no


exercício de poderes extracontratuais, a lei determina que haja ligar a indemnização
integral nos termos estabelecidos para a resolução do contrato, por motivos de
interesse público (artigo 335º/2).

INVALIDADE

Artigo 283º

Próprias: ocorrem na celebração do contrato ou contaminam as cláusulas


contratuais.
Derivadas: decorrem exclusivamente de vícios na formação do contrato, são
vícios de procedimento.

Invalidades derivadas

a. Escolha ilegal do procedimento.


b. Admissão ou exclusão indevida de concorrentes.
c. Avaliação pelo júri ou a adjudicação feita com violação dos Princípios jurídicos
da comparabilidade ou da estabilidade das propostas com ofensa a Princípios
jurídicos de transparência e da imparcialidade.
d. Adjudicação em que se escolhe uma proposta que não cumpra as determinações
do caderno de encargos, ou uma proposta com preço anormalmente baixo.
e. Vícios no conteúdo dos documentos contratuais.

Invalidades próprias

Não são totais, podem não afetar a integridade de todo o contrato podendo ser
anuladas, apenas uma parte o clausulado.

Dividem-se em:

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

a. Comuns

Pressupõe 2 procedimentos contratuais antecedentes e consequente e resultam de


vícios substanciais que já vinham de uma adjudicação anterior (cláusulas
discriminatórias), mas que podem ser aferidas depois por se repercutirem no novo
contrato.

b. Exclusivas (abrangemJ

Ö Vícios ocorridos ou decorrentes do procedimento contratual após a adjudicação


(na negociação e aprovação da minuta do contrato).
Ö Os demais vícios estruturais específicos do contrato (vícios de conteúdo: a
ilegalidade originária de cláusulas contratuais e a contraditoriedade entre as
cláusulas contratuais e as normas imperativas constantes das bases legais do
contrato ou dos documentos do concurso, sobretudo, a divergência com o
caderno de encargos, quando não se tenha admitido variantes nas propostas).

ANULABILIDADE DO CONTRATO COM FUNDAMENTO EM VÍCIOS PROCEDIMENTAIS

Artigo 283º-A.

INVALIDADE PRÓPRIA DO CONTRATO

Artigo 284º.

REGIME DE INVALIDADE

Artigo 285º.

FASE DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO

Há duas entidades principais, a entidade adjudicante e aquele que já é


adjudicatário porque já ocorreu a adjudicação. Ainda assim, os demais concorrentes
(não esquecer que estamos a dar as fases comuns e as fases comuns são aquelas cujos
trâmites decorrem do concurso público, que é a fase a regra, excluindo-se aqui a
adjudicação direta porque aí não há concorrentes), portanto, em todas as outras
formas, delineadas no concurso público, os demais concorrentes mantêm a posição de
interessado.

Interessado no procedimento, o que significa que têm de ser notificados de


qualquer manifestação de vontade da entidade adjudicante para o adjudicatário e
vice- versa e podem acontecer problemas e esses problemas significam que até pode
acontecer, que um dos concorrentes que não foi adjudicatário se torne adjudicatário.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Este segundo motivo é a grande questão de relevância desta fase, uma vez que tem
consequências práticas.

Exemplo, deu-se um concurso público, chegamos à 7o fase, a entidade


adjudicatária é X, está escolhido. O contrato já está definido, foi tudo negociado, mas
de repente há mais qualquer coisa que se não for cumprida, pode fazer com que
aquele que já é adjudicatário ou já foi escolhido deixe de ser e, então, vamos ver o que
acontece. É a adjudicação secundária de acordo com o artigo 86o/4, 87o-A, 91o/2 e
93o/2.

A posição de adjudicatário passa para quem está a seguir na lista.

Os contratos para pessoas de direito público, são diferentes, não é o CCP


aplicado, mas esta fase é igual, têm a mesma lógica. Eu escolho a empresa A, ou seja, a
empresa A ganhou o concurso e agora digo, empresa A entregue-me aqui o certificado
de registo criminal de todos os elementos que fazem parte do concelho de
administração. Não entregam.

Em certas situações o contrato mantém-se, não se muda nada no contrato, só


que deixa de ser aquele adjudicatário e passa a ser outro a seguir da lista.

A decisão de adjudicação é notificada a todos os concorrentes e a adjudicação é


só para um, portanto, os concorrentes permanecem no procedimento. Ao contrário do
que acontece, normalmente, na regra do CPA em que a partir do momento em que no
CPA há um ato administrativo, os outros “vão à sua vida”, aqui não.

Alínea a) até à alínea e) do artigo 55o – o órgão competente para a decisão


notifica o adjudicatário para apresentar documentos de habilitação, nos termos do
artigo 81o. Prestar caução, se for o caso. Confirmar, no prazo para o efeito fixado, os
compromissos assumidos por terceiras entidades relativos a tributos ou condições da
proposta. Pronunciar-se sobre a minuta do contrato quando este for reduzido a escrito
(pode haver contratos públicos não escritos nos termos do 95o, mas são exceções
raras).

Estes, nomeadamente, a alínea a) que são os documentos de habilitação, têm


de ser apresentados de acordo com o prazo.

As obrigações que se são dever não são de mero ?

Se for um dever fundamental implica uma obrigação, um dever fundamental


implica a possibilidade de aplicação de uma sanção. Eu tenho deveres até
constitucionalmente consagrados, que não há nenhuma sanção, como, por exemplo, o
dever de votar. Eu tenho o dever de votar, mas não há sanção se não o fizer, mas há
outros deveres que se eu não cumprir poderá ocorrer uma sanção.

TIPOS DE SANÇÕES:

1. Contraordenações

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

2. Dever de indemnizar
3. Caducidade da adjudicação (pior) – é nesta situação que passa para aquilo que

chamamos adjudicação secundaria, que significa uma segunda adjudicação em


virtude de a primeira ter caducado e caduca quando não se apresenta os
pedidos que se quer, quando não se cumpriu um dos deveres das alíneas que
falamos.

Artigo 86º

Há um princípio no CPA que diz que todos os procedimentos administrativos


devem ter como língua oficial o português.

A tradução dos documentos paga-se por cada página e é muito cara quando
feita por um tradutor certificado.

Artigo 86o/4 – esta é a norma geral, é a figura da adjudicação secundária, que é


importante ter presente.

A adjudicação secundária acontece quando aquele, adjudicatário que o faria


em 1o lugar (adjudicação primária), não cumpre algum dos deveres que lhe estão
imputados, designadamente, os que estão no no1 do artigo 86o.

TRIBUNAL DE CONTAS

É um verdadeiro Tribunal? Sim, a constituição diz que é um verdadeiro


Tribunal, embora tenha havido muita polémica. Durante muito tempo, com as mesmas
funções e com o mesmo nome o Tribunal de Contas estava a meio caminho entre a
administração independente e o poder judicial. No entanto, a revisão constitucional de
87o pôs fim a qualquer divergência que pudesse ainda existir e o Tribunal de Contas é
um Tribunal verdadeiro, com uma lei própria (LOPTC – lei de organização e processo
do Tribunal de Contas). É uma lei de 87, mas com múltiplas divisões a última das quais
que é deste ano.

Por que razão devem os contratos públicos ser fiscalizados, em regra?

Os contratos públicos têm de ser fiscalizados pelo Tribunal de Contas o que


significa, em termos práticos que têm de ter isto ou declaração de conformidade. Por
que razão? Por uma razão simples, na regra também, um contrato público significa
despesa de dívida e o Tribunal de Contas, de acordo com o artigo 5o da lei da
organização e processo do tribunal de Contas, serve exatamente, para fiscalizar os
gastos de despesa público. Portanto, os contratos públicos, em regra, consubstanciam
a despesa pública.

A fiscalização é prévia a quê? O contrato está constituído, estamos numa nova


fase, que é a fase da eficácia. Está-se à espera de um visto, que se chama de visto
prévio. Prévio a quê? À execução, ou seja, à libertação de efeitos do contrato, o que

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

significa que o contrato não pode ser executado pelo adjudicatário, nem a entidade
adjudicante pode pagar.

A atuação do Tribunal de Contas é prévia, é condição de eficácia do contrato, é


o requisito de eficácia e tem, duas perceções, ou vertentes. Uma, é a vertente da
conformidade à lei (artigo 44o - está escrito no plural), depois se o encargo financeiro
está ou não devidamente cabimentado.

