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Solange Prediger1
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar uma discussão teórica e inicial sobre o papel do
Relações Públicas no desenvolvimento da comunicação pública de organizações2
brasileiras de pesquisa socioeconômica. O assunto é tema de uma pesquisa proposta
pela pesquisadora, cujas indagações se referem a compreender qual a percepção do
próprio profissional frente aos desafios da comunicação pública, como as instituições
trabalham com a comunicação pública e quais as estratégias de comunicação utilizadas
por elas para promover essa comunicação. Neste artigo, apresentamos a justificativa do
estudo e o referencial teórico que embasará a pesquisa empírica a ser realizada mais
adiante.
Introdução
O que motiva essa pesquisa é a busca pela compreensão de algumas questões
intrigantes na atuação enquanto profissional de Relações Públicas e, nesse caso,
justificamos a escolha por estudar o papel do RP. Primeiro, destacamos que são diversas
as definições do termo e da função de RP expostas tanto na legislação que regulamenta a
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Graduada em Relações Públicas (UFSM), Mestre em Comunicação Midiática (UFSM) e Relações Públicas
na Fundação de Economia e Estatística – Siegfried Emanuel Heuser. E-mail: sol_prediger@yahoo.com.br.
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Compreendemos que os termos “instituição” e “organização” são conceitos distintos. “As organizações são
a objetivação do processo de institucionalizações econômicas, políticas e culturais. Em outras palavras,
Instituições são legados coercitivos sociais que dão forma à interação humana. As instituições incluem as
organizações, mas essas não incluem as instituições” (SIMÕES, 2011, p. 23). Nesse sentido, o conceito de
instituição se refere a algo mais amplo que as organizações e o conceito de organização, por sua vez, é
mais amplo que o de empresa, por exemplo. Compreendemos que “organização” se refere a um grupo
“planejado de pessoas que desempenham funções e trabalham conjuntamente para atingir objetivos
comuns” (KUNSCH, 2003, p. 23). Ela é entendida como um sistema aberto, um subsistema de um sistema
maior, que é a sociedade, operando dimensões sociais, econômicas, políticas e simbólicas. Além disso,
devemos levar em conta que são formadas por pessoas distintas, que carregam seu próprio universo
cognitivo, fazendo da organização um sistema complexo, que “envolve muitas implicações, que devem ser
analisadas numa perspectiva individual, grupal, organizacional e sociopolítica” (KUNSCH, 2003, p. 30).
Enquanto isso, o termo “instituição” é tratado pela autora como algo superior à organização. Esta pode se
institucionalizar assumindo, por exemplo, compromissos relevantes para a sociedade e o mercado
(KUNSCH, 2003). Apesar dessas diferenças, salientamos que, ao longo deste projeto, utilizamos os termos
“organização” e “instituição” nos referindo sempre ao significado do primeiro, apenas para evitar repetições.
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profissão quanto entre os teóricos da área, o que pode levar a alguns equívocos em
relação ao uso do conceito ou em relação às especificidades da profissão.
Como define Simões (1995, 2011), o termo relações públicas é polissêmico.
Compreende “uma disciplina, seu ensino, a profissão, sua teoria, a prática, os
profissionais, os alunos, a comunidade e todos os componentes deste guarda-chuva
sociológico” (SIMÕES, 2011, p. 13). Pelo fato de ser usado para designar diversos
objetivos sociais, é difícil designá-lo com precisão, tanto entre pessoas envolvidas no
tema quanto entre leigos no assunto (SIMÕES, 1995). Ainda para o autor em questão,
“pior ainda para a compreensão deste assunto é que, além da polissemia do termo, existe
o problema de várias definições da atividade fornecida por estudiosos e associações de
classe” (SIMÕES, 1995, p. 48). Nesse contexto, tememos pela perda do real sentido do
papel do RP nas organizações e pesquisar sobre esse assunto é instigante.
Outra questão que nos inspira é o fato de sabermos que muitas organizações têm
uma visão restrita da comunicação, que considera apenas uma de suas áreas e/ou
funções e, nesse caso, não contam com profissionais de RP. Consideramos que a
presença do profissional qualifica e aprimora o desenvolvimento das estratégias de
comunicação desenvolvidas pelas organizações. Compreender como elas se articulam
diante disso e problematizar sobre a falta de um profissional qualificado para tratar dessas
questões é também motivador.
