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CÂMPUS: CIDADE UNIVERSITÁRIA - CAMPO GRANDE

CURSO: FILOSOFIA - LICENCIATURA

DISCIPLINA: PENSAMENTO FILOSÓFICO I

PROFESSOR: ANDRE KOUTCHIN DE ALMEIDA DATA: 30/09/2021

Acadêmico (a): Larissa Karine Estevita de Lima

1) No diálogo Fédon (399 a. C.), Sócrates narra retrospectivamente a sua desilusão com o caminho proposto
pelos sábios da physis e o então desvio de seus jovens olhos das coisas sensíveis para os entes postos pela
análise em logos. Já na cena dramática do diálogo Parmênides, de 450 a. C. (o primeiro momento da
temporalidade da léxis), é exposto um problema fundamental a respeito da célebre teoria das ideias
esboçadas por Sócrates, que o atormentará por toda a sua vida. Qual é este problema? Explique.
O jovem Sócrates dirigia sua atenção a natureza, assim como os demais, conhecidos como filósofos
da Physis. Essa ciência a princípio, pareceu esplendida, pois buscava conhecer as causas de cada coisa e até
mesmo o que seria capaz de corromper todas as coisas, mas logo se deu conta do quão limitadas e
duvidosas eram aquelas investigações a respeito da Physis. Vivenciando um momento de dúvidas, leu um
livro de Anaxágoras e ali parecia ter encontrado de forma inovadora, o que ordena e é causa de todas as
coisas, o espírito ou nous. A explicação das coisas agora é deslocada de causas externas e físicas para uma
causa universal e intelectiva, que disporia cada coisa da “melhor forma possível”. Conforme avançava na
leitura mais uma vez suas esperanças foram se perdendo, segundo Sócrates, após haver postulado o nous
como causa, Anaxágoras não teria sido consequente com sua teoria, já que acabava recorrendo a causas
externas e arbitrárias como os outros filósofos da physys.
No diálogo Fédon, Sócrates diz que, não concorda, sem reservas, que o exame das coisas em
raciocínios ou Ideias seja examinar em imagens mais do que voltar-se para as coisas em ato, ou seja, duvida
que o exame das ideias seja propriamente examinar imagens de maneira análoga ao ato de examinar as
coisas sensíveis. Mesmo com dúvidas, resolveu dedicar-se sem hesitação a investigar esses estranhos
entes, as ideias em si e assim poder agir a partir da escolha do que é melhor, o melhor em cada momento e
situação da sua vida.
Ainda jovem, Sócrates encontra o grande, Parmênides de Eleia, aqui temos o começo da temporalidade da
léxis, com função de princípio e fundamento de todos os diálogos. Um princípio filosoficamente posto
como Arché ou, no alemão, Grund. O começo, que visa fundar e fundamentar.
Após Sócrates ouvir a leitura de um texto de Zenão, discípulo de Parmênides, ele se dirige com certa
ironia ao sábio eleata: “ele [Zenão] escreveu a mesma coisa que escrevestes, mas transformando [o
argumento] tenta nos enganar como se estivesse um dizendo algo diferente. Parmênides, defende a
existência do um e Zenão defende a inexistência do múltiplo. Sócrates começa a fazer questões a Zenão, se
ele não acredita, que há uma ideia em si e por si da semelhança e uma outra contrária a essa, o
dissemelhante em si? E ainda se ele não acredita que destas duas ideias, da semelhança e da
dissemelhança, participam todos os entes? Assim Sócrates apresenta os principais elementos de sua Teoria
das Ideias, a existência das ideias em si e por si mesmas, e a questão da participação entre as ideias e as
coisas sensíveis.
Sócrates afirma não ter encontrado dificuldades em demonstrar a contradição nos entes sensíveis,
uma vez que as ideias como a semelhança e dissemelhança, se demonstram logo depois, capazes, entre si,
de se misturarem e de se separarem. Uma questão surge quando analisamos o interior das Ideias em si,
onde o semelhante se torna dissemelhante e vice e versa, Sócrates apresenta então aquele que será o
projeto de toda a sua vida, seria possível constituir tal logos internamente contraditório? Essa é a questão
colocada.
Parmênides e Zenão que até então ouviam tudo atentamente, já haviam notado que a hipótese era
uma tentativa de refutar as ideias fundamentais do eleatismo: não existe o não-ser, tudo é um, somente
existe o ser puro ser, o ser é um. Parmênides, nenhum um pouco irritado faz questionamentos a Sócrates,
essas ideias em si, teriam a sua existência de forma separada? Isto valeria para as ideias de belo, de bem e
todas as ideias semelhantes a essas? Existiria uma ideia do homem separada de nós e de todos os homens
que somos; uma ideia em si do homem, do fogo e da água? Mediante as questões do sábio, Sócrates então
reconhece a dificuldade, e lhe diz que, essa é uma questão que o incomoda e não saberia dizer se seria
necessário resolvê-la no mesmo sentido que a anterior.
Sócrates percebe que afirmar a existência de uma ideia para cada ente era difícil e problemático,
afim de superar esse embaraço, ressalta a existência de ideias como o belo e o bem, além de outras como
essa. Parmênides sem cessar obstáculos, destaca o problema da participação das ideias nos entes, e o
questiona se só parte de ideia ou a ideia toda que participa dos entes? e Sócrates o diz que todo ente
sensível participa do todo da ideia.
