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Matéria: Filosofia

Prof. Ivan Fraga


Série: 2ª Série
Prazo: 20/02
Tema: Metafísica
Peso: 3,0 pontos
Aluno/a:
Sala:

METAFÍSICA
Desde épocas remotas, o ser humano se faz perguntas tão famosas como a tríade: “Quem somos? De onde viemos?
Para onde vamos?”. A tarefa de respondê-las levou à investigação de cenários cada vez mais amplos e distintos.
Dos mitos mais antigos à ciência atual, muitas explicações foram formuladas, despertando quase sempre novas
questões. Trata-se do problema do mundo ou da realidade.
Como você pode perceber, investigar o mundo em que vivemos é uma experiência humana básica e necessária
para nossa adaptação à vida, à existência. No entanto, com o passar do tempo, depois de aprender o que parecia
ser mais relevante para a própria subsistência, a maioria das pessoas tende a esquecer esses momentos de
encantamento e descoberta da realidade. A filosofia, porém, tem mantido acesa essa chama, indagando de maneira
metódica e fundada na razão o que é esse mundo e essa realidade que nos envolve e nos penetra permanentemente.
E suas investigações mais radicais nesse sentido denominam-se metafísica. A metafísica é um campo de estudo
filosófico que busca a realidade fundamental das coisas, isto é, sua essência. Por isso, Aristóteles definiu-a como
a ciência do ser enquanto ser. Mas o que é o ser? E o que quer dizer essa expressão “ser enquanto ser”?
Definir o substantivo ser no contexto filosófico é uma tarefa bastante delicada. Como se observa em relação a
vários outros conceitos filosóficos, cada pensador deu uma pincelada, tirou ou acrescentou algo, às vezes até
colocando suas distintas interpretações em contradição. E, quanto mais abstrato o conceito, mais isso parece
ocorrer. No entanto, podemos dizer, de maneira simplificada, que ser é um termo genérico usado para se referir
a qualquer coisa que é, qualquer coisa que existe – por exemplo, um homem, uma mulher, um pássaro ou uma
pedra. Nesse sentido, o termo mais adequado e específico seria ente. Normalmente, como esses entes “se
apresentam” a nós de maneira caracteristicamente própria e distinta – isto é, de tal forma que um não se confunde
com o outro, assim como um pássaro não se confunde com uma pedra, uma mesa ou um ser humano –, tendemos
a pensar que eles são algo caracteristicamente próprio e distinto um do outro. Ora, se supomos que todas essas
“coisas” são de maneiras caracteristicamente próprias e distintas, acabamos inferindo que cada uma delas “tem”
algo que lhe é inerente, intrínseco e essencial e que a constitui e determina. Portanto, o termo ser também pode
ser definido, stricto sensu, como aquilo que uma coisa (um ser ou ente) é ou “tem” que lhe é próprio e que não
depende de outros seres ou de quaisquer circunstâncias para ser.
O ser, neste último sentido, ficou conhecido mais tarde no jargão filosófico como coisa em si, expressão adotada
pelo filósofo alemão Immanuel Kant no século XVIII. Assim, no primeiro sentido, seria a coisa; no segundo, a
coisa em si. Assim, articulando a primeira acepção de ser com a segunda, podemos entender que o estudo do “ser
enquanto ser” é o estudo daquilo que existe em seus termos mais essenciais e absolutos. Por isso dizemos que a
metafísica é a busca da realidade fundamental de qualquer coisa ou de tudo. É a tentativa de saber como as coisas
são de verdade, livres das aparências. essa busca seguiu distintos caminhos, como veremos a seguir, de forma
resumida.

Ontologia e metafísica: A definição “ciência do ser enquanto ser” foi formulada por Aristóteles para o que ele
chamava filosofia primeira (aquela que vem antes e fundamenta todas as outras). A palavra metafísica, porém, não
existia ainda em sua época. Acredita-se que teria surgido no século I a.C. com a expressão grega tà metà tà physiká,
isto é, “(as obras depois da física de Aristóteles)”, passando a ser usada como unidade semântica (metaphysiká)
somente a partir da Idade Média (cf. LaLande, Vocabulário técnico e crítico da filosofia, v. II, p. 83.). Durante o
século XVII, no entanto, cunhou-se um novo termo, ontologia (do grego óntos, “ser” + logia), que significa
literalmente estudo do ser enquanto ser. A partir do século XVIII, a ontologia começou a ser entendida, por alguns
estudiosos, como uma disciplina independente da metafísica, já que a metafísica incluía também outras
investigações (cosmológicas, teológicas, epistemológicas), não apenas as ontológicas. Apesar dessa distinção,
ainda hoje as palavras metafísica e ontologia são empregadas com frequência como sinônimas em diversos
contextos.

