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Raiani Almeida Rodrigues

Matrícula:165018 - Vespertino
Epistemologia

PLATÃO
Platão, sem duvidas, é uma figura central dentro da filosofia. Visto que, ele
inaugura inúmeras correntes filosóficas que se fazem presentes na contemporaneidade.
No que diz a respeito a epistemologia a situação não muda.

A epistemologia é um tema caro para o filósofo grego. Platão pretendia mudar a


forma como a filosofia era enxergada, o mesmo tinha a pretensão de compreender a
problemática do conhecimento, isto é, Platão, quer compreender a forma que se dá o
processo da absorção do conhecimento.

O período em que Platão desenvolve sua filosofia era um momento de definição


de conceitos. O autor precisava determinar quais seriam as temáticas investigadas pela
epistemologia, e elas seriam: a questão da possibilidade do conhecimento. A questão do
método; a questão dos instrumentos do conhecimento; a questão do objeto do
conhecimento.

Logo, Platão, quer responder se seria possível para nós conhecermos a realidade
tal como ela é? Como esse conhecimento seria possível? Quais instrumentos necessários
para conhecer? O que vamos conhecer? É dessa forma que a temática da epistemologia
aparece no pensamento Platônico. Ressalto que o texto fichado se debruçará sobre a
epistemologia, porém a obra de Platão não é restrita só a esse pensamento. O autor se
dedicou a todas as áreas da filosofia, tais como: ética, estética, lógica, entre outras. Mas
existe uma razão para se privilegiar a epistemologia em meio a tantas outras temáticas,
isso fica evidente ao observamos o seguinte apontamento do autor no texto fichado:

“Pode-se apresentar uma justificativa para a primazia dada ao problema


epistemológico na leitura de Platão. A principal tarefa da filosofia seria
estabelecer como podemos avaliar determinadas pretensões ao conhecimento; o
sucesso nessa tarefa permite que a filosofia se estabeleça como uma espécie de
arbitro, de legislador de uma cultura, e uma sociedade, consistindo basicamente
nisso sua função crítica. A filosofia adquire então uma função de análise crítica
dos fundamentos do discurso legitimador uma vez que a cultura é precisamente o
conjunto dessas pretensões ao conhecimento.”

Dito isso, a filosofia assume um papel crítico diante do mundo, ou seja, ela
possibilitaria que os indivíduos passassem a distinguir o real de seu simulacro. Por este
motivo o estudo da epistemologia é fundamental, principalmente em contexto platônico,
enxerga a epistemologia sendo a base da discussão filosófica, já que, é ela que determina
os limites do nosso conhecimento; é por esta razão que o filósofo tem que lançar mão sob
a epistemologia para analisar quaisquer questões do mundo.

Desse modo, a filosofia surge como uma denúncia a decadência da democracia


ateniense. Dado que, a sociedade ateniense se afastava á passos largos da verdade, Platão,
se depara com essa triste realidade quando seu mestre, Sócrates, é condenado á morte.
Sócrates defendia a razão e a verdade, enquanto, seus inimigos estavam preocupados com
seus desejos, paixões e interesses particulares.

Platão, posiciona a filosofia ao lado da razão e toma para si a missão de


universalizar essa racionalidade. Com isso, ele afastaria os atenienses do obscurantismo
gerado pelo senso comum, Embora, Platão não enxergasse o senso comum com bons
olhos, ele utiliza deste para desenvolver a dialética platônica.
A dialética platônica – ironicamente – toma o senso comum como partida. É válido dizer
que a obra platônica é feita de diálogos, nesse diálogo o personagem principal,
geralmente representado por Sócrates, inicia uma conversa banal que aos poucos vai
resultando em um caráter profundamente filosófico. Portanto, o filósofo grego tem um
objetivo muito claro: estabelecer a soberania da razão – e por consequência da filosofia –
em relação ao senso comum. Uma problemática muito pertinente na cidade de Atenas,
que estava sendo dominada pelos Sofistas.

Os sofistas eram os rivais de Sócrates que citamos outrora; um sofista domina a


retórica, ou seja, ele domina á arte da oratória, com a intensão de convencer seus ouvintes.
Pelo contrário, o filósofo se preocupa com a veracidades de seus discursos. Dito isso, os
sofistas não estão preocupados em passar a verdade para seu interlocutor, seu objetivo é
convencê-lo de algo, para com isso obter alguma vantagem pessoal.
Nesse ponto em que o filósofo e os sofistas se distinguem, o filósofo tem um objetivo
muito claro, como apontado pelo autor do texto aqui fichado: “A filosofia não deve apenas
dizer e afirmar, mas preocupa-se em chegar á verdade, á certeza, á clareza, através da
razão.” Logo, o objetivo final do filósofo é abraçar a verdade.

