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O pioneirismo de Cândido Teobaldo de Souza Andrade na pesquisa

em relações públicas no Brasil

Waldyr Gutierrez FORTES


Doutor em Ciências ─ Relações Públicas e Propaganda ─ pela Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Universidade Estadual de Londrina
Paraná-Brasil

Analisa cada um dos livros do Professor Doutor Cândido Teobaldo de Souza


Andrade, apresentando a sua trajetória no campo das Relações Públicas, desde o seu
interesse inicial até tornar-se uma das pessoas mais importantes da área,
principalmente nos aspectos do ensino de graduação e pós-graduação e da pesquisa
em Relações Públicas. Uma das principais contribuições do professor foi fixar o
“Processo de Relações Públicas”, aplicável a qualquer tipo de organização,
privilegiando o estudo dos grupos para transformá-los em públicos, base de toda a
atuação profissional de Relações Públicas. Destaca-se, ainda, a definição dos
veículos de comunicação dirigida como próprios de Relações Públicas,
estabelecendo os instrumentos reais de comunicação para a criação e informação aos
públicos. Conclui-se que cada uma de suas obras trouxe inovações e todas são
fundamentais para o aprendizado de Relações Públicas.

Palavras-Chave: História; Ensino; Pesquisa; Evolução; Didática; Relações Públicas.

O Professor Doutor Cândido Teobaldo de Souza Andrade era paulistano e vinha de


uma longa experiência de vida antes de se tornar o maior expoente da área acadêmica
de Relações Públicas.
Escreveu vários artigos em revistas científicas, técnicas e jornais além de apostilas. O
primeiro artigo surgiu em 1959, com o título “Relações Públicas Governamentais”
(ANDRADE, 1959a). Sua primeira apostila, chamada “Princípio e Práticas de
Relações Públicas”, foi publicada também em 1959 (ANDRADE, 1959b). Seu
interesse pela área governamental deve-se ao fato de ter uma longa experiência no
serviço público paulistano e pesquisar profundamente o tema. Interessa-se
igualmente pelas questões da Opinião Pública e publica um primeiro artigo na área,
“Mito e Realidade da Opinião Pública”, em 1964 (ANDRADE, 1964).
Professor Teobaldo tomou conhecimento de Relações Públicas provavelmente por
intermédio de um desses livros importados Public Relations, de Nielander e Miller,
editado em New York em 1951. Então, dedica-se cada vez mais às Relações Públicas
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e, em 1962 publica seu primeiro livro, “Para Entender Relações Públicas”, que foi o
primeiro na América Latina.
Em 1967 estava presente na criação do primeiro curso superior de Relações Públicas
na então Escola de Comunicações Culturais, hoje Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo. Em 1973, o professor Teobaldo “é o que poderíamos
chamar um dos cardeais de Relações Públicas no Brasil: é o único doutor em
Relações Públicas do continente americano – doutorou-se pela Universidade de São
Paulo” (TEOBALDO..., 1975).
Palavras e expressões, hoje comuns ao nosso cotidiano profissional, como
“compressão mútua”; via de “duas mãos”; “avaliação das ações de relacionamento”;
“equilíbrio de interesses” da organização e dos públicos; “melhor entendimento” da
empresa e seus “públicos de interesse”; “administração de conflitos”; “administração
de controvérsias”; “valorização dos públicos”, foram lançadas pela primeira vez pelo
professor Teobaldo, algumas delas há mais de 40 anos.
Este era o método de trabalho do professor Teobaldo, assim como de vários
estudiosos e pesquisadores em diversas áreas na época, porque o método científico
para eles não era tão corriqueiro, muito menos o financiamento de pesquisas para a
comprovação de hipóteses. Usava-se mais a intuição e muita discussão para se
concluir um estudo ou uma proposta.
Cada uma de suas obras ensejou outras tantas, envolvendo livros, artigos de jornais e
revistas, trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação (mestrado, doutorado e
livre-docência). Cada novo conhecimento, nova expressão técnica ou nova idéia era
rapidamente assimilada, mesmo que fosse para combatê-lo, mas o tempo mostrava
que estava certo.
Foi um autêntico “pioneiro das Relações Públicas” – recebe este título
costumeiramente –, não por ter chegado primeiro, e não o foi, mas por ter
sistematizado a atividade de Relações Públicas em primeiro lugar.
Praticamente apresentava a cada ano um novo trabalho, fosse um livro, uma nova
edição de sua obra, além dos artigos em revistas e jornais, cursos e apostilas.
Professor Teobaldo, já comentávamos, foi uma “figura ímpar, merecedor do lugar
que ocupa entre aqueles que levam a profissão de Relações Públicas até as suas
últimas conseqüências” (FORTES, 1989, p. 19).
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Como método de exposição, adotamos a descrição e o comentário de cada um de