Percebemos ainda que muitas vezes a atuação do profissional de RP não é
compreendida em sua totalidade no mercado de trabalho3. Por vezes, ele é visto como
organizador de festas ou responsável apenas pela comunicação interna das organizações
quando, na verdade, estas são duas das estratégias utilizadas pelo profissional para
promover o relacionamento entre a organização e seus públicos, dentre tantas outras de
que o profissional lança mão.
Um dos campos de atuação do profissional é a comunicação pública (CP), o que
justifica o estudo deste conceito. A sua definição é empregada para definir a prática de
uma comunicação mais democrática, voltada para a construção da cidadania. Além disso
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Estas observações foram feitas a partir da experiência no mercado de trabalho. Ao longo dos últimos
quatro anos, atuando na área de comunicação de diferentes instituições (Exército Brasileiro, Instituto
Federal Farroupilha e Fundação de Economia e Estatística), muitas vezes nos deparamos com perguntas
como “o que faz o RP mesmo?”, “o RP é o profissional que organiza festinhas?”, “então é só pensar
algumas ações para o público interno?”, entre outras.
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A busca foi realizada na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (http://bdtd.ibict.br/) e foi
complementada por meio da busca de teses e dissertações nos repositórios dos Programas de Pós-
Graduação em Comunicação e através de buscas por textos e artigos no Google.
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O primeiro é uma tese desenvolvida na Universidade de São Paulo que trata da gestão da ética nas
organizações como uma possibilidade de atuação dos profissionais de RP e comunicação organizacional
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(ANDRADE, 2010) e o outro é uma dissertação desenvolvida nesta mesma universidade que aborda a
contribuição das relações públicas no processo de humanização nas organizações através de um estudo de
caso (MOURA, 2012).
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O estudo é uma pesquisa teórico-empírica que relaciona os temas comunicação pública, Relações
Públicas e midiatização sob o Paradigma da Complexidade de com base em Edgar Morin (KEGLER, 2008).
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Foram encontrados textos sobre o papel do RP na internacionalização de organizações, em contextos
interculturais, na prática da responsabilidade social, na construção de relacionamentos éticos e
organizacionais, no desenvolvimento de eventos, na comunicação de micro e pequenas empresas, no
gerenciamento de crises, na gestão da atividade turística, na construção da imagem e identidade
organizacional, na comunicação interna, na gestão de marcas, na comunicação do terceiro setor, entre
outros.
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científica (BRANDÃO, 2007). Esta busca integrar a ciência ao dia a dia das pessoas,
despertando seu interesse e a curiosidade. Compreendemos que
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Falcetta (2012) destaca a proximidade entre as áreas de Economia e RP e afirma que ambas estão em
voga. Ele defende que o RP deve estar atento às mudanças econômicas, entender de economia e ter visão
de mundo – o mundo econômico – para entendê-lo e interferir no seu espaço de atuação. “A afinidade com
o ambiente econômico é uma condição sine qua non, obrigatória, imposta pelo próprio ambiente de trabalho
[...]” (FALCETTA, 2012, p. 111, grifos do autor).
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A FEE é uma instituição de pesquisa vinculada ao Governo do Rio Grande do Sul e considerada a maior
fonte de dados socioeconômicos e estatísticos sobre o Estado. Possui uma equipe multidisciplinar,
composta por pesquisadores e analistas técnicos, que desenvolvem e divulgam pesquisas, análises,
indicadores e índices sobre o RS e também sobre a realidade socioeconômica nacional e internacional. A
Fundação gera, assim, conhecimento especializado nas áreas de desenvolvimento econômico e social. Isso
faz da FEE uma “fonte de consulta permanente para qualificar a análise conjuntural e histórica, a tomada de
decisões e o planejamento governamental nas diferentes esferas da administração pública” (Portal da FEE.
Disponível em < http://www.fee.rs.gov.br/sobre-a-fee/atuacao/>. Acesso em 02 mar 2016).
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visando atingir os diversos públicos das corporações com o intuito de vender – seja uma
imagem, seja um produto, seja uma idéia, seja uma fé – e obter lucro financeiro, pessoal,
em status ou poder” (BRANDÃO, 2007, p. 3). Essa comunicação é assumida pela
organização e tem por objetivo mostrar ao público o papel da organização através de
estratégias comunicativas que visam uma imagem organizacional favorável.
Para que se estabeleça uma comunicação organizacional e uma comunicação
pública, “a organização deve assumir um caráter dialógico”, promovendo a interação e a
participação dos indivíduos (FOSSÁ, 2003, p. 75). Compreendemos, assim como Sgorla,
Pérsigo e Fossá (2011), que o profissional que atua nesse campo é o Relações Públicas.