Problemas da realidade: Pois bem, como são essencialmente as coisas? Algumas pessoas olham um cachorro e
veem apenas um ser que é como uma máquina biológica que está aí para nos ajudar ou incomodar. Outras enxergam
esse mesmo cão como um ser inteligente e sensível, com direitos semelhantes aos dos humanos. Algumas pessoas
olham o céu e pensam em um espaço repleto de corpos siderais. Outras fazem o mesmo e entendem que nele
existem seres sobrenaturais, Deus ou deuses, anjos etc. Algumas pessoas veem um copo com água pela metade e
entendem que está meio cheio; outras, que está meio vazio.
E você? Como você “vê” as coisas? Experimente olhar para o que há ao seu redor neste instante, como se estivesse
fazendo isso pela primeira vez, com a intenção de conhecer como é verdadeiramente o mundo. Comece por
problematizar, isto é, encontrar problemas ou questões acerca de como as pessoas veem a realidade. Os primeiros
filósofos (referindo-nos aos pensadores gregos da Antiguidade) fizeram isso. Eles procuraram descobrir não apenas
a origem de cada ser, ou de tudo o que existe, mas também seu propósito, sua finalidade. Alguns se perguntaram
sobre a constituição de cada coisa, ou de todas as coisas, e se havia uma relação, uma ordem ou uma hierarquia
entre tudo o que existe. Outros se voltaram para os processos observados na realidade, como o crescimento e o
envelhecimento, vinculados ao passar do tempo. Enfim, a partir de distintas intuições do mundo, esses primeiros
filósofos procuraram encontrar a essência da realidade (ou do ser), suas causas e propriedades fundamentais. Desse
modo, foram sendo criados alguns dos conceitos centrais da filosofia. Dizemos centrais porque foram retomados,
reformulados ou contestados por pensadores posteriores, sendo empregados nos diversos campos de estudo
filosófico (e mesmo em campos não filosóficos) até nossos dias. Assim, antes de percorrermos algumas teorias
sobre o mundo, vejamos alguns desses conceitos referenciais da metafísica. De início, eles podem parecer meio
obscuros, mas não se assuste. Lembre-se de que essas concepções “estão por aí” e você as utiliza frequentemente,
mesmo sem se dar conta disso, pois elas fazem parte da nossa cultura.

Substância: Quando observamos as coisas em busca de sua natureza intrínseca, fundamental, essencial, tendemos
a pensar naquilo que, em filosofia, se designa substância. Não se trata da substância como comumente a
entendemos hoje, isto é, uma entidade material qualquer (por exemplo, leite ou cal),que pode ser concebida também
física ou quimicamente (por exemplo, cálcio ou óxido de cálcio). Na metafísica, especula-se a respeito da
substância de qualquer coisa: dos corpos, dos pensamentos, das palavras ou mesmo de Deus.
A palavra substância vem do latim substantia, que significa “o que está ou permanece sob, por debaixo”, isto é,
como “suporte, sustentáculo”. No contexto da ontologia, foi usada por alguns filósofos para denominar o substrato
ou suporte fundamental de um ser, aquilo sem o qual ele não é. nesse sentido, substância equivale a essência.
Assim, a substância de um ser seria a realidade necessária e constante desse ser. Ao conceito de substância opõe-
se o de acidente, pois este se refere àquilo que faz parte de um ser, mas sem o qual o ser continua sendo. Por
exemplo: o tamanho grande de um triângulo é um acidente, pois o triângulo não precisa ser grande para ser
triângulo.
Devir ou vir a ser: Quando pensamos que todo ser deve ter uma substância, isto é, uma realidade necessária e
constante, estamos observando a permanência nas coisas, aquilo que não varia (ou que supomos não variar). Por
exemplo: os três lados do triângulo, a brancura do leite, a mortalidade dos seres vivos. Essa foi a tendência
predominante da filosofia (e, depois, das ciências) desde Sócrates. No entanto, alguns filósofos – dos quais o
primeiro foi Heráclito – olharam para o universo e tiveram uma intuição distinta. Eles focalizaram sua atenção
sobre a mudança. Nesse caso, em vez de realizar uma reflexão sobre o ser, desenvolveram uma reflexão sobre o
vir a ser. Vir a ser ou devir são termos sinônimos que se referem ao processo de transformação dos seres e das
coisas, ao conjunto de mudanças que se manifestam à medida que o tempo evolui: da semente à árvore; do ovo à
galinha; da criança, ao adulto, ao idoso. E à morte que a tudo segue. “Talvez nada permaneça no universo, tudo
seja devir”, pensaram alguns estudiosos. Nesse caso, se podemos falar em “essência” da realidade, ela seria a
impermanência. Essa intuição originou um tipo de reflexão sobre o mundo centrada na relação entre opostos, isto
é, que apresenta uma visão dialética da realidade, conforme veremos mais adiante neste capítulo (na metafísica de
Hegel).