No tanto, se partirmos do ponto que, a Ideia é una e imutável, tanto nos entes múltiplos quanto nos
entes separados, a Ideia em si existiria de maneira paralela a si mesma. Sócrates buscando sair dessa
adversidade, diz que a participação das ideias nas coisas sensíveis é como a luz sol, que chega a todos
mesmo sendo uma e Parmênides o diz, a participação seria um véu que cobre a todos? E Sócrates
consente, mas acrescenta, o véu não toca o todo, pois existe uma divisão, a divisão das ideias sobre dos
entes. Eis aqui outro problema, como a ideia poderia se dividir e permanecer una?
Parmênides, afim de deixar claro ao jovem Sócrates o grande problema que sua teoria tem, usa
como exemplo o que é conhecido hoje dentre os comentadores como a “aporia do terceiro homem”, em
sumo se contemplamos uma multiplicidade de homens e unificamos eles em uma única ideia de homem,
seria necessário construir um terceiro homem que unificasse os homens e o Homem que foi posto como
ideia inicial, logo seriam necessárias as construções relacionais de homens e ideias de homens ao infinito.
Ainda sem dar descanso ao jovem Sócrates, aponta outra dificuldade, a incognoscibilidade das
ideias, as ideias para serem em si e por si mesmas não estariam em nós e não seria o que são a partir de
nós, as coisas que existem no nosso mundo seriam o que são a partir de suas relações mutuas e não partir
das ideias, ou seja, Parmênides está desenvolvendo a noção da impossibilidade das ideias em si
participarem dos entes sensíveis. Não conhecemos nada a respeito das ideias, já que não participamos das
ideias e é incognoscível para nós o belo em si e todas as que supomos como ideias em si. A maior
dificuldade de Sócrates seria defender sua teoria daqueles que sustentam a incognoscibilidade das ideias.
Para Parmênides, existe a ciência dos deuses e a ciência dos homens, elas se separam uma da outra,
nem os deuses pensam sobre os homens e nem os homens pensam sobre os deuses, assim é com as ideias,
elas se relacionam entre si e os homens entre os homens. Sócrates não sabe responder os problemas
propostos pelo sábio eleata. Parmênides aconselha o jovem Sócrates a treinar um método, uma “ginástica
discursiva” que tem a intenção de esclarecer o que é e o que não é, assim analisar o resultado dessa
contrariedade.
2) Após o fatídico encontro com Parmênides de Eléia, o caminho de Sócrates em direção às ideias é
interrompido por cerca de 15 anos. O período cético de Sócrates é, por sua vez, também interrompido após
duas revelações míticas narradas respectivamente nos diálogos Apologia (399 a. C.) e Banquete (416 a. C.).
Explique de que forma tais revelações atuaram sobre esse período da vida de Sócrates.
Se sentindo o menos sábio de todos os homens após o encontro com o grande Parmênides, fica 15
anos em um silencio cético, provocado pelas críticas do sábio eleata. Eis que a primeira revelação surge
quando um dia, seu amigo de infância, Querofonte, lhe diz que foi a Delfos e colocou ao Deus a seguinte
questão: “haveria alguém mais sábio que Sócrates?” E Phytia, a sacerdotisa de Apolo lhe respondeu: “não
há ninguém mais sábio” Justamente Sócrates, que nada sabia, paradoxalmente, seria o mais sábio dentre
todos os gregos?
Sócrates buscou outros homens mais sábios que ele, principalmente na intenção de provar que o
oráculo estava errado, o primeiro foi um político e após conversar com ele, conclui que ele era tinha uma
reputação de sábio, mas não possuía sabedoria real. A experiencia se repetiu mais algumas vezes, mas, o
resultado era sempre o mesmo.
O saber que buscava mesmo sendo modesto e pobre, era um saber que anunciava um novo começo
para romper o silencio de Sócrates. O saber que não se sabe, como um instante entre o movimento e o
repouso, este intermediário não se confunde com nenhum polo, pois é muito mais o ponto de chegada
onde termina o não saber e o ponto de partida em direção ao saber, é como um Átopos que permite a
passagem de um pra outro. Esse saber também não levaria Sócrates a conclusões vazias? Como, a partir
desse intermediário, saber como recomeçar o caminho em direção as Ideias por si e por si? Não seria só
recomeçar o ciclo que leva a justaposição de determinações, a todos e a nenhum, a saber e não-saber?
Então Sócrates relembra de outra revelação que recebeu da sacerdotisa Diotima de Mantinéia, a
respeito das coisas do amor. Segundo esta, no dia do nascimento de Afrodite, deusa do amor, ocorreu uma
grande festa na casa de Zeus, onde os deuses banquetearam largamente a noite toda. Póros, o Deus do
recurso, se embriagou e dormiu no jardim de Zeus, Penia, Deusa da pobreza, devido a toda sua miséria
deitou-se ao lado de Póros e, assim engravidou, engendrando Eros, o filho nascido dos recursos de seu pai
e da pobreza de sua mãe. Eros foi gerado na festa que celebrava o nascimento de Afrodite, sendo Eros a
união da exuberância de seu pai e das aporias de sua mãe, devido a oposição que carrega na sua própria
genealogia, Eros é um ser essencialmente intermediário (metaxy).
