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RESUMO
Introdução
O Biblioteca Falada é um projeto de extensão da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), do Campus de Bauru. Desde 2013, ele produz mídia
sonora acessível para pessoas com deficiência visual (PcDV) do Lar Escola Santa Luzia
para Cegos de Bauru (LESL) que são disponibilizadas em site e aplicativo. O projeto é
desenvolvido com participação de alunos e docentes voluntários, de diversos cursos da
Unesp, como Jornalismo, Relações Públicas, Psicologia, Ciências da Computação.
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Trabalho apresentado no IJ03 – Relações Públicas e Comunicação, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação
Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
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Graduanda do curso de Relações Públicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).
Contato: eleonora.ferreira@unesp.br.
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Graduando do curso de Relações Públicas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).
Contato: guilherme.f.oliveira@unesp.br
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Coordenadora do Projeto de Extensão Biblioteca Falada; docente do Programa de Pós-Graduação em Mídia e
Tecnologia (PPGMiT) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). Contato:
suely.maciel@unesp.br
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Morin (2015) relaciona esta concepção mecanicista ao “Paradigma de Simplificação”, maneira de enxergar o mundo
como algo estático, mensurável e objetivo.
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é uma organização, Porém (2019, p. 122) explica que “ela não existe de fato e, por isso,
pode ser entendida como uma narrativa ficcional capaz de aglutinar pessoas em
cooperação por meio da crença compartilhada nos mesmos mitos, na mesma crença
comunicada”. Portanto, a comunicação organizacional é produtora das organizações,
uma vez que elas são “[...] tecidas, construídas e reconstruídas por atores sociais em
permanente interação/comunicação, e de sua relação com os certos padrões e normas
estabelecidos pelas organizações” (PORÉM, 2019, p. 127). Cabe então entender como
se dão os processos comunicativos nas organizações.
Ao longo do século XX, diversas correntes teóricas da comunicação estudaram a
área a partir do enquadramento em paradigmas, em especial o paradigma clássico,
também conhecido como paradigma informacional. Neste modelo estrutural, a
comunicação é entendida como “[...] um processo linear de transmissão de mensagens
de um emissor para um receptor, provocando determinados efeitos” (BASTOS; LIMA,
2012, p. 32). A partir dessa perspectiva, os processos comunicacionais foram estudados
mecanicamente. Com uma finalidade meramente operativa, esse paradigma entende os
lados do processo de comunicação como passivos e ativos. As organizações
contemporâneas se apropriaram desse paradigma e trabalham até os dias de hoje com
perspectivas mecanicistas da comunicação, em especial considerando-a responsável
apenas pelo fluxo de informações e divulgações institucionais e mercadológicas.
Essa visão fragmentada da comunicação, pensada como “uma sequência linear
de partes encadeadas de modo a provocar resultados específicos” acaba por limitar a
multiplicidade de olhares possíveis de análise, afirmam Bastos e Lima (2012, p. 35). As
autoras apontam que, nessa perspectiva, perde-se a visão do todo, da globalidade do
processo. Para que possamos entender a comunicação, em especial no contexto das
organizações, devem ser considerados os aspectos da sua constituição, como os
processos de interação, os situacionais e os de construção de sentido.
Assim, outro paradigma assume a centralidade no entendimento do que é
comunicação. Vera França (2001) apresenta o Paradigma Relacional, uma forma de se
entender a essência dos estudos da comunicação. A autora explica que “a especificidade
do olhar da comunicação é alcançar a interseção de três dinâmicas básicas: o quadro
relacional (relação dos interlocutores); a produção de sentidos (as práticas discursivas);
a situação sociocultural (o contexto)” (FRANÇA, 2001, p. 5). Assim como explicado
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comunicação não mais reflete uma realidade, pelo contrário, é “formativa” no sentido de
criar e representar o processo de organizar” (apud MARCHIORI, 2013, p. 103).
A partir desse entendimento, a comunicação assume a centralidade do processo
de instituição da cultura organizacional. Como sabemos que a comunicação são os
relacionamentos construídos pela interação e o compartilhamento de significados em
um certo contexto, “podemos afirmar que cultura é construída, mantida e reproduzida
pelas pessoas, pois são elas [...] que criam significados e entendimentos”
(MARCHIORI, 2013, p. 102).
Os funcionários não apenas são construídos pela cultura da organização, como
também possuem poder para, recursivamente, (re)construir a cultura (MORIN, 2001,
apud BALDISSERA, 2014). Assim, pode-se afirmar que “a formação da cultura
organizacional está intimamente ligada ao desenvolvimento do conhecimento e
relacionamento” (MARCHIORI, 2013, p. 106). Muitas vezes, as lideranças são
responsáveis pela tentativa de consolidação de uma cultura organizacional, pelos
poderes que lhes são conferidos (BALDISSERA, 2014, p. 92). Esses líderes também
desenvolvem um papel importante em situações de impacto na cultura organizacional
vigente, como nos processos de Mudança Organizacional.
Como já exposto, diversos são os fatores que impactam as organizações na
atualidade. Considera-se que elas são agentes sociais (MONTEIRO; SOARES, 2012), e
assim se tornam sujeitas da volatilidade da sociedade pós-moderna. Curvello (2012, p.
39) aponta que “a mudança é resultado da ação coletiva provocada por influências
organizacionais e do meio ambiente”. Mudança organizacional é um processo
caracterizado pelo princípio de melhoria contínua (HARARI, 1991, apud WOOD JR,
2009), o qual, segundo Want (1990), é dividido em:
por opção, quando a organização não está sujeita a nenhuma pressão;
operacional, para fazer frente a deficiências específicas; direcional,
quando uma alteração estratégica é necessária; fundamental, quando a
própria missão é alterada; e total, nos casos mais críticos, como uma
iminência de falência (apud WOOD JR, 2009, p. 8-9).