Causa e causalidade: Até agora estávamos trabalhando alguns conceitos metafísicos vinculados à pergunta “o
quê?”: “o que é tal coisa?”, “o que é essencial nela?”, “o que é acidental?”. Mas, quando olhamos o mundo e seus
fenômenos para procurar entendê-los, também tendemos a perguntar “por quê?”. Ao fazer isso, estamos
investigando as causas – ou, em metafísica, as causas primeiras, fundamentais. Como escreveu Aristóteles, “não
acreditamos conhecer nada antes de ter apreendido cada vez o seu porquê (isto é, apreendido a primeira causa)”
(citado em Russ, Dicionário de filosofia, p. 32). Aristóteles distinguia quatro tipos de causa: material, eficiente,
formal e final. Modernamente, no entanto, quando falamos em causa, em geral estamos nos referindo àquilo que
dá origem ou induz a algo mais, ou que o determina (uma combinação entre as causas material e eficiente, do
filósofo grego). Esse “algo mais” é o efeito, justamente aquilo que queremos compreender, o que nos remete a uma
causa. Por exemplo: vidro quebrado (efeito) e bola chutada contra ele (causa). Causa e efeito seriam, portanto,
coisas ou fenômenos que supomos vinculados por uma relação de causalidade, isto é, de “influência” do primeiro
(a causa) sobre o segundo (o efeito). Assim, a busca pela causa traz implícita a noção de que todo ser, fenômeno
ou acontecimento deve ter sido originado ou determinado por outro ser ou acontecimento que o precede no tempo.
Trata-se do chamado princípio de causalidade, o qual sustenta que todo fenômeno tem uma causa. O princípio de
causalidade acabou tornando-se um dos princípios fundamentais do pensamento moderno e contemporâneo,
especialmente nas ciências.

Fim e finalismo na outra ponta da investigação sobre a realidade, podemos situar a pergunta “para quê?”,
formulada quando buscamos o fim das coisas, isto é, o objetivo para o qual apontam os seres, os acontecimentos
ou as ações. Alguns pensadores procuraram encontrar as múltiplas finalidades que os seres pudessem ter, bem
como o fim último do universo ou da existência. Formularam, assim, doutrinas denominadas finalistas.
No finalismo, o fim tende a adquirir um estatuto especial, pois assume o lugar de princípio explicativo para a
existência, a organização e as transformações dos seres. Como formulou o filósofo cristão Tomás de Aquino (1226-
1274), o fim é aquilo por que algo é (o finalismo vincula-se ao conceito de causa final, de Aristóteles). As
doutrinas finalistas também são conhecidas como teleológicas, palavra derivada do substantivo grego télos, que
significa “fim”. Muitas vezes, o termo télos é usado em um sentido genérico em referência ao ponto para o qual se
move ou tende a mover-se uma coisa ou realidade. As concepções finalistas ou teleológicas são comuns nas
religiões e praticamente ignoradas nas ciências. Na filosofia, a discussão sobre os fins ganhou maior relevância,
fora da metafísica, em questões ligadas à ética e ao ser humano e sua existência.

1)Experimente fazer como fizeram os primeiros filósofos. Escolha algum ser (uma mesa, uma casa, uma pessoa,
uma instituição etc.) e procure investigar o que ele realmente é. Siga basicamente este roteiro: sua origem,
finalidade, constituição fundamental, características essenciais, características não essenciais.
2)De que maneira a metafísica problematiza o mundo? o que se pretende conhecer por meio dessa reflexão?
3)Explique a expressão “ser enquanto ser”.
4)Diferencie o significado metafísico da palavra substância de seu significado comum.
5) Como o conceito de vir a ser (ou devir) se contrapõe ao de substância?

6)Finalismo: Aristóteles defendia uma doutrina finalista da realidade. Para ele, toda vida animal e vegetal, em
seus processos biológicos de crescimento e reprodução, expressa justamente a finalidade contida em sua própria
natureza. Ou seja, seus fins tornam-se suas próprias causas (ou causa final). Você concorda com a ideia de que
tudo na natureza tem uma finalidade? Por exemplo:
a) que o boi tem uma natureza própria para servir de alimento para o ser humano?
b) que o ser humano, com sua inteligência, apareceu para dominar o planeta?
c) que cada pessoa nasce com um propósito que não depende de sua vontade?

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