Esta norma e toda a atuação do Tribunal de Contas tem de ser coadunada com
a Lei dos Compromissos, que tem como grande objetivo racionalizar a despesa pública,
isto é, qualquer encargo assumido tem de ter como parte do próprio organismo
público uma declaração de que a verba existe e está devidamente cabimentada, é uma
verdadeira racionalização da despesa pública. Foi talvez a medida deste século mais
importante, quando ela foi feita muito juravam ser esta lei incumprível, 10 anos depois
a lei é cumprida, de forma racionalizada e poupou muito dinheiro ao estado, porque
antigamente faziam-se as coisas e depois alguém havia de pagar.

Artigo 44o/3 – o Tribunal de Contas tem um papel extremamente importante, é


o primeiro juiz. O Tribunal de Contas faz uma fiscalização prévia à execução, mas
essencialmente ?, só que o Tribunal de Contas não dá visto se o contrato tiver um vício
que conduza à nulidade, o que significa que o Tribunal de Contas é o 1o juiz da
legalidade.

O contrato ainda não está executado, mas se houver lá uma determinada


ilegalidade, que seja suscetível de levar à nulidade (a regra é a anulabilidade), o
Tribunal de Contas não dá visto, mesmo que seja uma questão financeira, ou seja, o
Tribunal de Contas vai para além da questão financeira, porque as causas da nulidade
podem ser financeiras como podem ser outras. Se elas existirem, o Tribunal de Contas
diz que não dá visto.

No artigo 44o/3 b) temos os encargos sem cabimento e na alínea c) temos as


ilegalidades que alterem o resultado financeiro.

O que é que pode levar à recusa do visto do Tribunal de Contas?

Estamos perante uma situação de recusa de vista, um vício tão grande, não é
qualquer vício, tem de ser um vício tão grande que gere nulidade. A anulabilidade é
invalidade “caldeirão”, sendo que só serve para os casos em que a lei expressamente o
diga, nesses casos, o Tribunal de Contas não dá visto, como por exemplo, quando não
obedece à Lei dos Compromissos, ou seja, implica gasto de verbas que não estão
cabimentadas, ou quando há ilegalidades que podem alterar o resultado financeiro.

Em princípio o Tribunal de Contas tem este “quadrado”, na prática não tem


sido assim, a polémica é gigantesca.

Os tribunais não existem no nosso sistema para substituir a Administração. Os


Tribunais existem, em primeiro lugar para aferir a ilegalidade e em segundo lugar, no
caso do Tribunal de Contas, para ver se a questão financeira está bem cabimentada.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Cada vez mais o Tribunal de Contas tem vindo a “intrometer-se” noutras


questões, questionando sobre a possibilidade de fazer as coisas de outras maneiras, o
que se traduz numa verdadeira violação ao Princípio da separação de poderes, base do
nosso sistema.

Muito polémica quanto ao âmbito e alcance do Tribunal de Contas, a questão é


mera legalidade ou também critérios de economicidade, eficiência e boa
administração. Pedro Gonçalves diz que a ponderação dos 2 critérios é a solução,
sendo que estes 3 princípios (economia, eficiência e boa administração), são também
princípios da atuação administrativa e, portanto, o Tribunal também pode aferir se os
princípios estão a ser corretamente aplicados.

O grande especialista nesta matéria, em Portugal é professor Joaquim Freitas


Costa, acha que o Tribunal de Contas escapar ao juízo de legalidade e ao juízo de
equilíbrio financeiro, e obrigar a administração a fazer alguma coisa que não está nos 3
critérios, eu posso recorrer ao Tribunal Constitucional e dizer que eles estão a violar o
Princípio da separação de poderes.

A fiscalização do Tribunal de Contas pode ser subjetiva e objetiva. Subjetiva é


relativa ao sujeito, ou seja, quem é que é fiscalizado, quais são as entidades
adjudicantes, que estão no artigo 2o do CCP, que são fiscalizadas, que é a esmagadora
maioria, mas há ressalvas que estão nos artigos do PowerPoint. As entidades
adjudicantes que estão no artigo 2o do CCP, são fiscalizadas pelo Tribunal de Contas e
depois há ressalvas (artigos 2o/2, 7o/1 e 47o da Lei de Organização e Processo do
Tribunal de Contas).

Qual é a competência?

Artigo 5o (ex vi artigo 2o do CCP). Artigo 46o.

Em princípio, tudo o que se faz em termos de contrato está sujeito à


fiscalização do Tribunal de Contas. A fiscalização exerce-se através do visto, ou da
declaração da conformidade.

VISTO

Ato secundário, da competência do Tribunal de Contas com a qualidade de


dotar o ato primário de aptidão para produzir os seus efeitos (ato integrativo de
eficácia).

Sem visto o ato é legal ou ilegal? É legal, o ato é válido, não pode é produzir
efeitos. Se produzir efeitos aí sim, essa produção de efeitos é que pode gerar
invalidade. Pode haver vícios que o elemento predominante não é apenas uma
violação de uma norma legal, pode ser por exemplo, um desequilíbrio financeiro do
contrato.

DECLARAÇÃO DE CONFORMIDADE

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Resume-se a uma apreciação linear de que aquilo que a lei exige está presente
naquele ato jurídico. No fundo, a declaração de conformidade é uma espécie de “mini
visto”, é uma apreciação linear, é quase como uma check list.

DISPENSA E ISENÇÕES

A lei prevê isenções e dispensas. São situações completamente diferentes, mas


é mais uma daquelas questões que na etimologia não jurídica são sinónimos.

A isenção está sempre na lei, não depende de um ato. A dispensa é um ato


administrativo, existe um pedido e existe uma resposta da administração.

Na isenção a administração não tem nada a ver, porque está na lei. A dispensa
pressupõe uma vontade da administração.

Isenção – situação objetivamente prevista na lei que não carece de reconhecimento


por parte da Administração Pública.

Dispensa – há ato administrativo, mediante o qual a Administração Pública vai


exonerar alguém pelo cumprimento de um dever geral, de caráter imperativo, a que
está obrigado.

Quer os deveres, quer as proibições têm vários graus, há uma graduação de


deveres e de proibições.

Tenho o dever de andar nos corredores e não ir contra as pessoas, portanto, de


alguma forma estou proibido de ter um determinado comportamento que é andar no
corredor a ir contra as pessoas. Posso dizer que é uma proibição. Esta proibição tem
alguma semelhança jurídica com, por exemplo, a proibição de matar? Não. O primeiro
comportamento é uma proibição que pode ser afastada, pode ser ilidida. A segunda
em regra não pode ser ilidida. A ideia de dispensa para matar não existe.

Uma dispensa significa que há um dever geral de conduta, imposto por lei a
todos os cidadãos. Em princípio, todos aqueles que estejam em determinada situação
têm de cumprir aqueles deveres. Em determinadas situações, a administração tem um
poder discricionário de dizer quem tem aquele dever, escusa de cumprir, ou seja,
dispensar alguém em concreto, justificadamente, fundamentadamente de cumprir
esse dever.

Exemplo, os contratos, todas as entidades adjudicatárias têm de pagar caução,


determinada entidade não tem de pagar caução por razões de interesse público -
dispensa. Se estiver bem fundamentado, pode fazer isso em determinadas
circunstâncias.

Ora, eu tenho um problema com a certidão de registo criminal, dispenso. Isto é,


há um dever imposto a todos e em determinadas circunstâncias a administração vai
dizer àquela entidade concretamente, que escusa de cumprir esse dever. Pode pôr em
causa o Princípio da igualdade e, por isso, temos de ir à fundamentação.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

As isenções são muito simples e estão todas no artigo 47o.

Assunto relativo ao início da matéria:

Quando falamos no conceito de CP, para o conceito operativo de CP


importa a contratação abrangida pelo código, e a contratação excluída pelo
código.

Há um conjunto de contratos que entidades adjudicantes podem fazer,


e que não tem nada a ver com o regime do CCP.
Os contratos de direito privado que a AP e também entidades adjudicantes
celebram não estão abrangidos por este código.