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tendo em vista a forma como ela “molda o comportamento dos demais, influencia na
decisão das pessoas na organização” (ZAMONELLI, 2016, p. 89) e fornece um modelo
a ser seguido. Cabe a essa figura “ter consciência do processo de transformação e buscar
unir a todos em um propósito comum, [...] de maneira a influenciar a construção
coletiva de crenças e valores” (ZAMONELLI, 2016, p. 89) e incentivar as pessoas para
que as mudanças perdurem corretamente (KOTTER, 2012, apud PORTO et al, 2020).
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Resultados e Discussões
A partir da evasão já citada, foram necessárias mudanças operacionais na
estruturação do projeto Biblioteca Falada. No momento da evasão, equipes foram quase
extintas, enquanto outras perderam a figura de liderança que as coordenava. Com o
objetivo de gerenciar a comunicação e o público interno as equipes de Administração,
CP e GP se fundiram em uma equipe: Gestão Interna. Os colaboradores foram
realocados para as equipes mais prejudicadas com redução de pessoal. Na correção de
adversidades, novas figuras de liderança, algumas vezes vindas de outros setores, foram
nomeadas pela Equipe Estratégica. Por meio do Grupo de Discussão realizado, foi
possível diagnosticar os impactos causados pelas mudanças, como, especialmente nas
posições hierárquicas, conforme apresentado a seguir:
Figura 2: Organograma atualizado
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formulário online na plataforma Google Forms, composto por uma seção de avaliação
de temáticas, como volume de trabalho, e encerrado com uma caixa de resposta aberta
para que o interessado pudesse reportar sua crítica ou sugestão. O segundo, um
programa contínuo de acompanhamento realizado por GI, no qual cada equipe do
projeto teria um responsável de gestão que, por sua vez, deveria acompanhar suas
atividades, de maneira a assegurar a interação e o bom funcionamento do time.
c) para aproximar os membros e promover a criação de vínculos, foi indicada a
criação de um projeto de integração nas equipes, tendo em vista a necessidade de se
trabalhar com a cultura e integração da organização, remoldadas pelas pessoas que
compartilham novos significados (BALDISSERA, 2014), no caso, os novos hábitos que
se desenvolveram com os deslocamentos dos membros e das lideranças. A atividade
seria estruturada a partir do formato da brincadeira “Amigo Secreto”, porém, ao invés
de haver a troca de presentes em apenas um único momento, como geralmente costuma
ocorrer nesse tipo de dinâmica, a proposta consistiria em se fazer presente e tornar
momentos em conjunto especiais, de forma contínua. Foram sugeridas também
confraternizações periódicas, para estreitar laços criados no ambiente de trabalho.
d) buscando incentivar o reconhecimento e a exaltação de boas condutas, de
maneira a cultivar nos integrantes do projeto a autoconfiança para fomentar o
sentimento de liderança essencial para a boa aceitação da mudança organizacional, foi
proposta a criação de um programa no qual os membros poderiam enviar elogios e
feedbacks positivos uns aos outros.
e) com o objetivo de orientar os integrantes do projeto sobre a nova configuração
gerada pela mudança e suas razões, foi estruturada uma reunião extraordinária, na qual
os novos líderes tomariam frente na exposição dos benefícios das novas circunstâncias
para evitar resistência às novidades, além de apresentar os membros de suas equipes, de
forma a alavancar o sentimento de orgulho e pertencimento.
Considerações Finais
Entender a construção de relacionamentos nas organizações, sob a perspectiva
do Paradigma Relacional, permite uma certa expansão do olhar da comunicação. Os
conceitos apresentados indicam que os relacionamentos, de forma geral, e as pessoas
são uma parte importante da constituição das organizações (MARCHIORI, 2013).
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Seguindo esta linha, discutiu-se também que as organizações são formadas pela
comunicação que esses sujeitos interlocutores estabelecem.
A pesquisa de Auditoria de Comunicação Organizacional se mostrou eficaz
quando redirecionada para a comunicação interna. A partir dela, pode-se elaborar um
diagnóstico dos impactos da mudança organizacional. Pelo não esgotamento da
pesquisa apenas com o apontamento de propostas, se faz necessário um futuro
estabelecimento de métricas e avaliações dos programas propostos para o Biblioteca
Falada. O protagonismo dos membros da organização é tanto que pode-se refletir sobre
as suas centralidades na construção e consolidação da cultura organizacional
(BALDISSERA, 2014). Em especial, o papel dos líderes no processo de mudança.
A Comunicação Interna mostra sua relevância, ao assumir o papel de gestora dos
relacionamentos que podem garantir o realinhamento dos processos. Por fim, as
mudanças organizacionais, quando provocadas por situações não intencionais, podem
impactar a cultura e a forma como as atividades são realizadas. Mas a gestão dos
relacionamentos nas organizações, em especial, dos significados compartilhados pelo
público interno, atividade essencial das Relações Públicas (MARCHIORI, 2013),
mostra-se fundamental para o estabelecimento de melhorias a partir do uso de técnicas e
pesquisas estruturadas adequadamente, como a Auditoria de Comunicação.
Referências
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MONTEIRO, L. S.; SOARES, A. T. N.. O contexto das organizações: uma leitura sobre suas
configurações e seus processos comunicacionais. In: LIMA, F. P.; OLIVEIRA, I. L. (Orgs.).
Propostas conceituais para a comunicação no contexto organizacional. São Caetano do Sul:
Difusão, 2012, p. 49-66.
WOOD JR., T. Mudança organizacional: uma introdução ao tema. In: WOOD JR., T. (org.).
Mudança Organizacional. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 3-18.
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