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Anais do XI Congresso Brasileiro Científico de Comunicação

Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp 2017)


15 e 19 de maio de 2017

O PAPEL DO RELAÇÕES PÚBLICAS NA COMUNICAÇÃO


PÚBLICA DE ORGANIZAÇÕES DE PESQUISA
SOCIOECONÔMICA: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA

Solange Prediger1

Resumo

O objetivo deste artigo é apresentar uma discussão teórica e inicial sobre o papel do
Relações Públicas no desenvolvimento da comunicação pública de organizações2
brasileiras de pesquisa socioeconômica. O assunto é tema de uma pesquisa proposta
pela pesquisadora, cujas indagações se referem a compreender qual a percepção do
próprio profissional frente aos desafios da comunicação pública, como as instituições
trabalham com a comunicação pública e quais as estratégias de comunicação utilizadas
por elas para promover essa comunicação. Neste artigo, apresentamos a justificativa do
estudo e o referencial teórico que embasará a pesquisa empírica a ser realizada mais
adiante.

Palavras-chave: Relações Públicas; Comunicação Pública; Organizações de Pesquisa


Socioeconômica.

Introdução
O que motiva essa pesquisa é a busca pela compreensão de algumas questões
intrigantes na atuação enquanto profissional de Relações Públicas e, nesse caso,
justificamos a escolha por estudar o papel do RP. Primeiro, destacamos que são diversas
as definições do termo e da função de RP expostas tanto na legislação que regulamenta a
1
Graduada em Relações Públicas (UFSM), Mestre em Comunicação Midiática (UFSM) e Relações Públicas
na Fundação de Economia e Estatística – Siegfried Emanuel Heuser. E-mail: sol_prediger@yahoo.com.br.
2
Compreendemos que os termos “instituição” e “organização” são conceitos distintos. “As organizações são
a objetivação do processo de institucionalizações econômicas, políticas e culturais. Em outras palavras,
Instituições são legados coercitivos sociais que dão forma à interação humana. As instituições incluem as
organizações, mas essas não incluem as instituições” (SIMÕES, 2011, p. 23). Nesse sentido, o conceito de
instituição se refere a algo mais amplo que as organizações e o conceito de organização, por sua vez, é
mais amplo que o de empresa, por exemplo. Compreendemos que “organização” se refere a um grupo
“planejado de pessoas que desempenham funções e trabalham conjuntamente para atingir objetivos
comuns” (KUNSCH, 2003, p. 23). Ela é entendida como um sistema aberto, um subsistema de um sistema
maior, que é a sociedade, operando dimensões sociais, econômicas, políticas e simbólicas. Além disso,
devemos levar em conta que são formadas por pessoas distintas, que carregam seu próprio universo
cognitivo, fazendo da organização um sistema complexo, que “envolve muitas implicações, que devem ser
analisadas numa perspectiva individual, grupal, organizacional e sociopolítica” (KUNSCH, 2003, p. 30).
Enquanto isso, o termo “instituição” é tratado pela autora como algo superior à organização. Esta pode se
institucionalizar assumindo, por exemplo, compromissos relevantes para a sociedade e o mercado
(KUNSCH, 2003). Apesar dessas diferenças, salientamos que, ao longo deste projeto, utilizamos os termos
“organização” e “instituição” nos referindo sempre ao significado do primeiro, apenas para evitar repetições.