Por ter nascido no mesmo dia que Afrodite, Eros é destinado a ser companheiro dela, pois tem
características únicas e “demoníacas”. Um metaxy entre os deuses e os mortais, nem deus, nem mortal;
nem belo, nem feio; nem bom, nem mau. A função dele, diz Diotima, é: “transmitir aos deuses aquilo vem
dos homens, e, transmitir aos homens o que vem dos deuses, sejam as preces e sacrifícios, as ordens e as
retribuições desses sacrifícios”, e ainda, uma vez que o demoníaco se situa no “meio do caminho”, sua
função é preencher esse vazio.
Esse ser demoníaco reproduz a sua característica intermediária, como Eros está no meio do caminho
entre a sabedoria e a ausência do saber, seria uma expressão mitológica daquela outra “entidade híbrida”,
o saber que não se sabe? Na verdade, esse demoníaco é uma “potência engendradora” que retira o saber
que não sabe de sua inercia, o completa e o desenvolve. Eros não poderia residir em qualquer quietude
cética, uma vez que ele é justamente a própria inquietude, e manifesta tal inquietude no desejo que
desperta diante do ser amado, assim como na pulsão arrebatadora que irrompe na proximidade de um
corpo belo.
Diotima afirma que o amor erótico não é voltado propriamente para objetos belos, mas sim é, um
desejo de gênese e de engendramento no interior do belo. Toda natureza mortal, seja humana ou animal,
possui esse desejo, esse impulso animal de engendrar no belo, que vive em cada um dos seres vivos, mas
especificamente, é o desejo de ser imortal, “o desejo de ser pra sempre” ou em outras palavras, um desejo
de Ser, mesmo Não-sendo. Toda natureza mortal expressaria em Eros a contraditória pulsão de eternidade,
todo ser finito manifestaria na força do desejo erótico a pulsão para a infinitude.
O único meio do finito ser imortal é engendrando um novo ser afim de substituir o seu próprio ser
efêmero, que é deteriorado pelo tempo, assim, o mortal engendra um novo ser pela união sexual com outro
ser amado, isso é o que satisfaz o desejo de Eros. Ele é um intermediário que inquieta aquele saber que
não se sabe, ele é justamente o que arranca da quietude aquele que se reconhece como não-sábio, como
finito saber.
O mais importante é a revelação da metal final, que consiste em atingir algo além do ato sexual e do
engendramento físico, visto que o desejo mais profundo de Eros é o de se aproximar de uma beleza que esteja além
dos corpos e olhos sensíveis. A pulsão mais profunda desse ser demoníaco é voltada pra “a ideia em si e por si do
belo”, ou seja, do belo em si. O caminho é tortuoso, mas, incialmente, ama-se as coisas que aqui são belas e em
vista daquele belo, segue se expandindo sempre, como que servindo de degraus, de não somente um, mas para dois
e dos dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para as belas ações, e das belas ações para as belas ciências
e assim sucessivamente até que se chegue na ciência perfeita, que nada mais é do que a ciência belo, se conhece,
enfim, o que é o belo. Tendo refletido acerca destas revelações, Sócrates decide, mais uma vez, se lançar no
caminho das Ideias.
3) Por volta de 434-433 a. C., após o longo período de silêncio aporético, portanto, recomeçam de fato os Diálogos.
São desta fase da vida de Sócrates diálogos como Protágoras e Eutidemo, ambos retratando discussões com sofistas,
e diálogos como Lysis, no qual os interlocutores são belos jovens. Demonstre porque os diálogos desta fase são a
clara aplicação da dialética derivada das revelações míticas do período socrático anterior.

Em posse do saber que nada sabe, agora Sócrates poderia refutar aqueles que se consideravam
sábios, graças aos ensinamentos de Diotima, ira a caça de belos corpos. Como interlocutores nestes
diálogos teremos os sofistas, Protágoras e Eutidemo e os adolescentes Lysis, Alcebíades e Cármides.
Ao ser questionado se veio em busca do belo Alcebíades, Sócrates concorda, mas acrescenta, que
veio de encontro a outro mais belo, Protágoras, “o mais sábios dos homens de hoje”. Neste encontro, narra
Sócrates, ocorre justamente a demonstração de que Protágoras, o pretenso mais sábio de todos os homens,
nada sabia. Protágoras se contradiz diversas vezes diante das questões postas por Sócrates, ao final do
diálogo, a contrariedade entre os dois polos discursivos é levada a tal ponto que as posições iniciais são
invertidas, Sócrates que negava que a virtude pudesse ser ensinada, passa para a posição contraria, e por
sua vez, Protágoras, que afirmava poder ensinar a virtude, passa a dizer que a virtude não é uma ciência, e
por tanto não pode ser ensinada
No fim, ironicamente, Sócrates invoca o próprio logos, como se ele pudesse falar e diz “Vós,
Sócrates e Protágoras, sois incoerentes”. Diante das várias contradições, brilhava a força do saber que não
se sabe de Sócrates, superando o “pseudossaber” de Protágoras, mediante aos belos jovens.
Alcebíades, que estava presente, muitas vezes intervém em defesa de Sócrates, sentindo-se
maravilhado ao ver o “mais sábio dos homens” sendo envergonhado. Nesse diálogo a eficiência da arte
erótica revelada por Diotima é confirmada, “após um pretenso sábio ser refutado, Sócrates brilhará diante
do mais belo jovem de Atenas, Alcebíades.”
