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Unidade 3
Introdução
Conteúdo Programático
Aula 1: Filosofia e realidade
Filosofia e realidade
A Filosofia ocidental nasceu na Grécia (século VI a.C.), contrapondo-se,
como já mencionamos, à concepção arcaica dos mitos e do poder
dos aristoi (nobres); e, embora não tenha havido, de imediato, um total
rompimento com as narrativas míticas, o fato é que já os primeiros pensadores
– os filósofos pré-socráticos – procuraram um modo racional para a descrição
do nosso cosmos, longe das histórias dos deuses. Foi a separação do sagrado
que fez surgir um pensamento laico (dessacralizado) vinculado ao
questionamento e às indagações constantes sobre o universo e o homem.
Por isso, costuma-se associar a fase mítica ao pensamento pré-reflexivo, ligado
ao senso comum, aos fatos do cotidiano, quando a aceitação das normas é
incondicional, sem questionamento ou elaboração crítica, preso a crenças e
preconceitos.
Saiba mais
Contrapondo-se a essa passividade de regras, surge o pensamento reflexivo, que
se relaciona com a busca de entendimento coerente e racional das situações
naturais e humanas. Ao buscar uma compreensão mais elaborada da realidade,
desenvolvendo uma reflexão consistente e transformadora, o pensamento
reflexivo vai tornar-se a base do pensar filosófico, pois reformula as opiniões
assistemáticas da tradição arcaica, possibilitando uma visão mais ampla e
geral a respeito da realidade.
É essa admiração e espanto – o thauma – que fundamenta e desenvolve o
pensar filosófico, visto que nenhum pensador consciente aceita explicações
definitivas de quaisquer fatos ou fenômenos. A atitude filosófica implica,
pois, a necessidade sempre premente de se dedicar ao entendimento da
realidade, para que seja possível estimular a atividade crítica e consciente na
compreensão e no conhecimento de modo geral.
Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no
princípio como agora; perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias,
avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito das maiores,
como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do
universo. (ARISTÓTELES. 1978, p. 40)
Assim, desde a Antiguidade, muitos foram os pensadores que se voltaram para
investigações mais abrangentes sobre a realidade, pesquisando racionalmente
as questões ligadas ao cosmos e ao ser humano; e essas investigações, mesmo
depois de 2.500 anos, continuam a instigar os pensadores contemporâneos.
Dentre os filósofos que se destacaram na busca do conhecimento, não
podemos deixar de mencionar primeiramente os pensadores sofistas – em
especial Protágoras (século V a. C.) e Górgias (c. 485-380 a. C.) –, que teriam
sido os primeiros a elaborar uma concepção antropológica do conhecimento.
Anteriores e, também, contemporâneos de Sócrates, Platão e Aristóteles, o
papel dos sofistas foi fundamental na solidificação da democracia grega.
Embora muitos de seus escritos não tenham chegado até nós, sabemos hoje
que os filósofos sofistas, educadores por excelência, foram responsáveis por
um novo modelo de conhecimento, laico e contextualizado, que reunia não
apenas o ensino das técnicas da argumentação persuasiva (retórica), mas ainda
o estudo da dialética, da gramática, da matemática e da cultura geral.
Considerado como “pai da Filosofia”, Sócrates (c. 470-399 a. C.) é também
um marco que sinaliza para uma compreensão abrangente da realidade;
embora não tenha deixado nenhum registro escrito de suas ideias, como já
observamos, o pensamento socrático, conhecido pelas obras de seus discípulos
(principalmente Platão e Xenofonte), priorizou questões referentes à ética e à
política. Além do método maiêutico – de trazer à luz as ideias –, Sócrates
desenvolveu ainda o processo da ironia, cuja função primeira era colocar em
dúvida a afirmação de seu opositor. Vale ressaltar que a maiêutica é, até
nossos dias, um importante componente pedagógico, ao estimular o estudante
a construir o seu próprio conhecimento por meio do uso e direcionamento de
perguntas e respostas formuladas pelo mestre.
Reflexão A Teoria das Ideias, ou das Formas, elaborada por Platão (428-347 a.
C.), está centrada na separação dos dois mundos: o mundo sensível é o mundo
das sombras, das cópias imperfeitas, das aparências, do simulacro e da doxa
(opinião); e, por isso, ligado ao pensamento pré-reflexivo e às situações
cotidianas. Diferentemente, o mundo inteligível é o mundo da episteme
(sabedoria científica), das ideias verdadeiras, das essências imutáveis e
absolutas. Assim, para chegar ao conhecimento pleno, é necessário ultrapassar
as sombras e as aparências.
Reflexão
Platão criou uma alegoria, conhecida como Mito da Caverna, que serve para
explicar a evolução do processo de conhecimento. Segundo ele, a maioria dos
seres humanos se encontra como prisioneiro de uma caverna, permanecendo
de costas para a abertura luminosa e de frente para a parede escura do fundo.