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profissão quanto entre os teóricos da área, o que pode levar a alguns equívocos em
relação ao uso do conceito ou em relação às especificidades da profissão.
Como define Simões (1995, 2011), o termo relações públicas é polissêmico.
Compreende “uma disciplina, seu ensino, a profissão, sua teoria, a prática, os
profissionais, os alunos, a comunidade e todos os componentes deste guarda-chuva
sociológico” (SIMÕES, 2011, p. 13). Pelo fato de ser usado para designar diversos
objetivos sociais, é difícil designá-lo com precisão, tanto entre pessoas envolvidas no
tema quanto entre leigos no assunto (SIMÕES, 1995). Ainda para o autor em questão,
“pior ainda para a compreensão deste assunto é que, além da polissemia do termo, existe
o problema de várias definições da atividade fornecida por estudiosos e associações de
classe” (SIMÕES, 1995, p. 48). Nesse contexto, tememos pela perda do real sentido do
papel do RP nas organizações e pesquisar sobre esse assunto é instigante.
Outra questão que nos inspira é o fato de sabermos que muitas organizações têm
uma visão restrita da comunicação, que considera apenas uma de suas áreas e/ou
funções e, nesse caso, não contam com profissionais de RP. Consideramos que a
presença do profissional qualifica e aprimora o desenvolvimento das estratégias de
comunicação desenvolvidas pelas organizações. Compreender como elas se articulam
diante disso e problematizar sobre a falta de um profissional qualificado para tratar dessas
questões é também motivador.
Percebemos ainda que muitas vezes a atuação do profissional de RP não é
compreendida em sua totalidade no mercado de trabalho3. Por vezes, ele é visto como
organizador de festas ou responsável apenas pela comunicação interna das organizações
quando, na verdade, estas são duas das estratégias utilizadas pelo profissional para
promover o relacionamento entre a organização e seus públicos, dentre tantas outras de
que o profissional lança mão.
Um dos campos de atuação do profissional é a comunicação pública (CP), o que
justifica o estudo deste conceito. A sua definição é empregada para definir a prática de
uma comunicação mais democrática, voltada para a construção da cidadania. Além disso

coloca a centralidade do processo de comunicação no cidadão, não apenas por


meio da garantia do direito à informação e à expressão, mas também do diálogo,

3
Estas observações foram feitas a partir da experiência no mercado de trabalho. Ao longo dos últimos
quatro anos, atuando na área de comunicação de diferentes instituições (Exército Brasileiro, Instituto
Federal Farroupilha e Fundação de Economia e Estatística), muitas vezes nos deparamos com perguntas
como “o que faz o RP mesmo?”, “o RP é o profissional que organiza festinhas?”, “então é só pensar
algumas ações para o público interno?”, entre outras.

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do respeito a suas características e necessidades, do estímulo à participação


ativa, racional e co-responsável (DUARTE, 2007, p. 61).

Pelo fato de privilegiar o espaço público e o olhar do cidadão, a comunicação


pública ocupa “na comunicação natural da sociedade, um lugar privilegiado junto aos
papéis de regulação, de proteção ou de antecipação do serviço público. [...] É a
comunicação formal que diz respeito à troca e a partilha de informações de utilidade
pública” (ZÉMOR, 1995, p. 1). Suas finalidades dizem respeito a

responder à obrigação que as instituições públicas têm de informar o público;


estabelecer uma relação de diálogo de forma a permitir a prestação de serviço ao
público; apresentar e promover os serviços da administração; tornar conhecidas
as instituições (comunicação externa e interna); divulgar ações de comunicação
cívica e de interesse geral; e integrar o processo decisório que acompanha a
prática política (MONTEIRO, 2007, p. 39).

Por ser uma comunicação que visa atender as necessidades e o interesse da


sociedade como um todo, que ocorre “no espaço formado pelos fluxos de informação e
interação entre agentes públicos e atores sociais em temas de interesse público”
(BRANDÃO, 2007, p. 20), e que “responde a uma busca de significação, bem como a
uma necessidade de relação” (ZÉMOR, 1995, p. 1), consideramos o profissional de RP
capacitado para desempenhar esta função nas diversas organizações. E, apesar dos
estudos já desenvolvidos na área, muito ainda pode ser pesquisado, principalmente
quando nosso recorte busca compreender a comunicação pública desenvolvida nas
organizações brasileiras de pesquisa socioeconômica e o papel do RP nesse processo,
tema ainda novo, como mostra a pesquisa do estado da arte descrita abaixo.
Verificamos que não há nenhuma outra dissertação ou tese, no Brasil, que discuta
o papel do RP com o recorte que propomos4. Ao pesquisar os termos “papel do Relações
Públicas” na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, foram encontrados
1.112 trabalhos. A maioria destes apenas menciona uma ou mais de uma destas
palavras, fazendo com que os trabalhos nem sejam da área de comunicação social, muito
menos relacionados com a temática que propomos estudar. Ao refinar a busca pelo
“papel do Relações Públicas nas organizações”, encontramos 68 trabalhos. Destes,
apenas 10 se relacionam com a área de comunicação e somente dois tratam da atuação
do profissional de RP5, mas não sob a ótica que propomos e, por isso, não auxiliam na