No diálogo Eutidemo, Sócrates dialoga com os jovens Clínias e Ctésipo e com os sofistas, Eutidemo
e Dionisodoro. Sobre Eutidemo e Dionisodoro, Sócrates diz, são homens hábeis em lutas físicas, com
armas e palavras, capazes de refutar tudo aquilo que se diz, sendo verdadeiro ou falso, ou seja, além de
lutas e arte da guerra, eles também eram mestres na “arte de discutir”, a erística. Inicialmente o objetivo
deles é ensinar a virtude, afirmam ser não só capazes, mas os melhores e mais rápidos nisto.
Sócrates então diz aos mestres que ele e os outros ali presentes teriam interesse em aprender tal
saber, ele os convida a demonstrar esta arte e usar como interlocutor o jovem Clínias. Eutidemo então
começa lhe perguntando: quais são os que aprendem, aqueles que sabem ou aqueles que ignoram?
enquanto Clínias pensa, Dionisodoro diz a Sócrates: qualquer que seja sua resposta, ele será refutado, e
então Clínias responde: aqueles que sabem são aqueles que aprendem e Eutidemo pergunta: não é verdade
que quando você aprende, você não sabe ainda o que você aprende? Clínias concorda, e Eutidemo então
conclui: são, portanto, os ignorantes que aprendem, Clínias, e não os sábios, como você pensava.
Dionisodoro diz: quando o gramático consegue ensina algo, quais são as crianças que aprendem o
que foi ensinado, os sábios ou os ignorantes? Clínias, que havia sido ensinado por um gramatico, sentiu-se
obrigado a concordar que são os sábios e então Dionisodoro conclui: são sábios aqueles que aprendem e
não os ignorantes, justamente o que há pouco havia dito Clínias a Eutidemo.
Sócrates que ouvia tudo calado, diz a Clínias, na tentativa de não deixar que ele se abalasse, que este
dois homens nada mais fazem do que realizar uma ronda em torno dele, com a intenção de o fazer ver que
não saber o sentido da palavra ‘aprender’. Agora falando aos sofistas, ele pede que parem com aquele jogo
e demonstrem como realmente é possível atingir a virtude e para que não restassem duvidas, ele mesmo
vai demonstrar, de forma rápida, como gostaria que Eutidemo e Dionisodoro discorressem.
Começa estabelecendo que, não basta possuir bens, é preciso usa-los e saber usa-los sabiamente, e
pra isso é preciso uma ciência. Diz ele: em suma Clínias, a questão não é saber como eles são bens por si
mesmo, mas, dirigidos pela ignorância eles são males piores que seus contrários, conduzidos pela razão e
sabedoria, eles adquirem seu valor” concluindo, deve-se procurar saber o que é a sabedoria e se, de fato,
ela pode ser adquirida e ensinada.
E assim, Sócrates diz ter mostrado o que queria, Dionisodoro pergunta: realmente quer ver Clínias
se tornado sábio e Sócrates concorda, continuando Dionisodoro diz: neste momento, Clínias é sábio ou
não? e Sócrates diz que não, e Dionisodoro diz: mas você quer ver ele sábio e não ignorante? Sócrates
concorda e ele: assim, aquilo que não é, vos quereis que ele se torne, e isto que ele é agora que ele não seja
mais? e acrescenta vos quereis que ele seja mais isto que ele é agora, vos quereis aparentemente sua
morte? A plateia perde a paciência com tais absurdos que chegam os sofismas, ao final do diálogo, conclui
ironicamente Sócrates, que a arte erística de Eutidemo e Dionisodoro é fácil e rápida de ser aprendida por
qualquer um, e que ela não presta pra discussões públicas e deveria ser guarda para si. Sócrates mais uma
vez prova que aqueles que se dizem sábios nada sabem e brilha diante de outros belos jovens.
No diálogo Lysis, Sócrates se dirige a Hipotales e o diz, para todas as outras coisas, sou medíocre e
de poucos recursos, mas, está em mim uma espécie de dom dos deuses, eu sei reconhecer ao primeiro
olhar, aquele que ama ou é amado. O jovem Hipotales é apaixonado pelo jovem Lysis, mas não consegue
conquistá-lo. Sócrates o conta, quem é sábio nas coisas do amor, não vangloria o amado antes de tê-lo
conquistado, pois, quanto mais os jovens se veem celebrados, mais eles se tornam inacessíveis. Hipotales
pede para que Sócrates o ensine a ganhar o amor de Lysis e Sócrates afirma que a melhor forma seria
Hipotales assistir um diálogo entre ele e Lysis, sem que sua presença fosse notada.
Sócrates inicia o diálogo com Lysis o conduzindo para a noção de “amizade”, através das perguntas
Sócrates passo a passo conduz Lysis a admitir que para possuir amigos, é preciso ser sábio, pois aquele
que nada sabe não possui utilidade para os outros, uma vez convencido Lysis admite que sem nenhum
saber não se terá amigos e não poderá se orgulhar de si próprio, e humildemente admite que nada sabes e
precisa aprender. Vendo Lysis humilhado, Sócrates dirige o olhar a Hipotales quase dizendo: veja, é
preciso rebaixar, diminuir seu mérito do amado, ao invés de o admirar boquiaberto e o adular.
O que Sócrates faz aqui nestes diálogos, nada mais é que a prática da impiedosa técnica de sedução
socrática, e a aplicação obediente das palavras de Diotima. Afinal, eram necessários vários corpos para
ultrapassar os degraus sensíveis e continuar o caminho sempre ascendente pelos demais degraus até as
ideias em si e por si.