E há ainda contratos, que sendo de direito publico deveriam ser


abrangidos por este código, mas que não estão: há contratação publica
incluída e excluída. A incluída é aquela que é abrangida pelo CCP, a excluída é
aquela que tem outro regime.

A contratação incluída pressupõe o interesse concorrencial: o contrato


tem de ser oneroso e as prestações contratuais têm de estar sujeitas à
concorrência, artigo 16º.
Contudo, há sempre exceções: não há direitos absolutos, nem
proibições absolutas no direito.

A regra é que os contratos têm de ter interesse concorrencial e ser


onerosos, mas há situações excecionais em que contratos sem valor podem
ser incluídos no regime da contratação pública.

Regime europeu da contratação excluída:

O regime dos CP é um regime europeu, o que damos nesta cadeira é


direito europeu. Vem de um conjunto de diretivas em mais de 90%. No direito
europeu há 5 instrumentos, sendo que dois são muito importantes: os
regulamentos e as diretivas. Os regulamentos são a verdadeira lei europeia,
que é valida e eficaz perante os estados, as empresas, os indivíduos, as AP. E
que entram em vigor no espaço europeu da mesma maneira. Já as diretivas
não: porque estas além de normalmente não terem prazo para serem
transpostas (necessidade de transposição para as fontes de direito internas),
e nem sempre são transpostas da mesma maneira nos diferentes países.

O que significa que todo o regime de direito europeu transposto, como


o CCP, tem semelhanças profundas, mas não é igual em todos os países.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

A diretiva 2014/24 possui a constatação excluída: o direito europeu


produziu esta diretiva, na qual indica o que está fora do regime dos CP. Os
códigos deveriam refletir esta ideia: mas há contratos que em Portugal estão
abrangidos pelo CCP, e que em outro país não estão. Pode dar origem a litígios
em tribunal por causa do efeito direito das diretivas. Através do qual se prefere
a aplicação da diretiva face à lei nacional.

Em matéria de contratação excluída, esta diretiva é mais ampla nas


exclusões do que o direito nacional.

O CCP inclui contratos que a diretiva diz que podem ficar excluídos.
Princípio da transposição mínima, há uma certa discricionariedade consentida
na transposição, daí os Estados não transporem por completo a diretiva.
Porque se copiasse a diretiva por completo seria um regulamento, e já não
uma diretiva.

Contratos de procura publica, são na verdade contratos de


compras/aquisições publicas. A expressão procura decorre de uma tradução
literal do termo inglês procurement.

Outras exclusões são feitas do ponto de vista conceptual, e outras


decorrem da própria lei: do próprio CCP ou outra lei.

Se conceptualmente aquele contrato é um CP, a regra é que se aplica o


CCP. Apenas não se aplica quando o próprio CCP o diz, ou quando outras leis
o dizem.

Tratados internacionais têm valor superior à lei - e podem também


excluir determinados contratos da contratação pública.

Exemplos de contratação excluída:

1. Quando um contrato é feito à luz da legislação internacional, em regra não se


aplica a lei portuguesa, mas sim a lei internacional.
2. Os contratos de setores especiais, em princípio têm regras especificas, e não
se aplica o CCP. Artigos 11º, 12 e 13º. O próprio CCP refere esta exclusão.
3. Contratos de trabalho em funções públicas;
4. Contrato individual de trabalho, regido pelo código do trabalho e não pelo
CCP, mesmo que a entidade empregadora seja uma entidade adjudicante;
5. Contratos de doação de bens móveis a entidades adjudicantes;

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

6. Contratos de CV, doação, permuta, arrendamento de bens imóveis em que


haja intervenção de entidades adjudicantes - aqui a entidade adjudicante pode
estar do lado A ou do lado B da RJ;
7. Contratos adjudicados por entidades adjudicantes OCS;
8. Contratos adjudicados a entidades adjudicantes OCS (orgãos de comunicação
social);
9. Contratos no âmbito do artigo 346º do TFUE (segurança, informações);
10. Contratos de delegação entre entidades adjudicantes (artigo 5º/2);
11. Contratos com centrais de compras (obrigação de contratar); há um conjunto
de entidades adjudicantes que são obrigadas, por razoes de economia publica,
a comprar não no mercado, mas a determinados vendedores. Nao se aplica o
CCP, pois trata-se de um contrato vinculado, há uma obrigação de contratar,
logo nunca haverá concorrência (daí não se aplicar o CCP);
12. Contratos de sociedade entre entidades adjudicantes (artigo 5º/4);
13. Contratos de direitos exclusivos entre entidades adjudicantes; entidades
adjudicantes que têm um direito exclusivo sobre um bem ou uma atividade;
14. Contratos de atribuição de subsídios ou subvenções;
15. Contratos de aquisição de alguns serviços financeiros;
16. Contratos nas áreas de defesa e segurança;
17. Contratos secretos ou com medidas especiais de segurança (segredo do
Estado);
18. Contratos de aquisição de serviços I&D;
19. Contratos de organismos de direito público e Banco de Portugal (artigo 5º/8)
com exceções;
20. Contratos de serviços sociais e outros inferiores a 750.000 EUR;
21. Contratação excluída por legislação avulsa - só por lei…

Quase todas as exceções, são feitas pelo próprio CCP.


Tem de ser uma fonte que tenha o mesmo valor hierárquico do CCP, a
poder excecionar. Lógica das fontes de direito.

Contratos in house (contratos internos)

Todos sabemos o que são contratos internos, aqueles que são


celebrados dentro da mesma estrutura jurídica. Atualmente, com a formação
de grades conglomerados, quer na AP, quer em entidades privados, muitas
vezes são feitos de centenas de entidades com autonomia financeira e de
gestão.

Logo, às vezes é difícil sabermos o que é verdadeiramente interno. Se for


externo já se aplica o CCP.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Requisitos europeus para ser um contrato in house:


• Requisito de controlo (análogo) entre as duas entidades; controlos
administrativos; hierarquia, superintendência e tutela. Quando analogamente
existe o mesmo tipo de controlo entre as duas entidades, análogo aos poderes
de controlo administrativo, o contrato é nosso. Se é contrato in house não se
aplica o CCP.
• Uma perfaz 80% da sua atividade em função da outra; eu tenho uma fábrica de

têxteis, e 80% da minha atividade é para fardas do exército. Então de acordo


com o direito europeu, há um contrato in house, logo está excluído do CCP.
• As eventuais participações de uma entidade no capital de outra não permitam

o controlo ou bloqueio de ações;


• Os Estados podem ampliar as restrições neste âmbito. Cada Estado pode

aumentar o número de restrições que diga ser in house.

A regra do direito europeu para saber se nas relações entre entidade


adjudicante e adjudicatário se existe ou não uma relação in house é a resposta
a esta pergunta: quem manda? Se uma entidade se pode impor à outra então
o contrato será in house.

Logo, nestas exceções em que não se aplica o CC, então o que é que se
aplica?
1º: quando não se aplica o CCP tem de se fazer uma menção expressa e
fundamentada da razão da exclusão do CCP, dentro do próprio contrato. Se
não tiver esta menção expressa o contrato pode ter uma invalidade.

O que está excluído pelo artigo 5º e 5ºA aplica-se o 5ºB.


O que está excluído por exercício de poderes públicos aplica-se o CPA
com as devidas adaptações;
A que está excluída por serviços sociais aplicam-se os princípios gerais
da contratação pública;
A que está excluída noutra legislação, ou a mesma dispõe o regime
aplicável ou aplicar-se-ão todos os princípios.

MATÉRIA PRÁTICA

Caso-prático:

A, entidade adjudicante, fez um anúncio em DR de um concurso público para contrato


público de prestação de serviços. O Edital estipulava o prazo de 30 dias a partir da data
da publicação para apresentação de propostas. Após decorridos 60 dias, A adjudicou o
contrato a Z indicando que este tinha apresentado o melhor preço.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Inconformado, C, concorrente rejeitado, vem dizer o seguinte:

1. a) Foi-lhe negado o acesso à documentação do concurso, designadamente a


que respeitava às demais propostas;
2. b) O adjudicatário Z tem como sócio-gerente uma filha do presidente da
entidade adjudicante A;
3. c) A forma legalmente indicada para aquele contrato específico seria a parceria
para a inovação dado se tratar de um projeto de investigação na área
farmacêutica.