4
A busca foi realizada na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (http://bdtd.ibict.br/) e foi
complementada por meio da busca de teses e dissertações nos repositórios dos Programas de Pós-
Graduação em Comunicação e através de buscas por textos e artigos no Google.
5
O primeiro é uma tese desenvolvida na Universidade de São Paulo que trata da gestão da ética nas
organizações como uma possibilidade de atuação dos profissionais de RP e comunicação organizacional

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problematização da pesquisa. Realizamos ainda a busca pelo tema específico “papel do


Relações Públicas nas organizações de pesquisa socioeconômica” e apenas dois
trabalhos foram encontrados. Mas estes apenas mencionam alguma das palavras, sem
ter qualquer relação com a área de comunicação.
Fizemos também a busca pelas palavras “Relações Públicas e comunicação
pública” e 789 trabalhos foram encontrados. Apenas um deles associa os dois termos em
seu título (KEGLER, 2008)6. Entre os demais, alguns propõem estudos sobre apenas um
dos conceitos, não sobre ambos, ou apenas citam algum dos termos pesquisados. A
pesquisa encontrada que faz a relação entre RP e CP será de suma importância para o
desenvolvimento deste projeto, mas não abarca em sua totalidade o tema que propomos.
Ao complementar a busca através nos repositórios dos Programas de Pós-
Graduação em Comunicação, também não encontramos nenhuma tese ou dissertação
que trate do papel do RP no desenvolvimento da comunicação pública de organizações
de pesquisa socioeconômica. E, ainda, ao realizar uma busca por “papel do Relações
Públicas nas organizações” no Google, encontramos textos, artigos e trabalhos de
conclusão de curso que tratam do papel do profissional, mas não com a abordagem aqui
proposta7. Procuramos também no Google a relação entre “Relações Públicas e
comunicação pública” e diversos foram os textos encontrados, inclusive sobre o papel do
RP no campo da CP. No entanto, nada foi encontrado relacionando os termos com as
instituições de pesquisa socioeconômica. Compreendemos que todos os estudos
encontrados podem contribuir para a discussão e dialogar de alguma forma com o projeto
apresentado, mas a presente pesquisa se mostra interessante ao propor a abordagem de
outro campo de atuação do profissional através de uma pesquisa sólida e embasada,
como é o caso dos estudos de pós-graduação.
Para justificar a escolha pelo estudo das organizações brasileiras de pesquisa
socioeconômica, cabe destacar que uma das áreas de conhecimento e atividade
profissional em que o conceito de comunicação pública é utilizado é a comunicação

(ANDRADE, 2010) e o outro é uma dissertação desenvolvida nesta mesma universidade que aborda a
contribuição das relações públicas no processo de humanização nas organizações através de um estudo de
caso (MOURA, 2012).
6
O estudo é uma pesquisa teórico-empírica que relaciona os temas comunicação pública, Relações
Públicas e midiatização sob o Paradigma da Complexidade de com base em Edgar Morin (KEGLER, 2008).
7
Foram encontrados textos sobre o papel do RP na internacionalização de organizações, em contextos
interculturais, na prática da responsabilidade social, na construção de relacionamentos éticos e
organizacionais, no desenvolvimento de eventos, na comunicação de micro e pequenas empresas, no
gerenciamento de crises, na gestão da atividade turística, na construção da imagem e identidade
organizacional, na comunicação interna, na gestão de marcas, na comunicação do terceiro setor, entre
outros.

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científica (BRANDÃO, 2007). Esta busca integrar a ciência ao dia a dia das pessoas,
despertando seu interesse e a curiosidade. Compreendemos que

a produção e a difusão de conhecimento científico incorporaram preocupações


sociais, políticas, econômicas e corporativas que ultrapassam os limites da ciência
pura e que obrigaram as instituições de pesquisa a estender a divulgação
científica além do círculo de seus pares (BRANDÃO, 2007, p. 4).

