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PLATÃO

Filosofia IESA 1• Bimestre


Excertos e material adaptado do texto do professor José Américo Motta
Peçanha, Platão e as Ideias
Aspectos biográficos sobre o autor

 Nasceu e morreu em Atenas (428 a 348 a.C).  Convidado a participar do governo tirânico,
Platão declinou ao considerar criminosa aquela
 Filho de Periktione e Aristão, Platão veio de uma formação política.
família de nobres. Seu primo Cármides e seu tio
Crítias tornaram-se célebres ao compor o grupo  Por sua vez, decepcionou-se com a democracia
de oligarcas (os Trinta Tiranos) que governou grega, sobretudo após a execução de Sócrates.
Atenas após a guerra do Peloponeso. Uma pessoa justa como Sócrates jamais poderia
ser condenada daquela maneira. A democracia
 A juventude de Platão foi marcada pela ateniense se revelava um sistema político
turbulência política que caracterizou as imperfeito e imoral.
mudanças de regime em sua cidade natal
durante e após a Guerra do Peloponeso.  Após a morte de Sócrates, Platão viaja para
inúmeras cidades, em especial para o Norte da
 Ainda muito jovem, Platão estudou com Crátilo, África e para o Sul da Itália. Nestas viagens liga-
um discípulo de Heráclito de Eféso. Em seguida se aos matemáticos pitagóricos, filósofos que
conheceu Sócrates e tornou-se seu discípulo. viam na matemática um caminho para o
ordenamento da alma e da sociedade.
 Em 387 a.C., Platão funda a Academia, a
primeira instituição permanente de pesquisa e
ensino superiores do Ocidente.
As obras de Platão

 As obras de Platão são geralmente classificadas pelos historiadores em:


a) diálogos da juventude ou socráticos — defendem a memória de Sócrates e o apresentam
geralmente discutindo temas morais, sem chegar porém a conclusões; são diálogos “combativos”,
que quase sempre se limitam a demolir opiniões inconsistentes e a fazer ardentes exortações.
Exemplos: Primeiro Alcebíades (sobre a natureza do homem), Apologia de Sócrates (sobre o
julgamento de Sócrates), Eutífron (sobre a piedade), Górgias (sobre a moral segundo os sofistas);
b) diálogos da maturidade — neles Platão vai afirmando cada vez mais a independência de seu
pensamento em relação ao de Sócrates. Exemplos: Mênon (sobre a possibilidade do ensino da
virtude), Crátilo (sobre a natureza da linguagem), Banquete (sobre o amor), Fédon (sobre a morte
e sobre a natureza da alma), República (sobre a formação do filósofo e a cidade ideal), Fedro
(sobre o amor e a alma), Teeteto (sobre o saber e o erro), Parmênides (sobre a teoria das ideias);
c) diálogos da velhice — c) apresentam a última formulação do pensamento platônico. Exemplos:
Sofista (sobre a definição de sofista e a distinção entre verdade e erro), Timeu (sobre a origem e
a constituição do universo), Leis (obra inacabada, sobre questões políticas).
 Além dos Diálogos, Platão deixou cartas, das quais a número VII é a que tem maior
importância filosófica. O ensinamento oral de Platão foi em parte transcrito por seu discípulo
Aristóteles
O diálogo socrático

 Em Sócrates, o diálogo é dramático embate de consciências, confronto de


opiniões pessoais. O objetivo da dialogação conduzida por Sócrates é
inicialmente despertar no interlocutor a consciência de que ele não sabe o
que pensava saber. Uma vez liberto dessa ilusão, o interlocutor que se revela
disposto a ir além é incentivado por Sócrates a prosseguir no conhecimento de
si mesmo, já agora num trabalho construtivo de dar à luz ideias próprias e
mais fundamentadas. Ele pode assim, auxiliado pelo “parteiro” Sócrates, ir
nascendo de si mesmo, ir se apossando progressivamente da própria alma.
Esse caminho de autoconhecimento passa pelo domínio do significado das
palavras que ele vinha usando entorpecidamente, sem consciência clara.
Provavelmente porque a meta do diálogo socrático é levar as pessoas ao
autoconhecimento, Sócrates aparece nas primeiras obras de Platão apenas
derrubando opiniões inconsistentes, desmascarando falsos sábios ou fazendo
exortações, sem se preocupar propriamente em resolver até o final questões
abstratas.
Dialética platônica e método dos
geômetras
 Para Platão, o diálogo não deve permanecer no nível psicológico do embate de consciências;
precisa tornar-se embate entre teses. Deve ser um método que suba progressivamente do
plano relativo e instável das opiniões até a construção de formas mais seguras de
conhecimento, rumo à conquista da verdade. Só assim será possível ir além de Sócrates,
despertando consciências, mas também resolvendo questões teóricas. E só assim será possível
superar o relativismo dos sofistas.
 O método proposto por Platão é, num primeiro momento, uma dialética ascendente. Até
Platão, a filosofia vinha procurando explicar as coisas numa volta atrás: buscando o primeiro
princípio ou as primeiras raízes do universo, buscando uma origem no sentido de fundamento,
mas também de começo. A dialética platônica caminha noutro sentido. Procura explicar a
situação atual do universo e dos seres, não por meio de uma situação anterior, mas por meio
de causas intemporais, que explicam sempre por que cada coisa é o que é. Platão, na
verdade, está com isso adotando um método explicativo típico da matemática: o método dos
geômetras. Que consiste basicamente no seguinte: tendo-se um problema, levanta-se uma
hipótese para resolvê-lo; se ela parecer satisfatória, passa-se então a verificar se ela se
sustenta a si mesma ou se supõe outra hipótese mais geral — e assim sucessivamente. Cria-se,
desse modo, uma cadeia de hipóteses interdependentes, que buscam uma sustentação última
— portanto, uma não hipótese —que se baste a si mesma e que sustente, no final, como que
“do alto”, todas as hipóteses que lhe estão subordinadas.
Crítica do conhecimento sensível