Resolução:

Um anúncio DR, esta forma do contrato obriga a uma forma de anúncio em DR?
Um concurso público obriga a um denuncio em DR? Sim obriga. Se o valor do contrato
que não esta estabelecido neste contrato, se o valor do contrato ultrapassar aquele
determinado não só obriga os limiares europeus, a partir dos quais não só obriga a
publicação em diário da república, mas também obriga a publicação no jornal negocial
da união europeia,

Esse anúncio tem o nome de edital. E qual a importância desta? É meramente o


princípio da publicidade? O anúncio tem de estar a li o que proposta deve conhecer.
Muitas vezes quando alguém se candidata aquilo que se faz é enviar o chamado
caderno de encargos. O edital é o anúncio, mas a partir do momento na segunda fase
(ainda não deu), supor que nem todos preenchem as condições que estão no edital e
que o professor considera fundamental, a partir do momento em que alguém foi
aceite já posso enviar o caderno de encargos para o concorrente.

Aquele que quer ser concorrente tem de conhecer para já as condições que
estão no edital. Passado 60 dias, A adjudicou o contrato a C, ou seja, adjudicou e disse
que a razão seria única e exclusivamente que seria o valor do contrato. Nós vimos
ontem o artigo sobre o valor do contrato. o valor do contrato é só o preço que esta no
contrato?

Pode haver contrato público por prestação de serviços? É admissível ou não?


há um procedimento com efeitos para se realizar um determinado contrato, se aquele
procedimento é admissível. É admissível o contrato público para prestação de
serviços? (ele pode colocar um determinado modelo de procedimento um contrato
que é inadmissível) neste caso é, porque o concurso público adequasse a isto e não se
que mais, mais o concurso público é a regra, em princípio todos os contratos públicos
deviam, entre a forma de concurso público, não tem por um conjunto de razoes legais
ou de natureza do próprio contrato. A adjudicação direta não se faz por concurso
público porque tem um determinado valor que é considerado baixo de mais para tanta
mão de obra e depois outras questões de natureza.

Um concorrente que foi rejeitado, a sua proposta não foi a posposta vencedora
e vem dizer o seguinte: que lhe foi negada o acesso a informação do concurso as que
respeitavam as demais propostas. ou seja, a entidade adjudicante diz que esta tem
melhor preço, mas ela não pode conferir e após o processo de adjudicação estar

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

fundo. Estamos perante documentos administrativos que por definição são de acesso
púbica, portanto a primeira coisa que se pede é querer ver a documentação.

E deve fazer sempre isso porque pode haver erros. E então interessa que a
documentação seja fornecida independentemente de que para que que vai servir a
documentação.

Quem é que tema cesso a documentação administrativa?

O próprio (não é o caso), aquele que tem um interesse legalmente protegido


que esta subjacente aquela informação pedida. Ora se eu sou cointeressado ou
contrainteressado, isto é, se eu participei num concurso para concorrer e foi rejeitado
o meu interesse legalmente protegido está provado a saciedade.

Ele tem, o concorrente depois de ser rejeitado chamasse contrainteressado, ele


é concorrente o concurso acabou ele passou a ser contrainteressado. O interesse dele
é estar contra aquela decisão. Ele é cointeressado quando era concorrente, a partir do
momento me que há decisão ele já não é cointeressado, mas sim contrainteressado. A
decisão foi contra os seus interesses ele eventualmente pode querer reclamar ou
recorrer em tribunal.

Que é um direito fundamental esse direito está tutelado, ele tem direito a
informação. Ele pede e foi negado. Qual o princípio que esta a ser violado? O princípio
da informação. Que esta previsto no CPA e que esta previsto na LADA.

Princípio da informação previsto no CPA, na constituição e designado na LADA.


O adjudicatário C tem como socio gerente uma filha do presidente da entidade
adjudicante A. t

Temos aqui um conflito de interesses. nesta situação estamos perante um


conflito de interesses. Designasse por conflitos de interesses a situação subjetiva do
titular de um órgão administrativo em relação ao interesse representado pelo cidadão.

No caso vertente este conflito de interesses consubstancia se em que tipo de conflitos


de interesses temos aqui? Então quem adjudica vai adjudicar uma empresa cujo
sócio- gerente é sua filha? Há um problema?

Nota: incompatibilidade tem a ver com o exercício do cargo, ou sejas A não


pode exercer aquele caso, estas naos e presumem, ou estão na lei ou não vale a pena
falar disso. o impedimento não tem nada a ver com o titilar ser titular do cargo tem a
ver com a possibilidade de o titular decidir aquele caso. Aqui há um impedimento.
Então nunca a empresa Z podia ser a empresa adjudicatária daquele contrato, é isso?
Se o presidente da camara é o pai da senhora, a empresa nunca mais pode ter uma
relação jurídica com a camara? Princípio da concorrência e princípio da igualdade.

A pessoa só por ser sócia de uma empresa fica arredada do comercio jurídico? Não
pode ser. Então como se resolve isso?

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Basta que o pai da menina nunca participe no procedimento porque o contrário


ela esta varrida não pode. Juridicamente isto nunca é aceitável, princípio da igualdade
princípio da concorrência. Não podemos admitir que a mesa leve um pontapé e saia do
mercado só porque tem um tio não sei onde é um pai não sei onde.

Portanto, o que nos temos de ver é se existe ou não intervenção no


procedimento concursal por parte do titular da entidade adjudicante. Se existiu há um
vicio, foi ferido o princípio da imparcialidade, se ele se declarou impedido e não
participou no procedimento que é o que um bom titular de cargo administrativo faz e
tem de ficar me ato, fica expresso.

Um termo administrativo onde se diga que ele não tomou parte do


procedimento por vontade própria, delicado se impedido. E sendo substituído se for o
caso, se for um órgão colegial não precisa de ser substituído, basta só não participar.
Se for um órgão singular e não tiver competência então tem de ser substituído. e se
isso aconteceu não houve vicio nenhum.

C) há de facto um procedimento concursal adequado a investigação, que é a


parceria para a inovação. Qual o problema que aqui se coloca? Será que este
procedimento pode ser sujeito a forma de concurso público? Ou tem obrigatoriamente
a ser sujeito a parceria para a inovação? Devia seguir a parceria. Não existe outra
maneira.

O contrato está viciado por seguir a forma de concurso público? Não.

A logica dos contratos públicos é proteger a oportunidade que todos os


colaboradores de um dado mercado relevante, este é que e a logica, existe para isso. A
forma regra é o concurso público.

Depois temos outras formas que se adequam melhor a determinados tipos de


contratos. Porque são contratos com valor económico levezinho ou porque são
contratos que se adequam melhor a uma outra forma que não seja a forma regra. Se a
escolha do procedimento através de concurso público não prejudicou os direitos de
ninguém. isto é, nenhuma oportunidade, nenhum direito foi lesado ou danificado de
alguma maneira, prejudicada pela decisão de seguir a forma regra e não pela forma
especial, em princípio pode. E não há vicio.

Completamente diferente seria se seguíssemos o ajuste direito sendo que o


valor obrigava a concurso público e aí já havia um vicio tremendo. Mas aqui não
porque todos os direitos dos concorrentes são respeitados na forma de concurso
público como seriam na forma mais adequada no tal deve da parceria para a inovação.

O concurso público não só é a regra como em princípio pode ser aplicado a


praticamente todos os procedimentos concursal desde que a entidade adjudicante o
fundamente.

O fundamental aqui é que a entidade adjudicante dissesse, não, eu fiz o


concurso público por esta razão e por esta razão. E como o concurso público pela sua

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

natureza não vai lesar os interesses de ninguém, então ninguém se pode queixar.
Questão da aceitação:

A partir do momento em que ele concorre e aceita o procedimento tal como


ele esta não pode vir a posteriori que aquilo que ele aceitou antes não era aforma
indicada. A não ser que prove o prejuízo. Mas como me princípio não há prejuízo
nenhum. Eu não posso recorrer de um ato que aceitei.

Caso prático:

A pessoa coletiva pública A fez um anúncio em DR de um concurso público para


contrato em que se pretende que o adjudicatário desempenhe funções de direção de
um serviço público de segurança que integra a pessoa coletiva A. O contrato foi
adjudicado a B, entidade privada polaca.