Devido a uma luz que entra na caverna, o prisioneiro contempla as projeções
dos seres que compõem a realidade na parede do fundo. Acostumado a ver
somente essas projeções, assume a ilusão do que vê, as sombras do real, como
se fosse a verdadeira realidade. (COTRIM. 1999, p. 109)
Ato
Potência
Matéria
A matéria é o substrato passivo, substância da qual a coisa é feita. Por
exemplo, matéria é o mármore que forma o bloco.
Forma
Galileu Galilei
René Descartes
O filósofo René Descartes (1596-1650) é considerado, não sem razão, o Pai da
Filosofia Moderna. Podemos mesmo dizer que a filosofia cartesiana inaugura
o pensamento moderno a partir de uma radical mudança de perspectiva no
conhecimento tradicional de sua época, de tendência escolástica. Influenciado
pelas novas ciências e com base no modelo matemático, de conformidade com
o critério de clareza e distinção, o método de Descartes tem por ponto de
partida a busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida.
A dúvida está sintonizada com o projeto cartesiano de fundamentar as
ciências. Trata-se de uma dúvida metódica que coloca em xeque todas as
opiniões e crenças. É a dúvida que constitui o ponto fixo procurado – o ponto
arquimediano – sobre o qual será possível, como afirma Descartes, reerguer
todo o edifício do conhecimento.
Observação
Racionalistas
Empiristas
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Ceticismo
O ceticismo é uma corrente fundada na Grécia, cujos membros duvidavam da
capacidade humana de chegar à verdade plena; isto é: para os céticos (no
sentido filosófico do termo), é impossível, para o homem, alcançar o
conhecimento pleno e verdadeiro da realidade. A impossibilidade de chegar à
verdade fez com que esses filósofos considerassem duas vertentes para o
ceticismo: o ceticismo absoluto (ou radical) e o ceticismo relativo (ou moderado).
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Absoluto
O ceticismo absoluto não acredita em qualquer possibilidade de conhecimento
do real. Nesse caso, o homem deve abster-se de julgamentos, suspendendo os
juízos (epoché).
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Relativo
No caso do ceticismo relativo, ou moderado, a impossibilidade de conhecer a
realidade é relativa, pois, embora não se possa chegar à verdade absoluta, há
condições parciais de se alcançar o conhecimento de verdades provisórias.
Considera-se, por isso, que a filosofia contemporânea esteja vinculada ao
ceticismo moderado, já que, mesmo que as certezas absolutas sejam
impossíveis, os filósofos persistem em suas investigações, mesmo alcançando
apenas conhecimentos provisórios e mutáveis. Desse modo, vale afirmar,
podemos alcançar uma verdade provável, mas nunca chegaremos ao
conhecimento pleno.
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Dogmatismo
A outra corrente é o dogmatismo, segundo o qual o ser humano tem, sim,
condições de chegar à verdade e ao conhecimento pleno. O dogmatismo
defende, então, a ideia certa e segura de se conhecer a realidade, a partir de
um esforço metódico e do uso da razão.
Retomando as reflexões filosóficas sobre a compreensão da realidade e a
busca abrangente de entendimento, podemos afirmar, então, que a filosofia
segue uma tendência interdisciplinar e transdisciplinar que ultrapassa os dados
disponíveis que nos são apresentados, implicando a apreensão de vínculos
plurais e simultâneos, relativos à diversidade de conhecimentos e à ligação
com a realidade mesma.
É sob esse aspecto que podemos nos remeter à noção de complexidade
(pensamento complexo), como forma de articular e integrar os saberes à vida
em seu sentido amplo, considerando, assim, os vários aspectos da realidade e
a ligação existente entre eles. Nessa perspectiva, o pensamento complexo –
derivado da Filosofia – deve ser compreendido em toda a sua extensão,
problematizando a diversidade dos pensamentos sem, no entanto, analisá-los
hierarquicamente; ou seja, nenhum saber é superior a outro. Por isso, devemos
sempre estimular a dialogicidade do conhecimento (entendendo-se que o
prefixo grego dia significa troca, intercâmbio, reciprocidade).
O desafio da complexidade se intensifica no mundo contemporâneo, já que
nos encontramos numa época de mundialização, que prefiro chamar de era
planetária. Isso significa que todos os problemas fundamentais que se colocam
num contexto francês ou europeu o ultrapassam, pois decorrem, cada um a seu
modo, de processos mundiais. Os problemas mundiais agem sobre os
processos locais que retroagem, por sua vez, sobre os processos mundiais.
(MORIN. 2002, p. 62)
Saiba mais
Contemporaneamente, as discussões filosóficas sobre a capacidade de
apreensão do conhecimento tomaram um novo rumo na medida em que o
papel do homem, como detentor da possibilidade de conhecer individualmente
o mundo – numa visão antropocêntrica, característica da Modernidade – passa
a ser questionado por alguns filósofos. Para estes, não é mais possível
imaginar o sujeito pensante solipsista (isolado em si mesmo), que marcou a
época moderna.
O papel da reflexão filosófica é, pois, desempenhar uma atitude de
questionamento e crítica com relação aos modelos de conhecimento, teóricos
e práticos, e, ainda, buscar a perfeita sintonia com as crescentes
transformações da realidade.
Encerramento
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