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ARISTÓTELES

1. METAFÍSICA

Metafísica é um conjunto de escritos de Aristóteles que, grosso modo, trata


do “ser enquanto ser”.

Metafísica é um conjunto de escritos deixados por Aristóteles e separados e


classificados, mais tarde, por Andrônico de Rodes, o último discípulo que estudou no
Liceu, escola de Filosofia fundada por Aristóteles. O que há em comum entre todos os
14 livros que compõem a Metafísica é que eles tratam de uma espécie de Filosofia
anterior, Filosofia primeira ou Filosofia do ser em geral.

A Metafísica, papel primeiro da Filosofia, seria o estudo do ser em geral. Ela


seria uma espécie de ciência que não se limita a estudar uma área, como
a Biologia estuda a vida, como a Matemática estuda as relações numéricas, mas a
totalidade de relações científicas que explicam o mundo racionalmente. Por isso,
Aristóteles chamou de Filosofia Primeira os seus escritos que, mais tarde, foram
batizados de Metafísica.

Aristóteles concebe uma maneira de compreender a realidade em seu aspecto


mais abrangente (isto é, o ser), de maneira contraposta a seu mestre. Enquanto Platão
apontava para uma realidade inteligível em grau maior de existência em relação ao
mundo sensível, seu discípulo aponta para este mundo sensível e diz que a realidade
está aqui. Daí sua concepção de que o ser é múltiplo.

Ao contrário de Platão, que dizia serem as Formas o grau último de existência,


Aristóteles defende que a realidade é constituída sobretudo de seres particulares, tais
quais pessoas, animais e plantas. Para que existam as diversas qualidades, é preciso que
existam em substâncias particulares individuais. Por isso, a chave para entender a
realidade (ou o ser) é conhecer o que é a substância – tudo o mais depende dela para
existir. Do ponto de vista empírico, a substância parece ser o indivíduo concreto – o
composto de forma e matéria

É importante salientar que, diferentemente das “filosofias da práxis” (campos


filosóficos que recorrem a elementos que existem materialmente e nas relações, como
a Ética e a Política), a Metafísica é teorética, pois ela não tem uma finalidade outra,
fora de si mesma, sua finalidade é o próprio conhecimento.
Lógica e Metafísica

A Lógica, sistematizada pela primeira vez por Aristóteles, tem uma íntima
relação com a Metafísica, pois a primeira também recorre a artefatos fora da prática
para estabelecer-se enquanto campo de estudo. Alguns elementos comuns podem ser
extraídos dessas duas disciplinas filosóficas que ajudam a explicar a Metafísica. Ainda
no “Livro quarto” da Metafísica, Aristóteles afirma ser evidente, portanto, que a uma
mesma ciência pertence o estudo do ser enquanto ser e das propriedades que a ele se
referem, e que a mesma ciência deve estudar não só as substâncias, mas também suas
propriedades, os contrários de que se falou, e o anterior e posterior, o gênero e a espécie,
o todo e a parte e as outras noções desse tipo.

Ao abordar os princípios e as causas primeiras, Aristóteles estudou o SER


ENAQUANTO SER no sentido mais geral , abstrato e estrutural da realidade. Ele
estrutura a realidade em categorias que fornecerão todos os elementos para entender um
ser. Toda ciência tem categorias que são um recorte da realidade. O modo como a
realidade se estrutura é igual à linguagem, tudo gira em torno de um sujeito.

As noções de gênero, espécie, todo e parte são relações destrinchadas por


Aristóteles em um pequeno tratado de Lógica chamado Categorias. A noção de
substância mencionada na citação é, por sua vez, um conceito extremamente metafísico,
pois é o que explica o elo que liga as formas conceituais metafísicas aos objetos do
mundo.