seus livros. Outras publicações e contribuições não foram analisadas.
Para Entender Relações Públicas (Andrade, 1962, 1965, 1983, 1993a)
Inicialmente o que chama a atenção nesse livro é o pequeno número de citações
(algumas estrangeiras, principalmente norte-americanas, da área de Sociologia e
Psicologia; outras nacionais). Pode-se deduzir que professor Teobaldo escreveu
grande parte desse livro de acordo com os seus conhecimentos e repertório, e fez
algumas “descobertas” que viriam a ser amplamente citadas nos próximos 30 anos e
consagradas nos estudos de hoje.
Era preciso apresentar aos praticantes de Relações Públicas da época e aos então
iniciantes alunos do tema que a profissão existia em várias partes do mundo, tinha
uma história e um corpo de conhecimentos que, embora tenham vindo
principalmente da Sociologia, consolidavam-se com uma estrutura própria, nacional.
Assim, inicia o livro com um capítulo que se tornaria famoso ao longo dos anos,
“Multidão, Massa e Público”, que chega a caracterizar a origem da formação do
profissional. Destaca a sua preocupação com a “Opinião Pública”, título do segundo
capítulo da obra.
Preocupa-se com a multiplicidade de textos da “Definição de Relações Públicas” que
existiam no mundo e que demonstravam certa fragilidade das conceituações de
Relações Públicas, que não conseguia encontrar uma definição única. Escreve no
terceiro capítulo sobre esse assunto e acrescenta, na terceira edição do livro, o
“Acordo do México”, como ficou conhecida a segunda tentativa de uma definição
internacional aceita por todos – a primeira é a iniciativa da IPRA (ANDRADE, 1983,
p. 45).
Na época a atividade de Relações Públicas era muito presente e desenvolvida na área
pública, daí servir de exemplo para as indústrias que se instalavam no país.
O capítulo oito, “O Processo de Relações Públicas”, é um dos pontos altos do livro, e
permanece atual até os dias de hoje. A respeito desse processo de Relações Públicas
já dizíamos que é “o processo de Relações Públicas mais adequado às organizações
em geral [...] pela sua praticidade e pelo caráter global das atividades propostas e
desenvolvidas” (FORTES, 2003, p. 46).
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Nota-se a atualidade do processo e que é empregado, por exemplo, nos trabalhos