Vale apontar que antagonismo filósofo – sofista não é o único presente na obra
platônica, o autor constrói seu pensamento através do dualismo. Tais como:

Opinião X Verdade
Desejo X Razão
Senso comum X Filosofia
Sofista X Filósofo
Sendo assim, a filosofia seria uma forma de alcançar a realidade, mas não só isso, ela
seria capaz de mudar a realidade. Através da filosofia que as pessoas lançariam mão da
razão e abandonariam o senso comum junto da ditadura das opiniões. Pretendendo levar
a verdade ás pessoas, Platão desenvolve uma de suas mais celebres teorias: A teoria das
formas ou Ideias de Platão. Mas antes de analisar essa teoria, retomo agora a relação entre
Platão e seu mestre, Sócrates. Pois, há uma diferença entre eles, sendo determinante essa
diferença, para o surgimento da teoria das ideias.
Platão foi por dez anos discípulo de Sócrates, e é inegável a influência do pai da
filosofia na obra platônica. Entretanto, existem divergências entre os autores, a mais
importante seria sobre a concepção de filosofia. Sócrates enxerga a filosofia como um
método de análise, Platão não discorda, mas julga tal definição como insuficiente para
caracterizar a filosofia. Para, Platão, o pensamento socrático carecia de certos critérios.
Ou seja, se não fossem desenvolvidos certos critérios o método da filosofia seria algo
extremamente vago. Justamente por esse motivo que Platão cria sua teoria das ideias.
Sobre isso é válido citar o seguinte trecho:

“Assim, enquanto Sócrates como um método de reflexão que levaria o


indivíduo a uma melhor compreensão de si mesmo, de sua experiência e
da realidade que o cerca, passando por um processo de transformação
intelectual e de revisão e retaliação de suas crenças e valores. Para Platão
a filosofia é essencialmente teoria, isto é, a capacidade de ver através de
um processo de abstração e de superação de nossa experiência concreta,
a verdadeira natureza das coisas em seu sentido eterno e imutável, de
conhecer a verdade, portanto. O conhecimento teórico é necessário e
indispensável para o método de análise, procedendo-o e tornando-o.”
Portanto, só uma teoria poderia viabilizar o método filosófico. Exposto isso, agora
é possível entrar na teoria das ideias de Platão. Como apontado outrora, Platão, opera sua
filosofia através de dualismos, aqui não seria diferente. Para ele, existiriam dois mundos:
o mundo material e o mundo das ideias. No mundo material as coisas tem uma existência
física, ou seja, as coisas teriam uma existência material; este seria o mundo onde estamos.
Em contrapartida, o mundo das ideias não é material, lá residem as essências das coisas,
ou suas ideias.
Para, Platão, o mundo material seria uma cópia falha do mundo das ideias. É possível
enxergar a questão da seguinte forma:

Mundo Material Mundo das Ideias


Representação/cópia de um Essência/ideia de gato
gato

Mas de acordo com essa teoria, como o conhecimento seria possível? Como sair da
representação falha e caminhar rumo a essência das coisas? Em resposta a isso, Platão vai
desenvolver a doutrina da reminiscência. Ela seria uma das primeiras formulações de um
conhecimento inato ou imanente, de acordo com esse pensamento nós teríamos um
conhecimento prévio que a alma trás consigo desde seu nascimento e que resulta da
contemplação das ideias, ás quais contemplou antes de encarnar em um corpo material
mortal. Quando encarnamos no corpo e descemos ao mundo material, entretanto, nossa
alma tem a visão das ideias obscurecidas, logo, a lembrança do mundos das ideias é
ofuscada. Nesse contexto, o papel do filósofo seria despertar esse conhecimento
esquecido.
A teoria das ideias aparece em diversos diálogos platônicos, no texto aqui fichado,
trata-se do Mito da linha dividida e do Mito da caverna. Começaremos pelo Mito da linha
dividida. A respeito desse mito, o autor do texto diz: “O mito da linha dividida(509c-
511d) consiste em um diagrama composto de duas linhas paralelas, a primeira
representando o real e a segunda, representando os estados mentais do homem em
relação ao real.”
Assim sendo, a primeira linha (real) e a segunda (estado mental dos homens) estão
se relacionando a todo instante. A linha do real está dividido em mundo inteligível (ideias)
e mundo material (representações), uma divisão que remete a teoria das ideias aqui já
apresentado. A linha que representa o estado mental dos homens é dividida da seguinte
forma: conhecimento (noesis) das formas pelo dialético; conhecimento (dianoia) dos
objetos matemáticos pela geometria; conhecimentos (pistis) dos objetos naturais. Visão
(eikasia) de imagens das coisas concretas.
Cada parte da primeira linha e da segunda possuem uma ligação específica. Estão ligados
ao mundo material, a pistis e a eikasia; e ligados ao mundo inteligível temos a noesis e
dianoia. No mundo matrial nos deparamos com dois modos de relação, sendo o primeiro
aquele que Platão chamou de “eikasia”, ou seja, visão de imagens. Essa seria a primeira
forma de relação com o mundo material e ela é natural, involuntária e superficial, uma
vez que, ela é imediata, incompleta e não se dedica a refletir sob esse mundo.
O segundo tipo de relação, Platão denomina de “pistis”, que seria a crença ou convicção,
essa seria um “conhecimento” bem mais elaborado sobre o mundo material, seria uma
espécie de: “creio que o real seja isso”. É um conhecimento mais apurado que a anterior,
porém, por ser um conhecimento empírico ele está fadado a imperfeição e a imprecisão.
Ao observarmos a outra fração da linha do real, nos depararíamos com um abismo
gigante, pois o mundo das ideias vai tratar das realidades abstratas, perfeitas, eternas,
imutáveis, inteligíveis, ou seja, o completo oposto do mundo material. Nosso primeiro
tipo de relação com essa realidade se dá através da geometria. Apesar da geometria tratar
da realidade abstrata, ela não está totalmente descontada do sensível. As figuras
geométricas que traçamos são imagens de entidades abstratas, como: o triângulo, o
quadrado, o círculo. Todas essas imagens são formas abstratas de figuras concretas, assim
como a planta de um arquiteto representa abstratamente um prédio concreto.Com isso,
atingimos um certo grau de abstração, mas ainda possuímos algum tipo de ligação com o
sensível.
A segunda relação que estabelecemos com o mundo das ideias conseguiu nos
proporcionar a abstração pura, essa relação seria a “noesis”, que seria a faculdade da alma.
Por meio dela atingimos o princípios mais elevados do ser, o amargo da realidade em seu
sentido mais abstrato e básico. Ao atingir esse estado teríamos a compreensão do todo.
Terminando a apresentação do Mito da linha dividida, voltaremos nossa atenção
para o Mito da caverna. Esse seria um dos textos mais populares de Platão, além disso,
além disso, nele é possível observar uma pequena síntese da filosofa platônica. Em
relação ao texto, este poderia ser dividido em três partes fundamentais. A primeira seria
a descrição da cena inicial, a construção da imagem da caverna, que consiste em uma
metáfora que representa a realidade sensível que vimos. Nesse mundo da caverna é onde
Platão situa os prisioneiros, acorrentados e imóveis desde a infância, só podendo ver o
que se encontra diante deles no fundo da caverna: as sombras.
Esses prisioneiros somos nós, ou seja o homem comum, prisioneiro de hábitos,
preconceitos, costumes, práticas, que se adquiriu desde a infância e constituiu em
“correntes” que nos limitam a ver apenas as “sombras”. Saliento que as sombras não são
falsas ou irreais, mas ilusórias, elas fornecem aos prisioneiros uma visão limitada da
realidade. Dessa forma, os prisioneiros representam o homem condicionado e limitado,
pelo seu modo de vida repetitivo, que não o deixa pensar por si próprio.
Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira – fonte de luz de onde se projetam
as sombras – e alguns homens que carregam objetos, como num teatro de fantoches e são
desses objetos que surgem as sombras projetadas na parede da caverna e as vozes desses
homens que os prisioneiros atribuem as sombras.
Em um segundo momento do texto, Platão, examina o processo de libertação de um
prisioneiro. Mas o que faria libertar-se? Já que, o próprio Platão diz que esse seria um
processo difícil e até mesmo doloroso; então como esse prisioneiro se libertaria? Para
compreender isso podemos recorrer ao diálogo Fedro, nele Platão desenvolve sua teoria
das almas.
O prisioneiro não é de fato libertado por nenhuma força externa, mas por um conflito
interno entre duas forças que se encontram em sua alma, a força do hábito ou da
acomodação e a força do Eros, do impulso da curiosidade, que o estimulo para fora, para
buscar algo além de si mesmo. Portanto, há um conflito interno na alma humana, tal
conflito que possibilitou a fuga do prisioneiro. A força do hábito faz com que o prisioneiro
se sinta confortável na situação em que se encontra desde sempre e que lhe é mais
familiar. A força do Eros, entretanto, faz com que ele se sinta insatisfeito, frustrado,
infeliz e busque uma situação nova.
Esse conflito é o estopim para a fuga do prisioneiro, nesse caso o Eros superou o hábito.
Porém, o processo é penoso, por isso, muitos prisioneiros ainda preferem o conforto do
hábito. É só na medida em que conseguimos adaptar o olhar á nova realidade, que
passamos a vê-lo melhor e a entendê-la, preferindo-a então á situação anterior. Assim
sendo, além da força do Eros, é necessário a capacidade de adaptação do olhar e de busca
de uma nova visão que o prisioneiro, sempre caminhando em direção á luz, sai da caverna
e percorrer novamente ás mesmas etapas no mundo externo, olhando primeiro ás sombras
e imagens, depois os próprios objetos, depois os reflexos dos astros até finalmente
conseguir olhar para o próprio sol: “O sol representaria o grau máximo da realidade.”
Agora ele deve voltar á caverna, ele teria que resgatar aqueles prisioneiros levando
até eles, a luz da verdade. Ele não se contentaria em atingir o saber, deveria apenas
procurar mostrar o seu antigo companheiros na caverna a existência de uma realidade
superior, bem como motivá-los a percorrer o caminho até ela, mesmo que corra o risco
de ser incompreendido e até assassinado.
Por fim, esse seria o papel do filósofo para Platão, seu objetivo máximo deveria
ser mostrar a verdade para as pessoas, despertando – as do senso comum e possibilitando
a ela a visão da luz do “sol”.

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