Quid iuris

Temos uma pessoa coletiva pública, portanto, faz parte da administração


pública em sentido formal. Pode ser uma entidade adjudicante, mas o professor não
refere que é uma entidade adjudicante apenas que é uma pessoa coletiva pública

Faz um procedimento de anúncio, de início de um procedimento concurso


tendo em vista a realização de um concurso público. E o que está em causa é as
funções de direção de um serviço público de segurança.

O que faz parte da organização administrativa, quais são os elementos


fundamentais? São as pessoas coletivas, os órgãos das pessoas coletivas públicas e
serviços públicos.

O que são serviços públicos? Quando falamos em serviços públicos pensamos


serviços ao público, por exemplo uma tabacaria, mas não é de interesse público
administrativo.

Então a administração pública é composta por pessoas coletivas, órgãos


administrativos públicos e serviços públicos, departamentos, direções gerais. O que é
isso? Organizações humanas dentro das pessoas coletivas, nomeadamente, dentro das
mais complexas que servem para auxiliar as tarefas dos órgãos, logo não têm
competências próprias. A direção geral não tem competências. Quem tem
competências é o diretor geral.

A repartição de finanças não tem competências quem tem competências é o


diretor, chefe das repartições das finanças. Órgãos dentro das pessoas coletivas
complexas, o exemplo tipo é o estado.

Nota: as direções gerais são os serviços públicos mais importantes neste país, é
na lógica francesa. As direções gerais são importantes em Portugal, mas são mais
importantes em frança e na Itália. A administração tem um trabalho permanente.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

O que esta em causa a direção de um serviço público de segurança, por exemplo PSP.
Para uma determinada entidade adjudicatária.

O concurso público é o procedimento tipo regra do quê? Contrato público, isto pode
ser feito por contrato público?

Não. Estão excluídos dos contratos públicos aquilo que, à partida, são tarefas
iminentemente administrativas não sujeitas a concorrência. Tem de ser um contrato
administrativo. Mas, obviamente, que nós não podemos fazer um contrato público de
um bem de mercado sujeito a concorrência dizendo que esse bem sujeito a
concorrência é a segurança pública, se fosse segurança privada estava ok.

Aquilo que nós chamamos fatores de administrabilidade estão todos presentes,


só poder ser um contrato administrativo. Nunca um contrato público, isto não é um
bem sujeito a concorrência.

Há uma coisa que se chama OPC que são órgãos de polícia criminal que são as
entidades que tem competência legal para fazer investigação criminal.

Quem são estas em Portugal? Embora especialmente especializadas. A PJ, PSP,


GNR, Polícia da autoridade fiscal.

Este contrato os fatores de administrabilidade eram óbvios designadamente


um serviço público de segurança, matéria inerente à soberania do Estado, não é um
bem sujeito a concorrência, portanto, não está no mercado este bem. Se,
eventualmente, houvesse lugar há realização de um contrato este seria um contrato
administrativo e não um contrato público sujeito a concurso público.

Caso prático:

A entidade adjudicante C pretende realizar um contrato administrativo de


empreitada de obras públicas no valor de 60 mil euros. Fundamenta a sua decisão na
urgência do procedimento.
Quid iuris

O que é isto de empreitada de obra pública?

É o objeto do contrato público, portanto, é um contrato administrativo não um


contrato público. Artigo 16o no 2, estes são sempre contrato públicos. Não pode ser
um contrato administrativo entendendo um contrato administrativo strito senso.
Tinha de ser um contrato público por via do artigo 16o.

O valor, para vermos se é por concurso público ou ajuste direito. Qual é o valor
máximo do ajuste direito de empreitada de obras públicas? 30 mil euros, portanto,
não podia ser nunca por ajuste direito, tinha sim de se realizar um concurso público.

No entanto, a entidade adjudicante alegou que isto é urgente e onde poderia


ultrapassar a essa situação. Vamos à urgência. Existem contratos urgentes ou não?

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Sim, significa que temos uma tarefa de interesse público que temos de realizar, mas
não há tempo, daí a figura da urgência.

A figura da urgência pode ultrapassar a questão do valor, em que termos?


Posso fazer por adjudicação direta, um contrato que diz que tem de ser por concurso
público por urgência?

Pode adotar-se, mas tinha de ser por concurso público e não por adjudicação
direta.

Há alguma coisa que permite fazer o contrário?

Em termos de tempo, de dias, demora muito mais um concurso público do que


uma adjudicação direta. Em termos de tempo não tem comparação. Quando se alega
urgência é para ultrapassar o concurso público e para fazer uma coisa mais rápida. É
possível ou não? Não é possível transformar em adjudicação direta, mas é possível
transformar em concurso público urgente.

Qual a diferença de concurso público e concurso público urgente?

A diferença é nos trâmites do procedimento. Pode constituir crime. A urgência


do procedimento permite uma forma urgente de concurso público e não uma forma
de transformar o concurso público na adjudicação direta.

No caso que o professor nos falou a defesa disse que era um procedimento
urgente, mas cai pela base, a preocupação do decisor é não retirar o núcleo duro da
concorrência, do princípio da concorrência, está limitado a um concurso público
urgente, mas existe. Saltam-se umas fases e uns trâmites, mas existe a oportunidade
de poder concorrer.

Caso-prático:

A entidade adjudicante B celebrou um contrato por ajuste direto com escritório


de advogados C, pelo preço de 2,3 milhões de euros. Objeto do contrato: "Aquisição
de serviços de assessoria jurídica e de patrocínio judiciário."

A entidade adjudicante justificou o recurso ao ajuste direto com a "ausência de


recursos próprios". O contrato mantém-se em vigor pelo prazo de três anos, contados
a partir da data da sua outorga". O referido montante de 2,3 milhões de euros será o
"preço máximo a pagar" acrescido de IVA à taxa legal em vigor".
Face ao exposto responda:

1. As contratações por ajuste direto estão sujeitas ao princípio da concorrência e


ao princípio da transparência?
2. Sabendo que a fundamentação da decisão de contratar foi a de "por motivos
técnicos" não existir concorrência neste mercado relevante, justifique a sua
resposta à luz do CCP

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Resolução:

Temos um ajuste direto, o preço a pagar são 2.3 milhões durante 3 anos e é o
preço máximo. Já vimos que o preço não é o valor do contrato, ou pode não ser (em
determinadas situações sê-lo-á, noutras não será).

Temos de analisar a ideia da justificação ou da fundamentação, que é a


ausência de recursos próprios. Como estamos a falar de um escritório de advogados, a
entidade adjudicante está nos a dizer que faço este contrato porque não tenho um
corpo jurídico próprio.

Antes de responder às questões, vamos fazer a análise do contrato: vamos


começar pelo valor: o valor do contrato é 2.3 milhões e este é o preço máximo possível
a pagar pela entidade adjudicante ao adjudicatário pelo período de 3 anos. O contrato
é um ajuste direto e é uma aquisição de serviços de acessória jurídica e patrocínio
judiciário, portanto, consultadoria e representação em juízo.

O valor do contrato corresponde ao preço neste caso em concreto? Artigo 17o.

Um sistema de aquisição dinâmico é um contrato que prevê o fornecimento de


serviços (prestação de serviço, ou entrega de bens) que seja contínuo durante a
vigência do contrato. Por exemplo, eu faço um serviço de catering é dinâmico porque
independentemente das circunstâncias, há ali um fornecimento a vários dias da
semana, com determinadas regras.

O contrato do caso-prático é dinâmico? É dinâmico porque não é uma


prestação absolutamente certa e determinada durante o período vigente no contrato.
Como todos os contratos de avença, que são contratos de direito privado celebrados
pelos escritórios de advogado pode haver meses que não se faz nada e recebesse na
mesma e pode haver meses que só se trabalha para aquilo.

O valor do contrato é o valor máximo, portanto, é 2.3 milhões de euros.


Sabendo que o preço é o valor máximo previsto no contrato, coloca-se aqui o
problema em relação ao próprio procedimento do contrato.

Qual é o problema? O valor do contrato é muito superior ao permitido no


ajuste direto. A norma que prevê para aquisição de serviços o valor máximo é o artigo
20o/1 alínea d). O valor máximo é 20 mil euros, não distinguindo nesta forma de
procedimento contratual se é um contrato com o preço dinâmico ou não.