As instituições de pesquisa passaram a ter que divulgar seus conhecimentos para


toda a população, já que a informação científica é fundamental para a construção da
cidadania. Isso leva a comunicação científica a ocupar cada vez mais o espaço público, a
estar ao acesso de todos e ser, portanto, de suma importância para a gestão das
questões públicas, influenciando “na mudança de hábitos de segmentos de população,
bem como na tomada de decisão política a respeito de assuntos da ciência que
influenciam diretamente a vida do cidadão” (BRANDÃO, 2007, p. 4).
Entendemos, assim, que as organizações de pesquisa socioeconômica possuem
um papel fundamental no desenvolvimento de uma comunicação pública eficiente. Devido
às funções e atividades exercidas pelo profissional de RP, compreendemos que ele é o
mais capacitado a desempenhar ações de CP nas diversas organizações e o mais
capacitado a desenvolver a comunicação científica de instituições de pesquisa
socioeconômica, responsáveis pela tradução de dados e estudos de interesse da
sociedade em geral. Por este fato e por levar em conta a proximidade das áreas de RP e
de Economia, apresentada por Falcetta (2012)8, é que nos inspiramos em estudar a CP
desenvolvida por instituições de pesquisa específicas e o papel do RP nesse processo.
Fato que também é decisivo para esta escolha é a atuação da pesquisadora como
RP de uma dessas organizações, a Fundação de Economia e Estatística (FEE)9 do
Estado do Rio Grande do Sul. A partir de 2014, a FEE passou a contar com profissionais
das diferentes áreas da comunicação (três jornalistas, uma relações públicas, dois

8
Falcetta (2012) destaca a proximidade entre as áreas de Economia e RP e afirma que ambas estão em
voga. Ele defende que o RP deve estar atento às mudanças econômicas, entender de economia e ter visão
de mundo – o mundo econômico – para entendê-lo e interferir no seu espaço de atuação. “A afinidade com
o ambiente econômico é uma condição sine qua non, obrigatória, imposta pelo próprio ambiente de trabalho
[...]” (FALCETTA, 2012, p. 111, grifos do autor).
9
A FEE é uma instituição de pesquisa vinculada ao Governo do Rio Grande do Sul e considerada a maior
fonte de dados socioeconômicos e estatísticos sobre o Estado. Possui uma equipe multidisciplinar,
composta por pesquisadores e analistas técnicos, que desenvolvem e divulgam pesquisas, análises,
indicadores e índices sobre o RS e também sobre a realidade socioeconômica nacional e internacional. A
Fundação gera, assim, conhecimento especializado nas áreas de desenvolvimento econômico e social. Isso
faz da FEE uma “fonte de consulta permanente para qualificar a análise conjuntural e histórica, a tomada de
decisões e o planejamento governamental nas diferentes esferas da administração pública” (Portal da FEE.
Disponível em < http://www.fee.rs.gov.br/sobre-a-fee/atuacao/>. Acesso em 02 mar 2016).

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publicitários, uma técnica em comunicação visual e um técnico em comunicação


audiovisual), o que possibilita não apenas efetuar um diálogo produtivo, mas também
planejar e realizar de forma integrada e estratégica a comunicação da Instituição. Merece
destaque a atuação do RP, que passou a participar das reuniões da direção da Casa com
seus servidores, das reuniões da direção com o Governo, bem como do planejamento das
ações de comunicação e do planejamento geral da organização, o que demonstra a
importância dada ao profissional pela instituição. Nosso intuito, enquanto pesquisador, é
verificar como isso ocorre nas demais organizações de pesquisa socioeconômica e qual o
reconhecimento dado por elas ao trabalho desenvolvido pelo RP na mediação e tradução
de dados socioeconômicos e no desenvolvimento da comunicação pública. Ressaltamos
que a FEE não será levada em conta para fins de análise, a fim de evitar a interferência
subjetiva da pesquisadora.