acadêmicos, nos casos premiados pelas diversas instituições da área de Relações
Públicas, e na prática de muitos profissionais que, com os mesmos nomes das fases
ou semelhantes, mas com o mesmo significado, aplicam-no – e não podemos
esquecer que esse processo aparece em 1962 e não havia nada semelhante em outros
autores nacionais e estrangeiros da época.
Se o livro “Para Entender Relações Públicas” já era fundamental para o estudo da
área com o seu “Processo de Relações Públicas”, os próximos dois capítulos são
definitivos. “Veículos de Comunicação em Massa” (termo trocado por
“Comunicação Massiva” a partir da terceira edição) e “Veículos de Comunicação
Dirigida”. Esses dois capítulos levam à compreensão de que as Relações Públicas
necessitam e têm veículos próprios para atingir seus objetivos, ou seja, na criação e
estabelecimento de públicos e na manutenção dos que já existem.
Os veículos de comunicação dirigida, “ao contrário dos veículos de comunicação em
massa, [...] não têm, geralmente, grande alcance e não são muito dispendiosos”
(ANDRADE, 1962, p. 155). “Supõe-se que em 1963, na inserção da expressão
‘comunicação dirigida’, trazendo-a aos dias de hoje, podemos nos referir ao
marketing individualizado, o marketing one-to-one ou marketing pessoal?”
(TORRES, 2000).
Oriundos da área de jornalismo (o professor Teobaldo foi jornalista durante anos),
muitos profissionais da época passaram a compreender que os veículos massivos
eram os mesmos que utilizavam, mas existiam as formas específicas para o seu
emprego em Relações Públicas. Compreenderam igualmente que para se chegar “a
uma função específica de Relações Públicas, pois só elas são responsáveis pelas
comunicações que devem haver dentro de uma organização” (ANDRADE, 1962, p.
117), precisavam de veículos próprios, os veículos de comunicação dirigida, isto é,
para se comunicar efetivamente com os diferentes públicos de uma organização, era
preciso ter veículos próprios.
A primeira e a segunda edições desse primeiro livro de Relações Públicas
(ANDRADE, 1962, 1965) pouco mudaram durante os cerca de 20 anos em que
tiveram vida. Na sua apresentação da terceira edição, professor Teobaldo faz uma
pergunta como se fosse um leitor: por que uma nova edição? Não seria melhor que
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fosse escrito um novo livro? As Relações Públicas não se desenvolveram tanto no


Brasil e em outros países?
Nasce a terceira edição do livro “Para Entender Relações Públicas” (ANDRADE,
1983), atualizado naquilo que era preciso, e em homenagem ao I Congresso
Universitário de Relações Públicas, realizado no Recife-PE, para uma nova geração
de estudantes, que eram alunos dos professores que se formaram sob a égide das
primeiras edições das obras do professor Teobaldo.
A quarta edição (ANDRADE, 1993a) traz um novo capítulo, “Considerações Finais”,
que tornam ainda mais atualizadas as informações anteriores. Por não ter mudado
muito o seu conteúdo desde o lançamento da obra em 1962 e ter mantido os seus
principais ensinamentos, a edição mais recente pode ser consultada com pleno
aproveitamento.
Curso de Relações Públicas: relações com os diferentes públicos (ANDRADE,
1970, 1974, 1980, 1988a, 1994, 2003).
Depois da primeira experiência como autor de um livro para Relações Públicas, o
professor Teobaldo partiu para elaboração de uma obra que iria ser atualizada na
medida da necessidade e do tempo em que apareciam as diversas edições, não
contando as diversas reimpressões.
Trata-se do “Curso de Relações Públicas” (primeira edição em 1970), com textos
originais e uma coletânea de apostilas de Relações Públicas e de Opinião Pública que
o professor usou e testou em cursos de nível médio, por exemplo no IDORT e no
DEA, com diversas turmas, e sabia o que interessava às pessoas numa época que os
cursos superiores ainda não existiam. Com o aparecimento do curso superior na
ECA/USP, tais apostilas eram usadas, mas logo deram lugar ao novo livro do
professor Teobaldo.
Segue quase a mesma linha de livros em língua inglesa, especialmente a edição
brasileira de “Relações Públicas: princípios, casos e problemas” (CANFIELD, 1961),
que separa cada um dos públicos e o examina detidamente. Este tipo de estudo não
existia no Brasil, ficando demonstrado mais uma vez o pioneirismo do professor
Teobaldo.
Usa uma linguagem bastante objetiva para a época, redigido em formato de
“versículos”, a qual ainda não é muito usada até os dias de hoje e caracterizam
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sobremaneira as obras do professor Teobaldo. Os “versículos”, aparentemente