A forma, para Aristóteles, é a “causa primeira do ser” (Aristóteles, Metafísica,


Z 17, 1041 b 26.). É importante ressaltar que a forma não é um universal abstrato, tal
qual a Forma de Platão. O universal funciona como um gênero que não tem uma
realidade própria. O animal, entendido como gênero animal, é apenas um termo comum
abstrato que não apresenta realidade em si e que só existe no homem ou em outra forma
animal. Para Aristóteles, a forma, enquanto substância, parece ser sempre um tóde ti,
isto é, algo determinável e particular.

A substância é o que permite aplicarmos o conceito ou ideia de cadeira em


todos os objetos concretos que correspondam a cadeiras. Por mais que existam
diferentes cadeiras no mundo, podemos concebê-las como tais, pois elas encaixam-se
dentro do conceito de cadeira e não são outras coisas senão cadeiras.

Portanto para Aristóteles:

Movimento da natureza A natureza, tal qual a percebemos, é composta de


substâncias: eu, você, as árvores, os animais. Cada um tem uma matéria, que o
individualiza, e uma forma, que o torna determinado e passível de ser compreendido
pelo intelecto.

Na realidade, todos nós somos compostos de forma e matéria, que se juntam


porque a totalidade das coisas é regida por princípios de ato e potência, ou seja, que
permitem com que as coisas sejam agora e venham a ser depois, num fluxo constante na
superfície do ser – sempre somos algo, seja em ato, seja em potência.

Mas como que matéria e forma se encontram para constituir corpos particulares
e formar sínolos, isto é, compostos? Aristóteles explica esse movimento – e na verdade
todo e qualquer movimento da natureza – por meio de princípios intimamente ligados
que explicam não só esse aspecto da realidade, mas as relações de causa e efeito
observadas também.
É o que ficou conhecido como teoria do ato e da potência. A matéria é potência
(dýnamis), a forma é ato (entelekhéia). O que significam esses dois termos?

A matéria é potência porque adquire a capacidade de receber uma forma. Por


exemplo, o mármore, o bronze, a prata, o ouro são potências da forma da estátua, já que
são capazes de receber seu aspecto. O mesmo acontece com a madeira, que é potência
de várias formas, como a mesa, a cadeira, a cama.

A forma é ato porque se caracteriza por configurar aquela capacidade. O sínolo


é ato de modo predominante, mas só a forma é ato puro.

Primeiro Motor Imóvel Esse fluxo, essa mudança, esse movimento é a própria
caracterização do tempo, segundo o filósofo. Nesse esquema, não faz sentido falar de
antes do tempo e de depois do tempo, porque “antes” e “depois” já são categorias
temporais, de modo que é possível concluir que o tempo é eterno, isto é, não tem início,
nem fim: sempre existiu.

Mas o que teria principiado, causado o tempo? Somente uma substância eterna,
ato puro e imóvel teria condições de servir de princípio e causa. Como, então, essa
substância, chamada pelo filósofo de deus (théos) pode movimentar sem ser ela mesma
móvel? Essa capacidade é possível, porque uma causa pode ser não só material, formal
ou eficiente, mas também final.

Teoria das quatro causas

Aristóteles entendeu que há, no mundo, movimento


constante e transformação. Por haver transformações, existe, no mundo, efeitos, e
todos os efeitos têm, por trás de si, causas. Esse é o princípio de causa e efeito, um dos
primordiais para a Metafísica aristotélica. As causas mais básicas que explicam as
origens de todos os seres são quatro, como estão dispostas a seguir:

1. Causa material: diz respeito à matéria que compõe um ser ou objeto do


mundo. Ou seja, se pensarmos na casa do joão-de-barro, a sua causa material
é o barro.
2. Causa formal: é a forma física e conceitual que um determinado ser ou
objeto possui. Tudo tem uma forma que o define. Se pegarmos o exemplo da
cadeira, o formato de cadeira é a sua causa formal.

Como vimo o conceito de substância para Aristóteles – a forma é a essência da


substância, aquilo que a define enquanto tal, o que a determina; a matéria é o elemento
sensível de que algo é feito, aquilo que é definível pela forma e que, sem essa definição,
é indeterminável.