Comunicação organizacional, comunicação pública e o papel do RP


A comunicação é realizada através de uma relação entre sujeitos, em um processo
de construção e disputa de sentidos (BALDISSERA, 2007, 2009). O mesmo acontece no
âmbito das relações organizacionais. A organização não se refere apenas a uma estrutura
física, equipamentos e recursos financeiros, mas sim a uma combinação de esforços
individuais na busca por um objetivo comum. Uma organização compreende pessoas que
estão em relação (BALDISSERA, 2009) e isso exige esforços para uma comunicação
organizacional efetiva. Esta se refere tanto aos processos planejados de comunicação
dentro das organizações, como também às relações informais que promovem uma
disputa de sentidos dentro e fora das organizações. “A comunicação organizacional vai
além dos limites da instituição para situá-lo no contexto da sociedade” (PÉRSIGO;
FOSSÁ, 2010, p. 9). Pensar nela como estratégia “significa recuperar dimensões ainda
enfraquecidas, ou mesmo empobrecidas, no cotidiano das organizações e que são vitais
para o futuro não só da própria organização, mas da sociedade como um todo” (FOSSÁ;
CARDOSO, 2008, p. 10).
A comunicação organizacional é uma das áreas de conhecimento em que o
conceito de comunicação pública pode ser utilizado (BRANDÃO, 2007). Nesse caso, é
analisada a comunicação das organizações com seus diferentes públicos. Esta relação é
tratada de forma estratégica e planejada, buscando melhorar a imagem da organização a
partir da relação que se estabelece entre ela (seja pública ou privada) e seus públicos.
Vista como comunicação organizacional, a CP tem por objetivo primeiro “o mercado,

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visando atingir os diversos públicos das corporações com o intuito de vender – seja uma
imagem, seja um produto, seja uma idéia, seja uma fé – e obter lucro financeiro, pessoal,
em status ou poder” (BRANDÃO, 2007, p. 3). Essa comunicação é assumida pela
organização e tem por objetivo mostrar ao público o papel da organização através de
estratégias comunicativas que visam uma imagem organizacional favorável.
Para que se estabeleça uma comunicação organizacional e uma comunicação
pública, “a organização deve assumir um caráter dialógico”, promovendo a interação e a
participação dos indivíduos (FOSSÁ, 2003, p. 75). Compreendemos, assim como Sgorla,
Pérsigo e Fossá (2011), que o profissional que atua nesse campo é o Relações Públicas.
Ele é o profissional mais capacitado para desenvolver esse processo de construção de
sentidos entre sujeitos e organizações.

Na comunicação organizacional as relações públicas atuam no sentido de


organizar as políticas de comunicação, interação e relacionamento com os seus
públicos específicos. Os arranjos resultantes de relações públicas bem sucedidas
no contexto das organizações são capazes de promover uma comunicação
organizacional mais fluida, dinâmica e equilibrada (SGORLA; PÉRSIGO; FOSSÁ,
2011, p. 7).

Desde a criação e regularização da atividade de RP, o profissional é considerado o


responsável pela relação entre as organizações e seus públicos. Segundo a Lei nº
5.377/67, que disciplina a Profissão de RP, uma das atividades específicas de RP é “a
informação de caráter institucional entre a entidade e o público, através dos meios de
comunicação”. Segundo o Decreto nº.283/68, que aprova o regulamento da profissão, RP
é “a atividade e o esforço deliberado, planificado e contínuo para esclarecer e manter
compreensão mútua entre uma instituição pública ou privada e os grupos e pessoas a que
esteja direta ou indiretamente ligada”. A mesma ideia foi destacada recentemente em
carta aberta do Conselho Federal de Relações Públicas em defesa das Relações
Públicas10. Neste documento, o Conselho defende que as funções privativas do
profissional referem-se a “estabelecer relacionamentos inter-institucionais e entre
instituições e seus públicos”.
Além da legislação, diversos autores da área também destacam o papel do RP na
relação entre as instituições e seus públicos, como Fortes (2003), Andrade (2005), Pinho
(2003), Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011), Grunig; Ferrari; França (2009), Santos (2012) e
Ferrari (2009). Ao tratar das funções do profissional, diversas abordagens são