Como é bom de ver, o valor de 2.3 milhões ultrapassa em muito os 20 mil. (isto
é uma situação verdadeira que ocorreu mesmo).

Qual é a escapatória? Ou isto é uma grosseira ilegalidade? Será que um dos


principais escritórios do país ia fazer uma ilegalidade tão grosseira?

A válvula de escape é o chamado, a figura do contrato urgente,


designadamente uma norma alçapão que permite que seja feito por ajuste direto,

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

artigo 24o, que é o procedimento concursal mais simples e rápido, quando em


princípio não poderia ser por Ajuste Direto. Princípio da legalidade, artigo 3o/2 CPA –
em caso se estado de necessidade podem ser adotados comportamentos pela
administração com preterição, afastando as regras. É esta a justificação.

Alínea c) artigo 24o - “Estritamente necessário” – ideia da proporcionalidade


ligada à urgência em que aquilo que é afastado só é mesmo aquilo que tem de ser
afastado. Na justa medida, a medida proporcional ao fim que se quer atingir.

“Urgência imperiosa” – não existe esta figura no direito, existe urgência


extraordinária e existem circunstâncias excecionais.

Uma coisa é uma situação de necessidade, aquela em que o interesse público


tem de ser cumprido, mas tem obstáculos, outra coisa era o tempo, isto é, não tenho
tempo para cumprir o fim do interesse público.

Os obstáculos que se colocam à prossecução do interesse público,


normalmente, refletem-se em tempo, mas pode não ser assim, pode haver outro tipo
de obstáculos que não têm a ver com o tempo. Ora a urgência, nem que seja
imperiosa, tem sempre a ver com o tempo, é sempre uma lógica temporal. A entidade
adjudicante não consegue cumprir o interesse público quando este tem de ser
cumprido.

“resultante de acontecimentos imprevisíveis” – imprevisibilidade, circunstâncias


excecionais, imprevisíveis face à lógica da normalidade. Na normalidade, na pacatez da
decorrência dos factos, aconteceu qualquer coisa que fez com que o desenvolvimento
normal do interesse público não se desenrolasse como se devia desenrolar.

1o requisito proporcionalidade; 2o requisito falta de tempo;


3o requisito a questão da anormalidade/excecionalidade/imprevisibilidade;

Temos 3 requisitos e das duas uma, ou os 3 requisitos estão presentes e


aceitamos, ou os 3 requisitos têm algumas falhas e isto é uma grandessíssima vigarice.

1o requisito – na justa medida – isto é, o sacrifício causado e o sacrifício é


pontapeado na forma normal e legal de procedimento contratual escolhendo uma
outra, é proporcional ou não? Como vamos medir? Qual a fita métrica que nos leva a
medir a proporcionalidade? É o valor, sendo que o seu limite é 20 mil, e no caso temos
2.3 milhões. É proporcional? Não parece. O limite poderia ser ultrapassado à luz dos 3
requisitos, mas na justa medida.

A primeira coisa que nos salta à cabeça é a proibição do excesso, um elemento


essencial do Princípio da proporcionalidade.

Esta proibição do excesso poderia, eventualmente, ser equacionada com um


valor que fosse um valor não tão grosseiramente excessivo. Passar um limite de 20 mil
para um valor de 2.3 milhões tinha de ser muito bem justificado.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Assim, o valor é manifestamente excessivo em relação ao valor.

2o requisito – urgência imperiosa – num contrato desta natureza, de


consultadoria e representação em tribunal, a urgência só se poderia colocar em
relação a um caso específico ou uma tarefa específica. Ora, este contrato tem o prazo
de 3 anos, portanto, é um contrato que abrange toda e qualquer prestação, um
parecer, uma opinião, uma consulta jurídica, para qualquer assunto que surja durante
3 anos. Então, a urgência cai por base, porque a urgência está ligada não só há
situação de necessidade, mas também há impossibilidade de cumprir o fim de
interesse público a tempo.

Então, a urgência só se poderia colocar se o Banco de Portugal dissesse que iria


contratar aquele escritório de advogados porque tinha um problema tremendo nas
mãos, que tem de resolver, e os 150 juristas que estão no Banco de Portugal não
servem para resolver e, portanto, tenho de ir buscar aquele especialista, aquele
escritório.

Para uma prestação de serviços duradoura, para o que der e vier, durante 3
anos, onde está a urgência? A lógica da urgência imperiosa cai pela base. É aquilo que
na doutrina de direito administrativo se chama de fraude de urgência, ou seja, apelidar
ou qualificar um comportamento administrativo de urgente quando os pressupostos
da urgência não estão lá.

3o requisito – acontecimentos imprevisíveis – quais? Alteração da ordem


pública? Conflito bélico? Houve uma epidemia e faleceram todos os juristas do Banco
de Portugal? Ficaram incapazes?

Não basta alegar. A fundamentação de um contrato, perante a alteração de um


procedimento que a lei exige é uma fundamentação muito semelhante a uma decisão
administrativa, até porque é uma decisão administrativa. Tem de fazer perceber , não
apenas às autoridades judiciais, mas também a toda a gente, incluindo aos demais
concorrentes, que há ali uma alteração da normalidade tão extraordinária que fazia
que só aquele escritório de advogados fosse contratado para receber esta avença.

Os 3 pressupostos da qualificação de um contrato que devia ser por concurso público


em ajuste direto, nenhum deles vingou.

Os pressupostos são cumulativos.

A fraude da urgência é cometer uma ilegalidade. Fizemos um CCP para haver


regras homogéneas em todos os países da UE, para permitir igualdade de
oportunidades no mercado relevante. No mercado relevante da advocacia, só podiam
concorrer escritórios de advogados. A entidade pública retirou as oportunidades aos
demais agentes do mercado, feriu os princípios da igualdade e da concorrência, por
razões que ninguém entende.

O Banco de Portugal tem uma tutela que é o Banco Central Europeu. O


Governo não manda no Banco de Portugal.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Princípio da transparência tem de estar presente, o jogo tem de ser


“mostrado”. Se eu vou fazer um ajuste direto com este adjudicatário e dos restantes
não quero saber, isto viola o princípio da concorrência. Saber que a fundamentação foi
por motivos técnicos, não existir concorrência neste mercado relevante, isto é
verdade? Só há este escritório de advogados? Não!

Caso prático

Foi publicado em DR um anúncio para concurso público de “Empreitada para


Sistema Fotovoltaico de Autoconsumo”, pelo preço base de 356.990,67€, sendo o
critério de adjudicação o da proposta economicamente mais vantajosa, com uma
ponderação de 40% no fator da “Avaliação Técnica” e de 60% no fator “preço”. O júri
do concurso pronunciou-se no sentido de que os módulos fotovoltaicos apresentados
na proposta A cumprem as características técnicas mínimas obrigatórias e propôs A
como proposta vencedora por ser a economicamente mais vantajosa. Esta posição foi
sufragada pela entidade que lançou o concurso.

A entidade da proposta B quer impugnar por entender que há erro evidente na


apreciação programa por parte do júri do concurso e da Entidade Adjudicante por
terem abusado de discricionariedade nessa apreciação do fator da “Avaliação Técnica”

Quid júris?
Antes de começar a resolução do caso prático:

O direito não é linear, falamos de princípios e regras que estão no CCP que à
partida aplicando declarativamente esses princípios as decisões deverão ser aquelas,
mas que por vezes, isso não é assim. Portanto, há duas formas de resolver casos
práticas, a forma académica, e depois vamos ver o que os tribunais dizem sobre o
assunto.

Nem sempre o modo como resolvemos as hipóteses práticas é, exatamente a


forma como as mesmas questões são resolvidas depois nos tribunais, porque há
diferentes orientações e perspetivas.

A dificuldade que se tem em transformar acórdãos em casos práticos, é que há


uma factualidade enorme.

Resolução:

Critério monofator – proposta mais vantajosa e são 99% dos concursos. Só que
este critério no caso está dividido em 2, portanto, nem sequer é monofator, neste caso
temos um multifator. O critério de escolha tem 2 componentes: a proposta
economicamente mais vantajosa e o outro, 40% é a questão técnica. Aconteceu aquilo
que acontece em muitos concursos.