3. Causa eficiente: é a causa primeira, que deu origem ao ser ou objeto, ou


seja, aquilo que foi responsável pela criação. A causa eficiente da casa do
joão-de-barro é o próprio pássaro que a construiu.

Quando pensamos que algo causa alguma coisa, pensamos analogamente nas
seguintes situações: um escultor que causa uma escultura, um autor que escreve um
livro, um professor que grava um vídeo. Caso o exemplo fosse você mesmo(a), então a
causa eficiente ou motriz seriam os seus pai e mãe. Nesse sentido, a causa eficiente ou
motriz responde à pergunta “O que iniciou essa substância?”

4. Causa final: diz respeito à finalidade do objeto ou ser. As finalidades são


diversas para os diversos seres e objetos presentes no mundo. É mais fácil
tomar como exemplo, mais uma vez, um objeto inanimado como a casa do
joão-de-barro, pois a sua causa final é servir de abrigo e ninho para o pássaro
e seus filhotes.

Esta causa final é o propósito, o intuito, a meta (em grego, télos) a que se dirige
a substância. Em termos aristotélicos, a causa final é aquilo que realiza a essência da
substância. Por exemplo, a causa final de uma tesoura é cortar superfícies, a causa final
de um grampeador é grampear papeis, a causa final de uma xícara de café é servir de
recipiente para esse líquido.

Aristóteles argumenta ainda que, por haver movimento em tudo e também


sempre haver causa para esse movimento, é perigoso cairmos em uma espécie de
percuso ad infinitum, se não estabelecermos que, em algum momento, houve uma causa
primeira que não foi causada por nada e deu origem às outras causas. A causa não
causada será esclarecida no tópico seguinte.

Deus, então, é a causa final de tudo o que existe e movimenta tudo o que
existe, sem ele mesmo precisar se movimentar. Eis o Primeiro Motor, a substância que
faz com que todas as outras substâncias componham a realidade tal qual a concebemos.

Primeiro motor imóvel


Motor imóvel é a causa não causada da qual falamos no tópico anterior. Ele
aparece no “Livro XII” da Metafísica, através da regressão intelectual. Aristóteles
conjectura a existência de um primeiro motor, um primeiro causador de tudo no mundo
que não tenha sido impulsionado por nada e nem ninguém, pois ele foi o primeiro.

Deus, então, é a causa final de tudo o que existe e movimenta tudo o que
existe, sem ele mesmo precisar se movimentar. Eis o Primeiro Motor, a substância que
faz com que todas as outras substâncias componham a realidade tal qual a concebemos.
A resposta de Aristóteles é, de certo modo, poética: o Primeiro Motor move
como o objeto de amor atrai o amante (Aristóteles, Metafísica, Λ 7, 1072 b 3). O objeto
de desejo é aquilo que é belo e bom. O que é belo e bom movimentam o homem para si,
sem que precisem se movimentar.

Dessa maneira, os estudos metafísicos de Aristóteles se estabelecem. O ser


enquanto ser e a causa primeira residem na substância. A substância primeira pode ser
Deus – daí a conexão com a Teologia. Essas conexões não são tão claras assim na obra
do próprio filósofo, é importante destacar. O que parece ser mais ou menos consensual
em relação ao que dizem os especialistas é que, de todos os conceitos, o mais
importante é o de substância.

Tomás de Aquino, filósofo escolástico cristão que estudou a Filosofia


aristotélica, relacionará o motor imóvel à criação divina em seu livro Suma teológica,
apresentando as cinco vias que provam a existência de Deus.