4) Nas cenas dramáticas dos diálogos Alcibíades (432 a. C.) e Cármides (429 a. C.) algo afirmativo emana da
negatividade do saber que não se sabe. Um novo saber de Sócrates se manifestará de maneira ainda mais
desenvolvida nos diálogos seguintes, sobretudo no Górgias (427 a. C.). Explique as noções oriundas deste
momento, quais sejam: o saber de si e o dever-ser como saber.

O diálogo com Alcebíades marca um novo degrau na empreitada socrática que vai em direção às
Ideias. Alcebíades era um jovem talentoso, filho da aristocracia ateniense e aparecia como grande
promessa, para sua decadente cidade. Aparentemente nesse diálogo, o que vemos é o mesmo processo de
sedução que Sócrates usou com o jovem Lysis, mas, Alcebíades era belo, famoso e cheio de pretensões,
tinha ainda um projeto político bem audacioso, nada mais era que dominar não somente os gregos, mas o
mundo todo e Sócrates, no começo do diálogo, promete ajudá-lo a realizar este feito tão singular.
Após usar dessa promessa, como um este chamariz, assim como nos outros diálogos, mostra pouco
a pouco como o seu interlocutor é frágil, e assim como fez com Lysis, Sócrates humilhou Alcebíades, o
conduzindo por um inúmeras contradições, e o fazendo perceber que nada sabe. Sócrates seguia
igualmente sedutor neste dialogo, pois, crer que se sabe o que não se sabe, é a origem de todos os erros,
mas, surge então um novo elemento fundamental, o preceito délfico: “conhece-te a ti mesmo”.
O célebre preceito agora será desenvolvido e de fato torna-se o elemento principal do diálogo, a
partir da importância de conhecermo-nos a nós mesmos, para cuidarmos de nós, questiona-se Sócrates, o
que é o homem? Ele então conclui que, o homem não é as suas roupas ou os seus atributos físicos, mas, a
sua existência essencial, o ser em si do homem, é a sua alma (psiqué), assim, quando os homens
verdadeiramente dialogam, são as suas almas falando. Conhecer-te a si mesmo, não é conhecer o seu
corpo ou qualquer parte externa de seu ser, mas o saber profundo de sua alma.
Sócrates estabelece que o conhece-te a ti mesmo, se aplica as questões do amor também, pois amar
alguém, amá-lo em sim mesmo, não é amar seu corpo, mas sim, amar aquilo que esse ser é em si, é amar
sua alma, a exemplo, aquele que se apaixona pelo belo corpo de Alcebíades, com certeza o deixará quando
ele perder sua juventude. Após humilhar e refutar Alcebíades, como fez com os outros jovens, Sócrates
promete fidelidade, declarando abertamente ser o mais apaixonado por ele.
Sócrates novamente questiona-se, de que forma conheceremos o em si claramente? E conclui que
para tal, é preciso pensar em quando os olhos se veem em outros olhos, especificamente no reflexo da
pupila, assim, a alma, se realmente quer conhecer a si própria, deve olhar outra alma e, nesta, olhar para a
parte onde está a virtude própria da alma, a sabedoria. As almas são como espelhos, o conhece-te a ti
mesmo, trata-se de reconhecimento.
Aos 40 anos, Sócrates é um mestre espiritual e não um duvidoso mestre da contrariedade ou um
sedutor mestre da retórica que conquistava jovens. Passa a ter um saber afirmativo, e aparenta, possuir um
verdadeiro discípulo, Alcebíades, que promete, a partir daquele dia seguir fielmente Sócrates e ser
dedicado a realizar ações justas. Ao fim deste diálogo, nota-se que a negatividade do saber que não se sabe
atingiu um resultado efetivo, um saber positivo, um novo degrau até as Ideias: um conhecimento que é
reconhecimento, a bela ação, do saber de si, saber que ultrapassará a mera sedução dos belos corpos.
O caminho socrático agora rumava em direção a prática das belas ações. Ao retornarem ambos,
Sócrates e Alcebíades, de Potideia, de uma campanha militar que durou 3 anos, ocorre o diálogo com
Cármides. Logo após responder perguntas sobre a batalha, Sócrates interroga os presentes sobre como as
coisas estavam em Atenas, sobre a Filosofia, sobre os jovens, se haveria aparecido alguém que se
destacasse, pela beleza ou pela sabedoria, quem sabe pelos dois? e Crítias conta a ele, de Cármides, filho
de Glauco, portanto sobrinho de Crítias, este estava sendo considerado o mais belo.
Assim que Cármides chega ao local do diálogo, Querofonte questiona a Sócrates, o que achas
daquele jovem que acabará de chegar, não tens um belo rosto? E Sócrates em sentido contrário sugere,
por que não começam a examinar primeiro a alma de Cármides e só depois, a sua forma sensível? E
acrescenta, que ele certamente já estava pronto pra dialogar.
Crítias concorda, e diz a Sócrates que seu sobrinho estava com dor de cabeça mais cedo e que ele
deveria se passar por um médico, que curaria sua dor, e assim que Cármides se aproxima, Sócrates sente-
se um pouco inseguro, pois, tamanha beleza o perturbava, seria possível que ele ainda não estivesse
totalmente liberto dos encantos dos corpos sensíveis?