desconexos, mostram o seu sentido após a leitura de alguns deles ou ao final de todo
o capítulo. Com este estilo de redação abria espaço para a participação efetiva do
professor e do aluno, aprimorando o aprendizado, daí o nome do livro “Curso de
Relações Públicas”.
Outra característica do “Curso de Relações Públicas” é que, em cada uma das
edições, repetia os conceitos básicos, mas fazia a atualização dos exemplos e das
explicações, acontecendo que mesmo capítulos inteiros foram atualizados, o que
demonstra a preocupação do autor com a evolução do pensamento e da ênfase dadas
a determinados conteúdos conforme o tempo em que ocorriam.
Já por esta época, professor Teobaldo alertava para as novas tecnologias que se
avizinhavam aos praticantes de Relações Públicas, que deveriam estar atentos aos
novos processos de informação e de comunicação que tomariam o lugar do “exército
de guerreiros”, colocando em seu lugar os “agentes de comunicação” (ANDRADE,
1970, p. 19).
Nota-se na grafia de Relações Públicas que o autor ainda usa o termo como era
conhecido na época, R.P., ainda não empregando a abreviatura “RR.PP.”, que
apareceria a partir da terceira edição, aliás abreviatura gramaticalmente correta em
português, que o faria ainda mais conhecido, mas como uma das “inovações” do
professor Teobaldo.
Naquela época o professor Teobaldo pregava a extinção dos guichês e dos balcões
para o bom atendimento do público em geral. Recomendava que não deveriam haver
barreiras entre as pessoas e os funcionários encarregados de atendê-los,
simplificando e organizando os processos “de maneira mais adequada ao interesse do
público em geral” (ANDRADE, 1970, p. 54).
Mantido com pequenas alterações de conteúdo e exemplos nas cinco edições, discute
com maior profundidade novos termos aplicados pelas organizações modernas como
“responsabilidade social”. Hoje se mostra fundamental em qualquer programa de
Relações Públicas de uma organização preocupada consigo mesma e com os que
delas dependem.
Os públicos, então, são classificados em: interno, misto e externo. Esta classificação
do professor Teobaldo continua válida até os dias de hoje e a ser usada pelos
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profissionais da área, mesmo com algumas tentativas de atualizá-la, com uma divisão
mais aprimorada e mais detalhada, que conserva a divisão original.
Muito se poderia fazer em benefício próprio e de toda a coletividade se for realmente
estabelecida uma política de entendimento entre as empresas e seus concorrentes,
quer de uma localidade, de um país ou de outros países. Mas lembra o professor
Teobaldo que existe uma condição básica para que isto aconteça: “[...] essa
compreensão somente poderá ser mantida por meio de um amplo programa de
Relações Públicas” (ANDRADE, 1970, p. 126).
Um conteúdo que praticamente não mudou nas seis edições do livro é o capítulo
“Relações com os Poderes Públicos”, por preocupar-se com as bases deste tipo de
relacionamento (organizações em geral relacionando com os poderes públicos).
Deste modo, o capítulo trata, por exemplo, do correto sistema de relacionamento
entre as partes, de diálogo e tolerância, compreensão dos processos do governo e dos
regulamentos oficiais, dos conhecimentos específicos que se deve ter, dos contatos
pessoais, da defesa de direitos legítimos e do cumprimento das leis, e do direito de
defesa.
“Relações Públicas Internacionais” é um capítulo presente em todas as edições do
livro. Numa época em que não se falava de globalização, professor Teobaldo
recomendava a urgência de ações de Relações Públicas, pois “a maioria das empresas
de âmbito internacional vem sendo objeto de intensa crítica por não cuidar de uma
autêntica política de Relações Públicas” (ANDRADE, 1970, p. 155).
Atento ao tempo em corre, o autor introduz nas discussões de Relações Públicas o
termo Marketing, destaca sua importância, mas afirma, citando o conferencista
espanhol José Fernandez Gomes, que “o marketing necessita estar inspirado na
política e filosofia das Relações Públicas” (ANDRADE, 1994, p. 144).
Sabemos que o professor Teobaldo nos anos mais recentes, questionava a
oportunidade da legislação específica de Relações Públicas, as restrições que criou e
o tipo de profissional que foi afastado pela lei existente.
Apesar ter sido um dos membros da comissão que finalizou a proposta da
regulamentação, contribuiu decisivamente com o chamado o “Parlamento Nacional
de Relações Públicas”, o “esforço nacional do Conselho Federal de Profissionais de
Relações Públicas para que os profissionais da área tivessem a possibilidade de
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manifestar suas dúvidas, inquietações, insatisfações e posicionamentos”