Se essa noção, uma das mais importantes da Metafísica de Aristóteles, não


fosse concebida, a teoria aristotélica falharia, pois o raciocínio seria conduzido a uma
espécie de regressão ao infinito e não chegaria a nenhuma conclusão precisa.

forma, matéria, ato e potência

Para conseguir o distanciamento das teses platônicas, da veracidade


exclusiva das formas ideais, sem cair em qualquer tipo de contradição ou outra
armadilha conceitual qualquer, Aristóteles teve que formular alguns conceitos.
Pensando na veracidade dos dois tipos de existência (a formal ou conceitual e a
material), percebemos um problema: a matéria muda e a ideia não. Por
isso, Platão assume como verdade apenas as formas ideais. Como não cair em
contradição, nesse caso, assumindo que um elemento pode mudar e o outro não?

Um dos conceitos formulados por Aristóteles para essa situação é a noção


de substância. A substância é o elo entre a forma e a matéria. É ela que estabelece que
um determinado nome conceitual se aplica a um objeto específico. Para resolver
o problema da mutação material, o filósofo introduziu a necessidade da distinção
entre ato e potência.

ATO E POTÊNCIA

Ato e Potência" é um conceito fundamental na filosofia de Aristóteles que


desempenha um papel central em sua metafísica e teoria do movimento. Esses termos
são usados por Aristóteles para explicar a natureza e a dinâmica da mudança e da
realidade. Vamos explorar esses conceitos de maneira mais detalhada:

Ato (energeia): Para Aristóteles, o ato representa a realização ou o estado


atual de algo. É a manifestação ou a atualização de uma potencialidade. Por exemplo,
uma semente em ato é uma planta; uma pedra em movimento é um corpo em
movimento. O ato é o estado final ou objetivo de um ser ou substância.

Potência (dynamis): A potência, por sua vez, refere-se à capacidade ou


possibilidade de algo se tornar algo mais. É o estado de ser ou substância que ainda não
se manifestou totalmente, mas que tem o potencial para se atualizar. Por exemplo, uma
semente possui o potencial de se tornar uma planta; uma pedra em repouso possui o
potencial de se mover.

Relação entre Ato e Potência: Para Aristóteles, todo ser ou substância é


uma combinação de ato e potência. Ele acreditava que a realidade era composta de
entidades que estão em constante processo de mudança, passando de um estado de
potencialidade para um estado de atualização (ato).

Por exemplo, considere uma pedra que está em repouso. Ela possui o potencial
para se mover (potência), mas permanece em repouso até que uma força externa a
mova. Quando a pedra é movida, ela atualiza sua potencialidade para o movimento
(ato). Neste momento, a potencialidade para o movimento é transformada em
atualidade.

Aristóteles argumenta que o processo de mudança envolve a realização gradual


de potencialidades. No exemplo da pedra, ela não se move instantaneamente; é
necessário um processo para que sua potencialidade para o movimento seja atualizada.

Aplicações em Metafísica e Cosmologia:

Aristóteles aplicou o conceito de ato e potência em sua metafísica para explicar


a natureza da realidade e da mudança. Ele argumentava que todas as substâncias são
compostas de matéria (potência) e forma (ato), onde a forma é o princípio ativo que dá
forma à matéria e a atualiza.

Na cosmologia aristotélica, o movimento dos corpos celestes também é


explicado em termos de ato e potência. Os corpos celestes possuem uma natureza
essencialmente ativa (ato), movendo-se em órbitas circulares perfeitas, enquanto a
matéria sublunar é caracterizada por sua natureza potencial (potência), sujeita a
mudanças e imperfeições.
Em suma, o conceito de "ato e potência" de Aristóteles é uma parte central de
sua filosofia, explicando a natureza da mudança e da realidade. Ele oferece uma
estrutura para entender como as coisas se tornam o que são, passando de um estado de
potencialidade para um estado de atualidade, e desempenha um papel crucial em suas
análises metafísicas e cosmológicas.

THÉOS – DEUS PARA ARISTÓTELES

Primeiro devemos lembrar que a época de Aristóteles foi muito antes de Jesus
e a concepção que temos de Deus católico.