Enquanto Sócrates ainda estava desconsertado, o jovem lhe pergunta, se de fato, conhecia remédio
para sua dor e, Sócrates recuperando o foco, afirma conhecer uma planta a qual seria acrescentado um
encantamento, que afirma ter aprendido no exército com um médico trácio, um dos discípulos de
Zalmoxis, este ensinava que a alma é a verdadeira fonte de todos os bens e males do corpo, sendo que os
encantamentos eram justamente o “remédio pra alma”, ele explicava que estes consistiam em belos
discursos que fazem nascer nas almas a “temperança”. Sócrates insinua, seguindo este pensamento, que
para cuidar da dor de Cármides, seria necessário antes cuidar de sua alma, através deste encantamentos.
Crítias afirma que Cármides é o mais sábios dentre os jovens, então, não havia necessidade de tratar
a sua alma, e Sócrates considera essa possibilidade, mas, diz que o próprio Cármides deve dizer o que
pensa a respeito, então Cármides admite que não sabe responder, pois, se, por um lado, afirmasse que não
era sábio, estava pronunciando julgamento sobre si próprio e desmentindo seu tutor, Crítias, por outro
lado, se afirmasse que sim, estaria fazendo seu próprio elogio e o seu discurso seria pretencioso.
Sócrates propõe, que eles cheguem juntos a resposta da questão posta por Zalmoxis, o que é a
temperança? Após algumas tentativas, de Cármides e Crítias, Sócrates diz que eles não ter chegaram a
resultado nenhum e mais uma vez, ele saía vitorioso, envergonhou o belo Cármides e seu sábio tutor,
Crítias. Cármides diz a Sócrates não saber se é sábio ou não, que o que ele lhe dizer que poderia investigar
isto sozinho não o convenceu e está bem certo de que precisa desse encantamento citado por Sócrates, e
que nada o impede de se submeter todos os dia aos seus encantamentos, até que este sejam suficientes e
até mesmo Crítias, seu tutor, o apoia, e diz que a prova de sua sabedoria era se entregar aos encantamentos
de Sócrates e não o abandonar de forma alguma.
O saber socrático, meramente negativo, transformou-se em saber de si, positivo. Afinal não mais
apenas refutava os falsos sábios e seduzia jovens, mas convencia eles, que Sócrates, era verdadeiramente
sábio. Esse novo saber, ou novo degrau do saber em si, é manifestado de forma clara nos diálogos que se
seguem. O saber de si agora se encaminhava para o dever-ser. O Górgias, que ocorra aproximadamente
427 a.C., mostra um Sócrates convicto de seu saber.
Górgias, o mais famoso dos sofistas da época, visitava a cidade de Atenas e aparece no diálogo
juntamente com seus discípulos, Polos e Cálices. Esse parece um diálogo qualquer entre Sócrates e um
sofista, mas, agora Sócrates tem certeza de si mesmo, e a certeza de seu saber negará impetuosamente a
posição de qualquer interlocutor ao afirmar a sua. Ele já não acompanha mais os sofistas nas inversões de
posição ou os ironiza em sua erística. Agora o foco é determinar, de maneira exata, a destruição do
discurso retórico dos que, para ele, são falsos mestres produtores de imagens enganosas, não somente por
que não sabem que não sabem, mas, por que não conhecem a si mesmo, não possuem o saber de si.
O saber de si agora é uma regra moral, um dever-ser, assim, Sócrates irá exigir isto em todo
discurso, obra, ato ou vida, tudo precisa ser fundado no saber de si. Um ser em reflexão, sem o exame de
si mesmo, sem o conhecimento profundo acerca de sua alma, é um ser ausente de essência, e que,
portanto, deve ser negado. Uma vez estabelecido o imperativo moral, Sócrates não é o mesmo com seus
interlocutores, é muito menos tolerante agora.
Sócrates vai dialogar com Górgias, pois considera que Polo esteja qualificado para tal, Sócrates
estabelece quais serão as regras do diálogo, são proibidas longas explanações, característica atribuída ao
sofistas, e que prevaleça o diálogo de argumentos breves, com perguntas e respostas curtas, o seu método.
Polos, está ainda indignado, ele não aceita não pode falar o quanto quer e Sócrates o diz que assim como
ele tem o direito de insistir em longos discursos, o outro também tem o direito de ir embora sem escuta-
los.
A seguir, Sócrates faz um discurso longo e sente-se obrigado a explicar, diz que quando falou de
maneira breve não foi compreendido, assim, foi necessário explanar mais amplamente sua resposta. Até o
fim do diálogo faz longos discursos e obriga os interlocutores a serem breves, até que Cálicles e sua
rebeldia quebraram as rígidas regras, consideradas desiguais. Cálicles, atacou violentamente as posições
socráticas e suas regras discursivas e morais, ele não está disposto a respeitar as regras e se estenderá em
seus discursos.
É como se somente a cega violência do direito do mais forte, tese defendida por Cálicles, pudesse se
contrapor a violência discursiva de Sócrates, a violência dogmática do saber de si, a violência moral de um
dever-ser impositivo. No entanto, Cálicles será arrastado por Sócrates para uma multiplicidade de
contradições e por fim, ao silêncio. Górgias, Polos e Cálicles, apesar da conhecida boa retórica, da escola
sofista a que pertenciam, tornam-se, ao final, todos apenas ouvintes de Sócrates, por causa da rebeldia de
Cálicles em não lhe responder, ele mesmo conclui o diálogo com um longo monólogo dogmático, como
um orador diante do povo.