(ANDRADE, 2003, p. 265).
Desde a época do lançamento desse seu segundo livro, professor Teobaldo assumiu e
lutou por determinadas causas que o tornaram conhecido, mas, de certo modo,
diminuíram o alcance de suas propostas:
• não admitia o uso da expressão “o relações públicas” para o profissional da área
(“não chamamos o médico de ‘o medicina’”, costumava dizer);
• não aceitava o uso da expressão em inglês, “public relations man”;
• não concordava com o uso da expressão “o homem de relações públicas”, que
dava idéias distorcidas sobre o profissional;
• tenta implantar o termo “relator público” para designar o profissional da área, mas
não consegue popularizá-lo.
A expressão “relator público” aparece em 1962 no seu livro “Para Entender Relações
Públicas” e está presente nesse livro em diversas oportunidades. “Os países hispano-
americanos empregam, geralmente, o termo ‘relacionista’. Em nosso país, a Lei nº
5.377/67 oficializou a denominação ‘Profissional de Relações Públicas’”
(ANDRADE, 1970, p. 170).
Ao lado de suas quase “implicâncias”, professor Teobaldo trazia recomendações que
dignificavam e tornavam estratégica a atuação profissional (embora não use este
termo). Considerava como altos funcionários “os que contribuem efetivamente com
as suas habilidades para o incremento dos resultados econômicos e conceituais”
(FORTES, 2003, p. 164).
Recomendava ao profissional de Relações Públicas que se interessasse pelas políticas
e diretrizes da empresa, pois isto o colocava “na posição que ocupa de direito no
organograma da organização” (ANDRADE, 1970, p. 168).
Falava da necessidade do planejamento para Relações Públicas: “[...] em toda
empresa, onde o encarregado de Relações Públicas tem função realmente concreta,
verificar-se-á que ele é, antes de tudo, um planejador” (ANDRADE, 1970, p. 169).
É, portanto, a nosso ver, o mais completo livro de Relações Públicas de autoria de
Cândido Teobaldo de Souza Andrade, o qual recebeu maior número de edições e de
cada edição foram feitas várias tiragens.
Psicossociologia das Relações Públicas (ANDRADE, 1975, 1989).
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Em seu novo livro, com o título “Psico-Sociologia das Relações Públicas” (expressão
assim separada) (ANDRADE, 1975), professor Teobaldo afirma que “muitos
cientistas sociais, políticos e juristas afirmam ser impossível a definição precisa de
interesse público, embora reconheçam sua importância para a ordenação e solução
dos negócios humanos” (ANDRADE, 1989, p. 12), e é a esta tarefa hercúlea que se
propõe trabalhar, embora “talvez alguém possa dizer que nossa preocupação em
determinar o interesse público seja quase utópica ou irrelevante” (ANDRADE, 1989,
p. 12). Esse livro teve como fonte a sua tese de Doutorado, “Relações Públicas e o
Interesse Público” (ANDRADE, 1973a).
Logo no primeiro capítulo apresenta sua grande contribuição a esse estudo quando
propõe uma dinâmica própria ao interesse público em relação aos públicos existentes
e em formação.
Neste conceito, então, destacam-se algumas expressões que ajudam a entender
melhor o que significa o “interesse público”. A verdadeira opinião pública resulta da
ampla discussão de temas afetos a cada segmento do público formado. Mas o público
se forma quando são dadas condições ou oportunidades para que os grupos se
organizem, abandonem as suas irracionalidades e abracem as discussões racionais
sobre os assuntos de seu interesse ou que possam vir a afetá-los, isto é, as
controvérsias. Assim, “poder-se-á dizer que interesse público é o interesse do
público, expresso pela opinião pública” (ANDRADE, 1989, p. 15).
Tal conceituação parte do princípio da dinâmica social, ou seja, as questões
apresentadas sofrem modificações na velocidade dos acontecimentos sociais e a
opinião pública que resulta dessas discussões “é dinâmica, mutável e racional”
(ANDRADE, 1989, p. 15). Professor Teobaldo vai, então, desdobrando cada um dos
conceitos apresentados para chegar ao capítulo que trata de “Público em Relações
Públicas”.
Embora estas questões tivessem sido apresentadas desde os seus primeiros estudos,
especialmente no seu primeiro livro, professor Teobaldo aprofunda seus estudos,
dando-lhes relevância e cientificidade, ao buscar apoio em autores consagrados na
área de Sociologia e da Psicologia. O importante é sua visão de que a opinião pública
é “resultado das reações e interpretações dos membros componentes do público
diante das emergências (controvérsias verbalizadas)” (ANDRADE, 1989, p. 64). A
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partir daí, aborda os fundamentos psicossociológicos dos públicos sob o enforque das
Relações Públicas.