Aristóteles aborda a questão de "Theos" ou Deus em várias de suas obras,


principalmente em sua "Metafísica" e "Ética a Nicômaco". Embora sua abordagem seja
diferente da teologia religiosa tradicional, sua visão sobre o divino tem profundas
implicações filosóficas e metafísicas. Abaixo, vamos explorar de forma mais detalhada
o conceito de Deus para Aristóteles:

Primeiro Motor Imóvel: Aristóteles postula a existência de um "Primeiro


Motor Imóvel" como a causa primeira e final de todo o movimento e mudança no
universo. Esse Primeiro Motor é uma entidade eterna, imaterial e perfeitamente simples,
que causa a movimentação do cosmos sem ser movido por qualquer outra coisa.

O Primeiro Motor Imóvel é concebido por Aristóteles como um ser divino que
transcende o mundo físico e material, sendo a fonte de toda a ordem, beleza e perfeição
no universo. Ele é descrito como uma pura atualidade (ato) sem potencialidade
(potência), perfeito e auto-suficiente.

Causa Final e Bem Supremo: Para Aristóteles, o Primeiro Motor Imóvel


também é a causa final ou objetivo último de todas as coisas. Ele é o "bem supremo"
que atrai todas as coisas para si mesmo, impulsionando o universo em direção à sua
perfeição e plenitude.

Assim, o Primeiro Motor Imóvel é concebido como o objeto de amor e desejo


mais elevado, uma vez que todas as coisas aspiram a se tornar mais como ele. Ele
representa a realização máxima e a perfeição absoluta, sendo o padrão pelo qual todas
as outras coisas são julgadas.

Relação com a Filosofia e Ética: A visão de Deus de Aristóteles está


intimamente ligada à sua filosofia e ética. Ele argumenta que a busca pelo conhecimento
e pela contemplação filosófica é a atividade mais nobre e elevada que os seres humanos
podem realizar, pois nos permite nos conectar mais plenamente com o divino.

Além disso, Aristóteles sugere que a virtude ética consiste em imitar as


qualidades divinas do Primeiro Motor Imóvel, como a imutabilidade, a eternidade, a
bondade e a perfeição. Portanto, a ética aristotélica é orientada para a realização da
excelência moral e da felicidade através da conformidade com a ordem divina do
universo.

Diferença com Teologia Tradicional: É importante ressaltar que a


concepção de Deus de Aristóteles difere significativamente da teologia tradicional das
religiões monoteístas. Enquanto essas religiões enfatizam a relação pessoal entre o
homem e Deus, com atributos como amor, vontade e providência divina, a visão de
Aristóteles é mais impessoal e metafísica, focada na ordem e na perfeição do universo.

Em resumo, para Aristóteles, "Theos" ou Deus é concebido como o Primeiro


Motor Imóvel, a causa final e o bem supremo que dá ordem e significado ao universo.
Sua visão sobre o divino está intrinsecamente ligada à sua metafísica, ética e filosofia
como um todo, representando uma fonte de inspiração e aspiração para a busca da
verdade, da virtude e da felicidade humana.

2. FELICIDADE PARA ARISTÓTELES – UMA ANDORINHA NÃO FAZ VERÃO É


UMA CITAÇÃO DE ARISTÓTELES

Para Aristóteles, a felicidade é o bem supremo e a meta final da vida. Ele


acreditava que todos os seres humanos têm um objetivo principal em suas vidas, que é
alcançar a felicidade. No entanto, ele não a define como um estado de prazer ou
satisfação momentânea, mas sim como um estado permanente de plenitude e realização.

De acordo com Aristóteles, a felicidade não pode ser alcançada através de


riqueza material, fama ou prazer sensual, pois essas coisas são apenas bens externos e
temporários. Em vez disso, a felicidade está intrinsecamente ligada ao florescimento e
ao desenvolvimento das habilidades e potenciais humanos. Aristóteles acreditava que a
felicidade só pode ser alcançada através da práxis (prática) virtuosa.