5)No diálogo Mênon (418 - 416 a. C.), após a exposição da mítica teoria da reminiscência como superação do
conhecimento sensível em direção ao inteligível, Sócrates teria finalmente alcançado uma ciência objetiva,
acessível a todos, ou apenas conseguira prosseguir com a experiência pessoal, particular, e, assim, subjetiva
de seu saber? De que forma o diálogo Banquete (416 a. C.) pode auxiliar a responder esta questão?

Se Sócrates possuía um verdadeiro saber afirmativo, a bela ação do saber de si, se a partir dela se
manifestava a força de um dever-ser como saber, em que medida este saber interior permitirá o acesso ao
conhecimento das verdadeiras ideias, as formas puras libertas de todo domínio sensível? Sócrates, mais
uma vez segue o caminho da revelação mítica, como já acontecerá antes, nos diálogos com Parmênides e
com Górgias. No diálogo com Mênon, um frequentador dos meios sofísticos, as interrogações serão acerca
do que é a virtude.
Mênon diz, que para cada espécie de ação, idade, para cada um e para cada obra, há uma virtude
particular e Sócrates responde, sendo irônico, que teve muita sorte, pois, procurava uma virtude, que
coincidência era encontrá-la em meio a tantas outras, era como achar uma agulha em um palheiro. Aqui,
Sócrates falava de procurar o ser em si da virtude, ela propriamente e não suas múltiplas manifestações.
Mênon o faz uma importante pergunta, como ele vai procurar uma coisa que não tem noção nenhuma do
que seja? E em resposta, Sócrates diz que esse é um argumento sofista, visto que não se pode, de fato,
procurar aquilo que não se conhece, mas também não há sentido em procurar aquilo que se conhece.
Como então continuar a busca pela virtude se não se sabe o que ela é?
Sócrates diz que contra tal aporia absoluta do conhecer, ouviu homens e mulheres que eram sábios a
respeito das coisas divinas e conforme os ensinamentos desses, ele explica, a alma do homem é imortal e
quando chega a um fim, o que chamamos de morte, ela novamente renasce, assim, a alma jamais é
destruída. Desta forma, vale mencionar, é necessário levar a melhor conduta possível durante a vida.
A alma é imortal e tantas vezes renascendo, uma vez tendo contemplado todas as coisas aqui, e no
Hades, não existe algo que ela não tenha aprendido, logo, não seria surpresa se ela fosse capaz de se
lembrar do que já soube, a respeito da virtude e todas as coisas, pois, o procurar e o aprender, é no seu
todo reminiscência. Todo o processo de aprendizagem, nada mais é do que o ato de relembrar, sair do
esquecimento, e fazendo uso da experiência da alma, pode se explicar pela reminiscência, como é possível
chegar até o conhecimento das ideias, conhecimento esse que seria, um reencontro com as ideias que estão
no interior de nossa própria alma.
Sócrates decide fazer uma demonstração de sua teoria com um escravo de Mênon, e com a ajuda das
perguntas do mestre, o escravo demonstra um teorema de geometria, sem nunca ter estudado, assim, a
alma deste escravo tinha despertado daquele esquecimento, o ensino e aprendizagem, seriam então, não
introduzir conhecimento, mas sim, ensinar a abrir os olhos da alma, despertar internamente o
conhecimento adormecido em todos os homens, sejam eles, livre ou escravos.
A teoria do aprender, como rememorar da alma, apesar de ser mítica, é consequência direta de todo
o caminho percorrido por Sócrates, que se aprofundava cada vez mais na reflexibilidade do saber de si,
quando conclui que toda investigação é, de alguma forma, um voltar-se para si, uma contemplação de si
mesmo, que relembrando a alma, seria capaz de reencontrar aquilo que não sabemos o que é. Com o
momento da reminiscência, todas as formas ou ideias poderiam ser recordadas e reconhecidas? Esta seria a
conclusão para a teoria das ideias e a resposta à pergunta feita por Mênon?
Sócrates calava seus interlocutores diante de seu saber, e agora se questiona se eles realmente
reconhecem aquele saber e sua eficácia? Ele formara grandes discípulos? Realmente ensinou algo ou só
imobilizou os outros com seu discurso? Até que ponto Sócrates era diferente dos outros que se diziam
sábios, como Protágoras e Eutidemo? Até que ponto ele havia seduzido os jovens pelo seu real saber?
Foi quando por volta de 416 a.C., ocorreu um banquete em Atenas, na véspera, Agatão vencerá um
festival de poesia e fora aclamado por 30 mil atenienses. No dia seguinte, em um jantar privado, ele
comemoraria sua vitória. Sócrates já a caminho do banquete, encontra Aristodemo, seu discípulo, que não
havia sido convidado e o convida a juntar-se a ele no jantar, e este aceita desde que seu mestre diga a todo
que o convidou. Seguiam ambos até a casa de Agatão, quando Aristodemo notou que, talvez tomado pelo
seu “outro interno”, seu mestre começa a voltar-se para si mesmo e concentrado em suas reflexões vai
ficando para trás, ele, que estava preocupado com a falta do convite, quer espera-lo, mas Sócrates ordena
que vá na frente.
Aristodemo segue as ordens e chega sozinho a casa de Agatão, onde todos se preparavam para
jantar, ao ver Aristodemo chegar sozinho, Agatão logo se desculpa por não o ter convidado e pergunta
pelo seu mestre, e o discípulo responde que eles vinham juntos, mas ele acabou ordenando que viesse na
frente e agora não sabe dizer onde ele está. Agatão imediatamente manda um servo procurar por Sócrates,
e o encontra parado próximo a casa, se recusando a entrar, passado um bom tempo, quando todos já
jantavam, Sócrates entra e é claro, chama a atenção de todos que ali estão e Agatão o convida a se sentar
ao seu lado, o mais lugar honroso, em seguida o anfitrião o pede para que narre a profunda ideia que havia
encontrado a pouco, quando ele ficou tão concentrado na porta do banquete.