Ele é o profissional mais capacitado para desenvolver esse processo de construção de
sentidos entre sujeitos e organizações.
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Publicada em julho de 2016. Disponível em: <http://www.conferp.org.br/?p=6579>. Acesso em 31 jul
2016.
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Kunsch (2003); Fortes (2003); Andrade (2005); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
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Kunsch (2003); Fortes (2003); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
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Kunsch (2003); Fortes (2003); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
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Kunsch (2003); Fortes (2003); Simões (1995); e Sgorla; Pérsigo; Fossá (2011).
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Kunsch (2003); e Andrade (2003).
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Nível de Produto interno O PIB corresponde ao valor de mercado do fluxo IBGE: PIB
atividade: bruto (PIB) de bens e serviços finais disponibilizados por trimestral
estes uma economia em um determinado período de IPEA:
indicadores tempo, propiciando o acompanhamento de suas projeção anual
funcionam como modificações estruturais e de seu curso
termômetro das conjuntural.
condições gerais
dos elementos Produção Revela a variação mensal da produção física da IBGE
mais sensíveis industrial indústria brasileira, obtida a partir da Pesquisa
às flutuações Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF).
cíclicas do lado Serve como indicador preliminar da evolução do
real da economia PIB industrial.
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Preços/inflação: Índice Geral de O IGP-DI foi durante mais de 40 anos empregado FGV
A inflação pode Preços - como principal indicador da inflação brasileira.
ser entendida Disponibilidade Sua utilização principal é na atualização dos
como elevação Interna (IGP-DI) valores de contratos
generalizada e
permanente dos Índice Geral de Difere-se do IGP-DI devido à periodicidade da
níveis de preços Preços de coleta dos preços. Atualmente é utilizado
do sistema Mercado (IGP- especialmente nos contratos de reajustes de
econômico, M) tarifas de telefonia e de energia elétrica.
resultando em
deterioração do Índice de Reflete as variações dos preços dos bens e IBGE
poder aquisitivo Preços ao serviços consumidos por famílias com renda
da moeda e de Consumidor mensal urbana entre 01 e 40 salários mínimos. É
precisão dos Amplo (IPCA) adotado pelo BCB para fixação das metas de
valores dos inflação do país, acordadas entre o governo
ativos. Existem brasileiro e o FMI.
diversos índices
de preços que Índice Nacional Capta a evolução da cesta de produtos
medem a de Preços ao consumidos por famílias com rendimento entre 01
inflação em toda Consumidor e 08 sal. min., provenientes excl. do trabalho
cadeia de (INPC) assalariado urbano.
produção e de
comercialização, Índice de Calcula a variação de preços de bens e serviços FIPE
ou em partes Preços ao para famílias que ganham entre 01 e 20 sal. min.
relevantes da Consumidor no município de SP. Utilizado para reajustar
mesma. (IPC) impostos estaduais e municipais no Estado de
SP.
Setor externo Exportações Valor das vendas e outras remessas de bens e BCB
serviços de propriedade para o exterior,
realizadas por agentes econômicos residentes do
país, a preços de embarque, excluindo
pagamento de fretes, seguros, impostos e taxas.
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Referências
ANDRADE, Cândido T. de Souza. Para entender Relações Públicas. São Paulo: Loyola,
2005. 4. ed.
_______. Curso de Relações Públicas: relações com os diferentes públicos. 6. ed. rev.
e ampl. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2003.
ANDRADE, Zilda A. Freitas de. Gestão da ética nas organizações: possibilidades aos
profissionais de relações públicas e comunicação organizacional. Tese de Doutorado.
USP: São Paulo, 2010.
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GRUNIG, James E.; FERRARI, Maria A.; FRANÇA, Fábio. Relações Públicas: teoria,
contexto e relacionamentos. 1 ed. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2009.
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SGORLA, Fabiane; PÉRSIGO, Patrícia Milano; FOSSÁ, Maria Ivete Trevisan. A função
política de Relações Públicas na legitimação organizacional. Cadernos de
Comunicação, n.14, junho, 2011.
SIMÕES. Roberto Porto. Relações Públicas: função política. 3ª ed. São Paulo: Summus,
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ZÉMOR, Pierre. La communication Publique. Trad.: Elizabeth Brandão. PUF: Col. Que
sais-je? Paris, 1995.
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