A virtude, para Aristóteles, é chamada de areté. Areté pode ser traduzida como
excelência ou perfeição e envolve a prática de virtudes éticas e intelectuais. Para
alcançar a felicidade, é necessário cultivar virtudes e alcançar um equilíbrio entre o
excesso de vícios e a falta de virtudes.

Aristóteles acreditava que existem duas categorias de virtudes: éticas e


intelectuais. As virtudes éticas estão relacionadas às ações morais e ao caráter, como a
coragem, a justiça e a generosidade. As virtudes intelectuais estão relacionadas ao
intelecto e ao conhecimento, como a sabedoria e a prudência.

A felicidade, portanto, é alcançada através do desenvolvimento das virtudes,


pois é nelas que encontramos a verdadeira realização e plenitude. Quando vivemos de
acordo com as virtudes, estamos agindo de acordo com a nossa natureza humana e
alcançamos a excelência em nossa vida.

Em resumo, para Aristóteles, a felicidade é o bem supremo e a meta final da


vida. Ela não é alcançada através de prazeres momentâneos, mas sim através do cultivo
de virtudes éticas e intelectuais. Ao desenvolver essas virtudes, vivemos de acordo com
nossa natureza e alcançamos a plenitude e a realização pessoal.
ARETÉ DE ARISTÓTELES

Areté e eudaimonia são dois conceitos filosóficos fundamentais na ética grega


antiga. Areté pode ser traduzido como excelência ou virtude, enquanto eudaimonia é
geralmente traduzido como bem-estar ou felicidade. Esses dois conceitos estão
intimamente relacionados, uma vez que se acredita que a busca pela areté leva à
conquista da eudaimonia.
Areté refere-se à busca pela excelência moral e intelectual. Na Grécia antiga,
acredita-se que ser virtuoso e alcançar a areté era o objetivo supremo da vida. Areté
engloba uma variedade de virtudes, como coragem, sabedoria, justiça, moderação e
generosidade. Para alcançar a areté, um indivíduo deve se dedicar ao desenvolvimento e
aprimoramento dessas virtudes em sua vida diária.

Por sua vez, a eudaimonia é considerada o resultado dessa busca pela areté. É
frequentemente traduzida como felicidade, mas não no sentido hedonista de busca pelo
prazer imediato. A eudaimonia é uma forma de bem-estar que está relacionada ao
florescimento humano e à realização de potenciais. Acredita-se que os seres humanos
são mais felizes quando vivem em harmonia com as virtudes e alcançam o seu pleno
potencial.

Na filosofia, Aristóteles é um dos pensadores mais conhecidos que abordaram


os conceitos de areté e eudaimonia. Em sua obra "Ética a Nicômaco", ele argumenta
que a eudaimonia é o objetivo final da vida humana e que a busca pela areté é o meio de
alcançá-la. Aristóteles defende que a eudaimonia não é alcançada através de prazeres
momentâneos, mas sim por meio de uma vida virtuosa e significativa.

Outros filósofos gregos antigos, como Platão e os estoicos, também discutiram


a importância da areté e da eudaimonia em suas obras. Além disso, esses conceitos
continuam a ser explorados e debatidos por filósofos contemporâneos, que buscam
entender o papel das virtudes e do bem-estar em uma vida ética e plena.

Portanto, areté e eudaimonia são conceitos filosóficos que abordam a busca


pela excelência moral e intelectual, bem como o objetivo de alcançar um estado de bem-
estar e plenitude. Eles são fundamentais para a ética grega antiga e continuam a ser
discutidos e estudados na filosofia contemporânea.
O QUE SÃO VIRTUDES?

As virtudes dianoéticas, segundo Aristóteles, são as virtudes intelectuais que se


desenvolvem através do exercício do pensamento racional e contemplativo. São elas:

1. Sabedoria prática (phronesis): É a capacidade de discernir o que é moralmente


certo e agir de acordo com o juízo moral correto. Envolve o exercício da prudência e da
tomada de decisões éticas adequadas.