Sócrates responde que seria muito bom que é a sabedoria pudesse ser tão facilmente transmitida,
daquele que é mais cheio dela ao mais vazio, e acrescenta, que sua sabedoria era um tanto ordinária, e até
duvidosa como um sonho, enquanto a de Agatão era brilhante e desenvolvida, tornando-se, anteontem,
premiada com a manifestação mais de 30 mil gregos que a testemunharam. Após o jantar, Erixímaco,
propõe que cada um dos convidados deveria fazer um discurso sobre Eros e vários assim o fizeram,
inclusive Aristófanes, um autor de comedias que estava presente. O último a falar foi Sócrates, e mesmo
assim ele surpreendeu e brilhou ao relatar o que aprendera com Diotima a mais de 20 anos atras, a
ascensão até o belo em si, o caminho que está escondido em Eros e que ela ensinou a ele como superar o
amor dos corpos sensíveis pelo amor puro, aquela da ideia de belo.
Quando Sócrates conclui seu discurso, um grande barulho vem da porta, ouve-se vozes logo é
possível ouvir a voz Alcebíades, bêbado e chamando por Agatão. Alcebíades entra na sala praticamente
carregado por uma tocadora de flauta, ele começa por dizer que não é mais um jovem, pois já tem 35 anos,
é agora um líder político de Atenas, e ele pergunta então a um dos convidados, um homem completamente
bêbado poderia se juntar a eles no banquete que louvava Agatão? e todos pedem que ele tome acento.
Agatão convida-o a sentar-se a seu lado, mas Alcebíades ao ver Sócrates sentado também no lugar
mais nobre, fica irritado e Sócrates, brinca, pedindo a Agatão que o defenda do ciúme de Alcebíades e
ainda diz que o amor deste homem, tornou-se para ele não um pequeno problema e Alcebíades retruca,
também brincando, que o entre eles não haveria reconciliação, em seguida pede a grinalda de violetas que
está na cabeça de Agatão e a coloca na cabeça de Sócrates, dizendo que ele sempre vence em seus
argumentos.
Alcebíades tinha bebido 2 litros de vinho, quando Erixímaco pede que ele também faça uma
apologia a Eros. Alcebíades reconhece a embriaguez e acrescenta que, Sócrates odiaria vê-lo fazendo
elogios a qualquer outro que não fosse ele mesmo, e então Erixímaco diz que louve então, o próprio
Sócrates. Alcebíades começa dizendo que Sócrates não é belo e seus discursos são semelhantes ao dos
sátiros, sempre atras de adolescentes, com disposições eróticas, mas, quando ele sério e aberto, as estátuas
que residem dentro dele são tão divinas e com tanto ouro, de uma beleza tão extraordinária que este nada
poderia fazer que não fosse obedecer ao que dizia Sócrates. Mesmo tentando, todos os dias, o discípulo
nunca conseguirá seduzir aquele que ele considerava o único amante digno, seu mestre, ele foi então
desprezado, confundido e escravizado por Sócrates, e quando a expedição em Potideia surgiu, Sócrates
salvou sua vida e o mesmo ocorreu em Delião.
Para Alcebíades não existia comparação possível entre Sócrates e qualquer homem, ele afirma não
ter sido a única vítima de seu mestre, que a princípio declarava ser apaixonado por ele e depois se coloca
como amado e não como amante, e ainda adverte Agatão, que não se deixes enganar por Sócrates, que seu
sofrimento sirva de lição, mas quando conclui, todos riem, pois ele ainda parecia muito próximo ao seu,
até então, mestre.
Sócrates toma a palavra, e o diz que não parecia estar embriagado, pois, se realmente estivesse tão
bêbado como poderia ter disfarçado tão bem o seu objetivo, que era justamente, causar a separação entre
ele e Agatão, pois para ele, Sócrates deveria amar apenas a Alcebíades e Agatão por sua vez, deveria ser
amado apenas por Alcebíades e ninguém mais. Agatão diz a Sócrates que ele está certo, Alcebíades
conformado diz que aconteceu o que sempre acontece na presença de Sócrates, ninguém mais brilha.
O banquete lança várias dúvidas a respeito da ascensão socrática e a eficiência de seu saber, começa
com Aristodemo sendo abandonado pelo mestre, o próprio Sócrates diminuindo sua sabedoria mediante a
de Agatão, o belo Alcebíades faz um testemunho pela temperança e coragem de seu mestre nas guerras e
nos discursos, mas ao fim, acabou testemunhando também pelo completo abandono destas virtudes.
Se a alma de Alcebíades era um espelho para o desenvolvimento do saber de si socrático e
desenvolvera, assim, a certeza de si na alma de Sócrates, como a própria alma de Alcebíades parecia não
ter se desenvolvido em nada? Sócrates se lança novamente, para agora diferenciar, de maneira clara, o seu
método e não ser mais comparado com sedutores, poetas, adivinhos e sofistas. Para avançar nesta questão,
é necessário refletir sobre todo o caminho de ascensão até aqui, mas, tais reflexões serão desenvolvidas no
diálogo Fedro.

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