Há uma proposta muito melhor que a outra, muito mais avançada, mas o preço
também é mais alto.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Há uma proposta que é mais barata, a e há uma proposta que é mais cara, mas
tecnicamente é muito mais avançada. Ora, a questão aqui é uma questão de se saber
se os critérios técnicos exigidos cabem na admissibilidade ou não cabem, porque a
proposta A será sempre a mais vantajosa pelo critério primeiramente enunciado, se
ela conseguir meter o “pé” dentro do concurso. A empresa B que tem um trabalho
técnico incomparavelmente melhor e ser reconhecido no caso, é mais cara.

Em contratos este é o pão nosso de cada dia e quem, normalmente, ganha são
os piores. Os piores porque baixam o preço, mas prescindem dos critérios técnicos.

A proposta B quer impugnar a decisão porque diz que há erro evidente na


apreciação do programa por parte do júri e da entidade adjudicante por terem
abusado. Nos 40% da avaliação técnica, encaixaram a proposta A dentro dos limites do

concurso, ao fazerem isso acabaram por tomar a decisão.


- Discricionariedade administrativa (tema fundamental que não demos).

A única questão que aqui interessa saber é saber se o júri podia fazer o que fez.
A proposta encontra-se subsumida à ideia dos critérios técnicos. Ora, muitas vezes, a
discricionariedade administrativa, isto é, o poder de escolha do agente administrativo
dentro da margem de imprecisão que a norma tem. A norma é como um ovo
estrelado, tem a parte da gema que é o núcleo da certeza da norma, se a norma não
tiver uma parte de gema, não é uma norma jurídica.

Ora, este núcleo de certeza jurídica é aquele há cerca do qual não tem de haver
unanimidade, mas há um implícito consenso há cerca do seu significado, ou seja, a
norma refere-se a isto e quer dizer aquilo. Só que depois grande parte das normas
jurídicas têm uma aureola de imprecisão interpretativa à sua volta que é a clara do ovo
e aí, nessa margem, nessa clara do ovo, o agente pode escolher uma atitude ou
comportamento que, eventualmente, se insira dentro da clara do ovo. Às vezes,
engana- se e sai do ovo, se for dentro da clara do ovo chama-se discricionariedade,
mas depois temos outro problema que é o que nos importa aqui.

O grande problema, é que muito bem o agente atuou na clara do ovo,


discricionariamente, cumprindo os requisitos mínimos. Há requisitos máximos, médios,
secalhar a proposta B tinha os requisitos máximos do ponto de vista técnico, mas esta
acaba por preencher os mínimos. O aferidor é o júri, é um órgão de consulta, ad hoc,
que se formou para aquele concurso e que vai dizer do ponto de vista técnico se a
proposta se insere ou não dentro daqueles requisitos mínimos.

E depois, o tribunal? O tribunal respeita a decisão discricionária ou pode ter


outra decisão discricionária de que teve o agente administrativo? A proposta B tem de
impugnar a decisão da entidade adjudicante.

Muitas vezes, a decisão administrativa é uma palavra e ponto final. Mas é só


uma frase, dizendo que concorda com a decisão e fundamentação do júri. Todas as
decisões têm de ser fundamentadas, mas a fundamentação já está no que o júri diz.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

A decisão administrativa, a única que podemos impugnar é a decisão da


entidade adjudicante. Temos de perceber se a entidade administrativa ao seguir o
parecer do júri, agiu discricionariamente e podemos ver se o tribunal pode ir “em
cima” d e uma decisão discricionária. Se os factos apresentados pelo júri forem
corretos, se não há um erro manifesto e grosseiro, que pode acontece em decisões de
concursos públicos.

É um erro evidente, não é um lapso, é um erro crasso que motivou aquela


decisão. Há uma margem de decisão da ad que é livre.

Se a decisão daquele júri se baseou naqueles factos e apreciou a decisão


daquela maneira o tribunal depois não pode vir fazer uma apreciação diferente,
porque é uma margem de livre decisão administrativa. Então quando o tribunal pode ir
em cima daquilo?

Se os elementos factuais não forem aqueles. Se o júri diz que os critérios


mínimos era X e não é, era Z e então a entidade B vai impugnar a dizer que eles se
enganaram. O tribunal não é administração, o tribunal português, por enquanto,
apenas aprecia a legalidade e não propriamente o mérito das decisões.

Os tribunais administrativos só devem apreciar a legalidade da atuação da


administração, isto é, tem de apreciar se a decisão da atuação administrativa está ou
não de acordo com a legalidade exigida. Não podem estabelecer critérios porque é a
interpretação que ele faz. Isto não faz sentido, não somos governados pelos juízes,
mas sim pela lei, cabendo aos juízes aferir da sua aplicação.

Às vezes o tribunal faz de administração. Cada vez mais há a tendência de que o


juiz aprecia mais do que a mera apreciação da legalidade.

Posso pedir ao juiz para obrigar a administração a praticar um ato que não
praticou e devia ter praticado, porque a administração foi omissa. Posso pedir ao juiz
que a administração se abstenha de determinado comportamento. Há momento no
nosso ordenamento contencioso em que o juiz da ordem à administração em relação
às competências administrativas, mas isso só acontece porque a lei lhe dá essa
possibilidade em concreto. Aqui quem fixa os critérios é a administração e depois
temos aqui uma questão que se chama interpretação autêntica. O sistema normativo é
comporto por regras normativas, sendo a tarefa mais importante a interpretação. A
interpretação autêntica é a que é feito pelo órgão que a faz.

Quem faz o programa do concurso? O regulamento?

É a entidade adjudicante. Quando a entidade adjudicante está a dizer que o


que quer dizer com o programa do concurso é “isto”, está a fazer uma interpretação
autêntica porque foi ela que a fez.

Só há erro evidente, se houver algum elemento factual, neste caso um requisito


técnico que esteja presente no programa e não tenha sido considerado pelo júri, dizer

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

que o júri analisou pelos mínimos e que há uma proposta que tecnicamente é melhor
não chega, o júri tem esse poder discricionário.

Há uma questão, na discricionariedade que, normalmente, os tribunais


portugueses não se metem (os alemães sim), que é a discricionariedade técnica. A
discricionariedade técnica é quando o poder de escolha do agente, ou seja, da
administração é baseado em critérios estritamente técnicos, como a engenharia,
biologia, farmacologia e vou impugnar uma decisão. Na discricionariedade técnica o
tribunal não se mete. Em matéria de escolha técnica o tribunal não se mete.

Em relação ao caso, não houve abuso da discricionariedade a não ser que tenha
havido erro grosseiro.

Acórdão - 0031/21.9BECBR TCA Norte.

Se o júri no exercício da sua discricionariedade técnica se pronunciou no


sentido de que aqueles módulos cumprem as características técnicas mínimas
obrigatórias e esta decisão foi sufragada pela entidade adjudicante não existe qualquer
fundamento para a exclusão da proposta. Do mesmo modo, se a entidade que lançou
o concurso entendeu que o programa elaborado por ela apenas exigia que apenas se
fizesse menção a tal, trata-se de uma interpretação autêntica, também por esta via
não se verifica motivos de exclusão.

Uma apreciação de mera ligada por parte do tribunal, não se meteu em


interpretações técnicas. Os tribunais em princípio, dentro da lógica da
discricionariedade, o poder de escolha do agente administrativo face à parte
indeterminada da norma, nunca se pode atacar uma decisão defensável.

Teoria da defensabilidade - Uma decisão defensável, é uma decisão legal, conforma a


lei e, eventualmente, até podia haver uma melhor, mas esta é legal e defensável. Se
for defensável, isto é, existirem argumentos à luz da lei para manter a posição, não
interessa qual escolho.

Caso-prático:

A entidade adjudicante TP fez publicar anúncio de abertura do concurso público


internacional para celebração de um contrato de aquisição de serviços de conceção,
construção, decoração, transporte, montagem, desmontagem, armazenamento e
manutenção de stand, assistência técnica, serviços técnicos e outros serviços
indispensáveis à presença em feiras de promoção e formação do Turismo de Portugal,
IP.

Foi escolhida a proposta da entidade A. Contudo, B pretende impugnar a decisão de


adjudicação alegando:

1. Existiu uma participação na elaboração nos documentos utilizados no Programa


do concurso pela Entidade A mediante a sua participação num concurso
anterior.