Dentre várias inovações trazidas pelo professor Teobaldo na sua obra, podemos
destacar a questão que aparece rotineiramente agora nas organizações, empresariais
ou não, a “responsabilidade social”.
Este livro do professor Teobaldo constitui-se na primeira tentativa de reunir os
conhecimentos existentes em uma única obra e de se criar uma teoria para Relações
Públicas.
Dicionário Profissional de Relações Públicas e Comunicação e Glossário de
Termos Anglo-Americanos (ANDRADE, 1978b, 1996).
A descrição pormenorizada da história, legislação e funções da profissão e dos
profissionais de Relações Públicas, sua profissiografia, precisava ser completada. Em
1978, professor Teobaldo lançou o “Dicionário Profissional de Relações Públicas e
Comunicação e Glossário de Termos Anglo-Americanos” (ANDRADE, 1978b), pois
faltava um dicionário específico da área, uma obra que abrigasse todos os termos
relacionados direta ou indiretamente com Relações Públicas e Comunicação. Devido
à grande influência da língua inglesa na profissão de Relações Públicas, a prática
profissional traz vários vocábulos em inglês presentes no dia-a-dia.
Com origem nas apostilas que vinha preparando para seus cursos, o Dicionário
cumpria uma resolução da Federação Interamericana de Associações de Relações
Públicas (FIARP), apresentada em 1971.
O livro permaneceu com a primeira edição até 1996 quando surge a segunda edição
(ANDRADE, 1996), totalmente revisada e ampliada. Durante os seus trabalhos,
perguntamos ao professor Teobaldo se não deveria retirar alguns termos que as novas
gerações não conhecem, por exemplo, “papel-carbono”. Respondeu-nos que um
dicionário é uma obra viva, não tem tempo de validade; então sua informação deve
ser a mais ampla possível, pois se recorrermos a um dicionário é porque temos
dúvidas e procuramos saná-las. Assim, a nova edição conservou os verbetes antigos e
também recebeu os verbetes sobre a então iniciante área de Informática e aqueles
decorrentes do avanço da profissão.
Administração de Relações Públicas no Governo (ANDRADE, 1982a).
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O tema desse novo livro do professor Teobaldo foi baseado em sua tese de Livre-
Docência, “Relações Públicas na Administração Direta e Indireta” (ANDRADE,
1978a). Redigido em formato de “versículos”, professor Teobaldo usou a sua
experiência como advogado em Direito Administrativo para preparar primeiro a sua
tese e depois esse livro. Teve como base a Constituição Brasileira de 1969,
explorando-a em todos os assuntos de interesse da matéria. Como de hábito recorre a
artigos e as apostilas já utilizadas nos seus cursos ministrados (ANDRADE, 1982a).
Na primeira parte, “Administração Pública”, explica detidamente o assunto
“administração pública” tendo em vista estudantes e profissionais que ainda não se
aprofundam neste tema, como os de Relações Públicas. Parte para os comentários
sobre “poderes e recursos administrativos”, demonstrando claramente a diferenças
existe entre poder político e poder do governo, independentemente do regime que se
está vivendo. Além disso, “os Poderes Administrativos, ainda que autoritários e às
vezes discriminatórios, não podem ultrapassar os limites da legalidade, sob pena de
se caracterizar o abuso os desvios de poder” (ANDRADE, 1982a, p. 23).
Chega ao centro da questão quando classifica os Poderes Administrativos,
classificação emprestada de Hely Lopes Meirelles: vinculado; discriminatório,
hierárquico, disciplinar, regulamentar e de polícia. Propõe o poder administrativo
controverso que seria o poder e a influência que a Opinião Pública tem sobre as
decisões governamentais. Depois disso, relata cada um dos poderes administrativos,
a descentralização administrativa, as incumbências das chefias dos poderes
executivos federal, estaduais e municipais, e termina esta primeira parte com um
capítulo que aborda a polícia administrativa e o interesse social (ANDRADE, 1982a,
p. 70).
A segunda parte, “Relações Públicas”, começa com os fundamentos de Relações
Públicas Governamentais, recorda os seus aspectos históricos e chega à parte
específica, quando descreve o que faz e como deveriam ser, à luz das Relações
Públicas, as ações de relacionamento de cada uma das esferas do Poder Executivo
Nacional – Governo Federal, Governo Estadual, Governo Municipal, Administração
Indireta, Forças Armadas e na Polícia Militar.
A conclusão mais importante já havia dado no capítulo sobre os fundamentos de
Relações Públicas Governamentais, quando diz que “compete ao administrador
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público manter abertas as fontes de informação e os canais de comunicação,