2. Inteligência (sophia): É a virtude que se refere ao conhecimento teórico e à


capacidade de entender os princípios fundamentais do universo, como a natureza das
coisas ou a essência das ideias.

3. Contemplação (theoria): É a virtude que consiste na busca do conhecimento


puro e desinteressado, por si mesmo. É a contemplação das ideias ou das coisas
imutáveis e eternas.
Aristóteles considerava essas virtudes como essenciais para o desenvolvimento
humano e para a busca da felicidade. Segundo ele, o exercício dessas virtudes permitia
ao ser humano alcançar seu pleno potencial e viver uma vida virtuosa e próspera.
ÉTICA PARA ARISTÓTELES

Para Aristóteles, a ética é um ramo da filosofia que se preocupa com a busca da


felicidade e do bem-estar humano por meio da prática de virtudes morais. Ele acreditava
que a ética estava diretamente ligada à ideia de excelência, ou seja, viver uma vida boa e
virtuosa.

Na obra "Ética a Nicômaco", Aristóteles define a ética como a ciência da ação


moral, que busca explicar como os seres humanos podem alcançar a eudaimonia, o que
ele descreve como a autorrealização e o florescimento completo de um indivíduo.

Aristóteles identificou duas formas de virtudes: as dianoéticas (ou virtudes


do pensamento) e as éticas (ou virtudes do caráter). As virtudes dianoéticas estão
ligadas à capacidade de raciocínio e à busca de conhecimento, enquanto as virtudes
éticas estão associadas à ação moral correta e à prática de virtudes como justiça,
coragem, temperança e generosidade.

A influência da ética aristotélica na Justiça e no Direito é significativa.


Aristóteles entendia que a Justiça é uma qualidade moral e virtuosa que equilibra as
relações sociopolíticas entre os indivíduos. Ele distinguia duas formas de Justiça:
Justiça Distributiva e Justiça Comutativa.

A Justiça Distributiva busca distribuir os recursos e benefícios de acordo com


a contribuição e mérito de cada indivíduo na sociedade. Aristóteles afirmava que a
Justiça Distributiva é alcançada quando se considera as diferenças individuais e se
distribui de maneira proporcional às necessidades e capacidades de cada pessoa.
Por outro lado, a Justiça Comutativa refere-se às relações comerciais e
contratuais, destacando a importância da igualdade e da imparcialidade nas trocas e
transações entre as partes envolvidas. Aristóteles acreditava que a Justiça Comutativa
assegurava a reciprocidade, a honra e a confiança mútua entre os indivíduos.

No contexto do Direito, a ética aristotélica influenciou a noção de justiça


como equidade, onde as leis e instituições devem ser baseadas em princípios éticos
e morais. Aristóteles defendia que a lei deve ser justa e imparcial, buscando
promover o bem comum e a harmonia na sociedade.

Além disso, a ética aristotélica enfatiza a importância da educação moral e da


prática das virtudes como forma de cultivar uma sociedade justa e ética. Para
Aristóteles, a ética não é apenas um conjunto de regras, mas sim um modo de viver que
promove a felicidade, o bem-estar e o florescimento humano.
Em resumo, a ética para Aristóteles é a busca pela excelência moral e pela
autorrealização humana por meio da prática de virtudes. Sua influência na Justiça e no
Direito reside na concepção de uma sociedade baseada em princípios éticos e morais,
que busca a distribuição justa e equitativa dos recursos, bem como a imparcialidade,
honra e reciprocidade nas relações interpessoais.

A ética de Aristóteles é baseada em seu estudo sobre a natureza humana e


busca o desenvolvimento de virtudes para alcançar a vida boa e plena. Ele acredita que a
ética está intrinsecamente ligada à política e à sociedade, pois o ser humano é um
animal político, que vive em comunidade.