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

2. Assim, ter-se-á violado o disposto no art. 55o/1 i) do CCP, e os princípios da


imparcialidade, da isenção, da concorrência, da boa-fé, da tutela da confiança e

da transparência.

Resolução:

No programa do concurso, que era extremamente complicado, com vários


anexos e alguns desses documentos foram feitos pela entidade A, que depois vem
participar neste concurso.

Tinha havido um concurso anterior que caiu e para o caso não interessa porque
caiu. A entidade A concorreu, o concurso caiu e não houve concurso. No programa do
novo concurso a entidade adjudicante de Turismo de Portugal incluiu algum material
da entidade A no programa. B vem dizer que há uma intervenção da entidade A no
programa do concurso.

A entidade A participou na feitura do programa e depois foi concorrer. Está


afetado o princípio da imparcialidade, ninguém pode participar numa decisão
administrativa e depois dela ser destinatário (o próprio, cônjuge, ou situação análogo)

Princípio da isenção significa a equidistância que o decisor tem de ter dos


interessados.

Princípio da concorrência: quer dar o mesmo número de oportunidades a todas


os agentes do mercado relevante. Se alguém tem uma oportunidade maior que a
outra, já o princípio da concorrência e da igualdade estão violados

Princípio da boa-fé – onde pode ter sido violado? B sente-se enganado,


concorre a pensar que são todos iguais e afinal de contas havia alguém, A, que tinha
vantagens.

A tutela da confiança, quando concorro a um concurso público e está tudo


tutelado na lei, eu tenho confiança de que tudo vai acontecer de acordo com a lei.

Acórdão - AC STA 01339/18. 4BELSB

A não admissibilidade de A, como concorrente ao procedimento concursal em


causa por impedimento previsto exigiria a verificação cumulativa de 2 requisitos: por
um lado que a sua verificação se tivesse verificado no presente procedimento e não
noutro. Não é o mesmo concurso, ainda que os documentos são os mesmos; e que tal
tivesse proporcionado uma vantagem real.

O procedimento administrativo findo, os documentos são de livre acesso,


qualquer concorrente podia ser consultado, art. 5o da LADA.

O tribunal de recurso decidiu a favor da impugnação e depois é que subiu ao


supremo. Os documentos que entraram no programa podem ter sido feitos pela

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

empresa A e não neste, a partir do momento que o concurso é anulável, todos podem
ir consultá-lo.

Não se terá provado em juízo que a concorrência leal tivesse sido limitada pelo
facto de existir aquela participação na elaboração dos documentos. – Decisão
defensável segundo o professor.

Caso-prático:

O município X celebrou um contrato com o Ministério das obras públicas,


visando a construção e um sistema de abastecimento público de água e saneamento.
Nos termos do acordo, as verbas seriam pagas pelo Estado em 60% cabendo o restante
ao município. Já com o contrato em execução, o Governo modificou unilateralmente o
mesmo passando a caber ao município a responsabilidade maioritária relativa ao
pagamento (60%).

O governo alegou que essa modificação era ocasionada por uma situação de
aperto nas finanças públicas e pelo facto do tribunal de contas ter recusado o visto.

Resolução:

Este é um contrato administrativo de cooperação paritária, aquilo que se


chama um contrato interadministrativo e não um contrato de subordinação, como
muitos contratos de colaboração são.

Não há problemas quanto ao problema de formação, mas depois já com o


contrato a ser executado há uma intervenção do estado que diz que vamos mudar a
regra do pagamento, o Estado que pagava 60% passa a pagar 40% e o município que
pagava 40% passa a pagar 60%.

Pode fazê-lo ou não? Base legal?

As modificações de contratos estão no artigo 1312o (nos poderes). Estamos


perante uma modificação contratual do contrato perante um dos contraentes, não há
decisão judicial, nem arbitragem. Estamos no âmbito de um contrato paritário, entre 2
contraentes públicos, pelo que isto não se pode colocar!

Os poderes de modificação, ius variandi, ou estão especificados no pp contrato,


ou então não cabe a um dos contraentes sobretudo quando são ambos representantes
do interesse público, a logica do interesse público pertence aos 2, aqui não pode haver
esta modificação pelo que ela é completamente ilegal.

Entretanto, o Estado diz que não tem dinheiro, mas depois o diz que o Tribunal
de Contas recusou o visto. O visto tem de ser dado, ou seja, a intervenção do Tribunal
de Contas é prévia (não é há celebração do contrato), tem de ser depois a celebração
do contrato, antes da execução. Primeiro erro o contrato já está a ser executado,
segundo, não há um problema do visto com o Tribunal de Contas, para além do
tempo?

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

Os contratos administrativos não carecem de visto, nos termos do artigo 47o


alínea i), que diz que há uma série de contratos que não precisam de visto do Tribunal
de Contas.

O fundamento é totalmente descabido para a modificação unilateral dos


termos do contrato.

Caso-prático:

A empresa X é adjudicatário de um concurso público de um contrato de


aquisição de serviços no setor social no valor de 500 mil €. Sendo entidade
adjudicante, o centro distrital de Segurança Social do Porto.

Com o contrato já a ser executado, o centro distrital entende fazer cessar os


efeitos do contrato fazendo nova adjudicação sem novo concurso, à empresa Z
(mantém o contrato, mas deixa de ser a empresa que era em primeiro e passa a ser a
empresa Z, que tinha ficado em 2o lugar no concurso).

A razão para tal, decorre da falta de apresentação de documentos de


habilitação, no prazo exigido. A empresa X inconformada vem referir que a falta de
apresentação e documentos não lhe pode ser imputada já que estes foram pedidos
aos serviços competentes, mas nunca foram entregues. Acrescenta que pediu ao
centro distrital um prazo adicional, mas que nunca recebeu resposta.

RESOLUÇÂO:

Contrato na área social, foi feito um concurso público, não aparece ter aqui
nenhum problema. A empresa já está a executar o contrato e foi informada que a
adjudicação caducou pela falta de apresentação de documentos pedidos. A empresa
defende-se dizendo que pediu os documentos aos serviços competentes e não
recebeu, tendo pedido também um prazo adicional, pedido este ao qual não teve
resposta.

O centro distrital aplicou o artigo 86o, pediu uma série de documentos, o


adjudicatário tem de os apresentar, foi fixado um prazo e o adjudicatário não o
apresentou. Algo parece não está bem, é que essa empresa já começou a executar
esse contrato. Em termos jurídico legais isto não é possível, em termos práticos é
sempre assim.

Ainda não há uma verdadeira adjudicação, ou se há, ainda há fases


subsequentes e já estão os trabalhos a decorrer. Já temos efeitos, o contrato que não
podia produzir efeitos já está a produzir efeitos, a entidade adjudicante diz que vamos
fazer cessar a 1a adjudicação e passá-lo para a adjudicação secundária.

Se a responsabilidade da não apresentação de documentos não for do


adjudicatário, porque há muitos documentos que não estão dependentes dele, como
para o exemplo, empresas que não são nacionais que precisam de documentos de AP

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Resumos para a Frequência de Contratos Públicos. 4º ano 2023/2024

fora de outros países, nomeadamente, fora da UE. Deve-se dar um prazo adicional
segundo a norma, a empresa diz que pediu e não lhe foi dado.

A lei diz alguma coisa sobre isto?

No 3 – norma de “deve”, isto é, se a empresa solicitou um prazo adicional


deveria ter sido dado, não obedecendo ao no3 não se pode processar o no4. Constitui
um direito de o adjudicatário constituir um prazo adicional, mediante a apresentação
de um comprovativo de que pediu os documentos.

A adjudicação secundária (quando a 1a caduca por facto imputável ao


adjudicatário), a adjudicação secundária dizia que não pode ter lugar, porque não
estão previstos os pressupostos do artigo 86o. A empresa adjudicatária já estava a
executar o contrato, o que é ilegal, tal não implica a impossibilidade de invalidar o
contrato.

O contrato só pode ser executado depois de estarem cumpridas todas as fases


e de o contrato for eficaz, até lá não pode produzir efeitos. Não provoca a invalidade
do contrato, o que não faz é nascer na esfera jurídica do adjudicatário uma
indemnização pelos gastos que tenha feito.

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