expungindo-os das barreiras e distorções semeadas pelos grupos de pressão”
(ANDRADE, 1982a, p. 84), e conclui atestando a grande responsabilidade das
Relações Públicas Governamentais: “determinação do interesse público em sua
identificação com o consenso social” (ANDRADE, 1982a, p. 92).
Como Administrar Reuniões (ANDRADE, 1988b, 1995).
A partir de 1984, professor Teobaldo parte para um novo assunto: reuniões, como
administrá-las? Aparentemente um tema inédito em sua bibliografia, mas as reuniões
são vistas por ele como um veículo de comunicação dirigida oral e como tal são
desenvolvidas. Produz artigos e começa a ministrar vários cursos sobre o assunto em
diversas instituições que, até então, não conheciam o professor Teobaldo.
Partindo de um artigo, “Participação Programada para o Diálogo” (ANDRADE,
1985a) e de sua experiência nos cursos para diversos alunos, lança “Como
Administrar Reuniões” (ANDRADE, 1988b). É também redigido em formato de
“versículos”.
Na primeira parte enfatiza o diálogo que se estabelece nas reuniões, enquadra as
reuniões com comunicação dirigida, constatando que as reuniões ocupam grande
parte do tempo do “homem de empresa”, tendo, portanto, que funcionar e devem ser
úteis. Apresenta uma classificação, os objetivos das reuniões e as formas de dirigi-las
para que se tornem eficazes.
Na parte especial as categorias de reunião – informativa, questionadora, dialética,
deliberativa e instrutiva – são subdividas e definidas em modalidades. Após esses
capítulos traz os “tipos de participantes de reuniões” que, por meio de desenhos em
forma de charges, apresenta suas características e “como proceder” com eles para
que a reunião tenha sucesso e atinja seus objetivos.
Fica evidente a preocupação do autor com a formação de públicos, e afirma que
“hoje, em lugar da sociedade de massas, começa a surgir a comunidade de públicos,
que tem como uma das suas características a abundância de informações”
(ANDRADE, 1988b, p. 14).
Esse livro teve uma segunda edição (ANDRADE, 1995) igual à primeira, preparada
pela editora sem o acompanhamento do autor, que, certamente, faria a atualização de
conteúdo.
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Guia Brasileiro de Relações Públicas (ANDRADE, 1979, 1981, 1982b, 1984,