10
Publicada em julho de 2016. Disponível em: <http://www.conferp.org.br/?p=6579>. Acesso em 31 jul
2016.

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encontradas entre os teóricos: função administrativa11, estratégica12, mediadora13,


política14 e social15. Segundo um destes autores (KUNSCH, 2003), a função
administrativa visa atingir a organização como um todo, fazendo as articulações
necessárias para maior interação entre setores e grupos da organização. Orienta e
assessora a instituição nas suas relações com os diferentes públicos. A função
estratégica diz respeito ao assessoramento à direção da organização quanto aos
objetivos globais e às recomendações próprias da área de comunicação. A função
mediadora diz respeito às mediações que o RP pode promover entre a organização e
seus diferentes públicos, com a opinião pública e a sociedade em geral. No que se refere
à função política, o RP lida com as relações de poder dentro das organizações e com a
administração de controvérsias e crises dos âmbitos sociais interno e externo,
gerenciando problemas de relacionamento. E a função social diz respeito à
conscientização dos indivíduos de seus direitos e deveres e da possibilidade e
necessidade de sua participação na construção de uma sociedade mais justa. Nesse
contexto, as organizações “são convidadas a exercer novos papéis na construção da
cidadania” (KUNSCH, 2003, p. 130). O RP ganha destaque na atuação social das
organizações e, portanto, no desenvolvimento da comunicação pública.
A partir dessas definições, que não esgotam o tema em questão, buscamos
compreender o papel do RP no relacionamento entre as organizações de pesquisa
socioeconômica e seus diferentes públicos, bem como no desenvolvimento da
comunicação pública dessas organizações, através do exercício de sua função social.
Para explicar o recorte adotado na escolha das instituições de pesquisa e teorizar o tema,
desenvolvemos o tópico seguinte.

Organizações de pesquisa socioeconômica e a produção de indicadores


Temas econômicos fazem parte de nossas vidas e entender de economia passa a
ser importante nesse contexto. Estamos nos referindo tanto à microeconomia, que trata
de assuntos menores relacionados ao comportamento individual das pessoas, famílias e
das empresas, como da macroeconomia, que é bem mais abrangente e global. Esta se
relaciona à renda nacional dos Países, Estados ou Cidades, propicia uma visão mais

11
Kunsch (2003); Fortes (2003); Andrade (2005); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
12
Kunsch (2003); Fortes (2003); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
13
Kunsch (2003); Fortes (2003); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
14
Kunsch (2003); Fortes (2003); Simões (1995); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
15
Kunsch (2003); e Andrade (2003).

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clara de políticas do Governo, trata do dinheiro em circulação e as suas reservas, as


variações dos preços e salários, e as importações e exportações. Para que possamos
compreender a macroeconomia e sua influência na vida das pessoas foram criados
diversos indicadores econômicos, tais como o Produto Interno Bruto, o nível de
desemprego, a inflação, entre outros.
Indicador é um índice que permite representar uma realidade econômica de
maneira quantitativa e direta. Costuma tratar-se de uma estatística que supõe uma
medição de uma variável durante certo período. Os indicadores econômicos (IEs) são de
suma importância para melhor compreender a situação presente, para delinear as
tendências da economia e também para subsidiar o processo decisório dos agentes
públicos e privados (LOURENÇO; ROMERO, 2002). Os IEs “representam essencialmente
dados e/ou informações ‘sinalizadoras’ ou ‘apontadoras’ do comportamento (individual ou
integrado) das diferentes variáveis e fenômenos componentes de um sistema econômico
de um país, região ou estado” (LOURENÇO; ROMERO, 2002, p. 27, grifos dos autores).
Tais indicadores são produzidos por diferentes instituições de pesquisa e
agrupados convencionalmente a partir da variável macroeconômica principal que eles
tentam explicar (LOURENÇO; ROMERO, 2002). Os autores classificam os principais IEs
brasileiros em cinco subconjuntos de variáveis macroeconômicas relevantes, os quais são
apresentados no Quadro 1, juntamente com o conceito e a instituição produtora de cada
indicador.

Quadro 1: Principais Indicadores Econômicos brasileiros

Subconjuntos Indicador Conceito/finalidade/metodologia de Inst.


determinação Produtora

Nível de Produto interno O PIB corresponde ao valor de mercado do fluxo IBGE: PIB
atividade: bruto (PIB) de bens e serviços finais disponibilizados por trimestral
estes uma economia em um determinado período de IPEA:
indicadores tempo, propiciando o acompanhamento de suas projeção anual
funcionam como modificações estruturais e de seu curso
termômetro das conjuntural.
condições gerais
dos elementos Produção Revela a variação mensal da produção física da IBGE
mais sensíveis industrial indústria brasileira, obtida a partir da Pesquisa
às flutuações Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF).
cíclicas do lado Serve como indicador preliminar da evolução do
real da economia PIB industrial.