Para Aristóteles, a base da sociedade é a família, que é considerada uma


pequena comunidade. É dentro desse ambiente que as primeiras noções de ética e
virtude são ensinadas. A família é um ambiente de aprendizado de valores e normas
sociais, onde os indivíduos aprendem a ser virtuosos.

Da mesma forma, a sociedade mais ampla também é uma comunidade que


busca a virtude e o bem comum. Nessa visão, a ética individual se estende para a ética
da comunidade. Aristóteles acredita que a sociedade ideal é aquela em que os cidadãos
são virtuosos e buscam o bem comum.
Quanto à democracia, Aristóteles considera que ela é a forma mais adequada de
governo, pois permite a participação dos cidadãos na tomada de decisões. Ele vê a
democracia como uma forma de governo em que as leis são feitas em prol do bem
comum e visando a justiça. Porém, ele também alerta para os perigos da tirania da
maioria, quando a vontade da maioria prevalece sobre os direitos dos indivíduos.

Aristóteles defende que o governo democrático deve ser guiado pela virtude,
principalmente pela virtude do bom senso, que considera as opiniões e interesses de
todos os cidadãos. Ele acredita que apenas cidadãos virtuosos são capazes de contribuir
para a melhoria da sociedade como um todo.

Em resumo, a ética de Aristóteles é baseada na busca pela virtude e no bem


comum. Ele enxerga a ética como fundamental para a construção de uma sociedade
justa e defende a democracia como a forma de governo mais adequada, desde que seja
pautada pela virtude e pelo bem comum.
POLÍTICA PARA ARISTÓTELES

Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., tinha uma concepção de política


que se baseava no bem comum e na realização plena dos indivíduos dentro da
comunidade. Ele acreditava que a política era uma atividade natural e necessária para a
vida em sociedade. Para Aristóteles, o objetivo principal da política era alcançar o bem-
estar e a felicidade dos cidadãos.

Os cidadãos na visão de Aristóteles eram os indivíduos adultos e livres que


participavam ativamente na tomada de decisões políticas. Nem todos os membros da
sociedade eram considerados cidadãos, pois havia algumas categorias excluídas, como
escravos, estrangeiros e mulheres. Para ele, os cidadãos eram os únicos capazes de
exercer a virtude política e contribuir para o bem comum.
Uma crítica ao sistema político de Aristóteles pode ser feita pela sua exclusão
de certos grupos da cidadania. Ao excluir os escravos, estrangeiros e mulheres da
participação política, ele estabeleceu uma visão restrita de democracia e negou o pleno
exercício dos direitos políticos a essas pessoas. Essa exclusão pode ser considerada
injusta e contrária aos princípios de igualdade e justiça que muitos sistemas políticos
modernos defendem.

Além disso, a visão de Aristóteles sobre a política também era baseada em uma
estrutura hierárquica, na qual os governantes eram considerados naturalmente superiores
aos governados. Isso poderia levar a um abuso de poder e a uma maior concentração de
poder nas mãos de poucos indivíduos, resultando em governos autoritários e injustos.

Outra crítica ao pensamento político de Aristóteles é a sua visão limitada sobre


a participação política. Ele defendia a ideia de que a política deveria ser reservada
apenas para os cidadãos mais virtuosos e capacitados, deixando de lado a possibilidade
de participação de um número maior de pessoas na tomada de decisões. Isso poderia
levar a uma exclusão da voz e dos interesses de uma grande parte da sociedade.
Apesar das críticas, as ideias de Aristóteles sobre a política tiveram uma
influência duradoura e são consideradas fundamentais para a compreensão da teoria
política ocidental. Sua análise da natureza humana, das formas de governo e da busca
pelo bem comum ainda são objeto de estudo e debate atualmente. No entanto, é
fundamental considerar as críticas e aprimorar essas ideias para construir sistemas
políticos mais justos e inclusivos.

i _______ Metafísica. 2ª ed. tradução, introdução e comentários de Giovanni Reale. São


Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 141. Publicado por Francisco Porfírio

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