 Platão reconhece: permanecer no nível das sensações é tornar impossível a


construção de um conhecimento seguro e estável, é ficar fatalmente preso
nas malhas do relativismo de sofistas como Protágoras de Abdera. De fato, as
sensações fornecem apenas evidências momentâneas e individuais. Um
conhecimento baseado somente nas sensações é um conhecimento daquilo
que aparece a cada pessoa, no momento em que aparece como tal.
A doutrina das Ideias
 Como principal consequência da utilização do “método dos geômetras”, Platão
propõe que se afirme hipoteticamente a existência de “formas” ou “essências” ou
“ideias”, que seriam os modelos eternos das coisas sensíveis. Essas essências seriam
incorpóreas e imutáveis, existindo em si mesmas. Embora Platão as chame também
de “ideias”, elas não existem na mente humana, como conceitos ou representações
mentais: ao contrário, existem em si, nem nos objetos (de que são os modelos),
nem nos sujeitos (que conhecem esses objetos). Cada coisa corpórea e mutável
seria o que ela é (uma cadeira, por exemplo) porque participa da essência que lhe
serve de modelo (a cadeira-em-si, a essência ou “ideia” de cadeira). Uma cadeira
que vemos ou tocamos pode ser de madeira ou metal, desta ou daquela cor, deste
ou daquele formato; ela muda, envelhece, é destruída com o tempo. Já a essência
de cadeira permanece sempre a mesma, fora do tempo e do espaço. E é sempre
única. Pois é o que qualquer cadeira, em qualquer época ou lugar, tem de ser para
ser cadeira. É o modelo perene de todas as cadeiras. E é aquilo a que se refere a
palavra “cadeira” em qualquer língua, em qualquer tempo. Não podemos apreender
com os sentidos essa essência ou “ideia” incorpórea e intemporal, pois nossos
sentidos só captam o material, o dotado de alguma concretude, o que está no
espaço e no tempo. Mas podemos alcançá-la com o intelecto: ela é inteligível.
A alma e a reminiscência
 Como o homem — ser concreto, que existe no tempo e no espaço — pode
conhecer as essências incorpóreas e intemporais? Essa possibilidade depende
de outra hipótese: é preciso supor que ele possua algo também incorpóreo e
indestrutível, algo de natureza semelhante à natureza das “ideias”. É
necessário supor que ele abriga em seu corpo uma alma — também pura
forma imortal. Essa alma já teria contemplado as essências, antes de se
prender a esse corpo ao qual está provisoriamente vinculada. Unida ao corpo,
alojada nele como em uma prisão, ela esquece aquele conhecimento anterior.
Mas os sentidos apreendem objetos que são cópias imperfeitas daquelas
essências que a alma contemplara — e isso permite que ela vá se lembrando
das “ideias”. Assim, o conhecimento é, na verdade, reconhecimento,
reminiscência, retorno.
A escalada do conhecimento
 O conhecimento — ou o reconhecimento — das essências não é feito de forma direta e
imediata. É necessário percorrer várias etapas. Na República, Platão descreve essa escalada
que leva, afinal, às ideias ou essências, através de etapas sucessivas. A cada tipo de objeto
corresponde uma forma ou etapa no processo de conhecimento. A escalada parte do mais
obscuro e instável até a máxima clareza e a máxima segurança. Cada etapa remete à que
lhe é imediatamente superior, e nela se sustenta e se aclara. A verdade não é dada de início.
É prometida para o final, depois que todo o caminho ascendente for percorrido, depois de
vencidas todas as etapas intermediárias. É conquista, a última. Nunca uma dádiva gratuita
inicial. O trecho da República sobre “a linha dividida” (509d/511e) permite a seguinte
representação gráfica dessa escalada:
A ideia do bem

 A adoção do “método dos geômetras” faz da filosofia inicialmente um jogo de


hipóteses. Se até o final o conhecimento permanecer como esse jogo, ele
permanecerá no âmbito do provável, do possível, do hipotético — não chegará
à certeza. Desse modo, a escalada do conhecimento somente resultará na
garantia da verdade se, no final, depois de percorridas todas as hipóteses,
levar ao absoluto, ao necessário, ao não hipotético. Platão considera que,
usando o conhecimento dialético, o filósofo pode atingir as essências eternas.
E, seguindo as articulações que ligam determinadas essências a determinadas
essências, vai conquistando essências cada vez mais gerais. Até que, por fim,
contempla aquele absoluto, uma superessência. Na República, Platão o
denomina de Bem. Ele seria a fonte de toda luz, fazendo com que os objetos
possam ser conhecidos e que nós possamos conhecê-los. É como o Sol.

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