Desemprego: A taxa de desemprego é definida pela relação PME:


1. PME entre o número de pessoas desempregadas e a IBGE
2. PED população economicamente ativa (PEA). Tanto a
Pesquisa Mensal de Emprego (PME) quanto a PED:

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Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) SEADE-SP


cobrem o mercado de trabalho nos grandes DIEESE
centros urbanos, excluindo as cidades de
pequena dimensão e as áreas rurais.

Preços/inflação: Índice Geral de O IGP-DI foi durante mais de 40 anos empregado FGV
A inflação pode Preços - como principal indicador da inflação brasileira.
ser entendida Disponibilidade Sua utilização principal é na atualização dos
como elevação Interna (IGP-DI) valores de contratos
generalizada e
permanente dos Índice Geral de Difere-se do IGP-DI devido à periodicidade da
níveis de preços Preços de coleta dos preços. Atualmente é utilizado
do sistema Mercado (IGP- especialmente nos contratos de reajustes de
econômico, M) tarifas de telefonia e de energia elétrica.
resultando em
deterioração do Índice de Reflete as variações dos preços dos bens e IBGE
poder aquisitivo Preços ao serviços consumidos por famílias com renda
da moeda e de Consumidor mensal urbana entre 01 e 40 salários mínimos. É
precisão dos Amplo (IPCA) adotado pelo BCB para fixação das metas de
valores dos inflação do país, acordadas entre o governo
ativos. Existem brasileiro e o FMI.
diversos índices
de preços que Índice Nacional Capta a evolução da cesta de produtos
medem a de Preços ao consumidos por famílias com rendimento entre 01
inflação em toda Consumidor e 08 sal. min., provenientes excl. do trabalho
cadeia de (INPC) assalariado urbano.
produção e de
comercialização, Índice de Calcula a variação de preços de bens e serviços FIPE
ou em partes Preços ao para famílias que ganham entre 01 e 20 sal. min.
relevantes da Consumidor no município de SP. Utilizado para reajustar
mesma. (IPC) impostos estaduais e municipais no Estado de
SP.

Setor externo Exportações Valor das vendas e outras remessas de bens e BCB
serviços de propriedade para o exterior,
realizadas por agentes econômicos residentes do
país, a preços de embarque, excluindo
pagamento de fretes, seguros, impostos e taxas.

Importações Valor das compras e outros ingressos de


mercadorias e serviços procedentes do exterior
do país.

Saldo da Exportação menos importação


balança
comercial

Saldo em Consolidação da balança comercial e de serviços


transações e das transferências unilaterais.
correntes

Dívida externa Valor total de débitos do país, contratados com


residentes no exterior e garantidos pelo governo,
decorrentes de empréstimos e financiamentos,
com prazo de vencimento superior a um ano.

Financeiros Juros Taxa de juros média (em %) praticada pelo BCB


Over/Selic para a rolagem dos títulos da dívida pública por
um dia.

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Poupança Rendimento calculado para a remuneração


mensal dos depósitos em caderneta de
poupança, a partir da Taxa Referencial de Juros
(TR), acrescida de 0,5%.

Setor público Dívida líquida Somatório do endividamento dos governos


federal (inclusive BCB), estadual e municipal e
por suas empresas junto ao sistema financeiro
(público e privado), ao setor privado não
financeiro e ao resto do mundo, descontados os
valores correspondentes aos créditos do governo.

Necessidades Déficit ou superávit resultante da variação líquida


de da dívida pública, deduzidos os empréstimos
financiamento concedidos ao setor privado.

Fonte: Lourenço; Romero (2002)

Os principais indicadores econômicos brasileiros são produzidos por um total de


sete instituições de pesquisa diferentes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), Fundação Sistema Estadual
de Estatísticas e Análise de Dados (SEADE-SP), Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Fundação Getúlio Vargas (FGV),
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e Banco Central do Brasil (BCB).
Tendo isso em vista, optamos por analisar estas sete instituições e os profissionais de RP
que nelas atuam, a fim de compreender qual o papel do Relações Públicas no
desenvolvimento da comunicação pública dessas instituições. O estudo empírico será a
próxima etapa da pesquisa, a ser desenvolvida mais adiante.

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