1986, 1993b, 1997).
Organizou sete edições do “Guia Brasileiro de Relações Públicas”, que o professor
Teobaldo chamava de “opúsculo”, apesar de ter de 100 a 200 páginas as diferentes
edições.
O guia é uma compilação de toda as leis e decretos federais de Relações Públicas,
seu Código de Ética, Estatuto da ABRP, seus regulamentos e regimentos, datas de
fundação de regionais da associação, cursos brasileiros de graduação em Relações
Públicas, escolas que mantêm a disciplina de Relações Públicas, a bibliografia de
Relações Públicas e Opinião Pública e os órgãos nacionais da área.
Esse material era precedido de um texto de caráter histórico, preparado por Nelson
Speers (ANDRADE, 1979; 1981; 1982b), que foi completado por outro texto do
mesmo autor (ANDRADE, 1984; 1986). Nos anos posteriores os dois textos foram
trocados por um texto de Maria Stella Thomazi (ANDRADE, 1993b, 1997). As
diversas edições traziam, cada uma delas, a história da Seção Estadual da ABRP que
promovia o Congresso Brasileiro de Relações Públicas (nas seis primeiras edições) e
o Congresso Nacional Universitário de Relações Públicas (na sétima edição).
Outras Publicações
Afora os livros e as teses de Doutorado e de Livre-Docente, professor Teobaldo foi o
autor de um capítulo de livro, “Application aux relations publiques du concept de
public”, da obra “Le destin des relations publiques: essais”, organizado por Paul
Dumont-Frenett, de Montreal no Canadá (ANDRADE, 1977).
Publicou, ainda, cerca de outros 20 opúsculos, dos quais podemos destacar a
“Bibliografia Latino-Americana de Relações Públicas e Opinião Pública: livros,
opúsculos, artigos, apostilas”, com duas edições (ANDRADE, 1985; 1990); e um
“Panorama Histórico de Relações Públicas”, com duas edições (ANDRADE, 1972;
1973b).
Além de artigos em jornais (não listados ou comentados aqui), estão referenciados no
“Guia Brasileiro de Relações Públicas” (ANDRADE, 1997) cerca de 35 artigos em
revistas, dos quais salientamos “Relações Públicas para Bibliotecas e Centros de
Informações”, um novo assunto de seu interesse; preparou também várias apostilas,
das quais se destaca, além das já citadas, “Administração de Relações Públicas”, que
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foi o material escrito de um curso ministrado em muitas cidades brasileiras. Existem


também seis artigos da área Opinião Pública.
Escreveu em espanhol três artigos para revistas da Argentina; um artigo e um
opúsculo na Colômbia; um artigo no Uruguai; sete artigos na Venezuela, sendo um
deles na área de Opinião Pública (ANDRADE, 1990).
Considerações Finais
Apesar de sua ausência e de estarmos verificando “o pioneirismo de Cândido
Teobaldo de Souza Andrade na pesquisa em relações públicas no Brasil”, o impacto
de sua obra nos estudos de Relações Públicas é evidente. Se precisarmos escrever,
estudar, pesquisar algum tema de Relações Públicas para um trabalho acadêmico é
inevitável citá-lo; se tivermos que escrever uma proposta de ação, seus ensinamentos
estão presentes; se buscarmos a essência do trabalho de Relações Públicas, suas
propostas devem ser lembradas como fundamentais em nossas discussões. Mesmo se
propusermos novos conhecimentos, é a partir dele que construímos as nossas
propostas.
Professor Teobaldo é uma marca indelével, uma baliza nos estudos e na aplicação
prática de Relações Públicas.

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